Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
quinta-feira, 23 de abril de 2009
Quantos Mendes existem na justiça brasileira ?
Ninguem merece esse salafrário...
Ministro acusa Mendes de destruir a credibilidade da Justiça
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e o ministro Joaquim Barbosa bateram boca em sessão plenária durante um julgamento nesta quarta-feira (22). O ministro Joaquim Barbosa acusou o presidente do STF de estar ''destruindo a credibilidade da Justiça brasileira''.
Durante uma discussão na sessão de hoje (22) do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Joaquim Barbosa criticou o presidente do STF, Gilmar Mendes, responsabilizando-o por supostamente contribuir para uma imagem negativa do Poder Judiciário perante a população.
O bate-boca ficou mais ríspido quando Mendes reagiu à discordância de Barbosa com o encaminhamento dado a uma matéria. Os ministros analisavam recursos contra duas leis julgadas inconstitucionais pelo STF. Uma, tratava da criação de um sistema de seguridade do estado do Paraná, e outra, da permanência de processos de autoridades no tribunal, ainda que os réus perdessem cargos políticos.
“Vossa excelência não tem condições de dar lição a ninguém”, afirmou Mendes.
Barbosa respondeu: “Vossa excelência me respeite, vossa excelência não tem condição alguma. Vossa excelência está destruindo a Justiça desse país e vem agora dar lição de moral em mim? Saia à rua, ministro Gilmar. Saia à rua, faça o que eu faço”.
A discussão entre os ministros foi gravada pela TV Justiça e está disponível na internet.
O ministro Ayres Britto tentou colocar panos quentes na discussão, ao lembrar que já havia pedido vista da matéria. Mas não conseguiu.
Quando Mendes respondeu a Barbosa, dizendo que já estava na rua, ouviu do colega o seguinte: “Vossa excelência [Gilmar Mendes] não está na rua não, vossa excelência está na mídia, destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro. É isso. Vossa excelência quando se dirige a mim não está falando com os seus capangas do Mato Grosso, ministro Gilmar. Respeite”.
Após novas trocas de acusações, o Ministro Marco Aurélio sugeriu que a sessão fosse encerrada e foi atendido por Mendes. Em seguida, o presidente do STF e alguns ministros iniciaram uma reunião fechada em seu gabinete.
Reputação ruim
Não é a primeira vez que Gilmar Mendes é confrontado por colegas do juidiciário.
No início deste mês, o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, disse que o Ministério Público, órgão do qual é chefe, exerce muito bem a atividade de controlar eventuais excessos cometidos por policiais. A afirmação foi em resposta a uma provocação feita um dia antes pelo presidente do STF, que chamou de ''lítero-poético-recreativo'' o controle externo exercido pelo Ministério Público.
''Quem avalia o Ministério Público é a sociedade e ela avalia bem, de modo que ironia, retórica em nada desqualifica o trabalho do Ministério Público'', disse o procurador-geral.
Antonio Fernando aproveitou para provocar Gilmar, dizendo que o Judiciário deve cumprir apenas as tarefas que lhe são atribuídas: ''Ao Judiciário deve ficar reservada a questão de julgar com imparcialidade. Se o Judiciário desempenhar bem a sua função, já presta à sociedade um relevante serviço'', disse.
Em 2002, quando foi indicado para o STF pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, Mendes já era apontado como prejudicial à imagem da justiça brasileira.
Naquele ano, o renomado jurista Dalmo Dallari, advogado e professor de Direito na Universidade de São Paulo (USP), publicou um artigo na Folha de São Paulo criticando duramente a indicação de Gilmar Mendes.
''Degradação do Judiciário''
Sob o título de ''Degradação do Judiciário'', Dallari registrou em seu artigo: ''(...) O presidente da República, com afoiteza e imprudência muito estranhas, encaminhou ao Senado uma indicação para membro do Supremo Tribunal Federal, que pode ser considerada verdadeira declaração de guerra do Poder Executivo federal ao Poder Judiciário, ao Ministério Público, à Ordem dos Advogados do Brasil e a toda a comunidade jurídica. Se essa indicação vier a ser aprovada pelo Senado, não há exagero em afirmar que estarão correndo sério risco a proteção dos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a própria normalidade constitucional''.
''O nome indicado está longe de preencher os requisitos necessários para que alguém seja membro da mais alta corte do país'', disse Dallari na ocasião.
Em novembro de 2008, a revista Carta Capital -- incomodada com o evidente protecionismo que Mendes estendeu a Daniel Dantas ao conceder dois habeas corpus para livrar o banqueiro da cadeia -- publicou um perfil nada lisongeiro do presidente do STF. A reportagem resgata as relações da família de Mendes com as várias esferas de poder. A revista de Mino Carta revela como o ministro atua politicamente para reforçar o naco de poder do irmão, prefeito de Diamantino (MT), cidade da família Mendes. A reportagem mostra um homem muito diferente da face pública.
Escreve Leandro Fortes: “Em Diamantino, a 208 quilômetros de Cuiabá, em Mato Grosso, o ministro é a parte mais visível de uma oligarquia nascida à sombra da ditadura militar (1964-1985), mas derrotada, nas eleições passadas, depois de mais de duas décadas de dominação política”.
A reportagem aponta que o irmão de Gilmar, o atual prefeito Francisco Mendes Júnior, vinha conseguindo se manter no cargo graças à influência política do presidente do STF. “Nas campanhas de 2000 e 2004, Gilmar Mendes, primeiro como advogado-geral da União do governo Fernando Henrique Cardoso e, depois, como ministro do STF, atuou ostensivamente para eleger o irmão. Para tal, levou a Diamantino ministros para inaugurar obras e lançar programas, além de circular pelos bairros da cidade, cercado de seguranças, a pedir votos para o irmão-candidato e, eventualmente, bater boca com a oposição''.
Conhecendo este perfil, não surpreende que o ministro Joaquim Barbosa tenha alertado Gilmar Mendes de que ele não estava falando com seus ''capangas do Mato Grosso''.
