sábado, 23 de junho de 2007


Cidadania e a imagem da mulher na TV brasileira



Inês Virginia Prado Soares


No final de março deste ano, diversas ONGs e associações ligadas ao movimento defesa das mulheres ingressaram, em São Paulo, com uma representação na Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC) do Ministério Público Federal. A denúncia é de que a programação televisiva, de modo geral, não retrata a imagem da mulher na perspectiva da diversidade feminina, o que contribui para a manutenção e o fortalecimento de situações discriminatórias.

A partir dessa denúncia, a PRDC realizou no auditório da Procuradoria da República/SP, em 23/04, uma audiência pública que contou com a presença das emissoras de TV brasileiras e diversos segmentos da sociedade civil, principalmente ligados aos movimentos em defesa dos direitos das mulheres. Da audiência ficou combinado que as emissoras, separadamente, receberiam um Comitê de mulheres para o assunto da imagem da mulher na TV brasileira. Após esse encontro com as emissoras, que se deu no curso no mês de maio, as partes voltaram a se reunir no Ministério Público Federal no dia 14/06. Essa reunião teve um tom menos cordial que as outras e um dos principais motivos desse tom foi a completa ausência de aceitação, por parte das emissoras, de qualquer mudança na programação, com a finalidade de atender o pleito do movimento feminista.

Sob o manto da liberdade de expressão e do repúdio à censura, as emissoras de TV firmam a visão absolutamente equivocada de que o concessionário pode criar demandas e necessidades, bem como justificar a desigualdade, conformando e perpetuando situações injustas. Na fala das emissoras em relação à mudança da programação televisiva para retratar as mulheres brasileiras dentro da realidade de nosso país, não existe a percepção de que a concessão pública que lhes foi outorgada tem forte responsabilidade social e deve ter como finalidade principal a transmissão de entretenimento e informação aos telespectadores de acordo com os anseios da sociedade e não dos grupos dominantes e dos interesses dos anunciantes.

Para quem assiste a programação existe o direito cultural de ver veiculado um conteúdo que respeite as diferenças e a diversidade e que promova os valores sociais e culturais importantes para a redução das desigualdades entre os sexos. Por isso, para a efetividade do direito cultural da sociedade, é preciso que haja acesso e liberdade do público. Essa liberdade não pode ser reduzida à mudança do canal de TV na tentativa de encontrar uma programação mais adequada e menos discriminatória.

Para a construção da igualdade material, o telespectador tem direito de ver transmitidas programações que tragam valores que atendam aos vários setores da sociedade. Tem, também, direito de não ver a imagem das mulheres ser reproduzida ou criada totalmente em desacordo com a realidade, como acontece com a imagem das mulheres na TV brasileira. Claro, que o dever de implementação e resguardo desses direitos cabe ao Estado e às emissoras de televisão.

Inês Virginia Prado Soares é Procuradora da República em SP, Procuradora Regional dos Direitos do Cidadão Substituta e Presidente do IEDC- Instituto de Estudos “Direito e Cidadania”.

Conceitos dinâmicos de propriedade
José Rodrigues
Dos flanelinhas que defendem seus "pontos" nas vias públicas, ao Império Romano, ou dos traficantes, que exploram "bocas" com exclusividade, aos domínios da Microsoft, permeia a propriedade. Os fisiocratas do Século XVIII, com Quesnay e Turgot, afirmavam que toda a riqueza provinha da natureza, enquanto para Adam Smith (1723-1790), da escola liberal, a riqueza resulta do trabalho.A Revolução Francesa, deflagrada um ano antes da morte do iluminista Adam Smith, viria revolucionar tanto a propriedade quanto o trabalho, transformando-se em inspiração para outras revoluções e, mais tarde, de várias constituições de países. A tese espírita da propriedade foi anunciada menos de um século depois, de caráter absolutamente universal e talvez por isso venha a manter-se com atualidade, sem tempo para ser esgotada. Sua leitura em O Livro dos Espíritos, mesmo assim, parece ter um fulcro do tempo em que foi exposta, ou seja, a propriedade como algo material, no conceito econômico, infungível. Ocorre que tempos posteriores conheceriam novos entendimentos sobre bens, com mudanças de curta duração.No tempo mais recente, os conceitos de propriedade intelectual e sua derivação virtual, ganham importância nas defesas de seus autores. O valor do saber, do conhecimento, surge vantajoso na competição, enquanto as questões ambientais, sequer sonhadas pelos Espíritos dos meados do Século XIX, avolumam-se, com repercussões econômicas indiscutíveis. De fato, qualquer tese que queira ser moderna não pode prescindir de duas componentes: a melhor repartição da riqueza e a sustentabilidade do ambiente. Por sequência, uma fórmula química, uma partitura, um trabalho de pesquisa, em qualquer campo, são propriedades pessoais ou empresariais, que podem ser disponibilizados a gosto de seus autores, de graça ou a troco de dinheiro.Mais à frente, o fenômeno Bill Gates, dono da Microsoft, criou valores, com base no campo virtual, que assustam aos proprietários de bens físicos. Essa empresa tem um valor de mercado( US$ 60 bilhões) equivalente a oito vezes seu balanço contábil. Valores de portais na net, alguns recentemente criados por jovens quem não usam paletó ou gravata, assumem grandezas extraordinárias, tudo pelo seu potencial de comunicação, paradoxalmente, sobre algo mutável no essencial, "que não existe", diria, o mundo virtual.O desafio de legitimar essa "propriedade" é o mesmo aplicado a bens físicos, usuais ao tempo de Kardec (1804-1869). Mas, de certo modo, aquela propriedade só existe se for constantemente mutável, resultado da corrida do saber e da tecnologia. Daí, a rápida obsolescência dos aplicativos e programas de informática, bem como dos respectivos equipamentos. Digamos que nós, consumidores, é quem legitimamos a propriedade em torno do mundo virtual.As questões ambientais, que tendem a crescer, surgem como novo aditivo em termos de propriedade e sua legitimação. Os Espíritos cravaram que legítima é a propriedade adquirida sem prejuízo para os outros. O ingrediente da sustentabilidade (as ações produtivas devem garantir o bem-estar de gerações futuras) é uma exigência econômica de vulto, tanto que nações como os Estados Unidos se recusam a assinar o Protocolo de Kyoto, regulador de emissões de gás carbônico para a atmosfera. Vale dizer que uma ação econômica que não respeite o ambiente, segundo os padrões agora exigidos, colidirá com a tese dos Espíritos.Sobre a renda, há uma discussão interessante. O homem tem buscado não só a sobrevivência confortável, como a acumulação de bens, o aumento da riqueza. Para tanto, ele (nós) despendemos esforços, até acima do razoável. Enquanto outra motivação não se impõe, convém conhecer-se o pensamento de Adam Smith a respeito. Em síntese, o economista escocês disse que cada indivíduo procura seu próprio ganho, mas é como se fosse levado por "uma mão invisível" para produzir um resultado que não fazia parte de sua intenção. "Perseguindo seus próprios interesses, frequentemente promove os da sociedade, com mais eficiência do que se realmente tivesse a intenção de fazê-lo".A tese smithiana é verdadeira, mas à luz da solidariedade, é melancólica. Aí está "primeiro eu" e para os outros, "a sobra". Essa busca, que ainda reflete "o espírito animal" do homem, deve ser um foco de mudanças.Allan Kardec perguntou se o desejo de possuir é natural. "Sim, mas quando o homem só deseja para si e para sua satisfação pessoal, é egoismo. Há homens insaciáveis...", disseram os Espíritos. É nessas bases, no entanto, que o mundo se apóia em maior medida e as experiências históricas que tentaram apressar a repartição das riquezas, via decreto ou fusil, tiveram que mudar de meios. No contra-ponto está a "mão invisível" de Smith, de natureza expontânea, que ficaria bem melhor com a visão da imortalidade, antecedida da certeza de que levamos para outros planos apenas os valores da experiência e do conhecimento.
José Rodrigues, jornalista e economista, integra o Centro Espírita Allan Kardec, de Santos.

