sábado, 2 de junho de 2007

SERES OU RESES

Amazônia Privatizada

Laerte Braga


Uma proposta de "parceria" para a conservação da floresta Amazônica vai ser apresentada na próxima reunião do G-8. O presidente Luís Inácio Lula da Silva vai estar presente e a proposta fecha o que foi decidido na 7º Sessão do Fórum das Nações Unidas sobre Florestas.

Tasso Azevedo, presidente do Serviço Florestal Brasileiro, defende a idéia de gestão múltipla para a "conservação" da floresta. A divisão do IBAMA, ao contrário do alegado pelo governo, reduziu a burocracia que estaria, supostamente, entravando a construção de hidrelétricas na região, atende aos interesses internacionais de privatização da Amazônia.

A Lei de Gestão de Florestas, que criou o Serviço Florestal Brasileiro, faz parte do plano que envolve o governo brasileiro, o USAID e o Banco Mundial. O projeto Iniciativa para Conservação da Bacia Amazônica, gerido pelo USAID, é o primeiro plano estratégico para Região e foi montado em abril de 2005.

Os resultados até hoje estão no documento "DESENHO, ATIVIDADES PROPOSTAS E RESULTADOS ESPERADOS", divulgado pelo USAID em janeiro deste ano.

Cinco "consórcios" envolvendo ONGs e outras instituições selecionadas pelo Departamento de Estado norte-americano foram criados para implantar a estratégia. Os cinco consórcios são liderados pela Wildlife Conservation Society e vão atuar no Sudoeste da Amazônia, Peru e Bolívia.

O Instituto Internacional de Educação do Brasil vai atuar no sul do estado do Amazonas e na parte brasileira - a maior - da floresta. The Nature Conservancy lidera nove organizações internacionais que vão buscar o "fortalecimento" das populações indígenas.

Outras organizações como a Universidade da Flórida e o International Resources Group participam do projeto que até o final deste mês deve definir as linhas gerais para os próximos anos.

O Serviço Florestal Brasileiro, criado pela Lei de Gestão Florestal, camufla a privatização e governo mútuo da Floresta Amazônica. Na prática, aceita a intervenção internacional e transforma a Amazônia brasileira numa área mundial, governada por vários países do mundo através das Nações Unidas, fachada para o USAID, agência norte-americana para o "desenvolvimento".

O documento com todos os pormenores da operação Amazônia Internacional está disponível no endereço: http://www.blogdoalon.com

O governo Lula é parceiro desse projeto.



Laerte Braga é jornalista. Nascido em Juiz de Fora, trabalhou no Estado de Minas e no Diário Mercantil.

RCTV desmascarada....

Grande CHE!!!

Che, militante da justiça


Frei Betto


Neste ano, comemoram-se 40 anos da morte de Ernesto Che Guevara nas selvas da Bolívia. Nascido em Rosário, Argentina, a 14 de junho de 1928, foi capturado e assassinado, a 8 de outubro de 1967, aos 39 anos de idade.

Filho de um renomado arquiteto, Guevara, ainda adolescente, percorreu 4.700 km de estradas argentinas em sua bicicleta e, mais tarde, viajou por quase toda a América Latina em companhia de seu amigo Alberto Granados, quando conheceu a miséria do continente. Esta fase está magnificamente documentada por Walter Salles no filme “Diários de motocicleta” (2004).

Formado em medicina, em 1953 Che foi para a Venezuela, onde se dedicou à pesquisa da cura da hanseníase. Em dezembro do mesmo ano transferiu-se para a Guatemala. Ali, o governo progressista de Jacobo Arbenz implantava a reforma agrária, à qual ele se integrou. No ano seguinte, um golpe militar patrocinado pelos EUA derrubou o presidente Arbenz e obrigou Guevara a se mudar para o México, onde chegou a 21 de setembro de 1954.

