Escrito por Gilvan Rocha no Correio da Cidadania | |
No dia 24 de março de 2011, foi ao ar pelo rádio e televisão um programa
do Partido Comunista do Brasil (PC do B), em comemoração aos 89 anos de
sua existência. Quem conhece a verdadeira trajetória do socialismo no
Brasil irá se dar conta de que esse partido, dito comunista, deixou de
sê-lo desde 1928, quando, por ocasião do VI Congresso da Terceira
Internacional, foi imposto o social-patriotismo, tão combatido pelos
verdadeiros marxistas, por ocasião da primeira grande guerra, quando a
Segunda Internacional abandonou os princípios revolucionários para
mudar-se para o campo do nacionalismo burguês.
A Terceira Internacional Comunista foi criada para dar combate ao
social-patriotismo e restabelecer os princípios do socialismo
revolucionário. Em decorrência, porém, da vitória da contra-revolução em
escala mundial e do isolamento da URSS, a Terceira Internacional
tornou-se cópia fiel da anterior, ostentando, descaradamente, o
social-patriotismo sob o rótulo indevido do marxismo-leninismo.
A partir de 1928, os partidos ditos comunistas se descaracterizaram
completamente e seus militantes, a maioria beatos de boa fé,
transformaram-se em patrioteiros, abandonaram o princípio da luta de
classes para aderir à tese da capitulação, cujo esteio era eleger a
contradição da nação opressora versus a nação oprimida como motor da
história.
Assim é que os ditos comunistas passaram a defender com intransigência
absoluta os interesses da nação, sem se darem conta de que ela é
patrimônio da burguesia, uma vez que as terras, as fábricas, as minas,
os transportes, os bancos são propriedade somente da classe burguesa,
enquanto a imensa maioria do povo trabalhador não passa de uma massa de
despossuídos.
Defender os interesses nacionais é, em última instância, defender os
interesses do capitalismo. Por essa razão que os ditos comunistas do PC
do B, em seu programa de rádio e televisão, não pronunciaram nenhuma
palavra contra o capitalismo e se limitaram festejar o avanço e a
consolidação desse sistema no solo da "pátria amada".
Gilvan Rocha é membro do CAEP - Centro de Atividades e Estudos Políticos.
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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
quinta-feira, 31 de março de 2011
PC do B - nenhuma palavra
Roberto Carlos e a Ditadura
As datas, os aniversários, têm um poder evocativo muito forte. Esta semana me veio de súbito uma pergunta: que música seria mais representativa do golpe militar de 64? Quais canções, que músico seria mais representativo daqueles anos inaugurados em um primeiro de abril?
Num estalo me veio que Roberto Carlos deve ter sido o compositor mais representativo da ditadura. Não sei se num curto espaço conseguirei ser claro. Mas tento. Os mais velhos sabem que a lembrança daqueles anos muito tem a ver com os rádios, em todos os lugares, tocando“De que vale o céu azul e o sol sempre a brilhar
se você não vem e eu estou a lhe esperar
só tenho você no meu pensamento
e a sua ausência é todo meu tormento
quero que você me aqueça nesse inverno
e que tudo mais vá pro inferno”
Quando Roberto Carlos explodiu os rádios do Brasil, ele cresceu em um
programa que arrebentou em 65. O programa Jovem Guarda se opunha ao O
Fino da Bossa, com Elis. Enquanto O Fino da Bossa fazia uma ponte entre
os compositores da velha guarda do samba e os compositores de esquerda, o
Jovem Guarda...
“Eu vou contar pra todos a história de um rapaz
que tinha há muito tempo a fama de ser mau..”
“O Rei, o Rei não tem culpa...”, diz-nos um senhor encanecido, ex-jovem
guarda (e como envelheceu a jovem guarda!). “O Rei não tem culpa...”.
Sim, compreendemos: quem assim nos fala quer apenas dizer, Roberto
Carlos não teve culpa de fazer o medíocre, de falar aos corações da
massa jovem daqueles anos. À juventude alienada, mas juventude de peso,
em número, que ganha sempre da minoria de jovens estudiosos. Que mal
havia em falar para a sensibilidade embrutecida mais ampla? É claro que
ele não teve culpa de macaquear a revolução musical dos Beatles em
versões bárbaras, em caricaturas dos cabelos longos, alisados a ferro e
banha, para lisos ficarem como os dos jovens de Liverpool.
Mas é sintomático nele a passagem de cantor da juventude para o
“romântico”. Essa passagem se deu na medida em que os jovens de todo o
mundo deixaram de ser apenas um mercado de calças Lee e Coca-Cola, e
passaram a movimentos contra a guerra do Vietnã, até mesmo em festivais
de rock, como em Woodstock. Ou, se quiserem numa versão mais brasileira,
o Rei Roberto se torna um senhor “romântico” na medida em que as botas
militares pisam com mais força a vida brasileira. Ora, nesses
angustiantes anos o que compõe o jovem, o ex-jovem, que um dia desejou
que tudo mais fosse para o inferno? - Eu te amo, eu te amo, eu te amo...
É claro que a passagem do Roberto Carlos Jovem Guarda para o senhor
“romântico” não se deu pelo envelhecimento do seu público. De 1965 a
1970 correm apenas 5 anos. O envelhecimento é outro. Nesses 5 correm
sangue e raiva da ditadura militar, no Brasil, e crescimento da revolta
do público “jovem”, no mundo. Enquanto explodem conflitos, a canção de
Roberto Carlos que toca nos rádios de todo o Brasil é “Vista a roupa,
meu bem” (e vamos nos casar). Se fizéssemos um gráfico, se projetássemos
curvas de repressão política e de “romantismo” de Roberto Carlos,
veríamos que o ápice das duas curvas é seu ponto de encontro.
Enfim, o namoro do Rei Roberto Carlos com o regime não foi um breve piscar de olhos, um flerte, um aceno à distância. O Rei não compôs só a música permitida naqueles anos de proibição. O Rei não foi só o “jovem” bem-comportado, que não pisava na grama, porque assim lhe ordenavam. Ele não foi apenas o homem livre que somente fazia o que o regime mandava. Não. Roberto Carlos foi capaz de compor pérolas, diamantes, que levantavam o mundo ordenado pelo regime. Ora, enquanto jovens estudantes eram fuzilados e caçados, enquanto na televisão, nas telas dos cinemas, exibia-se a brilhante propaganda “Brasil, ame-o ou deixe-o”, o que fez o nosso Rei? Irrompeu com uma canção que era um hino, um gospel de corações ocos, um som sem fúria de negros norte-americanos. Ora, ora, o Rei ora: “Jesus Cristo, Jesus Cristo, eu estou aqui”.
Enfim, o namoro do Rei Roberto Carlos com o regime não foi um breve piscar de olhos, um flerte, um aceno à distância. O Rei não compôs só a música permitida naqueles anos de proibição. O Rei não foi só o “jovem” bem-comportado, que não pisava na grama, porque assim lhe ordenavam. Ele não foi apenas o homem livre que somente fazia o que o regime mandava. Não. Roberto Carlos foi capaz de compor pérolas, diamantes, que levantavam o mundo ordenado pelo regime. Ora, enquanto jovens estudantes eram fuzilados e caçados, enquanto na televisão, nas telas dos cinemas, exibia-se a brilhante propaganda “Brasil, ame-o ou deixe-o”, o que fez o nosso Rei? Irrompeu com uma canção que era um hino, um gospel de corações ocos, um som sem fúria de negros norte-americanos. Ora, ora, o Rei ora: “Jesus Cristo, Jesus Cristo, eu estou aqui”.
