terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Quem construiu a Tebas de sete portas?



Mas o que via o operário

O patrão nunca veria

O operário via casas

E dentro das estruturas

Via coisas, objetos

Produtos, manufaturas.

Via tudo que fazia

O lucro do seu patrão

E em cada coisa que via

Misteriosamente havia

A marca da sua mão.

E o operário disse: não!

Vinícius de Moraes (trecho do poema O operário em construção)

Adriana Facina


Hoje me recuso a ser pautada pela mídia gorda. Hoje quero dar um tempo nas leituras das Vejas e Épocas, não quero fazer referência a nada que vi na TV Globo, nem mesmo ao aberrante programa do Jô Soares em que ele vomita preconceitos raciais e de gênero ao comentar a vida sexual das mulheres angolanas. Hoje quero falar de um tipo de gente invisível para esses veículos de desinformação, mas que fazem verdadeiramente esse país no que ele tem de melhor. Tipo de gente que é a maioria do povo brasileiro.


Num bar popular em Fortaleza, ouvindo música brega e bebendo cerveja com amigos, conheci seu Benedito, Bené para os mais chegados. Única mulher no ambiente masculino, no meio de comentários sobre o resultado do jogo do Fortaleza e sobre o DVD pirata de um suposto filme pornô estrelado por Juliana Paes, puxei conversa com o senhor sorridente que bebia tranqüilamente sua cachacinha.


Seu Bené é negro. Seus 55 anos são somados a uma vida sofrida que lhe confere uma aparência de mais idade. Hoje seu Bené está desempregado. Como ele mesmo diz: “quem vai dar emprego para velho?”. Vive fazendo pequenos favores para a vizinhança, que em troca lhe dá comida e apoio. Sua moradia é a calçada do bar ou do Lava-jato em frente.


Quando jovem, seu Bené foi para o Sudeste, como tantos nordestinos, atraído pelas promessas do “milagre brasileiro” produzido pela ditadura civil-militar. “Milagre” que combinava crescimento econômico, superexploração da classe trabalhadora e repressão brutal. Uma das expressões do “milagre” foram as obras faraônicas, importantes para propagandear o Brasil grande e para levar a cifras astronômicas as verbas destinadas às empreiteiras que se locupletavam com dinheiro público. Seu Bené trabalhou em duas delas: a construção da Rodovia do Aço e a Ponte Rio-Niterói. Nesta última escapou da morte por pouco, pois faltou ao trabalho no dia em que um acidente levou a vida de oito companheiros de sua equipe.


Findo o “milagre” artificialmente produzido, depois de muitas dificuldades em arrumar emprego, resolveu voltar ao Ceará. Não tinha dinheiro para a passagem e foi literalmente a pé até Mossoró, Rio Grande do Norte, onde conseguiu sua primeira carona. Seu Bené buscava no seu estado natal o apoio de um tipo de solidariedade que, para os nordestinos, é raro de encontrar na cidade grande. “Em Fortaleza pelo menos não queimam índios nas ruas e ninguém me deixa passar necessidade”.


Seu Bené casou, mas disse que foi porque a mulher ficou grávida, pois, espírito aventureiro, não queria “se amarrar”. O casamento terminou, ficaram duas filhas que estão hoje “encaminhadas na vida”. A mais velha é enfermeira chefe de um hospital de Fortaleza e a segunda prestará vestibular este ano para Direito. Com lágrimas nos olhos, seu Bené disse que se afastou das meninas, pois se não tinha condições de ajudá-las, também não queria atrapalhar as suas vidas e se tornar um peso para a família.


Perguntei ao seu Bené se ele, que tanto tinha trabalhado, recebia aposentadoria e ele respondeu que não. Trabalhou sem carteira assinada boa parte de sua vida e agora tinha de esperar ter 60 anos para tentar uma aposentadoria por idade. Mas não tinha muita esperança de conseguir.


Chegada a hora de ir embora, seu Bené se despediu de mim dizendo que tinha gostado muito de conversar comigo. Elogiou meu português correto e disse que sentia falta de conversar com quem falava assim e podia compreender o contexto histórico de sua trajetória de vida, entendendo o seu sentido. Orgulhoso de sua formação, seu Bené volta e meia afirmava que tinha profissão. Esse mesmo trabalho que, organizado sob a lógica da expropriação capitalista, era fonte de sofrimento, também marcava uma identidade positiva enquanto atividade autocriadora.


