quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Documentário

Estamira,
de Marcos Prado



Sinopse:
Dona Estamira é uma senhora de 63 anos que trabalha há mais de 20 anos no Aterro Sanitário de Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro. Ela sofre de surtos esquizofrênicos, mas seu carisma e seu caráter maternal fizeram dela a líder da pequena comunidade de idosos que habitam o lixão. O documentário acompanhou, a partir de 2000, o tratamento ao qual Estamira se submeteu num centro psiquiátrico público e focou, a partir de seu cotidiano, a transformação clínica e os efeitos dos remédios que teve que tomar. Através de depoimentos dos filhos da senhora também foi possível revelar os árduos caminhos trilhados por Estamira. Mesmo vivendo no lixo, ela conseguiu superar sua condição miserável e ainda levantou diante das câmeras questões e valores há muito esquecidos na sociedade.


Gênero: Documentário
Origem/Ano: BRA/2004
Direção: Marcos Prado
Roteiro: Marcos Prado

Formato: rmvb
Áudio: Português
Duração: 121 min
Tamanho: 379 MB
Partes: 4
Servidor: Rapidshare

Créditos:RapaduraAzucarada - ZéQualquer

Críticas:
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Doctor Zhivago




Gênero: Épico/Romance
Tempo de Duração: 201 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 1965
Direção: David Lean
Roteiro: Robert Bolt, baseado em livro de Boris Pasternak
Produção: David Lean e Carlo Ponti
Música: Maurice Jarre
Direção de Fotografia: Freddie Young
Desenho de Produção: John Box
Direção de Arte: Terence Marsh e Gil Parrondo
Figurino: Phyllis Dalton
Edição: Norman Savage
Áudio: Inglês
RMVB Legendado
Cor

Créditos:RapaduraAzucarada - Stirner



Elenco:
Omar Sharif (Yuri Zhivago)
Julie Christie (Lara)
Geraldine Chaplin (Tonya)
Rod Steiger (Victor Komarovsky)
Alec Guinness (General Yevgraf Zhivago)
Tom Courtenay (Pasha Strelnikov)
Siobhan McKenna (Anna)
Ralph Richardson (Alexander Gromeko)
Jeffrey Rockland (Sasha)
Tarek Sharif (Yuri - jovem)
Bernard Kay (Bolchevique)
Klaus Kinski (Anarquista)



Sinopse:
O filme conta sobre os anos que antecederam, durante e após a Revolução Russa pela ótica de Yuri Jivago (Omar Sharif), um médico e poeta. Yuri fica órfão ainda criança e vai para Moscou, onde é criado. Já adulto se casa com a aristocrática Tonya (Geraldine Chaplin), mas tem um envolvimento com Lara (Julie Christie), uma enfermeira que se torna a grande paixão da sua vida. Lara antes da revolução tinha sido estuprada por Victor Komarovsky (Rod Steiger), um político sem escrúpulos que já tinha se envolvido com a mãe de Lara, e se casou com Pasha Strelnikoff (Tom Courtenay), que se torna um vingativo revolucionário. A história é narrada em flashback por Yevgraf de Jivago (Alec Guiness), o meio-irmão de Yuri que procura a sua sobrinha, que seria filha de Jivago com Lara. Enquanto Strelnikoff representa o "mal", Yevgraf representa o "bom" elemento da Revolução Bolchevique.

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Premiações
Ganhou 5 Oscars, nas seguintes categorias: Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte - A Cores, Melhor Fotografia - A Cores, Melhor Figurino - A Cores e Melhor Trilha Sonora. Foi ainda indicado em outras 5 categorias: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Tom Courtenay), Melhor Edição e Melhor Som.

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Os escritores malditos do Vietnã

Numa sociedade esgotada ideologicamente e marcada pela força crescente do dinheiro, eles buscam um sentido para a vida falando de sexo e transgressão — e difundindo suas obras via internet ou em cópias píratas

Jean-Claude Pomonti

Mais de dois terços dos vietnamitas nasceram depois de 1975. O heroísmo do passado, embora ainda próximo, não é mais a única referência, mesmo que inscrito na história de um país que lutou, ao longo dos séculos, por sua independência e unidade. “No coração da literatura oficial, a fé em uma dupla emancipação, social (pelo marxismo-leninismo) e nacional (pela guerra), deu lugar à ausência de ideal na juventude do pós-guerra” [1], avalia Doan Cam Thi, crítico literário radicado em Paris.

Tanto no centro como na periferia do Partido Comunista, a nova tendência gera inquietações. Mas os vazios, muitas vezes, apenas indicam o surgimento de sociedades mais complexas. A dicotomia oficial — bons e maus — torna-se indistinta com o passar dos anos. Doan Cam Thi retoma desse modo, a respeito do Vietnã, a expressão de Karl Marx sobre os países “tão pobres de heróis quanto de acontecimentos”. Em uma novela muito breve, o escritor Do Khiem, que vive entre a França, os Estados Unidos e o Vietnã, cita Kiê, a infeliz heroína de um grande romance clássico vietnamita do século 19: “Por vezes, mal desfio a meada que os entrelaça, os fios se emaranham de novo”. Mas Do Khiem, cujos escritos são muito apreciados nos jovens círculos literários vietnamitas, o faz para afirmar o contrário: “Não me prendo a ninguém” [2].

No período subseqüente às guerras da Indochina, uma geração de escritores talentosos se debruçou sobre a miséria dos combates e as desilusões advindas da vitória. A maior parte era originária do Norte e saída das fileiras vencedoras. Nguyen Huy Thiep, Bao Ninh, Duong Thu Huong e Pham Thi Hoai encabeçavam a fila. Seu olhar sobre a guerra e a sociedade que dela emergiu dominou os escritos da época das primeiras reformas, determinadas pelo Partido Comunista em 1986, e da abertura do Vietnã para o resto do mundo. Outros também relataram as cicatrizes deixadas pela brutal reforma agrária de 1955-1956 [3] ou as ondas de repressão posteriores.

Há quase trinta anos começava a série de renovações que deixou para trás o realismo socialista

Nos anos 1990, Hanói tornou-se o centro de uma renovação literária cuja repercussão no exterior foi ainda maior pelo fato de alguns escritos serem proibidos e circularem apenas às escondidas, ainda que por vezes de forma pródiga. O surgimento dessa geração de escritores significou provavelmente um golpe definitivo na literatura oficial, que bebia na fonte do realismo socialista. Era o fim de um mito ou de uma hipocrisia. O Vietnã vivera convulsões, não uma revolução. Diante da profusão de escritores que eram também pesquisadores, os ideólogos oficiais não encontraram outra resposta senão a censura ou a reescrita, notadamente a que era praticada pelos manuais de história. O grande público permaneceu à distância: tratava-se já de um combate travado na retaguarda.