Os brasileiros executados sob tortura não estavam com Jesus. Nem Jesus com eles.
quarta-feira, 30 de março de 2011
Pepe Escobar: Os que já estão lucrando com a invasão da Líbia
por Pepe Escobar, Asia Times Online
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu via Viomundo
Mentiras, hipocrisias e agendas ocultas. Eis os temas dos quais o
presidente Barack Obama não tratou, ao explicar aos EUA e ao mundo a
sua doutrina para a Líbia. A mente se perde, vacila, ante tais e tantos
buracos negros que cercam essa esplêndida guerrinha que não é guerra
(é “ação militar com escopo limitado por prazo limitado”, nos termos da
Casa Branca) – complicados pela inabilidade do pensamento
progressista, que não consegue condenar, ao mesmo tempo, tanto a
crueldade do governo de Muammar Gaddafi quanto o “bombardeio
humanitário” dos exércitos de EUA-anglo-franceses.
A Resolução n. 1.973 do Conselho de Segurança da ONU operou como
cavalo de Tróia: permitiu que o consórcio EUA-anglo-francês – e a
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) – se convertesse em
força aérea da ONU usada para apoiar um levante armado. Aparte nada ter a
ver com proteger civis, esse arranjo é absoluta e completamente ilegal
em termos da legislação internacional. O objetivo final aí ocultado,
que até as crianças subnutridas da África já viram, mas que ninguém
assume ou confessa, é mudar o governo na Líbia.
O tenente-general Charles Bouchard do Canadá, comandante da OTAN
para a Líbia, que insista o quanto quiser, repetindo que a missão visa
exclusivamente a proteger civis. Pois os “civis inocentes” lá estão,
dirigindo tanques e disparando Kalashnikovs, brigada de farrapos que, de
fato, são soldados em guerra civil. O problema é que, agora, a OTAN
foi convertida em força aérea daquele exército, seguindo as pegadas do
consórcio EUA-franco-inglês.
Ninguém diz que a “coalizão de vontades” que hoje combate o governo
líbio é coalizão de apenas 12 vontades (das 28 vontades representadas na
OTAN), mais o Qatar. Isso absolutamente nada tem a ver com a
“comunidade internacional”.
O veredicto sobre a zona aérea de exclusão ordenada pela ONU só será
conhecido depois que houver governo “rebelde” na Líbia e terminar a
guerra civil (se terminar rapidamente). Só então se poderá saber se,
algum dia, os Tomahawks e bombas-em-geral foram algum dia justificados; o
porquê de os civis de Cyrenaica terem sido “protegidos”, ao mesmo
tempo em que os civis em Trípoli foram Tomahawk-eados; quem, afinal
eram os ditos “rebeldes” ditos “salvos”; se a coisa toda, desde o
início, em algum momento deixou de ser ilegal; como aconteceu de uma
resolução do Conselho de Segurança da ONU ser usada para acobertar
golpe de Estado (digo, “mudança de regime”); como o caso de amor entre
“revolucionários” líbios e o Ocidente pode acabar em divórcio sangrento
(lembrem o Afeganistão!); e quais os atores ‘ocidentais’ que lucrarão
mais, imensamente, com a exploração de uma nova Líbia – seja unificada
seja balkanizada.
Pelo menos por hora, é muito fácil identificar os que já estão lucrando.
O Pentágono
Roberto “O Supremo do Pentágono” Gates disse no fim-de-semana, na
maior cara dura, que só há três regimes repressivos em todo o Oriente
Médio: Irã, Síria e Líbia. O Pentágono se encarrega agora do elo mais
fraco – a Líbia. Os outros dois sempre foram figuras chaves da lista
dos neoconservadores, de governos a serem derrubados. Arábia Saudita,
Iêmen, Bahrain etc. são exemplos de democracia.
Como nessa guerra de prestidigitação “agora se vê, agora não se vê”,
o Pentágono obra para lutar não uma, mas duas guerras. Começou pelo
AFRICOM – Comando dos EUA na África –, criado no governo George W Bush,
reforçado no governo Obama, e rejeitado por legiões de governos,
intelectuais, organizações de direitos humanos e especialistas
africanos. Agora, a guerra está em transição, passando para as mãos da
OTAN, que é o mesmo que a mão pesada do Pentágono sobre seus asseclas
europeus.
É a primeira guerra africana do AFRICOM, comandada agora pelo
general Carter Ham diretamente de seu quartel-general nada-africano em
Stuttgart. O AFRICOM é fraude, como diz Horace Campbell, professor de
estudos afro-norte-americanos e ciência política na Syracuse University:
fundamentalmente, é uma frente de operação comercial, para que
empresas contratadas pelos militares nos EUA – Dyncorp, MPRI e KBR
possam fazer negócios na África. Os estrategistas dos EUA que muito se
beneficiaram na porta giratória que se criou entre as privatizações e
as guerras estão adorando a intervenção na Líbia, como magnífica
oportunidade para dar credibilidade político-militar ao AFRICOM-business.”
Os Tomahawks do AFRICOM-EUA atingiram também – metaforicamente – a
União Africana (UA) a qual, diferente da Liga Árabe, não se deixa
facilmente comprar pelo ocidente. As petro-monarquias do Golfo, todas,
festejaram o bombardeio; Egito e Tunísia, não.
Só cinco países africanos não são subordinados ao AFRICOM-EUA: Líbia, Sudão, Costa do Marfim, Eritreia e Zimbabwe.
A OTAN
O plano master da OTAN é dominar o Mediterrâneo, como lago
da OTAN. Sob essa “ótica” (no jargão do Pentágono), o Mediterrâneo é
infinitamente mais importante hoje, como teatro de guerra, que o
“AfPak”.
Apenas três, das 20 nações do ou no Mediterrâneo não são da OTAN ou
aliadas de seus programas “de parceria”: a Líbia, o Líbano e a Síria. O
Líbano já está sob bloqueio da OTAN desde 2006. Atualmente, já há
bloqueio também contra a Líbia. Os EUA – via OTAN – já praticamente
conseguiram fazer do círculo, o quadrado. Que ninguém se engane: a Síria
é o próximo alvo.
A Arábia Saudita
Excelente negócio! O rei Abdullah vê-se livre de
Gaddafi, seu arqui-inimigo. A Casa de Saud – do modo abjeto que é sua
marca registrada – rende-se ao atraso, para beneficiar o ocidente. A
atenção da opinião pública ganha objeto alternativo, para distrair-se:
os sauditas invadem o Bahrain, para esmagar movimento popular legítimo,
pacífico, pró-democracia.
A Casa de Saud vendeu a ficção segundo a qual “a Liga Árabe” teria
votado unanimemente a favor da zona aérea de exclusão. É mentira.
Dos 22 membros da Liga Árabe, só 11 estiveram presentes à sessão que aprovou a “no-fly zone”; seis desses são membros do Conselho de Cooperação do Golfo, gangue da qual a Arábia Saudita é o cão-chefe.
A Casa de Saud teve de aplicar uma chave-de-braço em três. A Síria e a Argélia estavam contra a no-fly zone contra a Líbia. Tradução: só nove, dentre 22 países árabes, votaram a favor de implantar-se a zona aérea de exclusão na Líbia.
Agora, a Arábia Saudita já pode até mandar que o presidente do
Conselho de Cooperação do Golfo Abdulrahman al-Attiyah declare sem
piscar que “o sistema líbio perdeu a legitimidade”. Sobre a Casa de Saud
e os al-Khalifas do Bahrain… não faltará quem os indique para o Hall da Fama da Assistência Humanitária.
O Qatar
O país que hospedará a Copa do Mundo de Futebol de 2022 sabe, sim,
amarrar negócios. Seus Mirages já ajudavam a bombardear a Líbia,
enquanto Doha preparava-se para vender aos mercados ocidentais o
petróleo da Líbia. O Qatar foi o primeiro país a reconhecer o governo
dos “rebeldes” líbios como único governo legítimo; fê-lo um dia depois
de ter fechado o negócio do varejão do petróleo líbio no ocidente.
