Ao Vivo no Maracanã
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08. Cuide Bem do Seu Amor
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12. Uma Brasileira
13. Alagados
14. Lourinha Bombril
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
A minuta do texto constitucional foi votada artigo por artigo e aprovada por dois terços dos 164 legisladores presentes - dos 255 escolhidos em 2006 para integrar a Assembléia Constituinte.
A maioria dos legisladores presentes era do MAS, o partido da base do governo de Evo, na sessão aberta na noite de sábado e que durou 13 horas, se prolongando até a manhã do domingo.
A sessão teve a presença de representantes de 10 dos 16 partidos e agrupamentos que integram a Assembléia, destacando-se entre os opositores os membros da Unidade Nacional, de centro, liderada pelo magnata do cimento Samuel Doria Medina.
A aliança de direita “Podemos”, do ex-presidente Jorge Quiroga, e o Movimento Nacionalista Revolucionário, de centro-direita, do ex-presidente Gonzalo Sanchez de Lozada, não participaram da sessão.
O regulamento prevê que seriam necessários 170 dos 255 votos dos constituintes para a aprovação do texto final. Com a presença de 164 constituintes, faltariam seis para este quorum exigido. Mas representantes do MAS (Movimento ao Socialismo) afirmaram à Red Erbol, de La Paz, que só deixariam o local após a conclusão desta aprovação da nova Carta Magna.
Aprovado o texto na Assembléia, ele ainda terá que ser ratificado em referendo, podendo entrar em vigência plena apenas no segundo semestre de 2008, segundo fontes da Assembléia.
Carlos Romero, do MAS, afirmou à AFP que a última etapa, que consiste em uma fase de revisão e concordância dos artigos constitucionais, estará a cargo de uma comissão interpartidária.
Neste domingo, o local da votação, a Universidade Técnica de Oruro, continua cercado por seguidores do presidente Evo, entre eles, indígenas, mineiros e estudantes.
Polêmicas
Uma das principais polêmicas foi à discussão sobre o artigo que define a capital constitucional do país. Constituintes do Estado de Chuquisaca deixaram à sala de votação porque a cidade de Sucre não aparecia na Carta como a capital constitucional da Bolívia.
A disputa pela capital – entre Sucre e La Paz – provocou vários confrontos este ano e a suspensão dos trabalhos da assembléia. Atualmente, La Paz é a sede da Presidência da República e do Congresso Nacional. E Sucre é a capital histórica onde está a Suprema Corte de Justiça.
Depois da votação artigo por artigo houve um novo debate sobre este tema e foi aprovada, finalmente, uma redação que se declara que Sucre será a capital oficial da Bolívia.
Constituição
A nova constituição contempla a reeleição do presidente Evo por um período adicional de cinco anos, mas não por tempo indefinido como estava previsto no texto original. Também foi aprovado outro artigo que prevê a realização de um referendo para que os bolivianos decidam se querem ou não a continuidade de Evo no cargo.
Os constituintes aprovaram ainda o artigo que determina que os hidrocarbonetos são “propriedade” dos bolivianos e que as empresas petroleiras são “prestadoras de serviço” da estatal do país, a YPFB. Na prática, essa medida já vinha sendo adotada desde que Morales decretou a nacionalização do setor de petróleo e gás no país, em maio do ano passado, e ratificou á medida este ano.
Por falta de consenso, ficou definido que o artigo que interpreta a propriedade de terra e latifúndio será votado num referendo popular. Ficou definido ainda o “respeito à propriedade privada” desde que ela cumpra “função social”.
A aprovação da reforma do Legislativo, da criação de autonomias de departamentos (Estados) e indígenas, da eleição de juízes pelo voto universal e do estabelecimento de forte controle estatal sobre a economia, se destacam entre as novidades do texto aprovado cinco dias antes do término do prazo oficial.
Assembléia Plurinacional
O futuro Congresso boliviano se chamará Assembléia Legislativa Plurinacional, será formado por uma Câmara de Deputados e outra de representantes dos departamentos, sendo todos seus membros eleitos por circunscrições. Até agora, a metade dos deputados e todos os senadores eram eleitos paralelamente ao voto para presidente.
Com relação às autonomias, um assunto que provocou duros choques entre o governo e a oposição liderada pelo distrito de Santa Cruz, o texto prevê a criação, com ''hierarquia igual'', de autonomias departamentais, provinciais, regionais e de comunidades indígenas, com poderes administrativos e legislativos.
O projeto deixa pendente para ser decidido por referendo um artigo referente à definição de latifúndios improdutivos, com limites de cinco mil ou 10 mil hectares, segundo duas propostas, sendo que nenhuma das quais conseguiu alcançar dois terços dos votos.
