Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sábado, 11 de outubro de 2008
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
Ahmad Jamal
Ahmad Jamal - Live at the Pershing - But Not For Me (1958)
MP3 / 320kbps / RS.com: 63mb / Cover
Gênero: jazz, swing, mainstream
uploader: redbhiku
Faixas:
1. But Not For Me
2. Surrey With The Fringe On Top
3. Moonlight In Vermont
4. Put Another Nickel In Music Music Music
5. There Is No Greater Love
6. Poinciana
7. Woody ‘n’ You
8. What’s New
A mídia que balança o berço
Maria Helena Masquetti(diplo-Br)
Nestes tempos de crianças expostas a tantos tipos de mídia, o velho provérbio “a mão que balança o berço governa o mundo” propicia uma reflexão sobre quem é realmente a maior autoridade na estrutura familiar. Tomando-se por autoridade aquele que provê a manutenção da família, supõe-se que ambos, marido e mulher, dividam entre si esse papel de governar a educação dos filhos. No entanto, cada vez mais, as crianças expressam valores e anseios contrários aos da educação recebida em casa e na escola. O fato é que elas dependem dos exemplos adultos para a construção de sua identidade. E, por acreditarem no que ouvem ou vêem, em sua lógica infantil, passam a ver a mídia [1] como outra autoridade dentro de casa.
Por meio dos sites, jogos eletrônicos, revistas, mensagens comerciais e programas inadequados, a mídia propõe-se a satisfazer, de várias formas, os desejos infantis que, pela manobra persuasiva, converte em necessidades. Expresso em números (Interscience, 2003), o resultado desse bombardeio de mensagens e apelos comerciais é de 80% de influência das crianças nas compras da família. Isso concorre para diminuir a autoridade dos pais perante os filhos. A propósito, há alguns meses, muita gente viu um comercial de automóvel equipado com um aparelho de DVD, insinuando que a atuação dos pais pode ser dispensável na vida dos filhos mediante a aquisição de determinada tecnologia. A mensagem mostrava dois carros na estrada. Num deles, os pais se desesperavam por não saber como conter as rusgas entre os filhos pequenos enquanto, no outro, equipado com o aparelho DVD, o clima era de total tranqüilidade pela atenção das crianças presa à tela.
O que melhor explica o fato dos filhos aderirem tão mais prontamente a tantas mensagens da mídia e desdenhar os ensinamentos dos pais é a permissividade expressa por ela das duas formas mais sedutoras para a criança: a ausência do “não”, palavrinha incômoda porém decisiva para a demarcação dos limites imprescindíveis à socialização; e a reverência irrestrita às vontades das crianças que só faz ampliar nelas a fantasia de poder ter tudo.
Mídia: uma babá aparentemente dedicada, afetuosa e complacente demais com os desejos infantis
Um pequeno recorte na trama do filme de Curtis Hanson: “A Mão que balança o berço” – título, aliás, inspirado no citado provérbio, como explicita a fala de um de seus protagonistas –, ilustra essa atração dos pequenos por adultos complacentes demais com os desejos infantis. A trama gira em torno de uma babá aparentemente dedicada e afetuosa que começa a se apropriar das duas crianças de um jovem casal de forma lenta e sedutora. Valendo-se de sua maior disponibilidade de tempo junto aos pequenos, a babá permite à garotinha mais velha – cerca de cinco anos – assistir a um gênero de filme vetado à ela pelos pais em função de sua pouca idade. Como é de se esperar, a garotinha logo entende a babá como mais amorosa que seus pais.
De modo geral, tal cumplicidade com os caprichos infantis está presente em diversos tipos de mídia dirigidos às crianças. E a tendência é antecipar-se, cada vez mais, essa interferência na educação delas. Por isso, quem tiver hoje nos braços seu recém-nascido já não pode deixar para mais tarde a preocupação com os impactos da comunicação midiática na formação dos pequenos. Ela já está do lado do berço na forma dos programas para bebês. Se nos faltam ainda dados de pesquisa para saber o que acontecerá, daqui a alguns anos, com os bebês “educados” via TV, não faltam experiências e estudos sobre a formação do psiquismo. Um bebê não tem estrutura mental para saber sequer quem é e o que é; não tem idéia de suas dimensões físicas; desconhece o mundo à sua volta e, sobretudo, é fusionado com sua mãe, tendo-a como uma extensão de si mesmo. Como concluiu o psicanalista e pediatra Donald Winnicott, um dos mais brilhantes estudiosos do desenvolvimento infantil, “não existe tal coisa chamada bebê, significando com isso que se decidirmos descrever um bebê, encontrar-nos-emos descrevendo um bebê e alguém. Um bebê não pode existir sozinho, sendo essencialmente parte de uma relação”.
