Alexandre
Blok situa-se entre os maiores nomes da poesia da Rússia modernista.
Foi o mais influente poeta moderno anterior à Revolução Russa de 1917.
Maiakovski era um grande admirador de sua obra. Anna Akhmátova, Marina
Tsvetaeva, e mesmo o mais jovem Vladimir Nabokov escreveram importantes
tributos poéticos em sua memória.
Hoje, sua importância foi
empalidecida pelo tempo, e mesmo no Brasil, sua obra é ainda
praticamente desconhecida, com apenas algumas magras traduções de seus
poemas mais importantes.
Para se ter uma melhor idéia do alcance
de sua poesia basta lembrar a afirmação da já velha Lila Brik (antiga
paixão de Maiakovski), de que Maiakovski mesmo não acreditava que um dia
pudesse chegar a ter um pouco da popularidade que tinha a obra de Blok
entre a população russa.
Foi graças ao talento de Blok que o
simbolismo adquiriu importância e influência na Rússia, tornando-se a
principal corrente da chamada "Era de Prata" da poesia russa, situada
antes de 1917.
O poeta teve também destacada importância na
formação do teatro simbolista russo, autor de dramas em versos que foram
levados aos palcos por Vsevolod Meierhold anos antes do diretor
tornar-se mundialmente famoso com seu teatro biomecânico. Este
simbolismo elevado à categoria de grande arte nacional pelo poeta
tornar-se-ia o ponto de partida dos mais importantes representantes das
vanguardas artísticas no país nos anos seguintes. Maiakovski escreveu
versos simbolistas na adolescência. Outros cubo-futuristas foram também,
em algum momento, simbolistas, como Khlébnikhov; mesmo o pintor Vassili
Kandinski escreveu poesia simbolista sob a influência de Blok.
Quando
acontece, porém, a Revolução, Blok, como toda uma geração de poetas já
estabelecidos antes de 1917, sofrem com particular intensidade o enorme
choque cultural desencadeado pelas transformações revolucionárias na
Rússia. Fazendo um esforço descomunal, Blok, ao contrário dos outros
simbolistas, consegue aproximar-se na nova cultura e da nova classe que
emergira com Outubro. Ele concebe aí seu poema mais significativo, Os
Doze, um retrato mítico e épico da vitória dos bolcheviques sobre o
czarismo. Esta, porém, é sua última realização, seu último esforço
criativo, sucumbindo, doente, alcoólatra e depressivo em meio às duras
condições de vida durante os anos da guerra civil.
Começos
Alexandre
Alexandreovich Blok era membro de uma família da aristocracia
intelectual de São Petersburgo. Neto do antigo reitor da Universidade de
São Petersburgo, Alexandre era filho de um professor de Direito da
Universidade de Varsóvia, que era também talentoso músico amador. Sua
mãe era poetisa e tradutora. O futuro poeta nasceu, portanto, em um
ambiente cultural rico e estimulante.
Seus pais se separaram logo
na ocasião de seu nascimento e o garoto passou assim toda a primeira
infância sob os cuidados do avô materno, o botânico Andrei Beketov,
residente na grande mansão de Shakhmatovo, nos arredores de Moscou.
Quando sua mãe obteve legalmente o divórcio, em 1889, tomou novamente
consigo o filho para morar com ela em seu novo apartamento.
Alexandre
era um assíduo leitor da biblioteca de sua mãe, onde conheceu as obras
de Fiodor Tiútchev e Afanasi Fet. Durante a adolescência, já escrevia
versos, mas foi apenas aos 18 anos que começou a pensar com mais
seriedade em tornar-se escritor.
Ele tornou-se aluno de Direito,
na Universidade de São Petersburgo, mas abandou o curso pela metade.
Transferiu-se então para a Divisão de História e Filosofia, onde
permaneceu até pegar o diploma, em 1906.
Já decidido a viver de
poesia, Blok conheceu cedo outros futuros membros do movimento
simbolista russo então em fase de gestação, os poetas Vladimir Soloviev e
Andrei Biely.
Seus primeiros poemas foram publicados já em 1903 na revista O Novo Caminho, de D. S. Merezhkovski.
