quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

O vento de Yokohama

Por Daniel Ricci Araújo

Conta a lenda que isso ocorreu numa dessas noites medonhas, em dezembro de 2006. À espreita e sedenta, a besta-fera rondava e sorria.

Era uma madrugada de sábado para domingo. Deus havia mandado cair sob o Rio Grande uma penumbra que rivalizava com a escuridão mais distante do universo. Paralisou-se a luz e o tempo: na Porto Alegre quase sempre barulhenta e boemia, podia-se ouvir um alfinete cair no chão e o pensamento voar. O pampa anunciava uma treva tão profunda que a imensidão da planície fazia retorcer de vergonha o brilho das estrelas. Os mares da província, do Cassino a Torres, trocaram a vaga agitada de sempre por uma estranha quietude, como se pressentissem o que estava por vir. À noite, amiga da besta-fera, caía sobre nós.

De longe, jogada no sofá, a quinta estrela da camisa rubra me mandava acreditar piamente. Eu não conseguia. Mais perto, vendo meus olhos pesados, o pôster do Inter tricampeão invicto parecia sentir vergonha de mim. O passado e o presente colorados me oprimiam o peito, me incitavam o desejo, me desafiavam o orgulho. Não me davam o direito de temer. Mas eu hesitava: os detratores já comemoravam e anunciavam a vitória certa da besta-fera sulfúrea. A noite era escura. Havia silêncio. Eu tinha medo.

“Não contemplai os olhos noturnos”, dizia um poeta. Quem sabe o que é passar por uma noite dessas pode bater no peito e dizer “eu vivi”. No meio do vazio e do nada, o Barcelona era um ruído estridente que não saía da minha cabeça. Lúcifer, Satanás, Belzebu: a noite, com seus vários nomes, escarnecia da minha pretensão. Mas eu não me dava por vencido. Eu era Inter de cabo a rabo, de lado a lado, e queria crer no triunfo. Os cantos da fé me ajudavam a enfrentar a noite. “Nada vai nos separar”: voz da Guarda, voz de Deus.

A benção, Tesourinha. Esteja conosco, Figueroa. Zelai por mim, Librelato. Amparado nas glórias do passado, eu pedia pela vitória eterna que provaria nosso destino. A melodia da Popular fazia retumbar, no quarto escuro, todas as conjugações do verbo acreditar. A impotência dos times ruins, a espera quebrada da década de 90, as bolas que não entraram, os gols que eu não gritei e as derrotas que sofri, tudo pendia por um fio conforme os rumos da manhã que viria. Coragem, rapaz, coragem. A noite retrucava: silêncio, silêncio, silêncio. “Não contemplai os olhos noturnos”, dizia um poeta. Na imagem fresca da noite, a besta-fera azul-grená, camisa 10 às costas, sorria.

O silêncio continuava seu ritual maldito. Era inóspito, traiçoeiro, sepulcral. Mas cochichava. Amaldiçoava. Escarnecia. “É agora ou nunca”, sussurrava aos meus ouvidos a escuridão. “Só haverá uma vez”, eu ouvia minha voz. “Só haverá uma vez”, zombava o silêncio. Só haverá uma vez. Uma vez. Uma única vez. A quinta estrela da minha camisa rubra tinha vergonha de mim. Meu coração já reclamava. Queria deixar crescer uma tíbia e mansa coragem que fosse. Eu ainda tinha medo. Onde batesse um coração colorado, assim passaram-se as horas mais lentas de todas as horas do mundo.

Mas nenhum mal é tão ruim que sempre dure, e nenhuma noite é tão longa que não caia exausta perante o farol da manhã. Olhando para a frente, tal qual o raio de sol de Figueroa, vi surgir o primeiro traço da alvorada estampado na camisa vermelha. A noite divertia-se comigo e não queria ir embora, mas o dia a expulsava. O sol, espreguiçando-se, me encarava e, ainda contido, me dizia algo sem tradução conhecida. Eu queria entendê-lo, queria ouvi-lo, queria renascer com sua força para viver aquela manhã. “É agora ou nunca”, ainda me zombava a voz escondida da noite.

