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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Altamiro Borges: 1º de Maio e a histeria da mídia

no PORTAL VERMELHO


Já virou rotina. Sempre que se aproxima a comemoração do Dia Internacional do Trabalhador, a mídia patronal publica editoriais e “reporcagens” contra o sindicalismo. É a mesma ladainha: as leis trabalhistas são “anacrônicas” e “engessam” o crescimento econômico, há libertinagem nas greves e o Brasil caminha para uma “república sindicalista” – o refrão preferido dos golpistas de 1964.


Hoje, a Folha criticou o fato das centrais sindicais receberem patrocínios oficiais para a realização dos atos do 1º de Maio. Para a mídia patronal, só os patrões deveriam receber recursos públicos – que proveem dos impostos dos trabalhadores – para realizar as suas festivas atividades. Dinheiro público para as elites empresariais, sim; para eventos dos trabalhadores, nunca!

O falso discurso da transparência

Segundo a matéria, que parece ter sido encomendada, “o governo federal dobrou, em três anos, o valor repassado às principais centrais [através de um percentual da contribuição sindical], que preparam festas milionárias para celebrar o feriado do Dia do Trabalho. O bolo destinado às centrais saltou de R$ 62 milhões em 2008 para R$ 124 milhões no ano passado”.

A Folha garante que, “apesar da origem pública, não há nenhuma fiscalização sobre o uso da verba”. Já que é tão transparente, o jornal bem que poderia publicar quanto recebe de publicidade oficial ou de isenções no papel para a impressão; também poderia informar aos leitores quanta grana as empresas e os governos destinam para financiar os seus inúmeros eventos.

Asfixiar financeiramente os sindicatos

Além de criticar os patrocínios às comemorações do Dia Internacional dos Trabalhadores, o diário da famiglia Frias aproveita para satanizar a contribuição sindical descontada na folha de pagamento. Para os empresários, o sindicalismo deveria receber menos recursos. De preferência, deveria morrer à míngua. Desta forma, não promoveria tantas lutas e greves. Não daria tanta dor de cabeça!

Segundo a Folha, o ex-presidente Lula, que teve a sua origem no sindicalismo, beneficiou as centrais ao garantir recursos para a sua atuação. “Nos primeiros quatro anos da regra, as seis centrais receberam um total de R$ 370 milhões. A exemplo do Ministério do Trabalho, todas defendem a cobrança obrigatória, à exceção da CUT”, informa jornal, que sempre pregou o fim deste “privilégio”.

Restrições ao direito de greve

No mesmo rumo da satanização do sindicalismo, editorial do Estadão de segunda-feira passada (23) criticou o aumento do poder de mobilização dos trabalhadores do setor público. Para o jornalão da famiglia Mesquita, que iniciou a sua trajetória publicando anúncios da venda de escravos, o governo deveria restringir drasticamente o direito de greve do funcionalismo.

“Números divulgados pelo Dieese chamam a atenção, mais uma vez, para a urgência de regulamentação do direito de greve de servidores públicos civis. Em 2009 houve 518 greves, o maior número no país desde 1978, com 266 no setor privado, ou 51,5% do total, número ligeiramente superior às 251 greves do setor público... Em 2010, porém, o setor público passou a liderar em número de greves, tendo deflagrado 269 paralisações, 60% do total de 448”.

Que tal o retorno à escravidão?

Para o Estadão, estes números são absurdos. Os servidores deveriam ser reprimidos – ou melhor, sumariamente demitidos. “Com tantas greves e horas não trabalhadas, a máquina do governo, que não prima pela eficiência, é ainda mais emperrada e aumentam os gastos de custeio”. O jornal da famiglia Mesquita culpa os governos Lula/Dilma por não restringirem as greves no setor público.

Sem esconder as suas predileções partidárias, o Estadão apoia descaradamente um projeto do senador Aloysio Nunes, do PSDB, que tramita no Congresso. “O projeto ataca o cerne da questão, definindo com clareza serviços que não podem ser paralisados, em hipótese alguma - abastecimento de água, fornecimento de energia, segurança pública, defesa civil, assistência médico-hospitalar, transporte coletivo, telecomunicações, serviços judiciários, etc”. Ou seja: quase todos os servidores públicos!

Como se observa, a mídia patronal não tolera as lutas dos trabalhadores. O seu desejo insaciável é para retirar direitos trabalhistas, criminalizar as greves e asfixiar financeiramente o sindicalismo. Se pudesse, até proibiria a comemoração do Dia Internacional dos Trabalhadores – como ocorre nos EUA. Ou melhor: ela imporia um decreto pelo retorno da escravidão! Seria bem mais simples.

domingo, 29 de abril de 2012

Microcrédito, o negócio da miséria


Ao emprestar somas módicas a fim de possibilitar o desenvolvimento de uma atividade produtiva, o microcrédito deveria emancipar os mais pobres. Mas, na Índia, a lógica dos acionistas triunfou: empresas de microcrédito constroem fortunas vampirizando os mais vulneráveis
por Cédric Gouverneur no LeMondeBrasil
Laksmi e sua esposa Rama não aguentavam mais confeccionar, dia após dia, quase mil beedies(cigarros aromáticos), em doze horas de trabalho, na esperança de ganhar 70 rupias (R$ 2,50) ao final do mês. Esse casal com duas crianças fez então um empréstimo de 5 mil rupias (R$ 180) em uma empresa de microcrédito para abrir uma minúscula lojinha de noz de bétele na periferia de Warangal, no estado de Andhra Pradesh, no sul da Índia. Isso deveria permitir-lhes uma vida melhor, reembolsando 130 rupias por semana. Mas, conta Rama, Laksmi ficou doente: “Durante quatro meses, ele não pôde trabalhar”. Os vencimentos se acumularam e, com eles, os juros. Os vizinhos começaram a ficar agressivos, pois as empresas de microcrédito colocaram em ação um sistema de corresponsabilidade: quando um devedor falha, os outros devem reembolsar. Assediado, aterrorizado, o casal contratou um segundo empréstimo para pagar o primeiro. Depois um terceiro para pagar o segundo... Um total de cinco empréstimos, pelo equivalente a cerca de R$ 2.300.
Os credores acabaram por literalmente acampar diante do casebre de Laksmi e Rama. Depois – em completa ilegalidade – tomaram a lojinha de bétele, o fogão, as joias de ouro e finalmente a máquina de costura com a qual uma das filhas do casal, Eega, de 20 anos, fazia roupas para revender. “Você é bonitinha, vá se prostituir!”, disseram os credores quando ela perguntou como sua família iria conseguir comer. Humilhada, ela se imolou com fogo no dia 28 de setembro de 2010.
“Os pobres têm acesso a um crédito fácil, na porta de casa”, resume Reddy Subrahmanyam, na chefia do ministério do Desenvolvimento Rural do estado. “Mas a que custo! Com os impostos, as taxas de juros beiram os 60%.” Seguindo o espírito de seu inventor, o bengali Muhammad Yunus, Prêmio Nobel da Paz, o microcrédito deveria permitir a aquisição de uma nova fonte de renda, e não atuar como um complemento. Uma nuance fundamental, o microcrédito indiano se assemelha agora aos créditos de consumo: “Os mais pobres contratam créditos para pagar gastos médicos, um dote, um casamento, até uma televisão ou uma peregrinação”, fulmina Subrahmanyam. “O microcrédito deveria emancipar [empower] os mais desfavorecidos, devolver-lhes a dignidade. Agora ele os está afundando na miséria.” E em vez de criar solidariedades, a corresponsabilidade dos devedores implode as comunidades dos vilarejos.
Andhra Pradesh concentra um quarto dos microcréditos privados do país, ou seja, 52 bilhões de rupias (R$ 1,866 milhão) emprestados a 6,25 milhões de lares em 2010.1 “Nos anos 2000”, conta Abhay N., editor do jornal on-line India Microfinance, “o governo regional lançou diversos programas sociais para conter a influência dos maoístas”, cuja guerrilha é ativa na zona rural.2 O estado incitou os bancos a fazer empréstimos aos habitantes dos vilarejos reunidos no seio de grupos de cooperação (self-help groups, ou SHG), ele mesmo se encarregando de uma parte dos juros.
No vilarejo de Dharmasagaram, no distrito de Warangal, uma mãe de família, Bhergya, conta como pôde, graças ao SHG, fazer um empréstimo de pouco mais de R$ 2.300 no banco, com uma taxa de 12% (da qual 9% por conta do Estado) para adquirir um riquexó (carro de duas rodas para transporte de passageiros a tração humana) que ela depois alugou ao irmão: “O aluguel do riquexó me paga 6 mil rupias (R$ 215) líquido por mês, e eu devo reembolsar 2.700”, indica ela, satisfeita.
Mas empresas privadas utilizaram essa rede para abordar os habitantes dos vilarejos e vender créditos para consumo segundo o modelo europeu. Esse desvio se explica pela evolução da maioria dos setenta órgãos de microcrédito indianos, agora guiados por uma só lógica, a do lucro. Número um do setor, a SKS foi fundada em 1998 por Vikram Akula, um trabalhador social diplomado na Universidade de Chicago. A SKS era originalmente uma organização sem fins lucrativos. “Esse statusjurídico a impedia de emprestar dinheiro suficiente”, justifica o porta-voz da empresa na sede social em Hyderabad. “Akula decidiu então, em 2005, fazê-la evoluir para uma companhia financeira não bancária.” Em direito indiano, uma empresa empresta dinheiro, mas não pode receber depósitos. Assim como todos os patrões de órgãos de microcrédito contatados, Akula está “muito ocupado” para nos receber.
Uma ordem recente do governo de Andhra Pradesh (Partido do Congresso) proíbe os coletores de ir ao domicílio de seus devedores e condiciona a contratação de novos empréstimos ao aval das autoridades. Medidas julgadas insuficientes pela oposição: o Telugu Desam Party (TDP), no poder em Andhra Pradesh entre 1999 e 2004, incita os milhões de devedores a parar de pagar.
Na periferia de Hyderabad, encontramos Kaushalya e suas vizinhas. Essa enérgica avó fez um empréstimo para cuidar da saúde de seu marido paralítico. Incapaz de reembolsar, ela deveria ter sido assediada pelas outras devedoras do bairro, obrigadas a pagar em seu lugar. Mas essas senhoras decidiram se unir no enfrentamento e não pagar mais nada: “Não demos mais nada desde novembro de 2010”, dizem elas ao mesmo tempo orgulhosas e graves em seus saris. “As pessoas da empresa de crédito nos ameaçam, dizem que vamos para a prisão, mas nada acontece, a gente nem dá mais atenção a elas!” Tais exemplos de solidariedade nos vilarejos se multiplicam em todo o estado. E as taxas de reembolso afundam, passando de 97% para 20%, até 10%... Enfim, “investigações estão em andamento sobre uns cinquenta suicídios. Os responsáveis pelo assédio deverão responder por seus atos diante dos tribunais”, promete Subrahmanyam.
Sentindo o vento mudar, 39 dirigentes da SKS liquidaram suas stock optionsdesde o começo da crise, no fim de 2010.3 Segundo nossas informações, as empresas de microcrédito se instalam agora no interior profundo, nas cidades dos indígenas Adivasis: isolados, miseráveis, analfabetos, eles são menos suscetíveis a desconfiar... A microfinança indiana poderia tomar para si a tirada do humorista Alphonse Allais (1854-1905): “É preciso procurar o dinheiro onde ele está: com os pobres. Eles não têm muito, mas são muitos...”.
Cédric Gouverneur é jornalista.

