Loucura
Insanidade pura
Namorei meu desejo
Inquietei-me por teu ardor
Noutro plano construí-me vívido
Hesitante, pois, aqui me tenho por ti
Apaixonado por tua imagem de felicidade!
Carlos Costa
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
Loucura
Insanidade pura
Namorei meu desejo
Inquietei-me por teu ardor
Noutro plano construí-me vívido
Hesitante, pois, aqui me tenho por ti
Apaixonado por tua imagem de felicidade!
Carlos Costa
A origem da idéia de direitos humanos remonta pelo menos ao tempo da Revolução Francesa, movimento político que funda a época contemporânea e coloca as massas como protagonistas de transformações sociais profundas. A perspectiva básica que reunia todos os segmentos sociais envolvidos na revolução era a da necessidade de se criar uma ordem na qual o ser humano deveria ser o centro da vida política e social. Nada de reis ungidos, nem de poderes de origem divina. Cabia aos homens (no vocabulário da época) guiarem seus próprios destinos.
Mais recentemente, sob o impacto dos horrores da Segunda Guerra Mundial, cujo saldo de milhões de mortos incluía os assassinados em campos de extermínio e também os civis massacrados pelas duas bombas atômicas lançadas sobre o Japão, surgiu a Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela ONU em 1948. Nela são condenados o arbítrio e a tortura e garantidas a liberdade de expressão e o direito ao trabalho, entre outros.
Dessa ótica, procurava-se manter, ainda que sob o capitalismo, garantias mínimas para uma vida digna a todos os seres humanos. Os tempos eram outros, os chamados “anos gloriosos”, nos quais as economias capitalistas ocidentais cresciam num ritmo frenético e a existência do bloco socialista alimentava sonhos concretos de revolução.
Mais de meio século depois, a conjuntura é diversa A devastação neoliberal, resposta às crises estruturais do capitalismo e aos movimentos sociais e políticos que protagonizaram a cena política nas décadas de 1960 e 1970, explicitou a contradição estrutural entre o direito à propriedade privada e a defesa da vida humana. O compromisso com o lucro e com a manutenção da (des)ordem do capital gerou desemprego, fragmentação, individualismo e desesperança em meio ao hiperconsumo e à mercantilização radical da vida humana.
Não podendo mais ser incoporada via emprego ou consumo, a classe trabalhadora se tornou uma massa de seres supérfluos, alvo de uma criminalização alimentada pela mídia oligopolizada e propagandista do pensamento único.
Como classes perigosas, esses supérfluos são agora objeto não mais de políticas de bem estar social, mas sim de penalização que os condena às prisões ou mesmo ao extermínio.
Nesse contexto mundial, vivemos no Brasil uma exacerbação dessa situação. Campeões em desigualdade, sem tradição democrática popular, com um ensino público sucateado há décadas e herdeiros de um ainda recente e vivo passado escravocrata, assistimos a globalização de práticas há muito conhecidas entre nós. Como diz Marcelo Yuka: “todo camburão tem um pouco de navio negreiro”.
De um lado, temos uma mídia criminosa que estigmatiza os pobres e torce pela limpeza étnica que as políticas de (in)segurança vêm realizando em periferias e favelas, criando a idéia de uma guerra que rende muita audiência e contratos publicitários. De outro, uma classe média amedrontada e acuada, desprovida da experiência fundamental de convívio com as classes populares que era gerada em espaços como a escola pública, agora esvaziada desse papel social. Não é de se estranhar a proliferação de discursos que relativizam os direitos humanos, legitimando práticas como tortura e execuções sumárias e acusando os que falam em nome do combalido estado de direito de serem defensores dos criminosos. Trata-se de uma combinação explosiva.
E o que é dinamitado com essa explosão? A própria idéia de ser humano, de humanidade. Em última análise, os que atiram contra os direitos humanos não estão dizendo que certas pessoas têm direitos e outras não. Mas sim que alguns são humanos de verdade, enquanto que outros não merecem tal designação. A questão é definir quem decide sobre a humanidade de quem. E aí não há Alto Leblon que escape. Todos acabam prisioneiros dessa lógica perversa. Tantos os que são executados nas favelas, quanto os que viram alvo de cruzadas moralizantes e violentas de playboys espancadores oriundos da classe média.