Fui para casa pensando como as políticas de extermínio que hoje são assumidas oficialmente pelo governo do meu estado são, na verdade, a face mais explícita de um sistema que é cruel por natureza. O capitalismo é contra a vida humana, animaliza os seres humanos ao condená-los a trabalhar para garantir sua sobrevivência imediata e não para a sua autoemancipação. O brilho que encontrei nos olhos de seu Bené enquanto ele me narrava sua vida é expressão de potencialidade criativa, de energia transformadora, de desejo de felicidade e beleza. A força desse brilho vem da certeza de poder construir o mundo com suas próprias mãos. No entanto, seus limites são impostos por um modo de produção que torna o trabalho escravidão e fonte de sofrimento, estranho ao próprio trabalhador.


Gilmar Mauro, uma das lideranças mais importantes do MST, numa belíssima fala na I Conferência Vozes de Nossa América, realizada recentemente na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, contou sobre seus sentimentos contraditórios quando passava pela avenida Paulista. Se, por um lado, sentia um grande desespero ao ver naquelas construções a materialização da força do capital, por outro, se enchia de esperança ao perceber que tudo aquilo tinha sido erguido pela mão da classe trabalhadora. E, se a classe trabalhadora foi capaz de construir tudo aquilo, ela também seria capaz de por abaixo a ordem do capital e reconstruir um outro mundo, com base em valores humanos.


Pensei nisso, e também em Vinícius, em Brecht e no dia em que gente como seu Bené começar a dizer não.

Créditos:ObservatórioDaIndustriaCultural

Adriana Facina (Observatório da Indústria Cultural/UFF)


Publicado originalmente em http://www.fazendomedia.com/


formato: avi
tamanho: 680 mb
idioma: português
legendas: S/L

Título Original: Nina
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 85 min.
Ano de Lançamento (Brasil): 2004
Direção: Heitor Dhalia
Roteiro: Marçal Aquino e Heitor Dhalia
Elenco: Guta Stresser (Nina), Myriam Muniz (Dona Eulália), Sabrina Greve(Sofia), Luíza Mariani (Alice), Juliana Galdino (Ana), Milhem Cortaz (Carlão), Guilherme Weber (Arthur), Abrahão Farc (Velho), Wagner Moura (Cego), Selton Mello (Namorado de Ana), Renata Sorrah (Prostituta), Lázaro Ramos (Pintor), Matheus Nachtergaele (Pintor).
Livremente inspirado em Crime e Castigo, de Dostoievski.

Créditos:RapaduraAzucarada -
Renatchka!

sinopse:Ambientado na São Paulo de hoje, o filme narra a história de Nina, jovem pobre, que procura atabalhoadamente um meio de sobrevivência na sociedade desumana de hoje e só esbarra em adversidades. Mora num quarto alugado. A senhoria Eulália, velha decrépita e reencarnação da velha usurária morta por Raskólnikov em Crime e Castigo, humilha Nina a todo instante, viola sua correspondência, confisca-lhe um dinheiro que a mãe lhe enviara, tranca a geladeira a cadeado para impedir-lhe o acesso aos alimentos ali guardados, cada um com a etiqueta "Eulália", símbolo do poder de compra e do direito ao consumo e à humilhação do semelhante.

links:
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screens:





Complete Billie Holiday-Lester Young

http://aycu25.webshots.com/image/36984/2004166681927300949_rs.jpg


Complete Billie Holiday-Lester Young @ 320 - cd 1

01. He ain´t got rhythm.mp3
02. This year´s kisses.mp3
03. Why was I born.mp3
04. I must have that man.mp3
05. Sun showers.mp3
06. Yours and mine.mp3
07. Mean to me (price master).mp3
08. Mean to me.mp3
09. Foolin´ myself.mp3
10. Easy living.mp3
11. I´ll never be the same.mp3
12. Me, myself and I.mp3
13. Me, myself and I (price master).mp3
14. A sailboat in the moonlight.mp3
15. Born to love.mp3
16. Without your love (price master).mp3
17. Without your love.mp3
18. Getting some fun out of life.mp3
19. Who wants love.mp3
20. Trav´lin´ all alone.mp3
21. He´s funny that way.mp3
22. I can´t get started.mp3

Complete Billie Holiday-Lester Young @ 320 - cd 2

01. My first impression of you.mp3
02. My first impression of you (prise master).mp3
03. When you're smiling (prise master).mp3
04. When you're smiling.mp3
05. I can't believe you're in love with me.mp3
06. I can't believe you're in love with me (prise master).mp3
07. If dreams come true (prise master).mp3
08. If dreams come true.mp3
09. Now they call it swing.mp3
10. Now they call it swing (prise master).mp3
11. Back in your own backyard (prise master).mp3
12. Back in your own backyard.mp3
13. When a woman loves a man.mp3
14. The very thought of you.mp3
15. I can't get started (prise master).mp3
16. I can't get started.mp3
17. I've got a date with a dream.mp3
18. I've got a date with a dream (prise master).mp3
19. You can't be mine.mp3
20. Everybody's laughing.mp3
21. Here is to-morrow again.mp3
22. Say it with a kiss.mp3

