terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Sobre a "crise" econômica...

O buraco perfeito

Leonardo Boff *Adital

Ignace Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique e um dos agudos analistas da situação mundial, chamou a atual crise econômico-financeira de "a crise perfeita". Putin, em Davos, a chamou de "a tempestade pefeita’. Eu, de minha parte, a chamaria de "o buraco perfeito". O grupo que compõe a Iniciativa Carta da Terra (M. Gorbachev, S. Rockfeller, M.Strong e eu mesmo, entre outros) há anos advertia: "não podemos continuar pelo caminho já andado, por mais plano que se apresente, pois lá na frente ele encontra um buraco abissal". Como um ritornello o repetia também o Fórum Social Mundial, desde a sua primeira edição em Porto Alegre em 2001. Pois chegou o momento em que o buraco apareceu. Lá para dentro caíram grandes bancos, tradicionais fábricas, imensas corporações transnacionais e US$50 trilhões de fortunas pessoais se uniram ao pó do fundo do buraco. Stephen Roach, do banco Morgan Stanley, também afetado, confessou: "Errou Wall Street. Erraram os reguladores. Erraram as Agências de Avaliação de risco. Erramos todos nós". Mas não teve a humildade de reconhecer:" Acertou o Fórum Social Mundial. Acertaram os ambientalistas. Acertaram grandes nomes do pensamento ecológico como J. Lovelock, E. Wilson e E. Morin".

Em outras palavras, os que se imaginavam senhores do mundo a ponto de alguns deles decretarem o fim da história, que sustentavam a impossibilidade de qualquer alternativa e que em seus concílios ecumênicos-econômicos promulgaram dogmas da perfeita autoregulação dos mercados e da única via, aquela do capitalismo globalizado, agora perderam todo o seu latim. Andam confusos e perplexos como um bêbado em beco escuro. O Fórum Social Mundial, sem orgulho, mas sinceramente pode dizer: "nosso diagnóstico estava correto. Não temos a alternativa ainda mas uma certeza se impõe: este tipo de mundo não tem mais condiçãoes de continuar e de projetar um futuro de inclusão e de esperança para a humanidade e para toda a comunidade de vida". Se prosseguir, ele pode pôr fim a vida humana e ferir gravemente a Pacha Mama, a Mãe Terra.

Seus ideólogos talvez não creiam mais em dogmas e se contentem ainda com o catecismo neoliberal. Mas procuram um bode expiatório. Dizem: "Não é o capitalismo em si que está em crise. É o capitalismo de viés norteamericano que gasta um dinheiro que não tem em coisas que o povo não precisa". Um de seus sacerdotes, Ken Rosen, da Universidade de Berkeley, pelo menos, reconheceu:"O modelo dos Estados Unidos está errado. Se o mundo todo utilizasse o mesmo modelo, nós não existiríamos mais".

Há aqui palmar engano. A razão da crise não está apenas no capitalismo norte-americano como se outro capitalismo fosse o correto e humano. A razão está na lógica mesma do capitalismo. Já foi reconhecido por políticos como J. Chirac e por uma gama consideravel de cientistas que se os paises opulentos, situados no Norte, quisessem generalizar seu bem estar para toda a humanidade, precisaríamos pelo menos de três Terras iguais a atual. O capitalismo em sua natureza é voraz, acumulador, depredador da natureza, criador de desigualdades e sem sentido de solidariedade para com as gerações atuais e muito menos para com as futuras. Não se tira a ferocidade do lobo fazendo-lhe alguns afagos ou limando-lhes os dentes. Ele é feroz por natureza. Assim o capitalismo, pouco importa o lugar de sua realização, se nos EUA, na Europa, no Japão ou mesmo no Brasil, coisifica todas as coisas, a Terra, a natureza, os seres vivos e também os humanos. Tudo está no mercado e de tudo se pode fazer negócio. Esse modo de habitar o mundo regido apenas pela razão utilitarista e egocêntrica cavou o buraco perfeito. E nele caiu.

A questão não é econômica. É moral e espiritual. Só sairemos a partir de uma outra relação para com a natureza, sentindo-nos parte dela e vivendo a inteligência do coração que nos faz amar e respeitar a vida e a cada ser. Caso contrário continuaremos no buraco a que o capitalismo nos jogou.


* Teólogo

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

A midia de esgoto e o preconceito....

Palestinos, Israelenses, MST e preconceito


por Mário Augusto Jakobskind, Direto da Redação

A questão do interminável conflito palestino-israelense continua na ordem do dia e a provocar reações dos mais diversos tipos, como tenho constatado nos correios eletrônicos para mim enviados. A grosso modo, alguns leitores comportam-se como se estivessem na arquibancada do Maracanã torcendo pelo Flamengo ou Fluminense. Fora das ofensas (pobre da minha mãe, que Deus a tenha...), há opiniões discordantes educadas, mas sempre batendo na tecla do senso comum, seja de um lado ou de outro. Aqui ninguém é dono da verdade, mas é necessário um mínimo de distanciamento emocional, sem dogmatismos, para tentar analisar os acontecimentos.

É preciso acabar de uma vez por todas com o (pre)conceito de que qualquer critica ao governo israelense é antissemitismo (a nova ortografia sem o hífen), da mesma forma que os antissemitas clássicos aproveitaram o embalo para assacarem conceitos racistas com base até no velho e surrado Protocolos dos Sábios de Sião. Para quem não sabe, trata-se de um documento apócrifo, sem base científica, formulado pelo serviço secreto do Czar, no início do século passado, portanto antes da Revolução Bolchevista de 1917, que falava de um suposto domínio judaico mundial, seja no capitalismo ou na luta revolucionária socialista.