Ilustração: Daniel Kondo

1 Narasimhan Srinivasan, “Microfinance India: state of the sector report” [Microfinança na Índia: relatório sobre o estado do setor], SAGE Publications India Pvt Ltd, Nova Déli, 2010.

2 Ler “En Inde, expansion de la guérilla naxalite” [Na Índia, expansão da guerrilha naxalita], Le Monde Diplomatique, dez. 2007.

3 Express India, Nova Déli, 11 fev. 2011.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

''No enfrentamento cotidiano ao capital que o campesinato se constrói como classe''

040412_horacioMST - Horacio Martins de Carvalho, engenheiro agrônomo e cientista social, fala em entrevista ao MPA sobre as tarefas estratégicas do campesinato na construção de sua própria autonomia frente ao agronegócio, além do papel e do caráter da luta dos movimentos camponeses perante o Estado brasileiro que é o grande financiador desse modelo de produção hegemônico.

Horário é membro do Conselho da Associação Brasileira de Reforma Agrária – ABRA, onde também foi presidente.


Quais as tarefas dos camponeses na construção de sua "autonomia" frente ao modelo do agronegócio?

A construção da autonomia relativa dos camponeses perante o capital tem como uma exigência política que o próprio campesinato seja capaz, via as suas mediações de representação de interesses (organizações e movimentos sociais e sindicais), de se constituir como classe social. Para tanto, é importante, senão indispensável, que compreenda a sua relação contraditória de classe com as diversas frações de classe do capital, seja a burguesia bancária, industrial, comercial e/ou agrária.
É na prática cotidiana de enfrentamento do capital que o campesinato se constrói como classe social. A autonomia relativa do campesinato perante o capital expressa a possibilidade efetiva dos camponeses de se reproduzirem socialmente sem dependerem da empresa capitalista, ao menos na maior parte das suas realizações até que se possa construir um Estado popular que supra suas necessidades de instrumentos de trabalho como as máquinas e implementos e amplie o seu contingente de camponeses pelo acesso à terra via uma reforma agrária popular.
Nessa perspectiva são diversas as tarefas para se alicerçar a construção da autonomia relativa camponesa perante o capital, este materializado na burguesia. É recomendável, contudo, se agrupar tais tarefas em dois níveis: as tarefas estratégicas e as tarefas táticas.
As tarefas estratégicas, em geral de médio e longo prazo, deveriam ser elaboradas a partir das questões estruturais concernentes com a reprodução social do campesinato numa formação econômica e social onde o modo de produção capitalista é dominante e hegemônico. Tais tarefas estratégicas seriam, então, definidas historicamente pela dinâmica das relações de classe sociais contraditórias entre o campesinato e as diversas frações de classe da burguesia (burguesia industrial, bancária, comercial e agrária).
Nessa perspectiva, os camponeses deveriam se identificar como sendo uma classe social diferente do proletariado e da burguesia. E a partir daí serem capazes de definir seus interesses de classe que teriam como centralidade a reprodução social da família camponesa. Esse interesse estratégico da classe camponesa é inteiramente distinto do interesse central da reprodução social capitalista que tem como centralidade o lucro.
Ao se considerar que há distinção entre a centralidade de reprodução social da família camponesa e aquela da empresa capitalista no campo (o lucro), estar-se-ia assumindo que a lógica da reprodução social do campesinato é inteiramente distinta daquela da empresa capitalista. Portanto, pode-se afirmar que há uma especificidade camponesa, uma lógica própria que orienta e conduz a sua reprodução social e é, nessa perspectiva, distinta e mesmo contrária, à racionalidade de reprodução social capitalista, esta baseada na exploração do trabalhador assalariado e, via as trocas comerciais nos mais distintos mercados, do campesinato.
Dois eixos centrais poderiam orientar as estratégias camponeses, capazes de construir autonomia relativa o camponês perante o capital: o primeiro, seria construir uma base recursos autogerida, capaz de tornar o camponês menos dependente dos insumos de origem industrial (prática de outro padrão tecnológico); o segundo residiria na relação camponês com a natureza onde a coevolução estivesse presente (evolui a produção camponesa mas evolui a natureza no sentido da sua preservação e melhoramento).
As tarefas táticas seriam aquelas que se estabelecem nas relações entre o campesinato e o Estado. São as tarefas pautadas pela reivindicação de políticas públicas favoráveis ao campesinato e o protesto contra a discriminação dos camponeses no acesso às políticas públicas e à afirmação de seus direitos como cidadãos. É no exercício das tarefas táticas que os camponeses acumularão forças para se constituírem politicamente como classe social.

Qual papel dos movimentos camponeses em uma conjuntura de avanço do Modelo agrícola hegemoneizado pelo Agronegócio?

O papel mais relevante esperado dos movimentos e organizações sociais e sindicais camponesas é a afirmação da sua especificidade camponesa. Significa negar que os camponeses não possuem identidade social, mesmo se contemplando a ampla diversidade de formas de se relacionar tanto com a natureza como socialmente: proprietários de terras, posseiros, arrendatários, parceiros, foreiros, etc. Ao afirmarem a sua especificidade como camponeses, portanto, como famílias que tem como centralidade no processo de produção a sua reprodução social, sendo ao mesmo tempo os que decidem sobre a alocação da força de trabalho familiar e os que usufruem dos resultados obtidos, deixam de se confundirem com os pequenos burgueses (fração da burguesia) ou como proletários. São camponeses.
Essa afirmação da especificidade camponesa e da sua construção política como classe social demanda que o campesinato tenha um projeto de construção de um outro tipo ou modelo de agricultura para o país. Ao negarem o modelo agrícola hoje hegemoneizado pelo agronegócio necessitam afirmar uma outra proposta que nega a atual e construa um novo modelo de relação homem-natureza e homem-homem.
Nessa perspectiva, as dimensões econômica, política e ideológica devem estar integradas. Significa dizer que os camponeses, com o apoio do proletariado rural e urbano, devem ser portadores de uma concepção de mundo distinta da capitalista. A construção dessa nova proposta é a tarefa estratégica principal dos movimentos e organizações sociais e sindicais camponeses. Isso porque sem essa perspectiva de médio e longo prazo para a luta social camponesa as tarefas táticas tornar-se-ão dispersas e o acúmulo de forças no sentido da realização dos interesses de classe dos camponeses (e mais amplamente camponês-proletariado) serão mínimos e insuficientes para mudarem a correlação de força política de classe em presença num determinado contexto.
A prática de um outro padrão tecnológico como a da agroecologia é importante porque proporciona ações imediatas de mudanças no interior da unidade de produção camponesa, assim como no seu produto, de maneira que a negação do padrão tecnológico dominante se efetue não apenas na concepção teórica, mas na prática concreta da produção. Nesse sentido a produção e renovação dos recursos autogerados (produção interna na unidade de produção ou na cooperação entre camponeses num território dado) é de fundamental importância.

Qual deve ser o caráter da luta dos movimentos camponeses frente ao Estado brasileiro que é o grande financiador do agronegócio?