Complete Billie Holiday-Lester Young @ 320 - cd 3

01. The man I love (Lester ts solo).mp3
02. You're just a no-account (Lester ts solo).mp3
03. You're a lucky guy (Lester ts solo).mp3
04. I'm pulling through (Lester ts solo).mp3
05. Laughing at life (prise master) (Lester ts solo et obbligato).mp3
06. Laughing at life (Lester ts solo et obbligato).mp3
07. Time on my hands (Lester ts obbligato).mp3
08. The man I love (Lester ts obbligato).mp3
09. Let's do it (prise master).mp3
10. Let's do it (Lester ts solo).mp3
11. All of me (prise master) (Lester ts solo).mp3
12. All of me (Lester ts solo).mp3
13. All of me (Lester ts solo).mp3
14. I cried for you (Lester ts obbligato).mp3
15. Fine and mellow (Lester ts obbligato).mp3
16. He's funny that way (Lester ts obbligato).mp3
17. The man I love(Lester ts obbligato).mp3
18. Gee Baby, ain't I good to you (Lester ts obbligato).mp3
19. All of me (Lester ts obbligato).mp3
20. Billie's blues (I love my man).mp3

Total Size: 428,26MB

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Ike Quebec - Blue & Sentimental (1961)

http://i1.tinypic.com/86rfjw7.jpg


Ike Quebec - Blue & Sentimental (1961)
MP3
320Kbps
RS.com: 115mb


Personnel:
Ike Quebec (tenor saxophone, piano)
Grant Green (guitar)
Paul Chambers (bass)
Philly Joe Jones (drums)

On track 8: Ike Quebec (tenor saxophone), Grant Green (guitar), Sonny Clark (piano), Sam Jones (bass); Louis Hayes (drums)


Tracks:

1. Blue And Sentimental
2. Minor Impulse
3. Don't Take Your Love From Me
4. Blues For Charlie
5. Like
6. That Old Black Magic - (bonus track)
7. It's Alright With Me - (bonus track)
8. Count Every Star

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Extraindo um DVD com DVD Shrink 3.2

Uma excelente ferramenta para extrair DVD para o micro para regravar. Como os DVDs a venda geralmente são de 4,7 GB e os filmes costumam ter 6 GB, o programa diminui a qualidade do filme principal para caber num dvd de 4,7 GB e ao final do processo grava o DVD.

Recomendação: Ter o Nero instalado.

Créditos: Poaibacana - Fernandes


COMO UTILIZAR.

Caso não tenha o programa, clique aqui e baixe e instale.

ABRA O SHRINK

COLOQUE O DVD NO LEITOR.

CLIQUE NO BOTÃO OPEN DISK E APERTE OK

clip_image002

O SISTEMA ANALISARÁ O VIDEO

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DEPOIS DE ANALIZAR APARECERÁ A JANELA ABAIXO

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DEPOIS CLIQUE NO BOTÃO BACKUP

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SELECIONE A OPÇÃO COMO ESTÁ NA IMAGEM ACIMA E NAS PRÓXIMAS ABAIXO.

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NA JANELA ABAIXO CLIQUE EM OK E AGUARDE INCIAR A CONSTRUÇÃO.

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INICIANDO A CODIFICAÇÃO

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Gravando!!

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Post. : JH II

***Repost***

Jake Aki Steves, conheceu o blues através de bandas inglesas. Aquela música tocava fundo o seu coração, depois ficou sabendo que vinha dos negros americanos. É...eles cantavam nos campos de algodão aquela música triste e também alegre!.Os negros maltratados, bebiam as suas mágoas através da música que criaram. Poor people. Aqui no Brasil, também os negros, escravos , cantavam a sua música o samba, eita! Mas foram traídos pelos “pagodeiros P.N.C.”, que saber o que é P.N.C.? Não conto. A diferença entre o “samba raiz” e o pagode (moderno), é que as letras são pobres, mas “as menininhas”, estufam a conta no banco de quem o canta, Argh! Trago aqui um verdadeira“pá de blues”, cantores e guitarristas da nata do blues. Aproveitem e valorizem esta música maravilhosa tocada e amada por muitos, como Eric Clapton, por exemplo, t´chau.

