01 - If I Fell
02 - Dont Bother Me
03 - Mc Cartney Instrumentals
04 - Please Mr Postman
05 - It Wont Be Long
06 - Love Me Do
07 - Tammy Tell Me True
08 - The Bible Bit
09 - Raga
Créditos: diego-beatles
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
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Créditos: diego-beatles
Cerca de uma semana após os atentados em Mumbai, o Partido do Congresso, que dirige a coalizão governamental na Índia, ganhou as eleições parciais em três dos cinco estados onde o pleito se realizava, entre eles o da capital. Uma vitória que ninguém esperava.
Depois de quatro anos no poder, o partido governista parecia fragilizado pela crise financeira e ridicularizado pelos acontecimentos sangrentos de novembro. No entanto, em 8 de dezembro ele superou o partido nacionalista hindu, Bharatiya Janata Party (BJP), em um dos estados mais turísticos da Índia, o Rajastão. O BJP tinha centrado sua campanha nas fraquezas do poder central em relação ao terrorismo e aos muçulmanos.
“O partido nacionalista hindu comprou uma página inteira de propaganda nos jornais, com a palavra ‘terrorismo’ em letras enormes, cercada de manchas de sangue e o slogan ‘Votar no BJP é votar na segurança’”, diz Javed Anand, escritor e militante muçulmano. “Isso não funcionou. Muita gente, incluindo nós, muçulmanos, está inquieta. Os eleitores elegeram a eficácia – o famoso pão com manteiga.”
De fato, os votos parecem ter sido pautados por questões locais, como os preços dos produtos alimentícios, o abastecimento de água e a falta de empregos. Isso também explica o sucesso do Bahujan Samaj Party (BSP), partido dos dalit (sem casta, ou “intocáveis”) que, em Nova Délhi, passou de 5% em 2003 para 14% em 15 de dezembro passado. O BSP foi fundado pela carismática Kumari Mayawati, que se tornou primeira-ministra do estado de Uttar Pradesh após ter conseguido uma aliança inédita entre dalit, hindus das classes superiores e muçulmanos.
Ninguém pode dizer se esses resultados se repetirão nas eleições gerais de 2009. A constatação de que o BJP esgotou sua margem de manobras é bastante acertada. E as comunidades muçulmanas continuam inquietas, em mobilização permanente.
Em 7 de dezembro, dez dias após os atentados de Mumbai, mulahs, muftis e muçulmanos comuns participaram, na cidade, de um ato silencioso em memória das vítimas, organizado par Javed Anand e seu grupo, Muslims for Secular Democracy. Eles também manifestaram sua indignação contra o “desmoronamento de todo o sistema de governança”, e condenaram a “totalidade das organizações implicadas nos assassinatos em massa”, o que inclui a Al-Qaeda, os talebãs, os movimentos paquistaneses em geral, principalmente Lashkar-e-Taiba, e alguns grupos indianos locais. “Não em nosso nome” [1], clamavam. Outros atos foram organizados em Bangalore, Ahmedabad, Indore, Hyderabad e Nova Délhi. As autoridades religiosas, por sua vez, recusaram-se a enterrar os novos kamikazes em um cemitério muçulmano, argumentando que não eram verdadeiros crentes.
Os atentados de Mumbai chamaram a atenção do mundo inteiro porque mataram ocidentais, ainda que a grande maioria das 163 vítimas seja indiana. Mas eles foram apenas os últimos de uma série. Em 2008, explosões fizeram mais de 200 mortos e cerca de mil feridos, principalmente em Assam, foco de um poderoso movimento separatista. Também foram alvos: Nova Délhi (em 13 e 30 de setembro de 2008, com 19 pessoas assassinadas); Malegaon [2] (29 de setembro, cinco mortos); Ahmedabad (26 de julho, 49 mortos); Bangalore (25 de julho, dois mortos); e Jaipur (13 de maio, 63 mortos). As suspeitas recaem mais sobre grupos locais, o Indian Mujahideen e o Students Islamic Movement of India (SIMI), hoje ilegal, do que sobre o Paquistão, o suspeito tradicional.