“Sócio patrimonial”. “Trinta dezenas de tijolos”. Já avançava a manhã, humilde e também silenciosa. Eu olhava aquele documento na parede e, por sua causa, meu avô estava ali comigo. Trezentos tijolos dele jaziam dentro do Gigante. No meu coração palpitava a mesma fé que fez meu avô e tantos outros construírem o templo às margens do Guaíba. Era o amor pelo Inter, que ultrapassava as décadas com a mansa sabedoria de um rio que sabe transcorrer seu leito. Era o meu sonho, o do meu pai, o dos meus filhos que ainda nem nasceram: “Gritar, a pleno pulmão, que o papai é que é o tal”. A Disparada já tocava mais alto e ensaiava criar, com o raiar do dia, o compasso e a partitura da esperança.

De Teté a Abel, de Bodinho a Fernandão, a descendência colorada agora me impelia à vida e ao combate da maior batalha de todas. O sol já expulsara por inteiro o negro horizonte daquela noite. A besta-fera se preparava. O relógio desgovernava-se ferozmente rumo ao eterno momento. Ali, de um instante para outro, como uma pomba do espírito santo, a grandeza do Internacional caía sobre a mesquinharia atroz da noite.

O sol brilhava, resplandecia. No último silêncio da manhã, o destino do Inter já circundava o mundo como se fosse o maior desígnio do Criador. Eu ouvia o campo da rua Arlindo e os Eucaliptos. Eu sentia o Beira-Rio. “Coragem, coragem, Daniel”, sussurrava meu avô. Eu ainda não sabia, mas estava pronto, sublimemente pronto para tudo. “Diante do fim da vida, não abro mão: quero bandeira do Inter no meu caixão”. Voz da Guarda? Voz de Deus. O sol cintilava com todas as luzes deste mundo e do outro, como se seu brilho servisse para iluminar a vista dos que, do céu, também se preparavam.

Então um vento distinto soprou, e aconteceu uma coisa maravilhosa: surgiu por todas as ruas, estradas e rincões essa força divina que anuncia a multidão colorada. Estava ali o povo escolhido, que tudo ocupa e tudo sustenta desde a aurora dos nossos primeiros tempos. Assustada, a noite despiu-se e morreu.

Desperta por um chamado secular, a massa vermelha tomava as ruas e adornava os semblantes com sua certeza ferrenha de ser feliz. Esse vento, que a embalava, circulava suave, tranqüilo, como se tivesse vida. Meu rosto o sentia e quase podia vê-lo, tocá-lo. Discreto, puro, inesquecível, aquilo era um vento parecido com o amor. Para mim, era o vento de Yokohama, fustigando quem ainda ousava duvidar do clube que nunca desiste.

Chegara o momento de toda uma vida. A besta-fera rugia. Reprimidos por uma escorchante distância, os corações reuniram-se, mesmo separados, sob a égide do destino a cumprir. No oriente profundo, onze camisetas brancas pareciam profetizar a vitória que viria: calem-se a noite e o silêncio, aqui está o Internacional. No átimo de um momento e pelo pé direito de Gabiru, afirmou-se perante a noite medonha a desforra do dia, e de todos os dias que vieram e ainda virão.

A alegria rompeu quinhões e esferas do céu e da Terra. Dizem até que o anjo Gabriel saiu para comunicar a notícia pelas abóbadas do paraíso. Calaram-se o inferno e o Diabo, e com eles a invejosa noite apodreceu, desfalecida pelo destino colorado. A besta-fera, surpresa e ferida, chorava. Ali estava o Internacional.

Por todas as ruas e caminhos, como nunca antes o mistério da torcida colorada pôde ser tão celebrado. Na caricatura do anonimato, no estrepitar da vitória a massa era una e interminável. Sua presença trazia a aura santa de uma dessas bondades litúrgicas, imprescindíveis. A massa se destacava como se fosse a pedra vital, a estrela de Belém, a primeira seiva da vida que faz crescerem as árvores e viverem os animais. “Abram alas pro povão, este é o Internacional”. Voltava aos meus ouvidos a voz profética da Disparada. A besta-fera silenciava.

Pintada de vermelho, a Terra cedeu. Periclitou. O solo foi o primeiro a sentir os pés, mãos e joelhos que o tocavam em agradecimento. O símbolo vermelho e branco das três letras pairou pelo globo como a crescente do Islã, a estrela de David e a cruz da cristandade. Todas as felicidades humanas sentiram-se menores perante o invencível estandarte alvi-rubro.