Oposição a Carta Magna
O jornal La Razón, de La Paz, informou que líderes políticos de cinco dos nove Estados da Bolívia “rejeitam” a nova Carta Magna boliviana. Eles são os líderes dos chamados “Comitês Cívicos”, que reúnem diferentes setores opositores ao governo Morales, nos estados de Santa Cruz de la Sierra, Tarija, Chuquisaca, Beni e Pando.
A nova Constituição Política do Estado (CPE) foi lançada pelo presidente boliviano há cerca de 14 meses, foi suspensa mais de uma vez, e é uma das principais bandeiras do governo Morales, por ampliar os direitos dos indígenas, como defenderam constituintes do MAS.
Um dos motivos defendidos por Evo Morales para aprovar uma nova Carta Magna é o objetivo de ''voltar a fundar'' a Bolívia.
A chamada ''resistência civil'' contra a nova Constituição, como nomeia a oposição a Evo, inclui a ocupação violenta de diversos prédios do governo central em diferentes regiões. O movimento, que reúne os governadores opositores também rejeita a decisão do presidente de reduzir a renda das Províncias com a exploração dos hidrocarbonetos para financiar um bônus aos idosos.
Histórico
O prazo para a conclusão da Constituinte vencia no dia 14 de dezembro, mas Morales decidiu pela antecipação depois da revelação de que dois governadores da oposição procuraram as Forças Armadas pedindo a “defesa da integridade nacional e contra a intromissão estrangeira”.
A Carta Magna, com a qual Morales pretende fundar uma nova Bolívia, foi aprovada em primeira instância em 24 de novembro, na ausência da oposição, dentro de um quartel militar.
A decisão provocou protestos da oposição que deixaram três mortos e 300 feridos, apenas na cidade de Sucre. Após a votação deste fim de semana, a Carta deverá ser submetida a um referendo e fazer uma revisão definitiva, procedimentos não seguidos em Sucre, quando vários pontos foram ignorados.
A escolha de Oruro para sediar a sessão representa uma mudança na decisão da direção da Constituinte, que na semana passada tinha anunciado a região cocaleira de Chapare, reduto político e sindical do presidente Evo Morales, como sede dos debates. No entanto, esse primeiro anúncio motivou várias críticas ao Governo e ao MAS.
Segundo opositores, realizar a sessão em Chapare seria uma ''exclusão política'', e os produtores de coca acabariam pressionando os legisladores. A oposição também fez críticas a essa primeira escolha, porque Chapare é uma região em que atuam traficantes de drogas.
créditos:Vermelho
Flávio Gikovate é médico psicoterapeuta, pioneiro da terapia sexual no Brasil. Conheça o Instituto de Psicoterapia de São Paulo. Confira o programa "No Divã do Gikovate" que vai ao ar todos os domingos das 21h às 22h na Rádio CBN (Brasil), respondendo questões formuladas pelo telefone e por e-mail gikovate@cbn.com.br Email: instituto@flaviogikovate.com.br |
Enquadrada no contexto dos 200 anos de abolição da escravidão na Gran Bretanha, será analisada a vigência de modelos de escravidão supostamente abolidos em 1807 mas, ao se referir à opinião de um leitor de PE, "o comércio de habitantes do subcontinente índio se suprimiu em 1948, quase antes de ontem. Conheci - justamente na Jamaica - a dois que haviam chegado a este país como escravos".
Na agenda da reunião aparecem aspectos delicados a serem debatidos, como o significado de "arrependimento" e "reparações" nesta temática; o descobrimento racial dos modelos econômicos e da "dívida histórica" de países que contraíram suas riquezas baseadas na exportação da escravidão humana.
Fonte: Agência de Notícias Imprensa Ecumênica
LONDRES - Sua dissolução, há quase trinta anos, não conseguiu tirá-lo do Olimpo mais absoluto do rock. Em meio a uma enorme expectativa, o lendário grupo Led Zeppelin ressuscitará nesta segunda-feira no auditório londrino O2 Arena o seu legado.
Que as velhas glórias do rock sintam nostalgia pelos palcos não é novidade. Hoje em dia, o regresso de veteraníssimos como Sex Pistols e The Doors não faz mais do que confirmar uma tendência que parece aumentar.
Mas a reaparição do cantor Robert Plant, do guitarrista Jimmy Page e do baixista John Paul Jones, os três sobreviventes do Led Zeppelin, transformou-se em uma das datas - mais esperadas da história da música.
