segunda-feira, 20 de abril de 2009

Será que dá para acreditar???

Obama defendeu um “novo começo” nas relações com Cuba



“É uma longa jornada, mas já podemos dar alguns passos”, disse o presidente norte-americano sob aplausos dos presentes na abertura do evento, realizado no hotel Hyatt, em Port Of Spain, capital do país caribenho.
Obama destacou que está aberto ao diálogo com Cuba sobre uma ampla lista de assuntos, mas destacou que não quer “falar por falar”.
“Nos últimos dois anos tenho dito, e repito hoje que estou preparado para que minha administração se comprometa com o governo cubano em uma ampla lista de temas, desde direitos humanos, liberdade de expressão e reforma democrática até drogas, migração e assuntos econômicos”, disse Obama.
Ele também prometeu “uma aliança de iguais” aos países da América Latina.
“Apesar de os Estados Unidos terem feito muito em favor da paz e da prosperidade no continente, às vezes também temos nos desentendido ou tentamos ditar nossas condições. Prometo que eu busco uma aliança de iguais”, disse.
Obama falou de respeito mútuo e destacou quer lançar um novo capítulo de aproximação que continuará durante seu mandato.
O presidente pediu uma colaboração inédita no continente para buscar uma nova prosperidade econômica e lutar contra a crise.
Para isso promete “colaborar para garantir que o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) adote os passos necessários para aumentar o nível atual de crédito e para estudar cuidadosamente as necessidades de recapitalização no futuro”.
Obama expressou também compromisso com a luta contra a desigualdade e “a criação de prosperidade a partir de baixo”.
O presidente norte-americano anunciou um novo Fundo de Crescimento para o Microfinanciamento destinado ao continente, e garantiu que contribuirá para restabelecer os empréstimos às companhias.
Ele ressaltou ainda o interesse em uma nova cooperação no âmbito da energia e na luta contra a mudança climática.
“Proponho a criação de uma nova Aliança das Américas para a Energia e o Clima que possa forjar um progresso em direção a um futuro mais seguro e sustentável”, afirmou.
Essa aliança, explicou, “defenderá a visão e a determinação de países como Brasil e México para promover a energia renovável e reduzir as emissões de gases estufa”, e permitirá que cada nação possa promover a eficácia no uso de energia, compartilhar tecnologia e melhorar sua infraestrutura.
Sobre o terceiro grande assunto previsto na agenda da reunião, a segurança da população, Obama diz que buscará “medidas taxativas” para reduzir o consumo de drogas e “para deter o fluxo de armas e de financiamento ao outro lado da fronteira sul”.
O presidente já havia feito essa promessa na quinta-feira ao governante mexicano, Felipe Calderón, durante a reunião que ambos mantiveram no México.
Obama reiterou também que pedirá ao Congresso norte-americano que ratifique a Convenção Interamericana Contra a Fabricação e o Tráfico Ilícito de Armas de Fogo (Cifta), assinada pelo presidente Bill Clinton em 1997, mas que ainda não foi respaldada pelo Senado.
Construir uma nova aliança “levará tempo”, ressaltou.
“Prometo sermos um amigo e parceiro, porque nosso futuro está entrelaçado com o futuro dos povos das Américas e estamos comprometidos a forjá-lo através de uma aproximação firme, sustentável e bem-sucedida”, finalizou.
Obama e Chávez se cumprimentaram e sorriram um para o outro ao encontrarem-se na abertura da Cúpula das Américas nesta sexta-feira.
Chávez afirmou querer seu “amigo” de Obama.
“Com esta mesma mão há oito anos eu cumprimentei Bush. Quero ser teu amigo”, disse.
O Ministério da Informação da Venezuela classificou em nota como “histórico” o gesto dos dois presidentes, esclarecendo que o americano se aproximou de Chávez “para oferecer-lhe uma saudação”

Texto: Do blog, O outro lado da noticia

Emprego volátil....

Metade dos brasileiros fica menos de dois anos no emprego


Um estudo feito pela Universidade de Brasília (UnB) aponta que metade dos trabalhadores brasileiros do setor privado que têm carteira assinada fica menos de dois anos no emprego. O levantamento é baseado em dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego, feita anualmente pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), referentes ao Distrito Federal e à região metropolitana de São Paulo entre 1992 e 2006.


O autor da pesquisa, o sociólogo Roberto Gonzales, afirmou que essa rotatividade se justifica por questões salariais e de políticas das próprias empresas. "Essa rotatividade não é derivada apenas de desligamentos voluntários. É, em grande medida, resultado de demissões e isso tem muito a ver com o quadro institucional e a cultura das empresas, que permite que elas façam ajustes constantes no seu quadro de pessoal", explicou.

De acordo com a pesquisa, 50% dos empregos duram menos de 24 meses, 25% duram menos de oito meses e 25% têm duração maior que cinco anos. O levantamento também mostra que todos os anos 40% das pessoas que trabalham com carteira assinada perdem o emprego.

A maior permanência no mesmo emprego está na indústria de transformação. No Distrito Federal, a permanência é de 49 meses e, em São Paulo, de 61 meses. Isso se deve ao fato de esse tipo de trabalho exigir experiência técnica e ao fato de os trabalhadores do setor serem mais bem organizados em sindicatos.

Gonzales disse ainda que essa alta rotatividade tem implicações salariais e acaba dificultando a construção de uma carreira profissional. "Além disso, há outra consequência que não é individual, mas coletiva. Na verdade, isso é um mecanismo que diminui a identificação das pessoas com o seu emprego e acaba sendo algo que freia a capacidade das pessoas de ter condições melhores de emprego coletivamente", acrescentou.

Fonte: Agência Brasil

Créditos: Vermelho.org

domingo, 19 de abril de 2009

Deu colorado de novo.....

Um jogo para a história: Inter faz 8 a 1 no Caxias e é bicampeão gaúcho invicto

Colorado faz sete gols no primeiro tempo em atuação perfeita e conquista a Taça Fábio Koff. Em 22 jogos, 19 vitórias e três empates

Alexandre Alliatti Porto Alegre

Sobre o jogo, pode chamar de chocolate, de massacre, de passeio, de humilhação. Sobre a equipe, vale dizer que é uma máquina, um carrossel, um timaço de embasbacar. O Inter, no ano de seu centenário, fez história. O bicampeonato gaúcho, com a conquista da Taça Fábio Koff, saiu na tarde deste domingo, no Beira-Rio, com uma goleada impressionante sobre o Caxias: 8 a 1, placar idêntico ao da final do ano passado, contra o Juventude. O primeiro título do novo século de vida do clube colorado consolida a imagem de uma equipe que às vezes parece ser de outro mundo. O Inter conquistou o Gauchão de forma invicta. Atenção aos números: em 21 jogos, 18 vitórias e apenas três empates.