Tudo se pôde ver às claras: o silêncio do mar abalou-se com o grito profundo que ecoou por todas as querências do mundo, bastava que houvesse ali um colorado. O céu abriu-se como nunca e do ponto mais alto podia-se ver todos os braços, e todas as pernas, e todos os filhos, e pais, e mães, e irmãos, e vivos e mortos a aplaudir e se emocionar com o momento que ali iniciara e nunca terminará. Na nuvem mais distante do firmamento, meu avô e todos os outros avôs compartilhavam lágrimas que cairiam sobre nós com a chuva da madrugada. A comunhão estava completa, perfeita. Todas as gerações, presentes ou não, sentiam o enorme peso do mesmo amor. Assim como tantas vezes antes, a grandeza do Inter nos fizera atravessar a noite.

Ah, herança do Inter, história eterna do Inter! Abençoados são aqueles que te conhecem. Envergonhado, retorcido pela claridade do dia, o silêncio se rendera. A tristeza acabara e todas as bestas-feras da nossa história haviam sido derrotadas pelo tombo de uma só. Fazia um calor escaldante. Não havia mais dúvidas e eu já não tinha mais medo. Abençoado pelo vento de Yokohama, o dia nascera feliz.

E o Inter era campeão mundial.

Louis Armstrong - Hot Fives and Sevens

http://img178.imageshack.us/img178/6053/rectolr6.jpg


Louis Armstrong - Hot Fives and Sevens @ 320 - vol. 1

01. My Heart.mp3
02. Yes! I'm in the Barrel.mp3
03. Gut Bucket Blues.mp3
04. Come Back, Sweet Papa.mp3
05. Georgia Grind.mp3
06. Heebie Jeebies.mp3
07. Cornet Chop Suey.mp3
08. Oriental Strut.mp3
09. You're Next.mp3
10. Muskrat Ramble.mp3
11. Don't Forget to Mess Around.mp3
12. I'm Gonna Gitcha.mp3
13. Dropping Shucks.mp3
14. Who' sit.mp3
15. He Likes It Slow.mp3
16. The King of the Zulus.mp3
17. Big Fat Ma and Skinny Pa.mp3
18. Lonesome Blues.mp3
19. Sweet Little Papa.mp3
20. Jazz Lips.mp3
21. Skid-Dat-De-Dat.mp3
22. Big Butter and Egg Man from the West.mp3
23. Sunset Cafe Stomp.mp3
24. You Made Me Love You.mp3
25. Irish Black Bottom.mp3

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Louis Armstrong - Hot Fives and Sevens @ 320 - vol. 2

01. Willie the Weeper.mp3
02. Wild Man Blues.mp3
03. Chicago Breakdown.mp3
04. Alligator Crawl.mp3
05. Potato Head Blues.mp3
06. Melancholy Blues.mp3
07. Weary Blues.mp3
08. Twelfth Street Rag.mp3
09. Keyhole Blues.mp3
10. S.O.L. Blues.mp3
11. Guilty Low Blues.mp3
12. That's When I'll Come Back To You.mp3
13. Put 'Em Down Blues.mp3
14. Ory's Creole Trombone.mp3
15. The Last Time.mp3
16. Struttin' With Some Barbecue.mp3
17. Got No Blues.mp3
18. Once in A While.mp3
19. I'm Not Rough.mp3
20. Hotter Than That.mp3
21. Savoy Blues.mp3

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Louis Armstrong - Hot Fives and Sevens @ 320 - vol. 3

01. Fireworks.mp3
02. Skip The Gutter.mp3
03. A Monday Date.mp3
04. Don't Jive Me.mp3
05. West End Blues.mp3
06. Sugar Foot Strut.mp3
07. Two Deuces.mp3
08. Squeeze Me.mp3
09. Knee Drops.mp3
10. Symphonic Raps.mp3
11. Savoyagers' Stomp.mp3
12. No (No, Papa, No).mp3
13. Basin Street Blues.mp3
14. No-One Else But You.mp3
15. Beau Koo Jack.mp3
16. Save It, Pretty Mama.mp3
17. Weather Bird.mp3
18. Muggles.mp3
19. Heah Me Talkin' To Ya.mp3
20. St. James Infirmary.mp3
21. Tight Like This.mp3
22. Knockin' A Jug.mp3

