Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Brigada Militar despeja educadores que protestavam na Secretaria de Educação
A truculência do governo Ieda continua....até quando?
Para compreender a crise financeira
Depois de terem vivido uma segunda-feira de pânico, os mercados financeiros operam, hoje, em meio a muito nervosismo. A bolsa de valores de Tóquio caiu mais 3%, apesar de o Banco do Japão injetar mais 10 bilhões de dólares no sistema bancário. Na Europa, há pequena recuperação das bolsas, diante de rumores sobre uma redução coordenada das taxas de juros, pelos bancos centrais. Em contrapartida, anunciou-se que a situação do Royal Bank os Scotland (RBJ) pode ser crítica — e que outros bancos estariam sob forte pressão.
A crise iniciada há pouco mais de um ano, no setor de empréstimos hipotecários dos Estados Unidos, viveu dois repiques, nos últimos dias. Entre 15 e 16 de setembro, a falência de grandes instituições financeiras norte-americanas [1] deixou claro que a devastação não iria ficar restrita ao setor imobiliário. No início de outubro, começou a disseminar-se a sensação de que o pacote de 700 bilhões de dólares montado pela Casa Branca para tentar o resgate produziria efeitos muito limitados. Concebido segundo a lógica dos próprios mercados (o secretário do Tesouro, Henry Paulson, é um ex-executivo-chefe do banco de investimentos Goldman Sachs), o conjunto de medidas socorre com dinheiro público as instituições financeiras mais afetadas, mas não assegura que os recursos irriguem a economia, muito menos protege as famílias endividadas.
Deu-se então um colapso nos mercados bancários, que perdura até o momento. Apavoradas com a onda de falências, as instituições financeiras bloquearam a concessão de empréstimos – inclusive entre si mesmas. Este movimento, por sua vez, multiplicou a sensação de insegurança, corroendo o próprio sentido da palavra crédito, base de todo o sistema. A crise alastrou-se dos Estados Unidos para a Europa. Em dois dias, cinco importantes bancos do Velho Continente naufragaram [2].
Muito rapidamente, o terremoto financeiro começou a atingir também a chamada “economia real”. Por falta de financiamento, as vendas de veículos caíram 27% (comparadas com o ano anterior) em setembro, recuando para o nível mais baixo nos últimos 15 anos. Em 3 de outubro, a General Motors brasileira colocou em férias compulsórias os trabalhadores de duas de suas fábricas (que produzem para exportação), num sinal dos enormes riscos de contágio internacional. Diante do risco de recessão profunda, até os preços do petróleo cederam, caindo neste 6/10 a 90 dólares por barril – uma baixa de 10% em apenas uma semana. A tempestade afeta também o setor público. Ao longo da semana, os governantes de diversos condados norte-americanos mostraram-se intranqüilos diante da falta de caixa. O governador da poderosa Califórnia, Arnold Schwazenegger, anunciou em 2 de outubro que não poderia fazer frente ao pagamento de policiais e bombeiros se não obtivesse, do governo federal, um empréstimo imediato de ao menos 7 bilhões de dólares.
Desconfiados da solidez dos bancos, os correntistas podem sacar seus depósitos, o que provocaria nova onda de quebras e devastaria a confiança na própria moeda. Em tempos de globalização, seria “a mãe de todas as corridas contra os bancos”
Nos últimos dias, alastrou-se o pavor de algo nunca visto, desde 1929: desconfiados da solidez dos bancos, os correntistas poderiam sacar seus depósitos, o que provocaria nova onda de quebras e devastaria a confiança na própria moeda. Em tempos de globalização, seria “a mãe de todas as corridas contra os bancos”, segundo a descreveu o economista Nouriel Roubini, que se tornou conhecido por prever há meses, com notável precisão, todos os desdobramentos da crise atual.
Os primeiros sinais deste enorme desastre já estão visíveis. Em 2 de outubro, o Banco Central (BC) da Irlanda sentiu-se forçado a tranqüilizar o público, anunciando aumento no seguro estatal sobre 100% dos depósitos confiados a seis bancos. Na noite de domingo, foi a vez de o governo alemão tomar atitude semelhante. Mas as medidas foram tomadas de modo descoordenado, porque terminou sem resultados concretos, no fim-de-semana, uma reunião dos “quatro grandes” europeus [3], convocada pelo presidente francês, para buscar ações comuns contra a crise. Teme-se, por isso, que as iniciativas da Irlanda e Alemanha provoquem pressão contra os bancos dos demais países europeus, onde não há a mesma garantia. Além disso, suspeita-se que as autoridades estejam passando um cheque sem fundos. Na Irlanda, o valor total do seguro oferecido pelo BC equivale a mais do dobro do PIB do país...
Também neste caso, os riscos de contágio internacional são enormes. Roubini chama atenção, em especial, para as linhas de crédito no valor de quase 1 trilhão de dólares entre os bancos norte-americanos e instituições de outros países. É por meio deste canal, hoje bloqueado, que o risco de quebradeira bancária se espalha pelo mundo. Mesmo em países menos próximos do epicentro da crise, como o Brasil, as conseqüências já são sentidas. Na semana passada, o Banco Central viu-se obrigado a estimular os grandes bancos, por meio de duas resoluções sucessivas, a comprar as carteiras de crédito dos médios e pequenos – que já enfrentam dificuldades para captar recursos.
Em conseqüência de tantas tensões, as bolsas de valores da Ásia e Europa estão viveram, na segunda-feira (6/10) um dia de quedas abruptas. Na primeira sessão após a aprovação do pacote de resgate norte-americano, Tóquio perdeu 4,2% e Hong Kong, 3,4%. Quedas entre 7% e 9% ocorreram também em Londres, Paris e Frankfurt. Em Moscou, a bolsa despencou 19%. Em todos estes casos, as quedas foram puxadas pelo desabamento das ações de bancos importantes. Em São Paulo, os negócios foram interrompidos duas vezes, quando quedas drásticas acionaram as regras que mandam suspender os negócios em caso de instabilidade extrema. Apesar da intervenção do Banco Central, o dólar chegou a R$ 2,20.