Socialismo e Espiritismo, Aproximações Dialéticas
Dora Incontri e Alessandro Cesar Bigheto

Estes apontamentos pretendem apenas indicar uma vasta linha de pesquisa ainda pouco trilhada, que aponta as relações históricas e teóricas entre Socialismo e Espiritismo. Não é assunto pacífico nem para socialistas (sobretudo marxistas) nem para espíritas, mas trata-se de demonstrar que houve aproximações, diálogos e influências mútuas neste campo. Aliás, a dialética, que se propõe como método de entender as contradições e chegar a sínteses, não deveria permitir o dogmatismo ideológico que impede a aproximação do que parece, à primeira vista, paradoxal. Tudo começa com o mestre de Allan Kardec (Rivail), Johann Heinrich Pestalozzi, que, ao contrário da análise pouco informada de alguns, que ignoram a complexidade de sua obra e de sua trajetória, passou da crença no despotismo esclarecido a um pensamento social, que não pode ser meramente considerado burguês, pois, ao mesmo tempo, em que ele foi condecorado como membro honorário da Revolução Francesa, foi crítico dela. Em seu pensamento, existem traços de uma dialética original – que é espiritualista, se dá na história, mas não tem o totalitarismo panteísta de Hegel ou de Fichte. Com este último, Pestalozzi manteve fecundo diálogo. Tendo Pestalozzi uma vasta e multifacetada obra, a interpretação a respeito é bastante controversa. Alguns o vêem como um pensador romântico, outros como típico representante do iluminismo. Mas, existe uma leitura mais à esquerda, que identifica elementos bastante originais do seu pensamento. Por exemplo, TOLLKÖTTER estabelece comparações entre Marx e Pestalozzi, em relação ao trabalho, à sociedade e à educação. SCHLEUNER , faz interessante estudo comparativo entre a experiência de Pestalozzi em Stans e a experiência socialista de Makarenko. Assim também entre os autores espíritas, já de início com o próprio Kardec, discípulo e herdeiro de Pestatalozzi, há polêmicas e diversas leituras, dependendo da lente ideológica dos estudiosos. Humberti Mariotti fala de uma “esquerda kardeciana” . Mas é inegável que houve confluências e influências entre Socialismo e Espiritismo. Em primeiro lugar, descrevamos resumidamente os fatos, para depois analisarmos algumas idéias:Kardec era um educador preocupado com as questões sociais, que militava pela educação popular. Já, aos 24 anos de idade, escreveu o brilhante ensaio Proposta para a melhoria da Instrução Pública e durante décadas deu cursos gratuitos, em sua própria casa, de Química, Matemática, Astronomia, Fisiologia, Gramática… numa tentativa de democratizar o conhecimento.Ao que parece, manteve relações com os socialistas (depois chamados de utópicos por Marx e Engels), pois em sua fase espírita, os cita constantemente, entre eles, Fourier, e Saint-Simon. (Robert Owen, por sua vez, recebeu influência de Pestalozzi, pois o visitou em Iverdon e mais tarde tornou-se adepto do Espiritismo). O pesquisador francês François Gaudin descobriu recentemente documentos ainda inéditos, revelando a parceria de Kardec com o amigo Maurice Lachâtre, conhecido socialista de tendência anarquista e editor das obras de Marx, em fascículos populares. Ambos tiveram um projeto economicamente fracassado da fundação de um banco popular, possivelmente nos moldes do que queriam os socialistas pré-marxianos e os anarquistas, como Proudhon.O sucessor de Kardec, que liderou o movimento espírita francês até depois da Primeira Guerra Mundial, foi Léon Denis, um operário de Tours, autodidata, amigo e companheiro de Jean Jaurès, socialista espiritualista. Denis escreveu a obra Socialismo e Espiritismo, um clássico da literatura social espírita. Nesta obra, Denis relata seu profundo envolvimento com o movimento operário francês, e os conflitos entre um socialismo materialista e um socialismo espiritualista, quando da sua participação de um ciclo de conferências na Bélgica, com Volders e Oskar Beck. Volders organizou o Congresso Socialista Internacional em Bruxelas, em 1891. Na América Latina, o pensamento socialista espírita teve vários representantes. Entre eles, os argentinos Manuel S. Porteiro, que escreveu Espiritismo Dialectico, Cosme Mariño e Humberto Mariotti, autores respectivamente de Concepto Espiritista del Socialismo e Parapsicologia e Materialismo Histórico; os brasileiros Eusínio Lavigne e Souza do Prado, de tendências stalinistas, com a obra Os Espíritas e as Questões Sociais, Jacob Holzmann Netto, que participou do Movimento Universitário Espírita na década de 70 (depois abafado pela ditadura militar), com o livreto Espiritismo e Marxismo e, o maior expoente da intelectualidade espírita no Brasil, o jornalista e filósofo J. Herculano Pires, autor de Espiritismo Dialético e O Reino.
A CRÍTICA SOCIAL EM O LIVRO DOS ESPÍRITOS
Ao contrário da interpretação popular do Espiritismo brasileiro, nas obras de Kardec, consideradas pelos seguidores como fundamentais, não há a aceitação de um fatalismo social, determinado pela idéia da reencarnação. Sobretudo em O Livro dos Espíritos, aparecem críticas à estrutura social injusta e indicações de que é preciso transformar a sociedade, junto ao apelo constante à transformação do homem. Dentro da perspectiva evolucionista, a evolução social interage dialeticamente com a evolução individual. Como explicaria depois Herculano Pires: “Transformar o mundo pela transformação do homem e transformar o homem pela transformação do mundo. Eis a dialética do Reino, que o cristão deve seguir.” Entre as questões levantadas por Kardec na referida obra está a da propriedade, que era, como se sabe, objeto de discussão de socialistas e anarquistas de todos os matizes. A idéia expressa em O Livro dos Espíritos vai no sentido da propriedade coletiva, com a crítica ao acúmulo de capital, que se manifesta no plano moral, como egoísmo:“O direito de viver confere ao homem o direito de ajuntar o que necessita para viver e repousar, quando não mais puder trabalhar? — Sim, mas deve fazê-lo em comum, como a abelha, através de um trabalho honesto, e não ajuntar como um egoísta.” Em seguida, Kardec indaga, a partir do ponto de vista liberal, que sempre defendeu a idéia de que a riqueza é uma questão de mérito (e não de injustiça) e a resposta mais uma vez é crítica. “A desigualdade das riquezas não tem sua origem na desigualdade das faculdades, que dão a uns mais meios de adquirir do que a outros? — Sim e não. Que dizes da astúcia e do roubo?” Em várias outras passagens há críticas ao supérfluo de uns e à miséria de outros, à criação artificial de necessidades – em suma, o que poderíamos hoje chamar de consumismo excludente:“Há, entretanto, uma medida comum de felicidade para todos os homens? — Para a vida material, a posse do necessário; para a vida moral, a consciência pura e a fé no futuro.” “Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo, ninguém deve morrer de fome.” Isso apenas para introduzir brevemente algumas questões sociais tratadas por Kardec de maneira nada alienada, nem conformista.
DIALÉTICA E ESPIRITISMO