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Louis Armstrong - Hot Fives and Sevens @ 320 - vol. 4

01. I Can't Give You Anything but Love.mp3
02. Mahogany Hall Stomp.mp3
03. Ain't Misbehavin'.mp3
04. (What Did I Do To Be So) Black And Blue.mp3
05. That Rhythm Man.mp3
06. Sweet Savannah Sue.mp3
07. Some Of These Days.mp3
08. Some of These Days.mp3
09. When You're Smiling.mp3
10. When You're Smiling.mp3
11. After You've Gone.mp3
12. I Ain't Got Nobody.mp3
13. Dallas Blues.mp3
14. St. Louis Blues.mp3
15. Rockin' Chair.mp3
16. Song Of The Islands.mp3
17. Bessie Couldn't Help It.mp3
18. Blue, Turning Grey Over You.mp3
19. Dear Old Southland.mp3
20. Rockin' Chair.mp3
21. I Can't Give You Anything But Love.mp3

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Frédéric Chopin - Piano Sonatas

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EMIL GILELS
SERGIO FIORENTINO
FRED OLDENBURG


SONATE POUR PIANO NO. 2 ''Marche Funèbre'' IN B FLAT MINOR OP. 35

1. GRAVE-DOPPIO MOVIMENTO 5’35
2. SCHERZO 6’38
3. MARCHE FUNEBRE 9’30
4. PRESTO 1’13

SONATE POUR PIANO NO.3 IN B MINOR OP. 58

5. ALLEGRO MAESTOSO 9’31
6. SCHERZO, MOLTO VIVACE 2’26
7. LARGO 10’25
8. FINALE, PRESTO NON TANTO 5’05

SONATE POUR PIANO NO. 1 IN C MINOR OP. 4

9. ALLEGRO MAESTOSO 6’38
10.MENUETTO 4’44
11.LARGHETTO 3’38
12.FINALE 7’02

3 ÉCOSSAISES OP. 72/3

13.IN D MAJOR 0’58
14.IN G MAJOR 0’43
15.IN D FLAT MAJOR 0’43

MINUTAGE TOTAL: 74’49

Enregistré :

EMIL GILELS : Sonate n° 2, Moscou, 1949
SERGIO FIORENTINO : 1994 Siemensvilla Berlin;
FRED OLDENBURG (Sonate No 1, Ecossaises ) : 1998 Muziekcentrum Frits Philips

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MP3 173 MB

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APE 225 MB

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terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Charlie Parker & Dizzy Gillespie

Dizzy Gillespie - trumpet battle 1958

EL CID



Gênero: Épico
Tempo de Duração: 184 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 1961
Direção: Anthony Mann
Roteiro: Philip Yordan, Fredric M. Frank e Ben Barzman
Produção: Samuel Bronston
Música: Miklós Rózca
Direção de Fotografia: Robert Krasker
Desenho de Produção: Veniero Colasanti e John Moore
Figurino: Veniero Colasanti e John Moore
Edição: Robert Lawrence
Áudio: Inglês
RMVB Legendado
Cor

Créditos:RapaduraAzucarada - Stirner



Elenco:
Charlton Heston (El Cid)
Sophia Loren (Jimena)
Raf Vallone (Conde Ordóñez)
Geneviève Page (Princesa Urraca)
John Fraser (Príncipe Alfonso)
Gary Raymond (Príncipe Sancho)
Hurd Hatfield (Arias)
Massimo Serato (Fanez)
Frank Thring (Al Kadir)
Michael Hordern (Don Diego)
Andrew Cruickshank (Conde Gormaz)
Douglas Wilmer (Moutamin)
Tullio Carminatti (Padre)
Ralph Truman (Rei Ferdinand)
Christopher Rhodes (Don Martín)
Carlo Giustini (Bermúdez)
Gérard Tichy (Rei Ramírez)
Herbert Lom (Emir Ben Yussuf)