O problema é que o tal documento rodou o mundo, foi incorporado a Minha Luta de Adolf Hitler e continua na ordem do dia cem anos depois. Há hoje até alguns setores que se autodenominam socialistas – o tal socialismo de tolos, como diria o insuspeito Vladimir Lênin – que se valem, consciente ou inconscientemente, de tais teses racistas. Ou seja, na prática, o suposto antissionismo acaba nutrindo o sionismo, o nacionalismo judaico que se vale dos antissemitas para sustentar suas teses e até mesmo de chantagens emocionais para descontar em cima dos palestinos, que pelo andar da carruagem estão se transformando nos armênios do século XXI, ou seja, um povo sem padrinhos e que sofreu genocídio por parte do então império Otomano. No caso dos armênios, só agora, depois de quase cem anos alguns setores turcos reconheceram o genocídio.

Enquanto Dona Hillary Clinton, a substituta de madame Condoleezza, começa a dar seus pitacos a favor de Israel, o mesmo acontecendo com o presidente Barack Hussein Obama, o que torna no mínimo complicado os Estados Unidos continuarem como mediador de uma crise da envergadura do atual conflito na região, o mundo gira.

No Rio de Janeiro, sob o reinado de Eduardo Paes, o maior jornal carioca, O Globo, continua a enaltecer o tal "choque da ordem". Editores pautam jovens repórteres para saírem às ruas à cata dos mendigos. Os locais são anunciados e no dia seguinte, seguindo a pauta de O Globo, a tropa de Paes recolhe os mendigos, mas ninguém se importa para onde estão levando estes brasileiros excluídos. Setores da classe média que cobram a "limpeza da rua" pouco se importam, da mesma forma que os repórteres e editores, qual a saída que o Poder Público municipal oferece para estas vítimas de um sistema cruel como o capitalista, ainda mais o selvagem.

O Rio está cercado pelos dois lados: a mediocridade estadual e municipal. O Governador Sergio Cabral vai a Davos como figura decorativa e que rasteja em torno dos poderosos do planeta, como é do seu feitio, e que nem sabem quem é a figura. Lula desta vez sentiu os ares e optou pelo Fórum Social Mundial 2009. Menos mal, mas resta saber se pretende colocar em prática o ideário de um outro mundo possível (e necessário, diga-se de passagem) ou ficará apenas na retórica, optando pelo esquema Henrique Meirelles.

Outro fato que vale destacar, e que foi jogado meio para escanteio pela mídia conservadora, é o aniversário do MST, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terras, que completou 25 anos de luta. E, como sempre, a mídia conservadora tratou de forma preconceituosa o mais importante movimento social brasileiro. Ou seja, os veículos que historicamente sempre tiveram ódio dos brasileiros que lutam pela reforma agrária, não mudaram.

Foi assim em 1964, quando os jornais mencionados e mais outros assacavam injúrias e mentiras contra o governo que instalou o processo mais progressista feito no país até hoje em matéria de reforma agrária, o de João Goulart, derrubado exatamente por defender e levar adiante reformas de base necessárias para a formação de um Brasil mais justo em termos sociais.

Por causa das mentiras e manipulações midiáticas, o Brasil mergulhou numa noite que durou 21 anos, e cujos reflexos continuam presentes até hoje. Ou seja, ainda é necessário se lutar por uma reforma agrária, porque ainda não foi concretizada, uma luta que ganhou novos contornos em função das mudanças ocorridas no país nas últimas quatro décadas. Mas, O Globo, a Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo repetem a história de sempre na base de "se há povo organizado e mobilizado, somos contra".

É por aí que se pode entender o motivo de tanta manipulação contra os movimentos sociais, em particular o MST.

FSM-2009

Debates do FSM trouxeram propostas para enfrentar crise

A maioria dos debatedores que participou de atividades sobre a crise no FSM 2009, em maior ou menor grau, defende como iniciativas imediatas a elevação do salário mínimo, a ampliação de políticas de proteção social, a defesa do serviço e dos bens públicos, o fim da independência do Banco Central e a nacionalização dos bancos privados.

BELÉM - Um espectro rondou o Fórum Social Mundial. O fantasma da crise econômica esteve presente em centenas de debates e oficinas nestes dias chuvosos em Belém.

Mesmo os debates focados em temas aparentemente distintos, como comunicação, ecologia ou direitos das minorias acabaram por se referir ao cataclismo econômico. O encontro acabou por se transformar na "primeira manifestação popular global contra a crise", de acordo com François Sabado, dirigente da Liga Comunista Revolucionária, da França.

A multiplicidade de intervenções e análises feitas por economistas, cientistas políticos, historiadores, sociólogos e pesquisadores de várias correntes de opinião apresenta diferenças quanto aos objetivos e algumas convergências em algumas medidas imediatas a serem tomadas. O Fórum não se propõe a grandes sínteses, o que é um problema. Mas pode-se, arbitrariamente, tentar estabelecer alguns fios de continuidade entre o muito que foi falado em diversas mesas.

Pelo próprio caráter do evento, a grande maioria dos expositores situa-se no espectro que vai do centro à esquerda. Entre eles, poderíamos dizer que há duas grandes vertentes, os que buscam superar a fase neoliberal recuperando um desenvolvimentismo regulado pela ação estatal e os defensores de uma ruptura socialista. Mas, aparentemente, ambos concordam que as ações de curto prazo devem ser anticíclicas, tendo o Estado como protagonista. O objetivo é conter o desemprego e as conseqüências sociais do desastre.

Crise de civilização
No debate "A crise econômica mundial e os desafios para a esquerda", François Sábado fez uma observação preliminar: "Esta é a primeira crise profunda do capitalismo globalizado. Não tem por origem problemas nas finanças, mas na esfera produtiva, na essência do capitalismo global". Segundo o dirigente francês, a turbulência atual possui dimensões econômicas, sociais, políticas, energéticas, climáticas e alimentares. "Uma crise de civilização", em resumo. Sua feição mais visível revela uma profunda derrota das políticas neoliberais.

Sábado avalia que se a esquerda e as forças populares não conseguirem encontrar um programa mínimo comum para agir, corre-se o risco da disputa pela superação da crise ficar entre "os neoliberais e aqueles que desejam reformar o capitalismo". O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), aponta uma orientação geral, sintetizada na consigna "os trabalhadores não podem pagar a conta da crise".