Os “rebeldes”
Sem desrespeitar as importantes aspirações democráticas do movimento
da juventude líbia, fato é que o grupo mais bem organizado da oposição
a Gaddafi é a Frente Nacional de Salvação da Líbia – há anos
financiada pela Casa de Saud, pela CIA e pela inteligência francesa. O
“rebelde’ “Conselho Nacional do Governo de Transição” é praticamente a
velha Frente Nacional, acrescida de alguns militares desertores. A
“coalizão” “protege” essa “elite” de “civis inocentes”, hoje.
Nessa linha, o “Conselho Nacional do Governo de Transição” acaba de
nomear novo ministro das finanças: Ali Tarhouni, economista formado nos
EUA. Foi ele quem disse que vários países ocidentais há lhe haviam dado
créditos, sob garantias do fundo soberano líbio; e que os britânicos
lhe deram acesso a 1,1 bilhão de dólares do dinheiro de Gaddafi.
Significa que o consórcio EUA-anglo-francês – e agora a OTAN –, só
terão de pagar a conta da compra das bombas. No que tenha a ver com
histórias da imundície das guerras, essa é impagável: o ocidente está
usando o dinheiro da Líbia para pagar um bando de líbios oportunistas
interessados em derrubar o governo da Líbia. França e Inglaterra gozam,
de tanto que amam as bombas. Nos EUA, os neoconservadores devem estar
se estapeando, lá entre eles, de inveja: por que o vice-secretário de
Defesa Paul Wolfowitz não teve a mesma ideia, para o Iraque, em 2003?
A França
Oh la la, a coisa bem poderia servir de substrato para
romance proustiano. A coleção estrela da primavera francesa nas
passarelas parisienses é o show de moda-fantasia de Nicolas Sarkozy:
uma zona aérea de exclusão na Líbia, rebordada com ataques-acessórios
pelos jatos Mirage/Rafale. Todo o show e pirotecnia foi concebido por
Nouri Mesmari, chefe de protocolo de Gaddafi, que desertou e fugiu para
a França em outubro de 2010. O serviço secreto italiano vazou para
jornalistas e jornais selecionados os detalhes da deserção e da fuga. O
papel do DGSE, serviço secreto francês, está mais ou menos explicado
no e-jornal (só para assinantes) Maghreb Confidential.
A verdade é que o coq au vin da revolta de Benghazi já
estava cozinhando em fogo baixo desde novembro de 2010. Os
galos-estrelas foram Nouri Mesmari; Abdullah Gehani, coronel da Força
Aérea da Líbia; e o serviço secreto francês. Mesmari era chamado “o
WikiLeak líbio”, porque vazou quase todos os segredos militares de
Gaddafi. Sarkozy adorou, furioso desde que Gaddafi cancelou gordos
contratos para comprar aviões Rafales (para substituir os Mirages líbios
que, hoje, estão sendo bombardeados por Mirages franceses) e usinas
nucleares francesas.
Isso explica por que Sarkozy, que estava tão animadinho, posando de
neoliberador de árabes, foi o primeiro líder europeu a reconhecer “os
rebeldes” (para tristeza de muitos, na União Europeia) e o primeiro a
bombardear as forças de Gaddafi.
Vê-se aí também exposto o papel do desavergonhado filósofo e
autopropagandista Bernard Henri-Levy, que se esfalfou enchendo a mídia
mundial com notícias de que ele telefonara a Sarkozy, de Benghazi, e
assim despertou o filão humanitário no coração do presidente. Ou Levy é o
otário da hora, ou é uma conveniente cereja “intelectual” acrescentada
ao já assado bolo-bomba contra Gaddafi.
Ninguém detém Sarkozy, o Terminator. Já avisou todos os
governos árabes que estão na mira para serem bombardeados ao estilo
Líbia se espancarem manifestantes. Até já avisou que a Costa do Marfim
seria “a próxima”. Bahrain e Iêmen, claro, não têm com o que se
preocuparem. Quanto aos EUA, mais uma vez os EUA apoiam golpe militar
(não deu certo com o Omar “Sheikh al-Tortura” Suleiman no Egito. Talvez
funcione na Líbia).
Al-Qaeda
O coringa sempre conveniente renasce. O consórcio EUA-franco-inglês –
e agora também a OTAN – outra vez combatem aliados à al-Qaeda, dessa
vez representada pela al-Qaeda no Maghreb (AQM).
Abdel-Hakim al-Hasidi, líder dos “rebeldes” líbios – que combateu ao
lado dos Talibã no Afeganistão – confirmou, com detalhes, para a mídia
italiana, que recrutara pessoalmente “cerca de 25” jihadistas na região
de Derna no leste da Líbia para combater os EUA no Iraque; e que agora
“eles estão na linha de frente em Adjabiya”.
Isso, depois de o presidente do Chad Idriss Deby ter dito que a
al-Qaeda no Maghreb assaltou arsenais militares na Cyrenaica e
provavelmente já têm alguns mísseis terra-ar. No início de março, a
al-Qaeda no Mahgreb apoiou publicamente os “rebeldes”. O fantasma de
Osama bin Laden deve estar rindo como o gato Cheshire de Alice; mais uma
vez, conseguiu por o Pentágono a trabalhar para ele.
Os privatizadores da água
Poucos no ocidente sabem que a Líbia – como o Egito – repousa sobre o Sistema Aquífero do Arenito Núbio [ing. Nubian Sandstone Aquifer]:
é um oceano de extremamente valiosíssima água doce. Ah, sim, sim, essa
guerra de prestidigitação “agora se vê, agora não se vê”, é crucial
guerra pela crucial água.
O controle do aquífero é patrimônio sem preço: além da água para
beber, o prestígio para dominar: a EUA-França-Inglaterra “resgatando”
valiosos recursos naturais, das mãos dos árabes “selvagens”.
É um Aquedutostão – enterrado fundo no coração do deserto. São 4.000
quilômetros de dutos. É o Maior Projeto de Rio Criado pelo Homem [ing.
Great Man-Made River Project (GMMRP)], que Gaddafi construiu
por 25 bilhões de dólares sem tomar emprestado nem um centavo nem do
FMI nem do Banco Mundial (mais um exemplo de barbárie de Gaddafi, que
não se deve deixar vazar para o resto do mundo subdesenvolvido).
O sistema GMMRP fornece água para Trípoli, Benghazi e todo o litoral
da Líbia. A quantidade de água disponível, estimada por especialistas, é
o equivalente à toda a água que corre pelo Nilo por 200 anos.
Comparem-se esses números os números das chamadas “Três Irmãs” –
empresas Veolia (ex-Vivendi), Suez Ondeo (ex-Generale des Eaux) e Saur –
as empresas francesas que controlam mais de 40% do mercado global de
água.
Todos os olhos devem-se focar, atentos, para ver se algum dos
aquedutos da GMMRP serão bombardeados. Cenário altamente possível, caso
sejam bombardeados, é que imediatamente comecem a ser negociados os
gordos contratos de “reconstrução” – que beneficiarão a França. Será o
passo final para privatizar toda aquela – até o momento gratuita – água.
Da doutrina do choque, chegamos à doutrina da água.
Essa lista dos que ganham com a guerra está longe de ser completa –
ainda não se sabe quem ficará nem com o petróleo nem com o gás natural
da Líbia. Enquanto isso, o show (das bombas) tem de continuar. Não há business como o guerra-business.
Servidores divergem sobre adesão a órgão de diálogo com governo criado por Tarso
Rachel Duarte no Sul21
Uma questão de interpretação, um entrave ou um erro político e
conceitual. Estas foram algumas opiniões das entidades que representam
os servidores públicos gaúchos convidadas a integrar o Comitê de Diálogo
Permanente (Codipe), sobre a metodologia de participação proposta pelo
executivo estadual. A primeira reunião do comitê ocorreu nesta
terça-feira (29) e provocou um intenso debate sobre a oferta do governo
de que as entidades assinem um “Termo de Adesão” ao Codipe, a fim de que
efetivem participação no espaço criado para discutir as necessidades
dos servidores públicos.