Da redação do Vermelho,
com informações da Agência Brasil
quarta-feira, 22 de abril de 2009
À procura de académicos para o Império:
A "Iniciativa de Investigação Minerva" do Pentágono
Os estrategistas militares do Pentágono reconheceram que sofreram derrotas políticas, com consequências estratégicas nas suas recentes invasões militares do Iraque e do Afeganistão. O apoio militar dos EUA à invasões israelenses do Líbano e de Gaza, a ocupação etíope da Somália, apoiada pelos EUA, as tentativas de golpes na Venezuela (2002) e na Bolívia (2008) também não conseguiram derrotar os regimes populares no poder. Pior ainda, as redes nacionais civis, familiares, comunitárias e nacionais reforçaram os movimentos anti-colonialistas fornecendo apoio logístico essencial, informações, recrutamento e legitimidade.
Os estrategistas do Pentágono, reconhecendo as bases sociopolíticas dos seus fracassos, viraram-se para cúmplices voluntários no mundo académico para fornecerem informações, sob a forma de relatórios etnográficos, de povos seleccionados, e tácticas e estratégias a fim de dividir e destruir fidelidades locais e nacionais. O Pentágono está a contratar cientistas sociais para traçarem 'mapas sociais' a fim de identificar líderes e grupos susceptíveis de serem recrutados para o serviço do império. Por exemplo, a 'pesquisa de terreno' académica contratada pelo Pentágono pretende demonstrar os modos como as práticas e os rituais religiosos tradicionais podem ser manipulados para facilitar a conquista imperial através da guerra cultural que desencoraje os povos subjugados de apoiarem os movimentos de libertação nacional. Em vez de confrontar o ocupante imperial com o objectivo de restabelecer a soberania nacional, as estratégias de 'guerra cultural' orientam a população para se concentrarem em “problemas locais'. Estes são alguns dos 'projectos de investigação' financiados pelo Pentágono a que se dedicam os 'académicos de uniforme'.
O Pentágono está profundamente empenhado nesta estratégia militar-académica de construção do império, atribuindo-lhe verbas de quase 100 milhões de dólares para a contratação de colaboradores académicos e para o financiamento de múltiplos projectos de 'investigação' em todo o mundo contra estados, movimentos e comunidades seleccionados.
A 'Iniciativa de Investigação Minerva' (MRI)
O maior, embora não seja o único, dos programas de investigação para a construção do império, financiados pelo Pentágono, nas ciências sociais, tem o nome de código de Iniciativa de Investigação Minerva (MRI). A MRI contrata grande número de académicos nos seus habituais bordéis académicos prestigiados, incluindo os chulos académicos veteranos e neófitos ambiciosos entre os assistentes pós-graduação e graduados. Estes 'estudiosos para o império' estão actualmente empenhados em pelo menos catorze projectos O dinheiro da MRI foi buscar às universidades um amplo sortido de psicólogos, cientistas políticos, antropólogos, economistas, professores de estudos religiosos, especialistas de relações públicas, economistas do trabalho, e até mesmo físicos nucleares do MIT, Princeton, Universidade da Califórnia em San Diego e da Universidade Estadual do Arizona, entre outras. Esta generosidade do Pentágono constitui o que a Science (30/Jan/2009, p. 576) (revista oficial da Associação Americana para o Progresso da Ciência) chama 'um banquete para uma área habituada a viver de migalhas”.
Todas as regiões e grupos especificamente seleccionados para a investigação 'académica do Pentágono' estão presentemente em conflito com o império dos EUA ou com o seu aliado israelense e incluem o sudoeste asiático, a África ocidental, Gaza, a Indonésia, o Médio Oriente. O parâmetro ideológico do Pentágono, que define a MRI, é a "guerra contra o terrorismo" ou as suas 'Operações de Contingência Ultramarina', o novo fac-simile com o Presidente Obama.
A MRI tem um interesse especial em académicos que podem visar a área das organizações e actividades muçulmano-árabes, a fim de estudar e desenvolver métodos para "difundir e influenciar o discurso muçulmano contra-radical". Por outras palavras, a MRI está a contratar investigação académica, que irá permitir que o Pentágono penetre nas comunidades muçulmanas, co-opte os líderes e os transforme em colaboradores imperialistas.
A MRI não é um mero mecanismo de "poder ligeiro" – uma batalha de ideias – envolve académicos americanos nalguns dos aspectos mais brutais de guerra colonial. Por exemplo, as Equipas de Terreno Humano, financiadas pelo Pentágono, que operam no Afeganistão, estão profundamente mergulhadas na identificação e interrogatório/tortura de suspeitos combatentes da resistência, simpatizantes civis e membros de grandes famílias e clãs. Um professor de psicologia contratado pela MRI com antigas ligações às operações contra-insurreição do Pentágono, está profundamente envolvido no "estudo de emoções em alimentar ou reprimir movimentos motivados ideologicamente". Operações de ocupação dos serviços secretos têm estado profundamente envolvidas em "fomentar" a hostilidade entre as comunidades xiitas e sunitas no Iraque, no Líbano, no Irão e no Afeganistão. As torturas e as técnicas de interrogatórios duros, utilizadas no Médio Oriente e no Afeganistão, baseiam-se em estudos académicos e vulnerabilidades culturais e emocionais dos muçulmanos e são utilizadas pelos interrogadores militares americanos e israelenses para "quebrar" ou provocar profundos esgotamentos mentais nos activistas anti-ocupação ("repressão de movimentos ideológicos).
Esta versão contemporânea do Dr. Strangelove com a sua versão de fórmulas contra-insurreição imediatas cozinhadas por uma rede mundial de académicos de uniforme pode envenenar o ambiente académico – de modo muito semelhante ao que o Professor 'Bermans' no estado do Michigan, MIT, Harvard, e noutros locais desenvolveu técnicas para investigar e destruir missões contra movimentos de base durante a Guerra do Vietname. O perigo e a atracção para os académicos do financiamento do Pentágono é especialmente agudo actualmente, dada a depressão económica e a imagem pseudo-progressista do regime Obama. As operações de salvamento da Wall Street e a queda do mercado de acções dos EUA têm reduzido as dotações às universidades o que provoca fortes reduções nos orçamentos académicos, salários e fundos para investigação, especialmente na investigação não relacionada com os militares ou com os negócios. O discurso duplo do regime de Obama que fala de paz e aumenta os orçamentos militares, reforçando as tropas no sudoeste da Ásia e alargando as sanções ao Irão, pode levar os académicos a justificar estas últimas citando as primeiras. Para arranjar recrutas académicos para o estábulo da MRI, o Pentágono organizou um seminário em Agosto de 2008, sob a fachada ideológica de "total abertura e estrita adesão à liberdade e integridade académica". Subsequentemente o Pentágono afirmou ter recebido 211 pedidos de académicos procurando um lugar na gamela imperialista.