A
primeira coletânea poética de Blok foi Stikhi o prekrasnoi Dame (Versos
para uma Bela Dama), publicado em 1904. A obra fora realizada sob
inspiração de uma experiência mística e de seu envolvimento amoroso com
Liubov Mendeleieva, filha do renomado químico russo Dmitri Mendeleiev,
com quem Blok se casara um ano antes. Os versos deste livro apesar de
fortemente simbolistas, reverberavam influências românticas ao exaltar
uma musa semi-humana e semi-divina:
No templo de naves escuras,
Celebro um rito singelo.
Aguardo a Dama Formosura
À luz dos velários vermelhos.
À sombra das colunas altas,
Vacilo aos portais que se abrem.
E me contempla iluminada
Ela, seu sonho, sua imagem.
Acostumei-me a esta casula
Da majestosa Esposa Eterna.
Pelas cornijas vão em fuga
Delírios, sorrisos e lendas.
São meigos os círios, Sagrada!
Doce o teu rosto resplendente!
Não ouço nem som, nem palavra,
Mas sei, Dileta – estás presente.
O simbolismo russo
Surgimento
do simbolismo na Rússia representou, como nos demais países europeus,
uma reação às correntes realistas e naturalistas, principalmente na
literatura. Nas artes plásticas, o simbolismo foi uma resposta à
preponderância da Escola Impressionista.
Iniciado na França, o
simbolismo foi exportado para o resto do mundo principalmente através
dos influentes trabalhos de poetas franceses como Verlaine, Rimbaud e
Mallarmé; mas também dos trabalhos do dramaturgo suíço Auguste
Strindberg, do belga Maurice Maeterlinck e do norueguês Henrik Ibsen.
Obras que tiveram grande influência sobre toda uma geração de escritores
na Rússia.
A primeira geração de simbolistas russos surge ainda
na década de 1890, mas chamava a atenção por seu amadorismo. Eram em
geral poetas de segunda linha, que refletiam em suas produções, o atraso
geral da cultura russa em relação à cultura da Europa Ocidental. Uma
verdadeira tradição modernista na poesia russa só foi possível graças ao
surgimento de novos grupos e novas publicações que passaram a divulgar
em círculos mais amplos da intelligentsia russa as obras e ideias
modernistas européias.
O mais importante destes grupos era o
chamado Mundo da Arte, que passou a publicar uma revista de mesmo nome a
partir de 1898, editada por Serguei Diaguilev, futuro promotor dos
balés russos. Ao lado de Diaguilev circulavam também outros intelectuais
que viajavam freqüentemente para a Europa e foram capazes, por assim
dizer, de romper a barreira de isolamento existente entre a Rússia o
ocidente. Entre os mais destacados nomes da nova geração de artistas do
simbolismo estavam os poetas Andrei Bieli e Alexandre Blok e o diretor
teatral Vsevolod Meierhold, que se aproxima do grupo mais tarde.
Esta
segunda geração simbolista atinge sua maturidade artística nos
primeiros anos do novo século, desenvolvendo-se ao longo das duas
décadas seguintes e extinguindo-se abruptamente poucos anos depois da
Revolução de 1917.
Seus interesses giravam em torno da valorização
das emoções, da vida espiritual e subjetiva do indivíduo. Os melhores
entre os simbolistas buscaram se debruçar sobre os problemas universais
da coletividade humana, seu destino social e os problemas morais
derivados daí. Estes ideais os levam a romper com as tradicionais formas
realistas buscando colocar no primeiro plano as reflexões e problemas
existenciais que eram característicos de uma época de crise, de pessoas
voltadas para si mesmas e não para a realidade exterior.
Não foi
por acaso, portanto, que os anos mais importantes para a consolidação do
simbolismo russo tenham sido os do período imediatamente posterior à
derrota da Revolução de 1905, quando o refluxo temporário do movimento
operário e das forças revolucionárias tinham levado parte expressiva da
intelectualidade a se voltarem para si mesmos, para suas frustrações e
desmoralização pessoal.
A poesia de Blok expressava este mal estar
generalizado da mediocridade da vida nestes anos. Era a poesia das
evocações por um futuro melhor, daí a orientação progressista de sua
obra que preservariam sua sanidade nos anos mais agudos da crise
revolucionária russa.
A parceria Blok-Meierhold
Versos para
uma Bela Dama tornou-se conhecido e festejado em pequenos, mas
importantes círculos de literatos em São Petersburgo. Foi intensamente
saudada tanto pelos simbolistas da velha geração, quando pelos jovens
Andrei Bieli e Valeri Briusov. Alexandre Blok, em pouco tempo estava
escrevendo também para as revistas simbolistas, como Balanço.