É o 39º Gauchão conquistado pelo Inter, que abre vantagem de quatro canecos sobre o Grêmio. O novo título foi fruto de uma atuação perfeita, para lembrar o rolo compressor, os heróis dos anos 70, os campeões mundiais de 2006. O primeiro tempo virou 7 a 0. Sim, é isso mesmo: o primeiro tempo, só os 45 minutos iniciais, terminou 7 a 0!

Agora, o Inter parte para objetivos maiores. Na quarta-feira, tem jogo contra o Guarani pela Copa do Brasil. A classificação às oitavas-de-final está encaminhada. E depois vem o Campeonato Brasileiro, sonho vermelho desde a conquista de 1979. Por mais que o Gauchão não seja parâmetro, o time de 2009 parece pronto para entrar no Nacional mais forte do que jamais aconteceu em sua história. A ressalva é que no ano passado a equipe então comandada por Abel Braga tinha dado a mesma impressão. E não comprovou depois.

Um primeiro tempo para jamais esquecer

Quando o árbitro Leandro Vuaden encerrou o primeiro tempo, o goleiro Rafael, do Caxias, caminhou lentamente até o vestiário. Nos olhos, lágrimas. Ele não acreditava que havia levado sete gols em 45 minutos.

O Inter destruiu com o adversário na etapa inicial por dois motivos. Primeiro, pela qualidade de jogadores como D’Alessandro, Taison, Nilmar, Magrão e Guiñazu, todos em excelente tarde. Segundo, porque lutou sempre. Mordeu a cada minuto, disputou todas as bolas, jogou como se estivesse em uma decisão de Mundial. Foi um time perfeito, o extremo oposto do Caxias, que parecia amador.

O primeiro gol saiu com seis minutos. D’Alessandro, na ponta direita, mandou a bola na cabeça de Magrão, que completou para a rede. A vantagem era o primeiro sinal de que o título sairia fácil, fácil.

O Inter jogava por música, colocava o Caxias na roda, em uma prévia daquilo que comprovaria no placar. Taison, artilheiro e craque do Gauchão, fez o segundo. A jogada, como de costume, passou por D’Alessandro, que fez a bola viajar de uma ponta para a outra do campo, até os pés de Kleber. O lateral mandou na área para o guri concluir: 2 a 0.

Eram 15 minutos. Com mais três, saiu outro gol. Bolívar acionou Nilmar em profundidade. O atacante mandou no canto de Rafael: 3 a 0. Ele mal teve tempo de comemorar e respirar até fazer mais um. D’Alessandro lançou a bola na área, a zaga cortou e o camisa 9 completou. Com 22 minutos, já era goleada.

Em uma tarde perfeita para os colorados, até Guiñazu, ídolo máximo da galera, fez gol. Ele recebeu em profundidade e desviou do goleiro. O Beira-Rio explodiu em euforia, aplausos e gritos de incentivo para o argentino. Todos os jogadores correram para vibrar com o capitão do time, que raramente chuta a gol. O detalhe é que, poucos minutos depois, com o placar de 5 a 0, lá estava o carequinha na linha de fundo defensiva caçando um adversário, dando carrinho, evitando o ataque adversário.

O gol mais bonito foi de Magrão, o melhor jogador em campo. O volante recebeu na entrada da área, viu o goleiro adiantado e deu um toquezinho leve, por baixo da bola, em lance de craque. Ela entrou no ângulo. Golaço. 6 a 0 no placar.

O resultado ficaria ainda mais absurdo. Aos 43 minutos, Taison fez fila na zaga e ficou pronto para marcar. Mas aí ele olhou para o lado e viu o amigo D’Alessandro livre. O argentino recebeu e concluiu sem problemas para fazer 7 a 0.

Aplausos para o Caxias

Com o título assegurado, o Inter acalmou o jogo no segundo tempo. Seguiu com o controle total, mas se tornou menos agudo. O Caxias, sem o pavor de antes, conseguiu ir para o ataque e até fez gol. O colombiano Cristian Borja, primo do ex-colorado Rentería, fez linda jogada pela ponta esquerda, tocou a bola entre as pernas de Índio, tabelou e mandou para o gol. Ele foi prontamente aplaudido pelos colorados.

Tite mexeu no time. Mandou a campo três jogadores importantes na campanha do título invicto. O atacante Alecsandro, o meia Andrezinho e o lateral-esquerdo Marcelo Cordeiro entraram nas vagas de D’Alessandro, Nilmar e Magrão, respectivamente.

Conforme passava o tempo, a torcida fazia a contagem regressiva para a festa. O Inter seguiu tocando a bola, deixando os ponteiros do relógio correrem. Mas faltava o gol no segundo tempo. Ele ele veio aos 43: cruzamento de Kléber e cabeçada de Álvaro. O primeiro título do novo século de vida do Inter estava assegurado em uma tarde histórica.

Ficha técnica:

INTERNACIONAL 8 x 1 CAXIAS
Lauro, Bolívar, Índio, Álvaro e Kleber; Sandro, Magrão (Marcelo Cordeiro), Guiñazu e D’Alessandro (Andrezinho); Taison e Nilmar (Alecsandro). Rafael, Edenílson, Santin, Vagner Lima e Brida; Zacarias (Diogo Brito), Roberto, Marielson e Guilherme (Wágner); Júlio Madureira (Cristian Borja) e Marcos Denner.
Técnico: Tite. Técnico: Argel.
Gols: Magrão, aos seis minutos, Taison, aos 15, Nilmar, aos 18 e 22 minutos, Guiñazu, aos 32, Magrão, aos 39 minutos, D'Alessandro, aos 43 do primeiro tempo; Cristian Borja, aos 20 minutos, Álvaro, aos 43 do segundo tempo.
Cartões amarelos: D'Alessandro (Internacional); Santin, Diogo Brito (Caxias).
Estádio: Beira-Rio. Data: 19/04/2009. Árbitro: Leandro Vuaden. Auxiliares: Altemir Hausmann e Paulo Ricardo Conceição.

Novo modelo de sociedade







Frei Betto - Correio da Cidadania

Ao participar do Fórum Econômico Mundial para a América Latina, a 15 de abril, no Rio, indaguei: diante da atual crise financeira, trata-se de salvar o capitalismo ou a humanidade? A resposta é aparentemente óbvia. Por que o advérbio de modo? Por uma simples razão: não são poucos os que acreditam que fora do capitalismo a humanidade não tem futuro. Mas teve passado?