Por isso, a censura só foi exercida, na maioria das vezes, a posteriori. Tratava-se de pressão sobre os editores, que corriam o risco de ver as obras publicadas serem retiradas de circulação. Prova disso foi a proibição, pouco após o lançamento, do Récit de l’an 2000, publicado pelas edições Thanh Nien (A Juventude). Bui Ngoc Tan relata nessa obra as duras condições sob as quais ficou preso, três décadas antes, no contexto de uma campanha contra os "revisionistas". O livro foi destruído por ordem das autoridades, poucas semanas depois de ter sido posto à venda. Por outro lado, em março de 2005, Chinatown, um romance de Thuan, jovem escritor da diáspora vietnamita na França, foi publicado em seu país natal, com enorme sucesso de vendas. A iniciativa de publicá-lo no Vietnã foi ainda mais interessante porque a obra aborda o delicado tema da humilhação sofrida pela comunidade chinesa após a eclosão da guerra fronteiriça entre a China e o Vietnã, em 1979. Antes disso, o tema parecia tabu.

A abertura em curso não permite prever, ainda, como será escrita a página aberta na passagem do século. Os autores do período das primeiras reformas puseram novamente em questão, com força e talento, o mito da história oficial e o realismo socialista. À exceção de Duong Thu Huong, ativista dos direitos humanos [4], eles têm talvez menos propostas relativas ao futuro. De sua parte, o Partido Comunista, o “Pai da Vitória”, imagina renovar sua legitimidade apoiando-se em três pilares: expansão econômica, luta contra os “fenômenos negativos” (corrupção, degradação dos costumes) e retomada dos valores nacionais (ou, se preferirmos, históricos). Substituir uma “solidariedade internacional” em pleno desaparecimento pela imagem de Confúcio talvez traga conforto a uma população já há tanto tempo bombardeada por slogans vazios que nem mais lhes dá atenção. Mas as aspirações estão em outro lugar.

Proliferam os cibercafés: a internet rompe obstáculos, promove encontros, introduz a horizontalidade

Mesmo nos rincões mais distantes do país, os cibercafés proliferam. Uma juventude muitas vezes desocupada descobre um mundo sem fronteiras [5]. A rede conduz a uma viagem a outro lugar, à busca de outras referências. Ela rompe um emaranhado de obstáculos. Alguns jornais organizam chats muito concorridos com autores de todas as tendências, incluídos os da diáspora. Fronteiras desaparecem e, na busca por valores, a “horizontalidade” vai, pouco a pouco, sobrepujando a “verticalidade”. Os jovens procuram o horizonte das respostas, para além do hábito de esperar que a boa nova venha de cima.

Cada qual em sua praia. “O governo quer abrir as portas para os jovens poetas e escritores, mas impõe limites. Gostaria, segundo a tradição, que escrevêssemos sobre os heróis da guerra. Mas não podemos fazê-lo, pois não a vivemos. Nós falamos de sexo”, conta Lynh Barcadi, nome literário de uma jovem poetisa que, na cidade de Ho-Chi-Minh, integra um pequeno grupo político feminino chamado “Louva-a-Deus”, cuja fêmea supostamente come o macho após o acasalamento.

“Os jovens abordam tabus: o retrocesso da luta de classes, a droga, a degradação do ensino público, o homossexualismo”, explica uma crítica de arte da Cidade de Ho Chi Minh, seduzida pela audácia deles. Para além do evidente “engajamento”, Doan Cam Thi evoca, de sua parte, uma “literatura intimista digna de interesse”, pois “o eu é parte integrante do mundo”. “Sem fechar os olhos para os problemas da sociedade”, acrescenta, “eles nos falam de sua vida, de suas preocupações, de seus sonhos, de seus sofrimentos; ao descrever um mundo opaco, ao mergulhar nas regiões turvas do inconsciente, eles desconcertam os leitores e criam um mal-estar.”

Por trás do aparente niilismo, uma juventude que busca combater o vazio, o tédio e a angústia

Ly Doi é o porta-voz de um grupo de “antipoetas” chamado Mo Mieng (“Abrir a Boca”), fundado em 2000 na periferia da cidade de Ho Chi Minh. Ele carrega um pouco demais nas tintas, em um curto texto divulgado na rede no ano passado:

“Experimento uma sensação não pela tradição, mas por espaços imensos.

“Experimento sozinho uma sensação por minha época, não tenho ligação alguma com os outros.

“Não pertenço a nenhum princípio, nenhum partido político, nenhuma religião, nenhuma ideologia, nenhuma organização; demônios, eu pertenço a mim mesmo.

“Experimento uma sensação pela liberdade primitiva e por meu verdadeiro rosto.

“Quero declarar guerra a tudo que depende da ordem comercial: os museus, os críticos, os historiadores da arte, os estetas e esses que alguns chamam de ‘forças culturais’.

“Estou convencido de que a verdadeira arte não nasceu, pois a verdadeira liberdade e a verdadeira justiça não foram estabelecidas.

“A liberdade não nasceu, a obra-prima da liberdade também não” [6].

Esses jovens escritores caminham na fronteira do niilismo. São por vezes demasiado grosseiros, mas não vulgares. Manejam a provocação com um apetite sério, a fim de fazer “cair as máscaras” e oferecer um sopro de ar fresco. “A provocação na linguagem não é essencial. Essencial é recorrer a uma linguagem popular, uma linguagem corrente; essencial é a honestidade”, explica Ly Doi. Eles não procuram publicar seus escritos e sua assim chamada “casa editora”, Giay Vun (Papel Usado), distribui fotocópias e CDs. Estudantes em processo de envelhecimento, reivindicam sua marginalidade e escrevem utilizando o linguajar popular do Sul, sem dissimular-lhe as grosserias. Seus escritos se pretendem a expressão dos bairros populares de onde eles se originam, uma literatura de bui doi (“poeira de vida”), mas bui doi dotada de bagagem cultural e histórica sólida.

Hesitante, sua abordagem é uma busca da alternativa, tanto no pensamento como na expressão. Eles são influenciados por um de seus representantes mais velhos, autoproclamado “cidadão do mundo”, Tran Quoc Chanh, enfant terrible da cena literária da cidade de Ho Chi Minh, autor de um poema (“Cabeças pensantes, vão tomar no c…!”) que provocou sensação no microcosmo literário vietnamita. É a recusa de caminhos batidos. Eles são talvez, também, o reflexo de uma juventude que busca combater o vazio, o tédio, a angústia, em lugar de se refugiar na droga, no sexo ou no dinheiro. “Um desejo de viver, nada mais, viver de outra forma, pensar diferente de seus predecessores”, resume Doan Cam Thi.

Quando o retorno à natureza e à ordem tradicional, pregados pelo poder, são impossíveis

No coração do PC, antigos resistentes se dão conta de que um partido ao mesmo tempo ator e juiz cria uma situação sem horizonte. Carente de contrapeso e de diálogo, torna-se incapaz de oferecer um projeto de verdade. Um especialista francês evoca “o vazio extraordinário deixado pelos ‘novos pensadores’ capitalistas-marxistas vietnamitas em matéria de ideologia, mensagem, moral e ética, de tal modo estão atolados em seu sistema”. A retomada da tradição e da exaltação do nacionalismo não basta para cobrir o buraco. A tendência seria antes aprofundá-lo, acentuar o descompasso entre o poder político e uma sociedade lutando com uma situação inteiramente nova: o Vietnã unificado e independente deve gerar, pela primeira vez desde o século 19, não apenas sua coexistência com a China, mas também seu lugar no seio da mundialização.