The Blues History

Tracks
CD1
01 - Muddy Waters - Mannish Boy.mp3
02 - B.B. King - Let The Good Times Roll (Live).mp3
03 - The Blues Project - No Time Like The Right Time.mp3
04 - John Mayall & Bluesbreakers - All Your Love.mp3
05 - Eric Burdon - Good Time.mp3
06 - Stormy Monday - T-Bone Walker.mp3
07 - Big Bill Broonzy - When The Sun Goes Down.mp3
08 - Champion Jack Dupree - Georgiana.mp3
09 - Buddy Guy - First Time I Met The Blues.mp3
10 - John Lee Hooker - Boom Boom.mp3
11 - Howlin' Wolf - Back Door Man.mp3
12 - Roy Buchanan - My Baby Says She's Gonna Leave Me.mp3
13 - Willie Dixon - Walkin' The Blues.mp3
14 - The Robert Cray Band - I Was Warned.mp3
15 - Taste - Blister In The Moon.mp3

CD2
01 - Etta James - Damn Your Eyes.mp3
02 - The Robert Cray Band - Don't Be Afraid Of The Dark.mp3
03 - Otis Spann - What Will Become Of Me (Lost Sleep In The In The Fold).mp3
04 - Johnny Copeland - Jambalaya (On The Bayou).mp3
05 - John Mayall - Have You Ever Loved A Woman.mp3
06 - Albert Collins - Frosty.mp3
07 - Bo Diddley, Muddy, Waters, Little Walter - I Just Want To Love With You.mp3
08 - John Lee Hooker - Dimples.mp3
09 - Muddy Waters - Got My Mojo Working.mp3
10 - Howlin' Wolf - The Red Roaster.mp3
11 - Luther Alison - Dust In My Broom.mp3
12 - Elmore James - Shake Your Moneymaker.mp3
13 - Taste - Born On The Wrong Side Of Town.mp3
14 - Chris Farlowe - My Girl Josephine.mp3
15 - Sonny Boy Williamson - Don't Start Me To Talking.mp3

CD3
01 - Roy Buchanan - The Messiah Will Come.mp3
02 - Muddy Waters - Hoochie Coochie Man.mp3
03 - Clarence Gatemouth Brown - Blues Power.mp3
04 - Howlin' Wolf, Muddy Waters, Bo Diddley - Spooonful.mp3
05 - Willie Dixon - 29 Years.mp3
06 - B.B. King - Sweet Sixteen (Live).mp3
07 - John Mayall - Looking Back.mp3
08 - Joe Louis Walker - Blues Of The Month Club.mp3
09 - Bobby Blue Bland - I Wouldn't Tret A Dog (The Way You Treated Me).mp3
10 - Sonny Boy Williamson - Bring It On Home.mp3
11 - The Blues Project - Wake Me, Shake Me.mp3
12 - Muddy Waters - Rollin' Stone.mp3
13 - Elmore James - The Sky Is Crying.mp3
14 - Chris Farlowe - Rockin' Pneumonia.mp3
15 - Buddy Guy - The Time After A While.mp3

CD4
01 - B.B. King & U2 - When Love Comes To Town (Live).mp3
02 - Screamin' Jay Hawkins - Constipation Blues.mp3
03 - J.J. Cale - Don't Cry Sister.mp3
04 - Albert Collins - Dyin' Flu.mp3
05 - Etta James - I'd Rather Go Blind.mp3
06 - Bobby Blue Bla - Ain't No Love In The Heart Of The City.mp3
07 - The Mojos - Everything's Alright.mp3
08 - Muddy Waters - Good Morning Little School Girl.mp3
09 - Buddy Guy - Keep It To Myself.mp3
10 - I'm Still In Love With You - T-Bone Walker.mp3
11 - Free - Mr. Big.mp3
12 - John Lee Hooker - One Bourbon, One Scotch, One Beer.mp3
13 - Buddy Guy - I Suffer With The Blues.mp3
14 - Chris Farlowe - Summertime.mp3
15 - Howlin' Wolf - Going Down Slow.mp3
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Escravos importados e software livre

Marcelo Soares

No ritmo de compras de natal, vale fazer uma observação.

Nas comemorações do Dia do Imigrante, o Ministério do Trabalho fechou acordo com as lojas Renner e Marisa para que elas deixem de vender roupas cujos fornecedores empreguem trabalho escravo. Anteriormente, já haviam sido assinados compromissos semelhantes com a C&A e a Riachuelo.