Em cerca de 200 anos de predominância do capitalismo, o balanço é excelente se considerarmos a qualidade de vida de 20% da população mundial que vivem nos países ricos do hemisfério Norte. E os restantes 80%? Excelente também para bancos e grandes empresas. Porém, como explicar, à luz dos princípios éticos e humanitários mais elementares, estes dados da ONU e da FAO: de 6,5 bilhões de pessoas que habitam hoje o planeta, cerca de 4 bilhões vivem abaixo da linha da pobreza, dos quais 1,3 bilhão abaixo da linha da miséria. E 950 milhões sofrem desnutrição crônica.   

Se queremos tirar algum proveito da atual crise financeira, devemos pensar como mudar o rumo da história, e não apenas como salvar empresas, bancos e países insolventes. Devemos ir à raiz dos problemas e avançar o mais rapidamente possível na construção de uma sociedade baseada na satisfação das necessidades sociais, de respeito aos direitos da natureza e de participação popular num contexto de liberdades políticas.

O desafio consiste em construir um novo modelo econômico e social que coloque as finanças a serviço de um novo sistema democrático, fundado na satisfação de todos os direitos humanos: o trabalho decente, a soberania alimentar, o respeito ao meio ambiente, a diversidade cultural, a economia social e solidária, e um novo conceito de riqueza.

A atual crise financeira é sistêmica, de civilização, a exigir novos paradigmas. Se o período medieval teve como paradigma a fé, o moderno a razão, o pós-moderno não pode cometer o equívoco de erigir o mercado em paradigma. Estamos todos em meio a uma crise que não é apenas financeira, é também alimentar, ambiental, energética, migratória, social e política. Trata-se de uma crise profunda, que põe em xeque a forma de produzir, comercializar e consumir. O modo de ser humano. Uma crise de valores.

Desacelerada a ciranda financeira, inútil os governos tentarem converter o dinheiro do contribuinte em bóia de salvação de conglomerados privados insolventes. A crise exige que se encontre uma saída capaz de superar o sistema econômico que agrava a desigualdade social, favorece a xenofobia e o racismo, criminaliza os movimentos sociais e gera violência. Sistema que se empenha em priorizar a apropriação privada dos lucros acima dos direitos humanos universais; a propriedade particular acima do bem comum; e insiste em reduzir as pessoas à condição de consumistas, e não em promovê-las à dignidade de cidadãos.

Há que transformar a ONU, reformada e democratizada, no fórum idôneo para articular as respostas e soluções à atual crise. Urge implementar mecanismos internacionais de controle do movimento de capitais; de regular o livre comércio; de pôr fim à supremacia do dólar e aos paraísos fiscais; e assegurar a estabilidade financeira em âmbito mundial.

Não haveremos de encontrar saída se não nos dermos conta de que novos valores devem ser rigorosamente assumidos, como tornar moralmente inaceitável a pobreza absoluta, em especial na forma de fome e desnutrição. É preciso construir uma cultura política de partilha dos bens da Terra e dos frutos do trabalho humano, e passar da globocolonização à globalização da solidariedade.

As Metas do Milênio e, em especial, os sete objetivos básicos do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, de 1995, devem servir de base a um pacto para uma nova civilização: 1) Escolaridade primária universal; 2) Redução imediata do analfabetismo de adultos em 50%; 3) Atenção primária de saúde para todos; 4) Eliminação da desnutrição grave e redução da moderada em 50%; 5) Serviços de planificação familiar; 6) Água apta para o consumo ao alcance de todos; 7) Créditos a juros baixos para empresas sociais.

A experiência histórica demonstra que a efetivação dessas metas exige transformações estruturais profundas no modelo de sociedade que predomina hoje, de modo a reduzir significativamente as profundas assimetrias entre nações e desigualdades entre pessoas.

Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Luis Fernando Veríssimo e outros, de "O desafio ético" (Garamond), entre outros livros.

Socialismo fracassou, capitalismo quebrou: o que vem a seguir?






A prova de uma política progressista não é privada, mas sim pública. A prioridade não é o aumento do lucro e do consumo, mas sim a ampliação das oportunidades e, como diz Amartya Sen, das capacidades de todos por meio da ação coletiva. Isso significa iniciativa pública não baseada na busca de lucro. Decisões públicas dirigidas a melhorias sociais coletivas com as quais todos sairiam ganhando. Esta é a base de uma política progressista, não a maximização do crescimento econômico e da riqueza pessoal. A análise é do historiador britânico Eric Hobsbawm.


Seja qual for o logotipo ideológico que adotemos, o deslocamento do mercado livre para a ação pública deve ser maior do que os políticos imaginam. O século XX já ficou para trás, mas ainda não aprendemos a viver no século XXI, ou ao menos pensá-lo de um modo apropriado. Não deveria ser tão difícil como parece, dado que a idéia básica que dominou a economia e a política no século passado desapareceu, claramente, pelo sumidouro da história. O que tínhamos era um modo de pensar as modernas economias industriais – em realidade todas as economias -, em termos de dois opostos mutuamente excludentes: capitalismo ou socialismo.

Conhecemos duas tentativas práticas de realizar ambos sistemas em sua forma pura: por um lado, as economias de planificação estatal, centralizadas, de tipo soviético; por outro, a economia capitalista de livre mercado isenta de qualquer restrição e controle. As primeiras vieram abaixo na década de 1980, e com elas os sistemas políticos comunistas europeus; a segunda está se decompondo diante de nossos olhos na maior crise do capitalismo global desde a década de 1930. Em alguns aspectos, é uma crise de maior envergadura do que aquela, na medida em que a globalização da economia não estava então tão desenvolvida como hoje e a economia planificada da União Soviética não foi afetada. Não conhecemos a gravidade e a duração da atual crise, mas sem dúvida ela vai marcar o final do tipo de capitalismo de livre mercado iniciado com Margareth Thatcher e Ronald Reagan.

A impotência, por conseguinte, ameaça tanto os que acreditam em um capitalismo de mercado, puro e desestatizado, uma espécie de anarquismo burguês, quanto os que crêem em um socialismo planificado e descontaminado da busca por lucros. Ambos estão quebrados. O futuro, como o presente e o passado, pertence às economias mistas nas quais o público e o privado estejam mutuamente vinculados de uma ou outra maneira. Mas como? Este é o problema que está colocado diante de nós hoje, em particular para a gente de esquerda.

Ninguém pensa seriamente em regressar aos sistemas socialistas de tipo soviético, não só por suas deficiências políticas, mas também pela crescente indolência e ineficiência de suas economias, ainda que isso não deva nos levar a subestimar seus impressionantes êxitos sociais e educacionais. Por outro lado, até a implosão do mercado livre global no ano passado, inclusive os partidos social-democratas e moderados de esquerda dos países do capitalismo do Norte e da Australásia estavam comprometidos mais e mais com o êxito do capitalismo de livre mercado.

