sexta-feira, 2 de maio de 2008

A função racial da Universidade

Como já não é possível condenar as cotas sociais, os conservadores deciciram atacar a discriminação positiva em favor dos negros. Declaram-se republicanos e meritocratas. É como se vivessem num país onde não houve escravidão e não é preciso enfrentar agora a desigualdade racial

Bruno Cava -LeMonde-Brasil

"The past isn’t dead and buried. In fact, it isn’t even past."

— - William Faulkner
[1]

A partir de 2002, as medidas afirmativas de cotas raciais intensificaram o debate e polarizaram o campo político de esquerda e direita. As primeiras universidades a reservar vagas de forma generalizada a negros e indígenas foram a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e a Universidade Estadual do Norte Fluminense. Uma lei estadual fluminense, de 2001, determinou que as entidades reservassem, no vestibular, cotas de 20% para estudantes de escolas públicas, 20% para negros, 5% para indígenas e 5% para pessoas portadoras de deficiência. Desde então, pelo menos 32 outras entidades do ensino superior — como a UFRGS, a UFPE, a UEPB --- instituíram sistemática similar, seja mediante decisões legislativas, seja por deliberações internas.

As primeiras turmas da UERJ sob o novo regime de admissão graduaram-se no ano passado, sem registro de conflitos raciais sérios e com aproveitamento igual às turmas anteriores. Nessa universidade, os estudantes cotistas mantiveram um coeficiente de rendimento médio entre 5% abaixo e 5% acima dos demais, dependendo do curso. Isto é, não houve qualquer diferença mensurável de rendimento acadêmico entre alunos cotistas e não-cotistas.

Certamente não houve "queda do nível". Como também não houve com os ingressos do Programa Universidade para Todos (Prouni), que assegura bolsas para alunos pobres em faculdades privadas. Estes foram até melhor do que os outros, inclusive os admitidos no Prouni pelo critério racial. Se, de um lado, a política afirmativa não é um sucesso absoluto — principalmente nos cursos de menor procura, em que sobram vagas —, por outro "mudou a cara" da universidade, trazendo um colorido todo-especial de novas demandas, valores, idéias, estilos.

Apesar dos bons resultados e de 65% dos brasileiros apoiarem as cotas raciais (pesquisa Datafolha de 2006), a resposta reacionária a elas persiste. Por envolverem critério racial, as cotas vêm recebendo bombardeio mais feroz que as demais políticas de inclusão, tais como as vagas para estudantes de escolas públicas. Para muitos, o problema é a cor da cota. Na UFRGS, alguns gaúchos "indignados" picharam em letras garrafais, à frente do campus: "Negro só se for na cozinha do HU". Outros adversários, mais sofisticados, publicam livros extensos e "imparciais", para provar que a cota racial é ruim, porque não somos racistas.

Muitos mantêm uma atitude tipicamente brasileira: ser contrário em silêncio e guardar o racismo para si, negando-o, menosprezando a história do Brasil. Mas nem sempre o racismo é tão "cordial", como se viu no episódio dos estudantes africanos na UnB, ocasião em que se ateou fogo às suas portas, bem ao estilo Ku-klux-klan.

Argüir que cientificamente não há como definir a raça é tão estúpido quanto afirmar que o negro não existe. A raça não é um conceito biológico. Envolve noções culturais, econômicas e políticas

Que o Brasil seja um país racista é de uma evidência de doer aos olhos. Historicamente racista, economicamente racista, esteticamente racista, culturalmente racista. A democracia racial é um mito que serve à perpetuação das desigualdades socioeconômicas com modulação racial. A tese do povo brasileiro como miscigenação do branco, do indígena e do negro – o mestiço como o substrato da brasilidade – camufla a nossa história, que é a da explícita hegemonia do branco. A elite branca predomina nos cargos públicos de alto escalão, nas chefias empresariais e na direção da grande imprensa.