Isso não acontece apenas porque é bonito marcar posição nesse tipo de coisa - embora muita gente assine esses compromissos meramente por retórica.

Em São Paulo, como em Buenos Aires e noutras partes, há uma quantidade imensa de oficinas de costura que empregam imigrantes bolivianos ilegais. A maior parte deles não chega a ganhar sequer um salário mínimo por mês, e mesmo isso vai em dívidas com comida e moradia com o boliviano que os entrega. Cada vestido que fazem é vendido por R$ 2 a um coreano, e a partir daí segue uma escala que chega aos guarda-roupas mais populares do Brasil. Foram encontradas no chão dessas "sweatshops" etiquetas exatamente das lojas que mais vendem. (Baixe aqui a revista Observatório Social editada em 2005 sobre o assunto.)

Neste domingo, a Folha publicou uma reportagem fotográfica em que Antônio Gaudério foi para a Bolívia, fez um curso tabajara de corte e costura e arrumou um emprego numa malharia em São Paulo. Lá, os outros trabalhadores comiam com as mãos nacos de carne de porco mergulhados numa papa de batata com milho. O próprio patrão trabalhava das sete à meia-noite na máquina de costura, pra passar dois dias sem finalizar um vestido sequer de R$ 2. O relato de Gaudério virou até podcast.

(Foi a de longe a reportagem mais legível publicada pelo jornal, num domingo com muitas páginas de Datafolha, CPMF, bispo em greve de fome, novas análises de estatísticas já divulgadas e futilezas como os novos biquínis do verão. Saiu no caderno Dinheiro 2. Na internet, está disponível só para assinantes da Folha. Pena.)

O consumidor não tem como saber que peças da loja popular com crediário a perder de vista foram confeccionadas em condições degradantes. Apertado de grana, também é difícil manter o bolso e a consciência em paz entre si ao saber que compra num lugar que um dia usou esse tipo de trabalho. O boliviano que se submete a isso é um sem-tudo: sem salário, sem documentos, sem legalização no país, muitas vezes sem família e sem muitas condições de ir atrás de coisas básicas como atendimento médico, por medo de ser pego estando ilegalmente no país.

Perplexo? Recorra ao "Ilícito", de Moisés Naím. Ele mostra como a explosão de tecnologia, comunicação e transportes facilitou a vida de todo mundo, mas especialmente a dos que operam no que ele chama de "buracos negros" - gerando oferta do que tem uma demanda ilegal, ou do que só pode ser fornecido barato utilizando condições degradantes. Ele não traz conforto. Mas recomenda canalizar a perplexidade na busca de idéias.

    O comércio ilícito é essencialmente determinado pela diferença de preços. A madeira que é muito mais cara em Los Angeles do que na Indonésia; as folhas de coca que podem ser processadas e vendidas em Miami por um preço centenas de vezes maior do que nas ruas bolivianas; os trabalhadores camaroneses que recebem em Londres o que jamais sonhariam ganhar em seu próprio país. Quanto mais brilhante o ponto de luz, mais altos são os preços que os produtores ilícitos podem atingir. Quanto mais escuro o buraco negro, mais ansiosa sua população estará por vender seus produtos, suas mentes, seu trabalho e, até mesmo, seus corpos aos traficantes. Juntas, essas duas tendências criam diferenças de preço cada vez maiores - e, portanto, incentivos cada vez mais irresistíveis para que os buracos negros conectem-se aos pontos de luz.

    (...) Por ora, a tendência é a expansão. Mais tráfico, mais buracos negros, mais conflitos e confusões, enquanto as fronteiras permanecem porosas, a despeito das tentativas do governo para fechá-las. Mas essa tendência é irrevogável? Estamos fadados a mergulhar, no futuro próximo, em um mundo de fortalezas sitiadas, guetos e terras de ninguém? Caso se acredite simples e exclusivamente no poder da motivação pelo lucro, a resposta é sim. Caso se acredite que idéias podem mudar o mundo, então a resposta é não. A história, porém, nos ensinou a acreditar nas duas coisas. Nem o lucro triunfará um dia sobre as idéias, nem as idéias erradicarão de vez o incentivo do lucro.

Parafraseando o maior gênio com quem já trabalhei, não se combate o ilícito meramente gritando "pega ladrão". Isso funcionaria se o sentimento de vergonha dos envolvidos fosse poderoso a ponto de paralisá-los e fazê-los mudar de vida. Caminhar no centro de uma capital mostra que isso não rola - o negócio é que o pessoal compra porque o produto é barato e o salário é curto. Entretanto, é o simplista "pega ladrão" o foco de todas as campanhas que já vi sobre pirataria de CDs e DVDs, por exemplo. Dizer "papai do céu castiga" seria tão eficiente quanto. Mas histórias assim só existem nas madrugadas da TV Record.