Até o momento, tem prevalecido, entre os governos, uma postura um tanto curiosa: eles abandonam às pressas o discurso da excelência dos mercados, apenas para... desviar rios de dinheiro público às instituições dominantes destes mesmos mercados
A esta altura, todas as análises sérias coincidem em que não é possível prever nem a duração, nem a profundidade, nem as conseqüências da crise. Nos próximos meses, vai se abrir um período de fortes turbulências: econômicas, sociais e políticas. As montanhas de dinheiro despejadas pelos bancos centrais sepultaram, em poucas semanas, um dogma cultuado pelos teóricos neoliberais durante três décadas. Como argumentar, agora, que os mercados são capazes de se auto-regular, e que toda intervenção estatal sobre eles é contra-producente?
Mas, há uma imensa distância entre a queda do dogma e a construção de políticas de sentido inverso. Até o momento, tem prevalecido, entre os governos, uma postura um tanto curiosa: eles abandonam às pressas o discurso da excelência dos mercados, apenas para... desviar rios de dinheiro público às instituições dominantes destes mesmos mercados.
O pacote de 700 bilhões de dólares costurado pela Casa Branca é o exemplo mais acabado deste viés. Nouriel Roubini considerou-o não apenas “injusto”, mas também “ineficaz e ineficiente”. Injusto porque socializa prejuízos, oferecendo dinheiro às instituições financeiras (ao permitir que o Estado assuma seus “títulos podres”) sem assumir, em troca, parte de seu capital. Ineficaz porque, ao não oferecer ajuda às famílias endividadas — e ameaçadas de perder seus imóveis —, deixa intocada a causa do problema (o empobrecimento e perda de capacidade aquisitiva da população), atuando apenas sobre seus efeitos superficiais. Ineficiente porque nada assegura (como estão demonstrando os fatos dos últimos dias) que os bancos, recapitalizados em meio à crise, disponham-se a reabrir as torneiras de crédito que poderiam irrigar a economia. Num artigo para o Financial Times (reproduzido pela Folha de São Paulo), até mesmo o mega-investidor George Soros defendeu ponto-de-vista muito semelhantes, e chegou a desenhar as bases de um plano alternativo.
Outras análises vão além. Num texto publicado há alguns meses no Le Monde Diplomatique, o economista francês François Chesnais chama atenção para algo mais profundo por trás da financeirização e do culto à auto-suficiência dos mercados. Ele mostra que as décadas neoliberais foram marcadas por um enorme aumento na acumulação capitalista e nas desigualdades internacionais. Fenômenos como a automação, a deslocalização das empresas (para países e regiões onde os salários e direitos sociais são mais deprimidos) e a emergência da China e Índia como grandes centros produtivos rebaixaram o poder relativo de compra dos salários. O movimento aprofundou-se quando o mundo empresarial passou a ser regido pela chamada “ditadura dos acionistas”, que leva os administradores a perseguir taxas de lucros cada vez mais altas. O resultado é um enorme abismo entre a a capacidade de produção da economia e o poder de compra das sociedades. Na base da crise financeira estaria, portanto, uma crise de superprodução semelhante às que foram estudadas por Marx, no século retrasado. Ao liquidar os mecanismos de regulação dos mercados e redistribuição de renda introduzidos após a crise de 1929, o capitalismo neoliberal teria reinvocado o fantasma.
Wallerstein vê nos sistemas públicos de Saúde, Educação e Previdência algo que pode ser multiplicado, e que gera relações sociais anti-sistêmicas. Se todos tivermos direito a uma vida digna, quem se preocupará em acumular dinheiro?
Marx via nas crises financeiras os momentos dramáticos em que o proletariado reuniria forças para conquistar o poder e iniciar a construção do socialismo. Tal perspectiva parece distante, 125 anos após sua morte. A China, que se converteu na grande fábrica do mundo, é governada por um partido comunista. Mas, longe de ameaçarem o capitalismo, tanto os dirigentes quanto o proletariado chinês empenham-se em conquistar um lugar ao sol, na luta por poder e riqueza que a lógica do sistema estimula permanentemente.
Ao invés de disputar poder e riqueza com os capitalistas, não será possível desafiar sua lógica? O sociólogo Immanuel Wallerstein, uma espécie de profeta do declínio norte-americano, defendeu esta hipótese corajosamente no Fórum Social Mundial de 2003 - quando George Bush preparava-se para invadir o Iraque e muitos acreditavam na perenidade do poder imperial dos EUA. Em outro artigo, publicado recentemente no Le Monde Diplomatique Brasil, Wallerstein sugere que a crise tornará o futuro imediato turbulento e perigoso. Mas destaca que certas conquistas sociais das últimas décadas criaram uma perspectiva de democracia ampliada, algo que pode servir de inspiração para caminhar politicamente em meio às tempestades. Refere-se à noção segundo a qual os direitos sociais são um valor mais importante que os lucros e a acumulação privada de riquezas. Vê nos sistemas públicos (e, em muitos países, igualitários) de Saúde, Educação e Previdência algo que pode ser multiplicado, e que gera relações sociais anti-sistêmicas. Se a lógica da garantia universal a uma vida digna puder ser ampliada incessantemente; se todos tivermos direito, por exemplo, a viajar pelo mundo, a sermos produtores culturais independentes e a terapias (anti-)psicanalíticas, quem se preocupará em acumular dinheiro?
O neoliberalismo foi possível porque, no pós-II Guerra, certos pensadores atreveram-se a desafiar os paradigmas reinantes e a pensar uma contra-utopia. Num tempo em que o capitalismo, sob ameaça, estava disposto a fazer grandes concessões, intelectuais como o austríaco Friederich Hayek articularam, na chamada Sociedade Mont Pelerin, a reafirmação dos valores do sistema [4]. Seus objetivos parecem hoje desprezíveis, mas sua coragem foi admirável. Eles demonstraram que há espaço, em todas as épocas, para enfrentar as certezas em vigor e pensar futuros alternativos. Não será o momento de construir um novo pós-capitalismo?
