sábado, 6 de outubro de 2007

A “Nova História Crítica” e a crítica da velha elite



Max Luiz Gimenes


Em um artigo repugnante – que mais parecia um choramingo direitista – publicado no jornal “O Globo” (18/9/2007), Ali Kamel dedicou-se a atacar o livro “Nova História Crítica – 8ª série”, de Mario Schmidt. Retirou do contexto uma série de trechos, classificados por ele como “os piores”. Um deles apresentava um quadro comparativo entre o capitalismo e o ideal marxista. O quadro, muito bem elaborado pelo professor Mario e execrado pelo jornalista, mostra também o que aconteceu no chamado “socialismo real”, sem poupar críticas. Pequeno detalhe que o jornalista global “esqueceu” – ou omitiu para poder, assim, apresentar o livro como uma cartilha marxista para doutrinar criancinhas inocentes. A verdade às vezes dói e a apresentação integral do quadro, por si só, esvaziaria as acusações apaixonadas feitas por Kamel.

As Organizações Globo – corretamente criticadas no livro por seu histórico de manipulações políticas – não deixaram barato e pressionaram o Ministério da Educação (MEC), que veio a público anunciar que vetou a participação da obra no PNLD (Programa Nacional do Livro Didático), que oferece ao professor de escola pública uma lista de livros para que este adote o que considerar melhor, ficando o governo responsável pela compra e distribuição. Cerca de 50 mil professores de todo o país, das redes pública e privada, já escolheram a coleção “Nova História Crítica”, tornando-a um verdadeiro sucesso. A atitude do MEC, ao reprovar a obra em sua avaliação, atentou contra todos os princípios de liberdade: a de escolha, a de expressão e, sobretudo, a de se poder aprender e refletir sobre os acontecimentos históricos de maneira independente e crítica, indo muito além da “decoreba” de nomes e datas importantes – como querem os defensores desse obsoleto modelo tradicional.

Após o “O Globo” trazer a polêmica acerca do livro à tona, os outros grandes jornais, como “Folha de São Paulo” e “O Estado de São Paulo”, endossaram as críticas de Ali Kamel. Supostamente em nome da verdade e da liberdade, esses veículos repetiram os trechos apresentados por Kamel e, de maneira irresponsável, desqualificaram um valoroso trabalho. O modo superficial e manipulador com que a questão foi tratada é assustador. Os meios de comunicação já citados apontaram erros de português no livro, que podem até existir, um aqui e outro acolá; erros que vez por outra também freqüentam as páginas desses mesmos jornais. Entretanto, erros de português podem ser corrigidos em uma próxima edição. O que mais chama a atenção é a coragem de, sem uma leitura integral prévia, os jornais acusarem o livro de conter erros conceituais, o que é uma mentira daquelas que só se consegue contar quando se tem uma enorme cara-de-pau ou um sangue demasiado frio.

Ah, a liberdade. Fundamento tão citado como a principal qualidade da sociedade capitalista. Mas que liberdade é essa, senão a plena liberdade de se calar e obedecer às predeterminações da fraterna e intuitiva elite política e econômica? Pois é. A elite determina, o povo cumpre e a roda da história continua a girar. É assim que prega a hipócrita e pretensamente democrática cartilha liberal-burguesa. Atender ao predeterminado, ser conivente com a sociedade injusta que aí está é ser imparcial; desafiá-la, julgá-la ou mesmo colocá-la sob uma simples análise crítica é ir contra a democracia, é ser tendencioso. E foi exatamente assim que aconteceu no caso do livro do professor Mario. (Que previsíveis se tornaram os burgueses... Onde estará a criatividade capitalista, geralmente atribuída à premissa – um tanto desumana – da competição?).

A obra em questão é extremamente didática – ao contrário do que disse a “Folha de São Paulo” em editorial chamado “A lata de lixo da História” (20/9/2007). Contém charges, gráficos, ilustrações e outros recursos que facilitam a compreensão do período estudado e que dificilmente são vistos em outros livros. E, o que é mais importante, não há nele a pretensão de ser o dono da verdade. É com humildade que Mario Schmidt escreve, logo nas primeiras páginas, que o livro poderia ter sido escrito de outra maneira, tão válida quanto a dele. E deixa o alerta: “Por isso, nunca se esqueça de que duvidar e questionar são atividades muito saudáveis”. Se os jornalistas envolvidos nas matérias e editoriais sobre a obra “Nova História Crítica” tivessem se dado o trabalho de ler – ao menos – as dez primeiras páginas do livro, certamente teriam aprendido muito. E, quem sabe, escrito muito menos bobagens.

Max Luiz Gimenes é militante do PSOL. Teve o privilégio de estudar com os livros do professor Mario e conhece cada detalhe da obra. Sabe, melhor do que muitos jornalistas, a importância do respeito à sua obra. E-mail: max.gimenes@gmail.com

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Friendship - Junipher Greene (1971)

COPIADO DE:TARKUSBLOG

Para quem ainda não conhece o Progressivo Norueguês, este disco do Junipher Greene, um vinil duplo(logo na estréia!), pode dar uma boa idéia do cenário Escandinavo do início dos 70, com aquele estilo de transição entre o Psicodelismo e o Progressivo, ou Proto-Prog. Dá para notar algumas influências Britânicas como Jethro Tull , Traffic e até Deep Purple.

Logo na primeira audição já dá para perceber a vibração e o entusiasmo dos caras em cada nota tocada, e notar claramente o soberbo e destacado trabalho dos dois guitarristas, com uma variação de timbres incrível, bem apoiados pelo excelente orgão Hammond, bons vocais, uma instrumental linda comandada pela flauta, e para fechar uma faixa de 26 minutos quase toda instrumental que tem tudo o que o bom progressivo deve ter, com uma vitalidade e variedade de climas impressionante. São 62 minutos de tirar o folego.

Para mim, o melhor disco produzido na Noruega, e um dos meus preferidos em geral. Imperdível!