Em À nos vingt-ans, crônica romanceada publicada em francês em 2005 (Aube), Nguyen Huy Thiep evoca uma juventude dissoluta cuja única salvação reside na volta à natureza e às tradições. Produto de uma desilusão pessoal, essa crônica é de uma originalidade limitada: o autor se mete — ou tenta fazê-lo — na pele de um adolescente de boa família, que mergulha no universo das drogas e das gangues. Dele só sairá após ter sido deixado em uma ilha da baía de Along, onde forçosamente passa por uma desintoxicação antes de ser recolhido por pescadores que lhe fazem retomar o gosto pela vida. A notícia da morte do pai, escritor conhecido e de conduta irrepreensível, provoca então o saudável clique do arrependimento. Tudo volta à ordem.

Por ocasião do trigésimo aniversário de 1975, Thiep escreveu que “hoje, para cobrir a perda dos valores tradicionais, perseguimos um modo de vida materialista, violento, hedonista” [7]. Ele acrescenta que “a corrupção é uma catástrofe que não conseguimos conter”, que as “malversações contaminam o espírito da juventude”. Essa visão simplista no entanto não representa uma solução de verdade, porque o retorno à natureza e à ordem tradicional, igualmente apregoado pelo poder, é utópico. A contradizê-la está a eclosão da nova geração de escritores, cujas preocupações são de ordem bem diferente.

O Vietnã é um país cuja dinâmica foi retomada depois de trinta anos de guerra, após uma década de erros e mais outra de hesitações. Um artista da diáspora vietnamita residente nos Estados Unidos, Dinh Q. Le, assim explicou o árduo avanço dos vietnamitas: “Essas pessoas vêm lutando há vinte anos. Não fazem a menor idéia de como administrar um país. Avançam, recuam, depois voltam a avançar. Mas também pode-se encontrar nessa sociedade algo que a distingue no Sudeste Asiático: um ímpeto por melhorar a si mesma, por fazer alguma coisa com sua vida” [8].



[1] Em Au rez-de-chaussée du Paradis. Récits vietnamiens 1991-2003, Arles, Philippe Picquier, 2005.

[2] Idem.

[3] A reforma agrária de modelo chinês, iniciada em 1953 na República Democrática do Vietnã (Norte), provocou descontentamento e até revoltas no campo, que foram duramente reprimidas.

[4] Depois de viajar a Paris em fevereiro de 2006, por ocasião do lançamento de Terre des oublis (Sabine Wespieser), Huong permaneceu na cidade para “finalizar obras inacabadas após vinte anos”. “Em Hanói”, ele disse, “ajudar prisioneiros políticos e lutar pela democracia consome todas minhas energias” (entrevista concedida a Focus Asie du Sud-Est, julho de 2006, www.focusasie.com).

[5] Entre os sites literários vietnamitas na rede, destacam-se, em inglês, www.tienve.org e www.vietnamlit.org.

[6] Traduzido para o francês por Doan Cam Thi.

[7] Publicado em www.remue.net, revista apresentada por François Bon, tradução de Doan Cam Thi.

[8] International Herald Tribune, 9 de junho de 2005.

Os desafios do pós-Kyoto

Por que são pífios, até agora, os resultados do combate ao aquecimento global. Qual a concepção ideológica que limita as ações contra os poluidores. Que concessões os EUA reivindicam em Bali. Como adotar medidas criativas capazes de enfrentar o risco de catástrofe climática

Aurélien Bernier

Os primeiros trabalhos de economia que prefiguram a noção de imposto ambiental remontam a 1920, quando o economista britânico Arthur Cecil Pigou publicou The Economics of Welfare, livro em que tratava das “externalidades, ou efeito externo” de um ato de produção ou de consumo. O autor tomava como exemplo as fagulhas produzidas pelas locomotivas a vapor: fragmentos de carvão incandescente que escapavam às vezes das chaminés e provocavam incêndios de florestas ou campos nas proximidades das ferrovias. Pigou considerava que uma taxa sobre os danos, imposta à empresa ferroviária, incitaria à instalação de dispositivos antifagulhas e permitiria limitar os prejuízos. Esse raciocínio lançava as bases do princípio “poluidor-pagador”.

Quarenta anos mais tarde, outro economista britânico, Ronald Coase, criticou as teses de Pigou. Com algumas décadas de antecedência às negociações de Kyoto, ele oferecia uma argumentação excelente para as empresas poluidoras que queriam escapar às exigências dos poderes públicos e assegurar a “liberdade de mercado”. Coase contestou a eficácia das taxas de Pigou, porque geravam custos de negociação, ligados à intervenção do Estado. Segundo ele, a otimização econômica seria alcançada se as vítimas dos incêndios negociassem diretamente com a empresa ferroviária. Ele afirmava que, se uma firma possuísse as ferrovias e as zonas adjacentes, ela mesma resolveria o problema por um cálculo de otimização interna. Segundo o teorema de Coase, do ponto de vista econômico, a definição dos direitos não importa: é indiferente considerar se o proprietário dos campos ou das florestas possui o direito de não ser vítima de incêndios ou, inversamente, se a empresa ferroviária dispõe do direito de provocá-los.

Mas a partir de 1970, diante de uma poluição atmosférica persistente, o governo norte-americano decidiu fixar normas muito rigorosas sobre as emissões de poluentes e revisou, para essa finalidade, uma lei federal chamada de Clean Air Act. Dois anos mais tarde, o Clube de Roma, organização internacional que reúne cientistas, economistas, funcionários de governo e industriais, publicou um relatório intitulado “Os limites do crescimento”, que previa um futuro catastrófico se os humanos não considerassem rapidamente a dimensão ambiental. A hipótese de uma relação entre a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera e a mudança climática vinha à tona. Os debates sobre o efeito estufa tornavam-se cada vez mais presentes na sociedade.

Anos 90: força ideológica dos liberais inviabiliza imposto sobre emissões e favorece solução "de mercado"

Apesar dessa tomada de consciência, houve uma vitória ideológica dos liberais, no início dos anos 90. Diante de sua incapacidade para fazer respeitar o “Clean Air Act” nas zonas urbanas, e após diversos abrandamentos, o governo dos EUA decidiu criar um sistema de permutas de direitos de emissão. Esse sistema fez parte de um novo programa intitulado “Acid Rain”, que fixava objetivos de redução das emissões de dióxido de enxofre (SO2), responsável pelas chuvas ácidas. O dispositivo concedia às 110 instalações mais poluentes autorizações para emitir SO2, além de lhes permitir comercializar livremente esses direitos no mercado.

