sábado, 9 de fevereiro de 2008

Essas mulheres de vento


Há em mim aquário despojado de água, mulheres nuas, arrozais do Ceilão, moedas de ouro da Pérsia. Despojado de tudo, menos deste quarteto de cordas de Wolfgang Amadeus Mozart. Depois que vi a palavra búzio, pude amar o búzio.
A palavra búzio não é búzio. O búzio, mesmo, é inédito. Qualquer abismo, sagrado: – nele habita o nada. E se pode ser nada, pode bosque vazio. Bosque vazio tua infância, bosque vazio teu primeiro rabisco no caderno de folhas alvas, carne de salmão? Foi aqui no bosque vazio que o sonho viu a vida pela última vez. Qualquer sonho, nada: – nele o bosque vazio. Enquanto o filósofo Mo tsi tenta fisgar as carpas se espelhando no vento, o milagre rabisca qualquer coisa no caderno de brisa. Súbito uma carpa carregada pelo vento entra pela única porta do Templo de Shirakawa. Os olhos do filósofo, assombrados, fogem na neblina e Mo tsi, cego, procura o caderno de brisa embaixo do rio, do córrego, do riacho, do arroio na copa das árvores, debaixo da pedra, nos bares, nos bordéis, nos hospitais, nas barcas, nos copos de conhaque, na infância, ah, e na infância encontra o caderno de brisa com os dois olhos de Mo tsi
desenhados pelo milagre. E se houver jardim de sopros no oco da estrela alfa de touro? Se pequeno mosteiro com pomar houver na constelação boreal de Cassiopéia? E se nada disso houver, que Houyhnhnms saiba imaginá-los. A imagem é a respiração daquele que é o Estranhíssimo. Te ofendo com apitos, meu deus, com pratos de plantas, para que aprendas a inutilidade do céu. Há mais pensamentos que coisas. Fico miosótis para o fim desaprendo a ira para pra te convencer que a morte não existe: essa pirataria sepulcral é só um jeito da gente brincar de sumiço. Te convenço que aqui no centro se unge com boana. Balanço cabeleira só pra ofender meu Deus. Ante o mar azulado, em sua cadeira de praia, ela dormindo sonha com o príncipe da neblina que se aproxima de sua orelha para esquecer ali a música verdejante. Certa mulher, mas não esta ou aquela, porque me refiro à que vive na ilha do Arvoredo – nas noites perigosas – é música atravessando o muro. Que a vir vê-las, posso coroá-las antigas: paraísas violas de relva. Uma que voa morde o calcanhar da estrela: há fogo e há chuva. Outra esparze o pó de Quevedo, mas pó enamorado, que a pouca poesia não ousaria entender. Aquela enlouquece entre salsos pendentes: escreve breviários, bestiários, conduz o velame de certa barca sendo sonhada. Por nós, os fracos, os de alma vil, se perfumam, às vezes espalham os cabelos nossos: essas mulheres de vento.

Fernando José Karl

Poesia de Pablo Neruda - Carmen Paris

A cantora Carme Paris interpreta uma poesia de Pablo Neruda:


Para Que Tú Me Oigas

Para que tú me oigas,
mis palabras
se adelgazan a veces
como las huellas de las gaviotas en las playas.

Collar, cascabel ebrio
para tus manos suaves como las uvas.

Y las miro lejanas mis palabras.
Más que mías son tuyas.
Van trepando en mi viejo dolor como las yedras.

Ellas trepan así por las paredes húmedas.
Eres tú la culpable de este juego sangriento.

Ellas están huyendo de mi guarida oscura.
Todo lo llenas tú, todo lo llenas.

Antes que tú poblaron la soledad que ocupas,
y están acostumbradas más que tú a mi tristeza.

Ahora quiero que digan lo que quiero decirte
para que tú me oigas como, quiero que me oigas.

El viento de la angustia aún las suele arrastrar.
Huracanes de sueños aún a veces las tumban.
Escuchas otras voces en mi voz dolorida.
Llanto de viejas bocas, sangre de viejos súplicas.
Ámame, compañera. No me abandones. Sígueme.
Sígueme, compañera, en esa ola de angustia.

