segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Tariq Ali analisa os seis anos de guerra no Afeganistão


Em uma entrevista concedida a Sherry Wolf, da revista Socialist Review, o escritor e jornalista Tariq Ali, editor da New Left Review, diretor da Editorial Verso e membro do Conselho editorial do 'Sin Permiso', conta como a permanência das tropas de ocupação do Afeganistão no país está se tornando cada vez mais "asquerosa e desagradável".


"Muito longe de ser uma 'boa guerra' o Afeganistão está a transformar-se numa guerra asquerosa e desagradável, e não há maneira das forças dos Estados Unidos ou de outras potências ocidentais serem capazes de permanecer ali por muito tempo", conta Ali.

A entrevista, publicada no site da Socialist Review em 28 de dezembro deste ano, foi traduzida para o português pelo site O Diario.Info, do qual o Vermelho reproduz sua íntegra.


Sherry Wolf – Agora completa-se o sexto aniversário da guerra dos Estados Unidos no Afeganistão, a qual é vista por muita gente como a batalha "boa" na "guerra contra o terror" o que a diferencia do Iraque. É assim?


Tariq Ali – Argumentei sempre que esta guerra era essencialmente uma vingança grosseira para devolver o golpe imediatamente depois dos ataques do 11 de setembro — e poder mostrar à população dos Estados Unidos, por parte dos líderes políticos, que "nós estamos atarefados a defender-nos". Não houve outro propósito que não fosse uma vingança, olho por olho.


O segundo propósito desta guerra, como Bush explicou detalhadamente, era capturar Osama bin Laden "vivo ou morto". Estas foram as suas palavras exatas, que não deveríamos esquecer. Fora essa, não havia outras razões para a guerra.


Não havia dúvida de que eles iam conquistar o país. Por um lado, a Aliança do Norte não ia resistir, nem tão pouco os iranianos que eram muito fortes no Afeganistão ocidental. Os líderes iranianos eram hostis aos talibãs pelas suas próprias razões oportunistas, portanto, subiram para o carro e disseram: Bem, não podemos desfazer-nos desses tipos, mas se os americanos o fizerem, esperamos os acontecimentos.


Por outro lado, havia o regime militar paquistanês, sem o qual os talibãs não teriam permanecido no poder, e que tinha estado a apoiar os talibãs logística e militarmente, em todos os sentidos.


Dado que os Estados Unidos iam usar as bases militares do Paquistão, o regime pediu para manter durante algumas semanas o seu pessoal militar fora do Afeganistão antes dos Estados Unidos o invadirem. Nestas duas semanas decisivas, supostamente, Osama bin Laden e a direção da al-Qaida também abandonou o Afeganistão.


Assim os Estados Unidos invadiram Cabul com a ajuda da Otan, mas não tiveram a qualquer dificuldade porque não houve a menor resistência. Assim surgiu a pergunta: Que iam fazer com o país?


Não podiam apanhar Osama, embora tivesse havido duas semanas de histeria mediática sobre "encontrar as grutas de Tora Bora e propaganda desse tipo. Lançaram estas bombas e o que aconteceu? Nada. Destruíram as grutas, mas a presa tinha escapado.


Portanto que fazer agora? É óbvio que bin Laden abandonou o país e foi para as zonas tribais entre o Paquistão e o Afeganistão, onde as tradições de hospitalidade são muito fortes e não seria entregue.


Os Estados Unidos impuseram um regime marionete no Afeganistão. Lembremos que Zalmay Khalilzad era então conselheiro chefe de Bush no Afeganistão e trouxe um dos cupinchas que trabalhou para a companhia petrolífera Unlocal, Hamid Karzai, para ser presidente do Afeganistão. Bingo: rapidamente conseguimos um país.


O problema tornou-se logo evidente para o Ocidente: estes planos não podiam ultrapassar Cabul e Kandahar, as duas grandes cidades no Sul, e isso apenas durante o dia. Em todo o lado, a oeste do país, as forças pro-iranianas tinham-no sob controlo. E no norte, as antigas repúblicas soviéticas, ainda sob a influência de Moscou, eram comandadas.


Portanto que iam fazer com o país? A resposta era: nada

Os Estados Unidos têm algum tipo de apoio dentro do Afeganistão?

Não há dúvida que muitos afegãos se alegraram com a queda dos talibãs – algumas pessoas pensaram, bem, ao menos teremos alguma paz e tranquilidade, e talvez comida. Foi também essa a opinião de alguns comentaristas liberais do Paquistão.