Apesar da afirmação do Pentágono sobre o êxito da contratação de académicos, há sinais contrários que aparecem no mundo académico, principalmente à luz dos altamente publicitados raptos, tortura e interrogatórios de milhares de muçulmanos e activistas em todo o mundo inclusive nos Estados Unidos, feitos por Forças Especiais.
Fora da extrema-direita tem havido uma ampla relutância entre académicos em se associarem a um governo identificado com os abusos nas prisões de Abu Grahib e de Guantanamo, a destruição das protecções constitucionais dos EUA e as guerras coloniais de ocupação.
Mesmo no caso em que poderosos académicos pró-Israel e grupos de pressão tiveram êxito em conseguir a demissão de professores muito conhecidos por serem críticos do estado hebreu, estas purgas vingativas foram contestadas abertamente por muitos professores em todo o país, incluindo várias dezenas de académicos judeus. Mais recentemente, centenas de intelectuais e investigadores nos EUA, no Reino Unido e no Canadá, horrorizados com os crimes israelenses em Gaza, apelaram às universidades para boicotar as instituições académicas e os indivíduos israelenses que colaborem com as Forças de Defesa de Israel e com o Mossad para a destruição das instituições palestinas, e em especial o bombardeamento de universidades em Gaza.
Intimidação
O grupo de académicos com princípios, críticos da política de Israel e dos EUA, académicos distintos que desafiaram substancialmente o império através da sua investigação e publicações, não está livre da retaliação destinada a desencorajar outros intelectuais. Um caso recente é a suspensão do epidemiologista médico, o académico Dr. Gilbert Burnham da Escola de Saúde Pública Bloomberg da Universidade John Hopkins. O Dr. Burnham foi repreendido publicamente e suspenso da direcção de qualquer investigação envolvendo 'pessoas humanas' por cinco anos por causa de 'quebras éticas de confidencialidade' ( Science, 06/Março/2009, vol. 323, p. 1278). Estas 'violações éticas' referiam-se à sua co-autoria do primeiro estudo epidemiológico rigoroso de larga escala sobre a mortalidade no Iraque durante a invasão e ocupação americana. Estudos locais exaustivos em todo o Iraque chegaram à conclusão de que morreram mais de 600 mil civis iraquianos de morte violenta entre a altura da invasão americana em Março de 2003 e o verão de 2006. Os resultados deste estudo sobre a morte e destruição induzidas pela guerra, publicados na prestigiada revista médica Lancet em Outubro de 2006, foram desmentidos por um Pentágono furioso mas confirmados por estudos subsequentes. As chamadas 'violações éticas' referiam-se a uma questão técnica menor: a codificação incompleta de alguns dos nomes das famílias iraquianas entrevistadas nas folhas de inquérito de língua árabe. Para instituições imperialistas, como a Universidade John Hopkins, a utilização do falso pretexto de 'protecção da privacidade' de centenas de milhares de mortos sem nome numa guerra americana de agressão para punir um distinto epidemiologista, é o mesmo que enviar uma mensagem de intimidação a intelectuais para que se abstenham de documentar as consequência genocidas de guerras imperialistas sobre um povo colonizado. Ao punir publicamente o Dr. Burnham com base nestas acusações idiotas, o Pentágono-Universidade John Hopkins estão a enviar uma clara mensagem aos académicos para não investigarem e revelarem os reais custos humanos da construção do império militar. Uma coisa é certa, as identidades dos que foram torturados ou expropriados com base nas políticas desenvolvidas pelos 'académicos' Minerva patrocinados pelo Pentágono, vão manter-se certamente 'confidenciais' – e muito provavelmente escondidas nas sepulturas em massa.
O facto de a Escola de Saúde Pública Bloomberg ter imposto um castigo tão extraordinariamente pesado sobre um dos epidemiologistas da sua própria faculdade, por causa de um erro técnico metodológico (o procedimento habitual é uma repreensão em privado), e o facto de as sanções terem merecido a maior divulgação pública, indica a natureza fortemente política de todo o processo. O que não é claro é se os apoiantes financeiros da Escola Bloomberg (juntamente com a sua Agenda do Médio Oriente) tiveram uma palavra a dizer nesta decisão punitiva.
Podemos esperar que o regime Obama, com a sua retórica 'mísseis para a paz' e imagens populistas, proporcione uma cobertura para o recrutamento do Pentágono de académicos liberais para 'trabalhar para uma mudança a partir de dentro'. Desmascarar o papel da Iniciativa de Investigação Minerva do Pentágono como parte integrante da escalada militar de Obama é uma missão para todos os académicos que se opõem à construção do império e que apoiam a reconstrução duma república americana que apoia os direitos internacionais da auto-determinação.
Tradução de Margarida Ferreira.
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
América Latina, um continente sem teoria
Os liberais nunca tiveram uma teoria original a respeito da América Latina, nem precisam dela. A repetição recorrente de algumas platitudes cosmopolitas foi mais do que suficiente para sustentar sua visão da economia mundial, e legitimar sua ação política e econômica idêntica em todos os países. Mas no caso dos intelectuais progressistas do continente, é uma má notícia saber que não existe mais uma teoria capaz de ler e interpretar a história do continente, e fundamentar uma estratégia coerente de construção do futuro. A análise é de José Luís Fiori.
José Luís Fiori - www.cartamaior.com.br
No século XIX, o pensamento social europeu dedicou pouquíssima atenção ao continente americano. Mesmo os socialistas e marxistas que discutiram a “questão colonial”, no final do século, só estavam preocupados com a Ásia e a África. Nunca tiveram interesse teórico e político nos novos estados americanos, que alcançaram sua independência, mas se mantiveram sob a tutela diplomática e financeira da Grã Bretanha. Foi só no início do século XX, que a teoria marxista do imperialismo se dedicou ao estudo específico da internacionalização do capital e seu papel no desenvolvimento capitalista a escala global. Assim mesmo, seu objeto seguiu sendo a competição e a guerra entre os europeus e a maior parte dos autores marxistas ainda compartilhava a visão evolucionista de Marx, com relação ao futuro econômico dos países atrasados, seguros de que “os países mais desenvolvidos industrialmente mostram aos menos desenvolvidos, a imagem do que será o seu próprio futuro”.