[1] Em 12/9, o banco de investimentos Lehman Brothers quebrou, depois que as autoridades monetárias recusaram-se a resgatá-lo. No mesmo dia, o Merrill Lynch anunciou sua venda para o Bank of America. Em 15/9, a mega-seguradora AIG (a maior do mundo, até há alguns meses) anunciou que estava insolvente, sendo nacionalizada no dia seguinte com aporte estatal de US$ 85 bilhões
[2] O Fortis foi semi-nacionalizado pelos governos da Holanda, Bélgica e Luxemburgo. O Dexia recebeu uma injeção de 6,4 bilhões de euros, patrocinada pelos governos da França e Bélgica. O Reino Unido nacionalizou o Bradford & Bingley (especialista em hipotecas), vendendo parte de seus ativos para o espanhol Santander. O Hypo Real Estate segundo maior banco hipotecário alemão entrou numa operação de resgate cujo custo podia chegar a 50 bilhões de euros, mas cujo sucesso ainda não estava assegurado, em 5/9. A Islândia nacionalizou o Glitnir, seu terceiro maior banco
[3] Alemanha, França, Reino Unido e Itália, os membros europeus do G-8
[4] Sobre a contra-utopia hayekiana, ler, no Le Monde Diplomatique, “Pensando o Impensável” , de Serge Halimi
A cara antidemocrática do capitalismo
Noam Chomsky
O desenvolvimento de uma campanha presidencial norte-americana simultaneamente ao desenlace da crise dos mercados financeiros oferece uma dessas ocasiões em que os sistemas político e econômico revelam vigorosamente sua natureza.
Por Noam Chomsky, para o Sin Permiso*
Pode ser que a paixão pela campanha não seja uma coisa universalmente compartilhada, mas quase todo mundo pode perceber a ansiedade desencadeada pela execução hipotecária de um milhão de residências, assim como a preocupação com os riscos que correm os postos de trabalho, as poupanças e os serviços de saúde.
As propostas iniciais de Bush para lidar com a crise fediam a tal ponto a totalitarismo, que não tardaram a ser modificadas. Sob intensa pressão dos lobbies, foram reformuladas “para o claro benefício das maiores instituições do sistema...uma forma de desfazer-se dos ativos sem necessidade de fracassar ou quase”, segundo descreveu James Rickards, que negociou o resgate federal por parte do fundo de cobertura de derivativos financeiros Long Term Capital Management em 1998, lembrando-nos de que estamos caminhando em terreno conhecido.
As origens imediatas do desmoronamento atual estão no colapso da bolha imobiliária supervisionada pelo presidente do Federal Reserve, Alan Greenspan, que foi quem sustentou a coitada da economia dos anos Bush, misturando o gasto de consumo fundado na dívida com a tomada de empréstimos do exterior. Mas as razões são mais profundas. Em parte, fala-se no triunfo da liberalização financeira dos últimos 30 anos, quer dizer, nas políticas consistentes em liberar o máximo possível os mercados da regulação estatal.
Como era previsível, as medidas tomadas a esse respeito incrementaram a frequência e a profundidade dos grandes reveses econômicos, e agora estamos diante da ameaça de que se desencadeie a pior crise desde a Grande Depressão.
Também era previsível que os poucos setores que cresceram com os enormes lucros oriundos da liberalização demandariam uma intervenção maciça do estado, a fim de resgatar as instituições financeiras colapsadas.
Esse tipo de intervencionismo é um traço característico do capitalismo de estado, ainda que na escala atual seja inesperado. Um estudo dos pesquisadores em economia internacional Winfried Ruigrok e Rob van Tulder descobriu, há 15 anos, que pelo menos 20 companhias entre as 100 primeiras do ranking da revista Fortune, não teriam sobrevivido se não tivessem sido salvas por seus respectivos governos, e que muitas, entre as 80 restantes, obtiveram ganhos substanciais através das demandas aos governos para que “socializassem suas perdas”, como hoje o é o resgate financiado pelo contribuinte. Tal intervenção pública “foi a regra, mais que a exceção, nos dois últimos séculos”, concluíram.
Numa sociedade democrática efetiva, uma campanha política teria de abordar esses assuntos fundamentais, observar as causas e os remédios para essas causas, e propor os meios através dos quais o povo que sofre as conseqüências pudessem chegar a exercer um controle efetivo.
O mercado financeiro “despreza o risco” e é “sistematicamente ineficiente”, como escreveram há uma década os economistas John Eatwell e Lance Taylor, alertando sobre os gravíssimos perigos que a liberalização financeira engendrava, e mostrando os custos em que se já se tinha incorrido.
Ademais, propuseram soluções que, deve-se dizer, foram ignoradas. Um fator de peso é a incapacidade de calcular os custos que recaem entre aqueles que não participam dessas transações. Essas externalidades podem ser enormes. A ignorância do risco sistêmico leva a uma maior aceitação de riscos que se daria numa economia eficiente, e isso adotando inclusive os critérios menos exigentes.
A tarefa das instituições financeiras é arriscar-se e, se são bem gestionadas, assegurar que as potenciais perdas em que elas mesmas podem incorrer serão cobertas. A ênfase há que pôr-se “nelas mesmas”. Segundo as regras do capitalismo de estado, levar em conta os custos que para os outros possam ter – as “externalidades” de uma sobrevivência decente – umas práticas que levem, como espectro, a crises financeiras é algo que não lhes diz respeito.
A liberalização financeira teve efeitos para muito além da economia. Há muito que se compreendeu que era uma arma poderosa contra a democracia. O movimento livre dos capitais cria o que alguns chamaram um “parlamento virtual” de investidores e credores que controlam de perto os programas governamentais e “votam” contra eles, se os consideram “irracionais”, quer dizer, se são em benefício do povo e não do poder privado concentrado.