Sinopse:
A trajetória de Rodrigo Diaz de Bivar, mais conhecido como El Cid (Charlton Heston), herói espanhol do século XI que uniu os católicos e os mouros do seu país para lutar contra um inimigo comum: o emir Ben Yussuf (Herbert Lom). Esta longa jornada começou quando Rodrigo, um súdito do rei Ferdinand de Castella, Leão e Astúrias (Ralph Truman), liberta cinco emires que eram prisioneiros dele e por causa deste ato é acusado de traição. Don Ordóñez (Raf Vallone) o acusa inicialmente, mas na corte é o Conde Gormaz de Oviedo (Andrew Cruickshank) quem acusa duramente Rodrigo e humilha Don Diego (Michael Hordern), o pai de Rodrigo. Estes acontecimentos acabam provocando um duelo de Rodrigo com o Conde Gormaz, o campeão do rei. Rodrigo o mata, mas acontece que Gormaz também era pai de Jimena (Sophia Loren), a mulher que Rodrigo amava e com quem ele pensava em se casar. Mas, em virtude do acontecido, ela passa então a odiar (ou pensa, que odeia) Rodrigo, seu antigo amor. Aproveitando este momento conturbado Ramiro, rei de Aragão, exige a posse da cidade de Calahorra e sugere que ela seja disputada entre os paladinos de cada reino em uma luta até a morte. Então Rodrigo se apresenta para duelar pelo seu rei, pois ele tinha matado Gormaz, o antigo paladino, e se Rodrigo vencesse o combate contra Don Martin (Christopher Rhodes), que já tinha matado vinte e sete homens em combates corporais, seria perdoado pelo rei.

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Quem construiu a Tebas de sete portas?



Mas o que via o operário

O patrão nunca veria

O operário via casas

E dentro das estruturas

Via coisas, objetos

Produtos, manufaturas.

Via tudo que fazia

O lucro do seu patrão

E em cada coisa que via

Misteriosamente havia

A marca da sua mão.

E o operário disse: não!

Vinícius de Moraes (trecho do poema O operário em construção)

Adriana Facina


Hoje me recuso a ser pautada pela mídia gorda. Hoje quero dar um tempo nas leituras das Vejas e Épocas, não quero fazer referência a nada que vi na TV Globo, nem mesmo ao aberrante programa do Jô Soares em que ele vomita preconceitos raciais e de gênero ao comentar a vida sexual das mulheres angolanas. Hoje quero falar de um tipo de gente invisível para esses veículos de desinformação, mas que fazem verdadeiramente esse país no que ele tem de melhor. Tipo de gente que é a maioria do povo brasileiro.


Num bar popular em Fortaleza, ouvindo música brega e bebendo cerveja com amigos, conheci seu Benedito, Bené para os mais chegados. Única mulher no ambiente masculino, no meio de comentários sobre o resultado do jogo do Fortaleza e sobre o DVD pirata de um suposto filme pornô estrelado por Juliana Paes, puxei conversa com o senhor sorridente que bebia tranqüilamente sua cachacinha.


Seu Bené é negro. Seus 55 anos são somados a uma vida sofrida que lhe confere uma aparência de mais idade. Hoje seu Bené está desempregado. Como ele mesmo diz: “quem vai dar emprego para velho?”. Vive fazendo pequenos favores para a vizinhança, que em troca lhe dá comida e apoio. Sua moradia é a calçada do bar ou do Lava-jato em frente.


Quando jovem, seu Bené foi para o Sudeste, como tantos nordestinos, atraído pelas promessas do “milagre brasileiro” produzido pela ditadura civil-militar. “Milagre” que combinava crescimento econômico, superexploração da classe trabalhadora e repressão brutal. Uma das expressões do “milagre” foram as obras faraônicas, importantes para propagandear o Brasil grande e para levar a cifras astronômicas as verbas destinadas às empreiteiras que se locupletavam com dinheiro público. Seu Bené trabalhou em duas delas: a construção da Rodovia do Aço e a Ponte Rio-Niterói. Nesta última escapou da morte por pouco, pois faltou ao trabalho no dia em que um acidente levou a vida de oito companheiros de sua equipe.


Findo o “milagre” artificialmente produzido, depois de muitas dificuldades em arrumar emprego, resolveu voltar ao Ceará. Não tinha dinheiro para a passagem e foi literalmente a pé até Mossoró, Rio Grande do Norte, onde conseguiu sua primeira carona. Seu Bené buscava no seu estado natal o apoio de um tipo de solidariedade que, para os nordestinos, é raro de encontrar na cidade grande. “Em Fortaleza pelo menos não queimam índios nas ruas e ninguém me deixa passar necessidade”.


