segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

A voz distante

Nos poemas aqui traduzidos, inéditos no Brasil, Yves Bonnefoy fala de um eterno renascer, contra os desígnios da morte e do esquecimento.

Pablo Simpson

Gostaria de iniciar esta contribuição com a tradução de dois poemas de Yves Bonnefoy. De seu último livro de poemas, publicado em 2001, Les planches courbes (As pranchas curvas). São os dois que iniciam a parte intitulada “A voz distante” (La voix lointaine), publicados previamente em francês e em italiano, com uma litografia original e ilustrações de Farhad Ostovani. Inéditos no Brasil, não fazem parte da edição de sua obra poética, traduzida em 1998, por Mário Laranjeira.

Antes, uma observação: Yves Bonnefoy publicou, em 2000, um ensaio sobre o que chamou de “tentação do esquecimento” em dois poemas sem título de As flores do mal, de Baudelaire. Poemas que Baudelaire dedicou à sua mãe numa carta que lhe enviou: “Você não notou que havia nas Flores do mal dois poemas que lhe diziam respeito, ou pelo menos alusivos aos detalhes íntimos de nossa vida antiga?”. Baudelaire, nesse momento, evocaria o pai e a criada Mariette. Em As pranchas curvas, não só a imagem paterna surge pela primeira vez na poesia de Yves Bonnefoy, como é possível notar a presença dessa “servante”. Surge qual fosse uma criança nos 11 poemas de “A voz distante”, cantando, dançando. O poeta vai chamá-la mesmo de Parca, retomando Hölderlin e Valéry (An die Parzen; La Jeune parque). Parca, divindade que decide o destino dos homens, presidindo-lhes o nascimento. Para dizer de um eterno renascer, também na poesia, contra os desígnios da morte e do esquecimento.

Yves Bonnefoy nasceu em 1923, em Tours. Publicou Du mouvement et de l’immobilité de douve (1953), L’arrière-pays (1972, narrativa), dentre outros livros de poemas e narrativas. É tradutor de Shakespeare, Yeats, Leopardi, e autor de estudos consagrados a Rimbaud, Mallarmé e Giacometti. Recentemente, foi publicado, na França, um livro que dedicou a Paul Celan, Ce qui alarma Paul Celan (Galilée, 2007). Suas narrativas, assim como sua obra crítica, permanecem inéditas no Brasil.

La voix lointaine

I

Je l’écoutais puis j’ai craint de ne plus
L’entendre, qui me parle ou qui se parle.
Voix lointaine, un enfant qui joue sur la route,
Mais la nuit est tombée, quelqu’un appelle

Là où la lampe brille, où la porte grince
En s’ouvrant davantage; et ce rayon
Recolore le sable où dansait une ombre,
Rentre, chuchote-t-on, rentre, il est tard.

(Rentre, a-t-on chuchoté, et je n’ai su
Qui appelait ainsi, du fond des âges,
Quelle marâtre, sans mémoire ni visage,
Quel mal souffert avant même de naître.)

II

Ou bien je l’entendais dans une autre salle.
je ne savais rien d’elle sinon l’enfance.
Des années ont passé, c’est presque une vie
Qu’aura duré ce chant, mon bien unique.

Elle chantait, si c’est chanter, mais non,
C’était plutôt entre voix et langage
Une façon de laisser la parole
Errer, comme à l’avant incertain de soi,

Et parfois ce n’étaient pas même des mots,
Rien que le son dont des mots veulent naître,
Le son d’autant d’ombre que de lumière,
Ni déjà la musique ni plus le bruit.

A voz distante

I

Escutava-a, depois temi não mais
Ouvi-la, que me fala ou que se fala.
Voz longe, uma criança que na estrada
Brinca. E a noite cai, alguém me chama.

Lá onde brilha a lâmpada, rangendo
A porta ao mais abrir-se; e esse raio
Recolorindo a areia onde dançava
A sombra, entra, cochicha-se, é tarde.