É sempre bom recordar que o Estado é o financiador, assim como a base política e ideológica de reprodução do agronegócio. Mas, não é o agronegócio. Ainda que enfrentá-lo, seja no nível das políticas públicas seja no âmbito do poder legislativo, é por demais importante, não se deve descuidar da luta direta contra o capital no campo. É uma luta que se realiza nas diversas dimensões: a econômica (outro padrão tecnológico e de produção), a política (proposição de outras políticas públicas e de legislação a favor do camponês) e a ideológica (concepção de mundo e novo modelo para a relação homem-natureza).
Com relação ao Estado, e em particular com os poderes Executivo e o Legislativo, é indispensável sempre combinar propostas camponesas com as reivindicações e os protestos. O eixo da luta é afirmar propostas econômicas e políticas objetivas de afirmação do campesinato, e se exigir que os governos as cumpram. Um campesinato, ou suas instituições de mediação de interesses, que não tenham propostas de políticas públicas e de legislação para a realização dos seus interesses de classe, fica sempre a reboque da racionalidade dominante que prevê, num processo de dominação-hegemonia, políticas sociais para os outros, sejam eles os camponeses e ou os proletários, no sentido da cooptação pelo alto e para exercer a dominação.
A reivindicação e o protesto vêm depois de esgotadas as ações de afirmação das propostas camponesas. Reivindica-se a concretização do que se sugeriu ou se propôs. E se os governos ou o legislativo não cumprem o que se havia acordado, é o protesto a forma mais usual. Mas, tudo deve partir de proposições, sejam elas estruturais sejam conjunturais. As proposições têm caráter afirmativo, positivo, que educa o próprio campesinato e faz com que ele se sinta sujeito das ações sugeridas. Elas constituem um começo que sempre se renova. Reivindicação e protestos são complementos da ação de proposição. São elos de uma mesma cadeia de acontecimentos nas relações campesinato com o Estado.
A negação do modo de produção capitalista presente no campo se faz não apenas pelo discurso sobre o que ele tem de pior, pela exploração que estabelece nas relações sociais de produção, pela depredação do meio ambiente e pela oferta de produtos e subprodutos contaminados. A negação se faz pela afirmação de um novo projeto ou modelo para o campo. È a proposição que permite a ação positiva de construção de um novo que nega o dominante.
Diria que, em síntese, o caráter da luta dos movimentos camponeses perante o Estado deve ser de proposições afirmativas da especificidade camponesa e das exigências que essa especificidade requer. Afirmar que o campesinato é uma classe social e que, portanto, têm interesses de classe que se confronta com os interesses de classe da burguesia. É uma afirmação portadora de um não à conciliação de classes imposta pelas classes dominantes e pelo Estado.

domingo, 25 de março de 2012

EUA-MISÉRIA 20,7% CRIANÇAS AMERICANAS SÃO POBRES

EUA: Cresce quantidade de crianças em situação de extrema miséria

Muitas crianças dos Estados Unidos se encontram hoje em situações extremas de pobreza, de abusos e outros problemas sociais, sem que se tenha colocado um fim a esses flagelos.

Recentemente, Michael Petit, presidente da organização governamental estadunidense de defensa dos direitos da infância, Every Child Matters, questionou por que a violência contra as crianças é muito mais forte nesta nação do que em qualquer outra do mundo industrializado. Petit colocou em evidência um dos muitos problemas que afetam a infância estadunidense.

Segundo estatísticas, nos últimos 10 anos estima-se que 20 mil crianças morreram em suas próprias casas devido à violência familiar, quase quatro vezes o número de soldados estadunidenses mortos no Iraque e no Afeganistão.

Violência contra crianças

De acordo com a BBC Mundo, a cada cinco horas uma criança morre nos EUA como consequência de abusos e negligência.

Dados conservadores do governo revelam que aproximadamente 770 menores perderam a vida por maus tratos em 2009, ainda que um informe do Congresso considere que o número pode chegar a cerca de 2,5 mil.

A BBC advertiu que os estadunidenses têm os piores registros de abusos do mundo.

Esta situação tende a ser agravada, pois enquanto a economia estadunidense tenta se recuperar, a pobreza infantil aumenta e os estados cortam bilhões em serviços para as crianças, o que pressiona a frágil rede de seguridade da nação.

Preconceito com latinos

Por outro lado, as minorias são as mais afetadas por este e outros problemas. Um informe mencionado pelo diário californiano A Opinião, indica que os alunos hispanoamericanos recebem mais castigos nas escolas que os estadunidenses brancos.

O texto detalha que os estudantes representantes de minorias sociais no ensino médio são suspensos e expulsos com mais freqüência que seus colegas brancos, por decisão de docentes e diretores.

Vulnerabilidade infantil

As crianças são o setor mais vulnerável da sociedade estadunidense. Cerca de 17 milhões sofrem com insegurança alimentar, segundo dados da Feeding America, uma organização que reúne 200 Bancos de alimentos e a organização beneficente de distribuição de comida mais importante do país.

CRIANÇAS POBRES 20,7% SÃO POBRES

Na principal economia do mundo, 20,7% das crianças são pobres, situação que afeta os hispanoamericanos em 33,1%, indicou recentemente um informe do Instituto Pan para o Mundo, um movimento religioso contra a fome.

Um estudo de 2009 sobre a insegurança alimentar afirma que 26,9% dos lares de hispanoamericanos enfrentam este problema, em especial aqueles nos quais há menores de idade.

Fome e desemprego

O escritório do Censo e o Departamento de Agricultura asseguram que, no território estadunidense, pelo menos 34,9% dos latinos menores de 18 anos tiveram fome, cifra superior aos 23,2% das crianças na população total do país.

Devido à atual crise econômica e o desemprego de cerca de 14 milhões de pessoas que afeta os Estados Unidos, 30% das famílias latinas recorreram a fundos de ajuda de alimentos para amenizar a fome.

Dados da Fundação Annie E. Casey garantem que a recente recessão eliminou muitos dos benefícios econômicos para as crianças nascidas no final dos anos 1990, enquanto se desenha como preocupante a quantidade de menores afetados pelas execuções hipotecárias, pelas quais foram embargadas suas casas e complicaram seu bem-estar.

Essa organização afirma que em 2010, 11% das crianças tinha ao menos o pai ou a mãe sem emprego. Os menores latinos são a população que mais aumenta nos EUA e, ao mesmo tempo, engrossam sua porção mais pobre.

Segundo Pew Hispanic Center, uma em cada quatro crianças vive sem acesso seguro a suficiente comida nutritiva: "Os menores afroamericanos enfrentam a pior crise desde os tempos da escravidão e, em diversas áreas, as crianças hispanoamericanas e indígenas se encontram em situação similar", pontuou.

Os menores latinos não sabem se comem hoje, nem se comerão amanhã: mais de um terço vive em condições de pobreza e de insegurança alimentar, assegura o informe The State of American’s Children (O Estado das Crianças Estadunidenses), 2011.

A partir de 2007, quando se intensificou a recessão econômica, se incorporaram mais de 800 mil pessoas ao programa de ajuda WIC — Supplemental Nutrition Program for Women, Infants and Children (Programa de Nutrição Suplementar para Mulheres, Lactantes e Crianças). 76 % dos destinatários de este programa são crianças e adolescentes.

A Fundação Annie E. Casey aborda outro problema extremo que repercute sobre a infância estadunidense: a pobreza infantil, pontua, cresceu 18% desde 2000 até 2009, saltando de 2.5 milhões para 14.7 milhões, com incidência notável nos estados do sul e as minorias.

Diferentes informes e estatísticas atestam que a população infantil nos EUA ocupa posições extremas, o que deveria envergonhar seus dirigentes e políticos.

Fonte: Prensa Latina via VOLTAIRE77
Tradução: Vanessa Silva

domingo, 11 de março de 2012

Trabalho escravo éuma verdade inconveniente



Do BLOG DO ZEQUINHA BARRETO

Se o povo soubesse como são feitas as leis e as salsichas,não dormiria tranquilo.
A frase é atribuída a Otto von Bismarck,chanceler alemão no século XIX. Mas poderia ser hoje estendida às roupas de grife.
Na semana que passou,vieram a público os resultados de operações de fiscais que descobriram o uso de trabalho escravo na confecção da badalada marca Zara,entre outras.
As roupas da empresa espanhola vinham sendo produzidas no país por imigrantes bolivianos e peruanos. Remunerados com a metade de um salário mínimo,eles já chegavam ao Brasil devedores de seus patrões,terceirizados da empresa.
Segundo se noticiou,as peças eram feitas em apertadas e escuras residências quase sem janelas. Um habitat bem distinto dos elegantes endereços onde normalmente são vendidas. Para os operários do subúrbio da alta costura,algo em torno de dois reais por trabalho.
A empresa disse que não sabia da situação;muitos consumidores,que não queriam saber.
Parte dos clientes ouvidos afirmou que não se importa com o problema. Eles acreditam que todas as empresas fazem o mesmo e,enfim,avaliam não ter qualquer responsabilidade sobre isso.
Não faltou quem se sentisse até indignado com a crítica,acuado com as sugestões de boicote à marca. "Vamos ter de comprar na C&A,agora?",praguejaram nas redes sociais.
A publicidade faz maravilhas. A principal delas é isolar o produto das consequências de sua fabricação.
Quando compramos nossos Ipods,Ipads e outros tantos apetrechos,não estamos pensando na situação de mineiros africanos que tenham morrido extraindo metais,nem na contaminação tóxica que a industrialização pode espalhar aos operários e ao meio ambiente.
A idealização do consumo se reveste na capacidade de poupar o consumidor dos detalhes sórdidos que estão por trás da produção,da mesma forma como não somos estimulados a pensar nos malefícios da degradação dos produtos,depois que eles não nos interessam mais.
Em "A História das Coisas"(The Story of Stuff),que circula pelas redes sociais,a ativista Annie Leonard procura chamar a atenção para o que está por trás dessa cadeia de produção,invisíveis violências contra seres humanos e a natureza.
E alerta para o motor que mantém o consumismo sempre frenético:a obsolescência planejada. Os bens são produzidos propositadamente para durar pouco e para aqueles que podem durar mais,a moda,a publicidade,a imprensa,enfim,se encarregam de fazer com que queiramos trocar por modelos mais práticos,mais bonitos,mais modernos.
Enfim,consumir sempre mais e mais.
O ataque desenfreado aos recursos naturais e a exploração desmedida da mão-de-obra barata não fazem parte de nossas preocupações enquanto consumimos. São verdades inconvenientes.
Afinal,conhecer a podridão da produção significa sentir-se responsável por parte dos seus males. E,como se sabe,a culpa é inimiga do consumo.
A emergência do perigo ao planeta tem direcionado muitos jovens às causas ecológicas,esperançosos em participar de um desenvolvimento sustentável,que nos permita viver sem exterminar o mundo ao mesmo tempo.
Mas tanto quanto o planeta,milhões e milhões de pessoas na base da pirâmide social,também correm sério risco de extinção a cada dia. Refugiados somalis,trabalhadores sem- terra ou imigrantes escravizados são prova viva disso. Ou quase viva.
A exploração predatória dos recursos naturais tem tudo a ver com o modo de produção que reduz o trabalhador a muito menos do que a sua dignidade.
A ganância não encontra limites que não lhe sejam impostos. E a ânsia do lucro estratosférico atropela qualquer resquício de responsabilidade social que o marketing possa nos apresentar em meio a sorrisos e belas imagens na TV.
Salvar o planeta é mais do que usar papel reciclado ou participar da coleta seletiva.
É compreender que quem compra uma camisa no shopping também é responsável pela exploração do trabalhador que a produziu.