Apesar
da sublimação presente em todos os poemas desta obra, é perceptível uma
crescente nota de perturbação e um tom de súplica que chega à fronteira
do desespero.
Em contato com outros simbolistas, a obra de Blok a
partir 1904 passa a apresentar novos padrões de ritmos e a abordar
temas ligados à vida urbana nas grandes cidades. Nos anos que se seguem,
sua fama crescente o tornaria um dos mais influentes poetas da Rússia
anterior à revolução.
Ele era já um poeta relativamente conhecido
em 1906, quando se formou na Universidade de São Petersburgo. Neste ano o
diretor teatral Vsevolod Meierhold interessou-se em apresentar nos
palcos petersburgueses um "drama lírico" – como o poeta chamava suas
peças em versos – de Blok, Balagántchik (A Barraquinha de Feira). Esta
parceria com Meierhold seria um dos mais importantes acontecimentos do
movimento simbolista russo.
Meierhold era um dos mais talentosos
diretores teatrais da nova geração, era também um dos bastiões do
modernismo russo. Em 1906 ele havia recém chegado das províncias e
aproximou-se do movimento simbolista de São Petersburgo. Ele conhece
Blok nas reuniões de simbolistas que aconteciam às quartas-feiras à
noite na "Torre", como era chamado o movimentado apartamento de
Vsiévolod V. Ivánov, destacado intelectual russo.
Meierhold,
ex-discípulo de Stanislavski, estava decidido de uma vez por todas a
romper com o teatro naturalista de seu antigo mestre. O simbolismo surge
diante dele como uma ferramenta ideal para isso. O diretor participa
com os demais artistas, da criação do teatro Fákeli (As Tochas).
Uma arlequinada simbolista
É
neste momento também que surge o interesse de Meierhold de adaptar para
o teatro o texto de Blok. A peça estréia ainda em 1906, meses mais
tarde, nos palcos do Teatro da Komissarjévskaia, em uma montagem que
seria tida como um marco no desenvolvimento do teatro simbolista e a
evolução do modernismo teatral russo de um modo geral. É importante
destacar que a Rússia neste momento, e desde Stanislavski, era a
principal capital internacional do teatro.
Nesta adaptação de
Meierhold, ele colocava em prática suas principais idéias artísticas em
nome de um teatro de síntese, onde todos seus elementos constitutivos,
texto, atuação, figurinos, cenário, iluminação e música, eram usados a
serviço da revelação de uma verdade interior do texto, através de um
tratamento não naturalista. A parceria Blok-Meierhold é um dos grandes
momentos da carreira de ambos os artistas.
A Barraquinha de Feira
era uma versão simbolista dos espetáculos da commedia dell'arte
italianos, mantendo suas personagens. Ele usa o tradicional triângulo
amoroso entre o Arlequim, a Colombina e o Pierrô, para narrar um trágico
relacionamento amoroso que fazia parte da lírica de muitos simbolistas.
A Colombina de Blok é uma dama fatal que seduz a todos por mero prazer.
Com um texto de alto teor lírico ele questiona a realidade da vida e do
sonho utilizando os próprios recursos ilusionistas do teatro, como na
cena em que um palhaço é golpeado na cabeça por um dos guardas e cai se
debatendo no chão aos berros: "Socorro! Estou me esvaindo em suco de
groselha!", ao mesmo tempo em que de fato verte suco de sua roupa.
Nesta
tragédia-bufa, Arlequim termina desiludido com sua Colombina de papelão
nas mãos. Inconsolável, ele salta ao parapeito da janela, recita versos
sobre seu desprezo por uma sociedade de homens de papelão, e salta para
a morte, mas rasga o papel do cenário e cai no chão, à vista do
público, onde revela-se também aí a farsa, o subterfúgio cênico, a
tragédia artificial do palhaço.
A crise pessoal
Alexandre
Blok escreveria ainda outros textos teatrais de importância, como Korol
na plóschadi (O Rei na Praça) e Nieznakomka (A Desconhecida), que,
juntamente com o texto anterior, constituem sua mais importante trilogia
teatral, concluída em 1907. Outro drama lírico de importância era A
Rosa e a Cruz, de 1913, baseado em romances medievais franceses. Este
texto foi ensaiado no Teatro de Arte de Moscou, mas nunca chegou a
estrear.