Alguns de nós discutimos com eles, dizendo que os talibãs podiam ter sido desalojados, mas que aconteceria agora? Alertámo-los que no diz respeito à infra-estrutura social, nada ia mudar para a maioria dos afegãos. É isso exatamente o que aconteceu nestes seis anos. O que a gente subestimou é que as ocupações imperiais sob o neoliberalismo refletem as prioridades da nova ordem capitalista, privatizar tudo nos seus próprios países. Portanto o que aconteceu é que este dinheiro foi colocado aqui — e este dinheiro foi usado por Hamid Karzai e seus cupinchas para construir uma elite no Afeganistão.


No coração de Cabul, nas melhores terras de que puderam apropriar-se, a elite esteve e está a construir grandes mansões protegidas pelas tropas da Otan diante de toda a população da cidade e do campo.


Custa cerca de 5 mil a 6 mil dólares construir uma casa barata para uma família de cinco ou seis membros, mas a elite não o fez. Gastou milhões de dólares a construir grandes mansões. Sabe Deus por que o fizeram já que necessitam de uma guarda permanente da Otan para viver numa dessas mansões. E serão retirados delas logo que os exércitos ocidentais se retirem.


Isso originou uma grande crise e surgiram os casos de inocentes assassinados pelo gatilho fácil das tropas dos Estados Unidos.


Onde os Estados Unidos ouvem tiros, lançam bombas. Alguém deveria ter-lhes dito que o Afeganistão era uma sociedade tribal, uma cultura onde se disparam armas para celebrar bodas, nascimentos... correm e disparam armas de fogo para o ar. Poderia pensar-se que os americanos seriam mais compreensivos com isso, dada a cultura armamentista dos Estados Unidos, mas não acharam graça a isso no Afeganistão.


Assim os Estados Unidos começaram a bombardear as pessoas. Numa festa de casamento os Estados Unidos chegaram, bombardearam e criaram o inferno. Vítimas: 90 ou 100 assassinados, homens, mulheres e crianças. E isto multiplicou-se.

Como é que os talibãs regressaram?


Os talibãs começaram a reagrupar-se, a rearmar-se e a lutar, e conseguiram alguns êxitos. O que também começou a suceder simultaneamente é que houve gente feliz em os ver regressar — já que ninguém mais os defendia.


Começaram a tratar dos talibãs como uma organização "guarda-chuva" e a informá-los do que passava. Muitas pessoas que supostamente trabalhavam com as autoridades de ocupação dos Estados Unidos e da Otan, informavam os talibãs sobre os movimentos de tropas. As operações da clássica guerra de guerrilhas começou, e os Estados Unidos responderam com mais bombardeios aéreos. Estava em marcha um círculo vicioso.


Se examinarmos os jornais do último ano e fizermos uma sondagem de todas as informações onde houve 60 talibãs mortos, 80 talibãs mortos, 90 talibãs mortos, e se fizerem as contas, já teriam acabado com os milhares de supostos membros das milícias talibãs (a teórica força total calcula-se ser de 10 mil).


Por outras palavras, a julgar por estas informações, já estariam eliminadas três quartas partes da organização talibã, o que está longe da verdade. Mas como os Estados Unidos estão envergonhados de matar civis, deve ser esta a versão.


Tens uma situação no país em que o irmão de Hamid Karzai, Wali Ahmed Karzai é muito conhecido como o traficante de armas e de heroína mais importante da região. Chegou a esse ponto porque o irmão governa o país.


Tens este sujeito que foi feliz dirigindo um restaurante afegão em Baltimore e vende comida cara aos estudantes da John Hopkins — e agora é o segundo chefe no país a fazer uma fortuna — um "matador" por assim dizer.


Simbolicamente, tudo isto representou um grande desastre. Assim, muito longe de ser uma "boa guerra" o Afeganistão está a transformar-se numa guerra asquerosa e desagradável, e não há maneira das forças dos Estados Unidos ou de outras potências ocidentais serem capazes de permanecer ali por muito tempo.


O que esperam conseguir os poderes regionais como consequência do Afeganistão?

O exército paquistanês espera que o Ocidente se retire e se improvise um tipo de governo de coligação entre Karzai e o que resta dos talibãs.


Isto vale a pena sublinhar. Apoiado no Ocidente, o regime de Karzai, agora mesmo, está a negociar seriamente com os talibãs. Assim, os talibãs que foram demonizados como a pior força que já existiu no mundo, estão agora com o beneplácito do Ocidente, a negociar porque o fazem com Karzai.


