quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Falso verniz nacionalista justifica reforço do monopólio nas telecomunicações



Mateus Alves - CorreioDaCidadania


A provável fusão entre duas das principais empresas de telefonia do país, a Brasil Telecom e a Oi (ex-Telemar), já vem sendo anunciada há algum tempo – assim como os planos do governo de retomar seu papel no setor, considerado de fundamental importância estratégica.

De acordo com informações oficiais, o anúncio da fusão das empresas já foi feita ao Planalto e o trâmite burocrático já começa a ser preparado, pois existem empecilhos legais, estabelecidos com a privatização do setor, que impedem que uma única empresa de telefonia esteja presente em todos os estados da federação.

Como principal motivo a justificar a fusão das empresas, o governo, por meio de seu ministro das Comunicações, Hélio Costa, cita a necessidade de uma empresa de capital majoritariamente nacional, que conte com capacidade de controle por parte do Estado e que seja capaz de competir com as duas outras grandes empresas de telecomunicações que atuam país: a Telefónica espanhola, responsável também pelas operações da rede de celulares Vivo, e a Telmex, empresa de origem mexicana que controla a Embratel e a Claro.

Segundo Costa, a criação de uma megaempresa de telecomunicações brasileira é uma “grande oportunidade que o Brasil tem de oferecer melhores serviços e de não ficar, evidentemente, nas mãos de grupos internacionais”.

A megaempresa, que passaria a ser a maior operadora de telefonia do Brasil, não seria estatal, podendo ter capital privado e estrangeiro. No entanto, uma cláusula golden share, que impossibilitaria sua venda sem a aprovação do governo, poderia também estar presente em sua constituição – fato que já ocorre, por exemplo, com a Embraer. Uma outra possibilidade seria a instalação de vetos por parte do BNDES como acionista da nova empresa.

Em relação às manobras para viabilizar e legalizar a fusão, Marcos Dantas, especialista do setor e professor do Departamento de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, acredita que estas já se encontram em estágio avançado. “Se estão falando sobre isso agora é porque já existe um encaminhamento político dessa questão junto às esferas governamentais”, diz.

As principais mudanças na legislação brasileira se dariam no âmbito de uma alteração no Plano Geral de Outorga, cujo intuito é impedir a formação de monopólios no setor. Para adequar a nova empresa às leis vigentes, o Plano precisaria ser alterado – fato que poderá acontecer através de um decreto presidencial.

Negociações nebulosas

A fusão entre as empresas, no entanto, tem sido pouco divulgada para a mídia e para a sociedade em geral, deixando as negociações em um campo nebuloso e trazendo dúvidas sobre as reais intenções do governo ao permitir a fusão.

“Todas as informações sobre a fusão chegam de forma vazada, não há transparência”, diz Samuel Possebon, jornalista, consultor e pesquisador na área de comunicações. Para ele, o governo precisa dar uma boa justificativa para permitir a fusão e a mudança no Plano Geral de Outorga.

“Os únicos que serão beneficiados com a fusão, primeiramente, serão os grupos privados que administrarão a nova empresa”, continua Possebon. Para o jornalista, eventuais benefícios para a população só viriam com a instalação de uma política de Estado que incluísse a empresa. “Estamos na expectativa de que o governo anuncie a sua posição”, completa.

A fusão também sofre críticas por parte de entidades voltadas à defesa do consumidor, preocupadas com a diminuição da concorrência no setor. De acordo com Luiz Fernando Moncau, advogado do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), “a competitividade prometida com a privatização nunca aconteceu e agora a gente caminha cada vez mais para uma situação em que poucas empresas vão monopolizar esse serviço”.

A fusão entre as empresas também levanta questionamentos do ponto de vista ético, uma vez que a Oi possui sociedade na empresa Gamecorp com Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do atual presidente brasileiro.

Samuel Possebon, no entanto, acredita que tal fato não está influenciando na decisão, pois não existem denúncias de lobbies e de favorecimentos. “No entanto, o assunto deverá fazer parte da explicação que o governo deve dar sobre a autorização da fusão”, diz.