Entretanto, o que nos interessa mais aqui é discutir a dialética, do ponto de vista filosófico, pois parece que há uma posição original a ser descrita, a partir da obra de Kardec e de seus intérpretes à esquerda.Diz Piettre (e essa é uma posição mais ou menos generalizada a respeito) que existem duas maneiras de encarar a realidade: a do ser e a do devir. Conforme explica:“Resumindo-se por alto a longa peregrinação do pensamento humano, pode-se dizer que sempre existiram não mais do que duas filosofias, duas maneiras de representar o mundo: a filosofia do ser e a do vir a ser (…)” A filosofia clássica, de herança platônica, estaria ligada à primeira forma de percepção de mundo: o absoluto estático, a identidade permanente do Ser. A dialética, que descende de Heráclito, depois revivida por Hegel, entende a realidade como transformação permanente. O Ser não é, está sendo. No processo de ser, há um momento de negação, de não-ser. Nesta visão, a concepção trinitária de tese-antítese-síntese é a dinâmica do Ser através de contradições e superações.Em Hegel, esta interpretação de mundo está inserida num espiritualismo panteísta em que o Ser é o próprio absoluto, que se encarna no processo histórico. Marx, como se sabe, recebeu uma forte influência da concepção hegeliana da dialética. Para Marx e Engels, a dialética que se manifesta no processo histórico é sobretudo material, sem nenhuma imanência ou transcendência espiritual. São as forças produtivas que engendram a história e o homem é, ao mesmo tempo, por ela determinado, e sujeito, capaz de transformá-la. Temos, assim, três posturas filosóficas aqui descritas: a espiritualista estática, com o absoluto divino e a identidade espiritual do sujeito; a dialética espiritualista (ou idealista), com a dissolução da identidade tanto do Absoluto (que está em processo de devir), quanto do sujeito individual (que se perde no todo); a dialética materialista, com a negação do absoluto e a identidade do sujeito submetida às leis da história, à identidade de classe, ao determinismo biológico e social, e, apesar disso, capaz de fazer a história. Antes de continuar esta análise, é preciso definir bem os termos. O que significa idealismo e materialismo? A definição de Bukharin pode ser aceita por ambas as correntes:“O materialismo considera a matéria como causa primária e fundamental; o idealismo, ao contrário, considera em primeiro lugar o espírito. Para os materialistas, o espírito é um produto da matéria; para os idealistas, ao contrário, é a matéria que é produto do espírito.” A visão dialética (tanto a idealista, quanto a materialista) é histórica, ao passo que o espiritualismo clássico situa o ser acima da história. Isto, apesar do fato já muito discutido e estudado de que a idéia de história nasce com a tradição judaico-cristã. A visão espírita apresenta-se como uma síntese dessas posições. Admite a identidade absoluta (e não sujeita ao devir) de Deus, como causa de todas as coisas, mas admite o devir permanente dos seres, da história, num processo dialético entre o indivídual e o coletivo. Não aceita a finalidade da história como algo pré-determinado (e nesse ponto assemelha-se ao anarquismo). Avisa Porteiro: “…não estamos nem com o individualismo, nem com o fatalismo histórico, seja este último de Santo Agostinho ou de Marx.” A questão da liberdade, aí, se põe como fundamental. Não existe um fatalismo previsível da história, porque o homem de fato faz a história e este homem não é apenas determinado socialmente, porque é espírito. Explica muito bem Mariotti:“O Homem, para Kardec, é um espírito encarnado, que reconhecerá o seu passado histórico, à medida que ilumine sua visão e intuição espirituais. É por isso que, com a Doutrina Social Espírita, podemos falar de um homem-que-reencontra-a-história, isto é, de um homem que construirá um mundo melhor para reencontrar-se a si mesmo, segundo tenham sido seus atos para construí-lo e edificá-lo.” Evolucionismo individuado, historicidade com liberdade coletiva e individual, dialética com visão de imanência e transcendência – assim poderíamos definir essa dialética espírita, tratada pelos autores espíritas da esquerda. As questões que opõem marxismo e Espiritismo se radicam em dois pontos (e em nenhum outro): o materialismo versus espiritualismo e a aceitação do uso da violência como necessidade histórica contra a renúncia ao uso de todo poder de força (mesmo em legítima defesa). Em ambos os pontos, o Espiritismo está mais próximo dos socialistas pré-marxianos e dos anarquistas cristãos, da linha de Tolstoi.
A VIA DA EDUCAÇÃO
Mesmo os espíritas mais à esquerda, como os que na década de 50 eram simpatizantes de Stalin, admitem que o modo de transformação social mais eficaz é através da educação. “Queremos mostrar, perante a realidade histórica, que a eficiência do ensino individual decorre, sobretudo, da libertação popular, de que resulta, por sua vez, o poder político-econômico nas mãos do povo organizado. Com isso, a produção coletiva destina-se ao bem de todos, a começar pelo ensino, enquanto concomitantemente, desaparece a exploração do homem pelo homem, com uma série incomensurável de proveitos intelectuais e morais para a superestrutura do espírito.” Sendo o Espiritismo uma doutrina eminentemente pedagógica, fundada por um educador, a militância social através da educação tem sido uma constante, desde Kardec. Conta Denis, a respeito de sua própria experiência:“Depois da Guerra de 1870 compreendi que era preciso trabalhar com ardor para a educação do povo. Com este fim e o auxílio de alguns cidadãos devotados, havíamos fundado, em nossa região, a “Liga de Ensino”, da qual me tornei secretário- geral; foram criadas bibliotecas populares e se iniciaram, em pouco por toda a parte, séries de conferências.” Neste sentido, assumindo um otimismo essencialmente pedagógico (de que todos os seres humanos são educáveis, perfectíveis, capazes de transcender interesses pessoais, para devotar-se ao bem geral, o Espiritismo escapa da condenação eterna dos maus – do cristianismo tradicional – como da condenação à morte das classes dominantes, que se opõem ao progresso histórico. Educação universal, através dos séculos, porque a história se faz com seres que vão e voltam, se educam e aprendem, para a realização individual e coletiva da felicidade. No Brasil, a militância espírita pela educação pública e/ou gratuita (na maioria das vezes gratuita, mas nem sempre pública) começou no início do século 20, com o primeiro educador espírita brasileiro, Eurípedes Barsanulfo, que manteve uma escola popular para 200 crianças na cidade de Sacramento (MG). Anália Franco, outra espírita, educadora e feminista também demonstrou sua militância política e pedagógica, primeiro engajando-se na educação dos negros (logo após a Lei do Ventre Livre) e depois se dedicando a fundar mais de 100 escolas e abrigos no Estado de São Paulo, todas voltadas para atender crianças órfãs, predominantemente de mães solteiras, profissionalizando também as próprias mães.Na década de 60 e 70, houve a participação ativa dos espíritas, liderados pelo jornalista e escritor José Herculano Pires, em prol da defesa da escola pública. Assim, a ala mais intelectualizada e politizada do movimento espírita brasileiro tem dado sua contribuição, até agora bastante ignorada, numa militância pedagógica transformadora, que se enraíza na visão de um socialismo espiritualista.
A "PERFEIÇÃO HUMANA DA CANOLA"