Os investidores e credores podem “votar” com a fuga de capitais, com ataques às divisas e com outros instrumentos que a liberalização financeira lhes serve de bandeja. Essa é uma das razões pelas quais o sistema de Bretton Woods, estabelecido pelos EUA e pela Grã Bretanha depois da II Guerra Mundial, instituiu controle de capitais e regulou o mercado de divisas (1).
A Grande Depressão e a Guerra puseram em marcha poderosas correntes democráticas radicais que iam desde a resistência antifascista até as organizações da classe trabalhadora. Essas pressões tornaram possível que se tolerassem políticas sociais democráticas. O sistema Bretton Woods foi, em parte, concebido para criar um espaço no qual a ação governamental pudesse responder à vontade pública cidadã, quer dizer, para permitir certa democracia.
John Maynard Keynes, o negociador britânico, considerou o direito dos governos a restringir os movimentos de capitais a mais importante conquista estabelecida em Bretton Woods.
Num contraste espetacular, na fase neoliberal que se seguiu ao desmonte do sistema de Bretton Woods nos anos 70, o Tesouro norte-americano passa a considerar a livre circulação de capitais um “direito fundamental”. À diferença, nem precisa dizer, dos pretensos “direitos” garantidos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos: direito à saúde, à educação, ao emprego decente, à segurança e outros direitos que as administrações de Reagan e de Bush chamaram com desprezo de “cartas a Papai Noel”, “ridículos” ou meros “mitos”.
Nos primeiros anos, as pessoas não tiveram maiores problemas com o assunto. As razões disso Barry Eichengreen estudou em sua história, impecavelmente acadêmica, do sistema monetário. Nessa obra se explica que, no século XIX, os governos “ainda não estavam politizados pelo sufrágio universal masculino, o sindicalismo e os partidos trabalhistas parlamentares. Por conseguinte, os graves custos impostos pelo parlamento virtual podiam se transferidos para toda a população.
Porém, com a radicalização da população e da opinião pública que se seguiu à Grande Depressão e à guerra antifascista, o poder e a riqueza privados privaram-se desse luxo. Daí que no sistema Bretton Woods “os limites da democracia como fonte de resistência às pressões do mercado foram substituídos por limites à circulação de capitais.”
O corolário óbvio é que no rastro do desmantelamento do sistema do pós-guerra a democracia tenha sido restringida. Fez-se necessário controlar e marginalizar de algum modo a população e a opinião pública, processos particularmente evidentes nas sociedades mais avançadas no mundo dos negócios, como os EUA. A gestão das extravagâncias eleitorais por parte da indústria de relações públicas constitui uma boa ilustração.
“A política é a sombra da grande empresa sobre a sociedade”, concluiu em seus dias o maior filósofo norte-americano do século XX, John Dewey, e assim seguirá sendo, enquanto o poder consista “nos negócios para benefício privado através do controle da banca, do território e da indústria que agora se vê reforçada pelo controle da imprensa, dos jornalistas e sobretudo dos meios de publicidade e propaganda.”
Os EUA tem efetivamente um sistema de um só partido, o partido dos negócios, com duas facções, republicanos e democratas. Há diferenças entre eles. Em seu estudo sobre A Democracia Desigual: a economia política da nova Era da Cobiça, Larry Bartels mostra que durante as últimas seis décadas “a renda real das famílias de classe média cresceu duas vezes mais rápido sob administração democrata que republicana, enquanto a renda real das famílias pobres da classe trabalhadora cresceu seis vezes mais rápido sob os democratas que sob os republicanos”.
Essas diferenças também podem ser vistas nestas eleições. Os eleitores deveriam tê-las em conta, mas sem ter ilusões sobre os partidos políticos, e reconhecendo o padrão regular que, nos últimos séculos, vem revelando que a legislação progressista e de bem-estar social sempre foram conquistas das lutas populares, nunca presentes dos de cima.
Essas lutas seguem ciclos de êxitos e de retrocessos. Hão de ser travadas a cada dia, não só a cada quatro anos, e sempre visando à criação de uma sociedade genuinamente democrática, capaz de resposta em toda parte, nas urnas não menos do que no posto de trabalho.
* Noam Chomsky, professor emérito de linguística no MIT – Massachussets Institute of Technology
(1) O sistema de Bretton Woods de gestão financeira global foi criado por 730 delegados de 44 nações aliadas na II Guerra Mundial, que compareceram a uma Conferência Monetária e Financeira organizada pela ONU no hotel Mont Washington, em Bretton Woods, New Hampshire, em 1944. Bretton Woods, que colapsou em 1971, era o sistema de normas, instituições e procedimentos que regulavam o sistema monetário internacional e sob cujos auspícios se criou o Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) – agora uma das cinco instituições que compõem o Grupo do Banco Mundial— e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que passaram a funcionar em 1945.
O traço principal de Bretton Woods era a obrigação de todos os paísses de adotar uma política monetária que mantivesse dentro de valores fixos a taxa de câmbio de sua moeda. O sistema colapsou quando os EUA suspenderam a convertibilidade do padrão ouro do dólar. Isso criou a insólita situação na qual o dólar chegou a converter-se em “moeda de reserva” para os outros países que estavam no Bretton Woods.
Tradução: Katarina Peixoto
Reproduzido da Agência Carta Maior
domingo, 12 de outubro de 2008
Filme muito legal....
((Girl with a Pearl Earring))
Para sustentar a família, Griet, uma jovem de dezessete anos, passa a trabalhar como empregada doméstica na casa de Johannes Vermeer e, aos poucos, atrai a atenção do pintor.