Das 22 entidades presentes na reunião, 15 já aderiram ao termo
proposto pelo governo estadual. O documento conceitua o Comitê de
Diálogo Permanente como um espaço de negociação com os servidores
públicos e o governo estadual. As entidades contrárias ao termo, como a
presidente do Cpers, Rejane de Oliveira, defendem que o termo está
equivocado e fere a autonomia dos sindicatos. “Estamos (Cpers) dispostos
a participar deste espaço, mas não assinaremos termo de adesão. Isto é
um gesto que fere a constituição e a história do sindicalismo”, disse.
O Cpers foi a primeira entidade a fazer uso da palavra e também a
reiterar sua posição ao final da reunião, contestando a posição final da
secretária Stela sobre considerar a discussão sobre o termo “adesão”
um entrave ao processo de construção do comitê. Rejane apresentou um
parecer jurídico à secretária e aos demais colegas de sindicato,
argumentando a necessidade de as entidades rejeitarem a adesão.
Segundo o parecer do Cpers, o Decreto nº 47.897 – que instalou o
Codip em 16 de março de 2011 -, é inaceitável do ponto de vista
político e democrático. “Não podem os sindicatos aderir organicamente a
uma estrutura de governo e muito menos, dela participando, se submeter
a um programa de conteúdo, sob pena de estarem, neste ato, renunciando
a sua independência e autonomia. Além de um erro conceitual e
político, o Decreto, com seu programa associado ao ‘Termo de Adesão’,
concretizam uma forma de intervenção do estado na organização
sindical”, diz o texto apresentado pelo Cpers. Entidades como o
Sindicaixa-RS e o Centro de Auditores do Tribunal de Contas do Estado
também se manifestaram contra a assinatura do termo.
Por outro lado, entidades como a Associação dos Oficiais de Nível
Superior da Brigada Militar (ASOFBM) e o Sindicato dos Empregados em
Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas e de
Fundações Estaduais (Semapi), afirmaram acreditar na proposta do Codipe e
consideraram uma contradição não participar de espaços de diálogo
promovidos pelo Governo do Estado. “Aderir é aceitar o convite. Não
significa que vamos concordar com tudo que será dito. Eu não poderia me
furtar desta possibilidade de aceitar esta oportunidade que está sendo
oferecida pelo governo. A minha impressão é que cada um tem uma
leitura diferente sobre o que está sendo propondo pelo Codipe”, afirmou
o tenente-coronel José Carlos Ricardi Guimarães, presidente da ASOFBM.
“Não queremos instrumentalizar sindicatos”
Na linha de frente com os ex-colegas de Cpers, a secretária da
Administração e dos Recursos Humanos, Stela Farias, coordenou os
trabalhos por parte do Executivo. A reunião que deveria definir as
câmaras temáticas para encaminhar as reivindicações prioritárias dos
servidores acabou sendo um momento de o governo ouvir as posições das
entidades convidadas para aderir ao Codipe. “A proposta do governo é a
explicitada e construída em campanha. Nós não queremos enganar ninguém
nem utilizar este espaço para instrumentalizar os sindicatos”, disse,
ressaltando sua intimidade com as causas dos sindicalistas. E reforçou:
“As questões levantadas por representantes de algumas categorias, como
o Cpers, podem ser perfeitamente ajustadas. O Codipe não será um
espaço para represar demandas das categorias, pelo contrário, nós
queremos produzir acordos, a partir de diálogos”, disse.
Sobre a retirada do “Termo de Adesão”, Stela disse que irá analisar o
termo jurídico apresentado pelo Cpers e a comissão técnica que criou o
comitê poderá refazer a metodologia de participação das entidades.
“Nós entendemos que é perfeitamente possível descompatibilizar o termo
de adesão e fazer uma carta convite”, falou.
As sugestões, críticas e apontamentos feitos pelas entidades de
classe dos servidores deverão ser analisadas em reunião com as
secretarias que compõem o Comitê no início da próxima semana e as
conclusões apresentadas na segunda quinzena de abril em nova reunião do
Codipe.
O Codipe
As discussões do Codipe serão mensais e ocorrerão em dois espaços: um
mais amplo, que vai tratar de temas como concepção do Estado e dos
serviços públicos, a relação dos servidores com o Estado, o programa do
Governo eleito e sua relação com os servidores; o outro espaço,
funcional e de gestão de pessoas, que terá câmaras temáticas e
setoriais. As câmaras temáticas vão discutir temas como Saúde do
Trabalhador, Previdência, Capacitação continuada, Convenção 151 – OIT,
Modernização e tecnologia e diretrizes para planos de cargos, carreiras e
salários. Já as setoriais vão tratar de assuntos específicos dos
quadros de pessoal da Segurança, Educação, Saúde, Quadro Geral e
técnicos-científicos.
O Codipe abrange os servidores e empregados públicos da administração
direta e indireta, incluídas as fundações, autarquias, empresas
públicas e sociedades de economia Mista. Do governo estadual, integram o
Codipe as secretarias da Fazenda, Educação, Saúde, Segurança Pública,
Casa Civil, Planejamento, Secretaria-Geral de Governo e Procuradoria
Geral do Estado.
Antes das inscrições dos interessados em falar, a secretária Stela
explicou por uma hora as intenções do comitê. Segundo ela, o órgão tem
poder deliberativo, mas não decidirá nada por voto e sim por consenso.
Os encaminhamentos tirados dos encontros mensais do Codipe deverão
ocorrer por consenso entre as partes e serão registrados em ata para
encaminhamento ao gabinete do governador. “A ideia é que a reunião
aconteça em uma segunda-feira, na tarde de expediente dos servidores.
Precisamos montar os temas e definir as câmaras. Serão seis
representantes de categorias por câmara temática”, sugeriu a
secretária.
Recuperar a confiança
O discurso coletivo da maioria das entidades presentes na primeira
reunião do Codipe foi de que é preciso construir uma relação de
confiança entre o novo governo e os servidores públicos. Todos
reclamaram da falta de valorização e espaço de participação no governo
de Yeda Crusius (PSDB) e depositam elevadas expectativas com o governo
de Tarso Genro (PT). Porém, defenderam a legitimidade de suas entidades e
os pleitos de suas categorias.
O grupo de servidores recordou o que considerou como “uma experiência
traumática”: o Grupo de Assessoramento Estadual para Política de
Pessoal (GAE) criado no governo Yeda. Segundo o representante do Centro
de Auditores do Tribunal de Contas do Estado, Amauri Peruso, o órgão era
um instrumento do gabinete da ex-governadora e pouco contribuía com as
necessidades dos servidores. “Era um inibidor dos anseios dos
servidores. Não produzia resultados, mas contenções. A própria
Secretaria de Administração nunca teve peso”, disse.
Ciente do desafio para com a gestão e o funcionalismo, a secretária
de Administração e Recursos Humanos, Stela Farias, propôs ao governador a
participação dos servidores na definição do Plano Plurianual
Participativo (PPA). E salientou que, apesar de não definir as câmaras
temáticas do Codipe no encontro, já tem em vista alguns encaminhamentos
com setores do funcionalismo. “Os empregados dos serviços públicos
estaduais em fundações, autarquias e empresas de economia mista estão em
plena database. Então não temos saída. Mesmo sem tempo para fechar
acordo com as entidades, nós vamos ter que chamar individualmente as
setoriais destes servidores e debater suas demandas salariais”,
explicou.
KADAFI E AS POTÊNCIAS OCIDENTAIS
Frei Betto
As potências ocidentais, lideradas pelos EUA, botam a boca no trombone em defesa dos direitos humanos na Líbia. E as ocupações genocidas do Iraque e do Afeganistão?
Quem dobra os sinos por um milhão de mortos no Iraque?
