DOWNLOAD
by: retoko
Créditos: jimihendrixforever
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
Conselho vai apurar criminalização de movimentos sociais no RS
A partir de hoje (09), uma Comissão Especial do Conselho de Defesa à Pessoa Humana, órgão ligado à Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, inicia seus trabalhos na apuração de "tentativas de criminalização de movimentos sociais, a partir de iniciativas do Ministério Público Estadual, decisões do Poder Judiciário Gaúcho e ações da Brigada Militar do Rio Grande do Sul". As atividades serão concentradas
A Governadora Yeda Crusius receberá a Comissão Especial em seu gabinete na quinta feira (11/09), às 15h. A reunião servirá para que a comitiva possa conhecer qual a política estadual no trato com os Movimentos Sociais e se esta política respeita os Direitos Humanos. Além disso, audiências com entidades da sociedade civil, movimentos sociais e entidades ligada a fazendeiros do Rio Grande do Sul estão marcadas. A Procuradoria Geral de Justiça também receberá a Comissão para explicar uma ata do Ministério Público Estadual, de 03 de dezembro de 2007, em que pedia a "dissolução do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra"
O principal objetivo da Comissão é apontar soluções no sentido de garantir o respeito aos direitos civis e às liberdades públicas. Para o deputado Adão Pretto (PT/RS), integrante da comitiva, têm sido freqüentes ataques por parte do aparato do Estado gaúcho contra movimentos sociais, ferindo frontalmente com os direitos garantidos na Constituição e contra o Estado de Direito.
"Casos como o cerco de mais de 600 policiais ao Encontro Estadual do Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra [MST] do Rio Grande do Sul, a repressão truculenta à ação de denúncia das mulheres da Via Campesina que ocuparam uma fazenda da Stora Enso, ilegalmente instituída em faixa de fronteira, vistorias em acampamentos sem que se permitam o acompanhamento da imprensa e de parlamentares devem ser alvos de cuidado por parte destes representantes do Direito da Pessoa Humana, pois são casos que vão contra a democracia brasileira", afirma Pretto.
A Comissão Especial ainda se deslocará à Sarandi, onde visitarão acampamentos e assentamentos de camponeses que foram despejados de Coqueiros do Sul de forma violenta ainda no dia 17 de junho deste ano, de acordo com denúncias .
Agrotóxicos, alimentação e abelhas | | | |
Henrique Cortez | |
| |
A segurança alimentar está ameaçada e a crise alimentar pode adquirir contornos ainda mais trágicos se a maciça morte de colônias inteiras de abelhas continuar no ritmo atual. Sem este pequeno inseto polinizador, os efeitos na produção agrícola podem ser devastadores.
Poucas pessoas sabem que as abelhas prestam serviços ambientais muito mais relevantes do que a mera produção de mel. As mais de 20 mil espécies de abelhas polinizam a floração de, pelo menos, 90 culturas, tais como maçãs, nozes, abacates, soja, aspargos, brócolos, aipo, abóbora, pepino, laranjas, limões, pêssegos, kiwi, cerejas, morangos, melões, milho etc.
Especialistas afirmam que cerca de um terço da dieta humana provém de uma planta polinizada por um inseto e as abelhas são responsáveis por 80% da polinização.
O Departamento de Agricultura dos EUA (United States Department of Agriculture, USDA) estima que a polinização pelas abelhas é equivalente a US$ 15 bilhões em serviços de produtividade agrícola.
O governo do Reino Unido, por exemplo, reconhece que as colméias - principalmente de 44 mil apicultores amadores - contribuem com cerca de R$ 498 milhões ao ano para a economia, com a polinização de frutas, legumes e grãos.
Segundo a Embrapa, devido à redução das fontes de alimento e locais de nidificação, ocupação intensiva das terras e uso de defensivos agrícolas, as populações de abelhas silvestres têm sido reduzidas drasticamente, colocando em risco todo o bioma em que vivem. Nas regiões tropicais, as abelhas sociais (Meliponina, Bombina e Apina) estão entre os visitantes florais mais abundantes.
No Brasil, as abelhas sem ferrão (Meliponina) são responsáveis pela polinização de 40% a 90% das espécies arbóreas; dessa forma, a preservação das matas nativas é dependente da preservação dessas espécies.
Nem todos os cientistas prevêem uma crise alimentar, observando que a morte em larga escala de abelhas já aconteceu antes. Ainda assim, este parece ser um caso particularmente alarmante, tanto pelo alto índice de letalidade, como pelo alcance global, independente de latitude, longitude e clima.
Nos EUA, os apicultores estimam perdas de um quarto das suas colônias, devido ao que os cientistas definem como "desordem de colapso da colônia" (Colony Collapse Disorder, CCD).
