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A governadora do Rio Grande do Sul, a tucana Yeda Crusius, está aprontando. Querem um exemplo? A Brigada Militar a ela subordinada como Governadora, portanto a autoridade máxima do Estado, reprimiu com extrema violência, bem ao estilo anos de chumbo, 900 camponesas que ocuparam a Fazenda Tarumã, em Rosário do Sul, de propriedade da empresa Store Senso, que com as suas papeleiras está provocando danos irreversíveis à ecologia da região. Cinqüenta camponesas resultaram feridas por balas de borracha e estilhaço de bombas.
Esta é a resposta tucana ao movimento social, na mesma linha de José Serra em São Paulo e outros do gênero.
No caso do Rio Grande do Sul há uma lógica tucana para o procedimento violento da tropa de choque subordinada a Crusius. A Governadora foi eleita com a ajuda de três principais empresas de celuose em atuação no Rio Grande do Sul, a própria Stora Senso Brasil Ltda., a Aracruz Celulose S.A e a Votorantin Papel e Celulose Ltda. No total, segundo consta nos arquivos implacáveis da Justiça Eleitoral, as referidas empresas doaram mais de meio milhão de reais.
Mão na roda de Crusius
Agora sob os mais variados pretextos, para disfarçar, a governadora retribuiu pelos serviços prestados e deu o sinal verde para a truculência. Por estas e muitas outras, toda vez que algum tucano ou demo, que não fica atrás, ocupa o microfone para demonizar o movimento social, há uma lógica de classe e de grana.
Afinal, o custo de uma eleição é cara, talvez não tão cara do que uma eleição nos Estados Unidos, como demonstram os números, mas mesmo assim, se o empresariado não comparecer, candidatos com o perfil de um Serra, de uma Crusius e mesmo o do governador de Alagoas, Theotônio Vilela Filho, e Aécio Neves, não estariam ocupando o reocupando o cargo.
Esta é a realidade política nacional, cujo Congresso conservador também teve o comparecimento de empresas como as mencionadas.
Político do PT dá guinada de 180 graus
Aqui no Estado do Rio de Janeiro, a Assembléia Legislativa, com ajuda do rolo compressor do governo Sergio Cabral, aprovou o ingresso em terras fluminenses da poluidora Aracruz. E, pasmem, pouco antes, a legislação fluminense impedia a entrada de empresas com estas características. O projeto aprovado era do então deputado Carlos Minc, do PT, atual secretário do Meio Ambiente, que deu uma guinada de 180 graus na matéria. Ou seja, jogou no lixo o seu projeto anterior para participar do rolo compressor em favor da queda do que dispunha a Constituição.
É o caso de se perguntar: o que terá acontecido a este deputado que até virar secretário primava pela defesa do meio ambiente e depois que assumiu mudou da água para o vinho? Sofreu alguma ameaça de morte ou...
A mídia conservadora não faz este tipo de cobranças porque não intere$$a entrar ne$tes detalhe$. Prefere criminalizar presidentes sul-americanos como Hugo Chávez, Evo Morales ou Rafael Correa, bem como acionar os colunistas de sempre para manipularem a informação e iludirem leitores incautos que muitas vezes desconhecem o tipo de interesse que determinadas mídias acobertam. Ali Kamel, Merval Pereira. Arnaldo Jabor, Miriam Leitão e ouros menos votados que o digam.
Cabe agora aos eleitores que deram um crédito de confiança a Carlos Minc cobrarem do secretário a mudança de posição da água para o vinho.
Violência só gera violência
Claro que é lamentável o ataque indiscriminado contra civis, como aconteceu numa escola em Jerusalém, como é tão ou mais lamentável o método de terrorismo de Estado com realiza o Exército de Israel na Faixa de Gaza ao atacar indiscriminadamente redutos civis. A questão é que os meios de comunicação de um modo geral dão muito maior dimensão quando se trata de ações individuais, como no caso da escola, do que de um Estado, como em Gaza.
Claro, todos estes fatos remetem para uma questão: a paz na região, com a presença do esquema truculento israelense-estadunidense, fica praticamente impossível, pois violência gera violência e assim sucessivamente. Bush e Rice na prática estimulam a linguagem da truculência, linguagem esta que só favorece os grupos que se locupletam com a guerra. E este setor está sempre com Bush e não abre.
Hoje eles estão querendo que a truculência finque pé na América do Sul, haja vista o bombardeio e posterior invasão do território equatoriano por forças colombianas, bem como criar um clima de tensão permanente que resulte na divisão. Tipo da estratégia que cheira a morte e a petróleo.
Ilustração: Táia Rocha
> Mário Augusto Jakobskind é jornalista e escritor. Foi colaborador dos jornais alternativos Pasquim e Versus, repórter da Folha de S. Paulo (1975 a 1981) e correspondente da Rádio Centenária de Montevideo, além de editor de Internacional da Tribuna da Imprensa (1989 a 2004) e editor em português da revista cubana Prisma (1988 a 1989). Atualmente é correspondente do semanário uruguaio Brecha e membro do conselho editorial do Brasil de Fato. É autor, entre outros, dos livros América Que Não Está na Mídia (Adia, 2006), Dossiê Tim Lopes - Fantástico/Ibope (Europa, 2004), A Hora do Terceiro Mundo (Achiamê, 1982), América Latina - Histórias de Dominação e Libertação (Papirus, 1985) e Cuba - apesar do bloqueio, um repórter carioca em Cuba (Ato Editorial, 1986).