Pero se van tiñendo con tu amor mis palabras.
Todo lo ocupas tú, todo lo ocupas.
Voy haciendo de todas un collar infinito
para tus blancas manos, suaves como las uvas.

Créditos: AmericaLatinaPalavraViva

O DISCRETO CHARME DA BURGUESIA - 1972


O Discreto Charme da Burguesia
(Le Charme Discret de la Burgeoisie - 1972)
Direção: Luis Buñuel

Ano: 1972
País: Espanha, França, Itália
Gênero: Comédia, Drama, Fantasia
Duração: 102 min.
Áudio: Francês
RMVB Legendado
Cor
Créditos: Forum - Eudes Horonato



Elenco:
Delphine Seyrig, Milena Vukotic, Fernando Rey, Paul Frankeur, BulleOgier, Stéphane Audran, Jean-Pierre Cassel, Julien Bertheau, Maria Gabriella Maione, Claude Piéplu

Sinopse:
O Discreto Charme da Burguesia é uma sátira surrealista do diretor Luis Buñuel construída sobre uma narrativa que mistura as situações reais da história com os sonhos e devaneios dos personagens. O filme se passa numa tarde onde alguns amigos se encontram para jantar. Uma crítica à classe privilegiada, satirizando as situações e a hipocrisia nos encontros sociais da burguesia. Foi aclamado pela opinião pública e mostra toda a supremacia e técnica de Buñuel como um dos maiores artistas,
experimentalistas e satíricos diretores do cinema. Vencedor do Oscar de
Melhor Filme Estrangeiro, em 1972.

Links Rapidshare em quatro partes:
http://rapidshare.com/files/68335583/O_Discreto_Charme_da_Burguesia.part1.rar
http://rapidshare.com/files/68351959/O_Discreto_Charme_da_Burguesia.part2.rar
http://rapidshare.com/files/68364491/O_Discreto_Charme_da_Burguesia.part3.rar
http://rapidshare.com/files/68379415/O_Discreto_Charme_da_Burguesia.part4.rar

Cultura: Berlim em frenesi

O 58° Festival de Cinema é um espelho fiel de Berlim hoje, atraindo milhares de fãs e cinéfilos da Europa e do mundo inteiros, uma prova da vitalidade dos processos culturais dessa cidade que, enfim, sobreviveu a tantas guerras e autoritarismos que a devastaram durante tanto tempo.

Há um frenesi nas ruas e em muitos cinemas de Berlim. As pessoas estão nervosas, alteradas, ainda que tudo aconteça com uma certa discrição, como é de costume nesta cidade por onde nos últimos 200 anos de algum modo passaram quase todas as revoluções e guerras da Europa, inclusive a Guerra Fria.

De 7 a 17 deste mês de Fevereiro acontece a 58ª edição da Berlinale, o Festival de Cinema de Berlim, um dos mais importantes da Europa e do mundo, que acorda o Urso de Ouro como prêmio máximo, já vencido pelo brasileiro "Central do Brasil". O Urso é o símbolo de Berlim, e está na bandeira da cidade.

O centro nervoso do Festival fica na hoje algo feérica Potsdammer Platz, símbolo da reunificação da cidade e da Alemanha depois de 1989, quando caiu o muro que a dividia em Ocidente e Oriente, capitalismo e comunismo. Nas imediações se concentram os artistas, cineastas e músicos esperados. Por ali, no saguão de entrada de um enorme e moderníssimo centro comercial, se compram as entradas para os filmes. Isso pode significar até duas horas ou mais numa fila, e várias vezes, pois as entradas são postas à venda apenas três dias antes dos filmes passarem. Freqüentemente a espera termina em frustração, pois há filmes disputadíssimos, com as entradas se esgotando rapidamente. E vende-se apenas o máximo de dois ingressos por pessoa para cada espetáculo.