(Entra, se cochichou, e eu não soube
Quem chamava assim, das eras fundas,
Que madrasta, sem memória ou rosto,
Que mal sofrido, mesmo antes de nascer.)

II

Ou então a escutava noutra sala.
Eu conhecia dela só a infância.
E os anos se passaram, uma vida
Quase durou seu canto, meu bem único.

Ela cantava, se é cantar, mas não,
Era bem mais entre voz e linguagem
Um jeito de deixar com que a palavra
Errasse incerta adiante de si mesma,

Mas, às vezes, não eram nem palavras,
Nada, apenas o som de que elas querem
Nascer, tanto de sombra que de luz,
Nem já a música, nem mais o ruído.

Venezuelanos vetam reforma; Chávez reconhece resultado


Os venezuelanos rejeitaram o histórico projeto de reforma constitucional proposto pelo presidente Hugo Chávez. O resultado do referendo foi reconhecido na madrugada desta segunda-feira (3) pelo chefe de Estado da Venezuela. ''Não é nenhuma derrota. É outro 'por enquanto''', manifestou Chávez, no Palácio presidencial de Miraflores, minutos depois da divulgação dos resultados oficiais.



''Parabenizo os meus adversários por esta vitória'', disse o presidente venezuelano, que propôs as mudanças à Carta Magna de 1999 para ''dar mais poder ao povo'', enquanto a oposição temia que o país caminhasse rumo ao socialismo. ''Por enquanto, não conseguimos'', manifestou Chávez, antes de acrescentar que cumpre seu compromisso de respeitar as instituições.

Segundo o primeiro boletim oficial divulgado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), mais da metade dos venezuelanos votaram contra a reforma constitucional. O CNE assinalou que 50,7% dos eleitores ficaram contra o primeiro bloco de artigos submetidos à consulta, enquanto 49,29% optaram pelo ''sim''.

Além disso, 51,05% rejeitaram o segundo bloco de artigos, enquanto 48,94% o aprovaram. A abstenção no referendo foi de 44,9%. Os resultados foram divulgados após a apuração de mais de 90% dos votos, em uma longa noite na qual foi crescendo a tensão e as críticas da oposição pela falta de anúncios sobre a votação.

Aproximadamente 16 milhões de venezuelanos foram convocados neste domingo às urnas para decidir se aprovavam ou rejeitavam o projeto do presidente venezuelano. A jornada eleitoral transcorreu com normalidade e em paz, com exceção de alguns incidentes isolados.

Os centros eleitorais foram fechados oficialmente às 16 horas locais (18 horas de Brasília), mas alguns permaneceram abertos porque os eleitores ainda aguardavam para votar. O primeiro boletim do CNE foi divulgado aproximadamente oito horas depois.

Leia também: o que propunha a reforma de Chávez

domingo, 2 de dezembro de 2007

Lavoura Arcaica,
de Luiz Fernando Carvalho



Título Original: Lavoura Arcaica
Gênero: Drama
Origem/Ano: BRA/2001
Direção: Luiz Fernando Carvalho
Roteiro: Luiz Fernando Carvalho e Raduan Nassar

Formato: rmvb
Áudio: Português
Duração: 163 min
Tamanho: 565 MB
Partes: 6
Servidor: 4shared

Créditos:RapaduraAzucarada - Zé Qualquer

Elenco:

Selton Mello... André
Raul Cortez...Pai
Juliana Carneiro da Cunha...Mãe
Simone Spoladore... Ana
Leonardo Medeiros...Pedro
Caio Blat...Lula

Premiações:

- Ganhou 2 prêmios no Grande Prêmio BR de Cinema, nas categorias de Melhor Atriz (Juliana Carneiro da Cunha) e Melhor Fotografia. Foi ainda indicado nas seguintes categorias:: Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Ator (Raul Cortez e Selton Mello), Melhor Ator Coadjuvante (Leonardo Medeiros), Melhor Atriz Coadjuvante (Simone Spoladore), Melhor Roteiro, Melhor Trilha Sonora, Melhor Direção de Arte, Melhor Montagem, Melhor Som e Melhor Edição de Som.
- Ganhou o prêmio de Melhor Contribuição Artística, no Festival de Montreal.
- Ganhou 4 prêmios no Festival de Brasília, nas seguintes categorias: Melhor Filme, Melhor Ator (Selton Mello), Melhor Atriz Coadjuvante (Juliana Carneiro da Cunha) e Melhor Ator Coadjuvante (Leonardo Medeiros).
- Ganhou o Prêmio do Público, na Mostra de Cinema de São Paulo.
- Ganhou 4 prêmios no Festival de Cartagena, nas seguintes categorias: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Fotografia e Melhor Trilha Sonora.
- Ganhou 4 prêmios no Festival de Havana, nas seguintes categorias: Prêmio Especial do Júri, Melhor Ator (Selton Mello), Melhor Fotografia e Melhor Trilha Sonora.

Sinopse:
André é um filho desgarrado, que saiu de casa devido à severa lei paterna e o sufocamento da ternura materna. Pedro, seu irmão mais velho, traz ele de volta ao lar a pedido da mãe. André aceita retornar, mas irá irromper os alicerces da família ao se apaixonar por sua bela irmã Ana.

Crítica:

http://www.contracampo.com.br/planogeral/aboaarte.htm




Links:

Arrowhttp://tinyurl.com/2uqzqj (parte 1)
Arrowhttp://tinyurl.com/2w4b44 (parte 2)
Arrowhttp://tinyurl.com/2qrvdm (parte 3)
Arrowhttp://tinyurl.com/3a6omo (parte 4)
Arrowhttp://tinyurl.com/32uxuo (parte 5)
Arrowhttp://tinyurl.com/38lmle (parte 6)
John Lee Hooker - This Is Hip Vol.7


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Créditos: 360Grauss



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créditos: 360Grauss



Sebastião Rodrigues Maia, mais conhecido como Tim Maia, (Rio de Janeiro, 28 de setembro de 1942 — Niterói, 15 de março de 1998) foi um cantor brasileiro.

Começou a compor melodias ainda criança e já surpreendia a numerosa família de 19 irmãos. Se destacou pelo pioneirismo em trazer para a MPB o estilo soul de cantar. Com a voz grave e carregada, tornou-se um dos grandes nomes da música brasileira, conquistando grande vendagem e consagrando sucessos, lembrados até hoje, e que influenciaram o sobrinho, o cantor Ed Motta.

Créditos: SomBarato



01 - A Festa Do Santo Reis
02 - Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar)
03 - Salve Nossa Senhora
04 - Um Dia Eu Chego Lá
05 - Não Vou Ficar
06 - Broken Heart
07 - Você
08 - Preciso Aprender A Ser Só
09 - I Don't Know What To Do With Myself
10 - É Por Você Que Vivo
11 - Meu País
12 - I Don't Care

Painéis fotográficos montados nas areias de Copacabana revelam as  causas e conseqüências do desmatamento da Amazônia para o clima global

Painéis fotográficos montados nas areias de Copacabana revelam as causas e conseqüências do desmatamento da Amazônia para o clima global

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São Paulo, Brasil — Projeto em discussão na Câmara prevê alterações que podem promover a substituição de florestas por cana, dendê e eucalipto.

O deputado Homero Pereira (PR-MT), presidente licenciado da Federação de Agricultura do Mato Grosso (Famato-MT), divulgou na quarta-feira (dia 28) sua proposta de alterações no Código Florestal brasileiro. Pereira é o relator do PL 6424/2005, que atualmente está tramitando na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados. O projeto, que já havia sido aprovado pelo Senado e se encontrava em discussão na Comissão de Meio Ambiente da Câmara, tinha como objetivo inicial permitir a substituição de extensas áreas de florestas na Amazônia Legal por espécies exóticas, como cana, dendê e eucalipto.