De 1907 data sua segunda coleção poética, Radost
Nechayannaya. Desde esta época ele passou a desenvolver um estilo cada
vez mais agitado e sonoro, que teria grande influência entre os
escritores de sua geração. A despeito de sua crescente influência,
pessoalmente, Blok vivia depressivo e se sentia um fracassado.
Seu
casamento havia se tornado cada vez mais tumultuado também, com
crescentes brigas domésticas entre o casal. Um período de reconciliação
aconteceu em 1909, quando o casal viajou pela Itália, período de
tranqüilidade em que ele concebeu a obra Poemas Italianos.
A
crise, porém, não era meramente casual. Coincidia com o período de
esgotamento do próprio movimento simbolista russo. Blok tinha perfeita
consciência disso, e o sentia intensamente. Em um prefácio escrito por
ele em 1919, para o poema Vozmedie (Nêmesis), Blok esclarece: "O ano de
1910 significa a morte de Komissarzeskaia [a atriz Vera
Komissarzeskaia], a morte de Vrublel [o pintor Mikhail Vrubel, que
enlouquecera] e a morte de Tolstói. Com Komissarzeskaia desapareceu do
palco a nota lírica; com Vrubel, o titânico mundo individual do artista,
a tenacidade louca, a insaciabilidade de pesquisas conduzidas ao limiar
da demência. Com Tolstói morreu a ternura humana, a humanidade sábia.
Além disso, 1910 significa a crise do simbolismo, de que então se
escrevia e falava muito, seja no campo dos simbolistas, seja no de seus
adversários. Naquele ano deram a se conhecer, sem incertezas, algumas
correntes literárias que se mostraram antagonistas tanto do simbolismo
quanto umas das outras: o acmeísmo, o ego-futurismo, e os primeiros
embriões do futurismo [o cubo-futurismo, grupo de Maiakovski]. O lema da
primeira dessas correntes literárias era o homem: mas um homem de certa
forma já diferente, um homem absolutamente desprovido de humanidade,
uma espécie de 'Adão primordial'".
Em 1910, também Blok começou a
trabalhar em um poema épico dedicado a seu pai, realizado nos meses que
seguiram à sua morte. Durante mais de uma década, Blok trabalharia no
livro Vozmezdie, que ele nunca conseguiria dar forma final, apesar de
nunca ter abandonado o trabalho sobre ele até sua morte. O poema narrava
a história familiar do poeta como uma alegoria da história russa, sendo
atualizado com o passar dos anos, até abarcar a "ressurreição
espiritual" do país após 1917. Este longo poema inclui ainda diversos
episódios históricos da Rússia, como a vitória dos russos sobre os
mongóis em 1380.
A Guerra e a Revolução
Quando começa a
Primeira Guerra em 1914, o poeta passa a trabalhar como funcionário em
uma empresa de engenharia que atuava nas frentes de batalha sob as
ordens do Exército imperial.
Ainda sob a guerra, nos primeiros
meses de 1917, ele escrevia em seu diário sobre um sonho: "Eu sentia que
um grande evento estava chegando, mas o que era exatamente não me foi
revelado". Quando acontece a Revolução Russa, poucas semanas depois,
Blok a apóia e a comemora como um evento "espiritual" do país. Esta
interpretação mística e religiosa ao acontecimento, apesar de toda a
incompreensão, ajudou a manter Blok alinhado às forças transformadoras
do país.
Após a revolução, Blok torna-se membro dos comitês que
dirigiam os teatros do Estado e presidente da seção de Petrogrado dos
Poetas da União. Ele permanece exercendo estas ocupações durante todo o
período da Guerra Civil, se afastando somente por motivos de saúde.
Data
desta época a obra-prima de sua poesia uma grandiosa epopéia em versos
que era o retrato heróico e fantástico da maneira como poeta entendeu
aquela revolução. O poema era Dvenadtsat (Os Doze), publicado em 1918.
Neste texto poderoso, se combinam gritos de guerra, lamentos,
comentários irônicos e palavras de ordem correntes naqueles anos de luta
e guerra civil. Procurando aproximar sua poesia dos sons dissonantes e
contraditórios daquela revolução, Blok se utiliza de diferentes ritmos,
lança mão de onomatopéias, exclamações e versos musicais.
Seu
poema não é, no entanto, uma obra que reflete a atitude e a mentalidade
daqueles que fizeram a revolução. É ao contrário, a última badalada do
relógio que anunciava a morte daquela corrente artística que se tornara
decadente e anacrônica após a Revolução, um movimento místico,
individualista, fantasioso, que só conseguia entender a realidade
através das lentes turvas da religião e da fé mística, e não na
compreensão concreta dos fatos.