Track List
1. Try To Understand (4:47)
2. Witchesi' Daughter (3:28)
3. Music For Our Children (7:03)
4. A Spectre Is Haunting The Peninsula (2:53)
5. Sunrise/Sunset (4:09)
6. Magical Garden (7:06)
7. Autumn Diary (1:54)
8. Maurice (4:23)
9. Attila's Belly-Dance (0:41)1
10. Friendship (26:01)
a) Prelude: Take The Road Across The Bridge (6:09)
b) Friendship (2:20)
c) Interlude (2:37)
d) Mountain Voices (3:08)
e) Land Of The Foxes (3:00)
f) Friendship That's Earned (2:55)
g) Into The Cloudburst (2:05)
h) Manitou's Skylands & Down To Earth (1:25)
i) Friendship (2:03)


Line-up
Bent Aaserud guitar, vocals
Geir Boehren drums, vocals
Freddie Dahl guitar, vocals
Heige Broslie Organ, vocals
Oyvind Vilbo bass


Link para baixar: http://lix.in/24ae7c

BARÃO VERMELHO

Ao lado de Blitz, Paralamas do Sucesso e Kid Abelha, o Barão Vermelho é um dos principais nomes da geração do rock brasileiro que se projetou no começo dos anos 80, abrindo portas para o gênero na indústria fonográfica e no coração do público nacional. O Barão Vermelho lançou disco antes, mas, em termos de popularidade, chegou praticamente junto deles aos palcos da primeira edição do Rock in Rio, passo definitivo para a eclosão de toda uma cena que incluiu a "turma de Brasília" (Legião Urbana, Capital Inicial, Plebe rude) e as "bandas do Sul" (Engenheiros do Hawaii, Nenhum de Nós, Replicantes). O grupo se tornou conhecido por tocar rock & roll inspirado no blues, a exemplo dos Rolling Stones, mas em vários momentos da carreira optou por caminhos mais brasileiros. O vocalista Cazuza teve várias de suas músicas gravadas por artistas da MPB, gênero do qual se aproximou em sua trajetória-solo.

O Barão Vermelho nasceu em 1981, no Rio de Janeiro, a partir da vontade de Roberto Frejat, Guto Goffi, Dé Palmeira e Maurício Barros de tocar rock’n roll em estado puro. Mas só no ano seguinte, os quatro integrantes encontrariam o vocalista Cazuza e gravariam o primeiro LP, "Barão Vermelho", pela Som Livre, fazendo alguns shows apenas no Rio e em São Paulo. Depois do lançamento do disco "2", que inclui a faixa "Pro Dia Nascer Feliz", vem o sucesso nacional em 1984 com "Beth Balanço", da trilha sonora do filme de mesmo nome e presente no terceiro disco do grupo, "Maior Abandonado". Em janeiro de 1985 participam do festival Rock In Rio e em junho é anunciada a saída do vocalista Cazuza, que parte para carreira solo, e a entrada de Fernando Magalhães e Peninha. Frejat passa a ser vocalista e o Barão Vermelho

Ao todo são 23 anos de carreira e 15 CDs, que mantém o Barão Vermelho como uma das principais grifes do Rock Brasil. "Declare Guerra", "Por Que A Gente É Assim", "Quem Me Olha Só", "Pense e Dance", "Torre de Babel", “Billy Negão”, “Por você”, "O Poeta Está Vivo", "Supermercados da Vida", "Malandragem Dá um Tempo" e "Puro Êxtase" são alguns dos hits inesquecíveis que agregam diferentes gerações nos shows da banda pelo Brasil.

Atualmente a formação do Barão Vermelho é composta por Roberto Frejat (guitarra e voz), Fernando Magalhães (guitarra), Rodrigo Santos (baixo), Guto Goffi (bateria) e Peninha (percussão). Nos shows contam com a participação especial de Maurício Barros (teclados).


COPIADO DE: SUCODEPREGOS

BARÃO VERMELHO - 1982


01 Posando de star
02 Down em mim
03 Contos de fadas
04 Billy Negão
05 Certo dia na cidade
06 Rock'n geral
07 Ponto fraco
08 Por aí
09 Todo amor que houver nessa vida
10 Bilhetinho azul
Link do CD - http://lix.in/d2fc5a


BARÃO VERMELHO 2 - 1983
01 Intro
02 Menina Mimada
03 O Que A Gente Quiser
04 Vem Comigo
05 Bicho Humano
06 Carente Profissional
07 Largado No Mundo
08 Carne De Pescoço
09 Pro Dia Nascer Feliz
10 Manhã Sem Sonho
11 Blues Do Iniciante

Link do CD - http://lix.in/de2956


MAIOR ABANDONADO - 1984



01 Maior Abandonado 02 Baby Suporte
03 Sem Vergonha
04 Você Se Parece Com Todo Mundo
05 Milagres
06 Não Amo Ninguém
07 Por Que A Gente é Assim?
08 Narciso
09 Nós
10 Dolorosa
11 Bete Balanço

Link do CD - http://lix.in/bc2b37





DECLARE GUERRA - 1986

01 Um Dia Na Vida
02 Desabrigado
03 Torre de Babel
04 Bagatelas
05 Não Quero Seu Perdão
06 Bumerangue Blues
07 Declare Guerra
08 Linda e Burra
09 Maioridade
10 Que O Deus Venha 11 Eu Tô Feliz
Link do CD - http://lix.in/a9e1d7




ROCK'N GERAL - 1987



01 Amor de Irmão
02 Sonhos Que Dinheiro Nenhum Compra
03 Tá Difícil de Aturar
04 Completamente Nova
05 Blues do Abandono
06 Me Acalmo, Me Desespero
07 Copacabana
08 Dignidade
09 Agora Tudo Acabou
10 Quem Me Olha Só
11 Contravenção
Link do CD - http://lix.in/27f8db




CARNAVAL - 1988

01 Lente
02 Pense e Dance
03 Não Me Acabo
04 O Que Você Faz A Noite?
05 Nunca Existiu Pecado
06 Como Um Furacão
07 Quem Me Escuta
08 Selvagem
09 Carnaval
10 Rock da Descerebração
Link do CD - http://lix.in/50df57