Na Cidade do México, conheceu a peruana Hilda Gadea Acosta, com quem se casou e teve uma filha, Hildita. Para sobreviver no México, Che trabalhou de fotógrafo ambulante e vendedor de livros. Através de concurso, ingressou num hospital como médico de doenças alérgicas, onde conheceu o paciente Raúl Castro.

Em meados de 1955, Raúl convidou-o ao apartamento de Maria Antonia Figueroa, onde os exilados cubanos se reuniam, e apresentou-o a seu irmão, Fidel. Ali se tramava a expedição do iate "Granma", que levaria à Cuba os guerrilheiros decididos a libertá-la da ditadura de Batista. Após desembarcar em Cuba em dezembro de 1956, Che ingressou como médico na guerrilha de Sierra Maestra, da qual se tornou Comandante. Vitoriosa a Revolução, a 1º de janeiro de 1959, exerceu importantes funções no Governo Revolucionário. Em Havana, casou-se com Aleida March, com quem teve quatro filhos.

Em 1961, foi condecorado com a Ordem do Cruzeiro do Sul, em Brasília, pelo presidente Jânio Quadros. Cinco anos depois abandonou Cuba para lutar no Congo Belga. Ali permaneceu até março de 1966. Após passar por Praga, Frankfurt, São Paulo e Mato Grosso do Sul, disfarçado de executivo da OEA e sob o nome de Adolfo Mena, ingressou na Bolívia em novembro de 1966, disposto a acender o estopim que libertaria toda a América do Sul.

O que marca a vida de Che é a utopia revolucionária. Em 1952, aos 24 anos, ao percorrer o Chile, a 12 de março chegou ao povoado de Baquedano, rumo às minas de cobre de Chuquicamata. Convidado a hospedar-se em casa de um casal de mineiros, impressionou-se com o que viu e ouviu: à luz de velas, o jovem trabalhador narrou-lhe os três meses que passara na prisão junto com sua mulher; a solidariedade dos vizinhos que acolheram os filhos; os companheiros misteriosamente desaparecidos e dos quais se dizia terem sido atirados ao mar... À hora de deitar-se, Guevara percebeu que o casal não tinha manta para cobrir-se do frio. Cedeu a que trazia consigo e, mais tarde, recordaria que, naquela noite, malgrado seu corpo enregelado, sentiu-se irmão de todos os oprimidos do mundo.

Em junho, chegou ao Peru, em companhia de seu amigo Alberto Granado. No dia 7, foram ao leprosário de San Pablo, junto aos rios Yaveri e Ucayali. Ficaram desolados ao ver que ali viviam famílias de enfermos sem roupa, alimentos e remédios. Trataram delas com os poucos recursos de que dispunham e, à hora de partir, foram surpreendidos com um show organizado pelos próprios hansenianos, que cantaram ao som da música de violões, flautas, saxofone e bandoleón.

Quando Fidel e Che se conheceram na Cidade do México, o líder do Movimento 26 de Julho iniciava seu exílio após sair da prisão em Cuba, em decorrência do fracasso do assalto ao Quartel Moncada, em Santiago de Cuba. A conversa entre os dois mudaria para sempre o rumo da vida do jovem argentino, pois os guerrilheiros cubanos andavam à procura de um médico que pudesse acompanhá-los à Sierra Maestra.

Em plena onda neoliberal que assola o planeta, a figura de Guevara emerge como alento de esperança e exemplo a todos que, como ele, acreditam que - como escreveu à sua filha Hilda, ao despedir-se de Cuba - enquanto houver uma só pessoa faminta, oprimida, excluída, é preciso seguir lutando.

Se a atual conjuntura exige outras formas de luta diferentes das adotadas por Che, é inegável que a causa de sua opção revolucionária - a clamorosa miséria da população da América Latina – infelizmente segue aumentado. Daí o imperativo ético que se impõe àqueles que priorizam em sua vida uma radical entrega à construção de um futuro onde todos possam partilhar, como irmãos, "os bens da Terra e os frutos do trabalho humano", como rezam os cristãos na eucaristia.