O Everton, um dos mais assíduos leitores deste blog, lembraria que idéias como o software livre floresceram a partir da constatação de que a pirataria de software ocorre porque de um lado há demanda pelo serviço do programa e por outro a oferta de grife custa caro e não permite a personalização. Na música, o Radiohead tentou bolar um modelo econômico com as vendas de seu último CD ao preço que o freguês quiser. Sei lá se funcionou direito, mas tem o mérito da tentativa.

Mas e no vestuário, existe um "linux"? Ou será que o software livre da roupa é a velha máquina de costura da vovó?

Superflex lança cerveja "pública"



free-beer.jpg FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma nova marca de cerveja é lançada, hoje, na galeria Vermelho: a Free Beer. Entretanto, ao contrário das marcas tradicionais, que tratam como segredo de Estado a receita de suas bebidas, no próprio rótulo da Free Beer está estampada sua receita.
A Free Beer é a nova ação do coletivo dinamarquês Superflex, composto por Bjornstjerne Reuter Christiansen, Jakob Fenger e Rasmus Nielsen. No ano passado, o grupo trouxe polêmica à 27ª Bienal de São Paulo com o Guaraná Power, censurado pela presidência da instituição, que afirmou que não se tratava de uma obra de arte. Apesar do veto, o Guaraná Power, feito em colaboração com a Cooperativa de Agricultores da Região de Maués, na Amazônia, chegou a ser distribuído em museus e na própria Vermelho, durante a Bienal.
"Agora estamos propondo uma marca aberta e, nesse sentido, sugerimos um novo modelo econômico, que permite a qualquer um produzir e distribuir cerveja, a partir de uma receita que é pública, além de criar consumidores não obedientes, como gosta o mercado", conta Fenger.

"Free software"
A Free Beer surgiu em 2004, numa parceria com estudantes da Universidade de Copenhague. "Buscamos transferir os princípios do software livre para algo físico, e a cerveja se tornou um bom exemplo", conta Nielsen. "Por isso, a Free Beer tem sido comparada ao Linux [sistema operacional gratuito] e à Wikipedia", diz o artista.
Quem quiser produzir e comercializar a Free Beer pode baixar do site www.freebeer.org a logomarca da cerveja, de forma gratuita. "Já há Free Beer sendo produzida na Inglaterra, nos Estados Unidos, na Dinamarca e até na República Tcheca", afirma Fenger.
Fonte original: FolhaOnLine

As feridas e os feridos

Em meio a promessas de bonança, começam a aparecer os verdadeiros estragos feitos pela derrubada da CPMF. E não parece que seja o governo que esteja chorando mais...

Logo depois da derrubada da CPMF, houve uma gritaria tentando convencer as gentes que “haveria mais dinheiro no bolso”, que “o crédito ia ficar menos caro”, e assim por diante. Mas ao longo dos dias, vão aparecendo os verdadeiros estragos feitos pela votação desastrada da noite de 12 para 13 de dezembro.

É certo que a vitória da rejeição do imposto só foi possível com a sinistra deserção de senadores da base aliada. Sozinhos, PSDB + DEM + PSOL, mais isto e mais aquilo, não conseguiriam rejeitar o imposto. Mas não é só isto. O que vai ficando cada vez mais claro é que, por exemplo, levado pela fúria vingativa de alguns senadores (como apontou Kennedy de Alencar em artigo na Folha de S. Paulo, já em 13/12), aliada a uma estratégia de clarividência duvidosa articulada por Fernando Henrique Cardoso, o PSDB conseguiu uma proeza que em geral só o PT conseguia: derrotar a si mesmo.

Na sexta-feira, no lançamento do novo carro da Ford em S. Bernardo (mostram as fotos dos jornais de sábado), quem estava de cara amarrada era Serra, não era Lula. Para vencer em 2010, Serra precisa conquistar votos que foram petistas em 2002 e em 2006. Para vencer em 2010, ele precisa, por exemplo, manter a Saúde como bandeira sua, ministro que dela foi. Mas a pressa e o açodamento de impor uma derrota a Lula e de conquistar o agrado da Fiesp, na verdade verdadeira das coisas, tirou-lhe a bandeira das mãos. Por quê? Porque se apesar de tudo a Saúde melhorar e se expandir mais neste país, o mérito será do governo federal que, “apesar da perda da CPMF”, a terá feito progredir. Se isso não acontecer, Serra terá de arcar com o contra-argumento de que “foi o seu partido” que se curvou aos “pró-magnatas” do DEM e espandongou as verbas da Saúde.