"Esta crise ameaça destruir a produção de culturas dependentes das abelhas para a polinização", disse, recentemente, o secretário de agricultura dos EUA, Mike Johanns, dando o tom das crescentes preocupações diante da ameaça.
Desde 2006, quando foi identificada, a CCD já matou mais de 1/3 das abelhas nos EUA e o índice continua aumentando, passando para 36% no período de setembro de 2007 a maio de 2008, contra 31% no mesmo período no ano anterior.
Pesquisadores ainda não identificaram a causa exata da CCD, mas muitos acreditam que pelo menos em parte esteja associada a pesticidas. Pesquisa da Universidade Penn State documentou mais de 70 pesticidas no pólen e nas abelhas. "Nós não sabemos se estes produtos químicos têm qualquer coisa relacionada com a desordem do colapso da colônia, mas são, definitivamente, fatores que impactam no repouso e nas fontes do alimento das abelhas", diz o Dr. James Frazier, que coordenou a pesquisa da Penn State. "Os inseticidas sozinhos não provaram que são a causa do CCD. Nós acreditamos que é uma combinação de uma variedade de fatores, incluindo possivelmente ácaros, vírus e pesticidas."
De acordo com o Agroinfo - O Fórum do Agronegócio Brasileiro - no texto ‘A importância da polinização’, "existem ainda culturas de grande valor econômico que, apesar de comprovadamente aumentarem seus níveis de produtividade quando adequadamente polinizadas, não têm se beneficiado dos serviços de polinização por desconhecimento dos produtores em geral. Muitos acreditam que a soja e o algodão, por exemplo, não precisam de polinização por insetos. Porém, estudos conduzidos no exterior, e os poucos realizados no Brasil, normalmente mostram aumentos de produtividade quando polinizadores bióticos visitam as flores: de 31,7% a 58,6% no número de vagens e 40,13% no peso da vagem; de 29,4% a 82,3% no número de sementes; 95,5% na viabilidade das sementes; e de 9% a 81% no peso das sementes. De forma semelhante, quando polinizado por abelhas, o algodão aumenta em 41% o número de casulos, produz de 35% a 40% mais algodão por casulo, de 26% a 43% mais pluma por área, de 5% a 6% mais sementes por casulo e apresenta um aumento de 9% a 14% no peso por casulo".
Independente da "desordem de colapso da colônia", já se sabe que novos pesticidas estão dizimando populações inteiras de insetos polinizadores, especialmente as abelhas (Alemanha proíbe oito pesticidas neonicotinóides em razão da morte maciça de abelhas ; Alemanha: Pesticidas da Bayer são acusados da morte em massa de abelhas ; Agência de Proteção Ambiental dos EUA é acusada de ocultar informações da toxidade de pesticidas nas abelhas ; Agrotóxico que combate praga da laranja está dizimando abelhas no interior de São Paulo).
A indústria de agrotóxicos tradicionalmente "culpa" os agricultores pelo uso abusivo ou descuidado, na tentativa de eximir-se de qualquer responsabilidade, inclusive pela contaminação dos agricultores e trabalhadores agrícolas. Mas as evidências são cada vez mais fortes no sentido de comprovar o nexo causal entre os pesticidas e a morte de insetos polinizadores.
Na Alemanha já ocorrem casos de agricultores processando judicialmente outros agricultores, em razão da morte de abelhas pelos pesticidas usados e, por conseqüência, pelas perdas de produção/produtividade com a redução da polinização de frutas, legumes e grãos. Se o argumento da indústria for verdadeiro (a culpa é dos agricultores), então nada mais lógico do que processar o vizinho, pela aplicação abusiva e descuidada de pesticidas.
É uma esquizofrênica situação em que o agronegócio, em defesa de seus lucros crescentes, ataca a atividade e os lucros do próprio agronegócio. E com isto ameaça a própria produção de alimentos, potencializando os crescentes riscos de uma crise alimentar global.
O debate sobre a morte dos insetos polinizadores pelos pesticidas também reabre a discussão sobre a intensiva utilização de agrotóxicos, ameaçando e envenenando a nossa alimentação.
No caso brasileiro, a situação caminha para uma tragédia tóxica. Além da utilização dos agrotóxicos piratas importados ilegalmente, ainda, legalmente, importamos agrotóxicos proibidos nos próprios países onde são produzidos.
O veneno nosso de cada dia é um negócio bilionário. Não foi por outra razão que, por liminar judicial, a indústria conseguiu impedir a Anvisa de reavaliar 99 agrotóxicos . A Anvisa tentou reavaliar os agrotóxicos depois da divulgação do resultado do monitoramento de agrotóxicos em alimentos, como conseqüência do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos.