A Central dos Trabalhadores do Brasil, vinculada ao PCdoB, defende, por exemplo, empresas que recebam financiamento público não possam demitir trabalhadores. A CUT vai pela mesma linha e exige a queda imediata da taxa de juros. O PSOL pede ainda estatização do sistema financeiro e o controle dos fluxos de capitais, como iniciativas de curto prazo. São tópicos complementares entre si.

Diferente das anteriores
O presidente do IPEA, Marcio Pochmann, no debate "Energia, Soberania e trabalho", lembrou que a crise atual se diferencia das anteriores em vários aspectos, "alguns deles positivos para o seu enfrentamento". De acordo com o economista, antes quem propunha e impunha saídas para a crise era o FMI. Hoje, os Estados nacionais tendem a assumir o comando. Com isso, as políticas de proteção trabalho são decisivas. "Na fase em que o FMI ditava as regras de recuperação, as preocupações eram menos Estado, mais mercado, privatizações, abertura comercial e financeira", afirmou o economista. Desta vez, o Estado é tomado como o único agente capaz de refazer o capitalismo, diz ele.

O sociólogo alemão Elmar Altvater acrescentou, no debate "Crise global e alternativas do sul" que "Em outros tempos, as propostas de recuperação não tratavam de problemas climáticos". Nos dias que correm, segundo ele, um novo paradigma energético e ecológico é tido como urgente e parte indissociável da superação dos problemas.

Para o ex-diretor da Petrobras, Ildo Sauer, é necessário reprogramar a estrutura produtiva dos paises periféricos, muito dependentes de empresas multinacionais. A remessa de lucros para o exterior, em períodos críticos, provoca desequilíbrios nas contas nacionais, diz o especialista. "O predomínio de commodities na pauta de exportações fragiliza as economias quando o valor desses bens sofre profundas oscilações".

Uma idéia geral, ventilada, entre outros, por Pochmann é a de que a crise reavivou a noção de que o Brasil e os demais paises da periferia são profundamente dependentes dos fluxos de capitais externos. Seria necessário, por isso, refazer e fortalecer o sistema de crédito interno para reduzir impactos das crises externas. Bancos de investimento como o BNDES, são fundamentais para proteger a região da propagação interna e financiar setores estratégicos.

Laís Abramo, representante da OIT no Brasil advoga a necessidade do aumento da cobertura do seguro-desemprego, de políticas de qualificação dos trabalhadores e de atenção aos setores mais fragilizados do mercado, como pequenas e micro empresas, mulheres, negros etc.

Auditoria da dívida
Uma das mesas mais concorridas, com cerca de 500 pessoas, reuniu o deputado Ivan Valente (PSOL), o belga Eric Toussaint e Maria Lucia Fatorelli, da Unafisco, em torno do tema do endividamento público, tema, segundo ele, central a ser enfrentado no debate sobre a desaceleração econômica. O parlamentar acaba de obter a aprovação para a instalação na Câmara federal da CPI da dívida pública.

Foi unânime entre os participantes a necessidade de uma auditoria da dívida pública interna e externa. "As elevadas taxas de juros e a carga tributária regressiva são os principais instrumentos de concentração de renda e de poder pelo mercado financeiro", diz Valente. "Lula faz o trabalhador pagar pela crise: dá dinheiro para as empresas que patrocinam ondas de demissões". Em suas palavras, mexer na dívida significa mexer no modelo neoliberal. O deputado recomenda o fim do superávit primário, uma imposição do mercado financeiro, para que haja mais dinheiro para investimentos.

Disputas políticas
A maioria dos debatedores sobre a crise, em maior ou menor grau, defende como iniciativas imediatas a elevação do salário mínimo, a ampliação de políticas de proteção social, a defesa do serviço e dos bens públicos, o fim da independência do Banco Central e a nacionalização dos bancos privados.

Ainda é difícil dizer qual a direção que as disputas políticas pela solução da crise tomarão. Talvez as futuras reformas se limitem à superfície do sistema e a algumas regiões do planeta. É possível também que o poder imperial norte-americano, longe de se enfraquecer, se fortaleça e volte a impor suas diretrizes políticas, econômicas e bélicas sobre o resto do mundo. Tudo dependerá da luta política, da consciência popular e da correlação de forças nos embates pela reforma ou pela superação do capitalismo. (Colaborou Bia Barbosa)

Cinema Russo...

ALEXANDRE NEVSKY (Aleksandr Nevsky, RUS, 1938)



Formato: AVI
Áudio: Russo
Legendas: Português (embutidas)
Duração: 1:48
Tamanho: 809 MB (08 partes)
Servidor: Rapidshare

Créditos: F.A.R.R.A.-dylan dog

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Direção: Sergei Eisenstein
Roteiro: Sergei Eisenstein e Pyotr Pavlenko
Música: Sergei Prokofiev
Fotografia: Eduard Tisse
Desenho de Produção: Iosif Shpinel
Direção de Arte: Sergei Eisenstein e Nikolai Solovyov
Figurino: Konstantin Yeliseyev
Edição: Sergei Eisenstein e Esfir Tobak

Elenco:
Nikolai Cherkasov (Príncipe Alexandre Nevsky)
Nikolai Okhlopkov (Vasili Buslaj)
Andrei Abrilkosov (Gavrilo Oleksich)
Dmitri Orlov (Igant)
Vasili Novikov (Pavsha)
Nikolai Arsky (Domash Tverdislavich)
Varvara Massalitinova (Mãe de Buslaj)
Vera Ivashova (Olga Danilovna)
Aleksandra Danilova (Vasilisa)

Sinopse: Rússia, primeira metade do século XIII. Em um momento difícil da sua história o país é invadido em uma frente pelos cavaleiros teutônicos e por outra frente pelos tártaros. Como resultado, a pátria é saqueada e a moral da população fica bem baixa. Finalmente, o deprimido e instável príncipe Alexander Yaroslavich Nevsky (Nikolai Cherkasov) é chamado para liderar seu povo na luta contra os opressores.