Heima Documentário

A banda Sigur Rós decidiu encerrar a turnê do disco Takk (2005) durante o verão islandês de 2006 viajando por diversos lugares da ilha realizando concertos abertos ao público. A experiência foi registrada em vídeo e transformado no documentário Heima, dirigido por Dean DeBlois. O documentário foi lançado em setembro do ano passado durante o Festival Internacional de Cinema de Reykjavík, onde foi premiado. Em meio aos cenários paradisíacos, a banda contou ainda com o suporte de um quarteto de cordas feminino durante as apresentações. Que em sua maioria, são construídas através de singelezas que podem partir do vento uivando dentro de uma caverna ou de um prédio em ruínas, ou apenas pela simples vontade de tocar ao vivo. Fonte
Créditos: MakingOff - Distanásia
Gênero: Documentário / Música
Diretor: Dean DeBlois
Duração: 97 minutos
Ano de Lançamento: 2007
País de Origem: Islândia
Idioma do Áudio: Inglês / Islandês
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1094594
Site Oficial: http://www.heima.co.uk

Qualidade de Vídeo:
DVD Rip
Vídeo Codec: XviD
Vídeo Bitrate: 874 Kbps
Áudio Codec: MP3
Áudio Bitrate: 124
Resolução: 608x336
Formato de Tela: Widescreen
Frame Rate: 25.000 FPS
Tamanho: 699 Mb
Legendas: Em anexo
Existem alguns momentos, principalmente nos pequenos lugares fechados, que a suposta concentração do público em cima da banda é tão grande quanto à de uma criança autista, o que nos dá a impressão muitas vezes de se tratar de um público de figurantes. Mas ainda assim, Heima vence pelas paisagens belíssimas e o amor de seu povo. Ao contrário das idéias pré-formadas, um povo caloroso e muito inteligente. Conscientes de sua ancestralidade e do seu próprio lar, o qual enxergam como um dos últimos paraísos intocados da terra. Visão que passa a ser compartilhada pela banda, que se mostra mais regionalista do que nunca dentro de suas próprias experimentações. Fonte

Dowloads abaixo:



Yusef Lateef - Live at Pep's Vol. 1 e 2(1964)

http://i19.tinypic.com/4ygb72d.jpg

Uploader: redbhiku

Yusef Lateef - Live at Pep's Vol. 1 (1964)
MP3 / 256Kbps / RS.com: 65mb + 47mb


Personnel:

Yusef Lateef: tenor saxophone, flute, bamboo flute, oboe, shenai, argol
Richard Williams: trumpet
Mike Nock: piano
Ernie Farrow: bass
James Black: drums

Tracks:

1. Sister Mamie 5:26
2. Number 7 9:39
3. Twelve Tone Blues 4:50
4. Oscarlypso 7:44
5. Gee Sam Gee 6:37
6. Rogi 6:43
7. See See Rider 5:21
8. The Magnolia Triangle 5:14
9. The Weaver 5:39
10. Slippin' & Slidin' 3:25

Downloads abaixo:

Part 1
Part 2


http://i14.tinypic.com/4uc36eh.jpg


Yusef Lateef - Live at Pep's Volume Two (1964)
MP3 / 192Kbps / 58m:56s / RS.com: 84mb / cover


Tracks:
1. Brother John
2. P-Bouk
3. Nu-Bouk
4. Yusef's Mood
5. I Remember Clifford
6. Listen To The Wind
7. I Loved
8. Delilah
9. The Magnolia Triangle (Alternative Version)

Download abaixo:

File



O PARADOXO DAS COTAS

Juremir Machado

Jamais alguém duvidou da originalidade brasileira. Não me canso de repetir isso. É o meu lado original. Os gaúchos são brasileiros (embora com algumas ressalvas e um pouco menos de flexibilidade na cintura). Logo, os gaúchos são originais. Porto Alegre, por exemplo, tem o mais belo pôr-do-sol do mundo. Falta apenas convencer o mundo dessa originalidade. Ou ser mais preciso: Porto Alegre tem o mais belo pôr-do-sol do mundo sobre o Guaíba. Prefiro esta última formulação. É muito mais original. Agora, num assunto muito sério, as cotas nas universidades, também estamos querendo ser originais. Ou malandros. Como qualquer um sabe, o sistema de cotas reserva vagas em universidades públicas para indivíduos de grupos sociais historicamente prejudicados.
Optou-se por reservar vagas por critérios étnicos e para estudantes oriundos de escolas públicas. Depois do vestibular da Ufrgs, porém, muitos estudantes resolveram entrar na Justiça por terem ficado de fora mesmo alcançando índices de rendimento mais altos do que aqueles obtidos por cotistas selecionados. Parece até piada de português. Esse é o princípio mesmo das cotas. Com índices superiores aos dos concorrentes, ninguém precisaria de reserva de vagas. Elementar. Trocando em miúdos, os defensores do mérito acima de tudo estão, mais uma vez, tentando melar o sistema de cotas. Mas ele é necessário. Basta dar um passeio nas universidades gaúchas para ver que nelas praticamente não há negros.
A questão das cotas para estudantes oriundos de escolas públicas poderia ser vista até como mais injusta. A escola pública é deficiente porque os governos não lhes dão as condições de serem muito boas. Então se deve garantir ao seu egresso a possibilidade de chegar à universidade mesmo sendo pior. É uma forma de absolver os governos da incompetência e do desinteresse pela educação básica. Em vez de se elevar o nível das escolas públicas, diminui-se o nível de exigência na entrada para o ensino superior. Claro que as cotas étnicas também expressam a incompetência dos governos em resolver problemas sociais históricos. Mas, ao mesmo tempo, elas permitem enfrentar o racismo dissimulado da cultura brasileira e começar a pagar uma dívida secular e vergonhosa. Não há outro jeito. Sem cotas, os negros continuarão excluídos.
Há uma forma muito simples de se eliminar a necessidade de cotas: garantia de vagas em universidades para todos os estudantes que forem aprovados num exame de saída do ensino médio. Na França é assim. Pode-se fazer isso com ensino público e gratuito para todo mundo ou com um sistema misto como o nosso, concedendo-se bolsas em instituições privadas para o excedente das públicas. A limitação de vagas, a serem disputadas em vestibular, não é o sistema do mérito, mas o sistema da hipocrisia. A sociedade brasileira, em lugar de criar condições para que todos os seus jovens cursem uma universidade, algo que custa caro, manda que eles se engalfinhem e decidam na base de uma competição falsamente meritória. Quem perde é o país. A sociedade lava as mãos bem sujas.
Somos originais. Queremos sempre o caminho mais longo. Ele nos parece tão curto. É mais interessante do que pagar a conta da educação completa de todos os nossos jovens. Não há mérito algum em vencer um candidato que nunca teve condições de preparar-se para a competição.(GRIFOS MEUS)

texto enviado por Marco Vargas
juremir@correiodopovo.com.br

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

A Trilogia do Apartamento (Roman Polanski)



Paranóia e vizinhos.


Isso é o que liga os três filmes da famosa trilogia de Polanski. Cada um a sua maneira são um mergulho num inferno urbano de seus próprios lares.



Repulsa ao Sexo, O Bebê de Rosemary e O Inquilino.






Esses 3 filmes geralmente figuram entre os melhores do diretor polonês.






O MOVIMENTO CINEMA LIVRE traz agora, com legendas em português, todos os três filmes da trilogia do apartamento.




Repulsa ao Sexo
(Repulsion, ING) 1965
Com: Catherine Deneuve, Ian Hendry, John Fraser, Yvonne Furneaux, Patrick Wymark, Renee Houston, Valerie Taylor, James Villiers, Helen Fraser, Hugh Futcher, Roman Polanski. 105 minutos
Em Londres Carol Ledoux (Catherine Deneuve) é uma bela mulher que é sexualmente reprimida e vive com sua irmã mais velha. Ela constantemente resiste aos assédios do seu namorado e também desaprova o amante da irmã. Quando esta viaja com ele em férias, Carol fica sozinha no apartamento e se afunda em uma profunda depressão, passando a ter várias alucinações.
Repulsa ao Sexo é o primeiro filme realizado por Roman Polanski fora da Polônia.

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LEGENDAS:




O Bebê de Rosemary
(Rosemary's Baby, EUA) 1968
Com: Mia Farrow, John Cassavetes, Ruth Gordon, Sidney Blackmer, Maurice Evans, Ralph Bellamy, Victoria Vetri, Patsy Kelly, Elisha Cook Jr., Emmaline Henry, Charles Grodin, Hanna Landy, Phil Leeds, Marianne Gordon. 142 minutos
Um jovem casal se muda para um prédio habitado por estranhas pessoas. Quando ela (Mia Farrow) engravida, passa a ter estranhas alucinações e vê seu marido (John Cassavetes) se envolver com os vizinhos, que ela acredita pertecerem a uma seita de bruxas que quer que ela dê à luz ao Filho das Trevas.
Obs.: Para fazer as cenas de rituais e cânticos satânicos serem o mais realista possível, o diretor Roman Polanski contou com o auxílio de Anton LaVey, fundador da Igreja de Satã e autor de "The Satanic Bibles", que serviu como consultor nestas cenas.
Oito anos após o lançamento de O Bebê de Rosemary, foi produzida para a TV americana uma sequência do filme, entitulada Look What's Happened to Rosemary's Baby.
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LEGENDAS:




O Inquilino
(Le Locataire, FRA) 1976
Com: Roman Polanski, Isabelle Adjani, Melvyn Douglas, Jo Van Fleet, Bernard Fresson, Lila Kedrova, Claude Dauphin, Claude Piéplu, Rufus, Romain Bouteille, Jacques Monod, Patrice Alexsandre, Shelley Winters. 125 minutos
Trelkovsky (Roman Polanski), um polonês que está vivendo na França, aluga um apartamento em um estranho e antigo edifício residencial, onde seus vizinhos, que na sua maioria são velhos reclusos, o observam com um misto de desprezo e suspeita. Ao descobrir que Stella (Isabelle Adjani), a última inquilina do apartamento, era uma mulher jovem e bela que cometera suicídio ao pular da janela, Trelkovsky gradativamente fica obcecado com a mulher morta. A obsessão e o clima do local, mesclado com o comportamento incomum dos vizinhos, faz Trelkovsky se convencer de que seus vizinhos planejam matá-lo.

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LEGENDAS:

RS QUER PRENDER O HOMEM QUE PODE SALVAR O PLANETA...

Ayrton Centeno escreve: Henry Saragih passou por maus bocados em março de 2006, em Porto Alegre. A começar por uma entrevista coletiva onde baixou o Caboclo Paulão e alguns dos perguntadores, possuídos pela Entidade, só faltaram dizer “Mentiu pro tio, contou pro vô? A casa caiu, a cobra fumô!” e bater com o jornal na mesa. Ali mesmo, Saragih foi intimado pela polícia a se apresentar em uma delegacia. Deu explicações durante horas. Acabou indiciado com mais 34 pessoas. Deixou o Rio Grande do Sul com um processo no lombo e sob o ladrar uníssono dos cães de guarda do pensamento único.

Independentemente do juízo que cada um possa ter sobre a arremetida, no dia 8 de março de 2006, Dia Internacional da Mulher, de centenas de colonas contra o viveiro da empresa Aracruz, em Barra do Ribeiro – incluindo-se aí quem julga que foi uma grande e necessária façanha até aqueles que trataram o assunto como a versão vegetal do Holocausto, passando por quem avalia que não passou de um singelo tiro no pé – o único crime provado, confesso aliás, de Saragih foi dar declarações favoráveis à razzia contra a transnacional. Talvez amanhã ou depois, não se sabe, o quadro mude e haja uma condenação e a operosa polícia gaúcha possa, enfim, fazê-lo ver o sol nascer quadrado, o que agradaria sobremaneira a singular - no sentido mais preciso de que não é plural - mídia bombachuda.

Seria uma cena bastante pitoresca e, mais do isso, paradoxal, de interesse muito além do Mampituba. Sim, porque a História, esta dama volúvel, arrumou outra tarefa para Saragih, bem mais nobre do que aquecer o cimento do Presídio Central. E ela manifestou tal capricho através de um painel de especialistas convocado pelo jornal londrino The Guardian. Pois não é que esta turma apontou Saragih como uma das 50 pessoas que podem salvar o planeta? Santa Monocultura! Por mil eucaliptos! Como é que os ingleses fizeram isso?

Pois é. Não só fizeram como colocaram o diabo do Saragih acolherado com gente de fino trato, que faria a mídia provinciana escorrer rios de saliva gravata abaixo. Com sua cara redonda e risonha de mexicano escalado para morrer em faroeste gringo, Saraigh aparece lado a lado com o ator Leonardo Di Caprio, o ex-vice presidente norte-americano e Prêmio Nobel da Paz, Al Gore, a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel e o ex-vocalista da banda Midnight Oil, Peter Garrett, hoje ministro do Meio-Ambiente da Austrália, entre outros e outras.

Saragih foi escolhido, segundo o jornal britânico, porque, líder de milhões de camponeses indonésios, é o sujeito que está no caminho das grandes companhias que devastam florestas tropicais para produzir óleo de palma. Pondera que Saragih, secretário-geral da Via Campesina – que comanda campanhas pela reforma agrária em 80 países – defende os pequenos agricultores junto às Nações Unidas e à Organização Mundial do Comércio (OMC). O resultado desta luta, diz The Guardian, será responsável pela sobrevivência ou não das florestas no sudeste asiático e, possivelmente, determinará o futuro político de muitos países em desenvolvimento.