Negar a existência do racismo no Brasil é esquecer a desmesurada escravidão, que forjou os primeiros séculos desta sociedade. Como se, da abolição aos dias de hoje, aquela multidão de escravos tivesse sido incluída na partilha da produção de bens sociais. Não. A travessia formal do escravo ao negro liberto deu-se sem política de inclusão digna de nota. Manteve-se a posição explorada, subalterna, marginal, sob ininterrupta disciplina policial e preconceito racial. Da capoeira ao samba, do hip hop ao funk. No racismo, trata-se de reconhecer a ligação concreta entre a situação desvantajosa do escravo e a situação desvantajosa do negro no presente.

Argüir que cientificamente não há como definir a raça é tão estúpido quanto afirmar que o negro não existe. A raça não é um conceito biológico. A raça envolve noções culturais, econômicas e políticas. O negro existe. É o resultado de um processo de exploração atravessado por migrações forçadas, alienação do trabalho e repressão violenta, que não cessou até hoje e no qual a cor — seja ela "parda", "mulata", "escura", "morena" – é somente uma manifestação.

A cota puramente econômica não é suficiente. Mesmo que, em princípio, o branco-pobre tenha as mesmas chances do negro-pobre, eles não têm as mesmas chances na sociedade

A ação afirmativa não fomenta o racismo, porém o reconhece para daí se fazer justiça frente a seus efeitos. Fingir que as diferenças não existem não as faz desaparecer como por mágica. O caso não é eliminar as diferenças raciais, mas não permitir que elas sigam refletindo brutais desigualdades. Se reconhecer a obviedade de que existam raças é racismo, então é necessário por assim dizer ser "racista", pois só assim se poderá viabilizar a discriminação positiva.

Alegar que a cota racial é incompatível com a república, por causa da cidadania formal, é viver num mundo abstrato de conto-de-fadas, que favorece a perpetuação das disparidades e da injustiça. A igualdade formal achata as diferenças materiais que são a própria substância da justiça. Tratar os desiguais na medida da desigualdade... Absolutizar a meritocracia é consagrar o egoísmo e o individualismo. Ademais, a meritocracia sozinha é injusta, porque o concurso é uma fotografia que não capta a estrutura socioeconômica e familiar, que também determina o preparo dos concursandos. O concurso não pode ser um critério exclusivo.

A cota puramente econômica não é suficiente. Mesmo que, em princípio, o branco-pobre tenha as mesmas chances do negro-pobre no vestibular, eles não têm as mesmas chances na sociedade como um todo. A Universidade não é um microcosmo nem uma torre de marfim, como a enxergam muitos intelectuais. A universidade conecta-se à sociedade. A sociedade justa depende do ensino justo, que por isso mesmo é o melhor ensino.

Defender a melhoria genérica do ensino fundamental e médio como medida "menos gravosa" às quotas significa mandar a ação afirmativa às calendas gregas, perpetuando a ditadura racial. Uma coisa é diferente da outra. As duas políticas não se excluem, elas se complementam. Passaram-se muitos anos de desídia e hipocrisia nessa questão. A exigência é realizar a democracia racial – no concreto das diferenças – não daqui a cem, vinte ou dez anos, mas aqui e agora. Já!

A militância dos movimentos negros é a melhor maneira de fazer frente à opressão racial. Através da resistência, manifesta seu projeto de justiça e se define como sujeito político. Mais do que em um catálogo de diferenças empíricas, é na própria luta comum que se assenta a singularidade da raça. Expressa-a perante uma sociedade que – da esquerda à direita, a juventude inclusive – não lhe endossa e, quando o faz, resume-se à cômoda indignação.


Adilson Troca recebe ordens para enterrar a CPI do Detran o mais rápido possível


O relator da CPI do Detran, deputado Adilson Troca (PSDB), recebeu ordens da governadora Yeda Crusius (PSDB) para enterrar as investigações da comissão o mais rápido possível. A determinação, extensiva a toda base de apoio do governo na Assembléia, está fazendo com que os tucanos e seus aliados deixem as sutilezas de lado. E a prudência também. Os últimos movimentos e declarações de Troca colocam sob suspeita o relatório que ele produzirá sobre os trabalhos da CPI.

O deputado tucano deixou a entender que manteve contato com um dos principais acusados de envolvimento na fraude do Detran, o empresário-lobista Lair Ferst. Foi o próprio Troca que revelou a vontade de Lair: “Ele não vai ficar de cabeça baixa e vai falar mesmo”, disse o deputado tucano ao defender a convocação imediata do empresário para depor. A idéia é acelerar o máximo os depoimentos, não prorrogar os trabalhos da CPI e produzir um relatório morno, sem maiores problemas para o governo.