Foi só depois da década de 20, que a III Internacional Comunista transformou o imperialismo num adversário estratégico e num obstáculo ao desenvolvimento das forças produtivas nos países “coloniais e semi-coloniais”. De qualquer forma, o objeto central de todas as análises e propostas revolucionárias foi sempre, a Índia, a China, o Egito e Indonésia, muito mais do que a América Latina. Na primeira metade do século XX, os Estados Unidos já haviam se transformado numa grande potência imperialista, e o resto da América Latina foi incluída pela III Internacional, depois de 1940, na mesma estratégia geral das “revoluções nacionais”, ou das “revolução democrático burguesa”, contra a aliança das forças imperialistas com as oligarquias agrárias feudais, e a favor da industrialização nacional dos países periféricos.
Um pouco mais à frente, na década de 1950, a tese da “revolução democrático-burguesa”, e sua defesa do desenvolvimento industrial, foi reforçada pela “economia política da CEPAL” (Comissão Econômica para a América Latina) que analisava a economia latino-americana no contexto de uma divisão internacional do trabalho entre países “centrais” e países “periféricos”. A CEPAL criticava a tese das “vantagens comparativas” da teoria do comercio internacional de David Ricardo, e considerava que as relações comerciais entre as duas “fatias” do sistema econômico mundial prejudicavam o desenvolvimento industrial dos países periféricos. Tratava-se de uma crítica econômica heterodoxa, de filiação keynesiama, mas do ponto de vista prático acabou convergindo com as propostas “nacional-esenvolvimentista”, que foram hegemônicas no continente, depois da II Guerra Mundial.
Na década de 60, entretanto, a Revolução Cubana, a crise econômica e a multiplicação dos golpes militares em toda América Latina provocaram um desencanto generalizado com a estratégia “democrático-burguesa”, e com a proposta “cepalina” da industrialização por “substituição de importações”. Sua crítica intelectual deu origem às três grandes vertentes da “teoria da dependência”, que talvez tenha sido a última tentativa de teorização latino-americana, do século XX.
A primeira vertente - de filiação marxista - considerava o desenvolvimento dos países centrais e o imperialismo um obstáculo intransponível para o desenvolvimento capitalista periférico. Por isto, falavam do “desenvolvimento do subdesenvolvimento” e defendiam a necessidade de uma revolução socialista imediata, inclusive como estratégia de desenvolvimento econômico. A segunda vertente - de filiação “cepalina”- também identificava obstáculos à industrialização do continente, mas considerava possível superá-los através de uma série de “reformas estruturais” que se transformaram em tema central da agenda política latino-americana, durante toda a década de 60. Na verdade, a própria teoria da CEPAL, sobre a relação “centro-periferia”, já não dava conta da relação dos EUA com o seu “território econômico supranacional”, que era diferente do que havia acontecido com a Grã Bretanha.
Por fim, a terceira vertente da teoria de dependência - de filiação a um só tempo marxista e cepalina - foi a que teve vida mais longa e efeitos mais surpreendentes, por três razões fundamentais: primeiro, porque defendia a viabilidade do capitalismo latino-americano; segundo, porque defendia uma estratégia de desenvolvimento “dependente e associado” com os países centrais; e terceiro, porque saíram deste correntes alguns dos principais líderes políticos e intelectuais da “restauração neoliberal” dos anos 90. Como se tivesse ocorrido um apagão mental, velhos marxistas, nacionalistas e desenvolvimentistas abandonaram suas teorias latino-americanistas e aderiram à visão do sistema mundial e do capitalismo, própria do liberalismo europeu do século XVIII.
Nesta linha de pensamento, ainda em 2009, um importante intelectual desta corrente de idéias defendia - por cima de tudo o que passou no mundo, desde o início do século XXI- que: “não existe mais geopolítica nem imperialismo no novo mundo pós-colonial, da globalização, do sistema político e da democracia global.... [e que ] a estratégia clássica da geopolítica de garantir acesso exclusivo a recursos naturais na periferia do capitalismo já não faz sentido não só por seus custos, mas também porque, com a globalização, todos os mercados estão abertos, e é inimaginável que um país recuse vender a outro, por exemplo, petróleo a preço de mercado...[donde], as guerras entre as grandes potências já não fazem sentido porque todas as fronteiras já estão definidas....”[1].
Ingenuidade à parte, os liberais nunca tiveram uma teoria original a respeito da América Latina, nem precisam dela. A repetição recorrente de algumas platitudes cosmopolitas, foi mais do que suficiente para sustentar sua visão da economia mundial, e legitimar sua ação política e econômica idêntica em todos os países. Mas no caso dos intelectuais progressistas do continente, é uma má notícia saber que não existe mais uma teoria capaz de ler e interpretar a história do continente, e fundamentar uma estratégia coerente de construção do futuro, respeitada a imensa heterogeneidade do continente latino-americano.
[1] Bresser Pereira, L.C. “O mundo menos sombrio. Política e economia nas relações internacionais entre os grandes países”, in Jornal de Resenhas. Março de 2009, N° 1. Discurso Editorial, São Paulo, pp: 6 e 7
José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Que barbaridade.....
No dia da liberdade, Aécio faz lembrar os tempos da ditadura
Mais de mil pessoas protestaram contra Aécio
A repressão era tão forte que deixou praticamente todos sem acesso `a praça. Apesar de ter alugado centenas de ônibus e pago 30 reais para jovens balançarem bandeiras do PSDB, via-se pouca gente acompanhando as festividades, que lançou as comemorações do ano da França no Brasil.
O autoritarismo implementado tinha o objetivo de impedir a entrada de sindicalistas e militantes sociais que foram para a cidade protestar justamente contra a forma policial que é tratado por parte do governo o movimento social mineiro. Mas praticamente todo mundo ficou de fora da festa. “Vim de carro de Belo Horizonte especialmente para acompanhar a entrega das medalhas, todo ano faço isso, mas hoje fui impedida pela polícia”, reclamava com frustração e indignação Rosangela Macedo, que estava acompanhada dos filhos e chorava na frente de policiais fortemente armados.
Protesto
Por ironia do destino, o slogan escolhido pelo movimento social de Minas para protestar no 21 de abril foi justamente: “Com Aécio, Minas não respira liberdade”. Reunidos em frente a Igreja das Mercês, fora das barreiras policiais, mais de mil pessoas denunciaram o caráter elitista e repressor que tem o governo de Aécio Neves.