BARÃO AO VIVO - 1989



01 Ponto Fraco
02 Carne de Pescoço
03 Pense e Dance
04 Bete Balançoe
05 Não Amo Ninguém
06 Por Que a Gente é Assim?
07 Rock do Cachorro Morto
08 Quem Você Pensa Que é
09 Pro Dia Nascer Feliz
10 Satisfaction
11 Lente
12 Bagatelas
Link do CD - http://lix.in/41fb1f





NA CALADA DA NOITE – 1990

01 Politica Voz 02 O Invisível
03 Na Calada da Noite
04 Beijos de Arame Farpado
05 Sonhos Pra Voar
06 Seco
07 Tão Longe de Tudo
08 A Voz da Chuva
09 Tua Canção
10 Invejo os Bichos
11 O Poeta Está Vivo

Link do CD - http://lix.in/325503




SUPERMERCADOS DA VIDA- 1992


01 Fúria e Folia
02 Odeio-Te Meu Amor
03 Pedra, Flor e Espinho
04 Flores do Mal
05 Azul, Azulão
06 Fogo de Palha
07 Fios Elétricos
08 Supermercados da Vida
09 Sombras No Escuro
10 Cidade Fria
11 A Noite Não Acabou
12 Comendo Vidro
13 Portos Livres
14 Marcas No Pescoço
Link do CD - http://lix.in/2ceef9



CARNE CRUA – 1994


01 Carne Crua 02 Meus Bons Amigos
03 Daqui Por Diante
04 Sem Dó
05 Pergunte Ao Tio José
06 Guarda Essa Canção
07 Seremos Macacos Outra Vez
08 Não Me Fuja Pelas Mãos
09 Vida Frágil
10 Rock do Vapor
11 O Inferno é Aqui

Link do CD - http://lix.in/297f93





ÁLBUM – 1996
01 Só Pra Variar 02 Malandragem dá Um Tempo
03 Vem Quente Que Estou Fervendo
04 Só As Mães São Felizes
05 Vale Quanto Pesa
06 Perdidos Na Selva
07 Amor Meu Grande Amor
08 Não Há Dinheiro Que Pague
09 Jardins da Babilônia
10 Um Índio

Link do CD - http://lix.in/f0e266



PURO ÊXTASE- 1998


01 Iceberg
02 Puro Êxtase
03 Por Você
04 Presente Ordinário
05 Cena de Cinema
06 Quando Você Não Está Por Perto
07 Vou Correndo Até Você
08 O Sono Vem
09 No Topo do Mundo
10 Estranho Exemplo
Link do CD - http://lix.in/c88020




BALADA MTV – 1999


01 Bilhetinho Azul 02 Tente Outra Vez
03 Por Que A Gente é Assim
04 Enquanto Ela Não Chegar
05 Por Você
06 Meus Bons Amigos
07 Pedra, Flor e Espinho
08 O Poeta Está Vivo
09 Eu Queria Ter Uma Bomba
10 O Tempo Não Pára
11 Todo O Amor Que Houver Nessa Vida
12 Puro Êxtase
13 Pense e Dance
14 Quando O Sol Bater Na Janela do Seu Quarto

Link do CD - http://lix.in/f57feb




BARÃO VERMELHO – 2004


01 Cara a Cara 02 Cuidado
03 Mais Perto do Sol
04 A Chave da Porta da Frente
05 Pra toda a vida
06 Embriague-se
07 O dia em que você me salvou
08 Cigarro aceso no braço
09 Tão Inconveniente
10 A Máquina de Escrever
11 Só o tempo

Link do CD - http://lix.in/fc2612


MTV AO VIVO – 2005
Disco 01
01 Maior Abandonado
02 Bete Balanço
03 Cuidado
04 Cara A Cara
05 Pedra, Flor e Espinho
06 A Chave da Porta da Frente
07 Por Que A Gente é Assim
08 Ponto Fraco
09 Tão Longe de Tudo
10 Politica Voz
11 Down Em Mim
12 O Poeta Está Vivo
Disco 02
01 Codinome Beija-Flor
02 O Tempo Não Pára
03 Nosso Mundo
04 Meus Bons Amigos
05 Declare Guerra
06 Malandragem Dá um Tempo
07 Quando O Sol Bater Na Janela do Seu Quarto
08 Pense e Dance
09 Puro Êxtase
10 Amor Meu Grande Amor
11 Por Você
12 Tente Outra Vez
13 Pro Dia Nascer Feliz

John Lee Hooker - Mr Lucky





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John Lee Hooker - One Bourbon, One Scotch, One Beer




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John Lee Hooker - This Is Hip Vol.7




Globo vive crise histórica de público, poder e credibilidade


Por André Cintra


A TV Globo amarga um desgaste histórico. Nenhum executivo da emissora chega a temer pela não-renovação das cinco concessões que expiram nesta sexta-feira (5). Mas nem essa convicção atenua a crise de uma Globo que: 1) perde audiência sem parar; 2) é cada vez mais contestada por movimentos da sociedade civil; e 3) já não ostenta tanto poder e credibilidade diante da opinião pública.


Não dá para dizer que, em curto prazo, a hegemonia da família Marinho na televisão brasileira esteja sob risco. Até a Record - que desbancou o SBT do posto de principal concorrente da Globo - assume que precisa de pelo menos cinco anos para alcançar a liderança de audiência. Ainda assim, dia após dia, estatística a estatística, a Globo decai.

Essa constatação fica explícita na Grande São Paulo - área mais disputada pelas emissoras, onde cada ponto abrange 55 mil domicílios. A TV Globo encerrou o mês de setembro com vantagem de 11 pontos sobre a Record (18 x sete). Em relação a setembro de 2006, esses números revelam que audiência global despencou 11,8%, enquanto a Record ganhou 50,2%.