Marcelo Semer é Juiz de Direito em São Paulo. Foi presidente da Associação Juízes para a Democracia. Coordenador de "Direitos Humanos:essência do Direito do Trabalho"(LTr) e autor de "Crime Impossível"(Malheiros) e do romance "Certas Canções"(7 Letras). Responsável pelo Blog Sem Juízo.

sábado, 3 de março de 2012

Agricultura familiar é necessária para alimentar o mundo


Espaços como o do Fórum Social Mundial, ocorrido em janeiro de 2012 em Porto Alegre/RS, são essenciais para que os movimentos sociais e ativistas se encontrem e discutam com unidade a agricultura familiar e a reforma agrária.
por Júlia Schnorr no LeMONDE-BRASIL
''Só sai, só sai, a reforma agrária, com a aliança camponesa e operária.'' A canção da viola embala o início da Marcha de Abertura do Fórum Social Temático (FST) em Porto Alegre. Mais de 20 mil pessoas caminham na Avenida Borges de Medeiros carregando faixas e cartazes. A música não para: ''Nossa primeira tarefa é ocupar toda terra produtiva/Nós queremos trabalhar/Nossa segunda tarefa é resistir/Entrar bem organizado/Enfrentar para não sair/Nossa terceira tarefa é produzir/No trabalho coletivo, colher muito e repartir.''

Ao longo do Fórum Social Temático, diversas foram as oportunidades para discutir agricultura familiar e reforma agrária. Na conferência de abertura do FST, José Graziano da Silva, diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), palestrou sobre Cooperativismo e agricultura familiar. O dirigente ressaltou que o uso de recursos hídricos e o de insumos agrícolas devem ser diminuídos com a finalidade de realizar uma agricultura com sustentabilidade.

O diretor-geral assumiu a FAO no ano passado definindo alguns desafios, como a segurança alimentar, o estímulo à produção de alimentos e o combate à pobreza. Para ele, não podemos ter desenvolvimento sustentável com pobreza no campo. Graziano da Silva afirmou ainda que as cooperativas são fundamentais, chegando a ser responsáveis por 30% da produção dos alimentos mundiais.

(Debate ‘’Agricultura Familiar e Desenvolvimento Sustentável’’ organizado pela Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar - Fetraf – Sul/CUT durante o Fórum Social Temático (FST) 2012 em Porto Alegre (RS).

A agricultura familiar foi temática da atividade organizada pela Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar, a Fetraf. A seção sindical centrou suas discussões nos desafios cotidianas dos pequenos produtores, como a permanência dos jovens no campo e a dificuldade de acesso ao crédito. Celso Ludwig, coordenador da Fetraf-Sul, analisou que a queda do desemprego no Brasil é um impulso para que jovens rurais deixem o campo, o que agrega dificuldades para a agricultura familiar e a sucessão hereditária.
Ludwig lembra que para permanecer no campo, há a necessidade de se ter geração de renda, lazer, políticas públicas e acesso à internet – que já foi declarado um direito humano. Ao ponderar sobre o envelhecimento do campo e o modelo de desenvolvimento vigente, Ludwig se perguntou qual o tipo de agricultura que deseja. Sua resposta vem rápida e sem pestanejar: ‘’o campo é o lugar de um espaço de vida e prefiro uma agricultura com pessoas e não somente com máquinas. ’’
 
O rural como modo de vida


(Agricultores moradores da zona rural de Nova Palma, RS, no plantio de alface)

O meio rural¹ é um ‘’espaço suporte de relações específicas'', como parentesco e vizinhança, ''que se constroem, se reproduzem ou se redefinem sobre este mesmo espaço e que, portanto, o conformam enquanto um singular espaço de vida’’. É nesta conjuntura que surge a expressão ''agricultura familiar'', que emergiu no Brasil na década de 1990. Assim, a família é importante referência para o meio rural como vida social, pois a partir dela é estabelecido o sentimento de pertencimento a este espaço de vida.
As terras improdutivas, juntamente com o latifúndio inabitado, são exemplos de áreas sem vida social, onde a função residencial inexiste ou está reduzida. Mesmo nas áreas produtivas e altamente mecanizadas, onde não se utiliza muita mão-de-obra, há um ‘’deserto verde’’. Dessa forma, torna-se difícil encontrar vida social.
A agricultura familiar ocupa um dos espaços rurais brasileiros onde há vida social local mais intensa², sendo uma contribuição do agricultor familiar na formulação de respostas à crise do modelo produtivista.
 
Discutindo as políticas governamentais

Uma das maiores dificuldades dos agricultores familiares é o acesso à linha de crédito, especialmente por ser ‘’a agricultura familiar uma prática periférica no processo agrícola do país’’, como afirma a coordenadora nacional da Fetrat Elisângela Araújo. Assim, o desafio de propostas como a do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) são grandes. Criado na década de 1990 e tendo como público alvo os agricultores familiares, o Pronaf tem como objetivo o acesso de crédito, e já designou financiamentos específicos para mulheres e jovens. No entanto, programas como esses são suficientes?
Para o professor do Departamento de Sociologia da UFRGS Guilherme Radomski, a lógica produtivista acaba por excluir os agricultores endividados e também deixa de lado o grande montante de agricultores que não são os maiores produtores ou que ainda estão se estabelecendo em suas propriedades. Radomsky afirma que a saída encontrada por muitos deles é a pluriatividade do espaço rural, como o investimento no turismo rural ou ‘’bicos’’ em atividades não rurais.
 
O caso da reforma agrária

Os assentamentos da reforma agrária integram uma parcela de trabalhadores rurais que eram assalariados em propriedades alheias ou que foram expulsos do campo devido à mecanização. O retorno ao meio rural é uma reconstrução da vida local, já que os assentamentos se configuram como espaços que agregam famílias de diferentes localidades. Além de se adequarem à produção da nova região, os assentados têm que estabelecer uma vida social a partir dos contatos com outros assentados, assim como com o meio urbano próximo, principal centro de escoamento da produção.
O desenvolvimento a partir da pequena produção familiar tem grandes opositores, baseados especialmente no argumento do ‘’progresso do país’’. Eles acreditam que se buscaria a justiça social pagando-se o preço de uma agricultura com pouca tecnologia, ou essa atrasada. A reforma agrária, no entanto, é necessária para que o desenvolvimento econômico do país seja acompanhado por uma distribuição de renda. Apoiar a agricultura familiar não implica em conter a modernização agrícola, mas sim reorganizar o meio rural e seus recursos 4.
Mudanças importantes ocorreram para a agricultura familiar nos últimos anos, enquanto outros setores como a reforma agrária permaneceram estagnados. Enquanto o número de famílias assentadas não aumenta como os movimentos sociais desejam, a agricultura familiar foi oficialmente reconhecida pelo governo brasileiro, especialmente através do Pronaf. Com ele, os agricultores que antes eram vistos como a parte empobrecida do campo, hoje se tornam alternativas ao modelo de desenvolvimento do latifúndio.
Dada a conjuntura atual, está nas mãos dos movimentos sociais a função de pressionar o governo com a finalidade de obter encaminhamentos para a reforma agrária. Um dos sentidos da reforma agrária em nosso país é a ampliação das oportunidades de emprego no meio rural, fazendo com que diminua a pressão da oferta de mão de obra no mercado de trabalho urbano.
 
Para onde vamos?