Com muita razão disse-me Fidel em maio de 1985, "se Che fosse católico e pertencesse à Igreja, teria todas as virtudes para que se fizesse dele um santo." Suas virtudes e a força moral de seu exemplo justificam a veneração que em todo o mundo se nutre por ele.

Só um homem de muita grandeza moral seria capaz de escrever isto: "Deixe-me dizê-lo, sob o risco de parecer ridículo, que o verdadeiro revolucionário é guiado por grandes sentimentos de amor. É impossível imaginar um autêntico revolucionário sem esta qualidade. (...) É preciso lutar todos os dias para que esse amor à humanidade existente se transforme em fatos concretos, em atos que sirvam de exemplo e mobilizem" (Che, "El Socialismo y el hombre en Cuba", Editora Politica, La Habana, 1988).


Frei Betto é escritor, autor de “Entre todos os homens” (Ática), entre outros livros.

Por que é preciso malhar Chávez?

Por que é preciso malhar Chávez?



A mídia passou a semana desancando o presidente Hugo Chávez por não ter renovado a concessão de um canal de televisão. A Constituição Venezuelana o autoriza a tomar essa decisão. Se ela tivesse sido ilegal, a Justiça do país a teria anulado, mas não há notícia de que isto tenha acontecido.

Então, por que acusar o presidente de agressão à liberdade de expressão?

Por um motivo muito simples: como a Constituição Brasileira contém dispositivo semelhante ao da lei magna venezuelana, convém prevenir o risco de que algum presidente, algum dia, tenha coragem de pô-lo em prática. Daí a necessidade de gerar na opinião pública a convicção de que as televisões são intocáveis. Qualquer intervenção dos poderes públicos em suas atividades precisa ser considerada anti-democrática, de plano - independentemente da verificação dos seus motivos. Além disso, nada como prestar um bom serviço aos amos norte-americanos, que estão buscando pretextos para fazer uma agressão "democrática" à Venezuela, cujas reservas de petróleo não são nada desprezíveis.

Jornais e telejornais estão cheios de fotos, filmagens, declarações e entrevistas contra a não renovação da concessão, mas não se divulgou nada mais substancioso sobre o criminoso comportamento dessa rede no golpe que a direita tentou dar no governo Chávez.

Para as oligarquias latino-americanas, a televisão presta um extraordinário serviço, pois consegue, com uma enorme eficácia, provocar divisão e confusão entre as classes populares. Para o imperialismo, substitui as antigas e custosas tropas de ocupação. Por isso, a televisão é tão poderosa e tão amparada pelos políticos do sistema dominante.

Contudo, não há reforma política mais necessária em toda a América Latina do que a quebra do monopólio das principais televisões, todas ligadas aos interesses do grande capital nacional e estrangeiro. Esses poderosíssimos veículos de comunicação, além de desinformarem a população e de promoverem a penetração dos anti-valores e da amoralidade da indústria cultural norte-americana em nossos países, constituem uma devastadora arma de destruição de imagem, a serviço das classes dominantes.

No caso venezuelano, o uso dessa arma atingiu um verdadeiro paroxismo. Qualquer viajante que tenha passado por Caracas é testemunha da escandalosa campanha que a Radio Caracas Televisão (RCTV) desfechava contra Chávez.

Dizia o velho governador Miguel Arraes que nenhuma reputação, por mais sólida que fosse, resistiria a quinze minutos de uma barreira de calúnias na televisão. Pode-se entender, portanto, que a maioria dos políticos brasileiros, cujas reputações não primam nem um pouco pela solidez, fujam, como diabo da cruz, da responsabilidade de acionar o dispositivo constitucional que obriga o Estado a fazer uma verificação rigorosa acerca do cumprimento dos requisitos estabelecidos em lei para aprovar as concessões de canais televisivos.

Mas o gesto do Senado, aprovando moção contra Chavez, já é demais. É caprichar na subserviência.

Fonte: correio da cidadania

Só vale para a Venezuela???