A proposta do deputado Homero permite que os proprietários que destruíram sua Reserva Legal fiquem desobrigados de recuperar o dano ambiental causado dentro da região em que ele ocorreu, permitindo que a chamada “compensação” possa ser feita em qualquer região do país. Para o Greenpeace, compensar uma área desmatada em São Paulo na Amazônia é consolidar um programa que pode ser chamado de “Floresta Zero”, criando áreas inteiras livres de floresta.

“O deputado Homero Pereira, como bom defensor dos interesses ruralistas, conseguiu piorar o que já estava muito ruim”, disse Sérgio Leitão, diretor de Políticas Públicas do Greenpeace. “Ele não só manteve alterações profundamente negativas para as florestas brasileiras, como adicionou novidades que certamente o colocarão como principal candidato ao prêmio motosserra de ouro 2007”.

Pereira propõe ainda uma anistia a todas as multas de proprietários rurais que não tenham cumprido com as exigências do Código Florestal, como manter a averbação da Reserva Legal no registro de imóveis, em troca do cadastro das propriedades.

“Seria o mesmo que propor ao dono das Casas Bahia, Samuel Klein, que ele perdoasse os carnês em atraso em troca do cadastro de seus clientes”, disse Leitão. “O Greenpeace vai patrocinar um encontro do deputado Homero Pereira com o sr. Klein para que o parlamentar tenha a oportunidade de sugerir que sua proposta possa ser aplicada em todo o território nacional”.

Pereira também reforça a intenção da bancada ruralista de reduzir a Reserva Legal – fundamental para a manutenção da biodiversidade – de 80% para 50% na Amazônia, além de permitir a soma das áreas de preservação permanente (APP) e da Reserva Legal. Em alguns casos, isso significa, na prática, uma redução da Reserva Legal de até menos de 50%.

“A bancada ruralista é capaz de tudo: até mesmo de inventar uma conta de somar cuja resultado é negativo”, acrescentou Leitão. Para o Greenpeace, as mudanças propostas pelo deputado Homero Pereira denunciam que o setor adora posar de bom moço para fugir das cobranças dos consumidores brasileiros e europeus por boas práticas produtivas, mas mantém, na prática, os mesmos vícios predatórios.

Confira aqui os defeitos, ponto a ponto, da proposta de alteração do Código Florestal, de acordo com a avaliação de entidades ambientalistas como ISA, Greenpeace, CTA e Rede Cerrado.

Mercenários no Irak...

Não se pode escrever a historia da Guerra do Irak, sem falar das companhias militares privadas. Uma das grandes diferenças desta guerra para as demais anteriores.

O número de contratos de segurança atualmente no Irak está na conta de aproximadamente 20mil, com um salário de 1mil dolares diários e não se encontram subjugados à legislação Irakiana. isso significa que podem operar no país debaixo da impunidade.


Documentário em espanhol e o original encontra-se em KanalAlternativo


www.Tu.tv
'Lançamento' coroa processo em que prevaleceu o interesse dos radiodifusores
Daniela Alarcon - Observatório do Direito à Comunicação


"Uma nova era está chegando: TV digital”, anunciam as emissoras em campanha conjunta na televisão. Hoje, se sabe apenas o que acontecerá nos primeiros cinco minutos da tal “era”: um pool de emissoras exibirá uma peça publicitária em alta definição; o presidente Lula discursará, também em alta definição. A festa será fechada aos 600 convidados das redes nacionais emissoras privadas de TV e acontecerá no próximo domingo, em uma sala de concertos na cidade de São Paulo

Mas, para a esmagadora maioria da população, que não possui conversores ou aparelhos de televisão adaptados ao novo sistema, será uma propaganda como outra qualquer. No segundo imediatamente posterior à estréia oficial do sistema brasileiro de televisão digital, no próximo dia 2 de dezembro, abre-se um imenso vazio.

