sábado, 23 de maio de 2009

Azenha explica, de forma didática, aspectos da crise mundial...

Um problema de U$ 681 trilhões: Porque a crise financeira persiste e o dólar começa a derreter

por Luiz Carlos Azenha

Conheço gente que torce o nariz ao ouvir falar da crise financeira internacional. Gente que não entende nada de economia, nem do linguajar aparentemente complexo usado pelos comentaristas picaretas da mídia corporativa brasileira.

Em primeiro lugar é preciso considerar que "eles" usam um linguajar complicado com o objetivo de PARECER mais inteligentes, mais preparados ou melhor conectados do que você, caro leitor. Daí as constantes referências a "falei ontem com o ministro fulano" ou "estive hoje com o executivo sicrano". É tudo uma tentativa de fazer com que você ouça tudo calado e aceite sem questionar.

Eles são AUTORIDADE. Você, um mané qualquer que está diante do altar (a tela da TV ou o jornal). Quando eles pontificam no jornal, na TV, no rádio, nunca deixam claro que estão expressando apenas um ponto-de-vista, nem revelam que esse ponto-de-vista resulta de uma visão de mundo muito particular. Em geral nossos comentaristas econômicos são neoliberais de carteirinha tanto quanto os patrões e refletem a visão de que tudo o que é relacionado ao estado é uma droga e tudo o que é ligado à iniciativa privada é maravilhoso. A não ser que o estado seja o estado de José Serra: esse, sim, é O estado, que pode cometer um erro ou outro no varejo, mas em geral SÓ ACERTA.

É por isso que admiro o Mike Whitney, do site estadunidense Counterpunch. Com ele não tem BS, o popular bullshit. Ele corta o papo furado dos analistas econômicos e enfia a faca direto no coração dos assuntos que pretende abordar. Ele não esconde sua posição no espectro político. É um cara de esquerda. E a Miriam Leitão? É de direita? É liberal? É patronal?

Na análise que reproduzo abaixo, o Whitney fala dos negócios que considera o veneno do mercado financeiro internacional, conhecidos como CDS, ou credit default swaps. Não se assuste com o nome. Grosseiramente, bem grosseiramente, é a mesma coisa que o "vale" emitido pela vendinha da dona Maria quando falta troco, só que com um nome pomposo e com a "garantia" das melhores firmas dos Estados Unidos. Leia o artigo do Whitney, com tradução do Viomundo e algumas explicações minhas (do Azenha) entre colchetes:

May 22-24, 2009
Credit Default Swaps
O veneno do sistema

por MIKE WHITNEY
, no Counterpunch

Em pouco mais de uma década, os negócios com os Credit Default Swaps (CDS) incharam em uma indústria multibilionária que mudou o caráter fundamental do sistema financeiro e aumentou o risco sistêmico em várias ordens de magnitude.

[Lembre-se, é como se a vendinha da esquina da sua casa, em vez de dar o troco, resolvesse emitir "vales" de forma adoidada para toda a clientela, com a garantia de que eles seriam honrados a qualquer momento, em troca de mercadoria]

Os CDS, que foram criados originalmente para reduzir o potencial de perdas com dívidas não honradas, se tornaram uma vaca leiteira para os grandes bancos, gerando mega-lucros. No caso da seguradora AIG, as perdas com as transações em CDS já custaram 150 bilhões de dólares ao povo americano e, ainda assim, não houve uma tentativa séria do Congresso de baní-los de uma vez por todas. Pior ainda, os CDS são a causa-raiz de um risco sistêmico que liga centenas de instituições financeiras, numa conexão letal.