Por sua vez, a gritaria na Câmara Federal é enorme: deputados e deputadas se sentem apunhalados e abandonados a sangrar pelos senadores dos seus partidos, pois parecer ser inevitável haver o contingenciamento e cortes de verbas nas emendas orçamentárias aprovadas. E a grita maior vem de deputados e deputadas dos próprios PSDB e DEM, que, com razão, se sentem mais ameaçados.

Também na Folha de S. Paulo, só que desta vez na de sábado, 15/12, em artigo de Marcos Cézari na seção Dinheiro, se lê que com o fim do imposto os assalariados de baixa renda terão uma perda, ainda que pequena em termos individuais, porque passarão a ter de pagar mais para a Previdência que antes lhes diminuía o desconto como uma compensação pelo imposto.

Ou seja, enquanto o governo vai remanejar verbas, podendo jogar todos os ônus para as oposições e para a irresponsabilidade de alguns de seus aliados menos aliados, quem se lascou mais foi o PSDB. Parece aquela jogada estúpida: na hora de dar a punhalada, o DEM segurou o punhal pelo cabo e o PSDB pela lâmina. Resultado: no alvo a faca feriu, mas nem entrou tanto. Já um dos esfaqueadores periga perder os dedos, e ainda está na UTI costurando as feridas.

Ainda uma palavra. É verdade que o PSDB está dividido, pelo menos desde a eleição de 2006. Mas agora está estraçalhado. Parece um ator que entrou endomingado em cena e sai em farrapos e andrajos. Qual o sentido de Fernando Henrique ter manejado tanto as cordinhas de Arthur Virgílio? A mim me parece um único. Pelo menos, quero dizer, um único faz sentido, porque o de ter jogado o partido e seus possíveis candidatos numa arapuca não faz. Como aquele cuja era ele queria acabar ao chegar à presidência, Fernando Henrique sabe que um dia ele deixará a vida para entrar na história (esperemos que daqui há muito tempo e de modo não tão trágico como o daquele seu antecessor). E ele está arriscando-se a entrar para a história como um mero prefácio às gestões de Lula e até mesmo de Serra, se este conseguir chegar à presidência. Neste último caso, reconheça-se, há o risco dos incontáveis retrocessos em todas as frentes, da política social à externa, que a sanha de tucanos e democratas trará. O segundo mandato de Fernando Henrique desteceu tudo que ele tecera para seu verbete nas enciclopédias durante o primeiro. Por isso, vanitas vanitatis, faz sentido criar todas as pedreiras possíveis no caminho de Lula.

Mas pressionado tardiamente por Serra e Aécio (que nesse sentido também foram lerdos, como foram o governo e o PT), o ex-presidente tentou jogar toda a responsabilidade pelo acontecido nos ombros de Arthur Virgílio. Mas quem acompanhou desde sempre essa farsesca tragédia anunciada, viu que FHC também ajudou a alevantar o punhal contra César. Só que César, ainda que contrariado, passa bem nos braços do povo. E alguns dos pretensos esfaqueadores também saíram esfaqueados. Por eles mesmos e seus comparsas.

Crônica de uma tragédia mundial

O Paquistão, hoje, é a chave do equilíbrio na Ásia central, não apenas pelos valiosos serviços que o seu serviço secreto presta a Washington, mas por sua posição geopolítica, como potência nuclear ao lado (e rival) da Índia e situado na fronteira entre Afeganistão e Irã

O Paquistão, hoje, é a chave do equilíbrio na Ásia central, não apenas pelos valiosos serviços que o seu serviço secreto presta a Washington, mas por sua posição geopolítica, como potência nuclear ao lado (e rival) da Índia e situado na fronteira entre Afeganistão e Irã



José Arbex Jr.

A Casa Branca, severamente golpeada no Iraque, parecia mais empenhada do que nunca em obter um acordo significativo entre israelenses e palestinos, e pressionou o quanto pôde pela realização de uma conferência de paz, finalmente realizada em Annapolis, perto de Washington, em novembro. Foi um fracasso. Todos os esforços diplomáticos resultaram em vagas declarações. Enquanto isso, na Ásia central, acumulam-se tensões muito perigosas: ninguém pode prever, com alguma segurança, mesmo no curto prazo, o que vai acontecer no Paquistão (potência nuclear e sob forte pressão de grupos fundamentalistas); no Afeganistão, as tropas estadunidenses mal controlam o centro da capital Cabul e, finalmente, o Irã mantém sua postura de desafio aos Estados Unidos.