A planta que Deus não criou

A canola é mais uma destas histórias atuais, que mostram como a ciência, afastada do comum das pessoas, se torna cúmplice de
atitudes públicas, que podem ser perigosas para a saúde coletiva.

Em primeiro lugar, é preciso estabelecer a seguinte questão: o que é canola, que, afinal, nem consta nas encicoplédias (Comptons e Encarta de 96)? Vejam só: Canola é novo nome da Colza. Colza?
Novo nome? O que é isto afinal?

Bem a Colza é uma planta da família das mostardas. É a mesma planta que foi a fonte de produção do agente mostarda, gás letal
usado de forma terrível na Guerra Mundial. O óleo de colza é utilizado como substrato de óleo lubrificante, sabões e combustível, sendo considerado venenoso para coisas vivas: ótimo repelente (bem diluído) de pragas em jardins. Este poder tóxico é proporcionado pela alta quantidade de ácido erúcico que contém.
Tem sido usado de forma alimentar no Extremo Oriente, na forma não refinada, e contrabalançada com uma dieta rica em gordura
saturada, o que evitaria seus graves efeitos tóxicos.

No entanto no ocidente o objetivo era se produzir um óleo com pouca gordura poliinsaturada, e boa quantia de ácido oléico e
omega-3. O óleo de oliva tem estes predicados, mas sua produção em larga escala é dispendiosa.

Aí entram em cena empresas de "ótimas intenções", como a
Monsanto, e produz uma variação transgênica da colza. Para evitar problemas de marketing, usa o nome CAN - OLA (Canadian oil - ou óleo canadense). Isto mesmo: CANOLA é absolutamente transgênica. Sua comparação aos benefícios do óleo de oliva não passa de uma estratégia de venda: o óleo de oliva é bem mais caro, mas a canola é o mais caro dos outros óleos, apesar de ser de produção baratíssima! Bom negócio, enfim.

Bem, se você não queria usar transgênicos sem seu expresso consentimento, mas já usou o óleo de canola, talvez até aconselhado pelo seu cardiologista ou nutricionista, fazer o quê?
Perdemos o direito desta opção quando nos foi retirada toda a informação. Mas se é tão bom assim como se diz, porque não informar tudo a respeito?

O óleo de canola está longe de ser tão salutar assim como se alardeia. Se observarem bem, pode deixar um cheiro rançoso nas
roupas, pois é muito facilmente oxidado, e seu processo de refinamento produz as famigeradas gorduras trans (assim como as margarinas), relacionadas a graves doenças incluindo o câncer. Produz déficit de vitamina E, antioxidante natural. Alimentos feitos com canola embolaram mais rapidamente.

As pequenas quantias de ácido erúcico, que ainda persistem na planta alterada, continuam sendo tóxicas para consumo humano,
e esta ação tóxica é cumulativa. Existem relatos de inúmeras outras enfermidades ligadas à ingestão e até mesmo a inspiração de vapores de canola (possível vínculo com câncer de pulmão).

A canola também ilustra um jeito de funcionar das mega empresas de biotecnologia. Em abril de 2002, nos Estados Unidos, o CFS
(Centro de Segurança Alimentar) e o GEFA (Alerta de Alimentos Geneticamente Produzidos) pediram uma investigação criminal contra a Monsanto, a Aventis e o Departamento Americano de Agricultura, que haviam permitido o ingresso ilegal de sementes de colza modificada para dentro do território americano, antes da aprovação legal desta importação para produção local.
Aqui e lá tudo funciona meio parecido. A própria liberação da canola no território americano contou com estímulo de US$50 milhões do governo Canadense para que o FDA (órgão regulador) facilitasse seu ingresso na indústria alimentar de lá, mesmo sem os adequados estudos de segurança em humanos.

Enfim, novamente nos defrontamos com uma situação em que
a mão do homem subverte o bom senso entre ciência e saúde, ao que parece porque os interesses econômicos são muito mais persuasivos que os interesses dos consumidores.

Mas o pior é que não podemos contar com os meios de informação, que sistematicamente informam o que interesses maiores julgam mais oportuno. A canola, podemos ter certeza, é uma fração pequena do mundo obscuro do capitalismocientífico, que pesquisa fontes de enriquecimento muito mais entusiasticamente do que as verdadeiras fontes de saúde, vida e
paz!

José Carlos Brasil Peixoto - médico LEIAM COM ATENÇÃO, ÓLEO DE MILHO E GIRASSOL AINDA SÃO OS MAIS RECOMENDÁVEIS.

Speeder XP


Speeder XP - O mágico da velocidade!!!