Para tanto, Troca apresentou uma proposta para acelerar as sessões da CPI. Essa proposta prevê a realização de até cinco oitivas num só dia. A deputada Stela Farias (PT) fez as contas: com um tempo médio de três horas por depoimento, a sessão, que inicia às 18 horas, só terminaria às 8 horas da manhã seguinte. “Esse plano de trabalho é uma receita de pizza”, acusou Stela.

Técnico contábil de formação, Adilson Troca faz as contas para enterrar a CPI nas próximas semanas. Já diz que trabalhará “de manhã, de tarde e de noite” para terminar logo o relatório. Quer se livrar logo da missão recebida da governadora Yeda Crusius.

A imagem do deputado pizzaiolo é do site PTSul.

Créditos:


quinta-feira, 1 de maio de 2008

The Yardbirds - Blue Eyed Blues - 1972



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01. 23 Hours Too Long
02. Out On The Water Coast
03. Five Long Years
04. I Aintt Got You
05. Good Morning Little Schoolgirl
06. Little Red Rooster (Rehearsal)
07. Little Red Rooster
08. Highway 49
09. Wang-Dang-Doodle
10. Im A Man
11. Jeffs Blues
12. I See A Man Downstairs


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Keith Relf-Harmonica, Vocals/Paul Samwell-Smith-Bass/Ian Stewart-Piano/Mickey Waller-Drums/Sonny Boy Williamson (II)-Harmonica, Vocals/John Collis-Liner Notes/Ricky Brown-Bass/Bill Wyman-Bongos, Shaker/Brian Auger-Organ/Jim McCarty-Drums/Howlin' Wolf-Guitar (Electric)/Jeffrey M. Carp-Harmonica/Eric Clapton-Guitar, Main Performer, Vocals/Norman Dayron ?/Chris Dreja-Guitar/Glyn Johns-Engineer/Lafayette Leake-Piano/Jeff Beck-Guitar, Main Performer/Jimmy Page-Guitar/Steve Winwood-Organ, Piano/Charlie Watts-Percussion, Conga, Drums/Alan Skidmore-Sax (Alto)/Hubert Sumlin-Guitar

Download aqui


AGUARDANDO A MORTE


Até onde vai a brutalidade?

Nufuz Husni , de 44 anos, Muhammad al-Hurani, de 25, Rami Al-Arouqi, de 29, Karima Abu Dalal de 34, Rami al-Masri de 25, Samir Taleb , de 47, e outras nove pessoas (cinco homens e quatro mulheres) com câncer aguardam a morte.

As autoridades israelenses impedem a esses e outros enfermos palestinos, que se encontram em estado critico, de sair da Faixa de Gaza para receber tratamento médico. Mais de 40 enfermos em estado crítico já morreram devido à demora no atendimento.

Gaza continua cercada. Israel impede a entrada e saída de palestinos. Nem o ex-presidente Jimmy Carter conseguiu entrar ali. E ninguém, absolutamente ninguém, se sensibiliza com esse milhão e meio de palestinos que ali tentam sobreviver.

Até quando?

Créditos:BlogDoBourdoukan

A Venezuela avança



Nas palavras da professora Judith Valencia, da Universidade
Central da Venezuela, estão os novos desafios do governo
bolivariano de Hugo Chávez. Judith participou das Jornadas
Bolivarianas, que aconteceram em Florianópolis de 22 a 25 de
abril.

Veja o vídeo.