A atividade foi organizada por mais de trinta sindicatos e entidades sociais mineiras, aglutinados pelo recém criado Fórum Sindical e Social. A presença teria sido muito maior não fosse a repressão cometida pela Polícia Militar durante todo o trajeto de BH para Ouro Preto. Os ônibus com manifestantes eram parados mais de três vezes, passando por revistas individuais que demoravam mais de uma hora.
“É o maior cordão de isolamento da história”, denunciou o deputado estadual Carlin Moura (PCdoB), único parlamentar presente no protesto. “Isso mostra como foi o governo de Aécio nesses quase sete anos. Na homenagem a França, ele fala de liberdade, fraternidade, o lema da Revolução Francesa, mas ficou somente no discurso, pois se mostra um verdadeiro Luiz XV, um ditador”, desabafou Carlin, que considera essa atitude, uma demonstração de mentalidade atrasada do governador.
O morador de Ouro Preto e diretor do Sindicato dos Servidores da UFOP, Hilton Timóteo Rodrigues, relatou que o clima de repressão implementado no 21 de abril começou dias antes na cidade. “Não pudemos transitar na nossa própria cidade. “Quem não tiver a pulseirinha azul não pode passar, só poderemos transitar livremente de novo, quando o governador for embora”, lamentou indignado.
Unidade
A atividade organizada pelo movimento social mineiro em Ouro Preto marcou a grande unidade criada em oposição ao governo Aécio Neves. “Grande parte das entidades estão aqui hoje e isto mostra que este governo não representa nossos interesses. O que vimos nestes anos por parte do Aécio foi um governo neoliberal, repressor, que sempre perseguiu os sindicatos e serve apenas aos empresários”, denunciou Julio César Silva, que é diretor do Sindieletro e um dos coordenadores do Fórum Sindical e Social.
Citando trecho da música de Paulinho da Viola, que diz, “da unidade sai a novidade”, o presidente da União Colegial de Minas Gerais, Flávio Panetone, afirmou que não é mais tolerável a política neoliberal e conservadora desse governo. “Já chega, precisamos de educação de qualidade e valorização do povo”. Panetone afirmou que manifestações como aquela é que mostrará o que Minas precisa.
Vandeley Martini, da direção nacional do MST, afirmou que um dos objetivos do ato também era cobrar do governo do estado uma postura diante da crise econômica. “Minas é o estado que mais sofre com a crise, em função da decadência do setor de mineração. A sociedade está cobrando uma postura em relação a crise. O governo do estado precisa viabilizar medidas que façam com que a crise atinja menos possível os trabalhadores, mas até hoje nada foi feito”.
Na atividade do movimento social também teve entrega de medalhas. Em contraponto à Medalha da Inconfidência, entregue pelo governo do Estado, 20 lutadores mineiros foram homenageados com a Medalha da Conjuração. Segundo Gilson Reis, presidente do Sinpro Minas e da CTB, “foi uma forma de valorizar os que sempre lutaram pela libertação do povo, muitos deles, morreram lutando pela liberdade”.
De Ouro Preto,
Sheila Cristina e
Kerison Lopes
terça-feira, 21 de abril de 2009
Jean Luc Ponty - Aurora - 1975
1. Is Once Enough?
2. Renaissance
3. Aurora - Part I
4. Aurora - Part II
5. Passenger Of The Dark
6. Lost Forest
7. Between You And Me
8. Waking Dream
Jean-Luc Ponty - Violin, Violectra, Electric Violin, Keyboards, Autoharp
Daryl Stuermer - Guitars (Acoustic & Electric)
Patrice Rushen - Synthesizer, Electric & Acoustic Piano
Tom Fowler - Bass
Norman Fearrington - Drums & Percussion
Download aqui
A mídia de esgoto(rede globo) que ninguem aguenta mais....
TV Globo e jagunços disparam contra o MST
O Fantástico, da TV Globo, disparou covardemente contra o MST na noite de domingo (19). Ao noticiar os violentos confrontos na Agropecuária Santa Bárbara, na região de Xinguara, no sul do Pará, ele acusou os sem-terra de terem invadido a fazenda, atirado em “seguranças” da empresa e de terem feito jornalistas de “reféns”, usando-os como “escudo humano” no meio de um tiroteio. Num espetáculo deprimente, a emissora exibiu cenas de sangue, agressões e humilhações. Só faltou acusar os líderes do MST de “terroristas” e “bandidos”. As imagens induziram a isto!
A TV Globo só não realçou que a fazenda ocupada desde fevereiro por 120 famílias de sem-terra pertence ao Banco Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, investigado por crimes financeiros e que se jacta da sua influência sobre a mídia. Também não explicou porque os quatro jornalistas chegaram ao local num avião fretado pela Santa Bárbara, o que poderia indicar a encenação de uma emboscada. E não esclareceu que os tiros diante das câmeras de TV foram disparados por jagunços contratados pela empresa – e não meros seguranças. Os jornalistas ficaram sempre atrás dos jagunços. Nem sequer entrevistaram os líderes do MST para entender as razões do conflito.
Uma emboscada televisionada
Diante desta abjeta manipulação, a coordenação do MST-Pará emitiu nota oficial, que também não foi divulgada pela emissora privada. Ela comprova que a violência neste final de semana foi provocada pelos jagunços de Daniel Dantas. “Os sem-terra não pretendiam fazer a ocupação da sede da fazenda e nem fizeram reféns. Nenhum jornalista nem a advogada do grupo foram feitos reféns pelos acampados”. Ela informa que na manhã do sábado, quando 20 sem-terra recolhiam palha para reforçar seus barracos, jagunços chegaram fortemente armados e passaram a provocar. “O trabalhador Djalme Ferreira foi obrigado a deitar no chão, enquanto os outros conseguiram fugir. Ele foi preso, humilhado e espancado pelos seguranças da fazenda de Daniel Dantas”.
No retorno ao acampamento, as sem-terra decidiram em assembléia realizar uma marcha. “Os jornalistas, que estavam na sede da Agropecuária Santa Bárbara, acompanharam o final da caminhada... Não havia a intenção de fazer os jornalistas de ‘escudo humano’, até porque os trabalhadores não sabiam como seriam recebidos pelos seguranças. Aliás, os jornalistas que estavam no local foram levados de avião pela Santa Bárbara, o que mostra que ela tinha tramado uma emboscada”. A própria Polícia Militar negou as notícias sobre “reféns” e “escudo humano”.