A primeira resposta dos talibãs à oferta de Karzai é dizer: "nunca negociaremos convosco até as tropas estrangeiras terem abandonado o país" ao que Karzai respondia: "Não é possível" . E pensa que não é possível porque sem as tropas estrangeiras não duraria nem 48 horas.


Mas no que respeita ao exército paquistanês, sabem que não são capazes de conseguir um acordo entre talibãs e Karzai enquanto as tropas estrangeiras permanecerem na região. Os militares imaginam que quando as tropas ocidentais tiverem abandonado o país, podem controlá-lo novamente, através dos talibãs e de Karzai.


Mas creio que esta possibilidade está agora excluída porque a Otan fez da ocupação um caos e porque nestes últimos seis anos, a autonomia regional emergiu como fator político principal. O Afeganistão foi sempre uma confederação tribal, mas agora está tem inclusive um caráter mais confederado.


E os iranianos e os russos não estão dispostos a permitir uma tomada do poder talibã no país consentida pelos Estados Unidos. Assim que os líderes militares paquistaneses podem aspirar a governar numa parte do Afeganistão, mas não serão capazes de o fazer no conjunto do país.


Defendi no Paquistão e em vários lugares a retirada total e imediata de todas as tropas e simultaneamente, a convocatória de uma conferência de paz dos poderes regionais envolvidos no Afeganistão — o que significa Paquistão, Irão, Rússia e Índia, que é o maior poder de todos — para erigir um governo nacional depois da retirada das tropas ocidentais que dê uma possibilidade a este país para descansar e convocar eleições para uma assembleia constituinte em dois ou três anos.


Entretanto, estes poderes regionais terão de garantir que não haja luta nem guerra civil. As pessoas deveriam entender esta ideia, porque o Afeganistão esteve em guerra permanente virtualmente desde 1979. O que se passa neste país é horrível.


É improvável que os americanos ou os paquistaneses estejam de acordo com isto, em cujo caso, a situação irá de mal a pior, na minha opinião.


Para resumir a situação no Afeganistão: é um desastre. Os Estados Unidos nunca podem ganhar a guerra e a principal razão é que os afegãos não gostam da ocupação. Os afegãos correram com os britânicos no século 19, com os soviéticos no século 20 e agora estão em luta de novo contra os Estados Unidos e seus aliados da Otan.

Dexter Gordon Quartet - Cheese Cake - 1964

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Dexter Gordon Quartet - Cheese Cake - 1964
MP3
320Kbps
RS.com: 81mb
Uploader:redbhiku

Personnel:
Dexter Gordon - tenor saxophone
Tete Montoliu - piano
Niels-Henning Шrsted Pedersen - bass
Alex Riel - drum

Jazzhus Montmartre, Copenhagen, Denmark
Recorded by Danish Radio - June 11, 1964
SteepleChase SCCD 36008

Tracks:
1. Introduction 1:39
2. Cheese Cake (Gordon) 13:29
3. Manha De Carnival (Bonfa) 9:20
4. Second Balcony Jump (Eckstine, Valentine) 13:14

Download abaixo:
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Tendinha - Martinhho da Vila - 1978

Faixas:

01 - Minha comadre
(Martinho da Vila)
• Garçon
(Cabana)
02 - Zé Ferreira
(Neoci - Jorge Aragão)
• Trepa no coqueiro
(Martinho da Vila - Tião Graúna)
• Poeira do caminho
(Mário Pereira)
• Chora viola, chora
(Carlito Cavalcanti - Nilton Santa Branca)
Participação: Neoci
03 - Mulata faceira
(Martinho da Vila)
Participação: Almir Guineto
04 - Amor não é brinquedo
(Candeia - Martinho da Vila)
05 - Que pena, que pena
(Gracia do Salgueiro - Martinho da Vila)
• Deixa serenar
(Sidney da Conceição - Castelo)
• Nem a lua
(Martinho da Vila - Noca - Charlote)
• O pior é saber
(Valter Rosa)
• Se eu errei
(Tolito)
06 - Deixa a Maria sambar
(Paulo Brazão)

Créditos: CapsulaDaCultura


Kim Waters - All Because Of You (1990)

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Uploader: kippique

1. After The Romance
2. All Because Of You
3. On The Move
4. Nikita
5. Just Be My Lady
6. Pleasure Interlude
7. Pleasure
8. Baby, Say You Love Me
9. Sitting On The Dock Of The Bay
10. Captive Moments
11. I Never Think Of You


Kim Waters - Peaceful Journey (1993)

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1. End Of The Road
2. Peaceful Journey
3. Late Night Hour
4. K & R's Funk Party
5. Never Leave Me
6. Silky Smooth
7. Be My Lover
8. Easy Does It
9. Save The Best For Last
10. Kick It