A Conferência de Annapolis foi convocada como uma resposta do governo Bush à opinião pública de seu próprio país, cada vez mais crítica do desastre no Iraque. Às vésperas de eleições presidenciais, a Casa Branca precisa, ao menos, manter a aparência de que tenta promover a paz, ainda que seja para encontrar justificativas para novas aventuras militares no Oriente Médio. Mas, nada poderia salvar o show de Bush.

Na Palestina, a perspectiva de uma paz estável está mais distante do que nunca. Em primeiro lugar, a conjuntura política no âmbito da Autoridade Palestina configura uma situação de caos absoluto. Em junho, entrou em colapso o governo formado pelo presidente Mahmud Abbas (líder do grupo Fatah, ao qual pertencia o falecido dirigente Yasser Arafat) e pelo primeiro-ministro Ismail Haniyeh (do grupo islâmico fundamentalista Hamas). Sob pressão conjunta dos Estados Unidos, de Israel e da União Européia, Abbas depôs Haniyeh, que havia sido democraticamente eleito, e nomeou por decreto Salam Fayad como novo primeiro-ministro.

Como resultado, a sociedade palestina foi conduzida à beira da guerra civil generalizada. A imensa maioria dos habitantes da Faixa de Gaza apóia o Hamas e não reconhece o governo Abbas – Fayad (que é inconstitucional, de acordo com as próprias leis em vigor na Autoridade Palestina). Mesmo na Cisjordânia, onde o Fatah é mais forte, o apoio ao governo não é consensual. Nessas condições, Abbas já entrou na conferência de Annapolis com posição bastante débil, para dizer o mínimo.

Em Israel, o governo Olmert vai de mal a pior. Desmoralizado pelo fiasco que resultou do ataque ao sul do Líbano, o primeiro-ministro chefia uma coalizão que se apóia em dois partidos de extrema-direita, o Israel Betinu e o Shas. Ambos apóiam a expansão de colônias israelenses nos territórios ocupados. De outro lado, a opinião pública palestina mantém a expectativa de construir um estado economicamente viável, com base nas fronteiras anteriores à ocupação, iniciada em junho de 1967, o que requer o desmantelamento das colônias. Além disso, é favorável ao direito de retorno dos palestinos expulsos de suas terras após a criação de Isael, e ao estatuto de Jerusalém oriental como a capital de um Estado árabe palestino.

Mas todo esse imenso quebra-cabeça ainda é só uma parte do problema. No Paquistão, também às vésperas de eleições gerais, o governo de Musharraf, fiel aliado de Washington, dá sinais de crescente descontrole, ao passo que os grupos fundamentalistas ganham cada vez maior visibilidade e capacidade de ação política. O Paquistão, hoje, é a chave do equilíbrio na Ásia central, não apenas pelos valiosos serviços que o seu serviço secreto presta a Washington, mas por sua posição geopolítica, como potência nuclear ao lado (e rival) da Índia e situado na fronteira entre Afeganistão e Irã.

Para construir alternativas políticas palatáveis no curto prazo, a Casa Branca “ressuscitou” até a ex-presidenta Benazir Butho, que terminou o seu governo sob fortes suspeitas de corrupção. Mas todas as tentativas, até o momento, se mostraram incertas. Se o Paquistão “cair” em mãos fundamentalistas, o caos será definitivamente instaurado, não apenas pelo significado imediato (armas nucleares em poder de grupos extremistas), mas também no médio e longo prazos (instabilidade em toda a Ásia central, região absolutamente indispensável à economia do petróleo no século XXI).

Esse quadro geral pode levar a Casa Branca a novas aventuras – por exemplo, a regionalização da guerra, abrindo a possibilidade de uma intervenção em muito maior escala dos Estados Unidos e aliados? Pode. Em Israel, fiel escudeiro de Washington, debate-se abertamente, por exemplo, a possibilidade uma nova guerra com a Síria (que denunciou, recentemente, a incursão ilegal de aviões de guerra israelenses em seu espaço aéreo) e de um ataque nuclear localizado ao Irã, com o suposto objetivo de destruir instalações onde estariam sendo fabricadas bombas atômicas. Isso significaria envolver toda a região num conflito absolutamente infernal, de conseqüências imprevisíveis para toda a humanidade.

A dupla Bush – Olmert pode chegar a tal demência? Pode, como demonstram suas ações, nos últimos anos. Pode. Salve-se quem puder.


José Arbex Jr. é jornalista e professor da PUC