Segundo a direção estadual, “os trabalhadores do MST não estavam armados e levavam apenas instrumentos de trabalho e bandeiras do movimento. Apenas um posseiro, que vive em outro acampamento da região, estava com uma espingarda. Quando a marcha chegou à guarita dos seguranças, os sem-terra foram recebidos a bala e saíram correndo – como mostram as imagens veiculadas pela TV Globo. Não houve um tiroteio, mas uma tentativa de massacre... Nove trabalhadores rurais ficaram feridos pelos seguranças da Agropecuária Santa Bárbara. O sem-terra Valdecir Nunes Castro, conhecido como Índio, está em estado grave. Levou quatro tiros. Depois de atirar contra os sem-terra, os seguranças ainda fizeram três reféns”.
Queda de audiência e de credibilidade
Mais esta manipulação grosseira da TV Globo, desta vez a serviço do banqueiro Daniel Dantas, até poderia motivar a abertura de processo jurídico. Os sem-terra foram exibidos como bandidos, enquanto os verdadeiros bandidos permanecem em liberdade – inclusive com a ajuda de habeas-corpus do STF. A edição do Fantástico, “a revista eletrônica da Globo”, foi totalmente distorcida, um exemplo do pior jornalismo. Isto talvez ajude a explicar a queda constante de audiência deste programa, que perde credibilidade a cada semana. Neste mesmo domingo, ele teve o pior Ibope desde que foi levado ao ar pela primeira vez em 1973. Alcançou apenas 19 pontos em São Paulo.
Enquanto isso em Portugal....
Professores debatem em todo o país novas medidas de luta | | | |
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Cerca de 1400 reuniões, de Norte a Sul do país, têm lugar esta semana nas escolas, numa consulta generalizada aos professores sobre as formas de luta a adoptar ainda neste terceiro período lectivo. A proposta de uma nova manifestação nacional, bem como a realização de novas greves e vigílias, estarão em cima da mesa para deliberação de todos os docentes. Na Semana de Consulta dos Professores, que decorre de hoje até dia 24, sexta-feira, pretende-se igualmente debater as propostas apresentadas pelo Ministério da Educação no âmbito do processo de revisão do Estatuto da Carreira Docente. Avaliação, gestão e concursos estarão também em debate e a Federação Nacional dos Professores (FENPROF) quer ainda ouvir a classe sobre a disponibilidade para uma "grande acção de envolvimento dos professores e educadores", a realizar na semana que termina a 16 de Maio. Esta não será a única proposta a ser discutida pelos professores. Vários movimentos já lançaram outras ideias para serem colocadas à consideração dos docentes. No seu blogue, a APEDE (Associação de Professores em Defesa do Ensino) destaca a possibilidade de uma "greve prolongada por diversos dias, realizada alternadamente em diferentes regiões e culminando num dia de greve geral em todo o país, acompanhada por uma manifestação igualmente nacional". E não descarta, em último recurso, uma "greve às avaliações do terceiro período" Por seu turno, o movimento PROmova acrescenta ainda a ideia de "vigílias/concentrações por tempo indeterminado, em cada capital de distrito, dinamizadas, rotativamente, pelos professores resistentes de cada distrito". Já o Movimento Escola Pública concentra as suas energias na proposta de uma grande manifestação nacional exactamente no dia 16 de Maio - a um sábado - para "voltar a unir todos os professores, os que entregaram e os que não entregaram objectivos individuais". A Fenprof vai "envolver-se empenhadamente" na Semana de Consulta dos Professores, com cerca de 300 dirigentes a participar nas reuniões previstas por todo o país, incluindo a presença do seu secretário-geral, Mário Nogueira, em reuniões de três agrupamentos de escolas.
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Do blog do Azenha...
MST rebate as mentiras da Globo
Esclarecimentos sobre acontecimentos no Pará
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Em relação ao episódio na região de Xinguara e Eldorado de Carajás, no sul do Pará, o MST esclarece que os trabalhadores rurais acampados foram vítimas da violência da segurança da Agropecuária Santa Bárbara. Os sem-terra não pretendiam fazer a ocupação da sede da fazenda nem fizeram reféns. Nenhum jornalista nem a advogada do grupo foram feitos reféns pelos acampados, que apenas fecharam a PA-150 em protestos pela liberação de três trabalhadores rurais detidos pelos seguranças. Os jornalistas permaneceram dentro da sede fazenda por vontade própria, como sustenta a Polícia Militar. Esclarecemos também que:
1- No sábado (18/4) pela manhã, 20 trabalhadores sem-terra entraram na mata para pegar lenha e palha para reforçar os barracos do acampamento em parte da Fazenda Espírito Santo, que estão danificados por conta das chuvas que assolam a região. A fazenda, que pertence à Agropecuária Santa Bárbara, do Banco Opportunity, está ocupada desde fevereiro, em protesto que denuncia que a área é devoluta. Depois de recolherem os materiais, passou um funcionário da fazenda com um caminhão. Os sem-terra o pararam na entrada da fazenda e falaram que precisavam buscar as palhas. O motorista disse que poderia dar uma carona e mandou a turma subir, se disponibilizando a levar a palha e a lenha até o acampamento.
2- O motorista avisou os seguranças da fazenda, que chegaram quando os trabalhadores rurais estavam carregando o caminhão. Os seguranças chegaram armados e passaram a ameaçar os sem-terra. O trabalhador rural Djalme Ferreira Silva foi obrigado a deitar no chão, enquanto os outros conseguiram fugir. O sem-terra foi preso, humilhado e espancado pelos seguranças da fazenda de Daniel Dantas.
3- Os trabalhadores sem-terra que conseguiram fugir voltaram para o acampamento, que tem 120 famílias, sem o companheiro Djalme. Avisaram os companheiros do acampamento, que resolveram ir até o local da guarita dos seguranças para resgatar o trabalhador rural detido. Logo depois, receberam a informação de que o companheiro tinha sido liberado. No período em que ficou detido, os seguranças mostraram uma lista de militantes do MST e mandaram-no indicar onde estavam. Depois, os seguranças mandaram uma ameaça por Djalme: vão matar todas as lideranças do acampamento.