Percurso anti-democrático

Há um consenso generalizado entre os setores que lutam pela democratização das comunicações no Brasil acerca da trajetória excludente do processo de implantação da TV digital: de um conselho consultivo – que deveria representar os interesses da sociedade – às reuniões a portas fechadas entre o governo e representantes das emissoras e da indústria eletrônica, todo poder foi dado aos radiodifusores. A nomeação de Hélio Costa para o cargo de ministro das Comunicações, em julho de 2005, foi ponto culminante do processo de desvirtuamento – e abriu portas para o aprofundamento das distorções.

“Hélio Costa assume explicitamente os interesses da radiodifusão comercial, esvazia o conselho consultivo e dá outra orientação ao processo de consulta e de debate”, analisa Gabriel Priolli, à época presidente da ABTU (Associação Brasileira de Televisão Universitária) e colunista do Observatório da Imprensa. “E outros setores do governo, ainda que tenham manifestando divergências em relação ao encaminhamento tomado pelo Ministério das Comunicações, na prática, endossaram essa política”, completa.

Rumo ao latifúndio improdutivo

Na contramão das acalentadas expectativas de democratização da televisão, com a inclusão de novos programadores de conteúdo – criação de emissoras comunitárias, públicas ou de baixa potência, ou ainda o estabelecimento de novos empresários de mídia –, a implantação da TV digital manterá o uso do espectro de frequências praticamente inalterado.

Como hoje já é notório, a digitalização torna possível alocar mais de uma emissora no mesmo canal de 6 MHz. Para tanto, seria necessário criar um “operador de rede”, responsável pela transmissão de mais de uma programação. Tal figura hoje já existe na Europa. Devido à pressão dos radiodifusores, porém, o governo abandonou esse dispositivo. “O ideal era ter fracionado os canais. Mas as emissoras lutaram politicamente para manter tudo como está”, diz Gustavo Gindre, jornalista e membro do Intervozes.

Na falta de novos players, as atuais emissoras terão a seu inteiro dispor o recurso chamado de multiprogramação, onde uma mesma emissora pode transmitir várias programações simultâneas. A TV Gazeta de São Paulo, por exemplo, já anunciou que transmitirá uma programação alternativa: conteúdo criado pelos estudantes da Faculdade Cásper Líbero e propaganda da BestShopTV, um dos tantos supermercados eletrônicos que invadiram a televisão brasileira nos últimos anos.

“Hoje já vivemos em um latifúndio. Com a televisão digital, passaremos a um latifúndio improdutivo”, avalia Gindre. Na sua avaliação, as emissoras brasileiras, salvo exceções, não são capazes sequer de ocupar uma grade de programação e, portanto, acabarão vendendo horários, como muitas hoje já fazem. Assim, o potencial da multiprogramação deve se perder em meio à avalanche publicitária.

Interatividade e mobilidade

Em vez de garantir a exploração das múltiplas funcionalidades da nova tecnologia – como multiprogramação, interatividade, portabilidade e mobilidade – o governo brasileiro contentou-se com a alta definição.

“Trata-se de uma opção bastante discutível”, Priolli avalia. “Os telespectadores de alta renda já têm televisão digital, pois consomem TV por assinatura. E as classes médias e baixas não podem arcar com os custos dos televisores com alta definição.” O aparelho mais barato do mercado, da Philips, custa R$ 7.999. Já o preço dos conversores gira em torno de R$ 1.000, sendo preciso ainda adquirir um televisor capaz de receber a alta definição [ver matéria sobre preço dos conversores].

Apesar do custo elevado, esses aparelhos não estão prontos para oferecer interatividade – se o consumidor quiser ter acesso a esses recursos, deverá adquirir, no futuro, um novo conversor.

