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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
Ao fundo, a tropa de choque protege a entrada principal da Prefeitura do Rio de Janeiro. Em primeiro plano, o solzinho sinistro representa um lado do Pan que as Organizações Globo, a Prefeitura e os governos estadual e federal querem esconder. Bati essa foto hoje à tarde, durante o protesto que passo a narrar abaixo.
O prefeito se enganou nas contas
No início da década de 1990, César Maia disse que se vestiria de baiana e rodopiaria pela comunidade caso não conseguisse despejar as famílias que vivem na Vila Autódromo, em Jacarepaguá. De lá pra cá foram ao menos três tentativas frustradas. A Prefeitura mobilizou desde tratores a advogados, passando pela grana das empreiteiras, mas a Vila Autódromo segue firme, de pé. Nem com o pretexto do Jogos Pan-Americanos os homens do prefeito lograram êxito. Quando visitei este pequeno conjunto habitacional de aproximadamente 500 famílias, ouvi dos mais velhos a justa cobrança: "Estamos esperando a baiana Maia desfilar".
Tropas de choque
Nesta quinta-feira (12), o prefeito do Rio de Janeiro foi perguntado a respeito da manifestação organizada para hoje, que tinha o objetivo de criticar a violência contra os trabalhadores e os gastos bilionários com o Pan. E assim respondeu César Maia: "É um besteirol que não juntará mais de 300 pessoas. São os mesmos de sempre, que têm até firma reconhecida de ´passeateiros´. A mobilização demonstrará se eles têm apoio ou se são os militantes profissionais de sempre".
Camponeses relembram os companheiros assassinados
Pois é. O besteirol juntou cerca de mil pessoas em frente à Prefeitura, ali no prédio da Av. Presidente Vargas, conhecido como Piranhão. A concentração começou às 11h e até as 14h foi juntando gente. Vinham de todos os lados, eram de todo tipo: sem-terra, sem-teto, sindicalistas, professores, estudantes, servidores públicos em geral e até palhaços. Esses protagonizaram um show à parte. Auto-intitulado "Exército de palhaços", o grupo apitava, cantava, pulava... Um palhaço perguntava, diante da polícia: "Hoje tem caveirão?". Os outros, em coro: "Teeeeem". Hoje tem violência policial? "Teeeeem". Hoje tem invasão no Complexo do Alemão? "Teeeeem". E hoje tem almoço? "Nããããão". E no auge da apresentação, atiraram uma esquadrilha de aviõezinhos de papel em direção à tropa de choque, para em seguida caírem (literalmente) em gargalhadas deles mesmos.
Um pouco de hip-hop com o coletivo LUTARMADA
Enquanto isso, parlamentares, sindicalistas e representantes de movimentos sociais dividiam o palco com músicos. Em uma das apresentações, Gas-PA e Mimiu, do coletivo LUTARMADA, cantaram os versos que sintetizaram o sentimento dos manifestantes: só mesmo uma revolução para colocar o Brasil nos eixos.
Era isso. Até ali o ato servira para mostrar que parte expressiva da sociedade não tinha motivos para comemorar os Jogos Pan-Americanos. Gente que sabe das falcatruas e das agressões da Prefeitura e dos governos estadual e federal contra os trabalhadores (caveirão, salário mínimo de R$ 380,00, desemprego e sub-emprego, entre outras formas de opressão). Gente que sabe como funciona a atual política econômica, que favorece banqueiros e especuladores em detrimento dos verdadeiros responsáveis pela produção das riquezas. Gente que conhece o papel das corporações de mídia, essencial para manter o povo desinformado e alienado de sua própria condição.
Tropa de choque
Ali perto, no Maracanã, a organização dos Jogos cuidava dos últimos preparativos. A TV Globo, sócia do evento, escalou Fátima Bernardes e Galvão Bueno para ancorar a festança. Tanto era o entusiasmo que o narrador chegou a cogitar que a interpretação do hino nacional por Elza Soares teria sido a melhor de todos os tempos. E na hora de elogiar a belíssima atleta argentina, que portava a bandeira de seu país, o sapientíssimo Galvão se embaralhou todo para pronunciar "bela" em espanhol. Deve ser a emoção causada pelo magnânimo evento, cujos organizadores se esmeram ao infinito no cuidado com as aparências. Até o cabelinho do Arnaldo Antunes estava comportado.