Alheio aos danos que pode trazer ao psiquismo infantil, o objetivo do marketing é implantar o quanto antes na criança a necessidade de consumir
Sendo assim, o que pensar sobre a relação de um bebê com um aparelho de televisão que fala e age, sem estabelecer um contato real com ele? Uma das primeiras formas de contato da criança com o mundo é a identificação projetiva, mecanismo psíquico por meio do qual ela projeta aspectos de si mesma sobre o outro enquanto sente como seus determinados aspectos deste outro em virtude do estado de fusionamento em que se encontra. Sendo assim, é fundamental refletir sobre o quê um bebê irá projetar na caixa de uma TV (sem sua mãe dentro), com uma seqüência de imagens ainda sem sentido ou valor para ele? E, pior ainda, que aspectos ele tomará do aparelho e da produção eletrônica como partes de si mesmo?
Se não podemos prever o futuro, olhemos o que já acontece, no presente, com tantas crianças que nos rodeiam, no cotidiano ou na prática clínica: natural nos primeiros anos de vida, o narcisismo (amor a si mesmo) e a onipotência (certeza de poder ser e ter tudo) andam durando além do previsto quando, até por volta dos seis anos, deveriam ter se convertido na capacidade de se preocupar com o outro. O que estará estimulando, então, nas crianças, o prolongamento dessas características? Quem pensou em interesse comercial, acertou no x da questão que envolve hoje a preocupação com os impactos da publicidade e de determinados tipos de entretenimento na formação das crianças. Alheio aos danos que pode trazer ao psiquismo infantil, o objetivo do marketing é implantar o quanto antes na criança a necessidade de consumir. Como diz Suzan Linn, doutora em Educação e professora de Psiquiatria da Escola de Medicina de Harvard, em seu livro Crianças do consumo – A Infância Roubada, “quando nos referimos a produtos especificamente projetados para crianças “do berço à universidade” pode ser o máximo que alguém possa almejar, mas muitos fabricantes buscam lealdade à marca que dure do berço ao túmulo”.
Na reportagem “A perigosa relação do bebê com a TV”, do Jornal Observatório da Imprensa – a jornalista Leneide Duarte-Plon destaca um dos trechos do manifesto assinado pelos cientistas franceses Pierre Delion e Bernard Golse publicado por este jornal: "Numa época em que se fala muito de ecologia, é preciso que nos conscientizemos de que proteger nossos filhos do risco de desenvolver uma forma de dependência em relação à tela luminosa é uma forma de ecologia do espírito. Por isso, é urgente que nos mobilizemos para a criação de uma moratória que proíba a existência desses canais, antes que a ciência possa conhecer melhor a relação da criança pequena com a tela".
Pelo tanto que evoluímos, chega a parecer irreal que tenhamos hoje que nos revolver em argumentos para impedir que se continue penetrando um terreno tão frágil e misterioso como a psique de um bebê. E isso sob a proposta, desculpe, descabida de ampliar-lhe a inteligência e a criatividade como afirmam alguns argumentos de vendas desses programas para os pequenos. Nascidos em berço de ouro ou em cestos pobres de palha, as perspectivas dentro de cada bebê estão intactas nessa fase do broto e não demandam outros cuidados além dos prescritos pela natureza. Os mais caros entre eles são o calor do seio materno, o alimento saudável, as vozes amorosas e a mão protetora que governa seu passo a passo até o contato pleno com a vida real. Se há tanta preocupação com o desenvolvimento dos bebês, que ela seja convertida, então, para a melhora social do “berço” que os abrigará ao nascer. Nada substitui o amor e os efeitos que só ele pode produzir na construção de um novo indivíduo. Recordando uma vez mais a sabedoria e prudência de Winnicott: “Ainda temos muito que aprender sobre os primeiros tempos de uma criança e talvez só as mães possam dizer o que queremos saber”.
Mais:
Maria Helena Masquetti assina, no Caderno Brasil, a coluna Consumo & Direitos. Edição anterior:
Sapatos de pano contra o vazio de afetos
Como na antiga lenda, vieram as pomposas estratégias do marketing, em suas carruagens douradas de sedução, propondo-se a oferecer às crianças um mundo de maravilhas e tratando de atirar ao fogo as criações. Mas atenção: há meios de construir outra infância
Um tapinha não dói em quem se acostumou com a dor
Carinho é gostoso, tapa é ruim. De quantas pesquisas necessitamos para ter certeza disso? Lembrando Belchior em uma outra música, não precisamos que nos digam de que lado nasce o sol porque bate lá nosso coração — e a esperança de um futuro melhor para nossas crianças
Em liquidação, a auto-estima
No Dia Mundial dos Direitos do Consumidor, vale notar que as crianças tornaram-se o público-alvo preferido da publicidade. Ainda em formação, são bombardeadas com a idéia de que os prazeres se compram — o que prolonga a imaturidade, acentua frustrações e produz, no futuro, adultos infantilizados
[1] A mídia é, muitas vezes, legitimada pela audiência que os pais lhe presta
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Equador apresenta proposta de Fundo Monetário alternativo
O ministro destacou que "podemos começar a construir a soberania energética, temos possibilidades de recursos suficientes com uma redefinição da divisão internacional de trabalho".
Ele acrescentou que a concepção de uma nova estrutura financeira é a solução para iniciar a soberania econômica e energética dos povos latino-americanos. "Devemos redefinir propostas específicas, baseadas nas necessidades dos povos, garantindo os direitos humanos e as necessidades básicas, com alternativas como a Alba e Unasul", disse.