EUA já cassaram 141 concessões desde 1934, segundo jornalista chileno

Renato Rovai

O leitor que acompanha este blog sabe dos meus questionamentos a respeito de como se deu o processo de não-renovação da concessão da RCTV. Acho que o governo Chávez comete o mesmo erro de outros governos ao agir apenas politicamente no trato do direito à comunicação. Mas quando digo faz exatamente como outros governos, não é só força de expressão.

Acabo de ler uma entrevista do presidente do Colégio de Periodistas do Chile, Ernesto Carmona, em que ele diz que nos EUA a FCC, sigla da Administração Federal das Comunicações, órgão regulador que existe desde 1934, já teria fechado 141 emissoras de televisão. Entre elas 101 que não tiveram suas concessões renovadas e outras 39 que foram cassadas antes mesmo do vencimento da licença. Nesta conta, falta uma. Vamos seguir com essa apuração.

Também diz na mesma entrevista que foram revogadas recentemente concessões de emissoras no Perú, Canadá e no Reino Unido. E lembra que nesses casos a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) não protestou.

Para o meu gosto, o fato de os EUA terem feito isso não significa que outros países devem fazer também. Mas isso revela como essa defesa da liberdade de imprensa só seve para a Venezuela e governos não-alinhados ao modelo neoliberal. É mero discurso de ocasião para certas pessoas. Não tem nada a ver com liberdade nem com imprensa. Algo que para este blogueiro precisam ser defendidas de forma radical. E que por esse mesmo motivo o faz não concordar com o modelo Chávez de comunicação. Não gosto de estatização em comunicação. Acho que basta uma TV para fazer esse papel. Prefiro que empresários, movimentos sociais, ONGs etc, façam TV em vez de governos. Mas essa é uma outra história.
Fonte: Blog do Rovai

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Grande Vandré!!!!!! Aroeira-1967

Rede Globo: Não à concessão!

Por que a Globo é golpista

A mesma Globo que denuncia a 'censura' de Chávez contra a RCTV, contraditoriamente acionando o ideal democrático e desconsiderando o papel golpista da emissora, não defendeu a democracia quando o venezuelano foi deposto em 2002. Vale relembrar esses momentos.

Seria pueril, se não fosse ameaçador. Seria mais um inusitado registro do teatro do absurdo, com sua habitual ironia, se não se tratasse de texto jornalístico sobre uma emissora que teve papel central na história recente da Venezuela. Mas Déborah Thomé, interina da coluna Panorama Econômico, do Globo, foi de um didatismo exemplar na edição de terça-feira, 7/5. Para ela, "Chávez acusa o canal de ter participado da tentativa de golpe em 2002 - acusação, aliás, verdadeira, mas que não justifica tal medida censora". Ao que parece, uma emissora televisiva não só se autonomiza do poder concedente como a ele se sobrepõe. Esse é o pilar da democracia admitida pela família Marinho.

Melhor, impossível. Mais que um deslize de estilo, estamos diante da reiteração de política editorial. A jornalista mostra que aprendeu o receituário da corporação que lhe paga o salário. Um arrazoado onde os princípios democráticos (igualdade, diversidade e participação), por não serem compatíveis com organizações monopolísticas e a otimização de seus ganhos, devem ser relativizados, a ponto de um golpe de Estado ser um pecado menor.

A decisão do presidente Hugo Chávez de não renovar a concessão da Radio Caracas Televisión (RTVC) é respaldada por preceitos constitucionais e os procedimentos administrativos realizados, em momento algum, feriram os princípios básicos do Estado Democrático de Direito. Mas a doxa midiática é samba de uma nota só: a cada movimento, segundo articulistas e editores, o presidente venezuelano se afasta da democracia. Será mesmo? Não é o caso de questionarmos a narrativa dominante com fatos históricos recentes? E à luz dos cenários que se abrem, indagar: quem são, efetivamente, os golpistas da América Latina?