Sergei Eisenstein regressou à União Soviética em 1932, abaladíssimo pelo fracasso do projeto Que Viva México!. O país estava diferente, cada vez mais centralizado e dominado pela figura de Stalin. O cinema não era evidentemente exceção. Definitivamente proibida a experimentação de caráter formalista, alegadamente “incompreensível” para as massas proletárias, toda a produção cinematográfica tinha sido colocada sob a alçada direta do Partido, de modo que este pudesse exercer um controle rigoroso sobre tudo que do cinema se fazia - e à frente do organismo responsável fora nomeado Boris Shumyatsky, desde há muito um opositor de Eisenstein e do cinema que se revia nas suas idéias.
Apesar da reputação de Eisenstein nunca ter estado tão em baixo, com Aleksandr Nevsky as coisas passaram-se substancialmente para melhor. O seu patriotismo havia sido posto em causa, e então Eisenstein anunciou que, no seu novo filme, “o patriotismo seria o tema”. Com a Alemanha de Hitier a crescer como ameaça, a altura para semelhante demonstração era propícia - e de resto, Nevsky incorpora referências muito diretas ao “perigo alemão”, seja pelo retraio da luta do povo russo contra os teutônicos, seja pela mensagem de aviso, perfeitamente explícita, deixada no fim do filme (qualquer coisa como “Quem contra a Rússia vier de armas em riste, pelas armas perecerá”). No entanto Eisenstein estava escaldado: diz-se que escolheu centrar o filme na figura de Nevsky porque, tratando-se de uma personagem envolta numa aura lendária nebulosa, “ninguém sabia muito sobre ele, e portanto ninguém poderia acusar-me de incorreções”. Nevsky marcaria o retorno do cineasta às boas graças do regime, contando-se que Stalin, no dia da estréia, teria cercado de Eisenstein para lhe dar um tapinha nas costas e, como que passando uma esponja sobre os problemas dos últimos anos, dizer alto e bom som: “Ah, Sergei Mikhailovitch, afinal de contas és um bom Bolchevique!...”.
É evidente que Nevsky já não tem praticamente nada a ver com os cânones do “realismo socialista”, alinhando no tom fulgurantemente épico (e de novo, como em Encouraçado Potemkin, fabricante de iconografia) que as circunstâncias da época exigiam - e repare-se no trabalho sobre a figura (mais do que sobre a personagem) do ator Nikolai Tcherkassov, transformado num bloco vertical de inquebrável retidão, imagem de força que muito agradaria a Stalin e que este gostaria de ver acentuada em Ivan Groznii. Mas Nevsky é também o ponto onde Eisenstein começa a revelar a influência da ópera, construindo o filme num permanente diálogo entre as imagens e a música de Prokofiev, espécie de sinfonia épica onde tudo trabalha e é trabalhado (quase subliminarmente) em função da exaltação emocional do sentido de patriotismo dos espectadores. Ou seja, se alguma coisa Eisenstein tinha aprendido com tantos contratempos, era a fazer convergir todo o seu trabalho teórico e toda a sua atração por um “cinema intelectual” numa estrutura formal que aparentemente o dissolvia mas que não trazia mais do que o devolver, em termos emocionais, verdadeiramente à flor da pele.

Miguel Oliveira
(texto adaptado) - Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema.




O ditador Joseph Stalin queria que Alexandre Nevsky fosse produzido como propaganda para alertar os cidadãos russos do perigo de uma invasão alemã. Entretanto, quando foi lançado nos cinemas o filme foi rejeitado inicialmente, devido à proximidade da assinatura de um acordo de não-agressão entre Rússia e Alemanha. Porém, após a invasão alemã ao território russo em 1941 Stalin ordenou que Alexandre Nevsky fosse exibido em todo cinema russo, na intenção de inspirar a população local a resistir à invasão.

Grant Green - Carryin'On (1969)


Grant Green foi um dos maiores guitarristas que o jazz já teve, ele figura ao lado de Wes Montgomery e Kenny Burrell na história do jazz. Gravou muito para o selo Blue Note e tem uma vasta discografia, tanto como lider, como sideman. Carryin'On é de 69, e tem a música que me aproximou do jazz, "Easy Back". É de um groove fora do comum.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Obra de Machado de Assis, disponibilizada no portal do MEC...

O propósito desta homenagem a Machado de Assis, mais que lembrar o centenário de sua morte, é fazer com que a sua obra completa chegue a qualquer usuário internet, em edições confiáveis e gratuitas. Resultado de uma parceria entre o Portal Domínio Público - a biblioteca digital do MEC - e o Núcleo de Pesquisa em Informática, Literatura e Lingüística (NUPILL), da Universidade Federal de Santa Catarina, o projeto teve como propósito organizar, sistematizar, complementar e revisar as edições digitais até então existentes na rede, gerando o que se pode chamar de Coleção Digital Machado de Assis.
É fato que não tardarão a surgir questionamentos quanto à completude do material aqui apresentado, o que é amplamente desejável. Cada vez mais, a internet tem se constituído como canal para o desenvolvimento e o aprimoramento colaborativo de projetos os mais diversos, sendo este também o caso da obra completa de Machado. Pesquisadores e especialistas da obra do grande escritor podem contribuir apontando possíveis omissões, sugerindo novas abordagens e mesmo enviando materiais para publicação no portal. Quanto ao público em geral, pode interagir por meio de mensagens eletrônicas, a serem publicadas na seção Postagens.

Acompanham o “prato principal” das obras completas, além do vídeo produzido pela TV Escola, informações introdutórias sobre a vida e a obra do autor, adaptadas de fontes confiáveis, como a cronologia preparada por Galante de Souza para a Revista do Livro (INL/MEC), em 1958, e a página eletrônica da Academia Brasileira de Letras. Necessário observar que o propósito das seções Cronologia e Bibliografia não é trazer informações novas ou exaustivas sobre o autor, mas possibilitar ao usuário acesso a informações básicas sem precisar recorrer de imediato a outras fontes.