Efetivamente, desde o momento da queda da URSS até hoje não recordo nenhum partido ou líder que denunciasse o capitalismo como algo inaceitável. E nenhum esteve tão ligado a sua sorte como o New Labour, o novo trabalhismo britânico. Em suas políticas econômicas, tanto Tony Blair como Gordon Brown (este até outubro de 2008) podiam ser qualificados sem nenhum exagero como Thatchers com calças. O mesmo se aplica ao Partido Democrata, nos Estados Unidos.

A idéia básica do novo trabalhismo, desde 1950, era que o socialismo era desnecessário e que se podia confiar no sistema capitalista para fazer florescer e gerar mais riqueza do que em qualquer outro sistema. Tudo o que os socialistas tinham que fazer era garantir uma distribuição eqüitativa. Mas, desde 1970, o acelerado crescimento da globalização dificultou e atingiu fatalmente a base tradicional do Partido Trabalhista britânico e, em realidade, as políticas de ajudas e apoios de qualquer partido social democrata. Muitas pessoas, na década de 1980, consideraram que se o barco do trabalhismo não queria ir a pique, o que era uma possibilidade real, tinha que ser objeto de uma atualização.

Mas não foi. Sob o impacto do que considerou a revitalização econômica thatcherista, o New Labour, a partir de 1997, engoliu inteira a ideologia, ou melhor, a teologia, do fundamentalismo do mercado livre global. O Reino Unido desregulamentou seus mercados, vendeu suas indústrias a quem pagou mais, deixou de fabricar produtos para a exportação (ao contrário do que fizeram Alemanha, França e Suíça) e apostou todo seu dinheiro em sua conversão a centro mundial dos serviços financeiros, tornando-se também um paraíso de bilionários lavadores de dinheiro. Assim, o impacto atual da crise mundial sobre a libra e a economia britânica será provavelmente o mais catastrófico de todas as economias ocidentais e o com a recuperação mais difícil também.

É possível afirmar que tudo isso já são águas passadas. Que somos livres para regressar à economia mista e que a velha caixa de ferramentas trabalhista está aí a nossa disposição – inclusive a nacionalização -, de modo que tudo o que precisamos fazer é utilizar de novo essas ferramentas que o New Labour nunca deixou de usar. No entanto, essa idéia sugere que sabemos o que fazer com as ferramentas. Mas não é assim.

Por um lado, não sabemos como superar a crise atual. Não há ninguém, nem os governos, nem os bancos centrais, nem as instituições financeiras mundiais que saiba o que fazer: todos estão como um cego que tenta sair do labirinto tateando as paredes com todo tipo de bastões na esperança de encontrar o caminho da saída.

Por outro lado, subestimamos o persistente grau de dependência dos governos e dos responsáveis pelas políticas às receitas do livre mercado, que tanto prazer lhes proporcionaram durante décadas. Por acaso se livraram do pressuposto básico de que a empresa privada voltada ao lucro é sempre o melhor e mais eficaz meio de fazer as coisas? Ou de que a organização e a contabilidade empresariais deveriam ser os modelos inclusive da função pública, da educação e da pesquisa? Ou de que o crescente abismo entre os bilionários e o resto da população não é tão importante, uma vez que todos os demais – exceto uma minoria de pobres – estejam um pouquinho melhor? Ou de que o que um país necessita, em qualquer caso, é um máximo de crescimento econômico e de competitividade comercial? Não creio que tenham superado tudo isso.

No entanto, uma política progressista requer algo mais que uma ruptura um pouco maior com os pressupostos econômicos e morais dos últimos 30 anos. Requer um regresso à convicção de que o crescimento econômico e a abundância que comporta são um meio, não um fim. Os fins são os efeitos que têm sobre as vidas, as possibilidades vitais e as expectativas das pessoas.

Tomemos o caso de Londres. É evidente que importa a todos nós que a economia de Londres floresça. Mas a prova de fogo da enorme riqueza gerada em algumas partes da capital não é que tenha contribuído com 20 ou 30% do PIB britânico, mas sim como afetou a vida de milhões de pessoas que ali vivem e trabalham. A que tipo de vida têm direito? Podem se permitir a viver ali? Se não podem, não é nenhuma compensação que Londres seja um paraíso dos muito ricos. Podem conseguir empregos remunerados decentemente ou qualquer tipo de emprego? Se não podem, de que serve jactar-se de ter restaurantes de três estrelas Michelin, com alguns chefs convertidos eles mesmos em estrelas. Podem levar seus filhos à escola? A falta de escolas adequadas não é compensada pelo fato de que as universidades de Londres podem montar uma equipe de futebol com seus professores ganhadores de prêmios Nobel.

A prova de uma política progressista não é privada, mas sim pública. Não importa só o aumento do lucro e do consumo dos particulares, mas sim a ampliação das oportunidades e, como diz Amartya Sen, das capacidades de todos por meio da ação coletiva. Mas isso significa – ou deveria significar – iniciativa pública não baseada na busca de lucro, sequer para redistribuir a acumulação privada. Decisões públicas dirigidas a conseguir melhorias sociais coletivas com as quais todos sairiam ganhando. Esta é a base de uma política progressista, não a maximização do crescimento econômico e da riqueza pessoal.

Em nenhum âmbito isso será mais importante do que na luta contra o maior problema com que nos enfrentamos neste século: a crise do meio ambiente. Seja qual for o logotipo ideológico que adotemos, significará um deslocamento de grande alcance, do livre mercado para a ação pública, uma mudança maior do que a proposta pelo governo britânico. E, levando em conta a gravidade da crise econômica, deveria ser um deslocamento rápido. O tempo não está do nosso lado.

Artigo publicado originalmente no jornal The Guardian

Tradução do inglês para o espanhol: S. Segui, integrante dos coletivos Tlaxcala, Rebelión e Cubadebate.

Tradução do espanhol para o português: Katarina Peixoto

Resposta do MST

MST: Governo deu quase 30 bi ao agronegócio

Luiz Carlos Azenha

A Jornada Nacional de Lutas do MST, que exige o assentamento das 100 mil famílias acampadas e denuncia o desemprego causado pelo agronegócio com a crise econômica mundial, mobilizou trabalhadores rurais em 10 estados e no Distrito Federal, desde o início do mês. Nesta qunta-feira (16/04), foram realizados protestos em Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e Alagoas. As ações são realizadas em memória dos 19 trabalhadores Sem Terra assassinados há 13 anos no Massacre de Eldorado de Carajás (PA). Desde o começo do mês, também aconteceram ocupações de terras, marchas e atos no Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Pará, Bahia, Minas Gerais, Roraima e Brasília.