A desculpa para o reencontro é fazer um tributo dedicado ao fundador, em 1947, da gravadora americana Atlantic Records, Ahmet Ertegun, um show-homenagem que preencherá o vazio que deixou a morte de John Bonham em 1980 com seu filho, Jason Bonham, qna bateria, que parece ter herdado os genes privilegiados de seu pai.
A incalculável influência que o quarteto britânico teve sobre grupos posteriores de hard-rock; o misticismo de suas letras e as pinceladas blues e folk de alguns de seus temas colocaram por direito a banda nos livros mais sagrados da música. Livros salpicados, com freqüência, por lendas que projetam uma imagem obscura de seus componentes.
O show em Londres estava programado inicialmente para o último dia 26 de novembro, mas teve que ser adiado diante da fratura que o guitarrista Jimmy Page sofreu em um dedo. Felizmente, ele já está recuperado.
A reunião coincide com o lançamento, no último dia 13 de novembro, na coletânea "Mothership. The Very Best Of Led Zeppelin", um CD duplo recompila 24 dos maiores sucessos do grupo, que se formou há 39 anos.
Mas não é só a excepcional reunião de Page, Plant e Jones que fará do evento um acontecimento especial. A apresentação do Led Zeppelin terá shows de abertura de luxo. Entre eles, o ex-baixsta dos igualmente míticos Rolling Stones, Bill Wyman, o grupo Rhythm Kings, e o escocês Paolo Nutini, que também vão prestar homenagem a Ertegun.
O produtor foi, dentre outros grupos, "padrinho" dos Rolling Stones, e faleceu aos 83 anos em dezembro de 2006. Ele foi o homem que apostou no Led Zeppelin no final dos anos 60, depois de farejar seu imenso potencial depois de escutar uma de suas demos.
A morte de Bonham por intoxicação etílica deixou um buraco que levou à dissolução da banda, um feito que levou à consternação uma legião de seguidores devotados, que herdaram grandes clássicos, como "Stairway to Heaven" (1971), "Heartbreaker" (1969) e "Whole Lotta Love" (1969).
O Led Zeppelin se apresentou pela última vez com sua formação original em Berlim, em julho de 1980, apenas dois meses antes da morte de seu baterista.
Ainda que o anúncio da separação tenha provocado a tristeza de seus súditos, ela não acabou com a influência de seu trabalho.
Desde então, foram contadíssimas as ocasiões em que Page, Plant e Jones se reuniram para ressuscitar seus hits. Foi o que fizeram, por exemplo, em 1985, no "Live Aid", um grande concerto com dezenas de artistas, cujo fim era combater a fome na Etiópia.
Eles também não tiveram dúvida em voltar ao palco três anos depois, em 1988, para celebrar o 40º aniversário da Atlantic Records.
Mas as conhecidas desavenças e rixas que existiam entre John Paul Jones e os outros dois componentes da banda ficaram insustentáveis nos anos 90, com as parcerias de Page e Plant, que começaram a trabalhar juntos sem o baixista.
Talvez por isso, muitos vejam no encontro na capital britânica algo como uma "reconciliação", sem dúvida especial, de uma banda que em seus doze anos de carreira assinou oito trabalhos e estima ter vendido por todo o mundo mais de 300 milhões de álbuns.
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A propriedade intelectual tem sido vista por muitos autores como um fim em si mesma. Tomar tal afirmativa como correta implica na desconsideração de outros direitos, como o direito ao acesso à cultura, à educação, à informação, entre outros. Faz-se necessária uma leitura diferente dos direitos de propriedade intelectual adequando-os aos seus reais fins e respeitando direitos humanos fundamentais. Nesta linha, o Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV Direito Rio encomendou à professora Flávia Piovesan um estudo sobre a relação entre a Propriedade Intelectual e os Direitos Humanos.
Nas palavras da professora, o artigo indaga: “Como compreender a propriedade intelectual à luz dos direitos humanos? Em que medida o sistema internacional de direitos humanos pode contribuir para a proteção do direito à propriedade intelectual sob uma perspectiva emancipatória? Qual há de ser o impacto dos regimes jurídicos de proteção da propriedade intelectual no campo dos direitos humanos? Qual é o alcance da função social da propriedade intelectual? Como tecer um adequado juízo de ponderação entre o direito à propriedade intelectual e os direitos sociais, econômicos e culturais? Quais os principais desafios e perspectivas da relação entre direitos humanos e propriedade intelectual?”
A íntegra do artigo pode ser obtida aqui .