4- Sem a palha e a lenha, os trabalhadores sem-terra precisavam voltar à outra parte da fazenda para pegar os materiais que já estavam separados. Por isso, organizaram uma marcha e voltaram para retirar a palha e lenha, para demonstrar que não iam aceitar as ameaças. Os jornalistas, que estavam na sede da Agropecuária Santa Bárbara, acompanharam o final da caminhada dos marchantes, que pediram para eles ficarem à frente para não atrapalhar a marcha. Não havia a intenção de fazer os jornalistas de “escudo humano”, até porque os trabalhadores não sabiam como seriam recebidos pelos seguranças. Aliás, os jornalistas que estavam no local foram levados de avião pela Agropecuária Santa Bárbara, o que demonstra que tinham tramado uma emboscada.
5- Os trabalhadores do MST não estavam armados e levavam apenas instrumentos de trabalho e bandeiras do movimento. Apenas um posseiro, que vive em outro acampamento na região, estava com uma espingarda. Quando a marcha chegou à guarita dos seguranças, os trabalhadores sem-terra foram recebidos a bala e saíram correndo – como mostram as imagens veiculadas pela TV Globo. Não houve um tiroteio, mas uma tentativa de massacre dos sem-terra pelos seguranças da Agropecuária Santa Bárbara.
6- Nove trabalhadores rurais ficaram feridos pelos seguranças da Agropecuária Santa Bárbara. O sem-terra Valdecir Nunes Castro, conhecido como Índio, está em estado grave. Ele levou quatro tiros, no estômago, pulmão, intestino e tem uma bala alojada no coração. Depois de atirar contra os sem-terra, os seguranças fizeram três reféns. Foram presos José Leal da Luz, Jerônimo Ribeiro e Índio.
7- Sem ter informações dos três companheiros que estavam sob o poder dos seguranças, os trabalhadores acampados informaram a Polícia Militar. Em torno das 19h30, os acampados fecharam a rodovia PA-150, na frente do acampamento, em protesto pela liberação dos três companheiros que foram feitos reféns. Repetimos: nenhum jornalista nem a advogada do grupo foram feitos reféns pelos acampados, mas permaneceram dentro da sede fazenda por vontade própria. Os sem-terra apenas fecharam a rodovia em protesto pela liberação dos três trabalhadores rurais feridos, como sustenta a Polícia Militar.
MOVIMENTOS DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA - PARÁ
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Sobre este assunto reproduzo texto do jornalista Osvaldo da Costa, publicado pelo Conversa Afiada:
Não se trata de cobertura dos fatos, se trata de um ataque à consciência dos telespectadores
Na noite de 19 de abril o programa de variedades Fantástico, da Rede Globo, apresentou uma suposta reportagem sobre um conflito ocorrido numa fazenda do Pará, envolvendo “seguranças” (o termo procura revestir de legalidade a ação de jagunços) da fazenda do banqueiro Daniel Dantas e militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Só pude descobrir que se tratava de propriedade do banqueiro processado por inúmeros crimes e protegido por Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, após ter vasculhado algumas páginas na internet em busca de meu direito de escutar o outro lado da notícia, a versão dos fatos dos sem terra, pois na reportagem eles aparecem como invasores, baderneiros, seqüestradores da equipe de reportagem da Rede Globo, assassinos em potencial, e ao final, corpos de militantes aparecem baleados no chão, agonizantes, sangrando, sem nenhum socorro, e a reportagem não fornece nenhuma informação sobre o estado de saúde das vítimas.
Sem ter acesso às causas do conflito, e a nenhum dos dois lados envolvidos, o telespectador se vê impelido a acompanhar o julgamento que o narrador da reportagem e a câmera nos sugere. No caso, tendemos a concordar com a punição dada aos desordeiros: “que sangrem até morrer!”, ou “quem mandou brincar com fogo?!” podem ser algumas das bárbaras conclusões inevitáveis a que os telespectadores serão levados à chegar.
Nós, em nossas casas, consumidores do que a televisão aberta nos apresenta, não temos direito ao juízo crítico, porque o protocolo básico das regras do jornalismo não é mais cumprido. Nós somos atacados em nosso direito de receber informações e emitir julgamentos, nós somos saqueados por emissoras privadas que mobilizam nosso sentimento de medo, ódio e desprezo, para em seguida nos exigir sorrisos com a próxima reportagem.
Como um exercício de manutenção da capacidade de reflexão, precisamos nominar esse tipo de ataque fascista com os termos que ele exige. A ilusão de verdade deve ser desmontada, a suposta neutralidade deve ser desmascarada, caso a caso, na medida de nossas forças.
Seguem questionamentos à reportagem, com o intuito de expor o arbítrio de classe da Rede Globo, para que esse texto possa endossar a documentação que denuncia a irregularidade das emissoras privadas e protesta contra a manutenção de concessões públicas para empresas que não cumprem com as leis do setor.
1º) Por que a Globo protege Dantas? Por que a emissora não tornou evidente que as terras pleiteadas pelo MST para Reforma Agrária são de Daniel Dantas? Qual o grau de envolvimento da emissora nas manobras ilícitas do banqueiro?
2°) Por que o MST não foi escutado na reportagem? Quais os motivos do movimento para decidir ocupar aquela fazenda?
3°) As imagens contradizem os fatos. A câmera da equipe de reportagem aparece sempre posicionada atrás dos seguranças da fazenda, e nunca à frente dos sem terra. E vejam informação da Agência Estado: “A polícia de Redenção informou a Puty [Cláudio Puty, chefe da Casa Civil do governo do Pará] não ter havido cárcere privado de jornalistas e funcionários da Agropecuária Santa Bárbara, pertencente ao grupo do banqueiro Daniel Dantas e que tem 13 fazendas invadidas e ocupadas pelo MST. Os jornalistas, porém, negam a versão da polícia e garantem que ficaram no meio do tiroteio entre o MST e seguranças da fazenda” (http://br.noticias.yahoo.com/s/19042009/25/manchetes-pm-desarmar-mst-segurancas-no.html). Quer dizer, nem mesmo os grandes jornais conservadores estão fazendo coro com a cobertura extremamente parcial da Rede Globo.
4°) Ocorreu um tiroteio mesmo? Só aparecem os jagunços da fazenda atirando, e com armas de calibre pesado. E a imagem dos feridos mostra os sem terra baleados e um jagunço de pé, com pano na cabeça, possivelmente contendo sangramento de ferimento não causado por arma de fogo, dado o estado de saúde do homem.
5º) Por que os feridos não são tratados com o mesmo direito à humanidade que as vítimas de classe média da violência urbana? Eles não têm nomes? O que aconteceu com eles? Algum morreu? Quem prestou socorro? Em que hospital estão? Por que essas informações básicas foram omitidas?
