quinta-feira, 12 de junho de 2008

quarta-feira, 11 de junho de 2008

China: há vida por trás do Grande Firewall

Uma reportagem surpreendente sobre a censura à internet revela: ela é ao mesmo tempo onipresente e vulnerável – e o consenso é mais empregado que a repressão, no controle da sociedade

(Por Sofia Dowbor)

Que diferença faz o bom jornalismo. Em “The connection has been reset” (“A conexão foi restabelecida”, também disponível em nosso clip), artigo publicado na edição de março da revista norte americana TheAtlantic, o repórter James Fallows, apresenta uma interessante explanação a respeito do funcionamento do sistema chinês de censura à internet. Construído a partir de dezenas de depoimentos e de informações técnicas detalhadas, o texto é esclarecedor e surpreendente. Além do desvendar o controle sobre a rede – algo muito comentado e pouco conhecido no Ocidente — contribui para compreender um pouco melhor as complexas relações entre Estado e sociedade na China.

Fallows aborda, primeiro, o sistema chamado pelo governo chinês de de Golden Shield Project, ou Projeto Escudo de Ouro. Todo o tráfego de informações para dentro e para fora do país é monitorado, graças a dois artifícios. Ao contrário do que ocorre no Ocidente, a arquitetura da internet na China foi concebida de modo a admitir apenas três grandes portas de entrada, por onde passam os cabos de fibra ótica que ligam o país ao resto do mundo. Cada bit que passa por estes canais é duplicado, graças a um sistema que inclui microscópicos espelhos físicos (fornecidos pela empresa norte-americana Cisco…). Os dados são dirigidos aos computadores do Escudo de Ouro, processados e analisados. Uma equipe de vigilância manobra um sofisticado mecanismo de controle. Ela pode bloquear, de quatro diferentes maneiras, o acesso a qualquer conteúdo que lhe pareça digno de censura.

O aspecto mais efetivo do Golen Shield reside, aponta Fallows, em sua de imprevisibilidade. A BBC, por exemplo, pode ser consultada, em geral, sem qualquer tipo de bloqueio. No entanto, basta a presença de uma matéria sobre as manifestações no Tibete ou algum outro conteúdo sensível aos olhos do governo para que o sistema de vigilância, sempre atualizado, bloqueie imediatamente o acesso ao portal. Um exemplo interessante da adaptabilidade do projeto é a flexibilização temporária que irá ocorrer nos mecanismos de controle, para receber o fluxo de turistas estrangeiros durante os Jogos Olímpicos.

Uma das formas de controle é o monitoramento das palavras buscadas pelos usuários em sites como Google e o Baidu – um similar chinês, censurado e rapidíssimo. A procura por termos considerados sensíveis pode ser punida por bloqueios temporários. A alternância na decisão do que será ou não censurado, incluindo palavras que pertencem e deixam de pertencer ao index do governo, e o aprimoramenteo constante das técnicas de controle desenham um ambiente quase panóptico. Sem saber ao certo quais os alvos do controle, os cidadãos se mantêm constantemente atentos e amedrontados.

Livres da vigilância do “Escudo de Ouro”, centenas de redes virtuais privadas

O curioso, mostra o artigo, é que o Escudo de Ouro pode ser driblado por dois mecanismos conhecidos e tolerados pelo Estado. O primeiro (lento, grátis e usado por estudantes e hackers), é a conexão com servidores proxy no exterior. Por meio deles, um internauta chinês habilidoso pode ultrapassar as três grandes portas e navegar livremente, como se o fizesse a partir da Alemanha, da Austrália ou do Brasil. O segundo, muito mais difundido, são as redes virtuais privadas (VPNs, em inglês), acessíveis por assinatura. Permitem codificar os dados, empacotá-los e passar sem controle pelo Escudo de Ouro. As conexões individuais custam 40 dólares ao ano (uma semana de trabalho, para um operário). Centenas de empresas financeiras, industriais e comerciais, chinesas e estrangeiras, utilizam o sistema. Precisam disso para fazer negócios, sem barreiras, com uma rede cada vez mais extensa de parceiros em todo o mundo. Milhões de funcionários têm acesso às VPNs. Do ponto de vista técnico, o Estado poderia bloquear facilmente ambos os meios de driblar a censura. As conseqüências econômicas e políticas seriam desastrosas.