Do longo discurso de três horas, restou apenas uma frase. Os bons ouvintes, experientes e calejados, imediatamente identificaram ali a dúvida, o tênue sinal de fraqueza, a pequena brecha por onde escoava o mal-estar oculto nas próprias fileiras chavistas, com a reforma constitucional que o presidente Hugo Chávez acreditava ver aprovada no dia seguinte, por referendo popular. Diante da multidão que cobria de vermelho a imensa Avenida Bolívar, no comício de encerramento de sua campanha em Caracas, ele advertiu: “que fique bem claro: quem votar NÃO vota contra Chávez, vota por Bush”. Chávez sabia que ali mesmo, naquela massa compacta que constituía sua base de apoio, havia muita gente que desta vez não queria, nem iria, dizer SIM ao presidente – apesar da chantagem política implícita na frase.
O professor Edgardo Lander é bem mais que um bom ouvinte, experiente e calejado. Catedrático do Departamento de Sociologia da Universidade de Venezuela e professor do programa de pós-doutorado, dono de uma obra respeitada em todo o mundo, é um intelectual profundamente engajado no processo histórico de mudança que seu país vem experimentando nos últimos anos. Mas é também um crítico feroz da fracassada experiência socialista do século 20, que ele teme se repetir na Venezuela. Uma ordem autoritária, demolidora dos ideais democráticos, que incorporou as tendências mais negativas do modelo industrial-capitalista, com padrões de destruição ambiental ainda mais acelerados que os da sociedade que pretendia combater. Em suma, é um socialista venezuelano que votou NÃO. E acha que o resultado das urnas, que rechaçaram a reforma constitucional com uma diferença de apenas 1,5 %, foi o melhor que poderia ter acontecido à Venezuela e ao governo Chávez — que, pela legislação atual, vai se estender até o ano de 2013.
O impacto mais importante deste resultado, segundo Lander, se deu no próprio chavismo. Comparado com o desempenho da oposição, nas presidenciais do ano passado, o NÃO contabilizou 200 mil votos adicionais, e eles certamente não saíram apenas dos que rejeitam o presidente. Da mesma forma, não se pode creditar a estes a totalidade do índice de 44% de abstenção. Lander faz questão de ressaltar que é ainda muito cedo para uma análise numérica mais detalhada, mas admite que os níveis de abstenção em muitas zonas populares foram elevados. “São muitas as leituras que se pode fazer destes níveis de abstenção”, ele diz, “mas creio que uma proporção significativa desta falta de disposição de sair para votar pela reforma é uma expressão do desconforto que ela provocou. Entre assumir o NÃO e se abster, muitos preferiram ficar em casa”.
Nas últimas semanas que antecederam a votação do dia 2, Lander produziu uma extensa contribuição ao debate sobre a proposta de reforma. Esmiuçou cada um dos artigos que deveriam ser modificados, para concluir que não se tratava de uma reforma, mas uma nova Constituição, cheia de lacunas, que deveria substituir a que em 1999 instituiu a República Bolivariana. Ou seja: só uma nova assembléia constituinte poderia, do ponto de vista constitucional, elaborar as mudanças que Chávez considerava indispensáveis em sua viagem rumo ao incerto “socialismo do século 21”.
O presidente levantou a bandeira deste vago conceito em sua campanha pela reeleição, em 2006. Uma mudança significativa num discurso político que, em 1999, falava apenas de combate sem tréguas ao capitalismo selvagem e bebia na fonte da teoria do desenvolvimento de Celso Furtado. Mas, como observa Lander, o novo discurso navegou à deriva. Nenhum passo concreto foi dado para um debate que ajudasse a desenhar concretamente o socialismo que se pretendia construir.
“Sendo socialismo do século 21, seria lógico supor que não seria o socialismo do século 20. Mas em que aspectos se distanciaria dele? Na negação do modelo do partido único? No rechaço a uma ideologia oficial do Estado? Em alternativas ao modelo monocultural que negava toda a diferença? Em formas de organização orientadas para não repetir a chamada democracia popular proletária, que terminou por negar a própria democracia? Em um modelo não baseado na planificação burocrática centralizada? No questionamento radical do produtivismo de crescimento sem limite, como ontem na União Soviética e hoje na China? Socialismo com pluralismo político, compatível com a Constituição vigente?”
A reforma deixava sem resposta boa parte das perguntas de Lander, e esclarecia outras de forma bastante perturbadora. O artigo 136 da reforma, por exemplo, acrescentava um poder popular (comunas, conselhos comunais, conselhos de operários, camponeses, estudantis) à divisão territorial tradicional do Poder Público (municipal, estatal e nacional). Um “poder”, na verdade, diretamente submetido à lógica do Estado, alternativo, diferente dos outros poderes, que ao sociólogo soa como um contra-senso. “Organizações populares convertidas em conselhos comunais ligados ao Estado não fortalecem a autonomia”, ele diagnostica. “Acabam funcionando como mecanismo de cooptação e controle que vem de cima.”