Tal interesse tem raízes históricas compreensíveis, além do enorme interesse que o cinema gera nesta cidade, que está longe da situação de outras em que os cinemas (como em muitas cidades brasileiras, por exemplo) foram fechando nas últimas décadas, dando lugar a igrejas e bingos. Este é um fenômeno berlinense a ser estudado.

Desde que renasceu literalmente dos escombros da Segunda Guerra, Berlim passou 44 anos de sua vida ocupada pelos vencedores e dividida entre as potências que emergiram ou sobraram naquele conflito. A partir de 1961 a construção do Muro selou a divisão da cidade, e deu a Berlim Ocidental uma condição que em algum lugar Ignácio de Loyola Brandão chamou de “vida numa ilha”, ou algo assim. Era verdade. Berlim Ocidental estava encravada no meio da Alemanha Oriental. Era mais simples o cidadão ir para o aeroporto e de lá para Paris ou o Brasil, do que passar de um lado para o outro do Muro, e voltar.

Quer dizer: a Berlinale era um dos momentos em que o mundo vinha até Berlim. Colocada no meio das duas Europas, Berlim atraía cinemas e cineastas do mundo inteiro, o que se reflete inclusive em alguns aspectos desta 58a. edição, de que falarei mais adiante.

São cerca de 200 filmes exibidos em onze dias, dez, na verdade, descontando-se o da abertura, em que foi exibido com grande sucesso o documentário de Martin Scorsese sobre os Rolling Stones, “Shine a Light”, a partir de uma apresentação da banda de sexagenários em Nova Iorque, em 2006.

O festival é muito complexo. Além da competição oficial, onde concorrem 26 filmes, inclusive o controvertido brasileiro “Tropa de Elite”, de José Padilha, há “seções”, como “Panorama”, cujo nome revela sua natureza de recolha do cinema mundial, “”Fórum”, aberto ao cinema mais inovador e também experimental, seções destinadas às crianças e adolescentes, aos jovens talentos, além de uma retrospectiva de Luis Buñuel e uma homenagem a Francesco Rosi.

Uma das atividades mais importantes da Berlinale é a das oficinas, em que diretores e artistas de cinema, roteiristas, críticos e técnicos se encontram com jovens cineastas para troca de experiências. Nesta edição há profissionais como Mike Leigh, Stephen Daldry e o legendário Andrzej Wajda, de clássicos como “Cinzas e diamantes” e “O homem de mármore”, do cinema polonês.

Nas retrospectivas há uma mostra de filmes norte-americanos sobre a guerra do Vietnã, tema mais que oportuno neste momento de novas guerras a fundo perdido, como a do Iraque e a do Afeganistão, em que tropas da OTAN e aliados se atolam cada vez mais, como naquela do passado aconteceu com os EUA. Essa mostra faz uma retrospectiva colateral do Congresso sobre o Vietnã, realizado pelo movimento estudantil de Berlim em fevereiro de 1968, acontecimento que deflagrou a série de confrontos e desafios da juventude na Alemanha, na Europa e no mundo inteiro, que fizeram daquele ano um dos anos legendários da história do século XX: quem viveu, e se venceu ou perdeu, até que não importa: viu e participou.

Não me arriscarei a fazer previsões sobre favoritos para o Urso de Ouro. O júri, formado na maioria por cineastas e artistas europeus, é liderado por Costa-Gravas, e tem 26 filmes de peso pela frente, entre eles o já citado “Tropa de Elite”, que chega precedido pelo impacto das polêmicas que despertou no Brasil. Disso e dos outros filmes brasileiros, trataremos mais adiante: na semana que vem há uma coletiva com diretores e cineastas brasileiros na Embaixada do Brasil, na quarta-feira, às cinco da tarde.

Muitas estrelas são esperadas em Berlim: Julia Roberts, Madonna... Mas dando prova de sua abertura mundial, as estrelas que têm maior expectativa nessa 58ª edição não vêm de Hollywood, sequer da Europa: são Shah Rukh Khan, ator de Bollywood, na Índia, centro cinematográfico que produz 700 filmes por ano, e a nigeriana Kate Henshaw-Nutall, de Nollywood, da Nigéria, que, como sua congênere indiana, emerge como uma nova potência cinematográfica.