O ministro equatoriano insistiu em que "podemos construir a soberania energética, temos possibilidades de recursos suficientes com uma redefinição da divisão internacional do trabalho, uma nova relação entre o aparato financeiro e produtivo".
Paez explicou que a economia deverá se basear em três pilares fundamentais. O primeiro deles, é a construção de uma nova rede para avançar na consecução de elementos que permitam a soberania alimentaria, energética, pesquisa e desenvolvimento de saberes tradicionais.
O segundo se baseia na construção de uma rede de bancos centrais que superem a visão neoliberal do passado, enfocada nos elementos chave do desenvolvimento a partir dos territórios.
"Tudo isto tendo como coração um Fundo Monetário Alternativo ao Fundo Monetário Internacional (FMI) que ligue as áreas de estabilização macro econômica que estabelecem as possibilidades de sub imperialismo no cenário da integração dos povos", destacou.
Fonte: Agência Adital
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
Abertas as inscrições para o FSM 2009
O território onde serão realizadas as atividades do Fórum é composto pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), uma área verde margeada pelo rio Guamá e pela floresta. Alguns pontos da programação já estão definidos. A marcha de abertura ocorrerá na tarde do dia 27 de janeiro. O dia 28 será o Dia da Pan-Amazônia: 500 anos de resistência, conquistas e perspectivas afro-indígena e popular. Essa data será dedicada a levar ao mundo as vozes da Amazônia, por meio de diversas atividades, como testemunhos, conferências, celebrações e mostras culturais. De 29 a 31 de janeiro serão realizadas as demais atividades auto-gestionadas. Por fim, no dia 1° de fevereiro, ocorrerá o encerramento do FSM 2009, com ações descentralizadas e auto-gestionadas, onde devem ser apresentados os acordos, declarações e alianças construídos no decorrer do evento. Para maiores informações clique AQUI.
Créditos: Marco Aurélio Weissheimer
Mestre Salustiano - Sonho da Rabeca - 1998
Créditos: Lado B
Saravá!!!
Seu pai, João Salustiano, era um tocador de rabeca e foi quem o ensinou a fazer e a usar o instrumento. Mestre Salu usa praíba, imburana, pinho, mulungu e cardeiro para fazer suas rabecas, pois segundo ele são as melhores madeiras para produzir o som.
Fundou o Maracatu Piaba de Ouro, em 1997, tendo participado com o grupo do festival de Cultura Caribeña, em Cuba. É o comandante do cavalo-marinho Boi Matuto, que criou em 1968, e do Mamulengo Alegre.
Mestre Salustiano também é um artesão. Além das rabecas é ele quem confecciona os bichos do bumba-meu-boi, cavalo, boi, burra; as máscaras do cavalo-marinho, feitas de couro de bode ou de boi e os mamulengos de mulungu.
É um dos grandes responsáveis pela preservação da ciranda, do pastoril, do coco, do maracatu, do caboclinho, do mamulengo, do forró, do improviso da viola e de outros folguedos populares do folclore nordestino.
Mestre Salustiano faleceu aos 62 anos, na cidade do Recife, no dia 31 de agosto de 2008.
Uma enorme perda pra nossa musica, por isso, baixem e deleitem-se, isso é uma ordem!!!!
O abalo dos muros | | | |
Frei Betto | |
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Em 2009 faz 20 anos a queda do Muro de Berlim, símbolo da bipolaridade do mundo dividido em dois sistemas: capitalista e socialista. Agora, assistimos ao declínio de Wall Street (Rua do Muro), na qual se concentram as sedes dos maiores bancos e instituições financeiras.
O muro que dá nome à rua de Nova York foi erguido pelos holandeses em 1652 e derrubado pelos ingleses em 1699. New Amsterdam deu lugar a New York.
O apocalipse ideológico no leste europeu, jamais previsto por qualquer analista, fortaleceu a idéia de que fora do capitalismo não há salvação. Agora, a crise do sistema financeiro derruba o dogma da imaculada concepção do livre mercado como única panacéia para o bom andamento da economia.
Ainda não é o fim do capitalismo, mas talvez seja a agonia do caráter neoliberal que hipertrofiou o sistema financeiro. Acumular fortunas tornou-se mais importante que produzir bens e serviços. A bolha especulativa inflou e, de súbito, estourou.
Repete-se, contudo, a velha receita: após privatizar os ganhos, o sistema socializa os prejuízos. Desmorona a cantilena do "menos Estado e mais iniciativa privada". Na hora da crise, apela-se ao Estado como bóia de salvamento na forma de US$ 700 bilhões (5% do PIB dos EUA ou o custo de todo o petróleo consumido em um ano naquele país) a serem injetados para anabolizar o sistema financeiro.
O programa Bolsa Fartura de Bush reúne quantia suficiente para erradicar a fome no mundo. Mas quem se preocupa com os pobres? Devido ao aumento dos preços dos alimentos, nos últimos dozes meses o número de famintos crônicos subiu de 854 milhões para 950 milhões segundo Jacques Diouf, diretor-geral da FAO.