A guerra entre os dois canais se acirrou com a inauguração da Record News, na última semana, em cerimônia realizada em São Paulo. Visivelmente preocupada, a Globo apelou para o governo federal na tentativa de impedir a estréia da emissora de notícias. Evandro Guimarães, vice-presidente de Relações Institucionais das Organizações Globo, teve audiência com o ministro das Comunicações, Hélio Costa, e com outras autoridades ligadas ao Palácio do Planalto. Sua missão era impedir que a Record News entrasse no ar devido a "ilegalidades". Fracassou.

O vexame maior se deu no dia da cerimônia da inauguração. Segundo informou Paulo Henrique Amorim no site Conversa Afiada, "a Globo fez uma pressão violentíssima, de última hora, sobre o Palácio do Planalto, para impedir que o Presidente Lula fosse à festa de lançamento da Record". As armas da Globo: "detalhes técnicos minuciosos, que continha o argumento de que a lei impede uma rede de ter dois canais na mesma área".

Como se viu horas depois, o ataque final foi infrutífero, e o presidente da República inaugurou a emissora. As "pressões de bastidores" perderam o peso que tinham nos tempos em que a Globo era capaz de arquitetar resultados eleitorais e guiar ações do Congresso.

Programas em baixa

São visíveis os sinais de que o público depende menos da Globo para se informar e se distrair. A debandada atinge novelas (carro-chefe da audiência global), futebol (sobretudo seleção brasileira), seriados, atrações semanais (como Linha Direta, Fantástico e Esporte Espetacular) e a programação da manhã.

Do primeiro ao último capítulo, Paraíso Tropical - que foi ao ar até sábado (29/9) - teve média geral de 42,8 pontos. Entre as "novelas da 8" que a emissora exibiu nesta década, trata-se do segundo pior desempenho - o típico "fiasco de público". Não atingiu a meta mínima de 45 pontos, estipulada pela Globo. Mais inferior ainda foi a sucessora, Duas Caras, que teve a pior estréia da década, com 40,3 pontos no primeiro capítulo - e caiu mais quatro pontos no capítulo seguinte.

"A comparação das audiências regionais da Globo evidencia que a novela da oito, líder na média nacional e nas principais capitais, não é uma unanimidade", explicou Daniel Castro na Folha de S.Paulo. Segundo o jornalista, Paraíso Tropical teve "rejeição nas cidades do interior" - situação com que poucas vezes a Globo teve de lidar.

Malhação é outro exemplo de programa global em queda livre. Na média, foram 32 pontos em 2004, 31 em 2005, 29 em 2006 e apenas 25 em 2007 (janeiro a setembro). O despencar da atração levou a Globo a antecipar o final da temporada de janeiro para novembro.

Também o Fantástico, líder de audiência aos domingos, decresce programa a programa - já caiu cinco pontos de agosto a setembro. O cenário mudou. Reportagens "especiais" foram feitas na reta final da novela das 8. Nada resolveu. "Deve haver uma soma de fatores influenciando esse relativo desinteresse do público", escreveu a crítica de TV Bia Abramo. "Mas será que para isso também não concorre simplesmente um envelhecimento fatal da fórmula?"

E aí está o segredo da TV Record. A emissora do bispo Edir Macedo chupa o "padrão Globo de qualidade", seja no jornalismo, seja na teledramaturgia. Mas tempera isso com ousadia e ritmo próprios, aproximando-se do interesse dos jovens espectadores.

A reação

Uma verdade: a Globo, no cômputo geral, ainda tem mais público que a soma de Record e SBT. A diferença, no entanto, vai diminuindo. Em 2000, metade dos espectadores sintonizava a Globo. Atualmente, sua audiência não passa de 43% - e a emissora já começa a correr para reverter o declínio.

No começo de setembro, mandou a anunciantes um documento de 14 páginas exclamando uma "destacada liderança em todo o Brasil". Segundo Daniel Castro, a iniciativa foi interpretada no mercado "como uma demonstração da Globo de preocupação com o marketing e com o crescimento de audiência e comercial da Record".

Uma semana depois, o 7º Encontro Globo de Criação não se restringiu a seu tema habitual - o estudo de programas novos para especiais de fim de ano. O principal ponto em debate foi justamente a audiência perdida para outras emissoras, outras mídias e até para a apatia do espectador.

A disputa pelo público matutino é a prova maior do desprestígio da Globo, ameaçada pelos desenhos do SBT e pelo interessante programa Hoje em Dia, da Record. A emissora carioca já patinou várias vezes num terceiro lugar no período da manhã, expondo a decadência de estrelas como Ana Maria Braga e Xuxa.

Quem dera fosse só de manhã. Na noite de 12 de junho deste ano, a Globo estreou a esperada microssérie A Pedra do Reino - uma das apostas da emissora, e um sucesso de crítica. Ficou novamente atrás da Record (22 pontos com O Aprendiz) e do SBT (16 com o filme Lara Croft - A Origem da Vida). A microssérie registrou 14 pontos.

Sob ataques

O desgaste da maior emissora do país se reflete no Congresso Nacional e nos movimentos sociais. Lá como cá, as manifestações e os discursos anti-Globo se multiplicam. Em defesa do canal, pode-se dizer que houve protestos contra outros veículos, como o ato do Movimento Sem-Mídia à frente da Folha de S.Paulo e da UJS (União da Juventude Socialista) diante da Editora Abril. A Globo, ainda, assim, "lidera" o ranking da indignação.

Em 19 de setembro, o deputado federal Fernando Ferro (PT-PE) foi à tribuna da Câmara e, de forma irônica, propôs a criação do Partido da Imprensa - com Arnaldo Jabor de presidente, Miriam Leitão como secretária-geral e Diogo Mainardi na tesouraria. O mesmo parlamentar voltou ao plenário neste mês de outubro e acusou o diretor-executivo da Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel, de "falsificador" de informações.