"A crise econômica demonstra que o agronegócio não tem condições de melhorar a vida dos trabalhadores rurais. Defendemos a realização de uma Reforma Agrária Popular e um programa de agroindústrias em assentamentos para criar empregos e gerar desenvolvimento no campo", afirma a integrante da coordenação do MST, Marina dos Santos.

De novembro de 2008 a fevereiro de 2009, foram fechadas 747.515 vagas no país. O complexo do agronegócio fechou 268.888 vagas (no setor agropecuário, foram 145.631; no setor de alimentos e bebidas, 123.257), cerca de 35% do total (dados do Dieese). Os números apontam que boa parte das vagas eliminadas é do agronegócio, apesar da política de crédito rural do governo federal. No ano passado, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) concedeu em empréstimos mais de R$17,2 bilhões de reais para empresas do agronegócio. O Banco do Brasil concedeu mais de R$ 10 bilhões para apenas 20 empresas do agronegócio. Enquanto isso, o Pronaf (Programa Nacional de Agricultura Familiar) tem previsão para a liberação de apenas R$ 7, 2 bilhões para a safra 2008/2009, alcançando 1,2 milhões de famílias de pequenos agricultores.

"O governo federal financiou com seus empréstimos o desemprego do agronegócio. Precisamos de uma nova política de crédito rural, com a criação de uma linha especial para assentados e a desburocratização das linhas para a pequena agricultura. Defendemos também que todas as empresas do agronegócio que pegaram recursos públicos e demitiram tenham suas áreas desapropriadas e que todas as famílias de trabalhadores rurais que perderam o emprego com a crise sejam assentadas", defende Marina.

sábado, 18 de abril de 2009

Criança: a alma do negócio

Um video de Estela Renner

Por que meu filho sempre me pede um brinquedo novo? Por que minha filha quer mais uma boneca se ela já tem uma caixa cheia de bonecas? Por que meu filho acha que precisa de mais um tênis? Por que eu comprei maquiagem para minha filha se ela só tem cinco anos? Por que meu filho sofre tanto se ele não tem o último modelo de um celular? Por que eu não consigo dizer não? Ele pede, eu compro e mesmo assim meu filho sempre quer mai. De onde vem este desejo constante de consumo?

Este documentário reflete sobre estas questões e mostra como no Brasil a criança se tornou a alma do negócio para a publicidade. A indústria descobriu que é mais fácil convencer uma criança do que umn adulto, então, as crianças são bombardeadas por propagandas que estimulam o consumo e que falama diretamente com elas. O resultado disso é devastador: crianças que, aos cinco anos, já vão à escola totalmente maquiadas e deixaram de brincar de correr por causa de seus saltos altos; que sabem as marcas de todos os celulares mas não sabem o que é uma minhoca; que reconhecem as marcas de todos os salgadinhos mas não sabem os nomes de frutas e legumas. Num jogo desigual e desumano, os anunciantes ficam com o lucro enquanto as crianças arcam com o prejuízo de sua infância encurtada. Contundente, ousado e real este documentário escancara a perplexidade deste cenário, convidando você a refletir sobre seu papel dentro dele e sobre o futuro da infância.

Direção Estela Renner
Produção Executiva Marcos Nisti
Maria Farinha Produções

http://www.alana.org.br/CriancaConsumo/Biblioteca.aspx?v=8&pid=40

escolha a melhor forma de visualizar noseu computador

Viúva confirma gravação que pode elucidar morte de Cavalcante

Por Lucas Azevedo

A empresária Magda Cunha Koenigkan, viúva do ex-representante do governo gaúcho em Brasília, Marcelo Cavalcante, reafirmou sua disposição de revelar tudo o que sabe para ajudar a polícia a desvendar a morte do marido.

A entrevista exclusiva da empresária, publicada pelo Jornal JÁ nesta quinta-feira, 16, repercutiu em todo o país. Um dos pontos que mais chamou atenção foi a revelação de Magda sobre uma gravação na qual Cavalcante aparece conversando com uma pessoa, não identificada, que participou da campanha para o Piratini em 2006.

Na conversa gravada, o ex-representante do governo gaúcho se mostra surpreso ao saber que parte do dinheiro arrecadado para a campanha tomou outro fim. “Foi aí que tudo começou”, segundo Magda.
Nas diversas entrevistas que deu sexta-feira, ela confirmou ter visto a gravação várias vezes, mas que não tem mais acesso a ela. Cavalcante, talvez por precaução, havia deixado o material com um amigo, que teria devolvido pouco antes de sua morte. Magda não sabe onde foi parar.

Magda desmentiu a declaração do comerciante Marcos Cavalcante de que ela seria ré em processos na Justiça do Distrito Federal. Ela afirma que seu nome é citado apenas como autora num processo de separação, de seu casamento anterior. “Meu ex-cunhado está sendo leviano nas suas informações, pois não sou ré em nenhum processo. Ele não me preocupa, pois era com quem Marcelo não conversava há quase dois anos, e o que menos conhecia sua vida profissional.”

Magda, que é diretora-geral da revista de análise política Sras&Srs, se disse preocupada com a repercussão que suas declarações estão tomando em Brasília. “Fui pega de supetão nessa história. Me sinto como se um copo de vinho tivesse caído sobre mim e manchado minha roupa. Não pude me defender nem do copo, nem do vinho.”

Em entrevista ao programa Espaço Aberto, da Rádio Guaíba, veiculada na tarde dessa sexta-feira (17), a empresária revelou que tem procurado a polícia em Brasília para saber do andamento do inquérito, mas não tem obtido resposta.

Na 10ª. Delegacia, em Brasília, a expectativa é de após o feriado de Tiradentes, haja manifestação da Justiça em relação ao pedido do Aélio Caracelli, que quer mais prazo para concluir as investigações.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Está no blog do Azenha...

Um debate acalorado sobre a privatização da telefonia


por Luiz Carlos Azenha

Começou com a reclamação de um colega de trabalho, que desistiu da Telefonica depois da recente pane no serviço do Speedy. É uma característica dos "serviços" no Brasil, que desafiam a modernização: falhas, péssimo atendimento telefônico -- quando existe --, desleixo com o consumidor e um preço relativamente salgado.

Esse estado de coisas quase não aparece no jornal, nem na televisão. Não há "apagão" da telefonia, nem da internet. Haveria, com certeza, se os serviços fossem estatais. Afinal, o papel da mídia é justamente esse: promover as negociatas através das quais os sócios, parceiros ou patrocinadores lucram às custas de dinheiro público.

Os defensores da privatização dizem que seria pior se os serviços fossem estatizados. Argumentam que haveria menor concorrência. E que a máquina estatal ficaria inchada de apaniguados do governo de turno. É, de fato, um risco.