Kim Waters - All For Love (2005)

http://ecx.images-amazon.com/images/I/51MV3WNVWQL._AA240_.jpg


1. She's My Baby
2. Hot Tub
3. Daydreaming
4. Steppin' Out
5. All For Love
6. Dream Machine
7. Nature Walk
8. Happy Feeling
9. Good To Go
10. Sideways


Kim Waters - You Are My Lady (2007)

http://ecx.images-amazon.com/images/I/51NMR4ombZL._AA240_.jpg


1. So Sick
2. Got To Give It Up
3. The Closer I Get To You
4. Flying High
5. Two Keys To My Heart
6. Secret Romance
7. You Are My Lady
8. East Coast Strollin'
9. Inseparable 4:13
10. I Want You Tonight

Downloads abaixo:
Part 1
Part 2

Feliz Ano Novo!!!!

Ano novo, estou aqui para lhe propor um acordo.
Eu sempre espero muito de você,
e acho que a decepção é recíproca,
porque a cada dia que passa,
em vez de rejuvenescer, eu envelheço,
em vez de ficar rico, vou ficando mais pobre,
e em vez de ser amado, vou sendo cada vez mais esquecido.

Você realmente rejuvenesce, ou pensa que o faz,
quando abre suas asas sobre o mundo
anunciando ser mais um que se inicia.

Mas ao contrário do que deveria acontecer
com tudo que é novo,
você já nasce trazendo no colo crianças famintas,
homens amargurados, governos inescrupulosos,
muito desamor
e guerra... sempre guerra!

Eu duvido que se emocione como deveria,
com os fogos que são calorosamente oferecidos
em sua homenagem...

Eu duvido que consiga vibrar
nos seus primeiros minutos,
ouvindo a sirene das ambulâncias,
e o matraquear do fogo cerrado
que se estabelece entre irmãos de uma mesma favela...

Eu duvido que consiga se sentir NOVO,
meu querido ano novo.

Por isso, eu queria lhe propor,
que em vez de você ser NOVO,
que seja diferente, apenas diferente...

Que você plante no coração das pessoas,
a semente do amor.
Mas que faça isso com vontade, com determinação,
não aceitando que nasça dessas sementes,
nada menos, que muito amor.

Que o ser humano, governante ou mendigo,
sinta em seu interior a necessidade de amar,
de querer bem, de procurar fazer a sua parte,
seja ela governar ou caminhar à beira da estrada,
sem ferir, sem abusar.

E sabe Ano Novo... que isso fique entre nós,
mas junto com a semente do amor,
alguns corações precisam de um reforço,
por isso, você deve jogar displicentemente,
uma sementinha de decência,
de humanidade, de caridade humana.
São aqueles que detém o poder,
os multimilionários que se fartam desse mundo
como se fossem os donos,
limpando os pés no resto da humanidade.

E então sim, você poderá se auto intitular ANO NOVO!!!
E eu poderei vibrar a cada vez que você chegar...
pulando as sete ondas,
soltando fogos
ou simplesmente abraçando o meu irmão!!!
Porque será, incontestavelmente...
ANO NOVO!!
VIDA NOVA!!"

anônimo


Suspiria, arte e sentidos

Avesso às fórmulas e clichês dos filmes de terror, o italiano Dario Argento produz obras marcadas por cenários, tons e música incomuns; tempo e espaço não-lineares; debates psicanalíticos. Texto inaugura nova coluna do Diplô, agora sobre cinema e diversidade

Bruno Carmelo

A idéia de uma coluna intitulada Outros Cinemas visa, a princípio, dar espaço a filmes que apresentem propostas artísticas diferentes da estética massiva dos blockbusters norte-americanos.

Logicamente, não se ignora o valor de filmes de grande orçamento, que têm papel importante na manutenção da indústria, e por vezes até possibilitam a realização de obras independentes. Lembremos de Orson Welles, que sempre atuou em filmes que não o agradavam para poder financiar seus próprios projetos...

No entanto, é claro que a distribuição global das produções hollywoodianas é acompanhada de uma propaganda que toma espaço considerável na mídia; de modo que muitos filmes que julgamos interessantes (e diferentes dessa corrente principal) ganham pouca visibilidade.

Vale dizer que a proposta de “Outros Cinemas” não é justiceira, nem radical. Primeiro, apontaremos alguns filmes que nos chamam atenção, sabendo que será impossível mencionar todos que nos interessam. Inevitavelmente, será feito um recorte pessoal sobre um terreno tão vasto de filmes inovadores... Isso porque a intenção é de não limitar a coluna às produções recentes, e também discutir eventualmente filmes antigos e fora do circuito.