Além disso, aqueles que acompanham o processo de perto observam desinteresse por parte das emissoras de investir nessa área. “Dificilmente a gente assistirá a interatividade plena, pois os radiodifusores estão evitando e jogando para o futuro. Negam, assim, o que a TV digital teria de mais revolucionário, o que transcenderia o que a gente conhece como TV e levaria serviços interativos pra quem não tem acesso à internet”, diz Gindre.

Também é incerta a efetivação da mobilidade. Depois de repelir a atuação das teles, as emissoras terão, elas próprias, de transmitir para os aparelhos móveis – o que, evidentemente, implica em custos adicionais. Em função disso, apenas as emissoras maiores devem investir nesse modelo. “A Globo aposta que vai ter receita publicitária extra, porque a recepção móvel vai valorizar alguns horários, como o horário do rush. Com o aumento de receita, poderá investir no móvel”, diz Gindre.

Outro fator a ser considerado é o custo dos aparelhos móveis. A maior parte dos países adota terminais que combinam chips GSM (celular) e DVB (modelo europeu de TV digital). Apenas o Brasil empregará aparelhos com chips GSM e ISDB (modelo japonês de TV) – já que o Japão possui um sistema de telefonia móvel distinto do GSM.

Segundo uma fonte da TV Globo, a emissora apostará na importação de aparelhos de TV de bolso da China, para vender por preços baixos. As demais emissoras ainda não se manifestaram a respeito.

Política industrial

Uma das causas que determinaram os altos custos da TV digital para a sociedade brasileira é o fato de – além de o governo ter optado por um modelo com baixa escala, que não atrai investimentos estrangeiros – a política de desenvolvimento de tecnologias nacionais ter sido praticamente descontinuada.

Em julho do ano passado, os ministros envolvidos diretamente com o projeto de TV digital anunciaram, em artigo publicado na Folha de S.Paulo: “o acordo assinado entre o Brasil e o Japão prevê parcerias entre centros de pesquisa e empresas dos dois países, como também a incorporação de tecnologias aqui desenvolvidas no sistema japonês”. Nada restou da promessa, além de um “memorando de entendimento”.

Hoje, o Brasil desenvolve a primeira fábrica de chips da América Latina, o Centro Independente de Excelência em Tecnologia Eletrônica (Ceitec), no Rio Grande do Sul. “Apesar disso, os chips para a televisão digital serão importados! Utilizar a TV digital para criar escala para os nossos chips era estratégico”, diz Gindre.

Na falta de uma política industrial coerente, o cenário que se descortina é de submissão às estratégias das multinacionais. “O Brasil é só mais uma peça nesse processo e fica assistindo sem poder interferir”, afirma o membro do Intervozes. “O máximo que a gente pode fazer é dar isenção fiscal para que as tecnologias importadas sejam montadas aqui”.

Depois do baile

Para além da constatação de que o dia 2 será um engodo, há apreensão quanto ao cenário que se conformará depois de varrido o salão de baile. Especialistas ouvidos pelo Observatório concordam que a seqüência de opções equivocadas tomadas pelo governo brasileiro implicará em baixa adesão a esse simulacro de TV digital – cujos recursos mais importantes foram postos para escanteio.

Avaliações otimistas enfatizam uma certa inexorabilidade da tecnologia, que deve se impor. “As emissoras estão tentando deter a lei da gravidade, mas elas não vão poder controlar tudo o tempo todo, o processo vai avançar”, afirma Priolli.

Ele destaca, porém, que o Estado tem de assumir seu papel na criação de políticas públicas. “O processo pode retomar uma rota mais virtuosa. Mas isso é uma opção política. O governo Lula optou por uma linha mais restritiva. Que volte a encaminhar a televisão digital sob uma perspectiva mais democratizante”. Afinal, a esperança é a última que morre.


*
Colaborou Bruno Mandelli

Reforma constitucional traria mudanças profundas à Venezuela

Proposta de reforma, que criaria Estado 'socialista' e 'humanista', reduz jornada de trabalho a 6 horas, proíbe latifúndios e monopólios, cria formas de propriedade além da privada e tenta ampliar poder popular com os conselhos comunais.