As queixas generalizadas contra a emissora da família Marinho culminam, nesta sexta-feira, em manifestações lideradas pela Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) - A Jornada Nacional de Lutas pela Democratização dos Meios de Comunicação. Com eventos marcados em 15 capitais, entidades como CUT, UNE e MST exigirão mais rigor e controle público na renovação de concessões de rádio e TV.

São as grandes redes - Globo à frente - que estão no centro da contestação. Uma manifestação cultural chamada Globo Mente tomará o Rio de Janeiro. No Recôncavo Baiano e no Recife, comunidades quilombolas sairão às ruas para denunciar as difamações promovidas pela emissora. Os quilombolas da Bahia incentivarão o povo a não ver a programação da Globo durante o dia.

É difícil que as cinco afiliadas globais percam sua licença. Um decreto de 1963 permite a renovação automática das concessões enquanto o Congresso não aprecia a questão. Mesmo que o caso chegue lá, dois quintos do Congresso Nacional precisam aprovar a não-renovação em votação nominal. Mas, legislação à parte, a confiabilidade da TV Globo nunca esteve tão à prova.





Libido


Freud notou que na maioria dos pacientes que teve desde o início de sua prática clínica, os distúrbios e queixas de natureza hipocondríaca ou histérica, estavam relacionados a sentimentos reprimidos com origem em experiências sexuais perturbadoras.

Assim ele formulou a hipótese de que a ansiedade que se manifestava nos sintomas era conseqüência da energia (libido) ligada à sexualidade; a energia reprimida tinha expressão nos vários sintomas que serviam como um mecanismo de defesa psicológica. Essa força, o instinto sexual, não se apresentava consciente devido à "repressão" tornada também inconsciente; Revelação da "repressão" inconsciente era obtida pelo método da livre associação (inspirado nos atos falhados ou sintomáticos, em substituição à hipnose) e interpretação dos sonhos (conteúdo manifesto e conteúdo latente).
O processo sintomático e terapêutico compreendia: experiência emocional - recalque e esquecimento - neurose - análise pela livre associação - recordação - transferência - descarga emocional - cura.
Picture by David Cunningham
Copiado de: AmigosDoFreud

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Simultânea gigante como homenagem
ao Che enxadrista

POR JOSÉ ANTONIO FULGUEIRAS

SANTA CLARA. — Com uma simultânea gigante de xadrez, no parque Leoncio Vidal, os amadores do jogo-ciência honrarão, nesta tarde, 4 de outubro, ao Guerrilheiro Heróico Ernesto Guevara.

Grandes Mestres e Mestres Internacionais da provincia, além de outras, atuarão frente a 1.500 tabuleiros defendidos por alunos da EIDE e da Faculdade de Cultura Física Comandante Manuel Piti Fajardo, escolas de trabalhadores sociais e de arte, e população em geral.

O GM Jesús Nogueiras expressou ao Granma que dedicar-lhe esta simultânea ao Che é o melhor tributo que possa fazer um xadrezista, já que ele vaticinou que em Cuba haveria Grandes Mestres e seriam um fruto da Revolução.

Na quinta-feira, 29 de abril de 2004 foi organizada nesta cidade uma das maiores simultâneas registradas na história do xadrez até esse momento, ao reunir 13.000 tabuleiros frente à Praça Ernesto Che Guevara, na qual participou o presidente Fidel Castro.

Outra economia, além do capital

Diplo - editorial


Espalham-se pelo planeta empreendimentos que organizam produção, comércio e finanças segundo valores e lógicas de solidariedade. Carola Rentjes, uma das referências internacionais desse universo, inaugura, no Le Monde Diplomatique Brasil, uma coluna sobre ele


Por tradição, quando falamos de economia (local e global, micro e macro), militantes, movimentos, pensadores e intelectuais da denominada esquerda [1] têm mantido uma atitude ambígua ante o terreno lamacento que a rodeia, associando-a, per si, com economia globalizada, a cara oculta da democracia, a mão invisível (mas onipotente) do mercado e o capitalismo em suas expressões mais excludentes.

Ante essa associação negativa, os mesmos atores têm preferido, em sua grande maioria, excluir o terreno econômico de sua intervenção cívica e política. Em sua agenda social e política entraram reivindicações dirigidas à economia globalizada-neoliberal-neoconservadora — mas não visões alternativas do mundo econômico. Teremos limitado nossa capacidade criativa de visualizar e construir outro mundo possivel a propostas e alternativas do âmbito social, político e cultural — sem vislumbrar outra economia possível?

Entretando, milhares de pessoas — formiguinhas em todos os cantos no mundo — não somente se atreveram a sonhar com outra economia mas também a estão construindo. Passo a passo, ladrilho por ladrilho. A utopia é o máximo do possível. E esse axioma vale, também, para o mundo da economia, como bem demonstram tais iniciativas de economia alternativa e solidária.

Elas surgem da necessidade de dar resposta à progressiva deterioração social, econômica e cultural que vivem as populações, devido à da crescente desumanização da economia, à degradação do meio-ambiente e da qualidade de vida, à falta de valores éticos, à piora paulatina do nível de cultura e de educação. As conseqüências mais evidentes dessa desumanização da economia são: o aumento da pobreza e as desigualdades sociais, afetando em especial a população vunerável (mulheres, menores, indígenas, etc.), a exclusão social e econômica, o desemprego e o emprego precário. A magnitude dos problemas que impregna nossa realidade cotidiana nos afeta, nos implica, nos põe diante de desafios e nos exige respostas que se desviem de tais carências e injustiças.

A Economia Alternativa e Solidária é uma forma de gerir a economia e a sociedade, e engloba todas as atividades da cadeia produtiva/comercial/financeira, até o consumo. Com seu enfoque global e sua marca ética, contribui para democratizar e socializar a economia e democratizar a sociedade.
Um mundo de novas práticas e princípios

A nova economia consiste em produzir critérios ambientais e sociais, organizar as iniciativas sociais e empresariais, e os que nela trabalham em entes auto-gestionados. Significa produzir, gerir, comercializar e consumir com critérios éticos. Depositar a poupança em sistemas financeiros baseados em solidariedade. Consumir produtos ecológicos ou de comércio justo. Usar dinheiro social ou moeda local. Tecer redes de troca solidária, de desenvolvimento local, ou de serviços da proximidade, educativos ou culturais. Todas essas manifestações contribuem no dia-a-dia — e a partir do setor econômico — para construir outra globalização.