Já a seção O autor e a obra procura conjugar momentos distintos da interpretação da obra machadiana, ao publicar fragmentos de autores contemporâneos de Machado e ao viabilizar o acesso a uma amostra significativa da atual produção acadêmica sobre o tema. As teses e dissertações relacionadas nessa seção estão publicadas no Portal Domínio Público. Para ter acesso gratuito ao conteúdo completo, é só fazer um cadastro no sistema. Complementa a homenagem uma relação de endereços de outras páginas na internet com materiais de qualidade relativos a Machado e sua obra.

Boa leitura!

O projeto de edição das obras de Machado de Assis em formato digital foi pensado, primeiramente, como parte das atividades que marcam o centenário da morte do autor, além de responder à necessidade de ampliar o acesso a sua obra, aos estudantes dos diferentes níveis e ao público leitor em geral. Leia o texto completo

Consulta por gênero (ordem cronológica)

FSM-2009

Fotos: Eduardo Seidl

Palestinos defendem prioridade para boicote econômico a Israel

Ativistas palestinos presentes ao FSM 2009 priorizam campanha de boicote econômico a Israel e pedem anulação do Tratado de Livre Comércio entre Israel e Mercosul. “Não precisamos de que a luta palestina seja encampada por todos. A resistência palestina existe há 60 anos e continuará. Devemos isolar Israel. Parar de comercializar seus produtos. Devemos boicotar até que Israel venha a respeitar as resoluções da ONU" diz Jamal Jumá, coordenador do movimento "Stop the Wall".

BELÉM - Aqui no FSM 2009 a percepção de que Israel pela primeira vez perdeu uma guerra ecoa na qualidade da participação palestina, que mudou muito. Os movimentos sociais da região não buscam mais visibilidade, apenas, nos debates e ambiente do Fórum. O mais recente massacre em Gaza atendeu a essa demanda. Os palestinos aqui presentes vieram com uma agenda de natureza popular e política.

Jamal Jumá, coordenador do movimento Stop the Wall – que participa do Fórum desde 2004 e que estava no painel Um Mundo sem Guerras é Possível, promovido pelo Conselho Latinoamericano de Ciências Sociais (Clacso) –, ocorrido no dia 30 , resumiu da seguinte maneira a sua campanha nos FSM: “Não precisamos de que a luta palestina seja encampada por todos. A resistência palestina existe há 60 anos e continuará. O que precisamos é que os movimentos se unam para que tenhamos a paz não em 20, mas em 10 anos”.

Do ponto de vista político a “causa palestina” neste FSM prioriza a campanha de boicote econômico a Israel, inclusive com uma campanha pela anulação do Tratado de Livre Comércio entre Israel e o Mercosul. Trata-se de uma tentativa de repetir a condenação ao regime de Apartheid na África do Sul, nos anos 80.

A perspectiva é conter Israel através de um movimento popular, palestino e internacional. No dia seguinte ao painel organizado pelo Clacso neste FSM, o jornal israelense Haaretz publicou com exclusividade uma matéria que talvez explique a agenda desses palestinos engajados no FSM. Os dados, minuciosamente apurados e alarmantes, dão conta do expansionismo israelense sobre territórios palestinos da Cisjordânia e foram, durante anos, mantidos em segredo pelo exército de Israel.

Segundo a matéria assinada por Uri Blau, “uma análise dos dados revela que, na imensa maioria dos assentamentos – algo em torno de 75% - a construção de casas, algumas vezes em larga escala, tem sido feita sem o cumprimento dos procedimentos adequados ou contra a lei que disciplina o assunto. Os dados também mostram que, em mais de 30% dos assentamentos a construção extensiva de prédios e infraestrutura (estradas, escolas, sinagogas, yeshivas e mesmo postos policiais) ocorreram em terras privadas pertencentes aos residentes palestinos da Cisjordânia”.

O exército de Israel levantou esses dados inicialmente para se defender de acusações de movimentos dos direitos humanos e de reivindicações judiciais de palestinos. Talvez essa realidade explique a consideração de uma década, por parte da campanha Stop the Wall, para que a paz seja alcançada entre ambos os povos. Desde 2002 - no governo de Ariel Sharon - Israel começou a erguer um muro de concreto de nove metros de altura e em torno de 700 km de extensão, anexando territórios palestinos e isolando ambas as comunidades, na região da Cisjordânia. A campanha que Jumá coordena chama esse muro de Muro do Apartheid. “Israel dá claros sinais de que não quer a paz, construindo colônias e estradas do apartheid, em que carros palestinos não passam. Pode-se sair de uma colônia ilegal até Tel Aviv sem ver um palestino sequer”, denunciou.

“Acredito que a paz seja fácil de se obter na Palestina, mas é difícil se as coisas continuarem como estão”, disse o ativista palestino, registrando a assimetria militar dos ataques israelenses em Gaza. “Foram 44 mil casas destruídas, usaram bombas de fósforo”, disse, para acrescentar em seguida que houve uma média de 230 palestinos mortos para cada israelense que morreu. O número de palestinos mortos recentemente em Gaza, segundo ele, “seria algo comparativamente a 730 mil brasileiros mortos”.

Em seguida, o ativista, que é formado em literatura árabe, fez um balanço do que sucedeu aos ataques recentes: “ficamos com duas lições quanto às pessoas: a primeira é que jamais tivemos em nossa experiência uma solidariedade como tivemos ao nosso povo, nessas três semanas. Foi uma heróica resistência, um grande exemplo; a segunda é que Israel não conseguiu entrar com seus tanques nas áreas habitadas de Gaza. Apesar de sua força militar, Israel não conseguiu quebrar o tecido social em Gaza”, concluiu.

Para Jumá, o apelo às leis internacionais, à ONU e ao seu Conselho de Segurança não pode depender, apenas, de governos ou membros dos poderes estatais. Ele interpreta os movimentos subsequentes ao ataque a Gaza da comunidade internacional como de apoio, cumplicidade e anuência para com Israel. Tampouco guarda grandes expectativas frente ao presidente norte-americano recém empossado, Barack Obama: “Ficamos frustrados em não escutá-lo defender o fim da ocupação e o reconhecimento dos direitos dos palestinos. Nem mencionou os crimes de guerra”, disse, para afirmar o que esperava do novo presidente: “O que esperamos de alguém como ele, o primeiro negro a governar o país, é que os Estados Unidos peçam perdão pelos crimes que cometeram contra o mundo, contra os palestinos, contra o Iraque, o Afeganistão, o Cambodja, o Vietnã, o mundo árabe... a lista é longa”, disse o palestino.