A mídia atiçou o clima de histeria: na ausência de provas, todas as “informações confidenciais” vindas da polícia ou dos serviços secretos foram tomadas como verdade. Personalidades muçulmanas e membros da intelligentsia laica, tradicionalmente de esquerda, admitiram sua inquietude frente às prisões de centenas de muçulmanos e aos relatórios sobre “confissões” extorquidas sob tortura. Mais perturbador ainda para a comunidade muçulmana é que os principais suspeitos não são barbudos saídos das escolas corânicas, mas pessoas que receberam uma educação laica moderna.
“Nossos dirigentes são desonestos, há uma crise de legitimidade”, explica Obaid Siddiqui, muçulmano, professor especialista em mídias da Universidade Jamia Millia Islamia de Nova Délhi. “Além do mais, na Índia, não há consenso político sobre questões cruciais, como o terrorismo.”
Mas é possível sentir o crescimento de uma “islamofobia” devastadora. Por isso, o centro de estudos islâmicos Darul Uloom de Deoband (Uttar Pradesh) emitiu, em fevereiro de 2008, uma fatwa (advertência religiosa) [3] contra o terrorismo, e organizou, no dia 31 de maio, uma conferência reunindo as principais organizações muçulmanas em favor da medida.
Na comunidade muçulmana, o nome de Deoband inspira medo e respeito. A maioria dos sunitas indianos, majoritários no país, segue seu ensinamento, como muitos no Paquistão e no Ocidente.
O seminário Darul Uloom conta com cerca de 3.500 estudantes, que ali permanecem durante 13 anos. Cerca de 800 candidatos são selecionados anualmente, entre 10 mil postulantes. O ensino é gratuito. Adil Siddiqui, diretor de relações públicas, navega em um labirinto de prédios até as cozinhas, abertas, onde se mói o trigo. “Os agricultores da região nos amam muito e dão trigo aos meninos”, assegura. Os estudantes propagam os ensinamentos de Darul Uloom em toda a Índia, graças à vasta rede de escolas que fundaram.
Segundo Adil Siddiqui, o seminário foi equivocadamente acusado de manter relações com Osama bin Laden e os talebãs após 11 de setembro de 2001. Fundada em 1866, a escola, ao contrário, é respeitada por suas posições moderadas. Seus mentores tiveram um papel preponderante durante a Revolta dos Cipaios, em 1857, contra o Império Britânico [4]. E o seminário sempre defendeu a democracia laica na Índia.
Os muftis tomaram outras medidas para afirmar sua recusa à violência. Incentivado pela Jamiat Ulema-e-Hind (JUH), uma organização ligada à Deoband que conta com 10 milhões de filiados, um “trem da paz” embarcou, no dia 2 de novembro de 2008, mais de 6 mil muftis para Hyderabad, onde era organizada uma conferência contra o terrorismo. Uma nova fatwa proibindo a violência em nome do Islã foi ratificada por 100 mil pessoas na sessão de encerramento. O maulana Mahmood Madani, chefe do JUH e membro da Câmara Alta do Parlamento Indiano (Rajya Sabha), chamou a atenção para o papel da “integração nacional, necessária para enfrentar a alienação”. Antes, ele já havia reconhecido que o JUH deveria redobrar seus esforços para atingir a juventude descontente e fazê-la compreender que “o terrorismo não pode ser a jihad”.
Se a influência dos maulanas de Deoband é preponderante nos meios religiosos e entre as populações menos favorecidas, ela é quase nula entre os jovens. Muitos muçulmanos reclamam que os muftis não têm agido o suficiente para favorecer as reformas da Personal Law – código do estatuto pessoal que permite que a lei islâmica seja aplicada para todas as questões ligadas aos assuntos familiares como divórcio, casamento e herança [5]. Muitas mulheres reivindicam mudanças, pois os procedimentos de separação, por exemplo, quase sempre dependem unilateralmente dos homens [6].