O leque de setores envolvidos é extenso. Um elemento unificador é a busca e realização de atividades econômicas de alto componente social, ambiental e solidário. Diferentes realidades e redes setoriais representam, em todas as regiões do planeta, a face mais conhecida de tal realidade: consumo ético, finanças solidárias, comércio justo de bens e serviços. Agroecologia e agricultura sustentáveis. Meios e redes de comunicação alternativa. Desenvolvimento local, desenvolvimento rural, projetos comunitários no meio urbano. Diálogos interculturais. Sistemas de trocas solidárias e de moeda local e consumo responsável são algumas das tentativas concretas de resposta coletiva e criativa na busca de outra economia possível.

Nos últimos anos, o lema do Fórum Social Mundial tem ganhado notoriedade: Outro mundo é possível. A Economia Alternativa e Solidária contribui na construção desse outro mundo. Não existe a possibilidade de transformação política e social se não há transformação econômica.
Suprir desejos, evitando consumismo

Essa aproximação inovadora visa recuperar as raízes da economia, colocando-a a serviço das necessidades de todas as pessoas. Evita-se, assim, que tais necessidades assumam apenas a forma de demanda de mercadorias, que é estimulada pela propaganda consumista do capital e termina varrendo a rica variação cultural que deveria caracterizar um mundo global. O desafio consiste em repensar, reorientar e reconstruir a economia, para colocá-la a serviço do ser humano e da natureza.

O principal sujeito do desenvolvimento político, socioeconômico e cultural deve ser o próprio povo, pessoa por pessoa. Outro mundo é possível, e outro mundo poderá ser construído, somente se alcançarmos a transformação de valores, estruturas e relações econômicas, das pessoas e comunidade para o mundo. Nosso objetivo final é uma mundialização cooperativa da solidariedade, uma economia (do grego eco-nomia) recriada como a gestão e o cuidado (nomia) da casa (oikos), desde o doméstico, o lar e a comunidade local até o Planeta Terra

Tradução: Gabriela Leite

[1] Na hipótese de que tal ente ideológico-homogêneo exista e, é claro, sem a prestensão de querer definir esta esquerda, ou de julgar se existe a esquerda

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Jim Hall / Attila Zoller - Blues In The Closet

A ditadura da mídia no Brasil



Altamiro Borges

“Não se preocupem. Não queremos controlar o mundo. Só queremos um pedaço dele”.

Rupert Murdoch, dono do império midiático News Corporation, presente em 133 países.

“Sim, eu uso o poder [da Rede Globo], mas eu sempre faço isso patrioticamente”.

Roberto Marinho, ex-proprietário do maior conglomerado midiático do Brasil.

A mídia hegemônica vive um paradoxo. Ela nunca foi tão poderosa no mundo e no Brasil, em decorrência dos avanços tecnológicos nos ramos das comunicações e das telecomunicações, do intenso processo de concentração e monopolização do setor nas últimas décadas e da criminosa desregulamentação do mercado que a deixou livre de qualquer controle público. Atualmente, ela exerce uma brutal ditadura midiática, manipulando informações e deturpando comportamentos. Na crise de hegemonia dos partidos burgueses, a mídia hegemônica confirma uma velha tese do revolucionário italiano Antonio Gramsci e transforma-se num verdadeiro “partido do capital”.

Por outro lado, ela nunca esteve tão vulnerável e sofreu tantos questionamentos da sociedade. No mundo todo, cresce a resistência ao enorme poder manipulador da mídia, expresso nas mentiras ditadas pela CNN e Fox para justificar a invasão dos EUA no Iraque, ou na sua ação golpista na Venezuela ou na cobertura imparcial dos processos eleitorais. Alguns governantes, respaldados pelas urnas, decidem enfrentar, com formas e ritmos diferentes, esse poder que se coloca acima do Estado de Direito. Outro fator que hoje fragiliza os “donos da mídia” é a guerra travada entre empresas de radiodifusão e multinacionais das telecomunicações devido à convergência digital.

Este quadro, com seus paradoxos, coloca em novo patamar a luta pela democratização da mídia e pelo fortalecimento de meios alternativos, contra-hegemônicos, de comunicação. Este desafio se tornou estratégico. Sem enfrentar a ditadura midiática, não haverá avanços na democracia, nas lutas dos trabalhadores por uma vida mais digna, na batalha histórica pela superação da barbárie capitalista e, nem mesmo, na construção do socialismo. Aos poucos, os partidos de esquerda e os movimentos sociais se dão conta de que esta luta estratégica exige reforço dos meios alternativos de comunicação, a denúncia da mídia privada e uma plataforma por sua efetiva democratização.

Concentração e poder mundial

O monopólio da mídia na atualidade é assustador, sem precedentes na história. Segundo estudos de Robert McChesney, “o mercado global é dominado por uma primeira camada de cerca de dez imensos conglomerados... Eles têm ações em diversos setores da mídia e operam em todos os lugares do mundo. Existe uma segunda camada onde estão cerca de quarenta empresas de mídia que giram em torno do sistema global. A maioria dessas firmas provém da Europa Ocidental ou da América do Norte, mas algumas são da Ásia e da América Latina”. A humanidade fica refém destes monopólios, com receitas entre US$ 8 bilhões e US$ 40 bilhões, que defendem, de forma escancarada ou enrustida, os interesses das corporações capitalistas e das potências imperialistas.