6°) Por que mostrar como um troféu a agonia de seres humanos sangrando no chão, sem nenhum socorro?
Osvaldo da Costa
osvaldodacosta@gmail.com
segunda-feira, 20 de abril de 2009
A epidemia de crack no RS
O problema tem tantas dimensões que é difícil começar. Mas eis um bom ponto de partida: o problema é nosso, de diversas maneiras.
O problema diz respeito às pessoas que estão nos nossos círculos de amor e amizade, e me parece uma omissão cruel que algo tão grande como essa epidemia pleonasticamente social de crack seja dissimulada como problema pessoal ou íntimo de algumas famílias e amigos. Conto uma anedota dolorosa. É anedota porque ouvi de segunda mão, o que já indica a minha distância em relação ao fato. Um dos meus amigos de infância foi recolhido ao Presídio Central por tráfico de crack. Trata-se de um adulto que vive uma vida confortável, pai de família, profissional competente de classe média. Reza a anedota que, quando sua mãe foi buscá-lo ao ser solto, ele não queria sair, pois se dizia em casa no presídio. Em casa. É uma degradação que me dói bastante, seja pelo amigo, seja pelos outros velhos amigos em situação parecida.
O problema diz respeito à moralidade. Em alguns casos, o que temos é um indivíduo que chegou a ser um adulto autoconsciente que se autodetermina, conhecendo o impacto das alternativas que escolhe, mas não é mais. No passado, esses adultos hoje viciados em crack escolheram fumar a pedra, mas após a quarta ou sexta pedra seu poder de escolha praticamente sumiu, pois foi muitíssimo mitigado. Claro, esses adultos são responsáveis pelos seus atos e suas consequências, ao menos se sabiam de tais consequências. Caso não soubessem, deveriam saber, mas... nós, a sociedade, estamos informando adequadamente as pessoas, sejam essas adultos ou crianças? Qual o impacto das informações que fornecemos, se as fornecemos, ante o impacto da ainda existente glamurização do vício? Nada tenho contra tal glamurização, desde que fique claro, a todos, que se trata de uma grande idiotice, de uma tolice que não vale a pena. Mas, estamos deixando isso bem claro?
Ainda quanto à moralidade, há outras questões graves e importantes. Em certo sentido, o dependente não é independente, pois seu poder de escolher ser dependente ou não da pedra praticamente evaporou-se. Mas, se não há tal autonomia, o que dizer dos atos praticados pelos dependentes da pedra? São atos imorais? Eu acho que são imorais caso o início do consumo da pedra tenha sido o ato de um adulto informado das consequências. Mas, o que dizer quando se trata de uma criança sem informação alguma? Acho que aqui não há responsabilidade. Isso é importante, pois não são poucos os os infantes dependentes de crack.
Quanto à legalidade, as coisas são diferentes. Tribunais cuidam do que dizem as leis positivas, não dos princípios e escolhas morais. Não sou especialista no assunto, então o que digo é de pouco valor. Eis meu palpite: nosso problema não é falta de leis, mas sim falta de implementação de estruturas já previstas nas nossas leis. Todas essas estruturas cabem na rúbrica vaga do "social". Algumas têm a ver com o sistema penal, mas as mais importantes têm a ver com educação e saúde.
Quanto à responsabilidade do problema, trata-se de um problema social que precisa ser abordado pela sociedade como um todo. Quanto às decisões, não pode ser um problema do governo estadual, pois é algo sério demais para ser deixado nas mãos de quem se mostra tão inábil e incompetente. Nós, de baixo para cima, precisamos fazer os poderes e instituições se moverem. Não sei como isso pode ser feito, mas imagino que a informação do fato da epidemia, das suas dimensões e das suas consequências é um bom começo. E acho que há profissionais competentes da saúde e da segurança que podem nos orientar, dando início a um debate público bem informado, o qual seria um motor para as práticas administrativas e também para as práticas sociais, pois, repito, o problema é nosso.
Há ainda outros problemas. Um amigo que trabalha com saúde pública informa que a epidemia de crack também atinge policiais, e é preciso que esses dependentes possam tratar abertamente do seu vício, e que recebam o tratamento adequado. Creio que alcançar uma polícia mais justa e eficiente passa por tratar bem os policiais, e isso requer que eles possam se mostrar humanos e falíveis.
É por ter tantas dimensões, e por ser tão grave, que esse problema merece atenção. Focar nesse problema é mitigar vários outros problemas sociais, a começar pelo número de furtos, visto que muitos dependentes furtam de parentes ou transeuntes para consumir a pedra. E isso revela uma causa de furtos que pode ser mitigada, caso o problema do crack seja mitigado. É claro, a coisa é maior do que isso, e há muito mais envolvido. Trata-se de um problema que atinge ricos e pobres. Nas últimas semanas, pais de classe média têm atirado e mesmo matado seus filhos dependentes, o que me parece a dor das dores, e é uma dor nossa, dado o quadro total. Mas a coisa não é recente. Nas classes mais baixas é comum -- e, como também é comum, não é notícia -- que pais acorrentem seus filhos dependentes para protegê-los do vício. Eis, novamente, a questão moral. Alguém não está sendo um adulto independente que se autodetermina, seja por ser uma criança, seja por ter agido sob ignorância, seja por ter a capacidade de escolher fortemente mitigada, o que faz com que pessoas prendam esses dependentes às suas camas. Não estou dizendo que isso é certo, nem tenho certeza sobre a correção dessa descrição de tais fatos, mas sei que seria leviano descrever tal tipo de situação como um caso de cárcere privado, e nada mais. E, pelo que vi no documentário sobre a epidemia de crack exibido semana passada pela TVE-RS, sei que os policiais também têm tal conhecimento, o que indica que esses profissionais da segurança têm algo a nos ensinar.
Essa é uma batalha coletiva que precisa ser lutada pela sociedade, e acho que se lutássemos bastante conseguiríamos mitigar um pouco o problema, talvez controlá-lo em parte. Seria ingênuo querer vencer tal problema, erradicar o crack. Isso simplesmente não vai acontecer. Mas precisamos ao menos dar a cada um a chance de ser um adulto com poder de escolha efetivo, o qual é fruto da informação. E precisamos também, seja pelas pessoas, seja pela sociedade, investir na reabilitação e prevenção da reincidência dos dependentes da pedra, os quais somam quase 50 mil pessoas no RS.
Créditos: César