Esta utilização abusiva de agrotóxicos envenena o meio ambiente, contamina nossa comida, se fixa de forma persistente no solo, nos mananciais e nas águas subterrâneas, isto sem falar das ameaças à saúde dos trabalhadores na agricultura.
As iniciativas da França e da Alemanha de "endurecer" a regras com os agrotóxicos não visam apenas proteger os insetos polinizadores, mas impor limites que, ao final, serão importantes para proteger a saúde dos agricultores e de toda a população. Não é o caso do Brasil. Nas palavras de Roberto Malvezzi (Gogó), "o capital não tem autocrítica e as autoridades postas a seu serviço menos ainda".
É uma ótima definição para o que acontece com a histórica omissão das autoridades brasileiras diante desta gananciosa e suicida relação da indústria agroquímica e o agronegócio. Nesse passo, eles morrerão ricos, mas morreremos todos.
Como leitura adicional, para melhor compreensão desta tragédia global, sugiro que leiam os artigos:
Agrotóxicos: O holocausto está aqui, mas não o vêem, artigo de Graciela Cristina Gómez Agrotóxicos: poluição invisível, por Márcia Pimenta Agrotóxicos: A feira envenenada, por Márcia Pimenta Agrotóxicos e saúde, por Waldir Bertúlio.
Henrique Cortez é ambientalista e coordenador do portal EcoDebate.
Publicado originalmente em EcoDebate. E-mail do autor: henriquecortez@ecodebate.com.brEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email
|
Ofensivas e defensivas | | | |
Wladimir Pomar | |
| |
No final do século 19, o desenvolvimento desigual do capitalismo levou ao surgimento de algumas grandes potências industriais e financeiras. Elas passaram a concorrer pelas antigas fontes de matérias-primas, assim como pelas novas fontes de energia (em especial o petróleo), novos materiais (eletrotécnicos e químicos), rotas de transporte marítimo e mercados.
Todas se lançaram numa frenética ofensiva estratégica, seja para consolidar seus antigos territórios coloniais e conquistar novos - como a Grã-Bretanha, França e Rússia -, seja para obter "um lugar ao Sol" - como Estados Unidos, Alemanha, Japão e Itália.
Os choques e guerras localizadas dessas potências contra povos ainda livres, assim como entre si, multiplicaram-se durante todo o final do século 19 e início do século 20. As guerras russo-turca de 1877-78, ítalo-abissínia de 1894-96, hispano-americana de 1898, russo-japonesa de 1904-05 e as sucessivas guerras contra a China são o prelúdio da 1ª. Guerra Mundial, por uma nova repartição econômica e política do mundo.
Paralelamente, esse final e início de séculos também foram marcados por uma extraordinária ascensão da luta de classes, acompanhando as disputas intercapitalistas, que desbordaram em disputas interimperialistas. Na Europa e Estados Unidos surgiram fortes movimentos sindicais, de cunho anarquista, socialista, liberal, cristão e "amarelo", que reivindicavam melhorias salariais e laborais e utilizavam tanto a resistência passiva quanto as greves e os atentados.
As tentativas de consolidação dos interesses e laços mundiais da classe operária, através das I (1864) e II (1889) Internacionais, foram frustradas. A repressão patronal e estatal derrotou a primeira e fugaz experiência de tomada do poder pelos operários, a Comuna de Paris, em 1871. As divisões ideológicas e políticas criaram obstáculos à formação e construção de partidos operários de classe. E a influência dos interesses nacionais burgueses, evidenciados nos momentos que precederam a I Guerra Mundial, levaram muitas correntes operárias a apoiar a guerra imperialista.
Portanto, houve uma certa combinação entre a ofensiva estratégica externa dos capitalismos nacionais dominantes e a ofensiva interna dos movimentos operários, suplantada pela guerra mundial. Esta, por um lado, firmou a ofensiva estratégica imperialista, mas deu surgimento a uma contra-ofensiva estratégica, operária e popular em países da periferia do capitalismo, principalmente Rússia e China.
A revolução russa, de 1905, e a derrubada da dinastia Qing, em 1911, foram os primeiros sinais dessa mudança de centro da luta de classes. As revoluções russas de 1917 e as guerras revolucionárias na China, iniciadas em 1924, são marcos de uma retomada da ofensiva estratégica, tanto das camadas populares dos países coloniais quanto dos movimentos operários da Europa e Estados Unidos.
Isso mostra como a luta de classes interfere, historicamente, no desenvolvimento capitalista e como ofensivas e defensivas estratégicas fazem parte dessa luta objetivamente. Isto é, sem que os pensadores e partidos tenham poder para modificá-las por sua própria vontade.
Wladimir Pomar é analista político e escritor.
|