Na imprensa local, nem um pio, um gemido, um ameaço de vírgula sobre o assunto. Apesar do sabor da pauta, que explicita, de modo brutal, o abismo que separa duas visões dos movimentos sociais, aqui pintados como a décima-primeira praga do Egito e não uma expressão da sociedade civil organizada. Como demonstra, aliás, a rastejante matéria (18/01) de Zero Hora sobre a patética operação de guerra da BM em Pontão, pulsante de desprezo pelos mais fracos e de uma adulação babosa por quem tem o mando e o comando. Quanto à Saragih há duas interpretações para o silêncio. Sob a inspiração de São Francisco, que antecedeu Saragih em alguns séculos na proteção à natureza, fico - mesmo sabendo-a a menos provável - com a mais piedosa delas: a simples, boa e velha ignorância.

Marco Weissheimer


Intelectuais apolíticos
por Otto Rene Castillo [*]


Um dia,

os intelectuais
apolíticos
do meu país
serão interrogados
pelo homem
simples
do nosso povo

Serão perguntados
sobre o que fizeram
quando
a pátria se apagava
lentamente,
como uma fogueira frágil,
pequena e só.

Não serão interrogados
sobre os seus trajes,
nem acerca das suas longas
siestas
após o almoço,
tão pouco sobre os seus estéreis
combates com o nada,
nem sobre sua ontológica
maneira
de chegar às moedas.
Ninguém os interrogará
acerca da mitologia grega,
nem sobre o asco
que sentiram de si,
quando alguém, no seu fundo,
dispunha-se a morrer covardemente.
Ninguém lhes perguntará
sobre suas justificações
absurdas,
crescidas à sombra
de uma mentira rotunda.
Nesse dia virão
os homens simples.
Os que nunca couberam
nos livros e versos
dos intelectuais apolíticos,
mas que vinham todos os dias
trazer-lhes o leite e o pão,
os ovos e as tortilhas,
os que costuravam a roupa,
os que manejavam os carros,
cuidavam dos seus cães e jardins,
e para eles trabalhavam,
e perguntarão,
"Que fizestes quando os pobres
sofriam e neles se queimava,
gravemente, a ternura e a vida?"

Intelectuais apolíticos
do meu doce país,
nada podereis responder.

Um abutre de silêncio vos devorará
as entranhas.
Vos roerá a alma
vossa própria miséria.
E calareis,
envergonhados de vós próprios.


[*] Revolucionário guatemalteco (1936-1967), guerrilheiro e poeta. A seguir ao golpe de 1954 patrocinado pela CIA, que derrubou o governo democrático de Jacobo Arbenz , Castillo teve de exilar-se em El Salvador. Voltou à Guatemala em 1964, onde militou no Partido dos Trabalhadores, fundou o Teatro Experimental e escreveu numerosos poemas. No mesmo ano foi preso mas conseguiu fugir. Regressou ao exílio, desta vez na Europa. Posteriormente retornou secretamente à Guatemala e incorporou-se a um dos movimentos guerrilheiros que operavam nas montanhas de Zacapa. Em 1967, Castillo e outros combatentes revolucionários foram capturados. Ele, juntamente com camaradas seus e camponeses locais, foram brutalmente torturados e a seguir queimados vivos.

Este poema encontra-se em

http://www.resistir.info/a_central/intelectuais_apoliticos.html

DIREITO AO DELÍRIO

Eduardo Galeano

Já está nascendo o novo milênio. Não dá para levar muito a sério o assunto: afinal, o ano 2001 dos cristãos é o ano 1421 dos muçulmanos, o 5114 dos maias e o 5761 dos judeus. O novo milênio nasce num 1.º de janeiro por obra e graça de um capricho dos senadores do Império Romano, que um bom dia decidiram quebrar a tradição que mandava celebrar o ano-novo do começo da primavera. E a conta dos anos da era cristã deriva de outro capricho: um bom dia, o papa de Roma decidiu datar o nascimento de Jesus, embora ninguém saiba quando nasceu. O tempo zomba dos limites que lhe atribuímos para crer na fantasia de que nos obedece; mas o mundo inteiro celebra e teme essa fronteira.
Milênio vai, milênio vem, a ocasião é propícia para que os oradores de inflamado verbo discursem sobre os destinos da humanidade e para que os porta-vozes da ira de Deus anunciem o fim do mundo e o aniquilamento geral, enquanto o tempo, de boca fechada, continua sua caminhada ao longo da eternidade e do mistério.
Verdade seja dita, não há quem resista: numa data assim, por arbitrária que seja, qualquer um sente a tentação de perguntar-se como será o tempo que será. E vá-se lá saber como será. Temos uma única certeza: no século 21, se ainda estivermos aqui, todos nós seremos gente do século passado e, pior ainda, do milênio passado.
Embora não possamos adivinhar o tempo que será, temos, sim, o direito de imaginar o que queremos que seja. Em 1948 e em 1976, as Nações Unidas proclamaram extensas listas de direitos humanos, mas a imensa maioria da humanidade só tem o direito de ver, ouvir e calar. Que tal começarmos a exercer o jamais proclamado direito de sonhar? Que tal delirarmos um pouquinho? Vamos fixar o olhar num ponto além da infâmia para adivinhar outro mundo possível:
O ar estará livre de todo o veneno que não vier dos medos humanos e das humanas paixões;