Elenco:
Colin Firth (Johannes Vermeer)
Scarlett Johansson (Griet)
Tom Wilkinson (Van Ruijven)
Judy Parfitt (Maria Thins)
Cillian Murphy (Pieter)
Essie Davis (Catharina)
Joanna Scanlan (Tanneke)
Alakina Mann (Cornelia)
Chris McHallem (Pai de Griet)
Gabrielle Reidy (Mãe de Griet)
Rollo Weeks (Frans)
Anna Popplewell (Maertge)
Anaïs Nepper (Lisbeth)
....e mais....
Informações sobre o Filme e Release:
Gênero: Drama / Biografia
Diretor: Peter Webber
Duração: 100 minutos
Ano de Lançamento: 2003
País de Origem: Inglaterra / Luxemburgo
Idioma do Áudio: Inglês
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0335119/
Qualidade de Vídeo: DVD Rip
Vídeo Codec: Xvid
Vídeo Bitrate: 819 Kbps
Áudio Codec: Mp3
Áudio Bitrate: 147 Kbps
Resolução: 576x240
Formato de Tela: Widescreen (16x9)
Frame Rate: 23.976 FPS
Tamanho: 700 Mb
Legendas: Anexas
Premiações:
- Recebeu 2 indicações ao Globo de Ouro, nas categorias de Melhor Atriz - Drama (Scarlett Johansson) e Melhor Trilha Sonora.
- Recebeu 10 indicações ao BAFTA, nas seguintes categorias: Melhor Filme Britânico, Melhor Atriz (Scarlett Johansson), Melhor Atriz Coadjuvante (Judy Parfitt), Melhor Trilha Sonora, Melhor Revelação (Peter Webber), Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Maquiagem, Melhor Desenho de Produção e Melhor Roteiro Adaptado.
- Recebeu indicações ao European Film Awards, nas seguintes categorias: Melhor Fotografia, Melhor Trilha Sonora e Melhor Ator - Júri Popular (Colin Firth).
- Recebeu uma indicação ao Goya de Melhor Filme Estrangeiro.
Curiosidades e Crítica:
- Devido a demora no início das filmagens tanto Ralph Fiennes quanto Kate Hudson desistiram do projeto. Kirsten Dunst chegou a acertar sua participação, mas teve que desistir do filme após ser contratada para atuar em Homem-Aranha.
- O filme foi parcialmente rodado nos sets de filmagens de Secret Passage (2002), que representavam Veneza e estavam localizados em Luxemburgo. Os sets foram alterados para que a cidade se parecesse com Delft.
Fonte: Folha Online/Ilustrada - 06/08/2004 - 17h34
Downloads abaixo:
Girl_with_a_Pearl_Earring__2003__XVID.rar legendas
sábado, 11 de outubro de 2008
Miriam, a louca
por Miguel do Rosário, no Óleo do Diabo
Durante toda minha vida convivi com o medo da loucura. É uma coisa de família, uma paranóia horrível. No entanto, nunca surtei, nunca perdi um milímetro de minha lucidez. Devo ter perdido alguns milhões de neurônios com bebedeiras, ok, mas não faz tanta diferença para o conjunto de aproximadamente 14 bilhões de neurônios com que nasci, segundo a ciência. Convenci-me, por fim, que não era louco, nunca fui, embora não possa assegurar que nunca serei. Em momentos de depressão, todavia, a paranóia insiste em voltar. Hoje descobri quão ingênuo tenho sido. Doida é a Miriam Leitão. E se uma louca como ela pode ser a principal colunista econômica do país, eu, se eu for louco (e o Frank Sinatra dizia que todos o somos), também posso ter minhas ambições. Leiam a matéria abaixo:
O peso da máxi
Já é maxidesvalorização. De 26 moedas emergentes, o real foi que mais perdeu: 35%. Desde agosto, se a conta do PIB for feita em dólar, é como se o Brasil tivesse perdido US$ 309 bi. Parte é efeito dos derivativos dos exportadores, um problema que ninguém sabe a dimensão. Um exportador me disse o seguinte: “O BC pede serenidade como o capitão do Titanic mandava a orquestra tocar."
O Banco Central fez ontem várias operações no mercado de câmbio e não reduziu a pressão do dólar. Quanto mais o dólar sobe, mais os exportadores que fizeram operações especulativas com câmbio perdem dinheiro.
— O exportador estava apostando a favor da moeda brasileira. Quem está ganhando dinheiro são os bancos estrangeiros. Além disso, os exportadores não estão conseguindo se financiar para produzir; a exportação vai parar — disse o presidente de uma das maiores empresas brasileiras.
O BC, segundo me garantiu ontem um dos seus dirigentes, não tem qualquer compromisso em defender a queda do dólar. Não está fazendo leilões para evitar que o dólar suba, mas sim para suprir a falta das linhas de crédito internacionais para o comércio. O problema é que não tem adiantado.
Nathan Blanche, especialista em câmbio, acha que o BC tem que vender dólar líquido, em operações direcionadas aos exportadores. Com mais oferta, o dólar pode cair, reduzindo a cotação e o prejuízo das empresas.
Leram? Acreditam nisso? Durante seis anos, a senhora PIG vociferou contra o dólar baixo, dizendo que as exportações brasileiras seriam fortemente prejudicadas. Fazia, sistematicamente, previsões catastróficas para a balança comercial, que, segundo ela, não resistiria ao câmbio desfavorável. Os números sempre contradiziam suas previsões. O Brasil ampliou e ainda vem ampliando suas vendas externas mesmo com moeda forte. A razão é a enorme diversificação de nossos produtos, e a melhora da qualidade deles. Em muitos setores, como carnes, autopeças e aviões, produto brasileiro é sinônimo de excelência e o mundo aceita pagar um pouco mais caro.
Mas, como todos sabem, exportadores ganham em dólares. Quando o dólar cai, portanto, eles perdem. Eles têm resistido, nos últimos tempos, através do aumento da produtividade e redução de custo. Agora, com essa disparada do dólar, a senhora PIG quer nos convencer, na contra-mão de tudo que afirmou por anos a fio, que os exportadores terão prejuízo com a alta do dólar e cita empresários que teriam "especulado" com o câmbio.