Os Doze
Os heróis deste
grande poema épico são doze soldados vermelhos - que correspondem aos
doze apóstolos bíblicos. Eles caminham vigorosamente pelas ruas da
capital desolada, sob o uivar dos ventos de uma tempestade, marchando
sobre a neve e empunhando suas baionetas com a bandeira vermelha ao
ombro. Eles avançam implacavelmente pela libertação do mundo. Em uma das
fortes passagens do poema eles encontram um burguês na encruzilhada:
"Eis o burguês, um cão sem osso,
Taciturna interrogação,
E o mundo velho - frente ao moço -
Rabo entre as pernas como um cão".
(...)
"... Lá se vão sem santo e sem cruz
Os doze, pela estrada.
Prontos a tudo,
Presos a nada..."
O
vigor e a brutalidade da guerra civil são perfeitamente captados nesta
grande poesia, transbordando de cada detalhe da ação, dos cenários
desolados, cobertos de neve, às falas entrecortadas da multidão atônita e
confusa ao verem passar os soldados da revolução:
"Vermelho-aberta,
A bandeira.
todos alerta,
Em fileira.
Arma teu guante
O adversário...
E a neve com seu cortante
Açoite
Dia e noite...
Avante, avante,
Povo operário!"
É
uma obra impressionante, uma realização permanente do período da
revolução. Apesar disso, a alta carga religiosa que surge em diversas
passagens da obra, revelava o próprio impasse em que se encontrava o
artista. Como outros poetas, ele aguardara com ansiedade a Revolução,
que abraça e apóia como sua. Ao tentar aproximar-se dela, porém, se
defrontou com uma barreira invisível, sua total incapacidade de
compreensão da essência daquelas transformações. A base social que
formara sua mentalidade e sua poesia se tornara já parte do passado
remoto da Rússia Romanov. Em seu movimento de se desligar do passado,
Blok caiu, porém, em um completo impasse espiritual na medida em que não
conseguia compreender a natureza dos acontecimentos que testemunhava.
Apesar de seu entusiasmo inicial, esta crise se aprofundaria rapidamente
nos anos seguintes.
Entre a doença e a loucura
Nos meses
seguintes, ele cada vez mais se afastaria das posições revolucionárias,
vítima de suas próprias contradições ideológicas.
Blok permanece
os últimos três anos de sua vida, sem escrever um único poema. Ao seu
amigo, Maximo Gorki, ele revela ter perdido sua "fé na sabedoria da
humanidade", ou, sua confiança na revolução. Sobre seu silêncio poético
ele declarara a outro amigo, Kornei Chukovski: "todos os sons pararam.
Você consegue perceber que não há mais nenhum som?".
Entre seus
últimos textos estão os ensaios O Declínio do Humanismo e O Chamado do
Poeta, ambos de 1921. Nos dois artigos, Blok expressa suas inquietações
pessoais e a maneira oblíqua como entendia sua época. Neste último
texto, bastante significativo, reivindicando Puchkin, ele desenvolve o
tema do conflito entre a individualidade do poeta e a coletividade
social.
Vítima de uma enfermidade grave, nunca diagnosticada,
Blok, em meados de 1921, estava desnutrido e apresentando sintomas de
doença mental, mantendo-se sempre alcoolizado e em estado depressivo.
Após uma recomendação médica para que ele procurasse tratamento na
Europa, Blok foi atrás do visto para atravessar a fronteira. O país,
porém, vivia ainda os últimos meses da guerra civil, impedindo a saída
ou entrada de qualquer pessoa do país sem motivos excepcionais. Gorki
interveio então em seu favor, apelando a Anatoli Lunatcharski: "Blok é o
melhor poeta da Rússia. Se você proibi-lo de ir para o estrangeiro e
ele morrer, você e seus companheiros serão culpados por sua morte". A
autorização, porém veio tarde, em 10 de agosto. Alexandre Blok morrera
apenas três dias antes, a 7 de agosto de 1921, vítima de uma enfermidade
nunca esclarecida, mas, certamente, conseqüência das duras condições
materiais da vida naquele período.
Seu trabalho continuou a ser
publicado na União Soviética nos anos seguintes, mantendo ainda a
influência do poeta sobre os jovens escritores da revolução.