Os países com maiores índices de desenvolvimento humano tem em comum a presença da agricultura familiar. Ela ''desempenhou um papel fundamental na estruturação de economias mais dinâmicas e de sociedades mais democráticas e equitativas 5.'' Além de incentivos na agricultura, é necessário o fornecimento de outros serviços igualmente encontrados no meio urbano.
Devemos tratar o rural com um novo enfoque. A multifuncionalidade e a pluriatividade são indícios de que o rural não é mais somente agrícola. As políticas públicas para seu desenvolvimento não devem ser voltadas exclusivamente para o setor da agricultura, e sim envolver uma gama maior, desde o investimento em piscicultura até a inclusão digital com acesso à internet com banda larga.
Espaços como o do FST são essenciais para que os movimentos sociais e ativistas se encontrem e discutam com unidade a agricultura familiar e a reforma agrária. O FST é o local para que haja o debate do meio rural como modo de vida. Assim, podemos pensar em reforma agrária, no fim da pobreza no campo, na promoção da democracia e no desenvolvimento social e sustentável. Esse é o mundo rural que desejamos. E ele é possível.
Júlia Schnorr
Historiadora e Mestranda em Comunicação (UFSM) – Pesquisa Juventude rural e televisão  (juliaschnorr@gmail.com)

¹ WANDERLEY, Maria de Nazareth. O mundo rural como um Espaço de Vida: reflexões sobre a propriedade da terra, agricultura familiar e ruralidade. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009.
² CARNEIRO, Maria José. Ruralidade: novas identidades em construção. Estudos Sociedade e Agricultura, n.11, 1998, p.53-75.
³ GRAZIANO DA SILVA, José; GROSSI, Mauro; CAMPANHOLA, Clayton. O que há de realmente novo no rural brasileiro. Cadernos de Ciência  & Tecnologia, Brasília, v.19, n.1, 2002, p. 37-67
4 e 5 GUANZIROLI, Carlos; ROMEIRO, Ademar; BAUINAIN, Antonio. Agricultura Familiar e Reforma Agrária no Século XXI. FAO/MDA. Editora Garamond Universitária, 2001.

Crédito fotos: Júlia Schnorr

quinta-feira, 1 de março de 2012

Camponeses lançam manifesto pela Reforma Agrária após encontro histórico


Da Página do MST

Os movimentos sociais do campo, que fizeram uma reunião no começo desta semana em Brasília, lançaram um manifesto em defesa da Reforma Agrária, do desenvolvimento rural com o fim das desigualdades, da produção e acesso a alimentos saudáveis, da agroecológica e da garantia e ampliação de direitos sociais aos trabalhadores rurais.
As entidades mais representativas do meio rural no Brasil consideraram a reunião "um momento histórico, um espaço qualificado, com dirigentes das principais organizações do campo que esperam a adesão e o compromisso com este processo".
No manifesto, foi criticado também o modelo de produção de commodities agrícolas baseado em latifúndios, na expulsão das famílias do campo e nos agrotóxicos.
"O agronegócio representa um pacto de poder das classes sociais hegemônicas, com forte apoio do Estado Brasileiro, pautado na financeirização e na acumulação de capital, na mercantilização dos bens da natureza, gerando concentração e estrangeirização da terra, contaminação dos alimentos por agrotóxicos, destruição ambiental, exclusão e violência no campo, e a criminalização dos movimentos, lideranças e lutas sociais", afirmam no manifesto.
O documento é assinado pelo MST, Via Campesina, Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e a Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf), entre outras entidades (veja a lista no final).
Os movimentos sociais prometem "um processo de luta unificada em defesa da Reforma Agrária, dos direitos territoriais e da produção de alimentos saudáveis".
Na tarde desta terça-feira (28/2), os movimentos apresentam o manifesto à sociedade em ato político no plenário 15 da Câmara dos Deputados, em Brasília.
Abaixo, leia a versão integral do manifesto.

MANIFESTO DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS DO CAMPO

As entidades APIB, CÁRITAS, CIMI, CPT, CONTAG, FETRAF, MAB, MCP, MMC, MPA e MST, presentes no Seminário Nacional de Organizações Sociais do Campo, realizado em Brasília, nos dias 27 e 28 de fevereiro de 2012, deliberaram pela construção e realização de um processo de luta unificada em defesa da Reforma Agrária, dos direitos territoriais e da produção de alimentos saudáveis.
Considerando:
1)    O aprofundamento do capitalismo dependente no meio rural, baseado na expansão do agronegócio, produz impactos negativos na vida dos povos do campo, das florestas e das águas, impedindo o cumprimento da função socioambiental da terra e a realização da reforma agrária, promovendo a exclusão e a violência, impactando negativamente também nas cidades, agravando a dependência externa e a degradação dos recursos naturais (primarização).
2)    O Brasil vive um processo de reprimarização da economia, baseada na produção e exportação de commodities agrícolas e não agrícolas (mineração), que é incapaz de financiar e promover um desenvolvimento sustentável e solidário e satisfazer as necessidades do povo brasileiro.
3)    O agronegócio representa um pacto de poder das classes sociais hegemônicas, com forte apoio do Estado Brasileiro, pautado na financeirização e na acumulação de capital, na mercantilização dos bens da natureza, gerando concentração e estrangeirização da terra, contaminação dos alimentos por agrotóxicos, destruição ambiental, exclusão e violência no campo, e a criminalização dos movimentos, lideranças e lutas sociais.
4)    A crise atual é sistêmica e planetária e, em situações de crise, o capital busca saídas clássicas que afetam ainda mais os trabalhadores e trabalhadoras com o aumento da exploração da força de trabalho (inclusive com trabalho escravo), super exploração e concentração dos bens e recursos naturais (reprimarização), flexibilização de direitos e investimento em tecnologia excludente e predatória.
5)    Na atual situação de crise, o Brasil, como um país rico em terra, água, bens naturais e biodiversidade, atrai o capital especulativo e agroexportador, acirrando os impactos negativos sobre os territórios e populações indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e camponesas. Externamente, o Brasil pode se tornar alavanca do projeto neocolonizador, expandindo este modelo para outros países, especialmente na América Latina e África.
6)    O pensamento neodesenvolvimentista centrado na produção e no lucro, defendido pela direita e por setores de esquerda, exclui e trata como empecilho povos indígenas, quilombolas e camponeses. A opção do governo brasileiro por um projeto neodesenvolvimentista, centrado em grandes projetos e na exportação de commodities, agrava a situação de exclusão e de violência. Consequentemente não atende as pautas estruturais e não coloca a reforma agrária no centro da agenda política, gerando forte insatisfação das organizações sociais do campo, apesar de pequenos avanços em questões periféricas.
Estas são as razões centrais que levaram as organizações sociais do campo a se unirem em um processo nacional de luta articulada. Mesmo reconhecendo a diversidade política, estas compreendem a importância da construção da unidade, feita sobre as bases da sabedoria, da maturidade e do respeito às diferenças, buscando conquistas concretas para os povos do campo, das florestas e das águas.
Neste sentido nós, organizações do campo, lutaremos por um desenvolvimento com sustentabilidade e focado na soberania alimentar e territorial, a partir de quatro eixos centrais:
a)    Reforma Agrária ampla e de qualidade, garantia dos direitos territoriais dos povos indígenas e quilombolas e comunidades tradicionais: terra como meio de vida e afirmação da identidade sociocultural dos povos, combate à estrangeirização das terras e estabelecimento do limite de propriedade da terra no Brasil.
b)    Desenvolvimento rural com distribuição de renda e riqueza e o fim das desigualdades;
c)    Produção e acesso a alimentos saudáveis e conservação ambiental, estabelecendo processos que assegurem a transição para agroecológica.
d)    Garantia e ampliação de direitos sociais e culturais que permitam a qualidade de vida, inclusive a sucessão rural e permanência da juventude no campo.
Este é um momento histórico, um espaço qualificado, com dirigentes das principais organizações do campo que esperam a adesão e o compromisso com este processo por outras entidades e movimentos sociais, setores do governo, parlamentares, personalidades e sociedade em geral, uma vez que a agenda que nos une é uma agenda de interesse de todos e todas.

Brasília, 28 de fevereiro de 2012.
APIB – Associação dos Povos Indígenas do Brasil   
CÁRITAS Brasileira
CIMI – Conselho Indigenista Missionário   
CPT – Comissão Pastoral da Terra
CONTAG – Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura   
FETRAF – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura Familiar
MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens    
MCP – Movimento Camponês Popular
MMC – Movimento de Mulheres Camponesas   
MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores
MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra   
Via Campesina Brasil

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A precarização do trabalho doméstico

Por Vivian Fernandes, no jornal Brasil de Fato: via BLOG DO MIRO

Um lento processo de transformação está alterando o perfil dos trabalhadores domésticos no Brasil. A mão de obra ficou mais velha, escolarizada, escassa e com maiores salários. Porém, a maioria segue sendo mulher, preta ou parda, das classes econômicas mais baixas e sem carteira assinada.

Segundo o instituto de pesquisas Data Popular, a renda média do setor cresceu 43,5% acima da inflação entre 2002 e 2011. No entanto, os domésticos ainda recebem salários abaixo do mínimo, cerca de R$ 508 com carteira assinada, e R$ 351 para os informais – que são 72% da categoria.

Em relação à escolaridade, os números praticamente dobraram. Em 2002, 12,7% tinham feito ao menos uma série do ensino médio; em 2011, 23,3% concluíram o nível. No ensino superior, o índice passou de 0,7% para 1,3%.

A quantidade de domésticos cresceu em proporção menor que a população. O que mostra uma busca por trabalhos em outros setores, principalmente entre os mais jovens, alterando a média de idade de 35 para 39 anos.