Por que manter um sistema de controle sofisticado e custoso, se ele pode ser contornado? O segredo, explica Fallows, é que o Escudo de Ouro estabelece os limites políticos e psicológicos de um espaço chinês da internet. Dentro dele, o controle é rígido. Equipes de censores (fala-se em dezenas de milhares) podem determinar, por exemplo, ao responsável por um portal, que se proíbam artigos sobre um determinado tema em todos os sites ou blogs lá abrigados; que se apaguem os textos já publicados sobre o assunto; que se eliminem os comentários postados a respeito em fóruns e listas de discussão.

Em tese, é perfeitamente possível contornar também este obstáculo. Basta postar em sistemas sediados no exterior e torcer para que os textos sejam lidos pelos usuários que driblam o Escudo de Ouro. Na prática, conta a reportagem, quem age assim descamba para a irrelevância política. A grande massa da população (já são 210 milhões de internautas, um número só superado pelos Estados Unidos) está interessada em se informar por meio de sites e blogs chineses, não em desafiar as autoridades.

Ao menos no momento, portanto, o regime não despreza a repressão, mas usa, como principal instrumento de política, a criação de consensos. Ao tentar responder perguntas de leitores (numa interessante seção, criada com este fim, no site de The Atlantic), Fallows faz obseravações muito interessantes sobre o Estado chinês: “A maior parte dos norte-americanos imagina um governo todo-poderoso, com cidadãos permanentemente controlados e o regime interferindo em todos os aspectos da vida”, diz ele. De fato, prossegue, “o regime é ser rude, quando lida com quem é visto como ameaça política”. Mas “em geral, não se assemelha em nada à era de Stalin na União Soviética, ou à Coréia do Norte de hoje (…) As pessoas não caminham olhando para trás, com medo de estar sendo seguidas”. O poder constrói sua legitimidade assegurando padrões de vida que melhoram, para a maior parte da população, e “não oprimindo a sociedade mais do que o necessário”…


Há uma informação na denúncia produzida pelo Ministério Público Federal contra os acusados de integrar a quadrilha que agia no Detran/RS que não vem recebendo a menor atenção por parte da mídia gaúcha. É compreensível o silêncio. E lamentável também, colocando sob suspeita um serviço de interesse público (informar a população). Esse silêncio diz respeito a seguinte passagem da página 56 da denúncia:

“Ao lado disso, os denunciados integrantes da quadrilha não descuidavam da imagem dos grupos familiares e empresariais, bem assim da vinculação com a imprensa. O grupo investia não apenas na imagem de seus integrantes, mas também na própria formação de uma opinião pública favorável aos seus interesses, ou seja, aos projetos que objetivavam desenvolver. A busca de proximidade com jornais estaduais, aportes financeiros destinados a controlar jornais de interesse regional, freqüentes contratações de agências de publicidade e mesmo a formação de empresas destinadas à publicidade são comportamentos periféricos adotados pela quadrilha para enuviar a opinião pública, dificultar o controle social e lhes conferir aparente imagem de lisura e idoneidade”.

A denúncia cita como exemplo de investimento da quadrilha “na formação de uma opinião pública favorável aos seus interesses” as inserções de reportagens que visavam promover a idéia da implementação de usinas de casca de arroz no Rio Grande do Sul. O documento do Ministério Público Federal não cita em que data e veículo de comunicação tais reportagens teriam sido veiculadas.

O Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul divulgou nota oficial, citando o artigo n° 11 do Código de Ética do Jornalista, segundo o qual “o profissional não pode divulgar informações visando interesse pessoal ou vantagem econômica”. Repudiando esse tipo de prática, o sindicato encaminhou a nota à CPI do Detran defendendo que o assunto seja investigado e sejam nominados os profissionais envolvidos em ilegalidades, “pois não é justo que toda a categoria seja colocada sob suspeição em uma denúncia generalizada”.
Já os representantes dos “jornais estaduais”, “jornais de interesse regional”, “agências de publicidade e empresas destinadas à publicidade” não se manifestaram até agora sobre o tema. A rigor, existem dois jornais de circulação estadual no Estado, Zero Hora e Correio do Povo. Os demais jornais de Porto Alegre, O Sul, Jornal do Comércio e Diário Gaúcho não circulam em todo o Estado.