Quem conduz à Corte Internacional de Justiça da ONU os assassinos
confessos no Afeganistão, os responsáveis por crimes de lesa-humanidade?
Por que o Conselho de Segurança da ONU não diz uma palavra contra os
massacres praticados contra os povos iraquiano, afegão e palestino?
O interesse dos EUA e da União Europeia não é a defesa dos direitos humanos na Líbia. É assegurar o controle de um território que produz 1,7 milhão de barris de petróleo por dia, dos quais depende a energia de países como Itália, Portugal, Áustria e Irlanda.
O caso do Iraque é exemplar: os EUA inventaram as jamais encontradas “armas de destruição em massa” de Saddam Hussein para exercer o controle sobre um país que é o segundo maior produtor mundial de petróleo – 2,11 milhões de barris por dia, só superado pela Arábia Saudita. E possui uma reserva calculada em 115 bilhões de barris. Soma-se a essa riqueza o fato de ocupar uma posição geográfica estratégica, já que faz fronteiras com Arábia Saudita, Irã, Jordânia, Kwait, Síria e Turquia.
No dia 20 de março, completou-se oito anos que os EUA e parceiros invadiram o Iraque sob o pretexto de “estabelecer a democracia”. O governo de Maliki está longe do que possa ser considerado uma democracia. Em fevereiro último, milhares de iraquianos foram às ruas para reivindicar trabalho, pão, eletricidade e água potável. O exército os reprimiu brutalmente, com mortes, detenções arbitrárias e sequestro de ativistas. Nenhuma potência mundial clamou em favor do direitos humanos nem sugeriu que Maliki responda perante tribunais internacionais.
Kadafi está no poder desde 1969. São 42 anos de ditadura. Por que os EUA e a União Europeia jamais falaram em derrubá-lo? Porque, apesar de seus atentados terroristas, era conveniente manter ali um déspota que atraía investimentos estrangeiros e impedia que chegassem à Europa os imigrantes ilegais da África subsaariana, ou seja, todos os países ao sul do deserto de Saara.
Agora que o
povo líbio clama por liberdade, os EUA ocupam posições estratégicas no
Mediterrâneo. Barcos anfíbios, aviões e helicópteros são transportados
pelos navios de guerra US Ponce e US Kearsarge. A União Europeia, por
sua vez, não está preocupada com a democracia na Líbia, e sim em evitar
que milhares de refugiados desembarquem em seus países combalidos pela
crise financeira.
Temem ainda que a onda libertária que assola os países árabes, produtores de petróleo, elevem o preço do produto, onerando ainda mais as potências ocidentais, que lutam com dificuldade para vencer a crise do sistema capitalista.
Temem ainda que a onda libertária que assola os países árabes, produtores de petróleo, elevem o preço do produto, onerando ainda mais as potências ocidentais, que lutam com dificuldade para vencer a crise do sistema capitalista.
Fala-se em estabelecer uma “zona de exclusão aérea” na Líbia. Isso significa bombardear os aeroportos do país e todas as aeronaves ali estacionadas. E exige o envio de porta-aviões às costas africanas. Em suma: uma nova frente de guerra.
O fato é
que a Casa Branca foi surpreendida pelo movimento libertário no mundo
árabe e, agora, não sabe como proceder. Era mais cômodo prosseguir
cúmplice dos regimes autoritários em troca de fontes de energia, como
gás e petróleo. Mas como opor-se ao clamor por democracia e evitar o
risco de o governo de tais países cair em mãos de fundamentalistas?
Kadafi chegou ao poder com amplo apoio popular ao derrubar o regime tirânico do rei Idris, em 1969. Mordido pela mosca azul, com o tempo esqueceu todas a promessas libertárias que fizera. Em 1974, valendo-se da recessão mundial, expulsou as empresas ocidentais, expropriou propriedades estrangeiras, e promoveu uma série de reformas progressistas que fizeram melhorar a qualidade de vida dos líbios.
Finda a União Soviética, a partir de 1993 Kadafi deu boas-vindas aos investimentos estrangeiros. Após a queda de Saddam, temendo ser a bola da vez, assinou acordos para erradicar armas de destruição em massa e indenizou vítimas de seus atentados terroristas. Tornou-se feroz caçador de Osama Bin Laden. Pediu ingresso no FMI, criou zonas especiais de livre comércio, abriu o país às transnacionais do petróleo e eliminou os subsídios aos produtos alimentícios de primeira necessidade. Iniciou o processo de privatização da economia, o que fez o desemprego aumentar cerca de 30% e agravar a desigualdade social.
Kadafi mereceu elogios de Tony Blair, Berlusconi, Sarkozy e Zapatero. Como ao Ocidente, desagradou-lhe a derrubada dos governos tirânicos da Tunísia e do Egito. Agora, atira contra um povo desarmado que aspira vê-lo fora do poder.
Para as potências ocidentais, Kadafi tornou-se uma carta fora do baralho. O problema, agora, é como derrubá-lo de fato sem abrir uma nova frente de guerra e tornar a Líbia um “protetorado” sob controle da Casa Branca. Se Kadafi resistir, Bin Laden pode ganhar mais um aliado ou, no mínimo, um concorrente em matéria de ameaças terroristas.
O discurso do Ocidente é a democracia. O interesse, o petróleo. E para o capitalismo, só isto interessa: privatizar as fontes de riqueza. Enquanto a lógica do capital predominar sobre a da liberdade, o Ocidente jamais conhecerá verdadeiras democracias, aquelas nas quais a maioria do povo decide os destinos da nação.
Frei Betto (Belo Horizonte, 25 ago 1944) é escritor, autor de Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira (Rocco), entre outros livros.
Kadafi chegou ao poder com amplo apoio popular ao derrubar o regime tirânico do rei Idris, em 1969. Mordido pela mosca azul, com o tempo esqueceu todas a promessas libertárias que fizera. Em 1974, valendo-se da recessão mundial, expulsou as empresas ocidentais, expropriou propriedades estrangeiras, e promoveu uma série de reformas progressistas que fizeram melhorar a qualidade de vida dos líbios.
Finda a União Soviética, a partir de 1993 Kadafi deu boas-vindas aos investimentos estrangeiros. Após a queda de Saddam, temendo ser a bola da vez, assinou acordos para erradicar armas de destruição em massa e indenizou vítimas de seus atentados terroristas. Tornou-se feroz caçador de Osama Bin Laden. Pediu ingresso no FMI, criou zonas especiais de livre comércio, abriu o país às transnacionais do petróleo e eliminou os subsídios aos produtos alimentícios de primeira necessidade. Iniciou o processo de privatização da economia, o que fez o desemprego aumentar cerca de 30% e agravar a desigualdade social.
Kadafi mereceu elogios de Tony Blair, Berlusconi, Sarkozy e Zapatero. Como ao Ocidente, desagradou-lhe a derrubada dos governos tirânicos da Tunísia e do Egito. Agora, atira contra um povo desarmado que aspira vê-lo fora do poder.
Para as potências ocidentais, Kadafi tornou-se uma carta fora do baralho. O problema, agora, é como derrubá-lo de fato sem abrir uma nova frente de guerra e tornar a Líbia um “protetorado” sob controle da Casa Branca. Se Kadafi resistir, Bin Laden pode ganhar mais um aliado ou, no mínimo, um concorrente em matéria de ameaças terroristas.
O discurso do Ocidente é a democracia. O interesse, o petróleo. E para o capitalismo, só isto interessa: privatizar as fontes de riqueza. Enquanto a lógica do capital predominar sobre a da liberdade, o Ocidente jamais conhecerá verdadeiras democracias, aquelas nas quais a maioria do povo decide os destinos da nação.
Frei Betto (Belo Horizonte, 25 ago 1944) é escritor, autor de Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira (Rocco), entre outros livros.
