Gripe suína avança no hemisfério norte
por Conceição Lemes
No final de junho, julho e agosto, boa parte da mídia corporativa
brasileira aterrorizou a população com a influenza A (H1N1), a gripe
suína. Um desvario. Por trás, um objetivo torpe: fazer política com
notícias de notícias sobre saúde.
No afã de desacreditar o plano do Ministério da Saúde para a nova
gripe e atingir o governo federal, valeu tudo. Até invocar o pequeno
número de casos e ouso generalizado do Tamiflu no Reino Unido,
para fazer crer que a situação aqui estava fora de controle e a
conduta, equivocada.
De nada adiantavam as explicações de que, no hemisfério norte, o
vírus A (H1N1) começou a se espalhar no verão, quando há menos doenças
respiratórias. Logo, era natural que a incidência de gripe, comum ou
suína, fosse menor nesses países. Já no hemisfério sul, incluindo
Brasil, a disseminação se deu em pleno inverno e o impacto, obviamente,
seria maior. Afinal, nos meses frios, no mundo inteiro, aumentam as
doenças respiratórias, entre as quais as gripes.
Pois boletins divulgados nos últimos dias pelo Centro Europeu de Controle de Doenças e pela Organização Mundial de Saúde (OMS)
demonstram o que já era previsto. Com o aumento das temperaturas no
hemisfério sul, se observa em alguns países – inclusive no Brasil – a
queda na transmissão de gripe suína. Já no hemisfério norte, com a
proximidade do inverno, ocorre o inverso.
Atentem para este mapa da OMS. É o retrato mais recente da tendência das doenças respiratórias no mundo.
As áreas em azulão são onde os casos de gripe suína já estão
aumentando. Por exemplo, Estados Unidos, Canadá, México, Reino Unido e
Espanha. Fazendo fronteira com o Brasil ao norte, a Colômbia.
Em azul um pouco mais claro estão as áreas onde a situação permanece
inalterada em relação à semana anterior. Grande parte do Chile se
encaixa aí. Já nas regiões em azul claro – por exemplo, Brasil,
Bolívia, Peru e Venezuela –, os casos estão diminuindo.
No Brasil, especificamente, o número de casos graves causados pela
nova gripe caiu 97,3%. Passou de 2.828 registros (8 de agosto) para 78
(10 de outubro), segundo o boletim epidemiológico do Ministério da
Saúde divulgado nessa segunda-feira. E, do início da pandemia a 10 de
outubro, 1.368 pessoas morreram; 135 eram gestantes.
Como a atualização dos dados de alguns países não está sendo feita
de forma uniforme, o Ministério da Saúde teve de interromper a
comparação de óbitos do Brasil em relação ao restante do mundo. Mas,
supondo que todos estivessem adotando os mesmos critérios para
mortalidade, teríamos, com os dados disponíveis hoje, o cenário abaixo.
Lembrem-se de que a taxa de mortalidade considera o número de óbitos
por 100 mil habitantes.
O Brasil, que ocupava o quinto país em taxa de mortalidade, subiu
para quarto. No Reino Unido, o número de óbitos foi de 86 para 106. Em
conseqüência, a taxa de mortalidade foi de 0,11 para 0, 17.
Mas o que mais chamam a atenção são estas duas situações, cuja transparência, por ora, deixa a desejar:
1) Os Estados Unidos, um dos países com maior número de casos, não atualizam os dados desde 5 de setembro. Na mesma época, mudaram o critério de classificação de mortes. Em 30 de agosto, o país zerou as estatísticas. Desde então, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, o CDC de Atlanta, contabiliza os óbitos causados não apenas pelo vírus da gripe suína, mas também as mortes associadas a qualquer tipo de influenza, mais a combinação pneumonia+influenza. Pela nova definição de caso adotada pelo governo americano, de 30 de agosto a 3 de outubro, houve 240 mortes associadas a qualquer tipo de influenza mais 1.544 mortes por pneumonia e influenza. As informações estão no site do CDC
1) Os Estados Unidos, um dos países com maior número de casos, não atualizam os dados desde 5 de setembro. Na mesma época, mudaram o critério de classificação de mortes. Em 30 de agosto, o país zerou as estatísticas. Desde então, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, o CDC de Atlanta, contabiliza os óbitos causados não apenas pelo vírus da gripe suína, mas também as mortes associadas a qualquer tipo de influenza, mais a combinação pneumonia+influenza. Pela nova definição de caso adotada pelo governo americano, de 30 de agosto a 3 de outubro, houve 240 mortes associadas a qualquer tipo de influenza mais 1.544 mortes por pneumonia e influenza. As informações estão no site do CDC
2) Curiosamente o México tem a mesma taxa de mortalidade que o
Canadá. Considerando que a pandemia começou lá e o seu sistema público
de saúde é precaríssimo, ao contrário do canadense, essa taxa de
mortalidade é, no mínimo, estranha.
A propósito: quais seriam as manchetes da mídia no Brasil se o
Ministério da Saúde tivesse zerado os óbitos por gripe suína, como nos
Estados Unidos, ou maquiado a realidade, como talvez tenha acontecido
no México?