Existem ainda duas outras esferas de influência, frequentemente ligadas ao extremismo: o Tablighi Jamaat e o Jamaat-e-Islami Hind (JIH). Suspeito de extremismo no exterior, o primeiro se apresenta, na Índia, como uma influência puramente religiosa, desinteressada da política. O segundo, que constitui o ramo indiano do movimento islamita radical fundado por Abul Ala Maududi em 26 de agosto de 1941, no Paquistão, não tem mais de 25 mil filiados, mas tem grande presença na mídia e prestígio considerável entre os islamitas.
Nos últimos tempos, o grupo moderou seu discurso. Em outubro, redigiu sua própria declaração contra a violência e, um mês mais tarde, enviou duas caravanas da paz por todo o país para “lutar contra o terrorismo”.
Mas o verdadeiro perigo vem da miséria e do sentimento de injustiça, largamente difundido na comunidade islâmica. De fato, a maioria dos 154 milhões de muçulmanos – 13,4% da população total, a principal minoria do país – continua à margem do tão exaltado “milagre indiano”. De acordo com relatório do comitê presidido pelo ministro da Justiça, Rajendra Sachar [7], as populações muçulmanas “continuam atrás na maioria dos indicadores de desenvolvimento humano”. Comandado pelo próprio governo, o estudo data de novembro de 2006 e, até agora, nenhuma de suas recomendações foi aplicada.
Segundo esses dados oficiais, os muçulmanos muito pobres seriam bem mais pobres que os hindus pobres. Eles se situariam no nível ou até mesmo abaixo dos dalit. Essa miséria é flagrante na favela muçulmana de Golibar, no leste de Mumbai, onde a população vive em habitações minúsculas e improvisadas, cujo primeiro patamar só é acessível por uma escada. Ainda assim, encontram-se aí associações de locatários, postos improvisados que oferecem vacinas – inclusive contra tifóide e hepatite B – e cursos gratuitos de inglês. Mesmo com parcos benefícios, seus moradores permanecerem acolhedores aos visitantes, contrariamente aos de Mahim West. Nesse bairro, um pouco mais longe e próximo do santuário de Baba MakhdooIci, a pobreza é constante e a juventude, hostil.
Os islâmicos são também os que têm menos educação, de acordo com as conclusões do comitê de Sachar. Um quarto da população entre 6 e 14 anos nunca foi ou abandonou a escola. A taxa de alfabetização da comunidade é de 59%, contra 65% em nível nacional, e apenas 4% de seus membros estão nas melhores universidades. Além disso, eles detêm somente 5% dos postos governamentais.
Muitos exercem profissões de artesãos, mas a globalização tem prejudicado cada vez mais suas atividades. Quando conseguem ascender socialmente, é graças a alguns “dons” particulares, como os de Yusuf Pathan, jogador de críquete da equipe nacional, filho de um mulah. Ou ainda Sania Mirza, única jogadora de tênis indiana a participar de um torneio de Grand Slam.
Essa percepção é confirmada Humera Ahmed, diretora dos serviços postais da cidade, uma muçulmana crítica com seus correligionários: ela acha os hindus tolerantes e os islâmicos excludentes, “não apenas em sua religião, mas também em seu modo de vida”. Mas não deixa de reconhecer que estes últimos sofrem discriminação: “Teoricamente eu não poderia viver no imóvel em que estou há 25 anos, pois ele pertence a proprietários hindus. Entretanto, meu estatuto social e o fato de que vivo em uma cidade cosmopolita me permitem escapar à ‘bolha’ comunitária.”