O menino da favela que morre com um tiro da polícia no peito em frente de casa e o outro que leva uma bala na cabeça, provavelmente vinda de uma moradia luxuosa de um bairro ainda mais luxuoso. A cada vez que um capitão Nascimento é chamado, morre mais um pouco de nossa humanidade.
Há décadas atrás, um dos nossos maiores poetas, o pernambucano Manuel Bandeira, escreveu uma poesia que considero mais atual hoje do que então:
O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Publicado originalmente em http://www.fazendomedia.com/
Porto Alegre (RS) – As atividades agrícolas vêm desempenhando um papel cada vez mais devastador sobre o meio ambiente. Um relatório da Organização Não-governamental Greenpeace mostra que a agricultura hoje é uma das maiores fontes de emissão de gases do efeito estufa, causadores do aquecimento global.
O documento Mudanças do Campo, Mudanças do Clima, mostra que a agricultura baseada no uso intensivo de energia e produtos químicos vem provocando um aumento nas emissões de gases de efeito estufa. Isso ocorre em função do excessivo uso de fertilizantes, e práticas como desmatamento e criação intensiva de animais. Segundo a bióloga da Fundação Zoobotânica Luiza Chomenko, é preciso pensar não apenas no impacto de um produto em si, mas sim em toda a sua cadeia de produção, especialmente a do agronegócio.
“Tu tens um produto em si, que muitas vezes libera, mas tem uma coisa antes. Para produzir esse agrotóxico, tu tens um processo industrial. Se aí for fazer o balanço do CO2, vai ver que é altamente poluidora a agricultura. E ela vai ser poluidora depois também. Na hora em que vai colher, precisa de grande maquinário, novamente tem que usar combustível, tem que fabricar a máquina, de novo vai consumir energia, liberar CO2”, explica.
Para a bióloga, a agricultura familiar se constitui em uma das formas mais sustentáveis de produção, pois não utiliza um maquinário tão pesado como o agronegócio e nem agrotóxicos tão potentes. No entanto, em vez de haver um incentivo para os pequenos produtores, ocorre o incentivo do plantio em larga escala de matéria-prima para biocombustíveis. Segundo Luiza, lembra que essa matéria-prima provém das monoculturas, grandes responsáveis pela destruição dos ecossistemas naturais.
“Nós estamos produzindo basicamente biodiesel a partir da soja. Embora haja outros produtos passíveis de serem utilizados, nós usamos a soja, que há muito tempo deixou de ser qualquer coisa ecologicamente correta”, diz.
Na avaliação de Luiza, a solução para muitos problemas ambientais, como o aquecimento global, passa pela conscientização dos cidadãos e pela revisão do atual modelo econômico, baseado no consumo excessivo.
“Tu vê que nós estamos discutindo hoje mudança no uso do combustível. Mas nós não estamos discutindo mudanças do modelo de transporte. Cada vez mais carros mais potentes, estradas mais saturadas. Essa é uma política que mundialmente deveria começar a ser discutida e revista”, afirma.
Em encontro realizado em La Paz, participantes discutem como viabilizar sociedades que levem em conta as cosmovisões dos diversos povos da América Latina
Igor Ojeda,
de La Paz (Bolivia)
O exemplo da Bolívia deve ser levado a todos os países da América Latina. A missão foi aceita por representantes de organizações indígenas de vários países do continente durante o seminário “Povos Indígenas, Constituições e Estados Plurinacionais”, realizado em La Paz, na Bolívia, de terça-feira (15) e a quinta-feira (17).
O foco é a viabilização de sociedades baseadas em novos paradigmas, que levem em conta as cosmovisões dos diversos povos originários da região, excluídos da participação política desde a chegada de Cristóvão Colombo. Eles exigem não serem mais vistos como folclore, e sim como sujeitos.
Na declaração final do evento, realizado pela Coordenadora Andina de Organizações Indígenas (CAOI), organização criada em julho do ano passado, os participantes ratificam sua “firme decisão de Povos Indígenas de integrar o Abya Yala [América], para reconstruir nossos Povos, lutando pela inclusão e a construção de Estados Plurinacionais e Sociedades Interculturais, com novos governos que reconheçam nossos territórios e direitos coletivos e implementem políticas públicas, saberes e democracias interculturais, tendo como princípio para as sociedades a Unidade na Diversidade, e como construção de sociedades alternativas sobre a base das propostas dos Povos Indígenas”.