Por fim, é importante dizer que não pretendemos recusar completamente as obras norte-americanas — somente a estética predominante das grandes produções. Muitos filmes produzidos nos EUA são incrivelmente ousados, assim como filmes de outros países podem se apoiar nessa estrutura massiva. Portanto, visaremos, acima das nacionalidades, as propostas.

Para abrir esta coluna, escolhemos um clássico do cinema de terror italiano, Suspiria. Mais ousado, impossível.

Bruno Carmelo

O terror é geralmente considerado um gênero menor dentro do cinema, supostamente por suas fórmulas rígidas e por se apoiar unicamente no medo do público, sem oferecer material de reflexão. Monstros, vampiros e assassinos são normalmente associados à produções de baixa qualidade, destinadas aos pequenos cinemas de bairro.

Alguns autores, no entanto, conseguiram elevar o patamar do horror à arte, ao explorarem os limites do gênero. Enquanto George Romero, com seus filmes de zumbi, faz uma crítica de sociedades contemporâneas (a norte-americana em especial), Dario Argento, outro mestre do terror, revolucionou a estética dos “filmes B”. Suspiria, de 1977, é um bom exemplo das astúcias do diretor.

A narrativa do filme se passa numa renomada academia de balé alemã, na qual estranhas mortes chocam os alunos. Escolha incomum: nada de casas abandonadas, florestas escuras, mas o calmo ambiente de uma academia. Argento faz desse prédio o personagem principal de seu filme.

Cenário labiríntico, uso ostensivo das cores e geometria, música dissonante e repetitiva

Trata-se de um imóvel gigantesco, onde supõe-se haver vários andares, corredores e salas. A noção de espaço, no entanto, é propositadamente omitida: vemos salões sem saber onde se situam, passagens que não nos indicam onde terminam. Além desse caráter labiríntico, cria-se um clima de claustrofobia: os dançarinos são todos internos e nunca saem da academia. A movimentação que lhes é permitida restringe-se à mudança de um cômodo a outro.

Sem direções e sem saídas, o terror criado por Dario Argento apóia-se principalmente na confusão de sentidos (dos personagens e, conseqüentemente, do público). Perde-se as noções de tempo e espaço, e Suspiria mostra um trabalho elaborado para confundir visão e audição.

Primeiramente, faz-se uso ostensivo de cores. As paredes de cada cômodo são cobertas de papéis de parede com motivos geométricos e vertiginosos, em cores vivas: vermelhos, amarelos, verdes e laranjas. Mesmo a fotografia do filme ignora qualquer tentativa de verossimilhança, ao criar focos de luz multi-coloridos nos personagens, que desfilam ao longo de toda a narrativa encobertos de auras esverdeadas e alaranjadas.

A música, igualmente, é excessiva e perturbadora. Um simples abrir de portas é acompanhado de trilha (com tons dissonantes e repetitivos) e de ruídos, que crescem em intensidade e volume. Cada morte simboliza a reunião máxima desses elementos: o sangue dos corpos se mistura à vermelhidão das paredes, o grito das vítimas se confunde com os estridentes acordes dos instrumentos da trilha.

Não há monstros ou psicopatas. O que mata é o próprio mal, que se revela por meio de indícios

Quanto aos assassinatos, o diretor faz uma escolha interessante ao não materializar o autor dos crimes. Não há monstros ou psicopatas; o que mata, em Suspiria, é o próprio mal. Basta que uma personagem sinta uma vertigem nos corredores da escola para que apareçam sombras, para que as luzes mudem e logo ela apareça morta. Alguns indícios, entretanto, são dados: olhos esverdeados que aparecem em fundos negros, mãos humanóides que estrangulam as dançarinas (sem que nunca vejamos o resto do corpo), ou animais pacíficos que, possuídos por espíritos, fazem vítimas fatais.

Outro elemento perturbador dissimula a identidade do assassino: no caso, trata-se da possibilidade de complô. A idéia de perseguição (tão bem usada, por exemplo, em O Bebê de Rosemary, outro clássico) serve de fundo de cena em Suspiria. Por que as dirigentes da academia não se mobilizam contra as mortes? Por que a aparente apatia face aos crimes? Nesse momento, o público identifica-se perfeitamente com a protagonista, divide as angústias dessa bailarina aprisionada, e faz das dúvidas delas as suas próprias.