E os manifestantes? Sim, os manifestantes. Pouco depois das 14h, alguém anunciou no microfone que a passeata teria início. Esse alguém, que atende pelo nome de Cyro Garcia, informou que "após uma reunião rápida a direção decidiu ir em direção à Candelária". Causou indignação. Muitos queriam ir para o Maracanã. Vaias. "Nós avaliamos que não temos correlação de forças para ir para o Maracanã", informou Cyro. Em resposta, palavras de ordem: "Se esse ato é contra o Pan, a gente tem que ir pro Maracanã". Num piscar de olhos, pancadaria. Eu devia estar a dois metros do centro da confusão. O Samuca, fotógrafo sindical, acabou levando uma pernada e caiu. E o movimento, que tinha começado tão bem, elogiado por todos por sua unidade, acabou dividido. O carro de som foi para a Cinelândia e um grupo ficou para decidir se tomava o caminho do Maracanã - o que, agora, seria extremamente arriscado pelo reduzido número de pessoas.
Vista da passarela
Houve quem classificasse como golpe a decisão de não ir para o Maracanã. De fato, o itinerário não foi decidido coletivamente. E conforme íamos caminhando pela Av. Presidente Vargas, dava para ver que estava tudo armado. A polícia fechava uma pista para os manifestantes, agora acusados de pelegos, passarem.
O Exército de Palhaços marcou presença
A decisão de tomar o caminho oposto ao Maracanã não tira o mérito do ato; seu sentido político está preservado. Mas é muito difícil compreender por que um protesto contra as violências implementadas com o pretexto do Pan não tomou o rumo da festa de inauguração. Não com o objetivo de enfrentar a polícia, mas para mostrar aos atletas, aos turistas e à imprensa estrangeira que nem todos os cidadãos cariocas concordam com a maneira como o Pan foi organizado. Eu, se fosse o prefeito, o governador ou o presidente, ficaria muito contente com o afastamento dos manifestantes.
Aracruz quer quintuplicar produção de celulose do RS
Direção da empresa anuncia investimentos de US$ 2 bilhões, envolvendo ampliação da área de eucalipto e construção de nova planta de celulose, de três portos hidroviários e um marítimo. Governadora diz que apoiará expansão.
Marco Aurélio Weissheimer - Carta Maior
PORTO ALEGRE - A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), reuniu-se, quarta-feira (11), com a direção nacional da Aracruz, que anunciou a expansão de seus negócios no Estado. A empresa pretende ampliar em até cinco vezes a produção de celulose no RS. Para tanto, promete investir cerca de US$ 2 bilhões na ampliação das áreas de plantio de eucalipto, de produção de celulose e na construção de três portos hidroviários (em Guaíba, Rio Pardo e Cachoeira do Sul) e um marítimo (em São José do Norte). Esses investimentos gerariam cerca de 12,5 mil empregos diretos.
A empresa está comemorando o aumento de seus lucros. No segundo trimestre de 2007, teve um lucro líquido de R$ 318,5 milhões, valor 38% superior ao registrado no mesmo período do ano anterior. O volume de vendas também aumentou, alcançando um nível recorde de 832 mil toneladas, valor 23% acima do verificado no primeiro trimestre do ano. No RS, a empresa conta com a flexibilização da legislação ambiental, promovida pelo governo Yeda Crusius, para acelerar a implementação de seus projetos.
Durante o encontro realizado no Palácio Piratini, a empresa anunciou a criação de uma nova fábrica, no município de Guaíba, para a produção de celulose branqueada de eucalipto. Com essa nova unidade, a capacidade de produção da Aracruz passará das atuais 450 mil toneladas para 1,8 milhão de toneladas/ano. Segundo o diretor de Operações da Aracruz, Walter Lídio Nunes, haverá geração de 12,5 mil empregos temporários, 70% dos quais de trabalhadores que residem na Região Metropolitana de Porto Alegre.
A nova planta de produção de celulose deve ser construída ao lado da que já existe em Guaíba, com previsão de funcionamento para março de 2010. A Aracruz pretende fazer um uso intensivo da hidrovia do rio Jacuí para transportar a celulose produzida em suas unidades. A empresa também anunciou a ampliação da área de plantio de eucalipto. Até 2010, a área de plantio passará dos 110 mil hectares atuais para 250 mil hectares. Deste total, diz a empresa, 90% serão área de preservação ambiental com reservas florestais nativas.