Oportunidade
Para os participantes, uma janela de oportunidade foi aberta para se construir sociedades alternativas, diante da falência dos “velhos Estados-Nação, cada vez mais privatizados e desnacionalizados”. Oportunidade aproveitada pela Bolívia, onde “o movimento indígena e a sociedade excluída da política eurocêntrica (neocolonial) vêm lutando para conseguir mudanças e é o fascismo da direita, que impede, bloqueia, sabota e manipula meios de comunicação para impedir que se concretize as mudanças pelas quais votou a ampla maioria da Bolívia, através do irmão presidente Evo Morales”.
Ainda sobre a Bolívia, o documento convoca a solidariedade com a luta do seu povo, e anuncia um “alerta (...) permanente diante de qualquer ameaça (...) dos poderes transnacionais de sempre”.
Com vistas na próxima nação que pode se espelhar nesse exemplo, os participantes do encontro decidiram respaldar a Assembléia Constituinte do Equador, na expectativa “que permita viabilizar o Estado Plurinacional com a participação das Nacionalidades e Povos Indígenas com a finalidade de construir um país solidário, recíproco e eqüitativo para garantir a estabilidade institucional e política a médio e longo prazo”.
Compareceram ao seminário representantes dos povos Aymara, Quéchua, Poqra, Mapuche, Kichwa, Pemón, Miskitu, Guarani, Ayoreo e Chiquitano, provenientes da Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Argentina (formadores, com o Chile, da CAOI), Venezuela, Nicarágua, Honduras e Paraguai. O Brasil esteve representado como integrante da Coordenadora de Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA) e através do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
Dominação
Luis Evelis, da Organização Nacional Indígena da Colômbia (ONIC), lembrou que os Estados-Nações possuem características monolíticas, que procuram estabelecer sociedades homogêneas, como condição para a “modernidade” e como meio de dominação. Ou seja, não reconhecem e buscam invisibilizar as “diferenças regionais, ambientais e culturais”.
Guillermo Churuchumbi, da Confederação dos Povos Kichwa do Equador (Ecuarunari), listou os elementos de um Estado Plurinacional: economia comunitária; reconhecimento do sistema de saúde tradicional; administração e justiça comunitárias; educação bilíngüe e intercultural; organização política própria, com reordenamento territorial; princípios de reciprocidade e respeito entre os povos; e políticas públicas interculturais.
Segundo ele, é essencial a construção de conceitos que tratam o Estado Plurinacional, para que as lutas não se limitem em si mesmas. A necessidade da formação política, intelectual e técnica dos indígenas foi destacada em várias falas dos participantes, assim como a socialização das discussões teóricas com as bases.
Obstáculos
Se a situação na Bolívia é mais esperançosa, o mesmo não acontece na Argentina. De acordo com o mapuche Jorge Ñancucheo, vice-presidente da Organização de Nações e Povos Indígenas na Argentina (Onpia), “no futuro do país, construir um Estado Plurinacional é impensável”. Para ele, o racismo na sociedade local é muito forte, o que faz com que a participação política seja nula.
Grandes dificuldades também são encontradas no Peru. Segundo o antropólogo peruano Rodrigo Montoya, os povos indígenas locais não têm força para mudar o rumo das coisas. “A política de Alan Garcia [o presidente] está diretamente inspirada no que ocorre na Bolívia: para que não ocorra o mesmo”.
No entanto, na opinião de três deputados constituintes bolivianos, a nova Constituição do país, embora signifique um inegável avanço, ainda não é a ideal. Segundo eles, a lei de convocatória da Assembléia Constituinte não permitiu a participação direta dos povos originários; isso se deu somente através de partidos políticos.
De acordo com um deles, o constituinte pela Movimiento Al Socialismo (partido de Evo) Raúl Prada, a nova Carta Magna ainda possui muitos preceitos liberais. “É uma Constituição de transição. Não se institucionaliza totalmente as demandas indígenas”.