O Brasil está presente com oito filmes, além do já citado: “Mutum”, de Sandra Kogut, “Cidade dos homens”, de Paulo Morelli, “Maré, nossa história de amor”, de Lúcia Murat, e os curtas “Café com leite”, de Daniel Ribeiro, “Ta”, de Felipe Sholl, “Dreznica”, de Anna Azevedo, e dois filmes que serão exibidos na curiosa mostra “Cinema culinário”: “Mr. Bené góes to Italy”, de Manuel Lampreia, e “Estômago”, de Marcos Jorge. Nesta seção, além da exibição dos filmes, entre eles “O discreto charme da burguesia”, de Buñuel, haverá comentários de cozinheiros ;profissionais e degustação de pratos inspirados pelos filmes.

Cosmopolita e variegada, a Berlinale é um espelho fiel da Berlim de hoje, atraindo milhares de fãs e cinéfilos da Europa e do mundo inteiros, uma prova da vitalidade dos processos culturais dessa cidade que, enfim, sobreviveu a tantas guerras e autoritarismos que a devastaram durante tanto tempo. Uma homenagem aos poderes criativos e solidários da humanidade, que, ainda que precários, é o que temos de melhor para combater os destrutivos e devastadores.

Zé Ramalho - A Peleja do Diabo Com O Dono do Céu (1979)




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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Vale dos Lobos: Iraque
(Kurtlar vadisi - Irak)


Baseado em fatos reais. Em 4 de julho de 2003, o exército norte-americano expulsou do norte do Iraque uma guarnição de soldados turcos. Humilhados eles foram deportados para o seu país usando capuzes nas cabeças, sem o mínimo respeito pelo uniforme que usavam. Esse dia, que foi chamado "Dia do Capuz", trouxe desgraça nacional para essa unidade do exército turco. Mas a vingança não tardaria...

Gênero: Ação
Diretor: Serdar Akar
Duração: 122 minutos
Ano de Lançamento: 2006
País de Origem: Turquia
Idioma do Áudio: Árabe / Inglês / Turco / Curdo
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0493264/

Qualidade de Vídeo:
DVD Rip
Tamanho: 1395 Mb
Legendas: Em anexo
Créditos:makingOff - Derzu_uzala

O Vale dos Lobos ou das lágrimas?
por Dragão

Nos anos trinta, Joseph Goebbels, o génio do mal por detrás do III Reich inventou a receita: O cinema como a mais poderosa arma de propaganda. Posteriormente, os Estados Unidos, através duma indústria à escala global, desenvolveram e aperfeiçoaram a técnica. Agora, do lado muçulmano -na Turquia, mais exactamente-, querem mostrar que também são capazes.
O filme chama-se "Valley of the Wolves", e está a causar furor e lotações esgotadas.
A história desenrola-se a partir de um episódio factual: o aprisionamento de forças especiais turcas no Norte do Iraque pelos americanos (peripécia que até hoje foi considerada uma humilhação nacional e, pelos vistos, está longe de estar esquecida).
Ao longo da fita, rezam as crónicas, os americanos são exibidos como autênticos ogres, "que disparam à queima roupa sobre crianças e sacam órgãos aos prisioneiros Iraquianos, que enviam depois para Israel, Estados Unidos e Inglaterra", entre outras proezas meritórias.
Depois da histeria com os cartoons e da revelação do vídeo britânico, aí está mais gasolina para a fogueira.

Fonte: Dragoscopio(leia o artigo completo)

Coopere, deixe semeando ao menos duas vezes o tamanho do arquivo que baixar.