JIMI HENDRIX

White Collection 2CD
Disc 1
1. Jimi Hendrix - Red House
2. Jimi Hendrix - Voodoo Chile (Slight Return)
3. The Jimi Hendrix Experience - Little Wing
4. Jimi Hendrix - Wild Thing
5. Jimi Hendrix - Bleeding Heart (Short Version)
6. Lonnie Youngblood And Jimi Hendrix - Night Life
7. The Jimi Hendrix Experience - Fire 3:39
8. Jimi Hendrix - Room Full Of Mirrors
9. Lonnie Youngblood And Jimi Hendrix - Psycho
10.Lonnie Youngblood And Jimi Hendrix - Hot Trigger
11.Lonnie Youngblood And Jimi Hendrix - Free Spirit
12.Lonnie Youngblood And Jimi Hendrix - She's A Fox
Disc 2
1. Jimi Hendrix - Purple Haze
2. Jimi Hendrix - The Sunshine Of Your Love
3. Jimi Hendrix Ft. Jim Morrison - Uranus Rock
4. Jimi Hendrix Ft. Jim Morrison - Woke Up ThisMorning And Found Yourself Dead
5. Jimi Hendrix Ft. Jim Morrison - Tomorrow Never Knows
6. Jimi Hendrix Ft. Jim Morrison - Outside Woman Blues
7. Jimi Hendrix Ft Lonnie Youngblood - You Got It
8. Lonnie Youngblood And Jimi Hendrix - Goodbye Bessie Mae
9. Lonnie Youngblood And Jimi Hendrix - She's So Fine
10.Lonnie Youngblood And Jimi Hendrix - Good Times
11.Lonnie Youngblood And Jimi Hendrix - Voices
12.Lonnie Youngblood And Jimi Hendrix - Sweet

Créditos:JimiHendrixForever


DOWNLOAD 1

DOWNLOAD 2


Fonte :Wall Dill

quarta-feira, 30 de abril de 2008

AMBIENTALISTA DIZ QUE COM ESSE SISTEMA ECONÔMICO O MUNDO ESTÁ A CAMINHO DO ABISMO

Luiz Carlos Azenha

WASHINGTON - Podem acrescentar o "ismo" que vocês quiserem. Na Venezuela dizem que é o socialismo do século 21. No Paraguai há tons de "cristianismo comunitário". Idéias díspares que pipocam aqui e ali, a busca de uma saída, a constatação de que do jeito que está não dá. É óbvio que reproduzir o sistema econômico existente - em que a "liberdade individual" foi promovida com o objetivo de tornar uma criança de seis anos uma consumidora integral - não tem futuro. Nem o sistema, nem a criança. Aliás, no Brasil o cãozinho de estimação é um consumidor voraz e mesmo que ele não peça o dono às vezes gasta mais com ele do que com a "criadagem".

É só extrapolar o que vivemos hoje nas grandes cidades brasileiras para o mundo como um todo. É só pensar no "direito" de cada chinês e indiano a ter um automóvel cada. É só casar esse objetivo com a escassez de energia. É só constatar do que é capaz o capitalismo desvairado: o Reino Unido exporta 20 toneladas de água engarrafada por ano para a Austrália e importa outras 20 toneladas. Fonte: New York Times. Quanto custa em termos de energia essa viagem maluca da água "comoditizada", como diz a Amyra?

Gus Speth, um ambientalista americano que é professor de Yale e criou dois grupos importantes de defesa do meio ambiente - o Natural Resources Defense Council e o World Resources Institute - escreveu o livro "The Bridge at the Edge of the World" em que basicamente diz que não tem jeito.

Ele escreve: "Metade das florestas tropicais e temperadas sumiram. Cerca de metade das wetlands também. Estima-se que 90% dos peixes predadores grandes sumiram. Vinte por cento dos corais também. As espécies estão desaparecendo em um ritmo mil vezes mais rápido que o normal. Químicos tóxicos persistentes podem ser encontrados às dúzias em cada um de nós."

Não li o livro, ainda. As resenhas dizem que ele propõe uma "mudança transformadora do próprio sistema." Speth afirma que o pragmatismo e o incrementalismo dos ecologistas não leva a lugar algum. Talvez ele tenha visto uma edição recente da National Geographic. Na capa, o perigo do aquecimento solar. Na contracapa, um anúncio do gigante SUV da Chevrolet que foi escolhido "carro verde do ano", uma banheira que queima 1 litro de gasolina a cada cinco quilômetros na cidade mas, se o dono achar uma bomba, pode ser abastecido com o álcool de milho.