Cubadebate inaugura página em português
Com versões das Reflexões de Fidel Castro e artigos de atualidade sobre diversos assuntos nacionais e internacionais, o site Cubadebate inaugurou, nesta terça-feira (29), sua página em português, que funciona no endereço http://pt.cubadebate.cu/
Esta página se une a uma versão em
inglês e outra em francês, de uma série de páginas em pelo menos oito
línguas que o Cubadebate começou a publicar, como antessala para uma
nova reformulação do site, que está na internet desde 5 de agosto de
2003.
Não se trata de um espelho mimético do site em espanhol. Cubadebate em português reproduz alguns dos materiais mais populares do site original e os serviços da chamada web 2.0, com canais próprios no Facebook e Twitter, além de manter abertas suas páginas às opiniões dos internautas. Também possui um canal com informações do Brasil, com a conta Cubadebate_bra.
Serviço:
Cubadebate em Português: http://pt.cubadebate.cu/
Twitter: Cubadebate_pt y Cubadebate_bra
Facebook: Cubadebate.pt
Não se trata de um espelho mimético do site em espanhol. Cubadebate em português reproduz alguns dos materiais mais populares do site original e os serviços da chamada web 2.0, com canais próprios no Facebook e Twitter, além de manter abertas suas páginas às opiniões dos internautas. Também possui um canal com informações do Brasil, com a conta Cubadebate_bra.
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Paz para um lutador incansável
Brizola Neto no tijolaco
No momento triste da morte de José Alencar, vice-presidente de Lula,
nos dois mandatos, reproduzo as palavras ditas sobre ele, em janeiro
deste ano, pela Presidenta Dilma Rousseff, que expressam melhor que
qualquer texto que eu escreva aqui, na correria, o significado desta
figura que conquistou admiração e respeito de todos, independente de
ideologias, pelo seu amor ao país, por sua discreta sinceridade e,
sobretudo, por sua tinhosa luta com uma doença que inevitavelmente o
derrotaria, mas jamais conseguiu dobrar sua alma e seu otimismo.
“Queria cumprimentar o nosso vice-presidente da República e
homenageado hoje, meu querido José Alencar. Ele hoje é, de fato, a
figura do protocolo mais importante aqui presente. Importante para cada
um de nós, brasileiros e brasileiras que convivemos com ele, e para
todos os brasileiros e brasileiras que ao longo de todos esses anos
assistiram, vivenciaram a luta tenaz de um homem que não só sobrevive
com honradez, vive com energia mas, sobretudo, dá um exemplo de
dignidade que deve ser seguido e que é um exemplo para cada um de nós.
(…)
Eu estou aqui hoje como presidenta da República, mas, sobretudo,
como cidadã brasileira, para homenagear uma pessoa que todos nós
sabemos que tem uma profunda dimensão humana. E que todos nós, todo
nosso povo, aprendemos a respeitar e admirar.(…)
Eu acho que a gente deve reconhecer a importância deste homem,
que saiu de baixo, que construiu um império econômico no Brasil, mas
que não perdeu jamais o seu compromisso com a soberania do país e,
sobretudo, com o resgate de milhões de brasileiros da pobreza e da
miséria. Eu tenho certeza de que, neste momento, nós estamos
homenageando um exemplo para as novas gerações do nosso país, no
sentido de que o Brasil produz pessoas com essa dimensão, com essas
características e com esse caráter.
Ele foi, sem dúvida nenhuma, um grande vice-presidente, ao lado
de um grande presidente. Os dois presidentes que não tinham diploma
universitário mostraram um compromisso com a educação, como diz o nosso
querido presidente Lula, “nunca dantes visto na história deste país”.
Lá de Minas, lá do fundo do nosso estado, ele trouxe também aquela
sabedoria cotidiana de perceber que o país devia, podia e ia crescer, e
foi um parceiro nessa trajetória.
Eu experimentei junto com o José Alencar essa extraordinária
experiência, que foi participar do governo do presidente Lula, e convivi
diariamente com ele, com a sua generosidade, mas com a sua verve
também, com o seu espírito crítico, com a sua capacidade de ajudar cada
um de nós e de, junto conosco, construir esse grande desafio que era
fazer o Brasil voltar a crescer e, sobretudo, fazer com que o Brasil
assumisse uma posição em relação ao conjunto das nações, e, sobretudo,
encontrasse aqui dentro do Brasil um lugar para todos os brasileiros e
brasileiras.”
Um beijo, José Alencar, muito fraterno, e um grande abraço”.
Que José de Alencar esteja como disse hoje o seu médico, Raul Cutait, um pouco mais cedo:
“O presidente está em uma fase se preparando para descansar. Ele está dormindo, sem dores, confortável com a família dele.”
Renato Rabelo rende homenagens a José Alencar, "um patriota"
Em nota de cinco parágrafos divulgada nesta terça-feria (29), data da morte do ex-presidente da república José Alencar, o presidente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Renato Rabelo, rende homenagens a esse que era considerado antes de tudo "um patriota", como define o texto. Confira a íntegra do documento:
José Alencar, destacado defensor do desenvolvimento nacional
A Nação brasileira perdeu um de seus ardorosos defensores com o falecimento de José Alencar. Se tivéssemos de defini-lo numa só palavra, sem relutar, proclamaríamos: um destacado patriota, um eminente brasileiro. Uma personalidade de relevo que ajudou o Brasil a adentrar e a percorrer um tempo novo.
Na campanha de 2002, convicto de que o Brasil precisava de mudanças, aceitou disputar as eleições presidenciais como candidato a vice-presidente da República na chapa encabeçada por Luiz Inácio Lula da Silva. Este fato foi importante para alargar a base de apoio de Lula e viabilizar o engajamento de setores do empresariado na campanha. Desde então, Alencar se torna um grande aliado de Lula, um amigo leal, um coadjuvante valioso sem o qual é difícil compreender o êxito do protagonista. Por isto, Lula ao saber da morte de Alencar assim se referiu sobre o elo que unia os dois: “era uma relação de irmãos e companheiros”.
Quando tomamos conhecimento da notícia de sua morte fomos tomados pela mesma tristeza que se abateu sobre o povo brasileiro que o respeitava e a quem ele dedicou o melhor de si. José Alencar era um amigo do PCdoB, amizade que tive a honra de cultivar, como presidente do Partido, em variados encontros e contatos e, também, nas solenidades que ele prestigiou a legenda dos comunistas. Em junho último, em Brasília, na Convenção Nacional do PCdoB que oficializou o apoio à então candidata Dilma Rousseff ele, mesmo adoentado, fez questão de atender ao nosso convite. Naquela oportunidade, mais uma vez disse que às vezes lhe perguntavam: como ele, um grande empresário, tinha um relacionamento político fluente com o Partido Comunista? Alencar, na tribuna de nossa Convenção, disse que essa amizade aparentemente inusitada vinha das afinidades e coincidências entre seus posicionamentos políticos e os do PCdoB. Posicionamentos estes relacionados à defesa da soberania nacional e, sobretudo, acerca da remoção dos obstáculos que travam o desenvolvimento brasileiro.
Tenho na lembrança que, em abril de 2004, escrevi-lhe uma carta acerca do conteúdo de uma entrevista que ele concedera à revista CartaCapital. Alencar desencadeara uma verdadeira cruzada contra o sistemático aumento da taxa básica de juros. Segundo ele, isso “representa, na história do Brasil, a maior transferência de renda de que se tem notícia”, do trabalho, da produção em benefício do sistema financeiro. Indo além, Alencar, na referida entrevista colocou o dedo na ferida: “há interesses muito organizados que seguram ao máximo essas taxas em cima”.
Setores da grande mídia pintaram Alencar como uma espécie de Quixote dessa luta contra a política ortodoxa do Banco Central. Na verdade, ele, como patriota, deu importantes contribuições na luta política e de ideias pelo redirecionamento da política macroeconômica. Foi um lúcido e corajoso defensor e empreendedor de um novo projeto nacional de desenvolvimento.