Downloads abaixo:

Detalhes do Link ed2k Valley.Of.The.Wolves.Iraq.2006.DVDRip.XviD-TURKiSO.CD1.avi (698.42 Mb)
Detalhes do Link ed2k Valley.Of.The.Wolves.Iraq.2006.DVDRip.XviD-TURKiSO.CD2.avi (697.41 Mb)
Arquivo anexado Valley.Of.The.Wolves.Iraq.2006.DVDRip.XviD_TURKiSO_Vale.Dos.Lobos.rar legendas

CIENTISTAS CONDENAM BIOCOMBUSTÍVEIS, COM UMA EXCEÇÃO: ÁLCOOL DE CANA DO BRASIL

Luiz Carlos Azenha

WASHINGTON - "A destruição de sistemas ecológicos - sejam as florestas tropicais ou as pastagens na América do Sul - não apenas joga gases que causam o efeito estufa na atmosfera quando as terras são queimadas e cultivadas, mas também tira do planeta as esponjas naturais que absorvem as emissões de carbono. As terras plantadas também absorvem muito menos carbono do que as florestas tropicais e mesmo as pastagens que substituem".

Esse é trecho de reportagem de hoje do New York Times anunciando dois estudos que condenam a produção de biocombustíveis. Um deles, publicado na revista Science, tem como um dos principais autores Timothy Searchinger, pesquisador de meio ambiente e economia da universidade de Princeton. O outro estudo é da ong Nature Conservancy.

O que lhes parece? Será que vão pedir o congelamento do plantio de soja no Brasil? O Brasil deve assumir a responsabilidade de ser o pulmão do planeta sem levar nada em troca?

Joseph Fagione, autor de um dos estudos: "O uso de pastagens na agricultura produz 93 vezes a quantidade de gases que seriam eliminados pelo biocombustível resultante do cultivo anual na mesma área de terra."

"Quando você leva em conta o uso da terra, a maior parte dos biocombustíveis que as pessoas usam ou planejam usar levaria provavelmente a um aumento substancial da produção de gases que causam o efeito estufa", disse Searchinger.

Por conta disso, um grupo de ecologistas e biólogos mandou uma carta ao presidente George W. Bush e à presidente do Congresso, a democrata Nancy Pelosi, pedindo mudanças na política federal para uso de biocombustíveis.

Joseph Fargione diz que os agricultores do Meio Oeste americano estão deixando de alternar entre soja e milho. Plantam milho para atender à produção de etanol. Com isso, segundo ele, quem compensa a produção de soja é principalmente o Brasil. "Os fazendeiros brasileiros estão plantando mais soja - e estão derrubando a Amazônia para fazer isso", disse Fargione.

Será?

A União Européia pretende que 5,75% do combustível usado para transporte na Europa até o final deste ano seja biocombustível. A proposta dos Estados Unidos é para 15% até 2022. A Syngenta, aquela empresa suiça acusada no Paraná de bancar milícia envolvida num confronto com os sem-terra, anunciou nesta quinta-feira que seus lucros subiram 75% por causa da demanda por biocombustível, de acordo com o Times.

"O dr. Searchinger disse que a única possível exceção que ele vê agora é a cana-de-açúcar do Brasil, que usa relativamente pouca energia para crescer e já é refinada em combustível. Ele disse que os governos deveriam voltar rapidamente sua atenção para o desenvolvimento de biocombustíveis que não requeiram produção agrícola, como o produzido a partir de restos da agricultura", disse o jornal.

Um hectare de terra gera 8 mil litros de álcool de cana ou 4 mil litros de álcool de milho, segundo a EMBRAPA. Além disso, o álcool de milho só produz 20% a mais que a energia consumida para fabricá-lo. No caso da cana, esse índice é de 700%.

O problema é que o governo dos Estados Unidos subsidia fortemente os produtores de álcool do chamado cinturão do milho, com mais ou menos 20 bilhões de dólares por ano. A importação de álcool de cana é fortemente taxada, em 14 centavos de dólar por litro. Só a Miriam Leitão ainda acredita que os Estados Unidos aplicam a tal "mão invisível do mercado".

A produção de álcool de milho está causando inflação nos Estados Unidos. O preço do milho subiu e, com isso, o da ração, o dos ovos... Não é o comunista Fidel Castro que diz, embora ele tenha sido o primeiro a dar o alerta. São as pesquisas de preços. Alguma chance da tarifa sobre o álcool brasileiro cair? Em ano eleitoral, nenhuma. Só a revolta dos agricultores de Ohio já custaria a derrota de um candidato, republicano ou democrata.