Créditos:

terça-feira, 10 de junho de 2008


O coronel Paulo Roberto Mendes será o novo comandante da Brigada Militar, confirmou hoje à noite a governadora Yeda Crusius. Admiradora do “estilo” de Mendes, a governadora quer que ele imprima sua marca na Brigada.

Como subcomandante da Brigada Militar, o coronel Mendes notabilizou-se por comandar a repressão a protestos de professores e agricultores sem-terra no Estado. Nos últimos meses, quando houve alguma manifestação de protesto ou ação de movimentos sociais, a governadora acionou o coronel Mendes para a repressão imediata. Nos últimos meses, o coronel comandou ações de repressão violentas da Brigada em uma manifestação de professores no Centro Administrativo do Estado, na ocupação da fazenda da Stora Enso, em Rosário do Sul, na destruição de um acampamento de sem-terra em São Gabriel, entre outras ações. Defensor da pena de morte, o coronel Mendes é autor da frase: “Não tem jeito, tem que ir pro paredão”.

Em 2007, Mendes defendeu que a população deveria reagir a assaltos, contrariando a orientação da polícia para situações deste tipo. No mesmo ano, durante um debate televisivo, abordou-se o caso de um pedreiro morto pela polícia em Gravataí. Segundo a família, ele foi confundido com um assaltante e acabou morrendo em razão de surra que levou após ser preso. O comentário do coronel: “Às vezes, se preocupam com uma eventual pessoa que a polícia tenha matado”.

Esse é o homem que comandará a Brigada Militar.

Créditos:

Yeda Crusius, Bancoop, VarigLog e essa coisa chamada mídia

- por Renato Rovai, editor da Fórum

Os escândalos que envolvem o governo do Rio Grande do Sul são piores do que aqueles que atingiram o governo federal em 2005. Comparar escândalos é uma coisa meio estúpida, mas em 2005 o governo Lula não viu um Zé Dirceu ou uma Dilma Roussef ligando para o vice-presidente José de Alencar e escancarando que a corrupção é isso mesmo e que ele bem sabia disso. E dando detalhes sobre como o esquema sustentava a base aliada.

No Rio Grande do Sul isso aconteceu. O chefe da Casa Civil César Busatto teve uma conversa com o vice-governador gravada onde ele trata da corrupção como se estivesse falando de um Gre-Nal. E o caso ainda não foi para nas manchetes da midiazona. Você viu a governadora Yeda com um pé na bunda na capa da Veja, por exemplo? Mas se fosse o caso tivesse acontecido no Piauí, com o governador Wellington Dias, provavelmente já teria visto o petista numa jaula com roupa de bandido na capa da dita revista.

Com todo respeito ao Piauí e aos meus muitos amigos de lá, mas o Rio Grande do Sul, apesar do governo Yeda, ainda é politicamente mais importante que o seu irmão federativo.

O mesmo acontece em relação à cratera que se abriu em obra do metro paulistano que matou sete pessoas e feriu tantas outras. É impressionante como esse acidente causado (cada vez fica mais evidente) pela ganância do consórcio que está tocando a obra e pela irresponsabilidade das gestões tucanas à frente do governo do Estado continua sendo “algo da vida” na cobertura jornalística. Quem pretende tratar dele é acusado de buscar politizar a tragédia alheia.

No caso da queda do avião da TAM a politização foi matéria-prima dos primeiros minutos da cobertura. Mesmo sabendo-se que conectá-lo com o governo federal era algo irresponsável. Criou-se um movimento chamado Cansei na esteira daquela história, lembram-se? Eu não me esqueço. E ele dirigia suas críticas ao governo, politizava o caso TAM e teria apoio midiático com divulgação gratuita de publicidades que iam bater bumbo contra o governo Lula. Foi derrotado na internet por sites e blogues que mostraram as ligações de seus autores.

Em contrapartida a esse silêncio sobre coisas que poderiam interessar à opinião pública, a midiazona já decidiu que o caso da VarigLog “é explosivo e pode ser pior ainda que o dos cartões coorporativos”. Alguns jornais (claro que sem citar a fonte) dizem que essa avaliação tem sido feita por assessores do Palácio do Planalto.