Como cidadão deu lições de amor à vida e bravura. Filho de família humilde, balconista na juventude, com trabalho e empreendedorismo administrou uma empresa que se tornou a maior complexo têxtil do país. Por treze anos travou uma luta contra o câncer cuja determinação e coragem transmitiram uma pujante mensagem de resistência e paixão pela vida.
Neste momento de dor, transmitimos aos seus familiares nossos sentimentos e as condolências do Partido Comunista do Brasil.
João Guimarães Rosa, outro ilustre mineiro, numa passagem de seu clássico Grande Sertão: Veredas, diz: “E deputado fosse, então reluzia perfeito o Norte, botando pontes, baseando fábricas, remediando a saúde de todos, preenchendo a pobreza, estreando mil escolas”.
Exatamente esta foi a concepção desenvolvimentista de José Alencar: produção e bem-estar do povo. Sua vida e o seu legado irão alimentar a luta pelo desenvolvimento soberano do Brasil que prossegue.
São Paulo, 29 de março de 2011.
Renato Rabelo
Presidente do Partido Comunista do Brasil-PCdoB
segunda-feira, 28 de março de 2011
Palestina: adeus às divisões?
Por Carmelle Wolfson, do Alternet| Tradução: Daniela Frabasile,via Patria Latina
Num grande painel
com uma caricatura do presidente Barack Obama, pendurado em uma sacada
sobre a praça Al-Manarah, em Ramallah, no dia 15 de março, podia-se ler:
“Ele disse: liberdade para o povo da Tunísia. Ele disse: liberdade para
o povo egípcio. Ele disse: liberdade para o povo líbio. Mas ele não se
atreve a dizer liberdade para o povo palestino”.
Estimulada pela
dinâmica das revoltas que se espalham pelo mundo árabe, a juventude
palestina ergueu um acampamento de protesto no centro de Ramallah, em
cidades na Cisjordânia e na faixa de Gaza, em 15 de março. Esse grupo de
jovens ativistas, não alinhado politicamente, é incapaz de se reunir
devido aos postos de controle do exército de Israel e aos muros. Estão
se conectando por Facebook, Twitter e telefones celulares.
O movimento de 15
de março, como está sendo chamado, reivindica reestruturação do Conselho
Nacional Palestino (CNP), convocação de eleições, liberação de todos os
prisioneiros políticos em poder da Autoridade Palestina e do Hamas e a
unificação nacional da Palestina.
Na semana passada,
centenas de milhares de palestinos protestaram nas ruas da cidade de
Gaza, e milhares na Cisjordânia. Logo em seguida, o presidente palestino
Mahmoud Abbas, do grupo Fatah, anunciou planos para encontrar o líder
do Hamas, Ismail Haniyed, em Gaza.
Uma das
figuras-chaves do movimento de 15 de março é Fadi Quran. Junto com nove
outros companheiros, ele fez uma greve de fome de quatro dias, às
vésperas do protesto. Diz que o CNP não representa todos os palestinos, e
que “sistemicamente levará a uma divisão”, como atual impasse entre o
Fatah e o Hamas. Quran acredita que se Abbas e Haniyet se encontrarem,
os líderes tentarão chegar a um acordo de partilha do poder, combinando
posições e dividindo cadeiras entre os partidos.
Abbas e Haniyet
ainda precisam acertar os termos desse encontro. Abbas pede a formação
de um governo transitório para preparar as eleições. Como o Hamas
provavelmente receberia uma pequena quantidade de votos, perdendo assim
seu poder sobre a faixa de Gaza, Haniyet está pouco estimulado a apoiar
as eleições agora. Haniyet insiste em uma reunião que lance conversações
pela reconciliação
O Movimento 15 de Março
Os ativistas
palestinos estão esperando para ver se os planos vão dar frutos. Mas
falando com eles fica claro que a derrubada dos presidentes Mubarak e
Ben Ali, no Egito e Tunísia, reavivou suas esperanças. “Daqui para a
frente, as coisas serão diferentes”, disse Quran no protesto de
terça-feira.
Mas Quran, que
estudou em Standford, é também pragmático. Indagado se 15 de março
poderia se tornar a versão palestina do movimento 25 de janeiro (o
primeiro dia de grandes manifestações populares no Cairo), ele
respondeu: “acho que aqui, as mudanças que queremos precisam de mais
tempo para ser implementadas. No Egito, reivindicava-se que Mubarak
saísse. Nós não podemos pedir isso [em relação a Abbas] agora”.
O presidente Abbas
tem apoio insignificante. Desde que a Al Jazeera liberou documentos [do
Wikileaks] confirmando as suspeitas de que a Autoridade Palestina,
dirigida pelo Fatah, cedeu demais a Israel (principalmente por permitir a
expansão dos assentamentos, abandonar o direito de retorno para todos
os refugiados palestinos e recuar da exigência de partes de Jerusalém
Oriental), ele está tentando evitar uma grande revolta, como as que
varreram o Oriente Médio e norte da África. A julgar pela tática de
Abbas, ele deve ter aprendido alguma coisa com Mubarak.
Durante os últimos
meses, nos comícios na Cisjordânia em solidariedade aos egípcios e
tunisianos, as forças da Autoridade Palestina foram convocadas para
entoar suas próprias palavras-de-ordem, e também para ameaçar e deter
manifestantes. Nessa semana, a Autoridade Palestina usou estratégia
parecida para suprimir protestos voltado mais diretamente a seus
dirigentes.
Em toda a
manifestação de 15 de março, em Ramallah, agentes secretos da
inteligência da Autoridade Palestina (Mukhabarat) identificaram e
retiraram os principais organizadores. A certa altura, a Mukhbarat
arrastou uma jornalista da agência de notícias Ma’na para o posto de
polícia depois que a repórter tirou uma foto de um dos agentes. A
britânica foi liberada logo depois, mas ao final do dia pelo menos seis
palestinos tinham sido detidos e sete foram levados por ambulâncias
devidos a lesões. Ao escurecer, as forças de segurança isolaram a rua.
Após a
implementação dos Acordos de Oslo, os palestinos parecem conviver com
uma nova força de repressão, criada no interior da Autoridade Palestina,
dirigida pelo Fatah. Ela captura e interroga regularmente ativistas
políticos palestinos na Cisjordânia. A economia palestina pode ter
crescido na região, mas os assentamentos israelenses expandem-se mais
rapidamente. É essa realidade, tanto quanto a divisão de facções e as
revoltas árabes, que inspiram os jovens palestinos hoje.
Mais cedo naquele
dia, partidários do Fatah, incluindo alguns antigos membros da segurança
da Autoridade Palestina, encheram a praça, tentando fixar-se em locais
estratégicos. A multidão do Fatah cantou músicas tradicionais
nacionalistas que tocavam nos auto-falantes, e espalhou pelas ruas
cartazes de líderes palestinos martirizados. Um cartaz destacava a foto
do antigo líder do Fatah, Yasser Arafat, beijando o líder espiritual do
Hamas, Sheik Yassin.
Uri Davis, do
Conselho Revolucionário do Fatah – o único membro judeu israelense da
Organização pela Libertação da Palestina (OLP) – falou com repórteres no
meio da praça. “O fim da fragmentação da cena política palestina”,
deveria ser a principal demanda , disse ele, atribuindo o processo à
tática colonial de dividir para reinar usada por Israel.
Sobre a
reestruturação do Conselho Nacional, Davis disse que abrir o voto às
comunidades palestinas em Israel e às espalhadas pela diáspora tornaria o
órgão mais representativo.
Quem observasse os
que pedem unificação nacional na semana passada, julgaria que a divisão é
insuperável. As tensões ferviam sob a superfície, entre os que apoiavam
o Fatah e os esquerdistas e os ativistas não alinhados a nenhum dos
dois grupos (que organizaram a manifestação). Dois grupos distintos se
formavam, cada um tentando se sobrepor ao outro.