Nesse quadro cabe, também, perguntar aos altos cargos das Organizações Globo: o Brasil, no campo jornalístico, seria substancialmente distinto da Venezuela? Em um país onde a imprensa sempre endossa retrocessos políticos, o que esperar dos barões da mídia em caso de mudanças efetivas? Abririam mão do projeto autoritário de serem a únicas instâncias de intermediação entre Estado e sociedade? Aboliriam a semântica que define como populista quem não se submete aos ditames do mercado? Deixariam de condenar qualquer tentativa de comunicação direta com as massas? Ao fazê-lo, removeriam a confusão deliberada entre manifestação carismática e demagogia de algibeira? Ora, não há inocentes: a mídia, tal como estruturada hoje, é incompatível com uma institucionalidade que não seja moldada aos seus interesses político-empresariais. A lógica, repetimos, que maximiza seus lucros não sobrevive sem déficit democrático. O espetáculo abomina a práxis. E a Globo tem horror à democracia.

A manutenção do sistema de alianças que assegura a ordem vigente é a principal tarefa do sistema comunicacional. Em caso de crise aguda, a "nossa Venezuela" aflora rapidamente. Ou alguém acha que a ação da mídia venezuelana na tentativa de deposição de Hugo Chávez, em abril de 2002, é algo restrito à fragilidade institucional daquele país? Quem assistir ao documentário ‘A revolução não será televisionada’, filmado e dirigido pelos irlandeses Kim Bartley e Bonnacha O’Brien, verá que há mais similitudes entre Caracas e Brasília do que imagina um editorialista da Globo. As cruzadas das emissoras Venevisión, Globovisión e RCTV são assustadoramente familiares.

As imagens, usadas como justificativa para o golpe, de um grupo de militantes chavistas supostamente atirando em manifestantes numa ponte, são emblemáticas. A edição ampliada mostra o oposto: os apoiadores do presidente respondem ao fogo de franco-atiradores que disparavam contra a multidão. Mantidas as proporções, não há como não lembrar das trucagens empregadas pela TV Globo, após o atentado ao Riocentro, em 1981. No Jornal Nacional, uma das bombas mostradas no carro dos militares no telejornal da tarde sumiu. E, até hoje, ninguém sabe, ninguém viu.

Quando as multidões foram às ruas exigir o retorno de Chávez ao poder, as empresas golpistas ignoraram as manifestações. Quem viveu a ditadura militar sabe da capacidade da emissora monopolista de promover extermínios imagéticos de grande escala. Claro que, ao contrário de vários articulistas, não confundo formações sociais distintas. Brasil e Venezuela têm conjuntos históricos intransferíveis, relações de poder matizadas por clivagens completamente diferentes, mas em três coisas se assemelham: no grau de exclusão, na truculência de suas classes dominantes e na capacidade de prestidigitação de seus aparelhos ideológicos. Os franco-atiradores antidemocráticos são os agendáveis dos conceituados colunistas tanto aqui como lá

Mas quem pensa que a solidariedade se esgota aqui, está redondamente enganado. Se voltarmos no tempo, veremos que a Globo comemorou a tentativa de deposição de Chávez. Não houve análise, houve regozijo. Para os que suspeitam que fazemos ilações quando falamos da vocação golpista do canal cevado na ditadura militar, reproduziremos, tal como fizemos há 5 anos, o que disseram três profissionais da emissora, no dia 12/4/2002. Quem assistiu aos telejornais da Globo teve uma bela aula do papel da mídia como " alicerce da democracia". Os que não assistiram terão as evidências empíricas que tanto reclamam.

Hugo Chávez havia sido deposto e o poder entregue ao empresário Pedro Carmona, presidente da entidade patronal Fedecámaras. Era o suposto fim de mais um governo que fez da soberania nacional seu projeto. Da América Latina, sua prioridade. E que, encarnando aquilo que Gramsci chamaria de "cesarismo progressivo", pôs no lixo da história as agremiações tradicionais (Ação Democrática e Copei) e as oligarquias que se refestelaram de petrodólares, sem reinvestir no país um centavo sequer.