Na análise de Lander, a reforma proposta conduzia de um modo geral a um modelo de socialismo estatista, tendo como centro de poder o presidente da República e ampliando suas atribuições. A ele cabe estabelecer as linhas de um plano geral estratégico de desenvolvimento. A ele cabe a administração das reservas internacionais e das reservas para a economia nacional. A ele estão atreladas as Forças Armadas. Todos os caminhos do novo Estado socialista venezuelano levam a Chávez. Como um super-herói, ele tem a força. “Chávez se cerca de colaboradores incapazes de contestá-lo e de uma intelectualidade cortesã”, revela o sociólogo. “É impossível atravessar nove anos de poder sem críticas e não acabar se separando da realidade, sem sucumbir aos males de uma patologia política.”
Mas foram também nove anos de avanços indiscutíveis na sociedade venezuelana. Lander destaca mudanças substanciais no acesso à educação e à saúde, no resgate da cidadania e no processo de inclusão social, no consumo de alimentos da população carente. Relaciona a escassez de produtos de primeira necessidade não apenas ao claro boicote de empresários do ramo que se opõem a Chávez, mas a um grande aumento da demanda de consumo. São avanços que se chocam com problemas estruturais que a revolução bolivariana de Chávez não foi capaz de solucionar.
Há 14 trimestres, a economia venezuelana apresenta os mais altos índices de crescimento da América Latina, em torno de 10%. O Produto Interno Bruto é hoje exatamente o dobro de 1998, ainda que a aceleração tenha caído de 10,3%, em 2006, para 7%, em 2007. Mas os lucros do grande capital permanecem intocáveis, estratosféricos. Os dos bancos subiram 33% em 2006, atingindo cerca de R$ 12,606 bilhões num único semestre. A inflação melhorou, mas não está controlada: vai fechar este ano em torno de 20%. As políticas agrícolas são ineficientes: Lander não enxerga sinais de um combate efetivo à chamada “doença holandesa” de que padece o país — um conceito econômico que explica a relação entre a exploração dos recursos naturais e o declínio de outros setores da economia. A produção interna está escravizada às divisas geradas pelo petróleo. A Venezuela não produz o que come. Setenta por cento do consumo de alimentos depende das importações, da lógica perversa de que comprar fora sai mais barato do que plantar, colher e distribuir. São problemas que a grave e contumaz ineficiência da gestão pública não ajuda a resolver.
Junte-se neste caldeirão uma das maiores conquistas da sociedade venezuelana nos últimos anos, que é a cultura política impulsionada pelos processos de organização popular. A Venezuela é hoje certamente a nação mais politizada da América do Sul. Lander avalia que o sucesso das missões bolivarianas não teria sido possível sem a sólida mobilização das comunidades em torno de suas propostas. É fácil constatar essa avaliação nas ruas, nas escolas, nos mercados e nos escritórios. O povo venezuelano é bem informado, conhece profundamente os seus direitos e alimenta um orgulho pátrio que no Brasil só aflora durante a Copa do Mundo.
Esta é a mistura que se derramou sobre as urnas em 2 de dezembro. “O resultado do referendo nos dá um quadro diferente do que analistas políticos, e mesmo Chávez, seriam capazes de imaginar”, Lander conclui. “Não há um povo passivo disposto a seguir um líder messiânico, que dita normas de conduta. As urnas revelam que, entre optar pela revolução bolivariana chavista e o fascismo-imperialismo”, há outras opções ainda para se pensar”.
A favor do futuro, Edgardo Lander ressalta a comprovação da absoluta transparência do sistema eleitoral venezuelano, que considera uma das mais importantes conquistas para a legitimidade do processo político no país e cala de vez as vozes que a cada eleição semearam a suspeita de manipulação eleitoral no país. Nesse quadro, a vitória do NÃO pode também isolar os setores golpistas mais radicais, abrindo espaço para uma oposição mais democrática.
Por fim, no pronunciamento da madrugada de 3 de dezembro, apresentou-se frente às câmeras de televisão um Chávez bem diferente daquele que na véspera da votação ameaçava a multidão no comício. Reconheceu que o SIM teve 3 milhões de votos a menos dos que lhe tinham sido dados nas eleições presidenciais, e que era preciso escutar a voz do povo. Lander acredita que aí reside a chave do tesouro: se isso realmente ocorrer e permitir um desdobramento de reflexão autocrítica, uma nova vida democrática pode estar a caminho no processo de mudança na Venezuela.