Relatório recente de uma Comissão Especial da ONU adverte que 85% das notícias que circulam no planeta são geradas nos EUA. “Pensemos na CNN, que distribui, por satélites e cabos, a partir da matriz em Atlanta, notícias 24 horas por dias para 240 milhões de lares em 200 países e mais 86 milhões nos Estados Unidos, além de 890 mil quartos de hotéis conveniados. O mundo em tempo real exibido para 1 bilhão de telespectadores. A CNN não apenas criou e universalizou uma linguagem e um formato para a informação televisiva, como, várias vezes, alinha a sua orientação editorial com interesses estratégicos norte-americanos. Lembremo-nos da cobertura favorável ao governo Bush na invasão do Iraque”, alerta o professor Dênis de Moraes.

A interferência política e ideológica da mídia é brutal, conforme reconhece David Rothkopf, ex-consultor do governo ianque: “O objetivo central da política externa na era da informação deve ser o de ganhar a batalha dos fluxos de informação mundial, dominando as suas ondas, da mesma forma como a Grã-Bretanha reinava antigamente sobre os mares”. Tanto que os EUA aplicam no setor de 3,5% a 5,2% do PIB. Além disto, a mídia hoje influi na própria reprodução e mobilidade do capital. A agência Reuters, com escritórios em 94 países, envia informações atualizadas oito mil vezes por segundo para os seus 511 mil usuários. Seu acervo digital inclui três bilhões de dados sobre mais de 40 mil empresas do mundo, 244 bolsas de valores e 960 mil ações, títulos e papéis.

Com a desregulamentação neoliberal e os avanços tecnológicos, este processo de monopolização se acelerou vertiginosamente nos últimos anos. Dênis de Moraes cita alguns casos perturbadores. “As gigantes estão engolindo as grandes empresas. A News Corporation abocanhou por US$ 6,6 bilhões 34% das ações da DirecTV e se transformou no única czar da televisão digital via satélite mundial, pois já controlava a concorrente Sky. A General Eletric, que já possuía a rede NBC, absolveu a Universal, proprietária da maior gravadora de discos do mundo, do segundo maior estúdio de cinema, de cinco parques temáticos e emissoras de televisão. A Interpublic, número 1 da publicidade global, incorporou a True North, até então a oitava no ranking”. E por aí vai...

O latifúndio midiático no Brasil

No Brasil, por vias transversas, o processo de monopolização também é uma dura realidade. Na década passada, nove grupos familiares controlavam o grosso da mídia nativa: Marinho (Globo), Abravanel (SBT), Saad (Bandeirantes), Bloch (Manchete), Civita (Abril), Mesquita (Estado), Frias (Folha), Levy (Gazeta), Nascimento e Silva (Jornal do Brasil). Hoje são apenas cinco, com a débâcle das famílias Mesquita, Bloch, Levy e Nascimento, que já não exercem mais o controle sobre os seus antigos veículos. Por outro lado, surgiram alguns grupos regionais, associados aos impérios nacionais, como a RBS, que atua no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.

No caso brasileiro, a concentração da mídia vem de longa data e foi impulsionada pela ausência na legislação de qualquer norma proibindo a propriedade cruzada – a posse de inúmeros veículos em diferentes setores (jornais, rádio, televisão). Nos EUA, país citado pelos radiodifusores como exemplo de “liberdade de expressão”, desde 1943 existem regras para limitar a concentração. No Brasil, nunca existiram. Desde as normas que iniciaram a regulação da radiodifusão nos anos 30 (decretos 20.047/31 e 21.111/32), passando pelo Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei nº. 4.137, de 1962), nunca houve a preocupação com a monopolização. A Constituição de 1988, no seu Capítulo 5, até fixou normas para evitar a concentração, mas nunca foram regulamentadas.

O resultado foi uma histórica concentração neste setor estratégico, impedindo a pluralidade e a diversidade de opinião. O grupo Diários Associados, que começou com a compra de um pequeno jornal no Rio de Janeiro, em 1924, rapidamente se expandiu. Em 1959, já era o maior império da mídia na América Latina, com 40 jornais e revistas, mais de 20 estações de rádio, uma dezena de emissoras de televisão, uma agência de notícias e uma empresa de propaganda – “além de um castelo na Normandia, nove fazendas espalhadas por quatro estados, indústrias químicas e laboratórios farmacêuticos”, segundo descrição do Atlas da Fundação Getúlio Vargas.

Ele foi desbancado pela Globo, que também começou com um jornal em 1925, consolidou-se na ditadura militar e hoje é hegemônica na mídia. Levantamento do Instituto de Pesquisas e Estudos em Comunicação, concluído em 2002, revelou que a TV Globo possui 223 emissoras próprias ou filiadas e controla o maior número de veículos em todas as áreas: 61,5% das emissoras de TV em UHF, 40,7% dos jornais, 31,8% das TVs VHF, 30,1% das rádios AM e 28% das FM. Em 2003, as TVs abocanharam 60,4% do total da verba publicitária do país (R$ 6,53 bilhões). Destas, 78% foram para a Rede Globo. Em 2005, a Rede Globo, sem incluir as filiadas, teve um faturamento líquido de R$ 4,3 bilhões - cerca de três vezes o faturamento da Record e SBT juntos.

Além da concentração, a mídia brasileira passa por um perigoso processo de internacionalização. Desde a aprovação da Emenda Constitucional 36/2002 e de sua regulamentação pela Lei 10.610, de dezembro de 2002, no final do reinado de FHC, o capital estrangeiro foi autorizado a adquirir até 30% das ações das empresas jornalísticas e de radiodifusão. Já a Lei da TV a Cabo permite o ingresso do capital externo em até 49% e as normas que regem a telefonia fixa e celular e a TV paga em MMDS (via microondas) e em DTH (via satélite) não estabelecem nenhuma restrição ao capital estrangeiro. Nesse sentido, o próprio discurso nacionalista das emissoras de televisão, em disputa com as teles pelo controle da digitalização, parece meio hipócrita e oportunista.