A governadora Yeda Crusius comemorou o anúncio dizendo que “o empreendimento transforma todo o Rio Grande do Sul a partir da sua região Sul”, e garantiu que o governo do Estado dará “todos os passos necessários”. O maior entrave, disse Yeda Crusius, era o conjunto de licenças ambientais para o planejamento de máquinas, preparação de hidrovias e construção de portos. “O governo vai se preparar para fornecer à Aracruz mão-de-obra qualificada. Ao invés de se criar, como no passado, cidades da noite para o dia, com todos os problemas que isso representa, a mão-de-obra será buscada e continuará a viver na Região Metropolitana de Porto Alegre”, acrescentou a governadora gaúcha.
O diretor-presidente da Aracruz Celulose, Carlos Aguiar, destacou, por sua vez, que “o investimento teve uma importante aceitação social no Estado”. Houve muito debate sobre questões sociais, ambientais e econômicas. O investimento trará o que todos queremos: o desenvolvimento. O investidor, quando pensa em ganhar dinheiro, sabe que precisa de gente para comprar produtos”.
Há divergências quanto à qualidade do debate sobre a expansão dos negócios da silvicultura no RS. Uma reportagem da agência de notícias Chasque, de Porto Alegre, denunciou irregularidades nas audiências públicas que debateram o zoneamento ambiental da silvicultura. Depois das audiências realizadas em Caxias do Sul, Pelotas, Santa Maria e Alegrete, surgiram denúncias sobre o caráter viciado destes encontros. Segundo a reportagem, a maioria dos pronunciamentos era feita por defensores das indústrias papeleiras, enquanto manifestações críticas eram restringidas. Empresas do setor, com o apoio de sindicatos ligados à Força Sindical, teriam patrocinado transporte e alimentação para trabalhadores de outras regiões, que lotaram as audiências, muitas vezes sem saber os objetivos das reuniões, diz a matéria da Chasque.
O objetivo principal do CDB, o primeiro acordo mundial enfocado na conservação e no uso sustentável da biodiversidade biológica do mundo e atualmente assinado por cerca de 190 países, é garantir tanto essa conservação, quanto essa diversidade. Portanto qualquer coisa que ameace a biodiversidade deve ser tratada adequadamente pelos signatários do Convênio. Mas graves problemas ambientais não estão recebendo a suficiente atenção do CDB. A expansão dos monocultivos de árvores está tendo forte impacto sobre a diversidade animal e vegetal, em particular, ainda que não exclusivamente, nos países tropicais ricos em biodiversidade.
O Movimento pelos Bosques crê "que o CDB deveria impugnar, desde a perspectiva mais ampla da biodiversidade, o uso dos termos "plantações florestais" e "bosques plantados" com referência aos monocultivos de árvores. A este respeito, o órgão subsidiário poderia dar assessoramento científico à Conferência das Partes e solicitar que se separe claramente os bosques dos monocultivos de árvores e que se inclua, a esses últimos, entre as ameaças à biodiversidade que devem ser adequadamente estudadas e resolvidas".
As modificações genéticas de árvores também foram criticadas. Em uma carta enviada à secretaria do CDB, organizações sociais disseram que essas modificações não têm nenhum papel na conservação da diversidade biológica dos bosques, e pelo contrário, provavelmente reduzem a biodiversidade, com as correspondentes conseqüências sociais: "Os altos riscos apontados pela ciência disponível, ainda que incompleta, mostram que a tecnologia pode resultar na extinção de espécies de flora e fauna do bosque, com severos impactos sobre a biodiversidade".
A produção de agrocombustíveis, que consiste em plantações de diferentes monocultivos em grande escala, e deve ser alargada nos próximos anos, terão impactos sobre a diversidade biológica. Ademais de usarem esses monocultivos, na maioria dos casos, agrotóxicos. "Para piorar as coisas, no caso das plantações de árvores se está investigando para modificar árvores geneticamente para a produção de etanol. Aqui também o órgão subsidiário poderia facilitar ao CDB a informação pertinente relativa aos impactos dos agrocombustíveis sobre a biodiversidade", disse o Movimento pelos Bosques.