Quem pagará a fatura do Proer usamericano? A resposta é óbvia: o contribuinte. Prevê-se o desemprego imediato de 11 milhões de pessoas vinculadas ao mercado de capitais e à construção civil. Os fundos de pensão, descapitalizados, não terão como honrar os direitos de milhões de aposentados, sobretudo de quem investiu em previdência privada.
A restrição do crédito tende a inibir a produção e o consumo. Os bancos de investimentos põem as barbas de molho. Os impostos sofrerão aumentos. O mercado ficará sob regime de liberdade vigiada: vale agora o modelo chinês de controle político da economia, e não mais o controle da política pela economia, como ocorre no neoliberalismo.
Em 1967, J.K. Galbraith chamava a atenção para a crise do caráter industrial do capitalismo. Nomes como Ford, Rockefeller, Carnegie ou Guggenheim, exemplos de empreendedores, desapareciam do cenário econômico para dar lugar à ampla rede de acionistas anônimos. O valor da empresa deslocava-se do parque industrial para a Bolsa de Valores.
Na década seguinte, Daniel Bell alertaria para a íntima associação entre informação e especulação, apontando as contradições culturais do capitalismo: o ascetismo (acumulação) em choque com o estímulo consumista; os valores da modernidade destronados pelo caráter iconoclasta das inovações científicas e tecnológicas; lei e ética em antagonismo quanto mais o mercado se arvora em árbitro das relações econômicas e sociais.
Se a queda do Muro de Berlim trouxe ao leste europeu mais liberdade e menos justiça, introduzindo desigualdades gritantes, o abalo de Wall Street obriga o capitalismo a se repensar. O cassino global torna o mundo mais feliz? Óbvio que não. O fracasso do socialismo real significa vitória do capitalismo virtual (real para apenas um terço da humanidade)? Também não.
Não se mede o fracasso do capitalismo por suas crises financeiras, mas sim pela exclusão - de acesso a bens essenciais de consumo e direitos de cidadania, como alimentação, saúde e educação - de dois terços da humanidade. São 4 bilhões de pessoas que, segundo a ONU, vivem entre a miséria e a pobreza, com renda diária inferior a US$ 3.
Há sim que buscar, com urgência, um outro mundo possível, economicamente justo, politicamente democrático e ecologicamente sustentável.
Frei Betto é escritor e assessor de movimentos sociais, autor de "Calendário do Poder" (Rocco), entre outros livros.
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terça-feira, 7 de outubro de 2008
Culpar a vítima tem sido o recurso comum dos culpados ao racionalizar e distorcer o horror do crime em si. Sejam esposas espancadas, crianças vítimas de abusos, ou palestinos há muito submetidos à brutalidade da horrenda ocupação militar israelita. O primeiro (e último) recurso de covardia está em difamar a vítima, acusando-a de ter provocado a crueldade merecida do crime.
O pré-requisito essencial, claro, é a total desumanização das vítimas e a eliminação de seus direitos e atributos mais básicos, assim como seus pedidos de proteção.
Inevitavelmente, a mistura resultante da vitimização é incrementada numa etapa posterior pela vulnerabilidade aumentada, pela distorção, e pela exclusão da proteção de aspectos humanos e imperativos morais.
Portanto, a última explosão de confrontos entre o exército de ocupação israelita e manifestantes civis palestinos, transformou-se no campo de recreio para a força total da "metralha giratória" israelita, no mais deliberado, concentrado e racista exercício de fraude e desumanização dirigido contra um povo.
A forma mais elementar de fraude, está em inventar uma simetria falsa entre o invasor e o invadido, entre opressor e vítima.
A "violência" do poderoso exército de ocupação israelita, usando munição real, tanques e helicópteros (no mínimo) é equiparada à "violência" dos civis palestinos protestando contra a continuada perda de direitos, terras e vidas.
Além disso, pede-se aos palestinos que sejam dóceis, que parem com a "violência", que ponham um fim ao cerco a Israel — como se o exército mais poderoso da região estivesse sendo "ameaçado" pela rejeição do povo desarmado à sua ocupação e brutalidade. A solução simples e óbvia, é claro, seria a retirada do exército e o fim da ocupação.
Isto, ironicamente, é acompanhado de uma desvalorização dos direitos e vidas palestinos, pela tradução de nossa fraqueza objetiva na diminuição de direitos onde o poderoso determina os parâmetros de "justiça" para o fraco.
A apresentação como um todo exibe constantemente a síndrome da "responsabilidade do homem branco". Os palestinos devem ser "gratos" por qualquer "oferta generosa" que Israel escolha "garantir" a eles, independente da injustiça e ilegalidade flagrantes da negociação israelita.
Tanto a extrema direita, quanto a extrema esquerda em Israel (assim como nos EUA) têm adotado esta abordagem condescendente, paternalista, para a paz — Barak foi "muito longe" em "oferecer" aos palestinos quase 90% de suas terras com algumas "responsabilidades" em Jerusalém, e aqueles palestinos "ingratos" estão sendo "intransigentes" e linha-dura.