Jornalista hindu em Nova Délhi, Shoma Chaudhury resume perfeitamente o problema: “Nossas comunidades sempre viveram em guetos, mas elas estão presentes em todos os domínios da vida pública. As pessoas vivem separadamente – mas lado a lado. Esse equilíbrio hoje está ameaçado”. A família Siddiqui ilustra essa evolução. Ela morava no bairro muçulmano mais conhecido de Délhi, Jamia Nagar, que reúne todas as classes sociais. O que antes não passava de um povoado, desenvolveu-se após a abertura da célebre Universidade Jamia Millia, nos anos 1930. Próximo a belas casas em estilo colonial e a apartamentos confortáveis, abre-se um labirinto de ruelas sujas que abrigam uma grande população de desafortunados. Obaid Siddiqui se sentiu à vontade ali durante muito tempo. Mas tudo ficou mais complicado quando se casou com uma mulher sikh praticante. E a situação piorou após o nascimento de sua filha, criada de acordo com os princípios da esposa.
Então, apesar das duas horas de deslocamento nos engarrafamentos e da forte poluição, a família mudou para uma cidadesatélite onde é possível viver anonimamente. “Temos um motorista e nos acostumamos a fazer o trajeto todos os dias”, explicam eles. Sua casa fica em Vaishali, próxima de Ghaziabad e a alguns quilômetros da fronteira de Uttar Pradesh. Na vizinhança, há muitos restaurantes da Pizza Hut e algumas unidades do McDonald’s. Durante o Diwali (o ano novo indiano), com uma auréola de guirlandas de flores, luzes e música, a cidade fervilha de compradores. Ainda que as pessoas pensem duas vezes antes de comprar por ali, tão vivas estão as lembranças dos ataques que sacudiram o país todo ao longo de 2008. Bem protegido atrás de cercas elétricas, o imóvel dos Siddiqui é chique: possui piscina e sala de ginástica. Apenas duas famílias entre 75 são muçulmanas.
Como explicar o mal-estar atual? Certamente ódios profundos perduram entre aqueles que viveram, em 1947, o trauma da divisão do território, a independência e a transferência de populações inteiras [8]. Desde os anos 1920, com a subida do Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS), a direita hindu começou a promover a noção de rashtra (nação) hindu, cujo passado glorioso teria sido interrompido sob o reino mongol. Mas foi a partir dos anos 1980 que a política nacionalista do Bharatiya Janata Party (BJP) e de seus aliados passou a marginalizar a comunidade muçulmana.
Para Shoma Chaudhury, “as pessoas veem a separação entre hindus e muçulmanos como uma falha civilizatória. Durante um tempo, os pais fundadores [Mohandas Karamchand Gandhi e Jawarlal Nehru] contiveram isso recorrendo à nobre retórica da democracia”. Mas os 34 anos que se seguiram à independência tiveram inúmeros episódios violentos. E cabe citar o assassinato de Mahatma Gandhi, em 30 de janeiro de 1948, por um ativista hindu, ou ainda o de Indira Gandhi, em 31 de outubro de 1984, por dois de seus guardas sikh.
Depois, nos anos 1980, a direita hindu “adquiriu certa glória no momento em que o Partido do Congresso [então no poder] perdia a sua. Em 1992, a demolição da Mesquita Babri, em Ayodhya, traumatizou a população e provocou uma onda de violência em toda a Índia [9]. Dez anos mais tarde, rebeliões estouraram em Gujarat. O conflito da Caxemira reforçou os temores: o BJP acusou os muçulmanos de se colocarem ao lado do Paquistão. E a Índia aquiesceu”.
Deixando cerca de 2 mil mortos [10], as rebeliões de 2002 marcaram a memória coletiva. Esses atos de violência foram orquestrados pelos nacionalistas hindus, incluindo as mais altas autoridades do Estado – destacadamente o primeiro-ministro do Gujarat, Narendra Modi, ainda no poder –, com a cumplicidade da polícia. Muitas reportagens mostraram que essa caça aos muçulmanos foi premeditada. Os culpados permaneceram impunes e muitas famílias islâmicas não tiveram autorização para voltar a sua própria casa. Sophia Khan, fundadora da organização não-governamental Safar, esclarece que ainda hoje há 150 mil mulheres deslocadas em razão da política discriminatória das forças de segurança.