Ora, senhora PIG, no mercado cambial existem diversas ferramentas para evitar riscos com o câmbio. São os chamados hedge, onde você faz um seguro para evitar sustos com dólar baixo ou alto. Os exportadores prudentes fazem hedge, os especuladores especulam. Há séculos que exportadores brasileiros que especulam com o câmbio acabam quebrando uma hora ou outra. Com isso, surgiu uma classe de empresários que prefere dispensar o lucro fácil e arriscado e fazer negócios de maneira mais segura e estável. Não se trata apenas de capitalismo, mas da própria vida. De valores. Concorrência. Pegue dois empresários que competem no mercado de exportação de um determinado produto. Um deles especula e procura, com o lucro, prejudicar seu concorrente, que não especula e, por isso, não pode oferecer os descontos que o outro oferece aos clientes. Quando ocorre uma crise cambial que dá prejuízo ao especulador, há uma justiça. No fundo de todo movimento, há uma justiça, uma busca pelo equilíbrio. A senhora quer defender os especuladores? E ainda afirmar que os exportadores estão perdendo dinheiro com o dólar alto? Ora, o dólar está pouco mais de R$ 2. Há seis anos era R$ 4!!!! O exportador que não especulou, ao contrário, poderá ganhar muito mais com o dólar alto, pela razão óbvia de que o preço de seu produto é cotado em dólar.
A ideologia vendida por nossa mídia é estarrecedora. Dinheiro para melhorar salários e assistência social é considerado "aumento de gastos". Mas sempre que o governo acena com empréstimos paternalistas (ou mesmo doações, sob o título de pacote anti-crise sistêmica), os mesmos colunistas e editorialistas reagem com indisfarçável entusiasmo.
E ontem (ou anteontem) Arnaldo Jabor comete mais uma fraude jornalística. Diz que o governo Lula não se preparou para a atual crise financeira americana. Naturalmente, sob patrocínio da família Marinha, usa o palanque para fazer propaganda ideológica do PSDB e do governo FHC. O país, sob a tutela de FHC, acumulou uma trilionária dívida pública externa e interna quase inteiramente atrelada ao dólar. Se a crise fosse hoje, o Brasil, literalmente, teria sua espinha dorsal rompida. Lula não só pagou inteiramente a nossa dívida externa, como desdolarizou a dívida pública interna. O que temos hoje são reservas internacionais em dólar, de forma que, com a alta da moeda americana, nossas reservas dispararam. Ou seja, estamos com mais dinheiro hoje do que antes da crise. A bolsa de SP despencou, mas bolsa é para isso mesmo, para subir e descer.
Sou contra qualquer ajuda a bancos, pequenos, médios ou grandes. Eles que se virem sozinhos. Se é para haver ajuda, então que se estatize ou se transfira ações e carteiras de clientes para o Banco do Brasil. É um absurdo que, num país onde existem ainda milhões de pessoas se alimentando mal e onde o principal programa assistencial, o Bolsa Família, distribui um valor irrisório para as famílias (máximo de 120 reais), de R$ 17 a R$ 107, uma ninharia tão acidamente criticada pelos segmentos conservadores, os mesmos segmentos agora venham defender ajuda para especuladores que se deram mal na bolsa de valores.
O dinheiro da bolsa não desaparece. Os valores migram para outros segmentos: para imóveis, terras, ouro, indústrias de base, para títulos públicos (ou seja para os governos). O estouro da bolha é sempre benéfico para as economias reais. Os fundamentos da economia global não são apostas financeiras, mas a produção de tecnologia, aço, soja, petróleo, alimentos, autopeças. A crise financeira global tem uma razão de ser e será benéfica para desmistificar o poder dos mercados. A civilização não pode depender de mercados de risco, não pode depender de bolsa. Precisamos de governos fortes. Precisamos de organizações internacionais fortes que não estimulem a especulação e sim os fundamentos de cada economia.
O Brasil seguramente sairá mais fortalecido dessa crise, porque a sua economia é diversificada e possui um mercado interno suficiente para viver autonomamente. Se o mundo inteiro acabasse e só restasse o Brasil, teríamos alimentos, petróleo, água, minério de ferro, suficientes para toda a eternidade. Teríamos um déficit de tecnologia que a necessidade nos obrigaria a superar rapidamente. A civilização humana evolui aos trancos, superando dificuldades. A crise financeira americana, para começo de conversa, representa um tremendo desgaste ideológico para o tipo de capitalismo lobbista, mafioso, privatista e concentrador, um capitalismo aqui defendido pelo PSDB e DEM, que produz monstros como Daniel Dantas. No capitalismo neo-con, bancos e especuladores têm cada vez mais liberdades e o cidadão comum cada vez menos. É uma fraude ideológica, assim como foi o governo FHC. Falavam em reduzir impostos, mas foram os tucanos, assim como Bush nos EUA, que patrocinaram o maior aumento da carga tributária da história recente do Brasil. A carga tributária brasileira passou de 25,09% em 1993, último ano do governo anterior à FHC, para 35,53% em 2002, último ano da gestão tucana. Um aumento de 42%! Já sob Lula, a carga tributária passou dos já citados 35,53% em 2002 para 37,37% em 2005 (último ano apurado pela Receita), aumento de 5%. Quem aumenta mais imposto?