Tendo comprometido 22% da Palestina histórica, nós não fomos convidados a ser parte da anexação ilegal de Jerusalém por Israel e de sua política de assentamentos — isto é, uma parceria nada sagrada para a violação da lei internacional e das resoluções relevantes da ONU.
Se não formos determinados na auto-negação, se não recusarmos o papel de bons nativos e não continuarmos rejeitando a versão unilateral israelita de "paz", que nos "oferece" um estadozinho subserviente de isolados Bantustões sob o sistema de apartheid de Israel, então seremos forçados à submissão.
Afinal de contas, se pressão, ameaça, e "queda-de-braço" político não funcionam, a agressão militar absoluta pode produzir os resultados desejados — uma vez que "os árabes só entendem a línguagem da violência".
Táticas instantâneas ou políticas de pânico entram no jogo com rótulos tais como "terrorista", ou "ditatorial", ou palestinos "violentos", na medida em que disfarçam a realidade do desejo humano palestino de resistir à subjugação e opressão como prova de tais distorções.
Uma situação típica é visível claramente: Arafat deve "controlar" seu povo (nação de ovelhas?) e lhe "ordenar" que se acalmem e aceitem sua escravização e repressão pelos israelitas, de outro modo ele não será mais um "parceiro da paz" e não pode ser considerado um "líder".
Ao mesmo tempo, Israel não pode negociar com Arafat, ou com os palestinos, porque são tradicionalmente "antidemocráticos" e, portanto, não têm nada a ver com democracias "civilizadas", como a de Israel e a dos Estados Unidos.
Paralelamente, outros rótulos instantâneos e epítetos estereotipados são facilmente lançados como um exercício conveniente para reduzir o aspecto humano dos palestinos. Os insultos históricos e familiares usados pelos oficiais e figuras públicas israelitas (incluindo "baratas", "vermes de duas pernas", "cães") foram ampliados para incluir "cobras" e "crocodilos".
A redução de nossa característica humana a uma série de abstrações, em nenhum lugar é tão sinistra quanto no jogo numérico. As vítimas palestinas do fogo israelita são fornecidas diariamente como um número "X" de mortos e "Y" de feridos. Seus nomes, identidades, esperanças despedaçadas, e sonhos destruídos não são mencionados. Ausente também estão a dor e a angústia de suas mães, de seus pais, irmãs, irmãos e outros entes queridos que terão de viver a vida com a trágica perda.
A documentação visual do assassinato a sangue-frio do menino Muhammad al-Durra destruiu a complacência daqueles que se sentiam confortáveis com o anonimato dos palestinos e com a invisibilidade de seu sofrimento. Mesmo assim, diante da evidência irrefutável, a máquina de propaganda israelita tentou distorcer a verdade.
Primeiro, foi dito que ele foi morto por atiradores palestinos; depois, que ele foi "pego no fogo-cruzado". A pior versão foi a descrição cínica do menino Muhammad como um "criador de casos" ou um menino "malicioso" que atraiu a morte para si mesmo — como se a resposta adequada para uma criança vivendo sua infância fôsse a morte deliberada.
A última acusação envolveu uma questão: "O que ele estava fazendo lá?". A verdadeira questão deveria ter sido "o que o exército israelita estava fazendo lá?", no coração da Gaza palestina atirando em civis, inclusive uma criança e seu pai, que foram pegos em flagrante tentando engajar-se no ato "provocativo" de fazer compras juntos.
Notem a diferença, entretanto, quando dois agentes israelitas disfarçados, pertencendo aos notórios esquadrões da morte israelitas, foram mortos por manifestantes palestinos.
Nenhum palestino tentou justificar o ato. Ao contrário, ordens foram dadas para investigar e prender os responsáveis. Afinal de contas, deve existir algo como a lei e o processo devido.
Ao contrário, Israel deslocou seus tanques e tropas, apertando o cerco e estrangulando as cidades, aldeias e campos de refugiados palestinos. Então trouxe os seus helicópteros Apache e disparou sobre cidades palestinas na mais absurda e cruel forma de punição coletiva. Sua versão dos eventos apresentou os agentes israelitas como reservistas que "por engano se desviaram para Ramallah" e então foram "linchados" pela multidão. Referências ao "assassinato", "sede de sangue" e "selvageria" transformaram-se na tendência verbal predominante.
Embora ninguém vá concordar com a morte dos soldados, é importante entretanto, lidar com os fatos reais e o contexto:
Ramallah, uma cidade sob total cerco militar israelita, foi fechada a todos o movimento de entrada e saída da cidade. Apenas uma entrada foi aberta, inteiramente sob controle dos múltiplos pontos de checagem militar israelitas. Portanto, "desviar-se" para Ramallah iria requerer tentativas deliberadas e repetidas exigindo tenacidade, persistência e mesmo astúcia.
Os dois agentes israelitas foram claramente infiltrados e plantados no meio de uma marcha de protesto no coração da cidade. A ocasião era o funeral de um homem palestino, Issam Joudeh Hamad, de uma aldeia de Umm Safa, que tinha sido raptado por colonos israelitas e torturado até à morte de uma maneira horrível.