Atualmente, são 6 milhões de trabalhadores domésticos no país, sendo mais de 96% mulheres e 62% pretos ou pardos. Tramitam no Senado projetos para garantir aos domésticos os mesmos direitos que os demais trabalhadores. Apenas sete dos 34 direitos constitucionais são assegurados à categoria.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

No RS, Indexador é dúvida para pagamento do piso dos professores


Professores farão assembleia-geral no dia 2 de março em frente ao Palácio Piratini | Bruno Alencastro/Cpers

Samir Oliveira no SUL21

O governo do Estado divulgará, entre esta quinta-feira (23) e esta sexta-feira (24), um calendário para o pagamento do piso nacional do magistério. A previsão de reajustes para se chegar ao valor, hoje estabelecido em R$ 1.187,00 para uma jornada de 40 horas semanais, é uma reivindicação antiga do Cpers, que ainda demonstra cautela em relação à promessa do Palácio Piratini.
O núcleo do governo que estuda o tema se reuniu na quarta-feira (22) para finalizar as projeções, mas pouco se sabe sobre o resultado final do encontro. Uma das dúvidas é se o governador Tarso Genro (PT) optará por utilizar como indexador para o aumento do piso o mecanismo que já está previsto na lei – da qual, na condição de então ministro da Educação, é um dos signatários – ou uma ferramenta que ainda está sendo discutida na Câmara dos Deputados.
Conforme a redação da lei do piso, vigente desde 2008, a remuneração deve ser reajustada anualmente em janeiro tendo como base o custo por aluno do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Por esse critério, em 2012 o piso sofreria um aumento de 22% e estaria em R$ 1.448,00.
Mas, desde 2008, tramita no Congresso Nacional um projeto do próprio governo federal que tenta alterar o critério de reajuste do piso. Pela proposta, o salário passa a ser reajustado pela variação da inflação, calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), o que reduziria bastante o percentual de aumento.
A medida sofreu alterações no Senado, que voltou a colocar no projeto o critério de reajuste pelo Fundeb. Mas a mudança foi derrubada pela Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados. Após toda a tramitação, a proposta se encontra na meda diretora da Câmara, pronta para ser votada em plenário e ir para a mesa da presidenta Dilma Rousseff (PT).
Também há incertezas quanto à posição do Palácio do Planalto sobre o assunto. A proposta de mudar o indexador do reajuste partiu do governo do ex-presidente Lula (PT), após o mesmo ter aprovado a lei determinando o aumento pelo Fundeb. A presidenta Dilma ainda não se manifestou sobre o tema e o Ministério da Educação  (MEC) ainda não aprovou o reajuste de 22%, o que dá esperanças a governadores e prefeitos que desejam que o critério adotado seja o do INPC.

“Reajuste pelo Fundeb é contraditório e irreal”, avalia secretário da Educação
Bruno Alencastro/Sul21
José Clóvis de Azevedo diz que INCP dialoga com variações reais da economia | Foto: Bruno Alencastro/Sul21

O Palácio Piratini não esconde o desconforto de se ver diante da possibilidade de pagar o piso nacional do magistério tendo como base o reajuste anual calcado no custo por aluno do Fundeb. O assunto veio a público desde que o secretário estadual da Fazenda, Odir Tonollier (PT), disse que não seria possível pagar o piso até 2014 – como prometeu diversas vezes o governador Tarso Genro – caso esse critério de aumento fosse mantido.
Desde então, por mais que outros integrantes do primeiro escalão se esforcem em colocar panos quentes,  o tom do governo é o de aposta na mudança do indexador para o INPC. Em coletiva à imprensa no início deste mês, os secretários do Planejamento, João Motta (PT), da Casa Civil adjunta, Mari Perusso (PPL) e da Educação adjunta, Maria Eulália Nascimento (PT), confirmaram que o Piratini trabalha com o reajuste pela inflação, não pelo Fundeb.
“Não tem tesouro que cresça na mesma proporção”, havia dito Maria Eulária, em referência aos 22% de reajuste que o piso terá se for adotado o critério do Fundeb. Na ocasião, João Motta também reiterou as projeções do governo. “Essa discussão ainda não está definitivamente resolvida. No momento, trabalhamos com o INPC. Assim que sair uma posição (do governo federal) nos manifestaremos”, comentou.
Para o secretário estadual de Educação, José Clóvis de Azevedo (PT), calcular o reajuste com base no custo por aluno do Fundeb é “irreal” e não encontra parâmetros na economia do país. “O cálculo do valor total do Fundeb dividido pelas matrículas tende a gerar um índice cada vez maior, completamente contraditório com o crescimento da economia. Nenhuma economia cresce a índices tão elevados, esse cálculo é irreal”, entende o secretário.
Para José Clóvis, “o INPC dialoga com o crescimento real da economia”. Apesar das conjecturas, o petista evita comentar que critério será adotado pelo governo na elaboração de um calendário para o pagamento do piso ao magistério. “Temos a intenção de elaborar esse cronograma e apresentá-lo nos próximos dias, mas isso depende de vários ajustes. Temos que ver a perspectiva do indexador”, desconversa.

“Qualquer coisa diferente do que reza a lei resulta no não cumprimento do piso”, alerta Cpers

Rejane de Oliveira cobra aplicação integral da lei do piso | Ramiro Furquim/Sul21

O sindicato dos professores da rede pública gaúcha está atento para o calendário de pagamento do piso nacional que o governo estadual promete divulgar nos próximos dias. Para o Cpers, o cronograma precisa levar em consideração o que diz a lei – ou seja, que os reajustes terão como base o preço por aluno do Fundeb.
“Queremos o cumprimento da lei, foi isso que o governo prometeu para a categoria. Qualquer coisa diferente do que reza a lei resulta no não cumprimento do piso”, alerta a presidente da entidade, Rejane de Oliveira.
Ela lembra que o sindicato reivindica a apresentação do calendário desde que o governador Tarso Genro tomou posse. E garante que a categoria está pronta para negociar, inclusive em cima de uma proposta já consolidada pelo sindicato e que será apresentada durante a assembleia-geral do dia 2 de março, que será realizada na Praça da Matriz, em frente ao Palácio Piratini. “Se o governo tem disposição de elaborar um calendário, podemos sentar para discutir”, assegura Rejane.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Bolívia aumenta em mais de 20 vezes produção de Quinua



Em uma decada, Bolívia aumentou em 26 vezes o valor de suas exportações de Quinua. De acordo com dados divulgados pelo presidente da Câmera Boliviana de Exportadores de Quinua (Cabolqui), Javier Fernández, se em 2000 o país exportou 2,5 milhões de dólares de grão real, em 2011 registrou 65 milhões.


A Quinua real tem agregado valor nos mercados internacionais, por isso elevamos seu volume de cultivos e exportações, ressaltou Fernández.

De acordo com dados de Cabolqui, em 2005 o quintal de Quinua custava uns 280 bolivianos, enquanto que em 2011 registrou até 800 da moeda nacional.

No ano 2000, Bolívia exportou dois mil toneladas do cereal e hoje vende 20 mil toneladas anuais. As vendas incluem produtos com valor acrescentado como farinha, massas, sopas, hamburguesas, bolos e outros.

Os principais destinos da exportação são os Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França, Nova Zelanda e Canadá.

Neste ano, o Estado boliviano ampliará a superfície agrícola do grão em 66,6%, tendo em vista 2013, Ano Internacional da Quinua. O objetivo é incrementar o cultivo até 100 mil hectares, que eram em 2011 umas 60 mil.

Sobre a Quinua

A Quinua é um grão originário dos Andes, que cresce em terras áridas e semi-áridas, com ampla variedade genética e capacidade de adaptação a climas adversos e hábitats diferentes, de até quatro mil metros de altura.

É o único vegetal com todos os aminoácidos essenciais (20), e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) declarou que tem o melhor balanço de proteínas e nutrientes, com 40 por mais cento de lisina que o leite, o aminoácido mais importante para as pessoas.

Não tem colesterol nem glúten e apresenta vitaminas A, C, D, B1, B2, B6 e ácido fólico. Rico em fósforo, potássio, ferro, magnésio e cálcio e um alto conteúdo protéico (13 por cento), superior a grãos como o trigo, arroz, milho e aveia. Seu alto conteúdo de lisina promove o desenvolvimento cerebral e o crescimento.

Fonte: Prensa Latina

Trabalho escravo nos templos da elite


Por Altamiro Borges

Na semana passada, a agência Repórter Brasil relatou o dramático caso de onze trabalhadores explorados em condições análogas à escravidão na ampliação do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, na região da Avenida Paulista, em São Paulo, no coração do sistema financeiro do país. Eles foram “libertados” no final de janeiro pela fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

Aliciados no Maranhão, eles trabalhavam como pedreiros e serventes e tinham os seus salários retidos pela empreiteira para pagar as “dívidas” com viagem, alimentação e hospedagem – o que caracteriza o trabalho escravo “moderno”, segundo Luís Alexandre Faria, do Grupo de Combate ao Trabalho Escravo Urbano da Superintendência do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE/SP).

Espuma como papel higiênico

A reportagem revela que os operários viviam num alojamento precário em Itaquera, na zona leste da capital. Eles usavam espumas de colchão como papel higiênico, não dispunham de escova e pasta de dentes e dormiam em beliches improvisadas. Dividiam dois copos para beber água e se revezavam para usar o único banheiro. O local também não tinha instalações elétricas seguras.

