Falso verniz nacionalista justifica reforço do monopólio nas telecomunicações | | | |
Mateus Alves - CorreioDaCidadania | |
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De acordo com informações oficiais, o anúncio da fusão das empresas já foi feita ao Planalto e o trâmite burocrático já começa a ser preparado, pois existem empecilhos legais, estabelecidos com a privatização do setor, que impedem que uma única empresa de telefonia esteja presente em todos os estados da federação.
Como principal motivo a justificar a fusão das empresas, o governo, por meio de seu ministro das Comunicações, Hélio Costa, cita a necessidade de uma empresa de capital majoritariamente nacional, que conte com capacidade de controle por parte do Estado e que seja capaz de competir com as duas outras grandes empresas de telecomunicações que atuam país: a Telefónica espanhola, responsável também pelas operações da rede de celulares Vivo, e a Telmex, empresa de origem mexicana que controla a Embratel e a Claro.
Segundo Costa, a criação de uma megaempresa de telecomunicações brasileira é uma “grande oportunidade que o Brasil tem de oferecer melhores serviços e de não ficar, evidentemente, nas mãos de grupos internacionais”.
A megaempresa, que passaria a ser a maior operadora de telefonia do Brasil, não seria estatal, podendo ter capital privado e estrangeiro. No entanto, uma cláusula golden share, que impossibilitaria sua venda sem a aprovação do governo, poderia também estar presente em sua constituição – fato que já ocorre, por exemplo, com a Embraer. Uma outra possibilidade seria a instalação de vetos por parte do BNDES como acionista da nova empresa.
Em relação às manobras para viabilizar e legalizar a fusão, Marcos Dantas, especialista do setor e professor do Departamento de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, acredita que estas já se encontram em estágio avançado. “Se estão falando sobre isso agora é porque já existe um encaminhamento político dessa questão junto às esferas governamentais”, diz.
As principais mudanças na legislação brasileira se dariam no âmbito de uma alteração no Plano Geral de Outorga, cujo intuito é impedir a formação de monopólios no setor. Para adequar a nova empresa às leis vigentes, o Plano precisaria ser alterado – fato que poderá acontecer através de um decreto presidencial.
Negociações nebulosas
A fusão entre as empresas, no entanto, tem sido pouco divulgada para a mídia e para a sociedade em geral, deixando as negociações em um campo nebuloso e trazendo dúvidas sobre as reais intenções do governo ao permitir a fusão.
“Todas as informações sobre a fusão chegam de forma vazada, não há transparência”, diz Samuel Possebon, jornalista, consultor e pesquisador na área de comunicações. Para ele, o governo precisa dar uma boa justificativa para permitir a fusão e a mudança no Plano Geral de Outorga.
“Os únicos que serão beneficiados com a fusão, primeiramente, serão os grupos privados que administrarão a nova empresa”, continua Possebon. Para o jornalista, eventuais benefícios para a população só viriam com a instalação de uma política de Estado que incluísse a empresa. “Estamos na expectativa de que o governo anuncie a sua posição”, completa.
A fusão também sofre críticas por parte de entidades voltadas à defesa do consumidor, preocupadas com a diminuição da concorrência no setor. De acordo com Luiz Fernando Moncau, advogado do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), “a competitividade prometida com a privatização nunca aconteceu e agora a gente caminha cada vez mais para uma situação em que poucas empresas vão monopolizar esse serviço”.
A fusão entre as empresas também levanta questionamentos do ponto de vista ético, uma vez que a Oi possui sociedade na empresa Gamecorp com Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do atual presidente brasileiro.
Samuel Possebon, no entanto, acredita que tal fato não está influenciando na decisão, pois não existem denúncias de lobbies e de favorecimentos. “No entanto, o assunto deverá fazer parte da explicação que o governo deve dar sobre a autorização da fusão”, diz.
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