Seu Bené casou, mas disse que foi porque a mulher ficou grávida, pois, espírito aventureiro, não queria “se amarrar”. O casamento terminou, ficaram duas filhas que estão hoje “encaminhadas na vida”. A mais velha é enfermeira chefe de um hospital de Fortaleza e a segunda prestará vestibular este ano para Direito. Com lágrimas nos olhos, seu Bené disse que se afastou das meninas, pois se não tinha condições de ajudá-las, também não queria atrapalhar as suas vidas e se tornar um peso para a família.


Perguntei ao seu Bené se ele, que tanto tinha trabalhado, recebia aposentadoria e ele respondeu que não. Trabalhou sem carteira assinada boa parte de sua vida e agora tinha de esperar ter 60 anos para tentar uma aposentadoria por idade. Mas não tinha muita esperança de conseguir.


Chegada a hora de ir embora, seu Bené se despediu de mim dizendo que tinha gostado muito de conversar comigo. Elogiou meu português correto e disse que sentia falta de conversar com quem falava assim e podia compreender o contexto histórico de sua trajetória de vida, entendendo o seu sentido. Orgulhoso de sua formação, seu Bené volta e meia afirmava que tinha profissão. Esse mesmo trabalho que, organizado sob a lógica da expropriação capitalista, era fonte de sofrimento, também marcava uma identidade positiva enquanto atividade autocriadora.


Fui para casa pensando como as políticas de extermínio que hoje são assumidas oficialmente pelo governo do meu estado são, na verdade, a face mais explícita de um sistema que é cruel por natureza. O capitalismo é contra a vida humana, animaliza os seres humanos ao condená-los a trabalhar para garantir sua sobrevivência imediata e não para a sua autoemancipação. O brilho que encontrei nos olhos de seu Bené enquanto ele me narrava sua vida é expressão de potencialidade criativa, de energia transformadora, de desejo de felicidade e beleza. A força desse brilho vem da certeza de poder construir o mundo com suas próprias mãos. No entanto, seus limites são impostos por um modo de produção que torna o trabalho escravidão e fonte de sofrimento, estranho ao próprio trabalhador.


Gilmar Mauro, uma das lideranças mais importantes do MST, numa belíssima fala na I Conferência Vozes de Nossa América, realizada recentemente na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, contou sobre seus sentimentos contraditórios quando passava pela avenida Paulista. Se, por um lado, sentia um grande desespero ao ver naquelas construções a materialização da força do capital, por outro, se enchia de esperança ao perceber que tudo aquilo tinha sido erguido pela mão da classe trabalhadora. E, se a classe trabalhadora foi capaz de construir tudo aquilo, ela também seria capaz de por abaixo a ordem do capital e reconstruir um outro mundo, com base em valores humanos.


Pensei nisso, e também em Vinícius, em Brecht e no dia em que gente como seu Bené começar a dizer não.

Créditos:ObservatórioDaIndustriaCultural

Adriana Facina (Observatório da Indústria Cultural/UFF)


Publicado originalmente em http://www.fazendomedia.com/


formato: avi
tamanho: 680 mb
idioma: português
legendas: S/L

Título Original: Nina
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 85 min.
Ano de Lançamento (Brasil): 2004
Direção: Heitor Dhalia
Roteiro: Marçal Aquino e Heitor Dhalia
Elenco: Guta Stresser (Nina), Myriam Muniz (Dona Eulália), Sabrina Greve(Sofia), Luíza Mariani (Alice), Juliana Galdino (Ana), Milhem Cortaz (Carlão), Guilherme Weber (Arthur), Abrahão Farc (Velho), Wagner Moura (Cego), Selton Mello (Namorado de Ana), Renata Sorrah (Prostituta), Lázaro Ramos (Pintor), Matheus Nachtergaele (Pintor).
Livremente inspirado em Crime e Castigo, de Dostoievski.