São cenas e fotografias horríveis do corpo, mais o testemunho dos médicos que o examinaram, que se exibidas aos olhos do mundo aumentariam os pontos dos palestinos e desumanizariam os israelitas. Algumas estações árabes me informaram que as imagens eram tão chocantes que evitaram usá-las.
A maioria das pessoas que participaram da marcha na sitiada cidade palestina de Ramallah conhecia a vítima, e alguns tinham visto o corpo. Os dois agentes israelitas disfarçados que tinham se infiltrado na marcha, foram reconhecidos pelos palestinos como membros dos "Esquadrões da Morte" responsáveis por muitos assassinatos e provocações.
Apesar do fato da polícia palestina ter tentado protegê-los, os dois foram mortos diante das câmeras.
Imediatamente isto se tornou uma justificativa para chamar todos os palestinos de assassinos, e pela mais sistemática e venenosa campanha de ódio na história recente. Isto também foi usado como uma justificativa para os ataques aéreos israelitas sobre Ramallah e outras cidades palestinas.
No emocionante apelo aos seus compatriotas (13 de outubro de 2000) para não explorar este incidente para justificar o racismo e o ódio existentes em Israel, o poeta israelita Yitzhak Laor documentou vários linchamentos de palestinos pelo exército e forças de segurança israelitas. Em todos os casos os perpetradores nunca foram punidos e nenhum ultraje moral foi expresso pelo público israelita, menos ainda houve o bombardeio de cidades israelitas!
O mesmo se aplica ao reino de terror dos colonos israelitas que atingem palestinos em suas próprias casas e cidades, com a proteção e o conluio total do exército israelita.
Apresentados como "civis israelitas" indefesos cercados pelos palestinos "hostis", a natureza sinistra e letal da violência dos colonos, como extremistas armados em fúria, é com frequência ignorada. A ilegalidade dos assentamentos israelitas, o caráter fundamentalista extremista dos colonos armados, e os atos horríveis de rapto, tortura, assassinato e violência aleatória que são cometidos com impunidade, raramente são mencionados. Por toda a parte, os palestinos continuam a ser responsabilizados.
O insulto mais flagrantemente racista é o roubo israelita de nossa humanidade como pais. Em uma tentativa de nos roubar nossos sentimentos mais básicos por nossas crianças, nós somos acusados de "enviar crianças para a morte", para "aumentar os pontos na mídia".
O horror é posteriormente misturado pela total e inquestionável equanimidade com a qual este grande insulto nacional é repetido por judeus de todas as partes, sem qualquer distância crítica ou mesmo consciência da enormidade de tal acusação racista.
Quando crianças palestinas se tornaram alvos dos atiradores isralenses e de outra violência do exército, o ministro da educação não teve outra opção a não ser fechar as escolas temporariamente, de modo a minimizar a exposição dos estudantes em seu caminho para a escola.
Isto foi imediatamente interpretado pela metralha giratória israelita como prova de que nós fechamos as escolas de modo a "liberar" nossas crianças para sair e "criar distúrbios", obstruindo portanto o caminho livre das balas israelitas.
A segurança do lar e as tentativas dos pais em proteger suas crianças não são nem consideradas. A maioria das crianças foram atingidas na cabeça ou na parte superior do corpo, principalmente com balas de alta velocidade. Os alvos mais comuns das balas de aço revestidas de borracha foram os olhos das crianças.
A política de atirar para matar (ou aleijar permanentemente) tem sido empregada pelo exército israelita. Os oficiais israelitas alegam que eles praticaram a moderação.
Claro eles podem fazer pior — eles podem cometer genocídio ou completar a limpeza étnica iniciada em 1948.
Ainda assim, é a segurança de Israel que está em jogo.
O poderoso exército de ocupação de Israel encolhe-se de medo diante do clamor do povo palestino por justiça e liberdade.
O povo palestino não precisa de segurança em sua própria terra ou em suas próprias casas, uma vez que eles têm sido sistematicamente desumanizados pelos seus opressores, como a merecer o que quer que aconteça a eles.
Pior do que ser "não-existente" (como na falácia "uma terra sem povo para um povo sem terra") nas mentes da narrativa oficial de Israel nós agora parecemos existir em um plano mais baixo, como espécies sub-humanas, destituídas das mais elementares qualidades e direitos que orientam a consciência e os valores morais da humanidade como um todo.
Tudo isto para aliviar a culpa e a responsabilidade do verdadeiro culpado.
Os apologistas da ocupação israelita devem encontrar um endereço alternativo para culpar pelo horror infligido aos palestinos; assim, quem melhor do que as próprias vítimas?
O melhor do Blue...
Buddy Guy
Começou a tocar guitarra no início da década de 50 e em 1957 se mudou para Chicago onde iniciou sua carreira profissional.
Em Chicago, Buddy conheceu Muddy Waters, Freddy King, Otis Rush e Magic Slim, sendo que o último o apresentou a Eli Toscano da Cobra Records, com quem Buddy assinou seu primeiro contrato. Em 1958 lançou seu primeiro single com as músicas "This Is The End" e "Try To Quit You Baby", produzido simplesmente por Willie Dixon.