Teresa Cristina e Nélson Sargento

UM VIOLINISTA NO TELHADO - 1971


Créditos: Fórum - Stirner
Um Violinista no Telhado
(Fiddler on the Roof, 1971)
Gênero: Drama/Musical
Direção: Norman Jewison
Roteiro: Sholom Aleichem (livro), Joseph Stein (peça e roteiro)
Produção: Estados Unidos (1971)
Duração: 181 minutos
Fotógrafo: Oswald Morris
Produtor: Norman Jewison e Patrick Palmer
Compositor: Jerry Bock
Áudio: Inglês
RMVB Legendado
Cor




Elenco:
Paul Michael Glaser
Topol
Norma Crane
Leonard Frey
Molly Picon
Paul Mann
Rosalind Harris
Michele Marsh Hodel
Neva Small




Sinopse:
Tevye (Topol) é um pobre leiteiro que mora em uma aldeia na Ucrânia, junto com sua mulher e filhas. O filme mostra a imigração forçada dos judeus para o Ocidente devido à intimidação, através dos pogroms e da política anti-semita da Rússia czarista. O musical, também, mostra as riquezas da cultura judaica em todos os aspectos quotidianos.
Como em todas as culturas, o choque entre o novo e o velho está presente fortemente e, nos mostra que a evolução dos costumes, sempre é acompanhada de conflitos que não poupam nada nem ninguém. Em suma, um filme belíssimo por inteiro, que deixa lições importantes, principalmente sobre a estupidez humana, que ainda continua infinita.
Conquistou três Oscar: Fotografia, Trilha Sonora Adaptada e Som, foi indicado a outras cinco categorias, incluindo Melhor Filme e Diretor.



POR UM AMENDOIM

Por Carola Chávez.

Uma vez vi um documentário sobre os elefantes do circo, em que explicavam como faziam os domadores para conseguir que tão majestosos animais deixaram de lado sua dignidade paquidérmica e fizessem bobagens para um punhado de humanos idiotas em troca de aplausos e amendoim.

O domador explicava com muito orgulho que o segredo estava em quebrar o espírito do animal. Depois de fazer isto, um elefante, esquecendo que era um elefante e tudo o que isso implica, faria o que fosse com amendoim ou sem ele.

O espírito, descobri minutos mais tarde, se quebra a pauladas, a força de fome, torturas, humilhações de todo tipo até que o elefante se dá conta de que ser um palhaço é mais seguro que continuar sendo o que é.

Algumas vezes acontece que o elefante não consegue se conter. Algo lhe faz click em sua cabecinha e se torna mais elefante que nunca. É então quando pega o domador com sua tromba e o lança com toda a raiva acumulada em sua memória elefântica por anos de torturas e humilhações.

Tempo depois de ter visto os elefantes do circo tive a oportunidade de ir a um circo pior porque é maior, os domadores más cruéis e os elefantes são pessoas.

Me refiro ao circo da ‘’civilização’’ entendendo que esta só é civilizada se vier de Mayami ou Nova Iorque.

A coisa funciona desta maneira: Nos apresentam um modelo ideal de civilização, nos dizem que precisamos pertencer a ela e nos põe um amendoim frente aos olhos. Em troca só temos que deixar que nos quebrem o espírito, que nos amputem os instintos, mas, tranqüilos, que o amendoim é grande e encandeia como um diamante.

Devemos desumanizar-nos para ser civilizados.

Tudo começa durante a gravidez: Uma mãe mayamera deve aprender desde cedo a enterrar o instinto mais poderoso de todos. As mães mayameras freqüentam cursos pré-natais onde lhes ensinam, entre outras coisas, a parir deitadas em uma cama, conectadas a mil cabos, a mil máquinas que fazem uns barulhinhos que lhes lembram que parir não é coisa fácil, que sem doutor nem maquininhas não há forma de fazê-lo, que não são animais, senão mulheres civilizadas e graças aos céus que estão no primeiro mundo para que possam parir em paz.