Por fim, o filme apóia-se em idéias psicanalíticas (muito em voga na década de 70) para atestar a seriedade de seus fatos. Normalmente, em obras fantásticas, a ciência serve para dar credibilidade ao improvável, e é este o caso de Suspiria: quando todas as mortes parecem absurdas, uma conferência de doutores nos lembra que distúrbios mentais podem transformar pessoas comuns em assassinos cruéis.

Nos filmes de terror, é comum se criar personagens cuja função única é a de servir ao fetichismo da morte, ao espetáculo de sangue. Dario Argento mexe com os nervos do público de maneira mais inteligente, utilizando-se essencialmente da própria linguagem cinematográfica (montagem, fotografia, efeitos sonoros). Nossos sentidos, única maneira de perceber e conhecer o mundo, são manipulados a tal ponto que o terror maior não é criado pelas mortes em si, mas pela maneira como são mostradas. No cinema de Argento, o menor elemento pode ser aterrorizante; e nesses momentos, percebe-se a inteligência de um diretor que controla totalmente a arte cinematográfica e os efeitos que ela produz sobre seu público.

Sadao Watanabe Quartet Sextet - Jazz & Bossa (1966)




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TUDO QUE VOCÊ SEMPRE QUIS SABER SOBRE SEXO - 1972 ...
Mas Tinha Medo de Perguntar






Formato: rmvb
Áudio: Inglês
Legendas: Português (PT)
Duração: 1:28
Tamanho: 392 MB
Dividido em 05 Partes
Servidor: Rapidshare


Créditos: Forum - Eudes Honorato


Sinopse:

Woody Allen pega o livro sério sobre sexo de David Reuben e transforma seus capítulos na mais pura avacalhação. Prepare-se para ver um corpo humano por dentro em pleno ato sexual, um cientista que quer criar a máquina de sexo, a mulher que só tem orgasmo em locais perigosos... Muita confusão na melhor fase de Woody Allen.

domingo, 30 de dezembro de 2007

Chick Corea

Filho de italianos, Armando Anthony Corea nasceu em 12 de junho de 1941 em Chelsea, Massachusetts. Depois de acompanhar Dizzy Gillespie e Sarah Vaughan, entrou para a banda de Miles Davis em 68. Participou com ele da revolução do jazz fusion, gravando discos como "In a Silent Way" e "Bitches Brew". Após deixar Miles, ele formou em 71 um dos mais populares grupos do fusion, o Return To Forever, pelo qual passaram, entre outros, Stanley Clarke, Al Di Meola e os brasileiros Airto Moreira e Flora Purim. Em 78, ele e Herbie Hancock formaram um duo de pianos muito aclamado. O retorno à música acústica culminou em outro duo, com o pianista clássico Friedrich Gulda, em "The Meeting", de 82. Em 85, Corea voltou ao fusion com a Elektric Band, da qual derivou mais tarde a Akoustic Band, com John Pattitucci e Dave Weckl. Seu novo CD, em parceria com o banjoísta Béla Fleck se chama "The Enchantment".

Créditos: TrabalhoMental



Capa Original

Chick Corea - The Best Of

1. Straight Up And Down
2. Tones For Joan's Bones
3. Matrix
4. My One And Only Love
5. Windows
6. Samba Yantra
7. Pannonica
8. Now He Sings,Now he Sobs
9. Toy Room
10. Blues Connotation
11. Nefertiti
Para baixar clique aqui

A revolução do Cine Falcatrua

Um cineclube ligado à universidade desperta a fúria das distribuidoras de audiovisual ao exibir, sem fins de lucro, filmes baixados por internet. Disputa revela como é necessário superar, em defesa do público e dos artistas, os limites estreitos da "propriedade intelectual"

Bruno Cava

Em novembro, uma juíza de primeira instância da Justiça Federal condenou a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) a pagar indenização por suposta violação de propriedade intelectual. A infração aos direitos autorais teria sido provocada, segundo a magistrada, nas atividades do cineclube Falcatrua – programa de extensão e pesquisa do departamento de Comunicação Social, realizado por estudantes da UFES desde 2004.

Ao dar ganho de causa ao Consórcio Europa — um gigante da distribuição cinematográfica — o Judiciário ainda aplicou multa diária de R$ 10 mil à universidade, caso as exibições fossem retomadas, e determinou a destruição imediata de seu equipamento de produção, edição e projeção de cinema. A seguir, outro juiz, agora da vara local em Vitória e a pedido da mesma distribuidora e da Lumière, expediu medida liminar proibindo novas apresentações do cineclube, pois ele incorreria em "concorrência desleal".