No lugar do apelo aos governos e aos dirigentes estatais, o coordenador do Stop the Wall defende a militância política, popular e internacional das sociedades civis organizadas. Para ele, está em jogo, neste momento, barrar um diagnóstico e um projeto que, segundo disse, é apoiado por Barack Obama e pelo ex-senador George Mitchell, o novo enviado especial para o Oriente Médio, dos EUA. “Eles defendem um estado palestino contíguo ao israelense e apresentam como solução para os territórios palestinos ocupados um projeto de industrialização, como se dizendo 'vocês vão ter empregos, mas não seu território'”.

O projeto a que Jamal Jumá se refere transformaria o que se vem chamando um tanto simpaticamente da solução “dois povos, dois estados” num campo minado de conflitos infindáveis, porque iria ser criada uma zona de bolsões, ou um, nas suas palavras, “estado bantustão”, os falsos estados que o regime do Apartheid criou, na África do Sul, para manter os negros longe das terras dos brancos mas próximos dos postos de trabalho dominados por estes. Apesar de os bantustões, espécies de favelas legalmente constituídas serem em tese territórios autônomos, de fato eram territórios depauperados, sem independência. No caso dos palestinos, seria, inclusive, cercado por um imenso Muro, que Jumá combate na sua campanha.

Para Jumá, os cercos a Belém, com o “Muro do Apartheid” e o bloqueio a Gaza são expressões de um aviso à população palestina da Cisjordânia. Algo como “se vocês não aceitarem esse sistema, a Cisjordânia pode ser bombardeada como Gaza foi”, disse Jamal, para afirmar que “o ataque a Gaza é só um aviso à Cisjordânia”.

A defesa do papel dos movimentos sociais que orbitam no FSM não é, para o ativista palestino, a de salvar os palestinos ou de oferecer-lhes uma solução. Ambos os procedimentos não deixam de abundar em sua inutilidade e hipocrisia, dada a fraqueza da ONU e as trevas da quadra recente da história sob os anos George W. Bush, para dizer o mínimo. Para ele, a solução dos problemas dos palestinos “deve partir da Palestina”. O apelo de Jumá ao FSM é um apelo pelo boicote comercial a Israel, com base na perda de credibilidade na força de lei das decisões da ONU. “Devemos isolar Israel, boicotá-lo. Parar de comercializar seus produtos. Devemos boicotar até que Israel venha a respeitar as resoluções da ONU. Precisamos que esse movimento continue. Lutar contra os acordos de livre comércio que Israel tem celebrado com vários países, inclusive com o Mercosul. Precisamos pensar neste fórum em como trabalhar unidos, ao redor do mundo”.

Essa é a agenda, não apenas do Jamal Jumá e do movimento Stop the Wall, mas de muitos outros movimentos palestinos presentes em Belém. Eles defendem (ainda que não falem disso aberta e espontaneamente) uma tese que já foi considerada utópica, mais ou menos nos anos 60 do século passado, a saber, a de um único estado, laico, binacional, sem muros, nem fronteiras entre os povos, sem documentos de identificação distintos. Afinal, disse Jumá, “ou reconhecemos que não vamos eliminar a existência um do outro e que estaremos sempre juntos, ou o conflito nunca terá fim”.

Dada a ocupação empedernida de Israel sobre territórios palestinos, já a mais longa da modernidade, e dada essa derrota moral e política que parece clara para os participantes deste Fórum, essa utopia pode vir a fazer sentido. Pode ganhar realidade, pois, como disse o palestino, “as questões essenciais do mundo, que aqui se discutem, dizem respeito a cada um de nós”, chamando à militância, não pela visibilidade, mas pelo reconhecimento.



Jazz do bom...

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Thelonious Monk with John Coltrane (1957)



Músicos:
Faixas 1,2,4 : Thelonious Monk (piano); John Coltrane (tenor sax); Wilbur Ware (bass); Shadow Wilson (drums)
Gravado em junho de 1957

Faixas 3,5 : Thelonious Monk (piano); John Coltrane (tenor sax); Coleman Hawkins (tenor sax); Ray Copeland (trumpet); Gigi Gryce (alto sax); Wilbur Ware (bass); Art Blakey (drums)
Gravado em 26 de junho de 1957

Faixa 6 : Thelonious Monk (piano)
Gravado em abril de 1957

Faixas:
1. Ruby, My Dear (6:21)
2. Trinkle, Tinkle (6:40)
3. Off Minor (5:15)
4. Nutty (6:39)
5. Epistrophy (3:09)
6. Functional (9:43)

opinião de Fidel Castro...

Decifrando o pensamento do novo presidente dos Estados Unidos

(Extraído do CubaDebate)

NÃO é muito difícil. Depois da tomada de posse, Barack Obama declarou que para a devolução da base naval de Guantánamo a seu dono legítimo devia sopesar, em primeiro lugar, se prejudicava ou não, no mínimo, a capacidade defensiva dos Estados Unidos.

Logo acrescentou que, quanto à devolução do território ocupado a Cuba, devia considerar, sob quais concessões a parte cubana aceitaria essa solução, o que significa a exigência de uma mudança em seu sistema político, preço contra o qual, Cuba lutou durante meio século.

Manter uma base militar em Cuba contra a vontade do nosso povo, é uma violação dos mais elementares princípios do Direito Internacional. O presidente dos Estados Unidos tem faculdade para acatar essa norma sem condição alguma. O fato de não respeitá-la constitui uma ação de soberba e abuso de seu imenso poder contra um país pequeno.

Para compreender melhor o abuso do poder do império, deve se levar em conta as declarações publicadas pelo governo dos Estados Unidos, em 22 de janeiro de 2009, no site oficial da internet, depois da posse de Barack Obama. Biden e Obama resolveram apoiar decididamente a relação entre os Estados Unidos e Israel, e consideram que o indiscutível compromisso no Oriente Médio deve ser a segurança de Israel, o principal aliado dos Estados Unidos na região.