Créditos:RapaduraAzucarada -
Renatchka!

sinopse:Ambientado na São Paulo de hoje, o filme narra a história de Nina, jovem pobre, que procura atabalhoadamente um meio de sobrevivência na sociedade desumana de hoje e só esbarra em adversidades. Mora num quarto alugado. A senhoria Eulália, velha decrépita e reencarnação da velha usurária morta por Raskólnikov em Crime e Castigo, humilha Nina a todo instante, viola sua correspondência, confisca-lhe um dinheiro que a mãe lhe enviara, tranca a geladeira a cadeado para impedir-lhe o acesso aos alimentos ali guardados, cada um com a etiqueta "Eulália", símbolo do poder de compra e do direito ao consumo e à humilhação do semelhante.

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Complete Billie Holiday-Lester Young

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Complete Billie Holiday-Lester Young @ 320 - cd 1

01. He ain´t got rhythm.mp3
02. This year´s kisses.mp3
03. Why was I born.mp3
04. I must have that man.mp3
05. Sun showers.mp3
06. Yours and mine.mp3
07. Mean to me (price master).mp3
08. Mean to me.mp3
09. Foolin´ myself.mp3
10. Easy living.mp3
11. I´ll never be the same.mp3
12. Me, myself and I.mp3
13. Me, myself and I (price master).mp3
14. A sailboat in the moonlight.mp3
15. Born to love.mp3
16. Without your love (price master).mp3
17. Without your love.mp3
18. Getting some fun out of life.mp3
19. Who wants love.mp3
20. Trav´lin´ all alone.mp3
21. He´s funny that way.mp3
22. I can´t get started.mp3

Complete Billie Holiday-Lester Young @ 320 - cd 2

01. My first impression of you.mp3
02. My first impression of you (prise master).mp3
03. When you're smiling (prise master).mp3
04. When you're smiling.mp3
05. I can't believe you're in love with me.mp3
06. I can't believe you're in love with me (prise master).mp3
07. If dreams come true (prise master).mp3
08. If dreams come true.mp3
09. Now they call it swing.mp3
10. Now they call it swing (prise master).mp3
11. Back in your own backyard (prise master).mp3
12. Back in your own backyard.mp3
13. When a woman loves a man.mp3
14. The very thought of you.mp3
15. I can't get started (prise master).mp3
16. I can't get started.mp3
17. I've got a date with a dream.mp3
18. I've got a date with a dream (prise master).mp3
19. You can't be mine.mp3
20. Everybody's laughing.mp3
21. Here is to-morrow again.mp3
22. Say it with a kiss.mp3

Complete Billie Holiday-Lester Young @ 320 - cd 3

01. The man I love (Lester ts solo).mp3
02. You're just a no-account (Lester ts solo).mp3
03. You're a lucky guy (Lester ts solo).mp3
04. I'm pulling through (Lester ts solo).mp3
05. Laughing at life (prise master) (Lester ts solo et obbligato).mp3
06. Laughing at life (Lester ts solo et obbligato).mp3
07. Time on my hands (Lester ts obbligato).mp3
08. The man I love (Lester ts obbligato).mp3
09. Let's do it (prise master).mp3
10. Let's do it (Lester ts solo).mp3
11. All of me (prise master) (Lester ts solo).mp3
12. All of me (Lester ts solo).mp3
13. All of me (Lester ts solo).mp3
14. I cried for you (Lester ts obbligato).mp3
15. Fine and mellow (Lester ts obbligato).mp3
16. He's funny that way (Lester ts obbligato).mp3
17. The man I love(Lester ts obbligato).mp3
18. Gee Baby, ain't I good to you (Lester ts obbligato).mp3
19. All of me (Lester ts obbligato).mp3
20. Billie's blues (I love my man).mp3

Total Size: 428,26MB

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Ike Quebec - Blue & Sentimental (1961)

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Ike Quebec - Blue & Sentimental (1961)
MP3
320Kbps
RS.com: 115mb


Personnel:
Ike Quebec (tenor saxophone, piano)
Grant Green (guitar)
Paul Chambers (bass)
Philly Joe Jones (drums)

On track 8: Ike Quebec (tenor saxophone), Grant Green (guitar), Sonny Clark (piano), Sam Jones (bass); Louis Hayes (drums)


Tracks:

1. Blue And Sentimental
2. Minor Impulse
3. Don't Take Your Love From Me
4. Blues For Charlie
5. Like
6. That Old Black Magic - (bonus track)
7. It's Alright With Me - (bonus track)
8. Count Every Star

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