É assim que chamam esse programa nos fóruns na net.
Antes de postar ele aqui eu testei e procurei muitas informações sobre o programa em um monte de lugares, o resultado foi o seguinte:
De acordo com os fóruns e pessoas que usaram o programa, ele realmente acelera a velocidade do Windows e de outros aplicativos, principalmente jogos. Alguns afirmam que sua velocidade de conexão com a net melhorou muito, outros disseram que a net melhorou um pouco, mas todos confirmam que o programa realmente funciona.
De acordo com testes realizados aqui na minha máquina e no meu LapTop, eu particularmente adorei o programa que deixou minha máquina bem mais rápida e meu LapTop também!!!
A explicação para o sucesso do programa atrai fãs e inimigos:
Esse é um programa Hacker que altera o registro do Windows fazendo com que ele rode mais rápido(alguns acreditam que isso pode danificar o sistema)
Ele melhora a conexão com a internet porque o XP só libera umas 10 portas para conexões e ele abre mais umas 50 no seu pc, por isso aumenta a taxa de entrada e saída de sinal (alguns acham que abrindo mais portas deixa ria o computador vulnerável a ataques de hackers)
Ele também melhora o desempenho de outros programas e principalmente de jogos porque altera a configuração dos periféricos fazendo um Over-Clock(aumento forçado de velocidade).
(alguns acreditam que isso causa danos ao Hardware).
A minha opinião final é a seguinte:
Eu usei, gostei e recomendo, não acho que vá causar danos ao seu Windows e nem danificar seu hardware, quanto a vulnerabilidade, é só usar um bom anti-vírus, um bom firewall e pronto.
Se não quiser arriscar baixar o programa tudo bem, mas que ele aumenta a velocidade legal, isso não se pode negar!!!

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Serial:

Name: pconcool
Code: d68d56d13302a6c4

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DUAS POLÍTICAS E UMA ÉTICA

Intervenção do Subcomandante Marcos no auditório Che Guevara em 08 de junho de 2007.


Queremos agradecer os companheiros e companheiras dos grupos e coletivos que se reúnem no "OkupaChe", pelo apoio oferecido para a realização desta mesa redonda.

Lá em cima nos ofereceram outros lugares, "melhor acondicionados", disseram, "mais confortáveis". Como se a ética e a política fossem questão de comodidade, e como se para os zapatistas o que mais importa é o espaço e não o ouvido que, generoso, vocês agora nos oferecem. E escrevo isso antes de dizê-lo, supondo que alguém veio a esta mesa redonda que, para estar na moda, já veio a esta mesa redonda que, para estar na moda, jais importa e se reocupa o primeiro lugar na lista dos esclarecimentos. E só faltava que a própria mesa se esclarecesse.

Ética e política. Foi a nós que coube esse tema. No vaivém da mídia, que oferece soníferos a quem não quer velar, desvelar e desvendar a realidade, há várias coisas que estão ficando ausentes. O Poder vai parafraseando Pablo Neruda e nos canta, de forma estridente, "Gosto quando calas porque estas como pendente"... do que digo, e "estas como distante"... esperando a próxima venda da temporada, ou seja, as próximas eleições".

Veio aí nossa idéia de que se deve fazer menção do ausente, o que agora não aparece sozinho, mas se exclui mutuamente, neste caso, a ética e a política, mas também se apresenta sim como se fosse algo lógico, razoável, compreensível, justificável, aplaudível ... e outros "iveis" que vocês lembrarem.

Fazer menção do ausente é uma das maneiras de reavivar a memória que também anda para frente. E escolhemos exatamente o tema da ética não só para sublinhar seu desterro e ausência da política de cima, além do seu encurralamento no espaço da academia; mas também para sublinhar ou apontar algumas pistas para que, no abaixo que estamos levantando, a ética e a política finalmente se abracem na única forma em que podem fazê-lo, ou seja, sendo "outras".

Quando se trata só de palavras não parece haver nenhum problema em falar de ética e de política. Podem-se escrever livros, proferir palestras, fazer pesquisas e, às vezes, até participar de mesas redondas. Claro, sempre e quando não sejam no Che Guevara da UNAM.

Mas, levá-la a um lugar que rege a própria ação política? Vamos, isso é coisa de ingênuos, de puristas ou de candorosos idealistas doentes pelo calendário da juventude. Já vem a realidade a cantar os versos que dizem: "Juventude, divino tesouro, já vais para não voltar, quando quero um lugar (ou uma bolsa) choro, e, às vezes, choro sem querer".

Mas, se vamos mencionar o ausente, então perguntemos o que se fez dele:

Quando e como foi que a ética e a política tomaram estes caminhos?

A ética o caminho asséptico e medíocre da academia.

A política, o caminho do cinismo e da sem-vergonhice "realista".

Quando foi que a intelectualidade progressista renunciou à análise crítica e se transformou em triste carpideira das derrotas e fracassos de uma parte da classe política que está morta já faz vários anos?

Quando ocorreu esta mágica alquimia que fez dos intelectuais progressistas os justificadores, e não poucas vezes os aduladores, da ação de uma "esquerda" tão entre aspas e tão à direita que é necessário fazer malabarismos para tirá-la de sua localização real no espectro político?

Quando foi que a ética deixou de ser um referencial e foi substituída pelas pesquisas, o rating, as aglomerações de massas ou de votos, e chegar a comprar, assim, o plantão contra a fraude eleitoral de 2006 com o recente show de Shakira no Zócalo?

"Deve-se estar onde o povo está", disseram na época. De tal forma que, com certeza, estiveram aí, quando a Shakira demonstrava o que eu, humildemente e com minhas modestas habilidades, lhe ensinei. Sim, isso faz muito tempo. Agora, já não é fácil mexer as cadeiras toda vez que me acomodo no assento, nas longas viagens do nosso roteiro pelo Outro México, o de baixo, o da esquerda sem aspas, sem orçamentos e sem correspondentes designados.

Mas já estou indo pra outro lado, quando seria melhor estar vindo. Bom, chega de estórias. Estamos falando de coisas sérias e devemos ficar sérios, formais, contrariados.

Voltemos então às perguntas:

Quando foi que a corte parasita da classe política mexicana, com os analistas e locutores que a acompanham, se transformou numa desordenada equipe de bufões sem público e sem comédia?

Quando foi que as notícias sobre as trapalhadas da classe política deslocaram, para baixo, do rating, obviamente, o nível cômico na mídia eletrônica?

Quando foi que o reiterado processo de suplantação de identidades começou a ser chamado, se era (ou é), como nesta universidade, a Nacional Autônoma do México, uma imposição na qual cada um procura não ficar de fora, e em troca oferece o enfeite a uma "esquerda" tão bem comportada que não só "brilha" nas fotos, como também contrasta com esta geração de jovens (ou seja, todos e todas nós, o bando, a raça, os outros, os sujos, os feios, os maus, e, bom, já que estamos nessa de igualdade de gênero, então também as sujas, as feias, as más); todas e todos nós, as girafas e os girafos que encontramos, não a análise crítica, mas sim o desprezo, a gozação e a perseguição daqueles que se autodenominam "a classe pensante"?

Veja, jovem, a diferença fundamental entre a Torre da Reitoria e o auditório Che Guevara é o orçamento. O que importa o que se faz aí em baixo se não posso anunciá-lo na gazeta universitária ou cobrá-lo em faturas "com tudo incluído". Por favor, jovem, seja realista: a comunidade universitária está aqui em cima. Lá fora estão os clientes, sim, os clientes na hora dos laboratórios, das bolsas, dos cursos, das inscrições, dos cargos e...das mudanças nas direções e na reitoria. A ética? Mmh.. me soa. Em quanto está cotada?