O Jornal Nacional, naquela ocasião, não era econômico em seu entusiasmo: "’Num pedaço do mundo onde a democracia ainda é uma experiência recente, Hugo Chávez e Fernando de La Rúa frustraram milhões de eleitores em seus países com promessas que não poderiam cumprir. Que sirva de alerta aos brasileiros neste ano de eleição’, recomenda o cientista político Fernando Abrúcio, em São Paulo. ‘É bom lembrar que é preciso colocar a democracia no lugar do salvacionismo. Mas tem que resolver a questão econômica e social, talvez com mais paciência e menos demagogia. O terreno é fértil para um discurso de salvação fácil. Mas é preciso evitar esse discurso, porque a resposta do salvacionismo não leva a uma melhor situação no Brasil, na Argentina ou na Venezuela’". Lembremos que Abrúcio (um dos analistas diletos da emissora) alertava contra a candidatura Lula. Um golpe pegava carona no outro. Tudo como manda a democracia da tela, feita para ser vista, jamais para ser vivida.

Arnaldo Jabor, definido magistralmente pelo cartunista Jaguar como o "único rebelde a favor que se tem notícia", compareceria com sua bufonaria habitual: "Eu ia dizer que a América Latina estava se ‘rebananizando’, com o Hugo Chávez no seu delírio fidelista, com a Colômbia misturando guerrilha e pó, abrindo a Amazônia para ações militares americanas e com a Argentina legitimando o preconceito de que latino não consegue se organizar. Os norte-americanos não conseguem nos achar sérios e democratas. É mais fácil nos rotular de incompetentes e ditatoriais. Mas aí, hoje, o Chávez caiu. Só que os militares entregaram o governo a um civil democrata. Talvez a América Latina tenha entendido que a idéia de romper com tudo, do autoritarismo machista, só dá em bananada. Temos que nos defender, sim, da atual arrogância imperial americana. Mas a única maneira será pela democracia radical. Por isso acho boa notícia a queda do Chávez. Acordamos mais fortes hoje e eu já posso ‘desbananizar’ a América Latina. Para termos respeito da América e do mundo temos de ser democráticos. Tendo moral pra dizer não". Ignoramos o que houve com a banana de Jabor após o retorno de Chávez. Ao contrário do monolitismo do discurso autoritário, são diversos os usos que se pode fazer da fruta.

Quer dizer que os militares haviam entregado o governo a um civil democrata? O empresário Pedro Carmona dissolveu o Congresso, destituiu todos os integrantes da Suprema Corte e ganhou mecanismos para dissolver os poderes constituídos em todos os níveis. Mas a desfaçatez do jornalismo global não tem limites como revela o diálogo entre a então apresentadora Ana Paula Padrão e o jornalista William Waack, no Jornal da Globo, o mesmo que aparece hoje sempre com expressão contrafeita ao comentar qualquer fato envolvendo o atual governo:

"– William, Chávez deu muito trabalho aos Estados Unidos. Bush deve estar comemorando, não?

– Ana Paula, as posições do ex-presidente venezuelano de fato irritaram os americanos. Há insistentes comentários de que Chávez gostava de se meter na política dos países vizinhos. E parece que além de apoio político, nada discreto, Chávez teria dado facilidades militares aos guerrilheiros colombianos das Farc, que escaparam de alguns cercos do exército colombiano fugindo pela fronteira da Venezuela.

– William, para o restante da América Latina, que significado tem a queda de Chávez?

– Ana Paula, o estilo mandão de Chávez prova que a era do populismo não funciona, e olhe que ele tinha um formidável caixa para distribuir, devido ao fato de a Venezuela ser um grande produtor de petróleo. Na verdade, Chávez prova uma lição que o restante da América do Sul aprendeu já há algum tempo: quem trata a democracia como ele tratou, desrespeitando instituições e preferindo mandar com a bota em vez de dialogar, não deve ficar espantado ao ser varrido do poder."