Os problemas foram identificados por alguns leitores. O Paulo Ramos, que mora em Campo Grande, disse que há dois anos tenta instalar banda larga em casa, mas recebe da operadora a informação de que não existe "suporte técnico". Pode ser um sintoma clássico da privatização: as empresas investem dinheiro nas regiões onde podem conseguir maior retorno.

A Ana Cruz lembrou: "O brasileiro é o consumidor que tem os maiores custos quando o assunto é o uso do celular. O cenário é apontado pelo levantamento da União Internacional de Telecomunicações, a UIT".

O Romanelli apresentou uma tabela mostrando que a assinatura fixa, que custava 89 centavos em 1995, passou a 40 reais e 50 centavos em julho de 2008, um aumento de 4.800% contra 247% do IGP. Segundo ele, "prova provada de que os novos donos (estatal espanhola) não colocaram dinheiro novo aqui, pois os liberais libertinos permitiram que os novos investimentos fossem repassados ao povo pelos novos corsários".

Luiz Alphapluis, autor do artigo sobre a cratera da telefonia que deu origem ao debate, comentou: "Tenho telefone da NET e também passei semanas cronometrando quanto tempo ficava ao telefone escutando musiquinha. [...] Só consegui ser atendido quando entrei na opção de cancelamento da assinatura. Só assim eles me ouviram".

A Érica trouxe uma série de reclamações. Uma das mais relevantes, em minha opinião, diz respeito à tarifa para ligações dentro da mesma área, a de DDD 19. Ela diz que se vê "obrigada a fazer ligações interurbanas para cidades que [ficam] entre 5 e 20 quilômetros de distância. [...] Pago valores absurdos".

O Roberto Jr. lembra que "a Telefonica é campeã de reclamações e considerada a pior prestadora de serrviços em TODOS os países da América Latina onde atua".

O José Carlos Lima fala das cidades onde nenhum orelhão está funcionando e cita três, no Maranhão: Balsas, São Raimundo das Mangabeiras e Sambaíba. Mais uma vez, é a lógica das empresas que investem apenas onde o retorno é garantido. O José Carlos também traz o Daniel Dantas para o assunto: "Daniel Dantas além de conseguir essa bocada maravilhosa ainda emplacou na compra a cláusula do reajuste dos serviços pela correção monetária o que quer dizer que as empresas de telefonia tem seus serviços reajustados mesmo que não preguem um prego numa barra de sabão".

O Raphael Garcia resumiu sua opinião: "Em tradução livre, podemos dizer que qualquer falha que esteja ocorrendo é simplesmente reflexo do serviço ridículo prestado pela companhia que investe em propaganda de maneira incessante mas não na qualidade de seus serviços. O que mais impressiona é que a ANATEL não faz NADA!".

Manoel, de Londrina, lembra que na cidade a telefonia continua sendo pública: "Foi das primeiras cidades do Brasil a ter celular digital. Tem um número absurdo de linhas fixas, orelhões e a banda larga funciona. A antiga Global Telecom (hoje Vivo) instalou uma matriz em Londrina. Dizia-se a boca pequena que era pra trucidar a Sercomtel com um choque de competência privada. Jamais chegou sequer a arranhar a concorrência da empresa pública". Ele diz que um plebiscito na cidade rejeitou a venda da área de celulares da empresa à operadora Tim.

"Se você quer defender a Telefonica e outros pilantras, problema seu Dvo"arak. Mas ao menos cobre pelos serviços, né meu?", escreveu o Manoel.

Foi uma referência ao leitor Dvorak, que o João Bravo desconfia ser o Fernando Henrique Cardoso ou eu, Azenha. Não. Não sou o John Bastos, nem o Dvorak, que escreveu: "Bom seria continuar como era no passado, ou seja, quando a linha telefonica era considerada um bem e poucos tinham condições de possuir uma, e era, inclusive, declarada no Imposto de Renda. A Anatel tem que fiscalizar e cobrar das empresas de telefonia um serviço decente".

Eduardo Nascimento, que diz ter vivido o processo de privatização, afirmou que "as teles eram um cabidaço de empregos; viravam de ponta-cabeças quando havia mudança de governo; quando havia expansão em alguma central, caciques compravam uma cota de telefones e lucravam horrores com a venda da linha e das ações; os clientes davam graças a Deus quando aguardavam apenas um ou dois anos pelo terminal".

Para Roberto Locatelli, no entanto, não foi bem assim:

"O governo da época (FHC) sabia que esse estrangulamento da telefonia iria acabar [por causa das novas tecnologias].", escreveu ele. "A verdade é que a telefonia iria mesmo dar esse salto. Só que seria patrimônio da nação. Com a privatização, o salto resultou numa drástica perda de qualidade. E a telefonia é um patrimônio... de Daniel Lex Luthor Dantas e outros 'empresários' do mesmo naipe".

Esse resumo NÃO EXPRESSA o debate completo, que está aqui.

Finalizar incondicionalmente bloqueio a Cuba é a prova de fogo de Obama nas Américas






Atilio A. Boron
- Correio da Cidadania

A iminente cúpula das Américas colocará à prova a seriedade das palavras pronunciadas por Joseph Biden na "Cúpula do Progressismo", sediada em Viña del Mar, em finais de março. Nesta oportunidade, o vice-presidente dos Estados Unidos disse que "acabou a época em que dávamos ordens". O curioso é que, em que pese as tão promissoras palavras, Biden foi muito enfático ao afirmar que continuaria o bloqueio contra Cuba, próximo de cumprir meio século de vida. Como conciliar ambas as colocações? A Casa Branca diz, por meio de seu qualificado porta-voz, que deseja instalar na região um clima de diálogo, respeito e compreensão; mas, simultaneamente, revela que não está disposta a pôr fim a um bloqueio criminoso e ilegal que recebeu o repúdio universal há décadas. Qual dessas duas afirmações representa a política de Barack Obama para nossa região?

Com sua enigmática declaração, Biden fortalece a impressão de que a administração Obama não parece muito preocupada em se diferenciar de seu antecessor. As grandes orientações da política externa de George W. Bush gozam de muito boa saúde nas duas áreas estratégicas da Casa Branca: guerra e economia. Na primeira, tendo não só ratificado em seu cargo o falcão Robert Gates como secretário de Defesa, mas também reforçando a presença militar estadunidense no Afeganistão e Paquistão, enquanto que a prolongada estadia de suas tropas no Iraque parece destinada a converter esse sofrido país num eterno enclave neocolonial norte-americano. No tocante à economia, a equipe de assessores e especialistas selecionada por Obama reúne os cérebros que conceberam e levaram à prática a radical desregulamentação do sistema financeiro dos anos 90, causadora da fenomenal explosão da bolha especulativa no verão boreal de 2008. O que se sabe de gente como Robert Rubin, Lawrence Summers, Timothy Geithner e Paul Volcker é que lhes caracteriza uma irredutível fidelidade ao neoliberalismo e aos interesses que este representa: o capital financeiro e os gigantescos oligopólios norte-americanos. Sua presença na nova administração dos democratas manifesta seu pertinaz empenho em restaurar a situação existente antes do estouro da crise, aplicando o mesmo remédio que resultou na atual débâcle. Havia outros economistas que, desde uma perspectiva crítica e ao mesmo tempo realista, poderiam ter assessorado muito melhor Obama: mencionemos apenas dois, Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia em 2008, e Joseph Stiglitz, que obteve o mesmo galardão em 2001. Porém, Obama preferiu depositar confiança nos desgastados gurus do neoliberalismo, com o que se esvaem as esperanças de uma saída razoavelmente civilizada para a crise atual. O show midiático montado dias atrás pelo G-20 em Londres não permite pensar em outra coisa.