Bush faz a mesma coisa. Prega o Estado mínimo e redução de gasto, e patrocinou o maior aumento de gastos públicos da história norte-americana, com a guerra contra o terror, e a guerra contra o Iraque. FHC fez aqui também. Os tucanos falam em redução de gastos públicos, mas o Estado nunca gastou tanto como em sua gestão - com a diferença que não gastavam com melhores salários, programas sociais, programas industriais, estradas, hidrelétricas, prospecção de petróleo no fundo do mar e financiamento à agricultura familiar, como faz Lula. Não, o governo gastava tudo com juros de dívida pública, doação aos bancos e para cobrir o rombo financeiro de sua política cambial incompetente. O neo-liberalismo é um capitalismo para enganar trouxas, leia-se classe média, que nunca sofreu tanto como sob sua batuta. A única vantagem que o neo-liberalismo proporciona à classe média é que ele ferra tanto mas tanto os pobres, que esses não têm condições de disputar com ela o mercado de trabalho, sobretudo as vagas no serviço público. Por outro lado, o neo-liberalismo não respeita o serviço público - veja a humilhação que o governo de São Paulo impõe a seus servidores, pagando-lhes os piores salários do país, mesmo sendo o Estado mais rico.
Muito boa essa resposta...
Carta aberta ao Wianey Carlet!
"Prezado Jornalista,
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
Ahmad Jamal
Ahmad Jamal - Live at the Pershing - But Not For Me (1958)
MP3 / 320kbps / RS.com: 63mb / Cover
Gênero: jazz, swing, mainstream
uploader: redbhiku
Faixas:
1. But Not For Me
2. Surrey With The Fringe On Top
3. Moonlight In Vermont
4. Put Another Nickel In Music Music Music
5. There Is No Greater Love
6. Poinciana
7. Woody ‘n’ You
8. What’s New
A mídia que balança o berço
Maria Helena Masquetti(diplo-Br)
Nestes tempos de crianças expostas a tantos tipos de mídia, o velho provérbio “a mão que balança o berço governa o mundo” propicia uma reflexão sobre quem é realmente a maior autoridade na estrutura familiar. Tomando-se por autoridade aquele que provê a manutenção da família, supõe-se que ambos, marido e mulher, dividam entre si esse papel de governar a educação dos filhos. No entanto, cada vez mais, as crianças expressam valores e anseios contrários aos da educação recebida em casa e na escola. O fato é que elas dependem dos exemplos adultos para a construção de sua identidade. E, por acreditarem no que ouvem ou vêem, em sua lógica infantil, passam a ver a mídia [1] como outra autoridade dentro de casa.
Por meio dos sites, jogos eletrônicos, revistas, mensagens comerciais e programas inadequados, a mídia propõe-se a satisfazer, de várias formas, os desejos infantis que, pela manobra persuasiva, converte em necessidades. Expresso em números (Interscience, 2003), o resultado desse bombardeio de mensagens e apelos comerciais é de 80% de influência das crianças nas compras da família. Isso concorre para diminuir a autoridade dos pais perante os filhos. A propósito, há alguns meses, muita gente viu um comercial de automóvel equipado com um aparelho de DVD, insinuando que a atuação dos pais pode ser dispensável na vida dos filhos mediante a aquisição de determinada tecnologia. A mensagem mostrava dois carros na estrada. Num deles, os pais se desesperavam por não saber como conter as rusgas entre os filhos pequenos enquanto, no outro, equipado com o aparelho DVD, o clima era de total tranqüilidade pela atenção das crianças presa à tela.
O que melhor explica o fato dos filhos aderirem tão mais prontamente a tantas mensagens da mídia e desdenhar os ensinamentos dos pais é a permissividade expressa por ela das duas formas mais sedutoras para a criança: a ausência do “não”, palavrinha incômoda porém decisiva para a demarcação dos limites imprescindíveis à socialização; e a reverência irrestrita às vontades das crianças que só faz ampliar nelas a fantasia de poder ter tudo.
Mídia: uma babá aparentemente dedicada, afetuosa e complacente demais com os desejos infantis
Um pequeno recorte na trama do filme de Curtis Hanson: “A Mão que balança o berço” – título, aliás, inspirado no citado provérbio, como explicita a fala de um de seus protagonistas –, ilustra essa atração dos pequenos por adultos complacentes demais com os desejos infantis. A trama gira em torno de uma babá aparentemente dedicada e afetuosa que começa a se apropriar das duas crianças de um jovem casal de forma lenta e sedutora. Valendo-se de sua maior disponibilidade de tempo junto aos pequenos, a babá permite à garotinha mais velha – cerca de cinco anos – assistir a um gênero de filme vetado à ela pelos pais em função de sua pouca idade. Como é de se esperar, a garotinha logo entende a babá como mais amorosa que seus pais.
De modo geral, tal cumplicidade com os caprichos infantis está presente em diversos tipos de mídia dirigidos às crianças. E a tendência é antecipar-se, cada vez mais, essa interferência na educação delas. Por isso, quem tiver hoje nos braços seu recém-nascido já não pode deixar para mais tarde a preocupação com os impactos da comunicação midiática na formação dos pequenos. Ela já está do lado do berço na forma dos programas para bebês. Se nos faltam ainda dados de pesquisa para saber o que acontecerá, daqui a alguns anos, com os bebês “educados” via TV, não faltam experiências e estudos sobre a formação do psiquismo. Um bebê não tem estrutura mental para saber sequer quem é e o que é; não tem idéia de suas dimensões físicas; desconhece o mundo à sua volta e, sobretudo, é fusionado com sua mãe, tendo-a como uma extensão de si mesmo. Como concluiu o psicanalista e pediatra Donald Winnicott, um dos mais brilhantes estudiosos do desenvolvimento infantil, “não existe tal coisa chamada bebê, significando com isso que se decidirmos descrever um bebê, encontrar-nos-emos descrevendo um bebê e alguém. Um bebê não pode existir sozinho, sendo essencialmente parte de uma relação”.
Alheio aos danos que pode trazer ao psiquismo infantil, o objetivo do marketing é implantar o quanto antes na criança a necessidade de consumir
Sendo assim, o que pensar sobre a relação de um bebê com um aparelho de televisão que fala e age, sem estabelecer um contato real com ele? Uma das primeiras formas de contato da criança com o mundo é a identificação projetiva, mecanismo psíquico por meio do qual ela projeta aspectos de si mesma sobre o outro enquanto sente como seus determinados aspectos deste outro em virtude do estado de fusionamento em que se encontra. Sendo assim, é fundamental refletir sobre o quê um bebê irá projetar na caixa de uma TV (sem sua mãe dentro), com uma seqüência de imagens ainda sem sentido ou valor para ele? E, pior ainda, que aspectos ele tomará do aparelho e da produção eletrônica como partes de si mesmo?