O Cine Falcatrua é um dos carros-chefes do movimento da cultura livre. Protagonista do circuito nacional de Conteúdos Livres — com suas mostras de filmes, sob as (des)licenças Creative Commons e copyleft, e seus festivais de mídia-ativismo, esse cineclube universitário trabalha com tecnologias acessíveis do digital para democratizar a produção cultural. O grupo promove exibições abertas e gratuitas de filmes baixados da internet, sempre acompanhadas de discussões e intervenções. Também ministra a oficina Cineclubismo Digital Gambiarra, que ensina como produzir, projetar e distribuir filmes digitais. Além de tudo, ainda prepara material de divulgação acerca de direitos autorais, difusão cultural e cinema livre.

Inserido no movimento cineclubista, que remonta aos anos 1920 e formou diretores do porte de Gláuber Rocha e Rogério Sganzerla, o Cine Falcatrua abre espaço para o cinema independente, incentiva a politização da sétima arte e enriquece a produção crítica. Aplaudido por diretores como Cláudio Assis (Amarelo Manga, Baixio das Bestas), só em 2004 foram mais de 40 sessões públicas, reunindo um público de aproximadamente cinco mil pessoas. Indo além dos muros universitários, o cineclube já expôs em bairros da periferia de Vitória, em galerias de arte, nas ruas de São Paulo e até em bailes funk (com o filme "Sou feia, mas tô na moda"). Assim, ele retoma a tradição cineclubista brasileira dos anos 1970 e 80, quando, graças ao início da redemocratização, o movimento pôde estender-se para sindicatos, universidades e centros culturais, para um público além dos cinéfilos.

O passo adiante: baixar produções da internet, editá-las e projetá-las grátis, em espaços públicos

O Falcatrua vai mais longe. Não se restringe a promover filmes históricos, cult, alternativos, independentes ou "underground" – material clássico do cineclubismo. Também oferece filmes do grande circuito comercial: faz o download de cópias disponíveis na rede e projeta-as grátis — e antes da estréia oficial. Quer dizer: ele antecipa-se à indústria de entretenimento — como fazem os camelôs, mas sem auferir qualquer lucro. Eis aí o salto qualitativo desse projeto inovador.

Afinal, quantos podem dispor de R$ 50,00 para levar a família ao cinema? E a imensidão de localidades que simplesmente não tem cinema? Que dizer da decepcionante diversidade oferecida pela indústria de entretenimento, especialmente fora dos grandes centros? E mais: por que aceitaríamos o miserê de assistirmos a filmes de vez em quando, ou quando o dinheiro der?! Quando podemos — cada um de nós, cidadãos — assistir a muitos, novos e bons filmes, todos os dias em que desejarmos!?

O que fez as distribuidoras, enfurecidas, ajuizarem ações judiciais, foi o fato de o Falcatrua ter exibido Fahrenheit 911 (Michael Moore) e Kill Bill (Quentin Tarantino) antes das estréias oficiais. As demandas foram rapidamente acolhidas pela contra-insurgência estatal. Resultado: a iniciativa alcançou tamanha projeção que já é reconhecida como uma modalidade específica de fazer cinema: baixar produções da internet, editá-las e projetá-las, de graça, em espaços públicos.

Portanto, não se trata de mais um caso prosaico de aplicação fria da lei dos direitos autorais, de uma decisão simplesmente técnico-jurídica, pretensamente apolítica. No nosso tempo, este é um caso paradigmático. A criminalização do Cine Falcatrua coloca-se no coração dos conflitos da sociedade pós-industrial, na qual, à socialização da produção de conhecimento e cultura, opõem-se os dispositivos expropriatórios, oligopolistas e antidemocráticos do capitalismo.

Cresce a resistência. Interessante surpresa: a Constituição garante o que o Falcatrua pratica

Não por acaso, a criminalização incitou a imediata resistência. Articulando-se pelas mídias democráticas, o movimento cineclubista mobilizou-se e o Conselho Nacional de Cineclubes (CNC) reagiu publicamente, classificando o fato como "caça às bruxas". A medida judicial, no tocante à destruição de meios de produção da UFES, foi comparada a um "obscurantismo policialesco", próprio dos anos de chumbo. De fato, o caso remete à violência sistemática que o cineclubismo sofreu quando do endurecimento da ditadura, período em que vários cineclubes foram depredados, seus membros perseguidos, os acervos confiscados e "desaparecidos" (de 1968 a 1969, a quantidade de cineclubes caiu de significativos 300 para somente 12). A Federação Mundial, com sede na Itália, emitiu um comunicado em defesa do Falcatrua e um dos diretores supostamente "violados", Michael Moore, declarou que não vê qualquer problema na divulgação livre e didática de seus documentários, desde que sem fins comerciais.