Sob tais condições, as declarações do novo governo estadunidense no sentido de flexibilizar algumas restrições em matéria de viagens e visitas de familiares a Cuba merecem um aplauso, mas a manutenção do bloqueio econômico à Ilha é absolutamente inaceitável e deve ser condenada sem atenuantes. Isso assinala, inequivocamente, a magnitude do hiato que separa o Obama da campanha eleitoral do Obama ocupante da Casa Branca. Agregamos também o abismo que separa as ilusões dos cultores da "obamania" em muitos países da região e fora dela, principalmente na Europa, das políticas que aquele está levando a cabo em sua inescapável condição de chefe do império. Suas promessas de revisar a política anticubana que os sucessivos governos da Casa Branca instalaram desde os próprios inícios da Revolução parecem destinadas a serem levadas pelo vento. Até agora, o que se notam são gestos dirigidos a maquiar o bloqueio, mas nada mais. Um bloqueio que, convém lembrar, é econômico, comercial, financeiro, migratório (pela canalhesca "Lei de Ajuste Cubano") e informático, impedindo a Ilha de acessar bandas de internet de alta velocidade.

A obstinada manutenção dessa situação é um sintoma revelador de surpreendentes patologias políticas que entorpecerão a gestão inovadora que deveria ter um presidente estadunidense enfrentado com uma crise como a atual. Quais patologias? Vejamos: em primeiro lugar, a de uma superpotência imperialista que, no lugar de definir sua política externa em função de interesses nacionais e critérios globais, mantém uma agressiva política contra um país, Cuba, que de maneira alguma ameaça sua segurança nacional. O resultado foi um aprofundamento do descrédito dos EUA na arena internacional, a irritação dos governos e populações do hemisfério e uma sensível perda de influência na região, posta em evidência pelo espetacular fracasso da ALCA, ignominiosamente sepultada na cúpula anterior de presidentes, que se deu em Mar del Plata, em 2005. Qual foi o pecado de Cuba? Algo imperdoável para os amos do império: ter lutado exitosamente pela sua autodeterminação e por sua dignidade, livrando-se das cadeias que a jogaram primeiro no colonialismo espanhol e depois no imperialismo norte-americano. Por isso se castiga a Ilha brutalmente, como uma punição diante de sua ousadia e como uma lição a quem sonhar imitá-la. No entanto, o tempo se encarregou de demonstrar que tal política só conseguiu alimentar o sentimento anti-imperialista das massas e criar as condições para o surgimento de uma série de governos de esquerda e centro-esquerda que, por distintas razões, frustraram o sonho americano de uma América Latina submetida aos desígnios da ALCA.

Em segundo lugar, os EUA se apresentam como um curioso país que, pelo dito mais acima, não tem uma, mas duas políticas externas: uma para Cuba e outra para o resto do mundo. Em matéria migratória, a "Lei de Ajuste Cubano" concede o Green Card a qualquer cidadão cubano que pise solo norte-americano; para o resto do mundo, no entanto, existem complicadíssimos trâmites de imigração. O migrante haitiano ou dominicano que arrisca sua vida atravessando o Caribe em frágeis embarcações será preso e devolvido ao seu país de origem em caso de ser pego; o cubano, por sua vez, uma vez que pisa o solo estadunidense automaticamente passa a desfrutar de todos os benefícios que se concedem aos imigrantes legais. No caso da fronteira sul dos EUA, a perseguição aos mexicanos ou centro-americanos sem documentos é implacável: não só se levantou um infame muro na fronteira asteca-estadunidense, como também estão à vista a caça a "la migra" e os massacres dos vigilantes das fronteiras, tudo contrastando odiosamente com o trato privilegiado que se dá aos imigrantes cubanos. Outro exemplo de patologia política: o Departamento de Estado condena incansavelmente o regime de partido único de Cuba, denuncia os supostos déficits de sua "qualidade institucional" e proclama abertamente a necessidade de produzir uma "mudança de regime", eufemismo para se referir à concretização da contra-revolução. Porém, essa política, com sua definição de princípios, contrasta chamativamente com as fraternais relações que Washington cultiva com a Arábia Saudita, país no qual os partidos políticos são proibidos, o despotismo monárquico é absoluto e a democracia uma quimera; contrasta também com as intensas relações econômicas forjadas com países como China e Vietnã, cujos sistemas de partidos são muito similares ao que existe em Cuba. Qual a razão de tamanha discriminação, de colossal inconsistência da política exterior norte-americana? Não há razão alguma, só a chantagem de um lobby mafioso, ante o qual Washington se prostra desonrosamente.

Terceira patologia: o bloqueio revela que Cuba ocupa um lugar especialíssimo no imaginário da classe dominante estadunidense. Apesar do tempo transcorrido, seus integrantes e seus representantes políticos não se conformam por ter perdido Cuba e insistem em recuperá-la, em se apropriar dela apelando a qualquer recurso. Cuba é sua doentia obsessão, sentem-na como um troféu de guerra – de uma guerra em que os patriotas cubanos haviam derrotado o poder colonial espanhol e que depois os EUA, com sujas artimanhas, arrebatou-lhes a vitória – e em nome dele são capazes de qualquer coisa. Quase meio século de bloqueio é um fenômeno que não tem paralelo na história do imperialismo. Impérios anteriores, desde Esparta e Roma até hoje, sitiaram por um tempo algumas cidades. Mas sustentar um bloqueio integral como o de que padece Cuba é algo sem precedentes na história da humanidade. Constitui uma monstruosidade, uma verdadeira aberração e uma imperdoável imoralidade. A manutenção de uma política que fracassou ostensivamente, que terminou por ilhar os EUA, só pode ser compreendida como sinal da decadência da classe política norte-americana. Com a iminente reabertura das relações diplomáticas com a Costa Rica e El Salvador, os EUA serão o único país do sistema interamericano que não tem relações com Cuba. Como sustentar uma política que não só fracassou em promover a tão desejada "mudança de regime" como também converteu os EUA em um tipo de pária do sistema internacional, quando, na última votação da Assembléia Geral da ONU, o bloqueio foi condenado por 185 dos 192 países membros da organização?