O triste é notar que no Brasil, da extrema-direita à extrema-esquerda, com raríssimas exceções, essas idéias não fazem parte do discurso político. Não são articuladas. O desenvolvimentismo com dinheiro do BNDES é o que temos de mais avançado. É nossa idéia de "progresso". Progresso rumo a quê?

terça-feira, 29 de abril de 2008

Soja no Paraná causa impactos sócio-ambientais


Reportagem: Paula Cassandra



Porto Alegre (RS) – A produção da soja no Paraná não está desvinculada da produção do resto do Brasil. Segue as técnicas do agronegócio, como a cultura extensiva, o uso intensivo de defensivos agrícolas, a preferência pelas sementes transgênicas e a sua revenda por grandes cooperativas para exportação.

O caso se agrava quando são encontradas plantações de soja transgênica em unidades de conservação, como no Parque Nacional do Iguaçu. O pesquisador da organização não-governamental Repórter Brasil, Aloísio Milani, explica que até 2006, existia uma lei que proibia o plantio de transgênicos em um limite de 10 quilômetros das unidades de conservação. Porém, a lei foi cancelada devido ao lobby dos fazendeiros.

“Foi uma medida provisória assinada pelo Presidente Lula para liberar a soja que eles mesmos já tinham plantado ali como crime ambiental. Essa discussão, hoje, é um embrolho jurídico, porque a medida provisória prevê que não pode ter plantio de transgênicos numa região ali de 500 metros do limite parque, mas desde que se esteja previsto no plano de manejo do parque e o plano de manejo do Parque Iguaçu não prevê o plantio de transgênicos na sua região fronteiriça”, diz.

Aloísio declara que hoje, são pelo menos dois fazendeiros que extrapolam os limites do Parque Nacional do Iguaçu. Um deles é o Presidente da Cooperativa Agroindustrial LAR. O outro é o proprietário do Moinho Rotta, que vende suas sementes para as multinacionais Bunge e Cargill.

As reservas indígenas também estão sofrendo com o impacto da monocultura de soja, afirma Aloísio. O plantio de soja transgênica ocorre próximo à aldeia de Kaigangs, em Laranjeiras do Sul e Boa Vista. Apesar do reconhecimento legal da área como reserva indígena, existe a produção da semente transgênica com uso intensivo de agrotóxico a menos de 100 metros da comunidade.

“Eles relatam situação de contaminação das águas, contaminação humana, das crianças e tudo o mais e eles sobrevivem lá sem a mínima possibilidade de subsistência. Sobrevivem com cestas básicas da Conab e com ajuda de algumas entidades também como o Cimi, o Conselho Indigenista Missionário e enfim, e vários silvicultores e pecuaristas em volta”, diz.

O Paraná é o segundo maior produtor de soja do Brasil e possui uma estrutura agrária antiga. Por esses motivos, serve de modelo para se ter uma idéia de como outros estados podem sofrer com os impactos da monocultura de soja, como o Mato Grosso. Aloísio também destaca a concentração de terras no Paraná. No Estado, diminuiu consideravelmente o número de fazendas. Os poucos proprietários que existem são donos de grandes plantações da soja.


Almôndegas - Gaudêncio Sete Luas (1977)




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A natureza não é muda


AgenciaCartaMaior

O Equador está discutindo uma nova Constituição. Entre as propostas, abre-se a possibilidade de reconhecer, pela primeira vez na história, os direitos da natureza. Parece loucura querer que a natureza tenha direitos. Em compensação, parece normal que as grandes empresas dos EUA desfrutem de direitos humanos, conforme foi aprovado pela Suprema Corte, em 1886.

O mundo pinta naturezas mortas, sucumbem os bosques naturais, derretem os pólos, o ar torna-se irrespirável e a água imprestável, plastificam-se as flores e a comida, e o céu e a terra ficam completamente loucos.

E, enquanto tudo isto acontece, um país latino-americano, o Equador, está discutindo uma nova Constituição. E nessa Constituição abre-se a possibilidade de reconhecer, pela primeira vez na história universal, os direitos da natureza.

A natureza tem muito a dizer, e já vai sendo hora de que nós, seus filhos, paremos de nos fingir de surdos. E talvez até Deus escute o chamado que soa saindo deste país andino, e acrescente o décimo primeiro mandamento, que ele esqueceu nas instruções que nos deu lá do monte Sinai: "Amarás a natureza, da qual fazes parte".

