Sexo entre os mais velhos
“Para mim o sexo diminuiu, mas não morreu” – ouvi de um senhor de 85 anos. Na época, recém-formado, fiquei surpreso com a afirmação. Sexo na velhice era assunto proibido.
Ainda hoje, pela falta de inquéritos epidemiológicos, são precários os conhecimentos médicos a respeito da sexualidade depois dos 60 anos.
Daí a importância do estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Chicago, publicado no The New England Journal of Medicine, a revista médica de maior circulação.
No período de julho de 2005 a março de 2006, foram entrevistadas 3.005 pessoas de 57 a 85 anos, representativas de diferentes grupos étnicos e classes sociais, distribuídas por todo o território dos Estados Unidos.
Foram colhidos dados sobre condições de saúde, estado civil, as três parcerias sexuais mais recentes dos últimos cinco anos, práticas sexuais e sobre as dificuldades que prejudicam a atividade sexual. Considerou-se sexualmente ativo quem teve sexo com pelo menos uma pessoa, nos últimos 12 meses.
Atividade sexual foi definida como “qualquer atividade mutuamente voluntária que envolva contato sexual, com ou sem intercurso ou orgasmo”.
Os que viviam com alguém ou que se referiam a uma parceria “romântica, íntima ou sexual” foram classificados na categoria “casados ou outros relacionamentos íntimos”.
Os que negaram atividade sexual nos últimos três meses responderam um questionário em separado a respeito das possíveis explicações para o fato.
Como esperado, a probabilidade de preservar a atividade sexual diminuiu gradativamente com a idade. Nas mulheres a queda foi mais acentuada.
Homens que caracterizaram sua condição de saúde como excelente ou boa apresentaram probabilidade cinco vezes maior de preservar a vida sexual do que aqueles com saúde razoável ou pobre. Entre as mulheres essa probabilidade caiu para três vezes.
Em qualquer faixa etária as mulheres têm menos chance de estar casadas ou de ter “outras relações íntimas”. A diferença aumenta dramaticamente com a idade. Dos homens solitários, 22% estiveram sexualmente ativos no ano anterior; das mulheres solitárias, 4%
Entre mulheres e homens da mesma idade casados ou vivendo relacionamentos íntimos, o número de homens ativos foi maior. É possível que a explicação esteja na preferência masculina por parceiras mais jovens.
Dos que ainda mantinham atividade sexual na faixa de 75 a 85 anos, 54% relataram relações sexuais duas ou três vezes por mês, e 23% uma ou mais vezes por semana. Nesse grupo, 78% dos homens e 40% das mulheres viviam uma relação marital ou íntima.
No grupo de 57 a 64 anos, 62% dos homens e 52% das mulheres confessaram masturbar-se. Esses números caíram respectivamente para 28% e 16% nas pessoas de 75 a 85 anos.
Dos que ainda mantinham relacionamentos sexuais, 58% dos mais novos e 31% dos mais velhos haviam praticado sexo oral, no último ano.
Nos homens, as principais queixas de “problemas sexuais” foram: dificuldade de obter ereção (37%) e de mantê-la (90%), falta de interesse (28%); ejaculação precoce (28%), impossibilidade de atingir o orgasmo (20%). As dificuldades femininas foram: falta de interesse em sexo (43%), dificuldade de lubrificação (39%), impossibilidade de atingir o orgasmo (34%), ausência de prazer (23%) e dor à penetração (17%).
Tomaram medicações ou suplementos que prometem melhorar a performance 14% dos homens e 1% das mulheres.
Dos 1.198 homens e das 815 mulheres envolvidos em um relacionamento amoroso, apenas 3 homens e 5 mulheres se relacionavam com pessoas do mesmo sexo.
Curiosamente, a freqüência de relações sexuais dos participantes considerados ativos foi similar à dos adultos de 18 a 59 anos, encontrada no National Health and Social Life Survey, publicado em 1992, o único estudo sobre a sexualidade americana tão abrangente quanto o que acabamos de descrever.
Extrait de: CartaCapital