Os Estados Unidos nunca vão se afastar de Israel, e seu presidente e vice-presidente "acreditam firmemente no direito de Israel de proteger seus cidadãos", assegura a declaração de princípios, que retoma nesses pontos a política do governo do antecessor de Obama, George W. Bush.

É esse o modo de compartilhar o genocídio contra os palestinos em que caiu o nosso amigo Obama. Adoçantes similares oferece à Rússia, China, Europa, América Latina e ao resto do mundo, depois que os Estados Unidos converteram Israel numa importante potência nuclear que absorve a cada ano uma porção considerável das exportações da próspera indústria militar do império, com que ameaça, com violência extrema, a população de todos os países de crença muculmana.

Abundam exemplos similares. Não faz falta ser adivinho. Podem ler, para mais informação, as declarações do novo chefe do Pentágono, experto em assuntos bélicos.

Fidel Castro Ruz
29 de janeiro de 2009

Enquanto isso na Venezuela....

Em década de Chávez, pobreza caiu na Venezuela

Programa "Bairro Adentro", na Venezuela
Programa "Bairro Adentro", usa médicos cubanos em atendimetos
Há dez anos, cerca de 4,8 milhões de venezuelanos viviam em situação de pobreza e a saúde e a educação eram um privilégio.

Desde que o presidente Hugo Chávez assumiu o governo, a área social passou a ser prioritária em sua gestão, que contou com o incremento dos preços do petróleo para o financiamento dos projetos sociais.

Até mesmo os críticos da política econômica do governo, cuja estrutura continua dependente fundamentalmente da exploração petrolífera, concordam que as condições de vida dos venezuelanos melhoraram sob a administração chavista.

“Os setores sociais antes marginalizados e excluídos, realmente saíram da pobreza crítica, estão melhor, ninguém pode negar isso. Os que não comiam nem o suficiente, agora estão comendo”, afirmou Domingo Maza Zavala, ex-diretor do Banco Central da Venezuela (BCV).

De acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas, em 1999, 20,1% dos venezuelanos viviam na extrema pobreza. Em 2007, o índice havia caído para 9,5%.

O número de pobres total no início do governo era de 50,5 % - mais de 11 milhões de venezuelanos. Esse número caiu para 31,5%.

De um universo de 26,4 milhões de pessoas, 18,8% dos venezuelanos saíram da linha da pobreza (cálculo realizado com base nos dados oficiais).

Para o historiador norte-americano Steve Ellner, professor da Universidade dos Andes, no Estado de Mérida (Venezuela), entre apostar no desenvolvimento econômico e na industrialização do país ou investir no setor social, Chávez privilegiou o segundo na divisão da renda obtida com o petróleo.

“No curto prazo, programas de desenvolvimento econômico teriam dado resultados mais rápidos, mas a prioridade era o social”, afirmou.

O relatório da Cepal de 2008, que aponta a diminuição da pobreza na América Latina, indica que os programas sociais foram os responsáveis pela queda no número de pobres na Venezuela.

De acordo com uma pesquisa realizada em 2007 pela empresa Datanálisis, nos últimos oito anos o consumo das classes E e D havia aumentado em 22%, impulsionado pelo incremento do salário mínimo (que subiu de US$ 47 em 1999 para US$ 371) e pela ajuda financeira que provém dos programas sociais.

Com exceção dos programas relacionados com a saúde, os beneficiários das “missões” (nome dado por Chávez aos programas sociais) recebem uma ajuda média de US$ 100.

“Parte dos recursos obtidos com o petróleo foi distribuída por meio desses programas”, afirmou o ex-diretor do BCV Maza Zavala.

“Missões”

O “Bairro Adentro” foi um programa social implementado pelo governo em 2003. Esta “missão”, que presta atendimento médico básico e familiar nas periferias do país, inaugurou o projeto de cooperação Cuba-Venezuela, que hoje está presente nas áreas de saúde, educação e esporte.

Os programais sociais são financiados com a receita excedente do petróleo e contam com estrutura e dinâmicas próprias, que obedecem fundamentalmente às diretrizes da Presidência da República, sem passar pelo filtro dos ministérios.

No entendimento do governo, a estrutura burocrática governamental impediria que os projetos alcançassem, com a velocidade que a conjuntura política exigia, um número considerável da população pobre, que foi e continua sendo a base de apoio do chavismo.

“Quando o governo teve que enfrentar a ameaça de perder o referendo (revogatório realizado em 2004), tirou quase que da manga o programa 'Bairro Adentro ', que teve um impacto extraordinário”, afirmou à BBC Brasil o sociólogo Edgardo Lander, da Universidade Central da Venezuela.

“Agora, as pessoas têm um médico a duas quadras de casa no caso de uma emergência, é uma mudança significativa na qualidade de vida das pessoas”, acrescentou.

Lander explica que a crise da saúde pública no país no período anterior a Chávez estava associada a dois fatores principais: a privatização do sistema e a resistência dos profissionais em atuar no setor público, desmantelado nas décadas anteriores, de acordo com o sociólogo.

Agora, as pessoas têm um médico a duas quadras de casa no caso de uma emergência, é uma mudança significativa na qualidade de vida
Edgardo Lander, sociólogo

“Para esses médicos, ir a um bairro pobre era o mesmo que ir a uma zona de guerra. Era algo completamente alheio à sua realidade”, disse.

Organização

Magaly Perez é coordenadora de um Comitê de Saúde no bairro periférico de 23 de Enero, em Caracas.

Os comitês reúnem voluntários da vizinhança onde está instalado o programa “Bairro Adentro”, que diagnosticam os problemas de saúde do local e auxiliam na atuação dos médicos cubanos.

Perez conta que o trabalho de censo da população do bairro fez com que esses voluntários “tomassem consciência da organização comunitária e da importância de participar para transformar nossa realidade”.