Também aprendem no cursinho que o leite materno não é mau, mas é inconveniente porque te amarra ao bebê dia e noite, porque você perde sua individualidade, porque você não pode trabalhar se está amamentando, porque tem fórmulas para lactantes que superam o leite materno, isso, graças aos céus e, já sabem, à civilização. Assim que enfermeiras que vestem alegres cores, ensinam as mães a secar seu leite, vendando, de maneira muito moderna, as tetas carregadas de alimento. Dói, mas vale a pena…

Assim chega um humaninho ao mundo, buscando a teta e encontrando uma tetinha de látex, buscando o calor de sua mamãe e encontrando um travesseirinho a pilha, que não só o esquenta senão que também lhe reproduz o ‘’ som uterino’’ de acordo com o que diz a caixa.

O humaninho tem uma mamãe moderna e civilizada que o adora. Ela se promete a se mesma que fará tudo o que estiver em suas mãos para que a seu rebento não lhe falte nada durante os próximos dezoito anos. Sim, ouviu bem, na aula de parto lhe relembraram algo que ela sabia por experiência própria: Os filhos vão embora do ninho ao terminar o segundo grau e você pode voltar a ser feliz com seu parceiro, isso se antes não se divorciaram civilizadamente.

Para dar-lhe tudo o que necessita o bebê, a mãe lhe tira o único que realmente precisava e o inscreve na creche de 8 a.m a 6 p.m. Assim fica o pequeno em um berço comunitário olhando pro teto, enquanto “mommy’’ trabalha para comprar-lhe um carrinho lindo, roupinhas para desmaio, e, claro, depositar desde já em uma poupança universitária porque “baby’’ será médico.

Baby tem avós que moram longe, graças a Deus. Toda pessoa civilizada sabe que os velhos incomodam com suas dorzinhas e suas manias. Por tanto, temos um bebê numa creche de infância e uns avós em outra, quando seria muito mais sadio, mais feliz e mais econômico ter todos em casa. Os avós não se sentiriam como bagaços inúteis e o bebê teria uns braços amorosos onde passar o dia.

Mas temos um bebê civilizado, independente, que não tem apego a sua mãe e ao sair do segundo grau irá embora de sua casa, e chegará o dia que, sem muito problema, executará sua maior vingança: enfiar seus pais desvalidos em uma casa de saúde.

A família humana, a ancestral, a verdadeira, não tem cabida no mundo civilizado, não é produtivo ter pessoas que parem de trabalhar para cuidar uma gripe de um filho, o cuidar do avô com tosse, não é produtivo deixar de pagar creches cheinhas de funcionários que por sua vez pagam outras creches cheinhas de funcionários que por sua vez…

Se suportamos esta dolorosíssima amputação do instinto maternal, os seguintes instintos poderão ser extirpados sem anestesia. Ao desbaratar os vínculos mais fortes entre os seres humanos, nos quebram o espírito como fazem com os elefantes.

Mas por que chegamos a fazer essas idiotices?

Pelo amendoim.

Um amendoim de quatro quartos, cozinha minimalista, e sacada com alguma vista. Amendoim 4X4 com DVD e porta copos, amendoim em classe turista com orelhas de rato, um amendoim cheio de logotipos que mostrem que não é um amendoim qualquer embora qualquer um possa tê-lo. Um amendoim privado bilíngüe com atividades extracurriculares, um amendoim com campo de golfe solo para sócios seletos…Em fim o cobiçado amendoim do sucesso.

Como os pobres elefantes do circo, perdemos a nossa essência, funcionamos por impulsos externos aos quais somos vulneráveis e suscetíveis a sermos manipulados. Mas, como os elefantes, podemos fazer clique e jogar para longe o domador com a tromba e cagar-nos no sistema, no sucesso, no amendoim e, desde o melhor de nossa humanidade, fazer uma revolução.

Tanta miséria por um amendoimzinho…

Versão em português: Tali Feld Gleiser de América Latina Palavra Viva.