Em suma, nunca a Globo se mostrou tão venezuelana como naquela noite. Nunca interpretou tão bem seu papel de protagonista da globalização neoliberal na periferia. Poucas vezes foi tão explícita em esmagar a cidadania usando seu poder de mídia. Desde aquele doze de abril, golpismo deixou de ser um termo genérico. Na TV Globo, como vimos, tem nomes, sobrenomes e profissões conhecidas.

O que nos resta, como democratas, ante a nova ofensiva midiática contra o presidente venezuelano? Juntarmo-nos aos que lutam por uma nova ordem informativa e prestar incondicional solidariedade a Hugo Chávez. Isso é o mínimo.


Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, e colaborador do Jornal do Brasil, Observatório da Imprensa e La Insignia.

Fonte:AgenciaCartaMaior

quinta-feira, 31 de maio de 2007

Velho Raul Seixas!!!!

Maluco Beleza

Os governos...

Govender

Emir Sader

Governar já foi definido como “fazer estradas”. Mais recentemente, governar parece ser “vender”. Essa compreensão teve Woodrow Wilson quando afirmava, na véspera da decidir pela entrada dos EUA na primeira guerra, que a “democracia de empresa” deveria ser um instrumento para “estabelecer um novo padrão de comércio que resultasse atraente para os consumidores”. Desenhava-se o projeto de hegemonia estadunidense no mundo, casando a arte de governar com a arte de vender. Paralelamente se gestava o fordismo, com suas modalidades de produção em massa, homogenizando os gostos:

“Deixem que vossas mentes e vossa imaginação percorram o mundo inteiro e, inspirados pela idéia de que são americanos e estão destinados a levar a liberdade e a justiça e os princípios da humanidade onde quer que viajem, vão e vendam aqueles produtos que farão do mundo um lugar mais cômodo e mais feliz e convertê-lo aos princípios da América.”

Não poderia haver um enunciado mais típico da modalidade imperial estadunidense, juntando o chamado “destino manifesto” com a “sociedade do consumo”. Apoiava-se nisso também a visão dos EUA segundo a qual a democracia repousaria em hábitos comuns. Estender a democracia pelo mundo afora representaria estender os estilos estadunidenses de vida e de consumo, fazendo deles o modelo universal de “progresso”, de “bem estar”, de “tecnologia”.

Ao abordar a o triunfo da sociedade de consumo estadunidense sobre a civilização européia, a ensaísta Victoria de Grazia, em seu último livro, “O império irresistível”, fala da ascensão do novo império como o de um “grande empório”, característico do império do mercado. Cujas fronteiras só estão limitadas pela ambição insaciável das grandes corporações, cuja expansão promove a conversão de tantos lugares tão diversos ao estilo de vida estadunidense. Não havia apenas uma vocação imperial e opressora do ponto de vista econômico, político e militar, mas também no dos estilos de vida. “Eficiência”, “progresso”, “serviço” – passaram a ser o seu léxico fundamental.

A derrota do Japão - que incluiu duas bombas atômicas e a ocupação militar do país por vários anos – confirmou para os estadunidenses sua “vocação” universal, conquistando um aliado fundamental, originário de cultura absolutamente distinta da sua.

Uma convergência estratégica entre o produtor de cinema de Hollywood, o vendedor de automóveis e os agregados comerciais do Departamento de Estado ou do Departamento de Comércio dos EUA foi a base do projeto ideológico dos EUA. Liberdade passava a ser identificada com liberdade de consumo, privilegiando o mercado e o egoísmo como valores essenciais. O sistema de criação de estrelas de Hollywood, as marcas, a publicidade, o super-mercado e o shopping center – foram elos do novo modelo hegemônico. A visão de sua hegemonia como consenso dos consumidores passou a comandar o expansionismo estadunidense e fortalecer-lhe os motivos do destino manifesto. Para isso o cidadão teve que ser redefinido como consumidor, o Estado substituído pelo mercado, os direitos pela competição, a igualdade pelo sucesso.

O triunfo do campo ocidental na guera fria trouxe consigo a vitória de uma determinada concepção do mundo, a que considera a liberdade como a possibilidade de escolher entre estilos de vida diferentes. O consumidor passou a ocupar o lugar do cidadão, o governo passou a representar a arte de vender: vender uma imagem do governo, vender o país, vender ilusões.