A aposta era que as melhoras ocorreriam prioritariamente onde os custos de investimento para realizá-las fossem menores. As autorizações suplementares geradas seriam vendidas às empresas exploradoras que emitissem acima do volume que lhes era atribuído. Pesadas multas foram previstas para punir uma firma que não apresentasse, no final do ano, uma equivalência de autorizações e de toneladas de SO2 lançadas na atmosfera.

Aparentemente, esse sistema respeitava as preconizações de Ronald Coase, deixando funcionar o jogo do mercado. E o “Acid Rain” conheceu verdadeiro sucesso: o objetivo previsto — redução de 40% nas emissões de SO2, em relação à situação de 1980 — foi alcançado e mesmo ultrapassado. Se examinarmos mais de perto, porém, não seria correto atribuir esse êxito ao mercado.

Em primeiro lugar, o fortalecimento da regulamentação, somado a um controle contínuo dos poluentes que saíam das chaminés, levou um bom número de empresas exploradoras a antecipar os trabalhos de adequação às normas. Além disso, a indústria do carvão desenvolveu produtos com baixo teor de enxofre, menos emissores de SO2, que se tornaram competitivos. Esses dois fenômenos explicavam em grande parte a forte baixa das emissões, com o comércio de autorizações no mercado intervindo apenas marginalmente [1]. Porém, os efeitos colaterais não eram desprezíveis. O poder calorífico inferior do novo carvão com menos enxofre o levava a ser consumido em maior quantidade, o que aumentava mecanicamente as emissões de um outro poluente: o dióxido de carbono! Mas os defensores da não-intervenção do Estado retiveram apenas isto: o mercado das cotas é eficaz — portanto, pode ser generalizado.

Kyoto reafirma a tendência. Estados distribuem "direitos de poluir", como se planeta fosse de quem o destrói

Criado em 1988 a pedido do G7, o Painel Intergovernamental para Mudança Climática (IPCC, em inglês) tentava alertar os governos sobre as conseqüências do aquecimento climático. Em 1992, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) era aberta à ratificação e receberia uma resposta favorável da quase totalidade dos Estados. Ela fixava como meta “estabilizar as concentrações de gás de efeito estufa na atmosfera”, mas sem indicar os meios para isso, nem objetivos precisos. Essa fase operacional teve prosseguimento num tratado, o Protocolo de Kyoto, cujas primeiras negociações começaram em dezembro de 1997. Como o sistema das Nações Unidas impõe a unanimidade, foi dura a batalha entre os países industrializados e os países em desenvolvimento. Seriam necessários cerca de quatro anos para chegar, em 10 de novembro de 2001, aos Acordos de Marrakesh — tradução jurídica do Protocolo de Kyoto.

A retirada dos Estados Unidos, após uma votação em que cerca de uma centena de senadores norte-americanos pronunciou-se contra a ratificação e nenhum a favor, fez com que a estimativa de redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) tivesse que ser recalculada, para apenas 40% do valor inicialmente estabelecido. Assim, o protocolo estabeleceu o compromisso de reduzir em 5,2%, até 2012, as emissões de GEE, em relação ao nível de 1990. Isso correspondia a uma redução anual de 2% nas emissões. Se acrescentarmos que, no momento em que se negociavam as modalidades de aplicação, as emissões já eram inferiores em 4,8% às de 1990 [2], a ambição real limitava-se a uma diminuição de 0,16% do volume anual de GEE lançado na atmosfera! Claro que esse número não figurou em parte alguma dos comunicados oficiais, porque pareceria ridículo comparado ao que se almejava.

Em contrapartida dessa minúscula concessão, o lobby dos maiores poluidores pôde obter mecanismos ditos “de flexibilidade”, dos quais planejava extrair o máximo de benefícios.

O primeiro é o famoso mercado de “licenças de emissões negociáveis” imposto pelos Estados Unidos, sob o pretexto de que sua experiência com o SO2 funcionou. Pouco importa que o território implicado não seja mais homogêneo, que o grosso das fontes emissoras sejam, sem termo de comparação, as centrais de carvão norte-americanas, ou ainda que o Protocolo de Kyoto não se apóie em nenhum quadro de regulamentação comum.

Cada Estado inscrito no Anexo B [3] definirá um plano de alocação de cotas que permita distribuir, como no início de uma partida de Banco Imobiliário, o volume de direitos de emitir CO2 a suas instalações mais poluentes [4]. Obviamente, os governos não se rebaixarão a fazer os industriais pagarem por essas cotas, o que poderia gerar receitas fiscais capazes de conduzir políticas públicas ambiciosas em favor do meio-ambiente. Trata-se realmente de “direitos de poluir”, essa gratuidade supondo que o meio-ambiente pertence, na falta de coisa melhor, aos que o agridem.

A União Européia vai além. Os "direitos" são negociados para entrega à vista ou no "mercado futuro"

Uma vez creditadas as contas-carbono, as empresas submetem-se a uma única obrigação: restituir, no fim do período de funcionamento, a equivalência das cotas e das toneladas de CO2 produzidas. Essa “restituição” tem a forma de uma simples operação contábil. Destinadas ao passivo das empresas, as emissões anuais devem ser equilibradas pelo volume de cotas inicialmente atribuído, acrescido das compras e subtraído das vendas.

A realização de projetos que evitem gases de efeito estufa (implantação de geradores eólicos, captação de metano em aterros sanitários, uso de combustíveis alternativos, desenvolvimento de áreas reflorestadas etc.) pode também permitir uma transferência de cotas entre signatários do protocolo. Trata-se da Implementação Conjunta (IC), no qual o país anfitrião cede uma parte de suas cotas aos investidores, proporcionalmente às emissões evitadas.

Mas os países em desenvolvimento, encabeçados pelo Brasil e interessados em atrair novos capitais externos, conseguiram que os Estados não inscritos no Anexo B pudessem igualmente acolher tais projetos. Nesse caso, já que o país anfitrião não tem compromisso em relação ao Protocolo de Kyoto, o volume anual de GEE evitado enseja a criação de novos créditos, batizados de URCE (unidades de redução certificada das emissões). No mercado mundial, essa operação equivale, portanto, a aumentar o volume de moeda-carbono. Como no caso da IC, os créditos URCE são atribuídos gratuitamente pelas Nações Unidas aos investidores, que poderão ou utilizá-los para cumprir seus compromissos (se estão envolvidos num plano de alocação), ou vendê-los no mercado, da mesma forma que uma cota alocada por um Estado. Essa idéia formidável leva o nome de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e permite não mais se preocupar com a escassez de cotas, cuja reserva pode ser ampliada à vontade.

Para preparar a fase de aplicação do dispositivo previsto no Protocolo de Kyoto referente ao período 2008-2012, a União Européia lançou, já em 2005, seu próprio mercado do carbono. Os dois primeiros anos de funcionamento são muito ricos de informações e revelam todos os riscos envolvidos na aplicação de receitas tão liberais.