CARACAS - A reforma constitucional proposta pelo presidente venezuelano Hugo Chávez, cujo referendo está marcado para este domingo (2), expressa um projeto político e econômico que, se aprovado, trará mudanças profundas na Venezuela, com novas formas de poder e propriedade, e com uma estrutura que não é típica de modelos socialistas nem de democracias convencionais.

A iniciativa de Chávez, aprovada pela Assembléia Nacional Parlamentar, propõe modificar 69 artigos da constituição separadamente, em dois blocos (A e B), sobre os quais cada um dos 16 milhões de eleitores venezuelanos poderá se pronunciar a favor ou contra.

Ainda que o projeto não proponha a socialização dos bens de produção, que seria a característica básica de um modelo socialista "puro", postula-se na reforma chavista um novo poder constitucional, o poder popular, através de "conselhos comunais" e organizações de base que terão atribuições de gestão e verbas para usar.

A propriedade privada continuará garantida, mas surge a propriedade social ou comunitária, em vários formatos. Em sua "filosofia" geral, a reforma tenta levar o país a um modelo definido, em alguns parágrafos do documento, como "socialista", e em outros, como "humanista".

A reeleição continuada do presidente é um dos pontos mais exaltados e polêmicos, segundo os críticos de Hugo Chávez.

Os pontos relativos à economia, se concretizados com a aprovação da reforma, podem iniciar um processo de grande transferência de recursos e bens no país (salvo os pessoais). Além das novas formas de propriedade (social e comunitária), a gestão de empresas por trabalhadores também teria suporte constitucional.

As mudanças econômicas são o principal alvo dos empresários venezuelanos, além de seu questionamento geral do governo chavista.

Quanto ao poder popular, a reforma propõe instituir as "comunas", "células sociais de território", que poderão ser formadas por trabalhadores, estudantes, artesãos, mulheres, jovens, idosos, e cujos poderes poderão ser autônomos, inclusive acima dos governadores e prefeitos atuais.

As comunas de poder popular poderão erguer obras, criar empresas, explorar recursos, passando por cima de divisões políticas entre Estados e municípios. Já a aprovação de suas composições e financiamentos seria reservada ao presidente da Nação.

A propriedade privada continua como agora, mas submetida à possibilidade de expropriação, em função de algum "interesse superior", em cujo caso estarão previstas as indenizações a serem fixadas pela lei e pela Justiça.

A arquitetura econômica do modelo proposto por Chávez se completa com a proibição de monopólios e latifúndios, até agora somente desaconselhados pela Constituição sancionada em 1999.

Já a política monetária fica reservada à presidência, acabando com a autonomia do Banco Central.

Outras mudanças substanciais, ainda que não tão mencionadas nas informações conhecidas sobre o projeto, são a redução da jornada de trabalho (para seis horas) e a extensão do seguro social a trabalhadores informais (que, segundo o governo, somam 5 milhões na Venezuela).

Universitários, na maioria de classes médias e altas, estiveram bastante ativos na oposição à reforma. Eles questionam o conjunto do projeto e não concordam com a proposta de que os trabalhadores não formados estejam em pé de igualdade com a comunidade universitária (possuidora de nível superior de ensino).

Além disso, segundo o projeto, as universidades continuarão sendo autônomas, mas deverão respeitar o preceito constitucional de "democracia participativa", o que poderia abrir a possibilidade de processos de mudança.

Já as ações reservadas ao presidente para possíveis estados de exceção e suspensão de direitos (para tais situações hipotéticas) estão entre os aspectos mais criticados da reforma.

A suspensão de direitos envolve o da informação, o que motivou insistentes queixas dos meios de comunicação privados. E, além disso, a declaração do estado de exceção, que poderia ser por motivos sociais ou econômicos, situações de catástrofe ou conflito com outros países, não fica submetida à aprovação do Superior Tribunal de Justiça, como está assegurado atualmente.