E o que se fez da "esquerda" (já coloquei tantas aspas para o termo "esquerda" que temo acabem no teclado) que caminhou pela via eleitoral (algo compreensível e importante) e ao passar foi deixando os princípios, ou seja, a identidade, não só como se fosse um montão de escombros, mas também um peso?

Num raciocínio estranho, os fracassos evidentes não levaram a traçar novamente o lugar dos princípios de uma ação política que se reclamava, e reclama, como uma luta pela justiça, essa eterna ausente no México de baixo - e no mundo, diga-se de passagem.

Não, se se perderam ou foram roubados (a diferença está na quantidade de propaganda paga por cada lado) é porque lhes faltou "estratégia de mídia", que é como chamam agora a claudicação nos princípios, a submissão ao Rei Midas do poder que transforma em merda tudo o que toca.

E falhou a "política de alianças", que é como se chama agora a adulação servil a uma classe dominante que, claro, é vaidosa, mas sempre fiel a seus interesses.

E falharam os acordos e a "unidade" a qualquer preço, a qualquer custo, por qualquer posto. "Unamo-nos", disseram, mas, na realidade, pensavam: "subordinem-se", "esqueçam", "rendam-se".

E quem disse e diz "NÃO!" é "sectário", "infantil", "joguete da direita". Arrancaram as fotos dos zapatistas das paredes e, em seu lugar, colocaram as dos caluniadores, perseguidores e assassinos de indígenas zapatistas: Gustavo Iruegas, Arturo Nuñez, Ricardo Monreal e o autodenominado reitor da UNAM, o senhorzinho Juan Ramón de la Fuente, entre outros.

E penduraram suas velas... enquanto os do outro lado prendiam os refletores da mídia.

No México de cima, podem dizer, sem corar sequer, que é bom que se golpeie e prenda o povo de baixo, gente que rala todo dia para conseguir honestamente algo a levar para suas famílias, que seja privado de sua casa, de seu pequeno comércio, de sua mercadoria, de seu meio de vida, enfim, que se aplauda (ou se cale, que é uma forma pior de aplaudir) que, como numa guerra de conquista, se prive - lá em cima dizem "se expropria" - uma cidade de territórios inteiros para logo entregá-los a grandes investidores que, basta um pouco de memória, são os heróis e aliados de hoje... e os traidores de amanhã.

O caso de Carlos Slim, o aliado de anteontem, o traidor de ontem, o amigo de hoje, o aliado de amanhã, o traidor de depois de amanhã, é o enfeite de luxo da mostra oculta do Poder. E estou falando da Cidade do México, do bairro de Tepito e de sua gente, de Iztapalapa e de sua gente, de Santa Maria La Rivera e de sua gente.

Sem lançar mão de nenhum processo na justiça, se ataca e se despoja. E os meios de comunicação suprem as ordens de busca e se transformam em juizes e verdugos: "dedicavam-se à distribuição do tráfico", sublinham. E nenhum deles se dá ao trabalho de pensar, não diz nada. Nem sequer para perguntar o elementar, ou seja "se eram narcotraficantes, por que viviam onde viviam?" No lugar de perguntas, evidências: "Deve ser por alguma coisa", "merecem", "devem ter feito alguma coisa" e, então, viram o rosto para o outro lado, para um concerto no Zócalo, para uma praça cheia para algumas fotos onde as pessoas são só peças de uma ordenada exposição de peles nuas, a tudo o que não reclame compromisso, questionamento, ética.

Parece que, com o embate neoliberal, não foram derrubadas só as regras não-escritas da política do México e dos referenciais do político como "homem de Estado". Entre os restos do naufrágio de toda a classe política mexicana também jazem: a dignidade, a decência...e a vergonha.

Até parece que as margens da honestidade e da vergonha têm se ampliado bastante até o ponto em que não parece haver mais nenhum limite. Um estranho raciocínio que reza: "De acordo com as pesquisas eleitorais, meus inimigos podem ser meus amigos", de repente Elba Esther Gordillo vai deixar de ser uma bruxa quando for se "meter" com a Frente Ampla de Oposição para ser então uma grande lutadora social e um exemplo para o magistério... que explorou, perseguiu, traiu e assassinou. E os políticos são lixo reciclável: agora os novos "heróis" e "progressistas" são Manuel Barttlet, Javier Corral e Sauri Riancho. Com certeza, o Diálogo Nacional os convidará para a sua próxima reunião, ainda não sei quais são "as bases operárias e camponesas" desse trio de sem vergonhas, nem os malabarismos que seus dirigentes vão fazer para justificar isso.

Sei que mais de um usará citações de Lênin para justificar o que se faz e desfaz. Afinal, Lênin serve para tudo... até para contradizê-lo.

Mas estamos meio longe da Rússia Czarista, do Palácio de Inverno e da Duma.

Lá em cima, o século XXI no México arrancou unindo inteligência e coragem à falta de engenho e à falta de vergonha.

Se com Miguel de la Madrid se repetiu o ciclo de um presidente medíocre, seguido de um presidente covarde (Carlos Salinas de Gortari) e logo um presidente imbecil (Ernesto Zedillo Ponce de León), com Fox e Calderón parece que travou o disco rígido da cibernética política porque não aparecem nem os medíocres, nem os covardes, e reinam os imbecis, ou eles acham que estão reinando, ou fingem, ou não se importam sequer em disfarçar.

Felipe Calderón Hinojosa, curto não só de estatura, se perde nas fotos os abundam os verde-oliva e os cinzas. "Vamos ganhando!", diz, mas todos nós sabemos quem está incluído neste plural e quem não.

A cada dia que passa, há mais sangue nas ruas e nos campos do México, e ele oferece no exterior o mesmo México fictício que herdou de Fox.

E, descaradamente, explica aos possíveis compradores: "Os rapazes (referindo-se aos soldados e aos policiais) estão limpando o lugar. Claro, fazem um pouco de barulho, mas logo ficará tudo limpo. Sobretudo de mexicanos, que são o principal estorvo. Você vai ver como, logo, onde antes havia um país, haverá um terreno baldio e vai poder investir no que quiser".

Ah! E a mídia: vamos escolher entre Espino e Calderón. Agora quem será o menos ruim?

Reiteramos: Lá em cima não há nada a fazer a não ser piadas.

Por isso hoje estamos aqui com vocês. Porque acreditamos, e entre nós "acreditar" é um sinônimo de "fazer", e fazer um sinônimo de "lutar", e "lutar" um sinônimo de "sonhar", que é possível construir outra forma de fazer política, e que sua sustentação principal é a ética, outra ética.