Nas ruas, os automóveis serão esmagados pelos cães;

As pessoas não serão dirigidas pelos automóveis, nem programadas pelo computador, nem compradas pelo supermercado e nem olhadas pelo televisor;

O televisor deixará de ser o mais importante membro da família e será tratado como o ferro de passar e a máquina de lavar roupa;

As pessoas trabalharão para viver, em vez de viver para trabalhar;

Será incorporado aos códigos penais o delito da estupidez, cometido por aqueles que vivem para ter e para ganhar, em vez de viver apenas por viver, como canta o pássaro sem saber que canta e como brinca a criança sem saber que brinca;

Em nenhum país serão presos os jovens que se negarem a prestar o serviço militar, mas irão para a cadeia os que desejarem prestá-lo;

Os economistas não chamarão nível de vida o nível de consumo, nem chamarão qualidade de vida a quantidade de coisas;

Os cozinheiros não acreditarão que as lagostas gostam de ser fervidas vivas;

Os historiadores não acreditarão que os países gostam de ser invadidos;

Os políticos não acreditarão que os pobres gostam de comer promessas;Ninguém acreditará que a solenidade é uma virtude e ninguém levará a sério aquele que não for capaz de deixar de ser sério;

A morte e o dinheiro perderão seus mágicos poderes e nem por falecimento ou fortuna o canalha será transformado em virtuoso cavaleiro;

Ninguém será considerado herói ou pascácio por fazer o que acha justo em lugar de fazer o que mais lhe convém;

O mundo já não estará em guerra contra os pobres, mas contra a pobreza, e a indústria militar não terá outro remédio senão declarar-se em falência;

A comida não será uma mercadoria e nem a comunicação um negócio, porque a comida e a comunicação são direitos humanos;

Ninguém morrerá de fome, porque ninguém morrerá de indigestão;

Os meninos de rua não serão tratados como lixo, porque não haverá meninos de rua;

Os meninos ricos não serão tratados como se fossem dinheiro, porque não haverá meninos ricos;

A educação não será privilégio de quem possa pagá-la;

A polícia não será o terror de quem não possa comprá-la;

A justiça e a liberdade, irmãs siamesas condenadas a viver separadas, tornarão a unir-se, bem juntinhas, ombro contra ombro;

Uma mulher, negra, será presidente do Brasil, e outra mulher, negra, será presidente dos Estados Unidos da América; e uma mulher índia governará a Guatemala e outra o Peru;

Na Argentina as loucas da Praça de Mayo serão um exemplo de saúde mental, porque se negaram a esquecer nos tempos da amnésia obrigatória;

A Santa Madre Igreja corrigirá os erros das tábuas de Moisés e o sexto mandamento ordenará que se festeje o corpo;

A Igreja também ditará outro mandamento, do qual Deus se esqueceu: "Amarás a natureza, da qual fazes parte";

Serão reflorestados os desertos do mundo e os desertos da alma;

Os desesperados serão esperados e os perdidos serão encontrados, porque eles são os que se desesperaram de tanto esperar e os que se perderam de tanto procurar;

Seremos compatriotas e contemporâneos de todos os que tenham aspiração de justiça e aspiração de beleza, tenham nascido onde tenham nascido e tenham vivido quando tenham vivido, sem que importem nem um pouco as fronteiras do mapa ou do tempo;

A perfeição continuará sendo um aborrecido privilégio dos deuses; mas neste mundo confuso e fastidioso, cada noite será vivida como se fosse a última e cada dia como fosse o primeiro.