O orientador do projeto, Alexandre Curtiss, assegurou a continuidade da iniciativa: "Estamos entrando em outra etapa do projeto. Não vamos nos preocupar com essa liminar. Nosso objetivo não é fazer pirataria e sim gerar acesso à cultura cinematográfica. Nós vamos continuar as exibições" . Um recurso foi interposto na segunda instância. Argumentos jurídicos não faltam. A Constituição garante: a função social da propriedade (art. 5º XXIII), o direito exclusivo do autor e não da distribuidora (art. 5º XXVII), o direito de acesso à cultura e à produção cultural (art. 23 V) e, principalmente, a democratização do acesso aos bens da cultura e sua difusão (art. 215, § 3º cf EC n.º 48/2005). Além disso, a lei de direitos autorais, nº 9.610/98, não exige a autorização para a exibição do audiovisual, quando sem interesse econômico (art. 81). O Código Civil de 2002 exige o dano como caracterizador da responsabilidade civil (arts. 927 c/c 186).

Evidentemente, a contenda é política. O filósofo italiano Antonio Negri identifica na atualidade uma tendência do capitalismo em direção ao trabalho imaterial e cognitivo. Isto é, o valor agregado pelos ativos imateriais (circulação de bens, marketing, serviços, criatividade) sobreleva aquele advindo da cadeia produtiva industrial, de modelo fordista e seriado. As leis nacionais e os tratados internacionais de propriedade intelectual (o Trips da OMC), o copyright, a "polícia autoral" (como o Ecade), tudo isso torna-se, em conjunto, o instrumento por meio do qual o sistema capitalista explora, monopoliza e concentra a produtividade social. A luta contra a propriedade dos bens comuns coincide progressivamente com a luta contra o copyright. A diversidade cultural, a transversalidade entre produtores/transmissores e consumidores/receptores, a valorização dos insumos culturais (idéias, informações, símbolos, linguagens), tudo isso põe a cultura no centro da nova economia. A cultura cada vez mais é a própria economia. O produtor cultural torna-se o agente político por excelência, já que a arte da política está em organizar a produção.

Contradição: o artista quer difundir a obra e construir o público; o interesse do atravessador é proibir

Daí a importância, para as distribuidoras, de barrar uma insurgência tão libertária quanto o Cine Falcatrua, que democratiza a cultura contra o monopólio sobre a cópia. Desde a origem, no século 14, os direitos autorais interessaram primordialmente aos atravessadores dos produtos culturais. Primeiro as editoras; depois, as gravadoras de música e as distribuidoras de audiovisual.

E como fica o artista? Para o artista, o que vale é estabelecer uma comunicação com seus públicos, multiplicando oportunidades e articulando contatos e redes colaborativas. "O valor econômico na produção cultural reside na relação que o artista constrói com seu público" (Ronaldo Lemos). Preocupante ao artista não é a "pirataria", mas a obscuridade. Mesmo porque a atual indústria de entretenimento tende a concentrar-se em poucos filmes, álbuns ou livros, porém ultra-badalados, e geralmente limita-se a produzir... entretenimento.

Ora, os filmes são feitos para serem vistos! Pássaro livre, a produção cultural e de conhecimento do público, para o público e pelo público deve arrebentar as amarras da indústria e dos direitos autorais para difundir-se livremente, instituindo um ciclo virtuoso de produção de valores, bens e sentidos – constituindo um comum colaborativo. Como escreveram Ana Bonjour e Leonora Corsini: é "a arte abandonando o conceito enrugado de artigo de luxo [ou acadêmico, acrescento] para, finalmente, enfiar-se no parangolé de Hélio Oiticica". A revolução não tem data marcada: é agora, neste instante. O Cine Falcatrua é mais um potente efeito dos ventos da mudança.

REFERÊNCIAS:

ALMEIDA, Paulo Henrique de, A cultura é a economia, in Revista Global n.ºCORSINI, Leonora, artRogse no parangolou acadvalor e sentido. distribuidoras de audiovisual.produtividade social. _Revista Global n. 9, p. 34, setembro de 2007.

BONJOUR, Ana Maria; CORSINI, Leonora, Viva a Cópia!, in Revista Global n. 8, p. 10, , maio 2007.

LEMOS, Ronaldo, Direito, tecnologia e cultura, 1a ed., ed. FGV, RJ: 2005.

RAVANELLO, Ricardo Brisolla, Cineclubismo: prática subversiva

Site do Conselho Nacional de Cineclubes

Site de Felipe Macedo