Para justificar seu ódio contra os muçulmanos, o BJP maquia a história e esquece que o Islã nasceu no século VII, graças a comerciantes árabes que vieram à costa de Malabar (Kerala). Os lugares de peregrinação sufistas compartilharam santos e santuários constituindo a rica cultura sincrética da Índia, que perdura até hoje.
Em Mehrauli, ao sul de Délhi, o santuário Hazrat Khwaja Qutabuddin Bakhtiyar está sempre enfeitado de guirlandas com flores amarelas. Dhasamuiv Verma, um velho hindu originário das classes médias, conhece bem o lugar: ele o frequentou todos os dias, durante 26 anos, e agora vai lá quatro vezes por semana. Segundo ele, alguns pobres reunidos no santuário foram sempre “mais ou menos” muçulmanos.
Do lado de fora, homens com o chapéu tradicional sufista estão sentados no chão e cantam qawwali hipnóticos (música religiosa) acompanhados de tocadores de tabla e de dholak (tambor). O ar está saturado de incenso. Na saída, o mulah me assegura que todos os pobres de Mehrauli – qualquer que seja sua religião – vão ali pela comida. Ele desfaz uma rixa iminente entre dois homens que disputam as gorjetas pela guarda do calçado deixado pelos peregrinos na entrada, como é de costume.
A muitas centenas de quilômetros de lá, Dharavi, a maior favela de Mumbai abriga pelo menos 1 milhão de habitantes. Em alguns bairros, os muçulmanos vivem lado a lado com os hindus. No interior dessa “cidade” autônoma, pessoas de religiões diferentes trabalham nas mesmas pequenas empresas artesanais. Da mesma forma, em Kerala, as duas comunidades convivem sem problema aparente. Com tudo isso, muitos muçulmanos tentam fazer a diferença no curso dos assuntos do país. A alguns meses das eleições nacionais, eles reconsideram suas escolhas.
[1] Muslims for Secular Democracy, www.mfsd.org
[2] No caso do atentado de Malegaon, extremistas hindus são suspeitos, incluindo um sadhu e uma sadhvi (que renunciam à vida no mundo), além de um tenente-coronel do serviço secreto indiano e um militar da reserva.
[3] Trechos disponíveis em: www.mfsd.org/fatwaenglish.htm
[4] Ler William Dalrymple, The Last Mughal, Bloomsbury, 2006 e “Il y a cinquante la révolte des cipayes”, Le Monde Diplomatique, agosto de 2007.
[5] A Personal Law foi instituída pelos britânicos e reforçada em 1973.
[6] Há também duas outras grandes correntes sunitas, os salafistas (Jamiat Ahle Hadeeth) e os sufistas Barelvis, mais rígida e contrária a qualquer reforma.
[7] Social, Economic and Educational Status of the Muslims of India, governo da Índia, novembro de 2006.
[8] Ler Kuldip Nayar e Asif Noorani, Tales of two cities, Roli Books, 2008; e Salman Rushdie, Les enfants de minuit, Livre de poche, 1989.
[9] A mesquita de Ayodhya foi demolida no dia 6 de dezembro de 1992 por nacionalistas hindus que queriam construir um templo no lugar, para marcar o local de nascimento do rei hindu Ram. Essa demolição desencadeou uma onda de violência sem precedentes entre as diversas comunidades.
[10] De acordo com estimativas de organizações não-governamentais, como a Citizens for Justice and Peace. Informações disponíveis em: http://www.cjponline.org.
==> Blues Popular Brasileiro - Vol 4
"Há três dias, (Obama) disse que sou um obstáculo para o progresso da América Latina e que a Venezuela exporta o terrorismo, ou algo assim. E olha que ele ainda nem assumiu", disse Chávez. "Quando diz isso, o que está falando é que é preciso tirar Chávez do poder, porque quando alguém encontra um obstáculo, o que se deve fazer é tirá-lo do caminho."