O mercado europeu do carbono está calcado no funcionamento dos mercados financeiros. As permutas podem ser feitas tanto diretamente entre detentores de cotas (“amigavelmente”), como em praças financeiras organizadas (Bolsas de CO2) que permitem facilitar e assegurar as transações. Estas últimas se fazem ou à vista, ou “a termo” — isto é, numa data de entrega determinada com antecedência. Assim, é possível acompanhar a evolução de dois preços diferentes para o carbono: o preço da tonelada à vista (dito spot) e o preço da tonelada entregue em dezembro de 2008 (dita “Futura”).

China e Índia concentram 3/4 dos investimentos no Sul. A África é, de novo, marginalizada

Depois de ter oscilado entre 20 e 30 euros durante cerca de um ano, o preço spot desabou na primavera de 2006, com a publicação do primeiro balanço das emissões reais das empresas. Esses resultados mostraram a que ponto a atribuição de cotas pelos governos foi generosa, o que não é nada surpreendente, pois os planos basearam-se nas previsões das empresas industriais. Em setembro de 2007, o preço do CO2 tocava o fundo, a 0,05 euro por tonelada à vista, o que mal cobre os custos de negociação.

A lógica subjacente aos investimentos ligados ao efeito estufa é claramente de rentabilidade. Diversos fundos de carbono são criados para gerir as carteiras de cotas, em particular aqueles liberados através dos projetos MDL. O Banco Mundial é o principal gerenciador de ativos de carbono [5]. Na França, a Caisse des Dépôts et Consignation é ao mesmo tempo encarregada da aplicação do registro nacional de cotas e gerenciadora do fundo de carbono europeu, que ela teve o cuidado de colocar numa Sicav (sociedade de investimentos de capital variável) de Luxemburgo!

Não é necessário fazer longos cálculos para compreender por que a corrida aos projetos MDL está lançada. Levando em conta os níveis de equipamento e diferenças de custo de mão-de-obra, economizar uma tonelada de CO2 na Europa exige um investimento de 80 euros. Na China, a mesma tonelada evitada custa em média 3 euros [6]! Ninguém achará surpreendente que as empresas dos países desenvolvidos prefiram investir na China para criar atividades econômicas em GEE ou para modernizar as instalações existentes, em vez de reduzir suas próprias emissões. Além disso, sendo abundantes os fundos de carbono com o dinheiro público, os Estados têm a possibilidade de conceder ajudas disfarçadas às empresas, pois são elas que se beneficiarão, no final, com as novas cotas criadas.

Segundo alguns analistas, os projetos MDL deveriam gerar, daqui até 2012, um volume de novas cotas equivalente às emissões de GEE acumuladas de Canadá, França, Espanha e Suíça. Em 2006, mais de 40% do mercado mundial do carbono era constituído de URCE [7]. Uma parte delas, aliás, havia sido atribuída de maneira totalmente abusiva a projetos que não se justificam [8].

Os beneficiários continuam sendo os países mais atraentes para os investidores. Segundo o Banco Mundial, só a China e a Índia abarcavam 73% das URCE, e os projetos que elas acolhem contavam-se às centenas. O continente africano não tinha mais que uns trinta projetos e 80% dos créditos se concentravam em três países: África do Sul, Egito e Tunísia. Portanto, estamos muito longe das boas intenções difundidas pelas publicações oficiais, quando mencionam a proteção do meio ambiente, a transferência tecnológica ou a ajuda ao desenvolvimento sustentável.

Abre-se um mercado especulativo global, cujos riscos são cada vez mais evidentes

Para além do cinismo dos grandes grupos, o ambiente geral nos mercados ligados à mudança climática lembra o período de euforia vivido pelas novas tecnologias da informação. Uma verdadeira bolha especulativa se forma em torno dos procedimentos de economia em CO2 e geradores de cotas valorizáveis. A empresa francesa Areva batalhou vários meses com o grupo indiano Suzlon para adquirir a principal fabricante de geradores eólicos alemã, Repower, sem chegar ao que queria. No começo de abril de 2007, a empresa valorizava cem vezes seu faturamento em 2006, que ultrapassou os 12 milhões de euros. Para a filial ambiental da EDF (Électricité de France), a introdução do título em Bolsa teve um êxito que superou todas as expectativas. Em menos de uma hora e meia, a ação aumentava 20% e a cotação ao fim do dia se elevava a seis vezes a receita bruta. Em fevereiro de 2007, a companhia elétrica reforçava sua posição no mercado da energia renovável, adquirindo 66% do capital da Supra, especialista em aquecimento central a lenha.

Já o grupo Rhodia dedicou-se, nos últimos anos, a outro tipo de prática. Abalado por escândalos, beirava a falência em 2003. Sua direção decidiu apostar no carbono. Em novembro de 2005, anunciou a renovação de duas fábricas — uma na Coréia, outra no Brasil. Aplicando 14 milhões de euros em obras nessas fábricas, a Rhodia obteve cotas de CO2 (77 milhões de toneladas) valorizáveis até 200 milhões de euros ao ano! O título subiu 14% uma hora depois de lançado. O fundo de carbono em que serão colocados os títulos será gerido em parceria com o banco Société Générale.

Enquanto bancos como Lehman Brothers ou resseguradoras como Swiss-Re começam a incitar os investidores a se lançar no mercado financeiro do carbono [9], estamos apenas no início de um processo especulativo cujos perigos já saltam aos olhos.

No pós-2012, uma grande dúvida: manter o que não funcionou ou ousar medidas criativas e eficientes?

As negociações para o pós-2012 estão assumindo contornos inquietantes. Os participantes do protocolo parecem dispostos a numerosas concessões para obter, desta vez, a adesão dos Estados Unidos. Ora, a estratégia norte-americana poderia ser obter, em vez de objetivos absolutos de redução das emissões, compromissos não coercitivos, expressos em “intensidade de carbono”, que refletem o conteúdo em CO2 do "desenvolvimento". O referencial seria a quantidade de dióxido de carbono emitida por ponto de crescimento do PIB, o que levaria a colocar definitivamente as políticas de luta contra a mudança climática na prateleira dos objetos decorativos.

Resta pouco tempo para reagir e as "garantias" dadas por alguns ecologistas não favorecem a tomada de consciência. Quando Dominique Voynet, ex-ministra do meio ambiente da França, avalia que “a armadilha foi acreditar que as permutas de direitos de emissão constituíam um mecanismo liberal” [10], ou quando Alain Lipietz, deputado europeu verde, felicita-se com o sistema de licenças negociáveis [11], eles arriscam-se a justificar o injustificável.

Nenhuma solução eficaz pode realmente existir sem questionar os sistemas de produção e as regras do comércio internacional. Sem instituir, por exemplo, novos impostos de importação que levem em conta o conteúdo energético e carbônico dos produtos. Tal dispositivo não teria qualquer sentido protecionista: as receitas obtidas seriam utilizadas para pôr em prática projetos realmente sustentáveis nos países em desenvolvimento, confiando sua realização a empresas cujos capitais fossem majoritariamente provenientes do país anfitrião.