“Endividados”, os operários não tinham como telefonar para os seus familiares ou se locomover pela cidade. “A falta de dinheiro para voltar a seu Estado de origem e o constrangimento de retornar à família sem os salários prometidos completam o quadro de coerção moral a que eram submetidos, com clara restrição a seu direito fundamental de ir e vir”, destaca o relatório da SRTE/SP.

Trabalho aos feriados e nas madrugadas

Além de receber míseros salários, os operários eram obrigados a trabalhar nos feriados e nas madrugadas no canteiro de obras – sem ganhar qualquer adicional. O trabalho aos domingos também era freqüente, sem o pagamento de horas extras. Este inferno só acabou com a ação do MTE, que interditou o alojamento e “libertou” os trabalhadores, que já retornaram ao Maranhão.

Este caso dramático mostra como funciona o sistema capitalista, que propicia tanta opulência para uma minoria de ricaços. A construtora Racional, responsável pela obra no caríssimo Hospital Alemão Osvaldo Cruz, é a mesma que construiu os shoppings Morumbi e Higienópolis, paraísos do consumo da elite paulistana. Ela produz o luxo com base no trabalho escravo!

Os invisibilizados pela mídia

Pelas irregularidades encontradas na ampliação do hospital, a Racional recebeu 28 autos de infração. Mas, como já ocorreu com a marca de grife Zara, ela disse desconhecer os crimes praticados. Jogou a culpa na empreiteira, uma tal de Genecy, alegando que os trabalhadores eram terceirizados. O Hospital Osvaldo Cruz também alegou inocência e disse “selecionar os parceiros segundo critérios de ética e respeito à legislação”. Com isso, as empresas fogem de suas responsabilidades e burlam os direitos trabalhistas.

A obra no Hospital Oswaldo Cruz “emprega” uns 280 trabalhadores. Em novembro passado, um operário morreu ao cair de um andaime da altura de oito andares. Estas cenas não ganham manchete na mídia. Os mortos, acidentados e os trabalhadores em “condições análogas à escravidão” são invisibilizados. Enquanto isto, a elite mantém sua opulência – sem traumas na consciência!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

José Graziano da Silva, diretor da FAO, visita loja da Reforma Agrária do MST



Por Luiz Felipe Albuquerque
Da Página do MST


Em visita à loja da Reforma Agrária do MST, no Mercado Público de Porto Alegre (RS), José Graziano da Silva, diretor-geral das Organizações das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), viu o sucesso dos produtos dos assentamentos da Reforma Agrária e da Agricultura Familiar.
Em meio aos mais de 250 produtos comercializados pela loja – composta em sua maioria por produtos orgânicos – Emerson Giacomelli, presidente da Cooperativa Central dos Assentamentos do Rio Grande do Sul (Coceargs), explicou o funcionamento e a capacidade de produção desse setor agrícola.
“Essa loja é um espaço de centralização da comercialização e divulgação dos resultados dos assentamentos. E é capaz de demonstrar os resultados da luta social. Além de ter a função de proporcionar uma integração entre o produtor e o consumidor, fazendo essa relação com a sociedade de um modo geral”, explicou Emerson.
Tipos de grãos, arroz, frutas, legumes, ervas, sucos, mel, geléia, conservas e vinhos são apenas alguns dos alimentos vendidos na loja da Reforma Agrária, cujos responsáveis pelo seu abastecimento são os assentamentos e agricultores familiares, a sua maioria do Rio Grande do Sul.
Para o diretor de Política Agrícola da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Sílvio Porto, a importância da loja é demonstrar à população que consume os alimentos que a Reforma Agrária é de fato crucial para o desenvolvimento do país.
“A produção da agricultura familiar e da Reforma Agrária permite a inclusão social, a relação com a natureza de uma forma muito mais sustentável, em que o policultivo, a possibilidade da diversificação produtiva está sempre presente. O agronegócio pode até apresentar aspectos relevantes para o país, no sentido do equilíbrio da balança comercial, mas esse modelo tem trazido diversos dissabores ao país, como a redução da mão de obra empregada e a utilização dos agrotóxicos – tornando-nos no maior consumidor de venenos agrícolas do planeta. Algo desastroso no ponto de vista social, ambiental e, inclusive, econômico, pois isso implica num alto custo de produção”, disse.
“A Reforma Agrária é uma questão ainda presente e de fundamental importância a ser feita no país”, disse Porto.

Buscando experiências

O vice-ministro do Desenvolvimento Rural Agropecuário da Bolívia, Victor Hugo Vásquez, também visitou a loja  para conhecer as experiências do MST e reproduzi-las para os agricultores familiares de seu país. “Chegar a um nível de produção e comercialização é um grande avanço do Movimento”, ressaltou.
Os alimentos vendidos na loja materializam o processo de agregação de valor ao produtos, uma vez que a maioria dos alimentos são de agroindústrias dos próprios assentamentos.
Ao agregar valor ao produto por meio das agroindústrias, permite-se um maior desenvolvimento do meio rural, de modo que a renda se fixa campo – sem o atravessamento de empresas -, gera trabalho, especialmente para a juventude local e viabiliza a existência de um campo com gente, desafogando os centros urbanos.
“Tenho plena convicção que essa é agricultura do futuro. O agricultor tem que deixar de ser apenas um bom produtor. Ele tem que assumir todo o processo de produção. Aqui está uma combinação perfeita do modelo de agricultura que queremos para o Brasil e para o mundo”, destacou Ivar Pavan, secretário Estadual de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo do governo do Rio Grande do Sul.
Para Pavan, a Reforma Agrária tem um papel importante no processo de erradicação da fome e da pobreza. “A terra é o insumo básico para enfrentar o tema da fome. A agricultura familiar tem na sua característica a produção de alimentos. Colocar a terra na mão de quem produz alimentos deve ser o objetivo de todo e qualquer governo”, acredita, ao lamentar o fato de que isso ainda não se tornou realidade enquanto política pública. 
Para ele, mesmo que o agronegócio tenha a hegemonia do modelo de produção, essa é uma disputa que ainda não se encerrou. “O mercado não pensa no interesse social, em meio ambiente. Pensa apenas lucro. As conseqüências estão aí: o aquecimento global, mais de 1 bilhão de famintos no mundo, tudo resultante do modelo do agronegócio. A sociedade tem que se dar conta da necessidade de mudar”, avalia.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Um ótimo lugar para se visitar durante o FST de Porto Alegre

Um local de Porto Alegre:o universo da Lancheria do Parque

André Carvalho no SUL21

- “Um suco de laranja batido”;
- “Dois pasteis de carne”;
- “uma torrada com ovo”.

Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Quem já foi na Lancheria do Parque (Av. Osvaldo Aranha, 1086) certamente reconhece as clássicas frases descritas acima. É assim que – aos gritos –, os garçons da Lanchera, como é popularmente conhecida, anunciam a seus colegas no balcão os pedidos dos clientes. Com a Redenção como seu pátio e menção ao parque em seu nome, o local é conhecido por seus lanches e sucos relativamente baratos. Porém, nas décadas de 80 e 90, o seu forte era a venda de cervejas.
Nessa época, o Bom Fim era o bairro boêmio de Porto Alegre e a Avenida Osvaldo Aranha era rodeada por bares como o Ocidente, o Bar João, o Lola, o Viva a Vida, o Luar, Luar, o Bar Fim e o Escaler, entre outros, além do clássico cinema Baltimore. Hoje, restaram apenas o Ocidente, além da própria Lancheria, como “sobreviventes” daquele período.
Naqueles tempos, a propósito, a Lanchera era conhecida por ser um dos últimos lugares abertos na madrugada porto-alegrense, fechando sempre depois das 05h da manhã e por vender cerveja barata, fato que acabava reunindo nas noites de sexta e sábado mais de quinze mil pessoas na sua frente. “A gente fechava aqui e ia sentar nos cordões da calçada com a galera pra conversar. Mas eu não sei o que aconteceu, se as condições sociais foram mudando ou o quê… Mas em tão pouco tempo a madrugada no Bom Fim se tornou bem violenta”, garante Mauri Fachini, funcionário, atendente, com 20 anos de Lancheria.
“Hoje em dia, a cerveja sai bem pouco e já não reunimos mais grandes multidões. Se temos mil clientes diários, é muito”, explica Fachini, que acrescenta: “O bom, pelo menos, é que hoje, os clientes que antes vinham tomar cervejada vêm agora tomar suco. Eles não deixaram de freqüentar a Lancheria”, complementa.