O presidente americano eleito toma posse na próxima terça-feira. “Caso queira ter boas relações com a América Latina, Obama precisará rever suas posições e assumir seu papel com mais seriedade”, assinalou Chávez, que acrescentou: "Parece que (Obama) será um novo fiasco para seu povo e o mundo. Tomara que eu esteja errado, mas parece que ele será mais do mesmo", considerou Chávez, durante um ato com mulheres militantes de seu Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) no estado de Carabobo.
"Não me meti com Obama e exijo do novo presidente dos Estados Unidos que não se meta com a Venezuela. Já faz um tempo que não somos colônias." Para Chávez, o democrata "não tem papas na língua" quando perguntado sobre a Venezuela. "Mas, quando lhe perguntam sobre o massacre das crianças em Gaza não responde, fica calado".
Chávez, acima de tudo, acusou Obama de ingerência no referendo venezuelano de 15 de fevereiro sobre a reeleição ilimitada de todos os cargos de eleição popular. A Assembléia Nacional venezuelana (AN), de 167 membros, aprovou na quarta-feira, em segunda discussão, o projeto de emenda proposto por Chávez. A campanha pela reeleição começou sábado e, se a proposta for aprovada, Chávez poderá tentar uma nova reeleição em 2012.
“Vocês não vêem que Obama já se meteu na campanha. O chefe do império se meteu na campanha", denunciou Chávez, em um ato a favor do "sim" à emenda pela reeleição. Segundo Chávez, um grupo de líderes da oposição venezuelana foi a Nova York e a Miami para "meter todo o dinheiro do mundo — e eles vão fazer toda a guerra suja que puderem" contra a emenda constitucional.
Ele insistiu que Obama "segue um formato do Pentágono. Porque, se o presidente dos Estados Unidos não obedecer ao mandato do império, matam Obama, como fizeram com (John F.) Kennedy, com Martin Luther King, ou com Abrahan Lincoln". Apesar de esperar que "Barack Obama se corrija a tempo, ele já se meteu na disputa interna e está apoiando assessores internos" da oposição, completou Chávez.
As relações entre os governos americano e venezuelano registraram seu pior momento em setembro, quando Chávez, em protesto, expulsou o embaixador americano do país e retirou seu enviado dos Estados Unidos. Mas o líder socialista expressou previamente esperança de melhorar as relações entres os dois países na administração de Obama, tendo poupado o novo presidente das críticas duras que Chávez faz constantemente contra George W. Bush.
Até sexta-feira (16), as inscrições para a edição de Belém passavam de 82 mil, segundo o sociólogo Cândido Grybowski, diretor do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas). “As pessoas que moram na cidade fazem a inscrição na hora”, conta.
Segundo Grybowski — que é um dos fundadores do FSM e o organizador da etapa 2009, “Belém já está no clima do fórum. É um espaço aberto — nós não queremos muralhas como nas reuniões do G8, que nos protege do lugar onde estamos. Nós queremos integração com a cidade”.
Eventos
Estão previstas mais de 2,6 mil atividades, a maioria autogestionadas (organizadas pelos próprios participantes). As assembléias, oficinas, cerimônias, atividades culturais e os seminários serão concentrados nas Universidades Federal do Pará (UFPA) e na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), mas devem tomar as ruas de Belém, como na caminhada de abertura, prevista para a tarde do primeiro dia do Fórum.
Considerado o principal contraponto ao Fórum Econômico Mundial, que acontecerá paralelamente em Davos, na Suíça, o FSM não deverá concentrar a discussão apenas sobre a crise financeira internacional. Também estarão na ordem do dia as crises ambiental e de segurança alimentar, que justificam inclusive a escolha de uma sede amazônica para o Fórum, segundo Grzybowski.