Essa taxa mista de carbono/energia deveria também se aplicar às atividades industriais internas. Nesse caso, metade das receitas poderia alimentar o orçamento do Estado e autorizar políticas públicas ambiciosas em matéria de meio ambiente. A outra seria colocada numa conta individualizada da empresa, reservada ao investimento em tecnologias destinadas a reduzir suas emissões. Condições ambientalmente eficazes para concessão de subsídios públicos deveriam completar o pacote. Em outros termos, para responder ao insucesso de Coase e aos desafios da crise ambiental, devemos reinventar Pigou.



[1] Olivier Godard, L’expérience américaine des permis négociables, revista do CEPII, n.º 82, 2000. Ver também a crônica econômica de Bernard Girard, Le marché des droits à polluer.

[2] Pierre Cornu, Courrier de la Planète / Cahiers de Global Chance, Paris, abril/junho de 2004.

[3] O Anexo B do protocolo estabelece a lista dos Estados implicados pelos compromissos de redução: trata-se unicamente dos membros da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE) e dos países do Leste Europeu “em transição para uma economia de mercado".

[4] Os gases de efeito estufa visados pelo Protocolo de Kyoto são seis: o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O), o hexafluoreto de enxofre (SF6), os hidrofluorcarbonetos (HFC), os hidrocarbonetos perfluorados ou perfluorcarbonetos (PFC). Uma conversão permite reduzir todas as emissões a “equivalentes em CO2”, já que o dióxido de carbono, sendo o principal responsável pelo efeito estufa, tornou-se a unidade de referência.

[5] No fim de julho de 2007, o Banco Mundial gerenciava onze fundos de carbono, num montante de 2,23 bilhões de dólares. A contribuição média dos governos é de aproximadamente 50%.

[6] Annie Vallée, Economie de l’environement, Paris, Points Economie, 2002.

[7] Banco Mundial, State and Trends of the Carbon Market 2007, maio de 2007. O número citado corresponde às permutas expressas em toneladas de CO2.

[8] Um relatório interno ao comitê de avaliação dos projetos MDL revela as grandes prodigalidades das auditorias privadas encarregadas de analisar o conteúdo dos dossiês apresentados pelos industriais. Ver a entrevista de Axel Michaelowa (7 de junho de 2007).

[9] O Lehman Brothers publicou, no início de 2007, um relatório intitulado O mercado da mudança climática, no qual faz um levantamento dos “desafios” e das “oportunidades” para as empresas. Ver também, rubrica Climate Change.

[10] Courrier de la Planète / Cahiers de Global Chance, abril/junho de 2004.

[11] Ver.

O vento de Yokohama

Por Daniel Ricci Araújo

Conta a lenda que isso ocorreu numa dessas noites medonhas, em dezembro de 2006. À espreita e sedenta, a besta-fera rondava e sorria.

Era uma madrugada de sábado para domingo. Deus havia mandado cair sob o Rio Grande uma penumbra que rivalizava com a escuridão mais distante do universo. Paralisou-se a luz e o tempo: na Porto Alegre quase sempre barulhenta e boemia, podia-se ouvir um alfinete cair no chão e o pensamento voar. O pampa anunciava uma treva tão profunda que a imensidão da planície fazia retorcer de vergonha o brilho das estrelas. Os mares da província, do Cassino a Torres, trocaram a vaga agitada de sempre por uma estranha quietude, como se pressentissem o que estava por vir. À noite, amiga da besta-fera, caía sobre nós.

De longe, jogada no sofá, a quinta estrela da camisa rubra me mandava acreditar piamente. Eu não conseguia. Mais perto, vendo meus olhos pesados, o pôster do Inter tricampeão invicto parecia sentir vergonha de mim. O passado e o presente colorados me oprimiam o peito, me incitavam o desejo, me desafiavam o orgulho. Não me davam o direito de temer. Mas eu hesitava: os detratores já comemoravam e anunciavam a vitória certa da besta-fera sulfúrea. A noite era escura. Havia silêncio. Eu tinha medo.

“Não contemplai os olhos noturnos”, dizia um poeta. Quem sabe o que é passar por uma noite dessas pode bater no peito e dizer “eu vivi”. No meio do vazio e do nada, o Barcelona era um ruído estridente que não saía da minha cabeça. Lúcifer, Satanás, Belzebu: a noite, com seus vários nomes, escarnecia da minha pretensão. Mas eu não me dava por vencido. Eu era Inter de cabo a rabo, de lado a lado, e queria crer no triunfo. Os cantos da fé me ajudavam a enfrentar a noite. “Nada vai nos separar”: voz da Guarda, voz de Deus.

A benção, Tesourinha. Esteja conosco, Figueroa. Zelai por mim, Librelato. Amparado nas glórias do passado, eu pedia pela vitória eterna que provaria nosso destino. A melodia da Popular fazia retumbar, no quarto escuro, todas as conjugações do verbo acreditar. A impotência dos times ruins, a espera quebrada da década de 90, as bolas que não entraram, os gols que eu não gritei e as derrotas que sofri, tudo pendia por um fio conforme os rumos da manhã que viria. Coragem, rapaz, coragem. A noite retrucava: silêncio, silêncio, silêncio. “Não contemplai os olhos noturnos”, dizia um poeta. Na imagem fresca da noite, a besta-fera azul-grená, camisa 10 às costas, sorria.

O silêncio continuava seu ritual maldito. Era inóspito, traiçoeiro, sepulcral. Mas cochichava. Amaldiçoava. Escarnecia. “É agora ou nunca”, sussurrava aos meus ouvidos a escuridão. “Só haverá uma vez”, eu ouvia minha voz. “Só haverá uma vez”, zombava o silêncio. Só haverá uma vez. Uma vez. Uma única vez. A quinta estrela da minha camisa rubra tinha vergonha de mim. Meu coração já reclamava. Queria deixar crescer uma tíbia e mansa coragem que fosse. Eu ainda tinha medo. Onde batesse um coração colorado, assim passaram-se as horas mais lentas de todas as horas do mundo.

Mas nenhum mal é tão ruim que sempre dure, e nenhuma noite é tão longa que não caia exausta perante o farol da manhã. Olhando para a frente, tal qual o raio de sol de Figueroa, vi surgir o primeiro traço da alvorada estampado na camisa vermelha. A noite divertia-se comigo e não queria ir embora, mas o dia a expulsava. O sol, espreguiçando-se, me encarava e, ainda contido, me dizia algo sem tradução conhecida. Eu queria entendê-lo, queria ouvi-lo, queria renascer com sua força para viver aquela manhã. “É agora ou nunca”, ainda me zombava a voz escondida da noite.