Eduardo Galeano - De pernas para o ar - A escola do mundo ao avesso

Um novo mundo à nossa espera

Eis o paradoxo dos paradoxos: num mundo que há oitocentos anos se vê cada vez mais presa de potências econômicas e guerreiras, a palavra de transformação e esperança renasce no seu elo mais frágil, a América Latina sempre subalterna e sem vocações hegemônicas de vulto.

A leitura das duas últimas partes do livro de José Luís Fiori, “O poder global e a nova geopolítica das nações” (Boitempo Editorial), que se chamam e analisam “A nova conjuntura mundial” e “A América Latina”, suscitam teses paradoxais, além de um sentimento de perplexidade diante deste “mundo velho sem porteira”.

Fica um gosto meio amargo ao final da leitura do livro, o de que a guerra é inerente ao capitalismo, e que, portanto, estamos diante de uma inevitabilidade que pode se confirmar no futuro. Já estamos numa guerra, reconheceria o mais otimista dentre nós. Sim, diria o mais cético, só falta sabermos no meio de que guerra, ou guerras, estamos. Estaremos às portas de uma guerra entre a China e os Estados Unidos? Ou da China com a Índia? Ambas? Ou será que continuamos dentro da Guerra Fria agora sem ser travestida de ideologia, mas cruamente revelando sua natureza de cerco dos Estados Unidos contra a Rússia.

Uma tese governou toda a política externa norte-americana nos últimos sessenta e cinco anos: quem controla o Oriente Médio controla a Eurásia; quem controla a Eurásia governa o mundo. Mas para isso é necessário isolar a Rússia e impedir que ela se una à Europa Ocidental, sobretudo à Alemanha, união que no presente não é impossível que venha a se desenhar. Aí sim estaríamos diante de uma nova guerra de grande monta. As escaramuças de hoje no Afeganistão, no Iraque, em Israel e na Faixa de Gaza,, além do cerco ao Irã, seriam os capítulos iniciais dessa nova guerra que já se desenha no ar. Como ela se fará? Através das “armas limpas” que hoje quase prescindem de seres humanos que as pilotem, como os aviões despovoados capazes de despovoar regiões inteiras com suas bombas em ataques maciços, ou com as novas armas da “economia suja”, esta que também despovoa o futuro de povos e povos numa clicar de mouse? Não sabemos.

Este quadro vem sendo perturbado pelos novos gigantes asiáticos, Índia e China. Mas Índia e China também são potências militares. A China, mostra o livro, além de militar, é uma potência milenar, que só não se expandiu antes pelos refolhos de sua política interna. Mas agora a China libera seus capitais, depois do interregno comunista que começou em 49 e terminou com o fim da Guerra Fria, se não antes. E já vem tomando espaço nas finanças da África e da América Latina.

Esta última, a América Latina, isto é, nós, é das figuras mais paradoxais da nova circunstância mundial. Eterna prima-pobre do poder mundial, região de ex-colônias e países subalternos na ordem global desde sempre, não tem um único país com a vocação hegemônica e de poder militar que demonstram as potências do passado, a do presente, e as do futuro asiático. O Brasil, na visão de Fiori, compartilha com a África do Sul a condição de, no plano internacional, pertencer “à turma do deixa-disso”. Bueno, não é de todo sem qualidades essa condição; pelo menos não habitamos um país guerreiro e conquistador, ainda que violento internamente.

Pois não é que é logo desta região desprovida de vocações hegemônicas que podem soprar e sopram os ventos de uma transformação possível? É a única região em escala mundial onde há uma sublevação, hoje, dos “condenados da terra”, para usar a expressão que Fanz Fanon tomou emprestada à letra da Internacional Comunista (“Les damnés de la terre”) para batizar seu famoso livro sobre as revoltas no terceiro mundo no pós-Segunda Guerra. É a única região do mundo onde a palavra “socialismo” é pronunciada com alguma ênfase, embora não se saiba muito bem o que ela pode significar no presente e no futuro, além de uma reserva ecológica em Cuba, que não se sabe quanto vai durar.

Entretanto, e nisto o livro é muito claro, para que essa sublevação se transforme em políticas robustas e consistentes, é necessária uma integração regional em termos de políticas energéticas, monetárias, e de desenvolvimentos combinados, que só podem ser obtidas com o funcionamento a pleno vapor do papel regulador e construtor dos estados nacionais revigorados.