“Por causa da crise climática, decidimos realizar o Fórum no lugar que é grande patrimônio mundial. A Amazônia está no centro desse debate e não pode ser vista como um poço de gás carbônico. Queremos mostrar que é um território humanizado, cheio de alternativas. Assim como Chico Mendes mostrou o lado social da Amazônia ao mundo, vamos expressar o socioambiental, que é o grande desafio”, apontou.
Definido como um evento apartidário e sem ligação com governos, o FSM não deixa de ser uma oportunidade política — e não será diferente em Belém, principalmente para as lideranças regionais. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já confirmou a ida ao Fórum — e deve encontrar os colegas de continente Hugo Chávez, da Venezuela, Evo Morales, da Bolívia, Fernando Lugo, do Paraguai, e a chilena Michele Bachelet.
Os participantes
Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), o participante do fórum tem um perfil específico: a maioria é jovem e com alto grau de instrução. A pesquisa foi feita entre as edições de 2003 (Porto Alegre) e 2007 (Nairóbi) com 14 mil participantes.
Nesse período, pelo menos 56% dos participantes tinham até 35 anos. O índice mais alto de participação da juventude foi em Porto Alegre, em 2003, com 70% dos participantes com até 35 anos.
Outra característica do público verificada na pesquisa foi o alto nível de escolaridade. Em todas as edições pesquisadas, a parcela de participantes com curso superior completo foi no mínimo de 73%. A edição de 2007, no Quênia, registrou o maior número de participantes com nível superior: 81%.
Para Cândido Grzybowski, a edição de Belém será a “mais popular” de todas. “Nunca teve tanto indígena, quilombola, ribeirinho, extrativista, pescador. Vai ter uma mudança de perfil. Na verdade sempre há, mas desta vez será mais radical. A elite da militância vai continuar vindo, talvez caiam os grupos intermediários. E vêm esses grupos de base da Amazônia.”
O Fundo de Solidariedade do Fórum vai financiar a vinda de participantes que não podem arcar com os custos da viagem. A prioridade são os povos originários e tradicionais da região, como indígenas, quilombolas, ribeirinhos e minorias. Esse fundo é financiado por organizações nacionais e internacionais.
Outra conclusão do estudo do Ibase é que a maioria dos participantes é do próprio país em que está sendo realizado o fórum ou de regiões vizinhas. Em todas as edições pesquisadas, entre 69% e 92% dos participantes eram do país-sede ou de nações próximas.
História
O Fórum Social Mundial é promovido sempre em janeiro, na mesma data em que ocorre o Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça. É por essa razão que o evento, no início, era conhecido com anti-Davos. Promovido por um comitê internacional formado por organizações da sociedade civil e movimentos sociais de todo o planeta, o FSM tem como slogan “um outro mundo é possível”.
A Carta de Princípios do fórum o define como "um espaço aberto de encontro para o aprofundamento da reflexão, voltado para o debate democrático de idéias e a formulação de propostas para superar o processo de empobrecimento gerado pela globalização”. O evento é considerado “altermundista”, já que busca uma nova ordem econômica e social para todo o planeta.
Realizado em Porto Alegre em 2001, 2002, 2003 e 2005, o FSM passou pela Índia, em 2004. Em 2006, o fórum foi realizado em três países simultaneamente — Mali (África), Paquistão (Ásia) e Venezuela (América). Em 2007, voltou a ser centralizado, dessa vez no Quênia (África). Já no ano de 2008, o fórum não teve um epicentro. Foi transformado em um Dia de Ação de Mobilização Global (26 de janeiro), com eventos simultâneos — cerca de 800 atividades e manifestações autogestionadas —, em 82 países.
O número de participantes cresce a cada edição. Na primeira edição, em 2001, foram 20 mil participantes. Nas duas seguintes o evento reuniu respectivamente 50 mil e 100 mil pessoas. O recorde foi em 2005, em Porto Alegre, com 155 mil participantes.
Créditos: Vermelho