Cooperativa Lancheria do Parque

Eles não param | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Sobre o termo “funcionário”, Mauri Fachini faz questão de salientar: “Aqui não temos funcionários, temos colegas de trabalho”. Isso porque há aproximadamente 12 anos, o Seu Ivo e a Dona Inês, proprietários da Lancheria do Parque, decidiram transformá-la em uma cooperativa, tornando seus demais colegas sócios do local.
“Quando o Seu Ivo fez a proposta da sociedade, trabalhavam aqui 10 pessoas. Ele nos informou que não iríamos mais ter férias, não teríamos mais horário normal pra trabalho e queria que a gente se dedicasse integralmente à Lancheria. Porém, daquele dia em diante, deixaríamos de ser funcionários e passaríamos a ser sócios da empresa”, explica Mauri.
Atualmente, trabalham na Lanchera 27 pessoas — porém, Fachini não sabe precisar quem é sócio e quem é trabalhador de carteira assinada. “No momento que começa a trabalhar aqui, não interessa se faz parte da sociedade ou não, porque vai pegar junto igual, vai fazer as mesmas coisas, trabalhando em média 08h, 09h por dia”.
Seu Ivo | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Para ele, a maior vantagem da sociedade foi o ganho financeiro. “Uns ganham um pouquinho mais, outros um pouquinho menos, depende do tempo que se tem de Lancheria”, conta. Além disso, Mauri explica que quando o bar ganha um novo sócio, ninguém tem sua porcentagem diminuída, a não ser o Seu Ivo e a Dona Inês. “Como eles ficaram com a maior porcentagem da sociedade, ao entrar alguém novo, ele faz a divisão dos lucros a partir da cota dele, sem diminuir o que os outros ganham”.
Por se tratar de uma cooperativa, a Lancheria não visa lucros. Isso justifica as suas instalações simples, mas que não desmotivam as pessoas de frequentarem o local.  “Nós não temos ar condicionado, nossos bancos e mesas são os mesmos desde há muito tempo e mesmo assim, as mais variadas pessoas vêm aqui diariamente”, argumentou Fachini. Sobre a divisão dos valores arrecadados, ele explica: “Com a sociedade, nós deixamos de ter salários, trabalhamos com um caderninho. Hoje eu preciso de 500 reais, outro de 300. E aí vai anotando quanto cada um retirou. Chega ao final do dia e faz uma redistribuição. Com isso, nós não trabalhamos com dinheiro em caixa e consequentemente, nunca sabemos quanto ganhamos no mês”.

O confuso – mas nem tanto – sistema de organização da Lancheria

Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Não há quem vá na Lanchera e não se surpreenda com o “diferenciado” sistema de organização de seus cooperativados. Após anotar o pedido na comanda, o garçom avisa ao colega que está no balcão, o que o cliente quer. Para o seu colega e para todos os demais frequentadores, na verdade, já que é aos gritos que eles se comunicam. E o mais curioso é que aquele que faz um lanche ou um suco já está de costas, nem olhando para o garçom.
Mauri garante que, apesar da organização parecer confusa para quem vê de fora, o sistema do grupo não tem mistério. “A gente já se acostumou. Depois de uma semana tu já conhece as vozes que trabalham contigo, sabe quem vai gritar. O chapista pode estar conversando, aí o garçom gritou e ele já vai lá e faz. É automático. Pra quem esta de fora pode parecer difícil, mas pra nós é barbada. Complica quando troca de setor, mas em um ou dois dias já se entra no ritmo”, acrescenta.
Citando o filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin – onde o ator passa todo o tempo apertando um mesmo parafuso, cumprindo a mesma função, Fachini explica que a Lancheria tentou fugir dessa lógica, pois cada um trabalha onde trabalha por opção e não por obrigação. “Eu, por exemplo, não tenho função. Eu vivo todos os setores. Se precisar limpar o banheiro, eu vou limpar, se precisar trabalhar na cozinha eu vou pra lá, se precisar cortar fruta, eu vou cortar. Aí tu acabas sabendo de tudo um pouco”. E complementa: “Se um dia tu quiseres sair daqui e montar o teu próprio negócio, tu vai estar apto. Quem trabalha aqui, só tem a ganhar. Tem muitos que saíram daqui e estão se dando bem em outros setores”.

O futebol da madrugada
Balcão vazio é uma foto difícil durante o dia | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

É muito comum encontrar os trabalhadores da Lancheria do Parque em mais de um turno trabalhando arduamente. Isso porque o sistema de horário da cooperativa é diferenciado. “Uns trabalham oito, nove, às vezes até 10 horas diretas, outros preferem trabalhar quatro horas de manhã e o restante de noite, isso varia muito”, conta Mauri.
Porém, o que ninguém imagina, é o que eles fazem assim que as portas do local se fecham. Ao invés de aproveitar o tempo que deveria ser destinado para o descanso, o grupo prefere atravessar a Avenida Osvaldo Aranha e entrar no estádio público Ramiro Souto, localizado dentro do Parque da Redenção.
A partida inicia tradicionalmente às 02h e não tem hora para terminar. Segundo Fachini, o jogo acaba quando o primeiro se cansa ou até “o sol se despontar”. “Eu não jogo mais, joguei por 18 anos, mas agora encerrei minha carreira. Mas o futebol ainda rola. A galera joga no inverno, agasalhado, com neblina, chuvisco, zero grau, menos um. Sempre de madrugada. Tem colega que não trabalha no turno da noite, mas vem pra cá só pra jogar futebol”, conta, faceiro.
Mas o jogo não ocorre somente entre os colegas de Lancheria. Vez que outra o grupo recebe a visita do time de médicos do HPS, do Clínicas, de músicos famosos de Porto Alegre, ou de estudantes da UFRGS para fazer um confronto na madrugada. “Eles estão sempre na noite. Esse é o horário que eles têm para o lazer”, conclui Fachini.
Mas a curiosidade não para na partida de futebol. Mauri conta que tirando o Seu Ivo, que chega há trabalhar cem dias sem tirar um dia de folga, os demais colegas folgam uma vez por semana. Porém, ele diz que em seus dias de folga o local que ele mais gosta de ir é na própria Lancheria do Parque. “Às vezes minha mulher pergunta: ‘Onde é que tu quer comer?’ E eu respondo: “Ah, quero comer na Lanchera”. Por quê? Porque eu sei quem está fazendo, sei de onde veio a comida e sei que é coisa boa. A não ser que eu queira comer um churrasco, aí eu vou pra outro lugar. E não sou só eu, os demais colegas também gostam de vir comer aqui”.

 Lancheria do Parque: um local da diversidade cultural

O famoso suco no copo de liquidificador | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Aproximando-se do seu trigésimo aniversário, a ser comemorado no dia 09 de maio, a Lancheria do Parque é consagrada por seus frequentadores como um dos pontos mais tradicionais e ecléticos da capital. Para Mauri Fachini, a Lancheria é um dos poucos lugares da cidade onde o rico e o pobre encontram-se no mesmo espaço e têm atendimento igual. “Tu podes vir a qualquer hora do dia ou da noite e poderás encontrar um executivo, de terno e gravata, em uma mesa, e um operário, um pedreiro em outra. Aqui dentro eles são iguais e terão um tratamento igual. É isso que a Lancheria quer”, garante.
Porém, não são apenas os trabalhadores comuns que freqüentam o local. Para a classe artística em geral, a Lancheria do Parque é parada obrigatória entre o ensaio e o show, ou para o café da manhã, depois da longa madrugada. Segundo Fachini, “esse pessoal nem são clientes da Lancheria, eles são da casa. O pessoal da Cachorro Grande, do Papas da Língua, Apanhador Só, Pata de Elefante. Às vezes a gente convive mais com eles do que com a nossa própria família”, comenta. E aproveitando a deixa, conta uma historia recente: “Outro dia o André Damasceno veio aqui e falou uma coisa muito engraçada: ‘A Lancheria do Parque tem o segundo melhor bauru de Porto Alegre’. Quando perguntei qual seria o primeiro ele respondeu: ‘O primeiro ainda não se sabe, porque ninguém descobriu’”, concluiu, aos risos.
Se por um lado a classe artística é grande freqüentadora da Lanchera, a dos políticos há muito tempo desistiu de tomar os tradicionais sucos nas horas vagas. “Político do grande escalão só vem, quando vem, em época de eleições, pra fazer política. O Olívio Dutra vinha bastante, agora não vem mais”, conta Fachini.
Questionado por outros nomes, Mauri responde: “A Fê (Fernanda Melchionna, Vereadora de Porto Alegre) vem muito, mas ela nem é vereadora, ela é nossa colega. Outra que vinha muito é a Manuela D’Ávila, mas depois que ficou grande não veio mais. Agora só vem a irmã dela. A Juliana Brizola vem com freqüência também”.
Outra classe que frequenta bastante a Lanchera, segundo Fachini, é a dos jornalistas. “A imprensa vem muito aqui. Nós conhecemos todos os jornalistas, de todas as emissoras de Porto Alegre, temos uma amizade com eles. Um que vinha bastante era o Kenny Braga, o David Coimbra também. Ele até fez uma biografia da nossa cozinheira uma época”.

Mais que uma Lancheria, um ponto turístico da cidade

O toldo vermelho da Osvaldo | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Para muitos a Lancheria do Parque é um local das refeições diárias ou tomar refrescantes sucos. Porém, para muitos outros, o local transcende o conceito de bar ou restaurante, sendo também considerado um ponto turístico de Porto Alegre. São raras as pessoas que, ao receber parentes do interior, ou de outros cantos do Brasil, não os levam a Lancheria, especialmente aos domingos, visto que, costumeiramente, o tradicional passeio porto-alegrense é caminhar no Brique da Redenção, tomar um chimarrão no parque e ao final da tarde ir tomar um suco na Lanchera.
Fachini conta que, certa vez, foi surpreendido por um grupo de chineses que queriam conhecer a Lancheria do Parque. “Eu estava caminhando na rua, quando fui surpreendido pelo grupo. Eles estavam com uns bilhetinhos e me perguntaram: ‘sabe onde fica esse endereço?’, aí eu olhei, ‘pô, é Lancheria do Parque’, nem acreditei”.
Graças a estas e outras coisas, Mauri garante: “Nesses 20 anos de Lancheria, eu conheci o mundo sem sair daqui de dentro. Tenho amizade com pessoas do mundo inteiro. Isso não tem preço. Aí quando tu saí, tu vê que isso é real. As pessoas te conhecem, no lugar que tu for, tu tem pessoas conhecidas, é impressionante”.