Antes, tenho tratado de explicar que nós zapatistas somos guerreiros e guerreiras, e isso não só quer dizer que nos assumimos como lutadores, às vezes na defensiva, às vezes na ofensiva. Mas também que temos uma ética que pouco ou nada tem a ver com o que se ensina ou se pretende ensinar nas salas de aula, nos livros ou nas mesas redondas com afastamentos incluídos, mas sim com um compromisso.

Nossa posição tem merecido o desprezo e a crítica dos novos defensores do indefinível, ou seja, da ação de uma classe política que ao lodo e ao sangue que mancham suas mãos une agora o cinismo de apresentar sua claudicação como "maturidade", "modernidade" e "realismo".

E, paradoxalmente, lembro agora que nos ofereceram comodidades para esta mesa quadrada (talvez por isso é áspera), a nós que, desde que saímos, temos sido constantes e sonantes incômodos para este setor do pensamento.

Uma vez, José Martí disse que o homem verdadeiro não olha de que lado se vive melhor, mas sim de que lado está o dever. Agora se poderia dizer que o homem e a mulher de baixo e à esquerda não olham de que lado vão as pesquisas, mas sim de que lado está o dever.

E o dever, para nós zapatistas, é nossa ética, a ética do guerreiro.

Já falei de sua origem, das fontes em que saciamos nossa sede para ser o que somos e seremos.

Agora, só quero lembrar quanto segue. A ética do guerreiro poderia ser resumida nos seguintes pontos:

1. Estar sempre com disposição de aprender e de fazer. São duas as palavras fundamentais no andar do guerreiro: "não sei". Enquanto as "grandes cabeças", como disse alguma vez o Comandante Tacho, opinam sobre tudo e têm a pretensão de saber tudo, o guerreiro se aproxima do desconhecido com a mesma admiração que se tem diante do novo. Quando saímos pelo caminho que traçamos com a Sexta Declaração, não distribuímos julgamentos e receitas. Ouvimos e olhamos para aprender. Não para suplantar ou dirigir, mas sim para respeitar. O respeito para o outro, a outra, é como nós dizemos "companheiro" e "companheira".

2. Estar a serviço de uma causa materializada. Não se trata de lutar por quimeras, nem de se enganar sobre o inimigo, a batalha, as derrotas, a vitória. Sabemos que há e haverá sofrimentos, alguns sem nenhum alívio possível, como a dor da morte de Aléxis Benhumea, nosso companheiro e estudante desta universidade, assassinado pelo governo um ano atrás. E há outros que requerem um paciente cultivo da raiva, como saber de nossas companheiras e companheiros presos de Atenco: Nacho, Magdalena, Mariana, para mencionar só três delas e deles. Mas sabemos também que essas e estas dores que não cicatrizam têm rumo, destino, fim. E que esta grande causa que nos motiva não inibe ou subordina as causas de todos os tamanhos, mas é exatamente nelas que se materializa.

3. Respeitar os predecessores. A memória é o alimento vital do guerreiro. A nossa história é a água da qual bebemos. Não só como zapatistas, não só como indígenas, não só como mexicanos. Onde outros lêem e repetem derrotas, para justificar assim rendições, nós lemos ensinamentos. Onde outros vêem personagens, líderes e heróis, nós vemos povos inteiros cumprindo o papel de mestres à distância, no tempo, na geografia, no jeito de ser. A história de baixo nada mais é do que uma imensa memória coletiva.

4. Existir para o bem da humanidade, ou seja, para a justiça. Atenção: não disse "para tomar o poder", nem "para obter um cargo público", nem para "passar à história", nem "para resolver de cima o que é de baixo". Quero dizer, ao contrário, nomear e trazer pra cá esta outra grande ausente no caminho de baixo: a justiça. E não porque ela esteja escondida em algum lugar, esperando que alguém que se acha iluminado a encontre, venha e a presenteie, e nossos calendários se encham de monumentos, bustos e estátuas, mas sim porque é algo que se constrói como se constrói tudo o que nos faz serem humanos, ou seja, coletivamente.

5. Para esta batalha que sabemos ser difícil, e, eu acrescentaria, interminável, devemos nos dotar de armas e ferramentas que nada têm a ver com o que agora se encontra nas páginas de qualquer jornal ou nos noticiários da televisão. Armas e ferramentas que nada mais são a não ser as ciências, as técnicas e as artes. E, entre todas elas, a da palavra.

Por algumas circunstâncias das quais não vou falar agora, nós zapatistas tendemos a ver e olhar mundos para os quais ainda não há palavras nos dicionários. Mas assim como vemos as coisas distantes como se estivessem atrás da esquina, vemos as coisas próximas imediatas com o repouso da distância e do tempo que criamos com a nossa própria geografia e com o nosso próprio calendário.

O mais importante (e o mais esquecido) é que o guerreiro deve cultivar a capacidade de olhar para frente, imaginar o todo composto e acabado, prever os altos e baixos do caminho, os contratempos e sua solução. Deve ser sábio na luta, isto é: em determinar quais são os pontos essenciais de uma situação, onde devem ser aplicados que esforços e que combates se devem ganhar ou perder.

O guerreiro deve prestar atenção e dedicação para as coisas pequenas e para as grandes, as superficiais e as profundas, e traçar assim uma espécie de mapa tridimensional onde cada parte adquire um sentido preciso conforme ditado pelo todo, e o todo só adquire razão e legitimidade em cada uma de suas partes.

Assim, o guerreiro deve buscar o ritmo, ou seja, o acompanhamento entre as partes e o todo. E não a velocidade que acaba por deixar o importante para atender o urgente.

Em nossa ética, então, trata-se de não pensar indignamente, para não atuar desonestamente. Aprender sempre, sempre preparar-se, conhecer todos os caminhos possíveis, seus passos, suas velocidades, seus ritmos. Não para todos andarem, mas sim para saber de todos, caminhar com todos e chegar com todos.

Não é o hoje, o imediato, o efêmero que vemos. Nosso olhar chega mais longe, até lá, onde se vêem um homem ou uma mulher qualquer despertar com a nova e terna angústia de saber que devem decidir sobre o seu destino, que caminham pelo dia com a incerteza que dá a responsabilidade de encher de conteúdo a palavra "liberdade".

Olhamos até lá, até o tempo e o lugar onde alguém presenteia alguma coisa a alguém. E é tão longe que não se chega a distinguir se é uma flor veerrrmelha ou uma estrela ou um sol aquilo que se tende de uma para outra mão.

Nossa ética tem este destino.

Não só por isso, mas também por isso, é que sabemos que vamos ganhar...

Muito agradecido.

Do auditório Che Guevara, na outra Cidade Universitária da UNAM.

Subcomandante Insurgente Marcos.

México, junho de 2007.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

25.000 Drivers para Windows


Pacotão com 25 mil drivers para seu windows.. indispensável
Copiado de:BaixeNet

FIREFOX - extensões

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quinta-feira, 21 de junho de 2007

IMORTAL - O FILME

Chávez e a mídia oligárquica

Ao não renovar a concessão da RCTV, Chávez ganhou tempo. Mas o problema maior continua, permanente, que é a vocação golpista da mídia latino-americana e o grande risco que isso representa para a democracia. Essa é nossa agenda.