Depois que os
membros do Fatah se retiraram no começo da tarde, um grupo de
aproximadamente 500 pessoas permaneceu. Jovens de ambos os sexos
lideraram os coros. Dois homens sentaram-se sobre um painel da
Autoridade Palestina 4 metros de altura onde podia-se ler “restauração
do centro da cidade”. Eles seguravam um cartaz com um desenho de duas
jovens palestinas gritando, com os cabelos aparecendo sob lenços
frouxos, no fundo vermelho, branco e verde da bandeira palestina.
Reação israelense
Dezenas de soldados
israelenses também estavam mobilizados no posto de controle em Qalandia
na última terça-feira, para a eventualidade de os manifestantes
palestinos em Ramallah dirigirem-se para lá
Os levantes
regionais alimentam o medo que os israelenses têm de serem cercados por
inimigos prontos para atacar. Oficiais de segurança israelenses
claramente foram pegos de surpresa quando Mubarak caiu. Ainda assim, o
governo de Israel parece indeciso sobre como responder politicamente à
agitação no Oriente Médio e no norte da África, permanecendo em compasso
de espera antes de dar o próximo passo.
Israel perdeu seu
maior aliado no Oriente Médio quando o presidente egípcio, Mubarak,
resignou. A estabilidade do Estado baseia-se na paz com o Egito e em
manter Gaza em rédeas curtas. É por essa razão que Israel apressa-se
para terminar a construção do muro ao longo da fronteira com o Egito.
O primeiro-ministro
Netanyahu espera que emerja, no Egito, um novo líder com quem Israel
possa contar para continuar a mesma política de Mubarak.
Enquanto isso, têm
aparecido no Facebook grupos chamando refugiados palestinos a marchar em
direção às fronteiras do Egito, Líbano, Síria, Jordânia e os
Territórios Palestinos Ocupados em 15 de maio. Seria a “terceira
intifada palestina”. Se essa ação acontecer, Israel terá de lidar com
uma séria preocupação com segurança.
No momento, com os
militares egípcios – financiados pelos Estados Unidos – exercendo forte
controle e com fissuras que começam a aparecer na revolta popular do
Egito, a situação política pode se mover a favor ou contra Israel. Se
alguma coisa está clara, é que Israel baseia-se na divisão da Palestina e
não irá tolerar um movimento democrático se isso significar uma
negociação com o Hamas.
Islamofobia
O
cidadão da foto, com essa cara de mau, é o deputado republicano Peter
King, uma das figuras em maior evidência hoje nos EUA. É dele a
iniciativa de criar uma comissão que vai investigar as atividades de
organizações muçulmunas no país, vista como uma atitude discriminatória
e revanchista.
por Eliakim Araujo em Miami
O cidadão da foto, com essa cara de mau,
é o deputado republicano Peter King, uma das figuras em maior evidência
hoje nos EUA. É dele a iniciativa de criar uma comissão que vai
investigar as atividades de organizações muçulmunas no país, vista como
uma atitude discriminatória e revanchista. Desde já, King está sendo
chamado de o McCarthy do século XXI, numa referência ao parlamentar dos
anos 50 e 60 que perseguiu e destruiu famílias pela simples suspeita de
que poderiam ser comunistas.
O novo mccarthysta considera que o inimigo está dentro de casa e que a crescente radicalização dos muçulmanos nascidos e criados nos Estados Unidos representa uma ameaça que deve ser avaliada antes que seja tarde demais. Como presidente do Comitê de Segurança Nacional da Câmara - cargo conquistado pelos republicanos depois da vitória nas eleições parlamentares de novembro passado - King argumenta que os americanos muçulmanos não cooperam com a lei e a ordem na hora de denunciar atividades suspeitas e que 80% dos líderes islâmicos são extremistas.
Mas King não é flor que se cheire. Além de acusado de falsas alegações e de estar querendo estigmatizar e demonizar a comunidade muçulmana de sete milhões de pessoas, seus adversários afirmam que ele defendeu nos anos oitenta a luta armada do IRA, a organização terrorista irlandesa.
Quem tem um deputado como esse, não precisa de terrorista. Ele é o próprio.
Washington made in China
A rede ABC mostrou outro dia em seu
principal telejornal uma reportagem super interessante. O repórter
percorreu as lojas de souvenirs de Washington e descobriu que quase
todos eram fabricados na China. Miniaturas dos memoriais, do Capitólio,
da Casa Branca e, pasmem, até bandeirinhas dos EUA eram "made in
China".
Esse tipo de reportagem, cada vez mais frequente, revela a preocupação do cidadão americano com o rival chinês, acusado de manipular sua moeda e roubar empregos dos Estados Unidos. A desgastada crise econômica, que não dá sinais de arrefecimento, não é mais a única culpada pelo índice de desemprego que teima em permanecer em torno dos 10%.
Até Donald Trump, misto de empresário e apresentador de TV (ele apresenta o original do "Aprendiz"), com seu jeito meio bufão, dizia em um programa de entrevista que é fácil acabar com o desemprego nos EUA "é só mandar para a China os nossos trabalhadores, porque nossos empregos foram todos levados para lá".
Na contramão da reportagem da ABC, a Boeing anunciou esta semana ter fechado encomendas de 10 bilhões de dólares com duas companhias aéreas da China, o mercado de aviação de crescimento mais rápido no mundo.
Ou seja, pelo menos nesse segmento a China ainda não conseguiu roubar os empregos dos técnicos e operários norte-americanos. Por enquanto.
Eu ainda amo Bill
A revista sensacionalista Enquirer tirou
do ostracismo uma mulher que quase derrubou um presidente dos Estados
Unidos. Monica Lewinski, a mais famosa estagiária americana, hoje com
37 anos (ela tinha 22 por ocasião do escândalo) revelou que nunca se
esqueceu do romance proibido com Bill Clinton, tanto que até hoje não
conseguiu preencher o vazio deixado por ele. Não casou e nem quis ter
filhos com pretensos namorados. E Mônica confidenciou a amigos mais
próximos que não consegue mais amar ninguém, pois seu coração pertence
ao ex-presidente.
Monica, que chegou a escrever um livro sobre seu "estágio" na Casa Branca, conta que foi muito pressionada na época pela chamadas forças ocultas do governo para calar a boca sobre os acontecimentos no Salão Oval. Mas confidenciou que faria tudo de novo, porque Bill foi seu "único e verdadeiro amor".
É a tal história do amor que bate e fica.
Sem Harvard, mas com Eike
Pesquisa divulgada na semana que passou, com pouco destaque na mídia preocupada com a cobertura do Carnaval, revelou que nenhuma universidade brasileira foi classificada entre as cem melhores do mundo. O trabalho é da Times Higher Education (THE), instituição baseada em Londres.
Harvard, nos EUA, obteve a pontuação máxima no ranking, montado a partir de uma pesquisa com convidados de mais de 13 mil professores de 131 países do mundo. Como nos anos enateriores, as universidades americanas seguem dominando o ranking. Entre as dez primeiras da lista, sete são dos EUA, duas do Reino Unido e uma do Japão.
A nós, brasileiros, resta o consolo de saber que, se não temos uma universidade do topo, temos em compensação trinta bilionários na lista da Forbes. Para ser preciso, subimos de 18 para 30 em um ano. Sinal de que as coisas andam bem para os negócios no Brasil.
Melhor ainda. Se não temos uma universidade entre as melhores, temos um empresário entre os dez mais ricos do mundo. Eike Batista, aparece no oitavo lugar, com uma fortuna estimada em 27 bilhões de dólares. Só não dá para entender como alguém que tem uma fortuna de 27 bi precisa de um aporte de capital público (BNDES) de 600 milhões de reais para tocar seus negócios.
Se alguém souber, me explique, por favor.
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