E por fim renasce o caso Bancoop. O Estadão de hoje também decidiu dar uma página inteira para a investigação sobre essa cooperativa que foi criada pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo. A denúncia é que seus problemas econômicos se devem ao financiamento de candidaturas petistas. E a acusação é de um irmão de um ex-presidente da Bancoop morto num acidente de carro e que está sendo processado pela cooperativa. Pelo que entendi da confusão apresentada ele tem provas de ter recebido 5 mil reais ou coisa assim na sua conta-corrente. Muito dinheiro, hein?

O caso Bancoop, aliás, parece um novo episódio Celso Daniel. Na eleição passada o Ministério Público de São Paulo colocou o tema na mídia com “provas irrefutáveis” de que a corrupção é que o havia levado o ex-prefeito a ser assassinado. Finda a eleição, o assunto morreu.

Agora, o MP paulista, que ao invés de cuidar da boa gestão do governo de São Paulo só se interesse em investigar a oposição, escolheu a Bancoop como bola da vez. Nada contra que investigue a Bancoop. Se há indícios de má-gestão dos recursos dos cooperados, é preciso ver o que ocorreu. Mas transformar isso em tema de página inteira de um jornal nacional, venhamos...

Os interesses demo-tucanos se confundem com os interesses da midiazona. Essa é a questão fundamental. Por isso, acho tão importante hoje a luta pela democratização da mídia, quanto foi o das Diretas Já em 1984.

Ampliar a diversidade informativa no Brasil é um passo necessário para que possamos vir a ter uma democracia mais saudável.

Precisamos de mais diversidade informativa. De contradição na cobertura jornalística. De gente tratando de assuntos por perspectivas diferentes. E, entre outras coisas, para que isso aconteça precisamos fazer desse Fórum de Mídia Livre que vai acontecer no Rio um encontro histórico.

Hoje eles já não são tão hegemônicos como parecem. A mídia comercial tradicional é um poder em franca decadência. Mas ainda teremos de batalhar muito para construir uma alternativa que não seja só a de colocar novos poderosos no lugar dos anteriores. Diversidade informativa, muitos, mas muitos mesmo, tendo o direito de comunicar. Esse deve ser nosso objetivo maior.

PS: O Fórum de Mídia Livre que vai acontecer na Universidade Federal do Rio de Janeiro no fim de semana que vem já beira os 600 inscritos.

Sem Título

Compleja es la argumentación

Ríspida es la demonstración

Impecable es la forma de sentir:

Sencillamente la alma se alumbra

Temerosa de la fuerza bruta

Incansable de la inagotable búsqueda

Nacida desde el nido

Aunque el cuerpo no crea em la alma


Carlos Eduardo Costa


The Al Di Meola Project - Kiss my Axe - 1991


img380/5964/36711lg4.jpg

1. South Bound Traveler (5:22)
2. The Embrace (5:49)
3. Kiss My Axe (5:04)
4. Morocco (7:41)
5. Gigi's Playtime Rhyme (Interlude #1) (2:36)
6. One Night Last June (8:19)
7. Phantom (7:53)
8. Erotic Interlude (Interlude #2) (2:32)
9. Global Safari (5:42)
10. Interlude #3 (1:59)
11. Purple Orchids (6:45)
12. The Prophet (Interlude #4) (1:18)
13. Oriana (September 24, 1988) (5:19)

img293/2757/p00688u4s6kfk4.jpg


- Al DiMeola / guitar (acoustic), cymbals, andclapping, tabla, guitar (electric), guitar
- Richie Morales / drums
- Gumbi Ortiz / conga
- Tony Scherr / bass, bass (acoustic), bass (electric)
- Arto Tuncboyaciyan / percussion, bata, voices, bongos
- Gumbi Oritz / conga, bata, handclapping
- Rachel Z / synthesizer
- Anthony Jackson / bass (electric), clarinet (contrabass)
- Omar Hakim / drums
- Barry Miles / synthesizer, synclavier, handclapping, piano

CRÉDITOS: LooLoBLog

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Feijó desmente Yeda e diz que Lair Ferst captou recursos para a campanha


O vice-governador Paulo Feijó (DEM) desmentiu hoje a governadora Yeda Crusius (PSDB) e confirmou que o empresário e lobista tucano Lair Ferst captou recursos na campanha eleitoral de 2006. Indagado sobre esse tema, Feijó respondeu que assim como ele ajudou a captar recursos junto a amigos para a campanha de Yeda, Lair Ferst também fez o mesmo junto “a pessoas do networking dele”. "Ele freqüentava quase que diariamente o comitê de campanha", acrescentou.