Será mesmo que Chávez cometeu um erro de cálculo ao não renovar a concessão da RTCV, como diz o jornalista Teodoro Petkoff, na sua entrevista a Gilberto Maringoni, nesta Carta Maior? Pode ser. Mas sugiro que se inverta a questão. Que se discuta em primeiro lugar a vocação golpista da mídia latino-americana. E por que isso? Porque não é normal grandes jornais ou emissoras de tevê promoverem golpes para derrubar governos. Já as recaídas autoritárias de governantes fazem parte da normalidade política, mesmo na democracia. Kennedy, por exemplo, impediu o New York Times de revelar os preparativos de invasão de Cuba. Um Chávez mandão é o normal na esfera política. Uma mídia golpista é o patológico na esfera da comunicação jornalística. Essa é a aberração que nos cabe discutir. Essa é a nossa agenda. A mídia golpista prefere, é claro, a agenda “Chávez, o autoritário”.

A grande mídia já foi colaboracionista, como se viu na França durante a ocupação nazista, é quase sempre chauvinista em momentos de guerra, fechou os olhos a violações de direitos humanos por necessidades do imperialismo, como fez o New York Times com as atrocidades dos militares em El Salvador, e como faz a CNN agora no Iraque. Foi leniente com as ditaduras latino-americanas na época da Guerra Fria, mesmo as mais atrozes.

A grande mídia levou Nixon à renúncia, no escândalo Watergate. Mas quem estava tramando um golpe ali era Nixon, e não a mídia. Nesse episódio, a mídia americana demonstrou uma notável vocação antigolpista, isso sim. Frustrou uma tentativa de golpe. A grande mídia Ocidental não articula a derrubada de seus próprios governos, democraticamente eleitos. A grande imprensa Ocidental pode ser em geral conservadora e sem dúvida se constitui no grande mecanismo de domínio pela persuasão. Mas desempenha esse papel de modo contraditório, com altos e baixos, também informa bastante, é critica, e freqüentemente se rebela, passando a exercer uma função contra-hegemônica, como na cobertura da guerra do Vietnã.

Isso de golpe pela mídia só mesmo na América Latina. O conceito nem se aplica à mídia européia ou americana. Mas aconteceu no Chile, em 1973, no Brasil, em 1954, e na Venezuela de Chávez, além de tentativas mal-sucedidas, como o golpe da Globo contra Brizola na eleição para o governo do Rio de Janeiro, e os episódios “paragolpistas” da edição de debate Collor-Lula pela Globo na nossa primeira eleição direta para presidente depois da ditadura.

E por que a grande imprensa latino-americana é golpista? Porque é uma mídia de grandes famílias, originalmente os grandes proprietários de terras. Eles e seus sucessores dominam o aparelho de Estado, definem as políticas públicas, ora repartindo o poder com os bancos, ora com uma incipiente burguesia industrial, mas são sempre eles. Não por acaso, a maior bancada do Congresso Nacional é a bancada ruralista.

Essa elite nutre uma visão de mundo composta por três elementos principais: subserviência ao poder maior, que é o poder dos norte-americanos na região, como forma até mesmo de auto-proteção; 2) resistência a todo e qualquer projeto nacional; 3) desprezo pelo povo. Essa é a burguesia que nos coube na divisão do mundo promovida pelos Europeus durante a expansão mercantil e colonização do Novo Mundo. É a burguesia de uma economia dependente. Atavicamente antinacional e elitista.

Sua imprensa tem função muito mais ideológica do que informativa. Quando surge um governo com propostas de desenvolvimento autônomo e distribuição de renda, faz de tudo para derrubá-lo. Instala-se uma guerra. Primeiro tenta evitar que seja eleito. Daí o forte engajamento nas campanhas eleitorais contra os candidatos nacionalistas ou portadores de propostas transformadoras. Depois parte para o pau em conluio com militares golpistas. Foi assim com Getúlio, Allende. Até Juscelino, que deu um chega-pra-lá no FMI e tinha um projeto de país, foi bombardeado pela grande imprensa. O que ela quer são governos que privatizam, desnacionalizam, entregam, são entreguistas. Não por caso, combate ferozmente a política externa de Lula. Preferem a Alca. Chama isso de realismo político, mas é apenas subserviência. Necessidade de ser dependente. Tem pavor de projetos de autonomia nacional e mais ainda de propostas de unidade latino-americana. Nem o Mercosul engoliram.

Nunca aceitaram o Estado que chamam pejorativamente de “populista”. Isso ficou muito claro na Revolução de 30. Mesmo no bojo dessa revolução que deveria marcar o fim da hegemonia agrário-exportadora, Getúlio aplicou a censura prévia, rígida e abrangente, sobre todos os meios de comunicação e produção artística e cultural, a ainda teve a precaução de cooptar a maior cadeia de rádio e de jornais da época, a dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand. Não foi o autoritarismo de Getúlio, assim como não é o de Chávez, que geram o antagonismo da mídia oligárquica. É o caráter nacional-desenvolvimentista de seus projetos políticos. Tanto é assim que, quando Getúlio voltou ao poder pelo voto, sofreu intenso bombardeio e, de novo, entendeu que o combate à mídia oligárquica era essencial á sua sobrevivência. Apenas mudou de tática. Estimulou Samuel Wainer a fundar a cadeia Última Hora. O fato é que a grande imprensa tem sido arma recorrente dos golpistas. Usa o pretexto principal da luta contra a corrupção, seduzindo com isso a classe média recalcada, mas seu verdadeiro objetivo tem sido sempre o de derrubar o estado nacional-desenvolvimentista.

Quando toda a região abandona o Consenso de Washington em busca de um novo modelo que alie desenvolvimento com redistribuição de renda, agora com o reforço da unidade continental, a vocação golpista da mídia latino-americana torna-se um dos problemas centrais da democracia.

Chávez deve ter feito esse diagnóstico. E partiu para a guerra. Com as armas que tinha, no contexto atual, dentro das regras do jogo. Dividiu a oligarquia da imprensa, cooptando Cisneros, dono do maior conglomerado de mídia e, não renovando a concessão da RCTV, como que sinalizou aos demais o que lhes pode acontecer se saíram da linha.

Resolveu o seu problema, ou talvez só tenha ganhado tempo. Nós continuamos com o problema maior, permanente, da vocação golpista da mídia latino-americana e o grande risco que isso representa para a democracia. Essa é nossa agenda.


Bernardo Kucinski, jornalista e professor da Universidade de São Paulo, é colaborador da Carta Maior e autor, entre outros, de “A síndrome da antena parabólica: ética no jornalismo brasileiro” (1996) e “As Cartas Ácidas da campanha de Lula de 1998” (2000).