Por aí se pode ter uma idéia, descendo agora ao nível prosaico do dia a dia, da verdadeira estupidez histórica que foi a orgia do “fim da CPMF”, por exemplo, em que a visão estratégica de país e continente foi substituída à direita, pela gana eufórica de “vamos impor uma derrota ao Lula”, e à extrema da esquerda, por um lavar as mãos de que Pilatos se orgulharia. Claro, sem falar nas atrapalhações no interior do governo, de seu partido majoritário e da “base aliada”, que agiram tarde, sem esclarecimentos conceituais, e tudo o que já sabemos.

Das páginas do livro, o mundo que se desenha à nossa frente é carregado de tensões, mas guarda ainda a possibilidade do imprevisto. As últimas palavras dele são de esperança, apesar de tudo. Falando destas diferentes e díspares sublevações na América Latina, Fiori assinala que o movimento de “auto-proteção” que elas reclamam “está vindo do social para o nacional e de ‘baixo’para ‘cima’. Na forma de um gigantesco movimento democrático, a favor de mais justiça na distribuição nacional e internacional dos direitos, do poder e da riqueza”.

Amém.
SENTIDO DE HUMOR E DA FESTA

Por Leonardo Boff - Teólogo

Os tempos não são bons. A humanidade é conduzida por líderes na maioria negativos e medíocres. As religiões, quase todas, estão doentes de fundamentalismo, arrogância e dogmatismo, sem excluir setores da Igreja Católica Romana, contaminados pelo pessimismo cultural do atual Papa.

Mesmo assim há ainda lugar para o humor e o sentido da festa? Creio que sim. Apesar dos absurdos existenciais, a maioria das pessoas não deixa de confiar na bondade fundamental da vida. Levanta-se pela manhã, vai ao trabalho, luta pela família, procura viver com um mínimo de decência (tão traída pelos políticos) e aceita enfrentar sacrifícios por valores que realmente contam. O que se esconde por detrás de tais gestos cotidianos? Ai se afirma de forma pré-reflexa e inconsciente: a vida tem sentido; aceitamos morrer, mas a vida é tão boa, como disse, antes de morrer, François Mitterand.

Sociólogos como Peter Berger e Eric Vögelin tem insistido em suas reflexões que o ser humano possui uma tendência inarredável para ordem. Onde quer que ele emirja, cria logo um arranjo existencial com ordens e valores que lhe garantem uma vida minimamente humana e pacífica.

É esta bondade intrínseca da vida que permite a festa e sentido de humor. Através da festa, no sacro e no profano, todas as coisas se reconciliam. Como afirmava Nietzsche, “festejar é poder dizer: sejam bem-vindas todas as coisas”. Pela festa o ser humano rompe o ritmo monótono do cotidiano, faz uma parada para respirar e viver a alegria de estar-juntos, na amizade e na satisfação de comer e de beber. Na festa, o beber e o comer não têm uma finalidade prática de matar a fome ou a sede, mas de gozar do encontro e de celebrar a amizade. Na festa o tempo do relógio não conta e é dado ao ser humano, por um momento, vivenciar o tempo mítico de um mundo reconciliado consigo mesmo. Por isso, inimigos e desconhecidos são estranhos no ninho da festa, pois esta supõe a ordem e a alegria na bondade das pessoas e das coisas. A música, a dança, a gentileza e a roupa festiva pertencem ao mundo da festa. Por tais elementos o ser humano traduz seu sim ao mundo que o cerca e a confiança em sua harmonia essencial.

Esta última confiança dá origem ao senso de humor. Ter humor é possuir a capacidade de perceber a discrepância entre duas realidades: entre os fatos brutos e o sonho, entre as limitações do sistema e o poder da fantasia criadora. No humor ocorre um sentimento de alívio face às limitações da existência e até das próprias tragédias. O humor é sinal da transcendência do ser humano que sempre pode estar para além de qualquer situação. No seu ser mais profundo é um livre. Por isso pode sorrir e ter humor sobre as maneiras que o querem enquadrar, sobre a violência com a qual se pretende submetê-lo. Somente aquele que é capaz de relativizar as coisas mais sérias, embora as assuma num efetivo engajamento, pode ter bom humor.

O maior inimigo do humor é o fundamentalista e o dogmático. Ninguém viu um terrorista sorrir ou um severo conservador cristão esboçar um sorriso. Geralmente são tão tristes como se fossem ao próprio enterro. Basta ver seus rostos crispados. Não raro são reacionários e até violentos.

Em última instância, a essência secreta do humor reside numa atitude religiosa, mesmo esquecida no mundo profano, pois o humor vê as realidades todas em sua insuficiência diante da Ultima Realidade. O humor e a festa revelam que há sempre uma reserva de sentido que nos permite ainda viver e sorrir.