Se não podemos prever o futuro, olhemos o que já acontece, no presente, com tantas crianças que nos rodeiam, no cotidiano ou na prática clínica: natural nos primeiros anos de vida, o narcisismo (amor a si mesmo) e a onipotência (certeza de poder ser e ter tudo) andam durando além do previsto quando, até por volta dos seis anos, deveriam ter se convertido na capacidade de se preocupar com o outro. O que estará estimulando, então, nas crianças, o prolongamento dessas características? Quem pensou em interesse comercial, acertou no x da questão que envolve hoje a preocupação com os impactos da publicidade e de determinados tipos de entretenimento na formação das crianças. Alheio aos danos que pode trazer ao psiquismo infantil, o objetivo do marketing é implantar o quanto antes na criança a necessidade de consumir. Como diz Suzan Linn, doutora em Educação e professora de Psiquiatria da Escola de Medicina de Harvard, em seu livro Crianças do consumo – A Infância Roubada, “quando nos referimos a produtos especificamente projetados para crianças “do berço à universidade” pode ser o máximo que alguém possa almejar, mas muitos fabricantes buscam lealdade à marca que dure do berço ao túmulo”.
Na reportagem “A perigosa relação do bebê com a TV”, do Jornal Observatório da Imprensa – a jornalista Leneide Duarte-Plon destaca um dos trechos do manifesto assinado pelos cientistas franceses Pierre Delion e Bernard Golse publicado por este jornal: "Numa época em que se fala muito de ecologia, é preciso que nos conscientizemos de que proteger nossos filhos do risco de desenvolver uma forma de dependência em relação à tela luminosa é uma forma de ecologia do espírito. Por isso, é urgente que nos mobilizemos para a criação de uma moratória que proíba a existência desses canais, antes que a ciência possa conhecer melhor a relação da criança pequena com a tela".
Pelo tanto que evoluímos, chega a parecer irreal que tenhamos hoje que nos revolver em argumentos para impedir que se continue penetrando um terreno tão frágil e misterioso como a psique de um bebê. E isso sob a proposta, desculpe, descabida de ampliar-lhe a inteligência e a criatividade como afirmam alguns argumentos de vendas desses programas para os pequenos. Nascidos em berço de ouro ou em cestos pobres de palha, as perspectivas dentro de cada bebê estão intactas nessa fase do broto e não demandam outros cuidados além dos prescritos pela natureza. Os mais caros entre eles são o calor do seio materno, o alimento saudável, as vozes amorosas e a mão protetora que governa seu passo a passo até o contato pleno com a vida real. Se há tanta preocupação com o desenvolvimento dos bebês, que ela seja convertida, então, para a melhora social do “berço” que os abrigará ao nascer. Nada substitui o amor e os efeitos que só ele pode produzir na construção de um novo indivíduo. Recordando uma vez mais a sabedoria e prudência de Winnicott: “Ainda temos muito que aprender sobre os primeiros tempos de uma criança e talvez só as mães possam dizer o que queremos saber”.
Mais:
Maria Helena Masquetti assina, no Caderno Brasil, a coluna Consumo & Direitos. Edição anterior:
Sapatos de pano contra o vazio de afetos
Como na antiga lenda, vieram as pomposas estratégias do marketing, em suas carruagens douradas de sedução, propondo-se a oferecer às crianças um mundo de maravilhas e tratando de atirar ao fogo as criações. Mas atenção: há meios de construir outra infância
Um tapinha não dói em quem se acostumou com a dor
Carinho é gostoso, tapa é ruim. De quantas pesquisas necessitamos para ter certeza disso? Lembrando Belchior em uma outra música, não precisamos que nos digam de que lado nasce o sol porque bate lá nosso coração — e a esperança de um futuro melhor para nossas crianças
Em liquidação, a auto-estima
No Dia Mundial dos Direitos do Consumidor, vale notar que as crianças tornaram-se o público-alvo preferido da publicidade. Ainda em formação, são bombardeadas com a idéia de que os prazeres se compram — o que prolonga a imaturidade, acentua frustrações e produz, no futuro, adultos infantilizados
[1] A mídia é, muitas vezes, legitimada pela audiência que os pais lhe presta
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Equador apresenta proposta de Fundo Monetário alternativo
O ministro destacou que "podemos começar a construir a soberania energética, temos possibilidades de recursos suficientes com uma redefinição da divisão internacional de trabalho".
Ele acrescentou que a concepção de uma nova estrutura financeira é a solução para iniciar a soberania econômica e energética dos povos latino-americanos. "Devemos redefinir propostas específicas, baseadas nas necessidades dos povos, garantindo os direitos humanos e as necessidades básicas, com alternativas como a Alba e Unasul", disse.
O ministro equatoriano insistiu em que "podemos construir a soberania energética, temos possibilidades de recursos suficientes com uma redefinição da divisão internacional do trabalho, uma nova relação entre o aparato financeiro e produtivo".
Paez explicou que a economia deverá se basear em três pilares fundamentais. O primeiro deles, é a construção de uma nova rede para avançar na consecução de elementos que permitam a soberania alimentaria, energética, pesquisa e desenvolvimento de saberes tradicionais.
O segundo se baseia na construção de uma rede de bancos centrais que superem a visão neoliberal do passado, enfocada nos elementos chave do desenvolvimento a partir dos territórios.
"Tudo isto tendo como coração um Fundo Monetário Alternativo ao Fundo Monetário Internacional (FMI) que ligue as áreas de estabilização macro econômica que estabelecem as possibilidades de sub imperialismo no cenário da integração dos povos", destacou.
Fonte: Agência Adital