Em 1960, Buddy Guy trocou de gravadora assinando com a Chess, onde permaneceu até 1967. Nesse período, lançou mais alguns singles e trabalhou como guitarrista de estúdio, tocando em álbuns de Muddy Waters, Sonny Boy Williamson, Howlin' Wolf e Koko Taylor. Porém, não teve apoio para lançar um full-lenght.
Na década de 80 também gravou alguns discos em parceria com seu irmão, Phil Guy.
Em 1991, Buddy ganhou o Grammy com seu álbum "Damn Right, I've Got The Blues". Nessa época aproveitou para difundir seu nome para fora das rodas de blues e ganhar maior popularidade. O disco "Feels Like Rain", de 1993, tentou aproveitar a notoriedade do Grammy e teve arranjos mais pop e acessíveis, se torando um dos mais fracos de sua carreira.
Na excursão desse álbum foi gravado o material que resultou no excelente álbum ao vivo "The Real Deal", que saiu também em DVD.
Em 1999 foi lançada a coletânea "Buddy's Baddest", com material gravado na década de 90.Em 2001 saiu o álbum "Sweet Tea", com uma sonoridade bastante pesada, com guitarras distorcidas e densas, considerado um dos melhores da carreira de Buddy Guy.
Em 2003 ele investiu num retorno às origens com o álbum "Blues Singer", praticamente acústico, apenas com versões para clássicos do blues.
Entre as diversas coletâneas de Buddy Guy disponíveis, uma que merece destaque é "And Friends" que está disponível para download. Esse álbum, apesar do nome sugestivo, não consiste de um disco de duetos ou convidados. É uma compilação basicamente da carreira de Buddy, com algumas músicas tendo a participação de seu irmão, Phil Guy. Algumas outras faixas são de guitarristas da mesma geração, como Jimmy Dawkins, Guitar Shorty e Lurrie Bell.
Buddy Guy já se apresentou várias vezes no Brasil, sendo a última em Novembro de 2005.
Buddy Guy And Friends disc 1
Buddy Guy And Friends disc 2
Buddy's Baddest- The Best Of Buddy Guy
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
O “merchandising social” da TV Globo e os desertos verdes
Por Gustavo Barreto*
Donatela vive atualmente escondida de todos, ao lado de Augusto César, “um homem bonito, atraente, romântico e delirante”, segundo a descrição no site oficial da novela. Segue um breve relato sobre Augusto: “É ufólogo atuante e realiza encontros para meditação. Ganhou fama de doido quando resolveu largar o rock para se tornar um eremita à espera de um disco voador. Acredita que a mulher Rosana Costa foi abduzida por alienígenas há 13 anos e ainda vai retornar ao planeta para viver junto dele e do meio-filho, Shiva Lênin.” Atualmente, ele efetivamente pensa – fruto de seu delírio – que Donatela é a tal esposa abduzida.
O “debate” sobre o meio ambiente
Este lunático tentou convencer sua “esposa” que não deveria vender seu lote de terra para a exploração de eucalipto, em benefício de uma grande empresa comandada por Gonçalo Fontini (Mauro Mendonça).
Gonçalo, este grande empresário, é estrategicamente posicionado no roteiro: “É um homem inteligente, culto, íntegro e dedicado à família. Sua autoridade é imposta naturalmente. Quando jovem, Gonçalo tinha idéias comunistas, mas, ao longo da vida, traiu seus ideais e tornou-se um homem riquíssimo. Apesar disso, é discreto e não gosta de ostentação nem de bajuladores. Gonçalo é muito apegado à neta Lara e sofre com o assassinato de seu filho único Marcelo.” Sendo inteligente e culto, na percepção dos autores, faz algum sentido que – de acordo com a ideologia da emissora – tenha “traído” seus idéias e se tornado “riquíssimo”.
Voltando à cena em questão, Donatela argumenta com Augusto (o “delirante”) que ele deveria vender suas terras. Augusto se defende com dois argumentos: construiu sua vida ali, naquela terra, ao lado da esposa (a que foi “abduzida”, que ele pensa ser a Donatela) e acredita que “esse pessoal só pensa em lucrar”.
Donatela (a justiceira, do “bem”), por sua vez, deu outros dois argumentos: “Quê que tem? Todo mundo precisa de papel” e “Pelo que sei, é tudo 100% reflorestado”.
É curioso que a TV Globo faça uma campanha semelhante – para não dizer igual – às campanhas, por exemplo, das empresas Aracruz Celulose e Stora Enso, líderes no mercado da indústria de celulose. Teria sido mais um exemplo do “merchandising social” – uma espécie de inserção de temas sociais para debate público no conteúdo de mídia – ou uma propaganda política?