“Sócio patrimonial”. “Trinta dezenas de tijolos”. Já avançava a manhã, humilde e também silenciosa. Eu olhava aquele documento na parede e, por sua causa, meu avô estava ali comigo. Trezentos tijolos dele jaziam dentro do Gigante. No meu coração palpitava a mesma fé que fez meu avô e tantos outros construírem o templo às margens do Guaíba. Era o amor pelo Inter, que ultrapassava as décadas com a mansa sabedoria de um rio que sabe transcorrer seu leito. Era o meu sonho, o do meu pai, o dos meus filhos que ainda nem nasceram: “Gritar, a pleno pulmão, que o papai é que é o tal”. A Disparada já tocava mais alto e ensaiava criar, com o raiar do dia, o compasso e a partitura da esperança.

De Teté a Abel, de Bodinho a Fernandão, a descendência colorada agora me impelia à vida e ao combate da maior batalha de todas. O sol já expulsara por inteiro o negro horizonte daquela noite. A besta-fera se preparava. O relógio desgovernava-se ferozmente rumo ao eterno momento. Ali, de um instante para outro, como uma pomba do espírito santo, a grandeza do Internacional caía sobre a mesquinharia atroz da noite.

O sol brilhava, resplandecia. No último silêncio da manhã, o destino do Inter já circundava o mundo como se fosse o maior desígnio do Criador. Eu ouvia o campo da rua Arlindo e os Eucaliptos. Eu sentia o Beira-Rio. “Coragem, coragem, Daniel”, sussurrava meu avô. Eu ainda não sabia, mas estava pronto, sublimemente pronto para tudo. “Diante do fim da vida, não abro mão: quero bandeira do Inter no meu caixão”. Voz da Guarda? Voz de Deus. O sol cintilava com todas as luzes deste mundo e do outro, como se seu brilho servisse para iluminar a vista dos que, do céu, também se preparavam.

Então um vento distinto soprou, e aconteceu uma coisa maravilhosa: surgiu por todas as ruas, estradas e rincões essa força divina que anuncia a multidão colorada. Estava ali o povo escolhido, que tudo ocupa e tudo sustenta desde a aurora dos nossos primeiros tempos. Assustada, a noite despiu-se e morreu.

Desperta por um chamado secular, a massa vermelha tomava as ruas e adornava os semblantes com sua certeza ferrenha de ser feliz. Esse vento, que a embalava, circulava suave, tranqüilo, como se tivesse vida. Meu rosto o sentia e quase podia vê-lo, tocá-lo. Discreto, puro, inesquecível, aquilo era um vento parecido com o amor. Para mim, era o vento de Yokohama, fustigando quem ainda ousava duvidar do clube que nunca desiste.

Chegara o momento de toda uma vida. A besta-fera rugia. Reprimidos por uma escorchante distância, os corações reuniram-se, mesmo separados, sob a égide do destino a cumprir. No oriente profundo, onze camisetas brancas pareciam profetizar a vitória que viria: calem-se a noite e o silêncio, aqui está o Internacional. No átimo de um momento e pelo pé direito de Gabiru, afirmou-se perante a noite medonha a desforra do dia, e de todos os dias que vieram e ainda virão.

A alegria rompeu quinhões e esferas do céu e da Terra. Dizem até que o anjo Gabriel saiu para comunicar a notícia pelas abóbadas do paraíso. Calaram-se o inferno e o Diabo, e com eles a invejosa noite apodreceu, desfalecida pelo destino colorado. A besta-fera, surpresa e ferida, chorava. Ali estava o Internacional.

Por todas as ruas e caminhos, como nunca antes o mistério da torcida colorada pôde ser tão celebrado. Na caricatura do anonimato, no estrepitar da vitória a massa era una e interminável. Sua presença trazia a aura santa de uma dessas bondades litúrgicas, imprescindíveis. A massa se destacava como se fosse a pedra vital, a estrela de Belém, a primeira seiva da vida que faz crescerem as árvores e viverem os animais. “Abram alas pro povão, este é o Internacional”. Voltava aos meus ouvidos a voz profética da Disparada. A besta-fera silenciava.

Pintada de vermelho, a Terra cedeu. Periclitou. O solo foi o primeiro a sentir os pés, mãos e joelhos que o tocavam em agradecimento. O símbolo vermelho e branco das três letras pairou pelo globo como a crescente do Islã, a estrela de David e a cruz da cristandade. Todas as felicidades humanas sentiram-se menores perante o invencível estandarte alvi-rubro.

Tudo se pôde ver às claras: o silêncio do mar abalou-se com o grito profundo que ecoou por todas as querências do mundo, bastava que houvesse ali um colorado. O céu abriu-se como nunca e do ponto mais alto podia-se ver todos os braços, e todas as pernas, e todos os filhos, e pais, e mães, e irmãos, e vivos e mortos a aplaudir e se emocionar com o momento que ali iniciara e nunca terminará. Na nuvem mais distante do firmamento, meu avô e todos os outros avôs compartilhavam lágrimas que cairiam sobre nós com a chuva da madrugada. A comunhão estava completa, perfeita. Todas as gerações, presentes ou não, sentiam o enorme peso do mesmo amor. Assim como tantas vezes antes, a grandeza do Inter nos fizera atravessar a noite.

Ah, herança do Inter, história eterna do Inter! Abençoados são aqueles que te conhecem. Envergonhado, retorcido pela claridade do dia, o silêncio se rendera. A tristeza acabara e todas as bestas-feras da nossa história haviam sido derrotadas pelo tombo de uma só. Fazia um calor escaldante. Não havia mais dúvidas e eu já não tinha mais medo. Abençoado pelo vento de Yokohama, o dia nascera feliz.

E o Inter era campeão mundial.

Louis Armstrong - Hot Fives and Sevens

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Louis Armstrong - Hot Fives and Sevens @ 320 - vol. 1

01. My Heart.mp3
02. Yes! I'm in the Barrel.mp3
03. Gut Bucket Blues.mp3
04. Come Back, Sweet Papa.mp3
05. Georgia Grind.mp3
06. Heebie Jeebies.mp3
07. Cornet Chop Suey.mp3
08. Oriental Strut.mp3
09. You're Next.mp3
10. Muskrat Ramble.mp3
11. Don't Forget to Mess Around.mp3
12. I'm Gonna Gitcha.mp3
13. Dropping Shucks.mp3
14. Who' sit.mp3
15. He Likes It Slow.mp3
16. The King of the Zulus.mp3
17. Big Fat Ma and Skinny Pa.mp3
18. Lonesome Blues.mp3
19. Sweet Little Papa.mp3
20. Jazz Lips.mp3
21. Skid-Dat-De-Dat.mp3
22. Big Butter and Egg Man from the West.mp3
23. Sunset Cafe Stomp.mp3
24. You Made Me Love You.mp3
25. Irish Black Bottom.mp3

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Louis Armstrong - Hot Fives and Sevens @ 320 - vol. 2