Um objeto que quer ser sujeito
Durante milhares de anos, quase todo o mundo teve direito de não ter direitos.

Nos fatos, não são poucos os que continuam sem direitos, mas pelo menos se reconhece, agora, o direito a tê-los; e isso é bastante mais do que um gesto de caridade dos senhores do mundo para consolo dos seus servos.

E a natureza? De certo modo, pode-se dizer que os direitos humanos abrangem a natureza, porque ela não é um cartão postal para ser olhado desde fora; mas bem sabe a natureza que até as melhores leis humanas tratam-na como objeto de propriedade, e nunca como sujeito de direito.

Reduzida a uma mera fonte de recursos naturais e bons negócios, ela pode ser legalmente maltratada, e até exterminada, sem que suas queixas sejam escutadas e sem que as normas jurídicas impeçam a impunidade dos criminosos. No máximo, no melhor dos casos, são as vítimas humanas que podem exigir uma indenização mais ou menos simbólica, e isso sempre depois que o mal já foi feito, mas as leis não evitam nem detêm os atentados contra a terra, a água ou o ar.

Parece estranho, não é? Isto de que a natureza tenha direitos... Uma loucura. Como se a natureza fosse pessoa! Em compensação, parece muito normal que as grandes empresas dos Estados Unidos desfrutem de direitos humanos. Em 1886, a Suprema Corte dos Estados Unidos, modelo da justiça universal, estendeu os direitos humanos às corporações privadas. A lei reconheceu para elas os mesmos direitos das pessoas: direito à vida, à livre expressão, à privacidade e a todo o resto, como se as empresas respirassem. Mais de 120 anos já se passaram e assim continua sendo. Ninguém fica estranhado com isso.

Gritos e sussurros
Nada há de estranho, nem de anormal, o projeto que quer incorporar os direitos da natureza à nova Constituição do Equador.

Este país sofreu numerosas devastações ao longo da sua história. Para citar apenas um exemplo, durante mais de um quarto de século, até 1992, a empresa petroleira Texaco vomitou impunemente 18 bilhões de galões de veneno sobre terras, rios e pessoas. Uma vez cumprida esta obra de beneficência na Amazônia equatoriana, a empresa nascida no Texas celebrou seu casamento com a Standard Oil. Nessa época, a Standard Oil, de Rockefeller, havia passado a se chamar Chevron e era dirigida por Condoleezza Rice. Depois, um oleoduto transportou Condoleezza até a Casa Branca, enquanto a família Chevron-Texaco continuava contaminando o mundo.

Mas as feridas abertas no corpo do Equador pela Texaco e outras empresas não são a única fonte de inspiração desta grande novidade jurídica que se tenta levar adiante. Além disso, e não é o menos importante, a reivindicação da natureza faz parte de um processo de recuperação das mais antigas tradições do Equador e de toda a América. Visa a que o Estado reconheça e garanta o direito de manter e regenerar os ciclos vitais naturais, e não é por acaso que a Assembléia Constituinte começou por identificar seus objetivos de renascimento nacional com o ideal de vida do sumak kausai. Isso significa, em língua quechua, vida harmoniosa: harmonia entre nós e harmonia com a natureza, que nos gera, nos alimenta e nos abriga e que tem vida própria, e valores próprios, para além de nós.

Essas tradições continuam miraculosamente vivas, apesar da pesada herança do racismo, que no Equador, como em toda a América, continua mutilando a realidade e a memória. E não são patrimônio apenas da sua numerosa população indígena, que soube perpetuá-las ao longo de cinco séculos de proibição e desprezo. Pertencem a todo o país, e ao mundo inteiro, estas vozes do passado que ajudam a adivinhar outro futuro possível.

Desde que a espada e a cruz desembarcaram em terras americanas, a conquista européia castigou a adoração da natureza, que era pecado de idolatria, com penas de açoite, forca ou fogo. A comunhão entre a natureza e o povo, costume pagão, foi abolida em nome de Deus e depois em nome da civilização. Em toda a América, e no mundo, continuamos pagando as conseqüências desse divorcio obrigatório.

Publicado originalmente no semanário Brecha, do Uruguai.

Tradução: Naila Freitas / Verso Tradutores