Desinformação a serviço das grandes empresas
Os telespectadores não conhecem, pelas mãos da mesma emissora e do seu departamento de jornalismo, o gigantesco conflito político que, aos olhos dos autores da novela, soa como um agradável bate papo para discutir se precisamos ou não de papel.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, cinco organizações ambientais se uniram no mês passado em uma ação judicial contra a presidente da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Ana Maria Pellini, a quem acusam de praticar assédio moral ao pressionar seus funcionários em processos de interesse do setor papeleiro. A denúncia, segundo reportagem da agência internacional de notícias IPS [1], se refere a ameaças e transferências injustificadas de técnicos que se negaram a modificar critérios de Zoneamento Ambiental da Silvicultura, na licença para construção de represas e para ampliação que quadruplicará a fábrica de celulose Aracruz, maior empresa brasileira do setor, controlada pelos grupos familiares Lorentzen, de origem norueguesa, e Safra, do Líbano.
As ações judiciais neste Estado se encaminham principalmente a irregularidades em licenças ambientais e acordos para que sejam feitos estudos e informes de impacto ambiental. “Exigimos mais restrições, porque o Zoneamento Ambiental, recentemente aprovado, oferece baixa proteção”, explicou Annelise Steigleder, fiscal de Meio Ambiente de Porto Alegre.
Em outro Estado o quadro é parecido, ainda de acordo com o relato da IPS: “Na Bahia, a promotoria estadual pediu à justiça que anule licenças ambientais para plantio de eucalipto, obtidas pela empresa Veracel, criada por uma associação (Joint venture) entre Aracruz e a sueco-finlandesa Stora Enso. A firma “usou meios ilícitos, desde corrupção de funcionários de órgãos vinculados às licenças até subornos de prefeitos e vereadores”, disse João da Silva Neto, coordenador da Promotoria em Eunápolis, município do sul baiano. “Também foram obtidos de forma irregular certificados de qualidade para garantir exportações”, acrescentou.”
O que as personagens Donatela e Augusto “esqueceram” de falar é que, em junho deste ano, a Justiça Federal brasileira condenou a Veracel (Aracruz e Stora Enso) a restaurar, com vegetação nativa, todas suas áreas compreendidas nas licenças de plantio de eucalipto que foram liberadas entre 1993 e 1996 neste mesmo município [2]. Significa que uma área de 96 mil hectares, coberta por eucaliptais da empresa, deverá ser reflorestada por árvores da mata atlântica, um dos biomas mais diversos do planeta e, ao mesmo tempo, mais ameaçados do mundo. A empresa também foi condenada a pagar uma multa de R$ 20 milhões (US$ 12,5 milhões) pelo desmatamento da mata atlântica, com tratores e correntão, ocorrido nos seus primeiros anos de funcionamento (1991-1993).
Este é o tipo de reflorestamento – à força, via Justiça Federal – que as empresas de eucalipto promovem. Depois de muita destruição.
No Espírito Santo, a Aracruz invadiu terras indígenas – reconhecidas legalmente pelo Governo Federal como de posse permanente das comunidades originárias – e devastou boa parte do Estado.
Em quatro estados (RJ, MG, BA e ES), os problemas são acompanhados de perto pela Rede Alerta contra o Deserto Verde, uma ampla rede da sociedade civil composta por mais de 100 entidades, movimentos, comunidades locais, sindicatos, igrejas e cidadãos, preocupados com a contínua expansão das plantações de eucalipto na sua região, assim como a venda de “créditos de carbono”.
Basicamente, a Rede chama atenção para o desastre sócio-ambiental causado nos últimos 35 anos pela monocultura de eucalipto e pinus, integrado aos complexos siderúrgico e de celulose, atingindo diversos ecossistemas e populações do território brasileiro, empobrecendo nossa diversidade biológica, social e cultural, e causando expropriação, desemprego, êxodo rural e fome. Mas também tenta mostrar a viabilidade de modelos alternativos de desenvolvimento que têm sido implementados localmente por vários movimentos e comunidades que participam da Rede.
Grito abafado
Didaticamente: estes 100 movimentos sociais gritam e reivindicam que monoculturas não são florestas. Portanto, não podem ser destruídas e depois “reflorestadas”, pelo sem-número de conseqüências que trazem para o meio ambiente e para as comunidades locais.
De que adianta o clamor da sociedade civil? A justiceira da novela fala para milhões, argumentando com um homem delirante que “pelo que sei, é tudo 100% reflorestado” e que “todo mundo precisa de papel”. O homem delirante é “ufólogo” (com todo o respeito à categoria).
O empresário responsável pela monocultura criminosa é “inteligente, culto e íntegro” e sugeriu a um negociador, ainda durante a novela de hoje, que dobre o preço pela terra, “que é muito importante”.
Com estas referências – a julgar pelo conteúdo desta novela da TV Globo, as únicas referências que milhões de pessoas receberão –, de que “lado” você ficaria?
* Gustavo Barreto é co-editor nos meios independentes Consciência.Net e Fazendo Media.
Notas:
[1] Clarinha Glock. ''Armas judiciais contra fábricas de papel no Brasil''. Agência Envolverde/Terramérica. 08 Ago. 2008. [http://www.jornaldiadia.com.br/noticia.php?id=24857]
[2] Comissão Pastoral da Terra Nordeste. ''Stora Enso e Aracruz são condenadas por crime ambiental''. 01 Ago. 2008. [http://www.cptpe.org.br/modules.php?name=News&file=article&sid=1502]