Como denuncia Gustavo Gindre, no artigo “Globo: discurso nacionalista, negócios nem tanto”, os interesses nacionais foram, há muito, abandonados por esta empresa. “A Globo negociou a venda da Net Serviços (a operadora do grupo) à Telmex, de propriedade do homem mais rico da América, o mexicano Carlos Slim Helu. Helu é dono, no Brasil, da empresa de telefonia celular Claro, da Embratel e da antiga AT&T Latin América... A Telmex passa a controlar diretamente 37,5% das ações da Net Serviços e, indiretamente, através da GB, mais 24,99%. Ou seja, ainda que não tenha formalmente o controle da Net Serviços, a Telmex fica com 62,49% das ações ordinárias (com direito a voto) da Net Serviços. E a Globo apenas com 24,99%”.

O mesmo ocorre em outras empresas do setor. Em julho de 2004, a Abril anunciou a venda de 13,8% de suas ações para a Capital International, gestora de fundos dos EUA. Já em maio de 2006, emitiu comunicado informando “a sociedade com o grupo de mídia sul-africano Naspers, que passa a ter 30% de capital do grupo”. Em junho último, ela vendeu a TVA à multinacional Telefónica. Com o agravante da internacionalização, o professor Venício Lima resume o quadro da mídia: “O sistema brasileiro de mídia, além de historicamente concentrado, é controlado por poucos grupos familiares; é vinculado às elites políticas locais e regionais, revela um avanço sem precedentes de igrejas e é hegemonizado por um único grupo, as Organizações Globo”.

Hegemonia e poder manipulador

Com base neste poder descomunal, a mídia hegemônica sempre procurou manipular a sociedade brasileira. O bombardeio recente contra o presidente Lula, em função das suas origens nas lutas operárias e de algumas de suas políticas contrárias aos interesses da elite burguesa não é um fato novo no país. No passado, usando o denuncismo do “mar de lama”, ela levou Getúlio Vargas ao suicídio em 1954. Contra o governo João Goulart, fez campanha por sua derrubada, alardeando o “perigo do comunismo”. Durante a ditadura militar, a Folha de São Paulo, que ainda engana muita gente com o seu falso ecletismo, emprestou suas peruas para o transporte de presos políticos. Até o final, a Rede Globo procurou esconder a campanha das Diretas-Já, que contagiava a sociedade.

Já na redemocratização do país, a mídia tentou criar obstáculos para o avanço das lutas operárias. Com a retomada das greves no final dos anos 70, ela tratou os grevistas como arruaceiros. Já na Constituinte de 1988, ela defendeu a principais teses neoliberais, contra as medidas de defesa da economia nacional e contra os direitos trabalhistas – conforme comprova um excelente estudo de Francisco Fonseca. Diante do risco da vitória de um candidato oriundo das lutas operárias, em 1989, ela criou a imagem do “caçador de marajás”, garantindo a vitória de Collor sobre Lula. Nos anos 90, a mídia foi a vanguardeira da implantação do neoliberalismo no país. Ela blindou a figura de FHC, pregando a privatização do Estado, a desnacionalização e a desregulamentação.

A tsunami neoliberal, somada às mutações tecnológicas, reforçou ainda mais este monopólio. A vitória de Lula em 2002 foi encarada como um grave risco pelos “donos da mídia”; ela poderia reverter esse processo de concentração e manipulação. Exatamente por isso, a ditadura midiática sempre exerceu forte pressão sobre o novo governo. Como observa Venício Lima, “antes mesmo da revelação pública das cenas de corrupção nos Correios, em maio de 2005, o ‘enquadramento’ da cobertura que a grande mídia fez, tanto do governo Lula como do PT e de seus membros, expressava uma ‘presunção de culpa’, que, ao longo dos meses seguintes, foi se consolidando por meio de uma narrativa própria e pela omissão e/ou pela saliência de fatos importantes”.

A revista Veja foi ao ápice da manipulação. “Entre maio de 2005 e janeiro de 2006, foram pelo menos 20 capas sobre a crise, denúncias não comprovadas sobre o comportamento ilegal de familiares do presidente (filho e irmão), sobre dinheiro ilegal proveniente da Colômbia e de Cuba para as campanhas eleitorais do PT”, lembra Venício. Já o colunista Clóvis Rossi, da Folha, encontrou “as digitais do PT” no assassinato do brasileiro Jean Charles em Londres, em setembro de 2005. No caso da Rede Globo, que estava dependente dos empréstimos do governo, ela deu sua cartada fatal na reta final da eleição de 2006, forçando o segundo turno – conforme comprovou a histórica reportagem de Raimundo Rodrigues Pereira.

Outra mídia é possível e urgente

As eleições no Brasil, assim como a derrota do “golpe midiático” na Venezuela ou a vitória de Evo Morales na Bolívia (contra 83% das notícias opostas a sua candidatura), revelam que esta infernal máquina de manipulação de “corações e mentes” não é imbatível. Estes resultados têm, inclusive, levado partidos de esquerda, movimentos sociais e novos governantes, alvos da fúria midiática, a refletirem sobre o papel estratégico a mídia na atualidade. Alguns governantes, mais ousados e refletindo a correlação de forças internas, adotam posturas para coibir a “liberdade de empresa”, que não se confunde com “liberdade de imprensa”, como caso da RCTV venezuelana.

No Brasil, o segundo mandato do governo Lula dá sinais de que acordou diante do poder destes monopólios. No primeiro mandato, ele só fez ceder à ditadura midiática, com a ilusão de que poderia atraí-la ou neutralizá-la, como ficou patente na adoção do padrão japonês de TV digital, bem ao gosto da Rede Globo. Agora, o governo manifesta a intenção de construir uma forte rede pública de televisão, como contraponto à manipulação reinante, e insinua que poderá realizar uma conferência nacional para discutir a democratização dos meios de comunicação. A pressão da ditadura militar, porém, é violenta; já o governo continua sem nitidez de projeto, preso à lógica pragmática e conciliadora. Daí a importância da pressão da sociedade e da elaboração de plataformas visando construir, com urgência, uma nova mídia, democrática e pluralista.

Altamiro Borges é jornalista, secretário nacional de comunicação do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro “As encruzilhadas do sindicalismo” (Editora Anita Garibaldi).