Consequentemente, se Obama quer dar um novo começo à relação com a América Latina e o Caribe, há um primeiro passo inevitável: levantar total e incondicionalmente o bloqueio e iniciar de imediato conversas para normalizar a relação com Havana. Deve reconhecer que Cuba não está isolada e que quem o está são os EUA. Com o transcorrer dos anos o prestígio de Cuba se agigantou, porque, sendo um país pequeno, demonstrou uma notável coerência e fortaleza em sua política externa. Cuba ajuda mais que os EUA aos povos de nossa América e, em geral, do terceiro mundo; e o faz com seus médicos, seus alfabetizadores, seus técnicos, seus treinadores esportivos e seu amplíssimo programa de cooperação científica e técnica, com cerca de 100 países. Cuba dá, enquanto os EUA tiram. E a exemplar resistência cubana granjeou o respeito da comunidade internacional, e muito especialmente dos povos e governos da América Latina e Caribe, quaisquer sejam suas orientações políticas. Os governantes que acudirão ao encontro de Trinidad e Tobago não poderão aprofundar as relações de cooperação com a Casa Branca em matérias como a migração, o narcotráfico, o terrorismo e tantas outras, a menos que se remova pela raiz o obstáculo da retirada do bloqueio a Cuba. Do contrário, pagarão um enorme custo político e poderão ser desalojados do governo mais cedo que tarde. Há vários exemplos recentes que ilustram a afirmação.

Demorar no cancelamento do bloqueio só servirá para prejudicar o interesse nacional dos EUA e dos numerosos indivíduos e empresas deste país, sacrificados em aras de um lobby como o aglutinado pela Fundação Nacional Cubano-americana, que é uma verdadeira vergonha para a política norte-americana. Isso está se tornando cada vez mais óbvio para uma parte crescente da dirigência política local. A carta que o senador Richard Lugar enviara ao presidente Barack Obama em 30 de março deste ano é bastante eloqüente. Nela, o senador de Indiana diz que a política dos EUA em relação a Cuba fracassou e que, devido a isso, "nossos interesses políticos e de segurança mais globais" estão sendo socavados, o que requer uma "transição nas relações cubano-estadunidenses". E o momento seria agora mesmo: a Cúpula das Américas. Richard Lugar agrega que a política seguida pela Casa Branca contrasta gritantemente com o amadurecido relacionamento dos países da América Latina e Caribe com a ilha. As recentes declarações anunciando planos de restabelecer as relações diplomáticas com a Costa Rica e El Salvador, a série de visitas a Havana dos presidentes de Equador, Bolívia, Venezuela, Chile, Argentina, Brasil, Haiti, República Dominicana, Guatemala, Nicarágua e Honduras, e vários mais da região caribenha, e a incorporação de Cuba ao Grupo do Rio demonstram, em seu juízo, a solidão em que caíram os EUA e a União Européia, assim como a ONU, que aprovou uma resolução muito amplamente referendada pelos demais países condenando o embargo dos EUA durante os últimos 17 anos. "Para o resto do mundo", continua Lugar, "nosso atual enfoque desafia toda a lógica: ainda durante os mais ásperos momentos da Guerra Fria, os canais diplomáticos diretos com a ex-União Soviética jamais foram cortados". Agregaríamos: como é possível que os EUA mantenham conversas com países como Irã e Coréia do Norte e se neguem terminantemente a fazê-lo com Cuba? Como justificar tão doentia fixação?

A mensagem de Lugar é suficientemente clara: em uma época de crise como esta a Casa Branca não pode se dar o luxo de seguir sendo vista com enorme receio por povos e governos da região. Sua credibilidade internacional como uma potência que se arrogou a missão de promover a paz, a liberdade e a democracia se desvanece irreparavelmente pela sua política anticubana, à parte de tantas outras. A intenção de Obama de ser visto como uma radical na renovação da política estadunidense ficaria em palavras vazias de conteúdo se seu governo não produzir, agora mesmo, uma radical retificação de sua política com a ilha, cujo primeiro passo é o imediato encerramento do bloqueio (que nos EUA preferem denominá-lo, espertamente, de embargo, conscientes do repúdio universal que concita tal política). Por outro lado, não deveria escapar da atenção dos estrategistas norte-americanos que a imprescindível melhora nas relações entre os EUA e os países da América Latina – imprescindível, digamos, dada a inédita debilidade da superpotência, diante das aventuras militares sem rumo no Iraque e Afeganistão e brutalmente golpeada pela crise econômica – se veria negativamente influenciada pela manutenção do bloqueio. Todos os países da região, mesmo aqueles governados por partidos ou coalizões de direita, se manifestaram contra o bloqueio e, para Washington, seria impossível conferir credibilidade à sua promessa de fundar um novo padrão de relações interamericanas se, ao mesmo tempo, preserva uma retórica e uma política inspiradas no apogeu da Guerra Fria. Não só se prejudicam os interesses econômicos ianques como também se atenta contra a credibilidade global de sua política exterior.

Em outras palavras, as boas relações no âmbito interamericano deverão se construir sobre a base de gestos e iniciativas concretos que demonstrem a seriedade das intenções da Casa Branca, sua capacidade real para produzir políticas inovadoras e os alcances de seu apregoado compromisso com a ordem hemisférica baseada no diálogo e o respeito mútuo. Os governos da América Latina e Caribe que comparecerão à Cúpula de Trinidad e Tobago sabem que, sem acabar com o bloqueio, a nova ordem que Washington pretende construir será inviável, estará morta antes de nascer. Apesar de sua ausência, Cuba terá um papel estelar nesta reunião e nossos governos deverão atuar com grande firmeza e coordenadamente para exigir o fim do bloqueio; caso contrário, serão co-participantes do fracasso, pagando um alto preço em seus respectivos países. Em Port of Spain Obama se defrontará com a hora da verdade. Sua conduta neste conclave será a prova de fogo que colocará a nu se está ou não à altura dos desafios que lhe impõe a história. E isso não só em relação à questão cubana, mas também diante dos gravíssimos obstáculos que brotam da crise geral do capitalismo.

Atílio Boron é doutor em Ciência Política pela Universidade de Harvard e professor titular de Teoria Política na UBA (Universidade de Buenos Aires). É autor do livro "Império e Imperialismo. Uma leitura crítica de Michael Hardt e Antonio Negri", publicado pela editora CLACSO em 2002.

Website: http://www.atilioboron.com

Trazido por Gabriel Brito, jornalista.