01. Willie the Weeper.mp3
02. Wild Man Blues.mp3
03. Chicago Breakdown.mp3
04. Alligator Crawl.mp3
05. Potato Head Blues.mp3
06. Melancholy Blues.mp3
07. Weary Blues.mp3
08. Twelfth Street Rag.mp3
09. Keyhole Blues.mp3
10. S.O.L. Blues.mp3
11. Guilty Low Blues.mp3
12. That's When I'll Come Back To You.mp3
13. Put 'Em Down Blues.mp3
14. Ory's Creole Trombone.mp3
15. The Last Time.mp3
16. Struttin' With Some Barbecue.mp3
17. Got No Blues.mp3
18. Once in A While.mp3
19. I'm Not Rough.mp3
20. Hotter Than That.mp3
21. Savoy Blues.mp3

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Louis Armstrong - Hot Fives and Sevens @ 320 - vol. 3

01. Fireworks.mp3
02. Skip The Gutter.mp3
03. A Monday Date.mp3
04. Don't Jive Me.mp3
05. West End Blues.mp3
06. Sugar Foot Strut.mp3
07. Two Deuces.mp3
08. Squeeze Me.mp3
09. Knee Drops.mp3
10. Symphonic Raps.mp3
11. Savoyagers' Stomp.mp3
12. No (No, Papa, No).mp3
13. Basin Street Blues.mp3
14. No-One Else But You.mp3
15. Beau Koo Jack.mp3
16. Save It, Pretty Mama.mp3
17. Weather Bird.mp3
18. Muggles.mp3
19. Heah Me Talkin' To Ya.mp3
20. St. James Infirmary.mp3
21. Tight Like This.mp3
22. Knockin' A Jug.mp3

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Louis Armstrong - Hot Fives and Sevens @ 320 - vol. 4

01. I Can't Give You Anything but Love.mp3
02. Mahogany Hall Stomp.mp3
03. Ain't Misbehavin'.mp3
04. (What Did I Do To Be So) Black And Blue.mp3
05. That Rhythm Man.mp3
06. Sweet Savannah Sue.mp3
07. Some Of These Days.mp3
08. Some of These Days.mp3
09. When You're Smiling.mp3
10. When You're Smiling.mp3
11. After You've Gone.mp3
12. I Ain't Got Nobody.mp3
13. Dallas Blues.mp3
14. St. Louis Blues.mp3
15. Rockin' Chair.mp3
16. Song Of The Islands.mp3
17. Bessie Couldn't Help It.mp3
18. Blue, Turning Grey Over You.mp3
19. Dear Old Southland.mp3
20. Rockin' Chair.mp3
21. I Can't Give You Anything But Love.mp3

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Frédéric Chopin - Piano Sonatas

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EMIL GILELS
SERGIO FIORENTINO
FRED OLDENBURG


SONATE POUR PIANO NO. 2 ''Marche Funèbre'' IN B FLAT MINOR OP. 35

1. GRAVE-DOPPIO MOVIMENTO 5’35
2. SCHERZO 6’38
3. MARCHE FUNEBRE 9’30
4. PRESTO 1’13

SONATE POUR PIANO NO.3 IN B MINOR OP. 58

5. ALLEGRO MAESTOSO 9’31
6. SCHERZO, MOLTO VIVACE 2’26
7. LARGO 10’25
8. FINALE, PRESTO NON TANTO 5’05

SONATE POUR PIANO NO. 1 IN C MINOR OP. 4

9. ALLEGRO MAESTOSO 6’38
10.MENUETTO 4’44
11.LARGHETTO 3’38
12.FINALE 7’02

3 ÉCOSSAISES OP. 72/3

13.IN D MAJOR 0’58
14.IN G MAJOR 0’43
15.IN D FLAT MAJOR 0’43

MINUTAGE TOTAL: 74’49

Enregistré :

EMIL GILELS : Sonate n° 2, Moscou, 1949
SERGIO FIORENTINO : 1994 Siemensvilla Berlin;
FRED OLDENBURG (Sonate No 1, Ecossaises ) : 1998 Muziekcentrum Frits Philips

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MP3 173 MB

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terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Charlie Parker & Dizzy Gillespie

Dizzy Gillespie - trumpet battle 1958

EL CID



Gênero: Épico
Tempo de Duração: 184 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 1961
Direção: Anthony Mann
Roteiro: Philip Yordan, Fredric M. Frank e Ben Barzman
Produção: Samuel Bronston
Música: Miklós Rózca
Direção de Fotografia: Robert Krasker
Desenho de Produção: Veniero Colasanti e John Moore
Figurino: Veniero Colasanti e John Moore
Edição: Robert Lawrence
Áudio: Inglês
RMVB Legendado
Cor

Créditos:RapaduraAzucarada - Stirner



Elenco:
Charlton Heston (El Cid)
Sophia Loren (Jimena)
Raf Vallone (Conde Ordóñez)
Geneviève Page (Princesa Urraca)
John Fraser (Príncipe Alfonso)
Gary Raymond (Príncipe Sancho)
Hurd Hatfield (Arias)
Massimo Serato (Fanez)
Frank Thring (Al Kadir)
Michael Hordern (Don Diego)
Andrew Cruickshank (Conde Gormaz)
Douglas Wilmer (Moutamin)
Tullio Carminatti (Padre)
Ralph Truman (Rei Ferdinand)
Christopher Rhodes (Don Martín)
Carlo Giustini (Bermúdez)
Gérard Tichy (Rei Ramírez)
Herbert Lom (Emir Ben Yussuf)



Sinopse:
A trajetória de Rodrigo Diaz de Bivar, mais conhecido como El Cid (Charlton Heston), herói espanhol do século XI que uniu os católicos e os mouros do seu país para lutar contra um inimigo comum: o emir Ben Yussuf (Herbert Lom). Esta longa jornada começou quando Rodrigo, um súdito do rei Ferdinand de Castella, Leão e Astúrias (Ralph Truman), liberta cinco emires que eram prisioneiros dele e por causa deste ato é acusado de traição. Don Ordóñez (Raf Vallone) o acusa inicialmente, mas na corte é o Conde Gormaz de Oviedo (Andrew Cruickshank) quem acusa duramente Rodrigo e humilha Don Diego (Michael Hordern), o pai de Rodrigo. Estes acontecimentos acabam provocando um duelo de Rodrigo com o Conde Gormaz, o campeão do rei. Rodrigo o mata, mas acontece que Gormaz também era pai de Jimena (Sophia Loren), a mulher que Rodrigo amava e com quem ele pensava em se casar. Mas, em virtude do acontecido, ela passa então a odiar (ou pensa, que odeia) Rodrigo, seu antigo amor. Aproveitando este momento conturbado Ramiro, rei de Aragão, exige a posse da cidade de Calahorra e sugere que ela seja disputada entre os paladinos de cada reino em uma luta até a morte. Então Rodrigo se apresenta para duelar pelo seu rei, pois ele tinha matado Gormaz, o antigo paladino, e se Rodrigo vencesse o combate contra Don Martin (Christopher Rhodes), que já tinha matado vinte e sete homens em combates corporais, seria perdoado pelo rei.

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