É a primeira vez que um integrante do núcleo do governo confirma a participação de Ferst na parte financeira da campanha. A governadora Yeda Crusius já negou várias vezes essa participação, garantindo que Lair atuou apenas como militante da campanha. Na entrevista coletiva que concedeu sábado, Yeda Crusius reafirmou essa tese, dizendo que o lobista foi apenas mais um militante. “Esteve perto, segurou bandeira”.

Na entrevista coletiva, Feijó acusou o ex-chefe da Casa Civil, Cézar Busatto, de tentativa de cooptação em troca de vantagens. “Este mesmo senhor já tinha me feito outras propostas escusas, propondo que eu abrisse mão de posições minhas em trocas de cargos. Gravei a conversa para me proteger de mais uma tentativa de cooptação. Eu sabia que ele vinha com aquela conversa de novo. É importante que não se perca o foco nos acontecimentos. Na conversa fica claro quem é Busatto, diz uma coisa para a população e quando tem o poder faz outra”.

Além disso, acusou Busatto de integrar um submundo adepto de práticas mafiosas e defendeu sua decisão de fazer a gravação: “De que outra forma este submundo seria posto às claras. Não posso aceitar mafiosas. Já foi feito um bem em não ter essa pessoa no governo.

Créditos:
Do mundo virtual ao espiritual




Frei Betto

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos em paz em seus mantos cor de açafrão. Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: "Qual dos dois modelos produz felicidade?"

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: "Não foi à aula?" Ela respondeu: "Não, tenho aula à tarde". Comemorei: "Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde". "Não", retrucou ela, "tenho tanta coisa de manhã..." "Que tanta coisa?", perguntei. "Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina", e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: "Que pena, a Daniela não disse "tenho aula de meditação"!

Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Por isso, as empresas consideram agora que, mais importante que o QI, é a IE, a Inteligência Emocional. Não adianta ser um super-executivo se não consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: "Como estava o defunto"? "Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite"! Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega Aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra!

Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais.

A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções - é um problema: a cada semana que passa temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é ‘entretenimento’; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: "Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!" O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede, desenvolve de tal maneira o desejo que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los aonde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma sugestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque para fora ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald’s…

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: "Estou apenas fazendo um passeio socrático." Diante de seus olhares espantados, explico: "Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz".

Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Luis Fernando Veríssimo e outros, de "O desafio ético" (Garamond), entre outros livros.


domingo, 8 de junho de 2008

Transtorno mental não é desculpa para falta de caráter


Rodrigo Alvares


Observe bem este rosto. Com atenção. Olha, eu não estou em Porto Alegre e não assisti ao pronunciamento, mas trechos da entrevista coletiva. Observe o rosto da desgovernadora do Rio Grande do Sul.

Quantos remédios tarja preta tu conseguiu distinguir nos olhos e trejeitos de Yeda Crusius? Eu contei uns três, por baixo. Mas vocês estão mais perto, e posso estar errado.

Porque só uma pessoa totalmente transtornada e mau caráter - não, as duas qualidades não vêm a reboque, por mais que queiram me convencer disso - vai para a frente de uma câmera condenar um vice-governador “porque ele mostrou ao Brasil algo que nunca havia sido visto no Estado. Ora, mas vejam só: podia ser praticado, não visto. A demência é tanta que ela ainda pede aos:

“Me mostrem que o povo gaúcho não confia no meu governo. E não joguem no meu colo um filho que não é meu”.

Yeda, uma notícia: ninguém confia em ti desde que tu sofreu aquela megaderrota do superpacote, antes de assumir. E ainda ficou de beiço.

É bom que os petistas peçam o impeachment da desgovernadora. Nada como olhar para o Busatto e lembrar que pela exata falta de provas José Dirceu não levou o presidente Lula junto para a vala. Agora, Yeda diz que não sabia de nada, que foi apunhalada. Só tem um probleminha.

Diferente do que aconteceu com Dirceu, é inconcebível acreditar que Busatto tenha ido falar com Feijó sem que a desgovernadora soubesse não só da conversa, mas do teor dela. Continue pregando no vácuo, Yeda. Mas pelo menos aprenda a disfarçar os transtornos mentais e éticos.