Democratizar, em oposição, significa desmercantilizar, subtrair da esfera mercantil para incluir na esfera pública, universalizar direitos. Reconhecer direitos iguais para todos, promover os que têm menos possibilidade de acesso a eles, exatamente o contrário do mercado, da venda e da compra, do custo/benefício.


Rock Balboa, o pesadelo americano

Decadência do ex-garoto propaganda do imperialismo dos EUA transforma despedida do "Garanhão Italiano" num show deprimente

É chocante testemunhar nas telas a decadência, tanto física quanto artística, do canastrão Sylvester Stallone. O brutamontes, que outrora foi um dos mais orgulhosos garotos-propaganda das políticas imperialistas de extrema-direita dos EUA nos cinemas, transformou-se hoje em um sessentão perdido e esquecido até mesmo por aqueles cuja ideologia fascista ajudou a vender mundo afora com filmes execráveis como Rambo II e III ou Cobra.

Sem muitas opções para tentar recuperar o velho prestígio e os milhões de dólares que já deve ter torrado, resolveu ressuscitar o personagem do boxeador Rocky Balboa, que lhe rendeu um inacreditável Oscar de melhor filme em 1976 (para ver como devemos levar a sério esse tipo de premiação da indústria cinematográfica estadunidense), dividendos generosos e uma série com cinco filmes progressivamente piores.

Nessa suposta despedida do "Garanhão Italiano" (nunca diga nunca em Hollywood, que ninguém fique surpreso se amanhã aparecer um Rocky no Espaço), Stallone não tem muito o que fazer, exceto passar metade do filme repetindo o mote do bobo-bonzinho que deu o tom aos dois primeiros filmes da série. Isso antes de Rocky virar o "Rambo dos Ringues" na parte IV, no qual chega a desbancar, sempre enrolado na bandeira dos EUA, um monstruoso boxeador soviético - quanta gente até hoje tem ódio de comunistas e acredita no "sonho americano" (que para o próprio Stallone já virou pesadelo) por causa de filmes-panfletos ridículos como aquele?

Já na parte final, repete as manjadas seqüências de treinamento e da luta propriamente dita, agora contra o atual campeão mundial de boxe (30 anos mais jovem), interpretado por um sujeito franzino e sem graça que de peso-pesado não tem nada. De tão inverossímil, tudo acaba ficando até desfrutável. Ao menos a música do veterano Bill Conti continua empolgante, embora reciclada. Afinal, Stallone sabe como manipular sua platéia, injetando altas doses de sacarose (nas lamentações à esposa morta e no seu indefectível olhar de peixe-morto) e de frases feitas dignas do que existe de pior na literatura de auto-ajuda (principalmente no relacionamento entre pai e filho) que seriam intragáveis, não fosse a sua sinceridade macarrônica - o ator/diretor/roteirista realmente tem fé naquilo tudo, coitado!

Mas acima de qualquer outra coisa, impressiona e deprime a presença física do ator completamente deformado e inchado (provavelmente pelo excesso de anabolizantes ingeridos durante sua vida), o que acaba transformando "Rocky Balboa" num show triste e melancólico, de fim de carreira mesmo - no pior sentido que o termo possa significar. Chegou a me provocar lágrimas, confesso. Afinal, em tempos de adolescente alienação e ignorância, eu também torcia todo empolgado pela vitória dos Rambos e Rockys da vida em favor do "american way of life"... Felizmente, hoje em dia, essa ladainha não convence mais ninguém. Ou será que convence?

Sem dúvida, um triste fim que vai ficar ainda mais lamentável depois que o "astro" lançar o quarto capítulo da saga do Rambo que já está sendo filmando - outro personagem que ele vai ressuscitar, mas que teria ficado melhor morto e enterrado para o bem da humanidade.

André Lux, jornalista e crítico de cinema (http://tudo-em-cima.blogspot.com/)