Os Estados Unidos podem. Rússia, Inglaterra, França, Alemanha, China, Índia e Paquistão podem. Israel pode. Agora, até a Coréia do Norte já está podendo. Por que, então, o Irã não pode desenvolver a tecnologia nuclear?
Entretanto, a ONU acaba de impor sanções ao Irã, sob o argumento de que, se o número de países que dominam a tecnologia nuclear aumentar, o risco do seu uso para fins militares aumentará muito.
Não deixa de ser verdade, mas não responde à questão colocada no início. O que se pergunta é: qual a justificativa moral para impedir um país de desenvolver a tecnologia nuclear, quando não há sanção alguma contra países que mantêm arsenais de bombas atômicas? Em boa lógica, o risco de uso indevido dessa perigosa tecnologia só seria afastado se todos os países fossem proibidos de ter a bomba. Fora dessa impensável solução, a restrição ao Irã é injusta e só foi tomada pela ONU por imposição dos Estados Unidos.
Por isso, quem estiver interessado em saber por que o Irã não pode desenvolver a tecnologia nuclear não tem mais nada a fazer senão verificar o interesse norte-americano no Oriente Médio. Não precisará pesquisar muito. Qualquer menino do mundo árabe dará a resposta com uma só palavra: petróleo.
O petróleo, como todos sabem, está acabando e as maiores reservas conhecidas estão no Oriente Médio. Logo, quem dominar militarmente a região não corre o risco de ficar sem petróleo ou de pagar muito por ele.
Não por outra razão, Israel, o único país em que os Estados Unidos confiam na região (os Emirados Árabes são aliados, mas não são confiáveis), possui a bomba, porém jamais a ONU enviou inspetores para fechar as instalações, como fez com o Iraque, antes da invasão norte-americana, e quer fazer agora com o Irã.
Isso demonstra como a prepotência dos países militarmente fortes enxovalha os critérios de eqüidade e justiça e desqualifica a ONU como instância de mediação de conflitos entre nações.
A fim de cumprir a resolução da ONU, o governo brasileiro já determinou a proibição da venda de matérias-primas requeridas para o enriquecimento do urânio.
É triste ver nosso país curvar-se a essa imposição e apressar-se em decretar sanções contra uma nação com a qual sempre mantivemos boas relações. Mais triste ainda vermos a Venezuela, bem menor e mais fraca, responder com um sonoro Não à imposição norte-americana, fantasiada de consenso universal.
Fonte: correio da cidadania