* José Reinaldo Carvalho
Na primeira etapa da visita, os secretários de Bush reuniram-se em Sharm el-Sheikh, no Egito, com representantes da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Qatar e Kuwait.
A missão teve três objetivos, todos relacionados com a aplicação do plano de reestruturação do Oriente Médio, a prioridade do segundo mandato de George W. Bush.
O primeiro objetivo foi conseguir apoio para estabilizar o Iraque. Mais de quatro anos depois de iniciada a guerra de agressão, o imperialismo norte-americano colhe um retumbante fracasso. O Iraque se insurgiu, as forças patrióticas foram capazes de organizar uma tenaz resistência, que inflige pesadas perdas humanas e materiais aos agressores (ver artigo “Por que os EUA perderam”, de Abdul al-Bayaty e Hanna al-Bayaty em www.cebrapaz.org.br).
É muito limitada a capacidade de ação desses países árabes no conflito iraquiano. Por mais reacionários e pró-americanos que sejam, um envolvimento direto desses países ao lado das forças de ocupação atiça ainda mais o nacionalismo árabe, resultando no efeito contrário ao esperado.
Os emissários de Bush levaram na bagagem um pacote de ajuda militar para a aquisição de armamentos e tecnologia, no valor de 20 bilhões de dólares a serem negociados com a Arábia Saudita e outros países. Ao Egito e Israel os belicistas estadunidenses ofereceram um pacote de ajuda militar da ordem de 43 bilhões de dólares. A mensagem é clara. Os Estados Unidos estão apostando em mais militarização da região, o que, independentemente de qualquer intenção proclamada, redundará em maior instabilidade.
O segundo objetivo foi fazer com que esses países exerçam pressão sobre o Irã no sentido de desencorajar a continuidade do programa nuclear desse país. Ora, o Irã já sofreu duas resoluções da ONU ameaçando aplicar sanções caso não suspenda o programa nuclear, mas a atitude de Teerã é inabalável, não havendo qualquer sinal de que vá submeter-se aos ditames de Washington. Disso se conclui que o exercício de pressões sobre o Irã seja por parte dos Estados Unidos ou de interpostas forças também só acarretará mais instabilidade na região.
O terceiro objetivo relacionou-se com a Palestina. Rice buscou envolver seus aliados nos esforços para organizar uma conferência de “paz” no final do ano. Também nesse aspecto os resultados tendem a ser pífios. A tática de distribuir migalhas tem por resultado o aprofundamento das divisões entre as diferentes forças que atuam naquele cenário. A tentativa de isolamento, cerco e aniquilamento do movimento Hamas, que venceu as eleições, conduzirá a mais dilacerações, portanto a mais guerra, nunca à paz nem à criação de um verdadeiro Estado Palestino. Além do que, é indefectível a posição pró-israelense do governo Bush.
Quem deu o principal argumento para atestar o fracasso da missão de Rice e Gates foram os próprios, quando proclamaram quem são os inimigos principais dos Estados Unidos na região: a Síria, o Irã, o Hezbolá e o Hamas. A Síria e o Irã são dois países soberanos e não dão mostras de estar dispostos a renunciar aos seus objetivos nacionais. Atacá-los militarmente cobraria um preço altíssimo que os EUA não estão em condições de pagar na presente situação.
Quanto ao Hezbolá e ao Hamas, são dois movimentos de resistência que já estão nos campos de batalha. A amarga experiência israelense, derrotado pelo Hezbolá durante a guerra de julho-agosto do ano passado, indica que se trata de uma força difícil de aniquilar, pela sua capacidade de combate, pelas profundas raízes que deitou no seio da população libanesa e pelo imenso prestígio de que desfruta em todo o mundo árabe.
Quanto ao Hamas, desalojá-lo à força das posições que conquistou poderá representar uma tragédia humanitária numa Palestina já martirizada há muitas décadas.
Assim, é mais provável que, ao invés de alcançar os objetivos anunciados, o resultado da missão de Rice e Gates seja uma mais nítida caracterização do imperialismo norte-americano como o inimigo principal dos povos do Oriente Médio.
* José Reinaldo Carvalho é jornalista, secretário de RR II do PCdoB