De acordo com os moradores do bairro, antes, a única alternativa para a população de baixa renda era enfrentar horas de fila em hospitais para receber algum tipo de atenção.

“Antes, morriam pessoas aqui porque não tínhamos assistência médica adequada. Isso mudou com a revolução”, afirmou Magaly Perez à BBC Brasil, enquanto anotava a lista dos idosos que participariam do exercício matinal realizado três vezes por semana com o auxílio de um técnico cubano.

“Os cubanos trabalham dia e noite, mas os médicos venezuelanos não, eles são capitalistas e o povo deu as costas a ele. Eles não sobem o morro para socorrer ninguém”, afirmou Magaly Perez.

Antes, morriam pessoas aqui porque não tínhamos assistência médica adequada. Isso mudou com a revolução
Magaly Perez

Em 1998, havia 1,6 mil médicos atuando no atendimento primário de uma população de 23,4 milhões de pessoas. Atualmente há 19,6 mil para uma população de 7 milhões. Deste total, 14 mil profissionais são cubanos, entre médicos, enfermeiras e técnicos em saúde.

A disputa entre os médicos venezuelanos - que alegam falta de condições e segurança para atuar nas periferias e hospitais públicos – e o governo – que argumenta que o problema é de natureza política - levou a administração chavista a criar um sistema de saúde paralelo, com a ampliação do “Bairro Adentro” em pequenas clínicas especializadas.

O resultado da disputa, de acordo com Lander, foi o abandono ainda maior da rede de hospitais públicos.

“A rede hospitalar foi abandonada na parte de insumos e atendimentos, os hospitais sofreram um deterioramento grande”, afirmou.

A quantidade de novas clínicas do “Bairro Adentro”, porém, ainda é insuficiente para atender a toda a população, de acordo com a organização não-governamental PROVEA.

Política

Na mesa da sala de espera do pequeno consultório no bairro de 23 de Enero havia um abaixo assinado em apoio à emenda constitucional que irá a referendo em 15 de fevereiro, cuja eventual aprovação colocará fim ao limite para a reeleição aos cargos públicos, entre eles, a Presidência.

Uma das senhoras que aguardavam atendimento se antecipou em dar uma explicação: "A saúde aqui não tem ideologia política, muitos que vêm aqui não apóiam o comandante (Chávez), mas, mesmo assim, são beneficiados", afirmou Josefina Rodriguez, de 70 anos.

De acordo com o Ministério da Saúde, a mortalidade infantil também foi combatida na última década, ao passar de 21,4 por cada mil nascidos, em 1998, para 13,7 em 2007. No Brasil, em 2007, o índice era de 24,32 por cada mil nascimentos.

O “Bairro Adentro” serviu de modelo para as outras “missões”, que abrangem as áreas de educação básica, superior e profissionalizante, de auxílio às mães solteiras, de subsídio alimentar, entre outras.

Em 2005, na metade do governo Chávez, o Ministério de Educação declarou o país “livre de analfabetismo” com a aplicação do método cubano “Yo sí puedo”, metodologia aplicada recentemente na Bolívia e em algumas áreas do nordeste do Brasil.

De acordo com o governo, 1,6 milhão de adultos foram alfabetizados no período de dois anos.

Ainda segundo o governo, 3,4 milhões de pessoas foram graduadas nas “missões” educativas.

Institucionalização

Julio Borges, dirigente do partido de oposição Primeiro Justiça (centro-direita) reconhece que durante o governo Chávez “houve um despertar social muito importante, principalmente entre os mais pobres, com a participação” das pessoas envolvidas com o projeto chavista.

Borges, porém, questiona se a estrutura criada para manter as missões poderá ser mantida ao longo do tempo.

“É um problema estrutural. As pessoas estão contentes com Chávez porque estão se afogando no mar e as missões são um colete salva-vidas. Mas a pergunta é se um dia elas vão sair do mar”, afirmou.

Para a oposição, analistas e inclusive alguns chavistas, a falta de institucionalização nos programas sociais abre o precedente para a corrupção, já que não há um sistema de controle que regule essas atividades e o manejo dos recursos públicos.

As pessoas estão contentes com Chávez porque estão se afogando no mar e as missões são um colete salva-vidas. Mas a pergunta é se um dia elas vão sair do mar
Julio Borges, dirigente do partido Primeiro Justiça

Em 2008, o orçamento anunciado para as missões foi de US$ 2,6 bilhões.

O sociólogo Edgardo Lander avalia que, passado o período de “emergência” para a criação dos programas sociais, o governo deveria institucionalizá-los.

“As pessoas não podem viver neste estado de emergência permanentemente e não pode haver essa espécie de militância na gestão pública”, afirmou.

Dívida

A insegurança continua sendo a principal dívida social do governo, na avaliação de especialistas. A violência é a principal preocupação dos venezuelanos, de acordo com uma pesquisa da empresa Hinterlaces.

De acordo com um levantamento do Centro para a Paz e Direitos Humanos da Universidade Central da Venezuela, publicado no relatório da ONG Provea de 2007, em 1998, o índice de homicídios era de 25 por 100 mil habitantes.

Em nove anos o número subiu para uma média de 45 mortos por 100 mil pessoas em 2007, com cerca de 13 mil assassinatos no mesmo período.

“Em um governo que pretende impulsionar a democratização da sociedade e favorecer os setores populares, nos damos conta de que são justamente eles os que mais sofrem as conseqüências da insegurança”, afirmou Edgardo Lander.

“O governo pensa que o problema da segurança é somente estrutural no âmbito da educação e da cultura”, acrescentou Lander.

Em um governo que pretende favorecer os setores populares, nos damos conta de que são justamente eles os que mais sofrem as conseqüências da insegurança
Edgardo Lander, sociólogo

O ministro de Relações Exteriores, Nicolas Maduro, ex-presidente do Congresso, admite que um dos principais desafios do governo é combater a criminalidade, sem apontar no entanto, soluções para o problema.

“É muito grave que em um país no qual se pretende construir a paz e estabilidade existam esses fenômenos, talvez seja um dos grandes desafios para a próxima década”, afirmou.