[As vendinhas de outros bairros também decidiram emitir "vales", em vez de devolver o troco]

Os contratos de CDS não passam por um mercado centralizado, nem são regulamentados pelo governo. Isso significa que ninguém sabe se quem emite os CDS pode pagar o que promete ou não. É um esquema de pirâmide de primeira ordem. A AIG [a maior seguradora dos Estados Unidos] é um bom exemplo de companhia que explorou esse sistema e depois fugiu com alguns milhões em lucros. Ela vendeu muito mais CDS do que poderia cobrir e então -- quando a dívida começou a acumular até os olhos -- correu para o Fed [o Banco Central americano] em busca de um resgate multibilionário.

[Quando os clientes das vendinhas foram resgatar os vales, trocar os papéis por mercadoria, as vendinhas de sua cidade ficaram sem mercadoria. E correram em busca de ajuda do governo para poder honrar os compromissos]

O presidente do Banco Central, Ben Bernanke, mais tarde se disse furioso com o fiasco da AIG, mas isso não o impediu de jogar as perdas nas costas do público, colocando o contribuinte como garantidor das apostas ruins da AIG. Tenha em mente que a AIG estava vendendo papel com garantia de capital ZERO, uma atividade equivalente a falsificar dinheiro. Ainda assim, ninguém foi indiciado ou processado pelo caso. Fraudar clientes e empurrar a conta para o Zé da Silva é uma regra de Wall Street.

[O governo Lula -- não seria o governo Serra, certo? -- pegou o dinheiro que você paga em impostos, comprou mercadoria e despachou para as vendinhas para tapar o rombo. Mas nada fez para ACABAR COM A EMISSÃO DE VALES]

Os CDS formaram uma teia que cobre todos os cantos do sistema financeiro, juntando bancos e outras instituições financeiras de uma forma que, se um falir, outros vão junto. É isso o que significa o "muito grande para falir", um eufemismo que se refere ao emaranhado de negócios com esses papéis que se espalhou -- apesar do risco -- de forma que um punhado de banqueiros pode acumular lucros obscenos. Os CDS se tornaram a galinha dos ovos de ouro do cartel de bancos; uma locomotiva geradora de lucro sem risco que transfere riqueza pública para especuladores de alto risco. Não fosse pelos lucros turbinados nas transações com os derivativos (o CDS é um dos derivativos), muitos dos bancos já teriam falido.

[Com a garantia de que o governo vai ajudar sempre que houver problemas, os donos das vendinhas continuam a emitir vales em vez de dar o troco. Como os clientes APARENTEMENTE não perderam nada, eles continuam aceitando os vales. Mal sabem os clientes que, na verdade, é o dinheiro do imposto deles que está sustentando a emissão de vales]

Do dr. Ellen Brown:

"Os CDS são o derivativo mais comum. São apostas entre duas partes se uma companhia vai ou não honrar os seus títulos. Num negócio típico, o "comprador de proteção" lucra se a companhia não honrar seus compromissos dentro de um certo período de tempo, enquanto o "vendedor de proteção" recebe pagamentos periódicos por assumir o risco".

[É como se as vendinhas apostassem entre elas e com terceiros se serão ou não capazes de honrar os vales que emitiram. Mas, lembre-se, elas fazem isso certas de que, se der confusão, poderão contar com o resgate do dinheiro público]

"Em dezembro de 2007, o Banco de Compensação Internacional (conhecido pela sigla BIS, em inglês) estimou em 681 trilhões de dólares os negócios com derivativos -- dez vezes mais o PIB de todos os países do mundo combinados.

(fonte: "Credit Default Swaps: Evolving Financial Meltdown and Derivative Disaster Du Jour", Dr. Ellen Brown, globalresearch.ca)

Os números são de confundir a cabeça, mas são reais, assim como as perdas, que eventualmente serão empurradas para o contribuinte. Sobre isso há certeza.

O secretário do Tesouro Timothy Geithner recentemente pediu maior regulamentação, mas é apenas relações públicas. Geithner é um representante da indústria (bancária) cuja maior qualificação para o cargo foi sua lealdade aos banqueiros. Ele não tem qualquer intenção de aumentar a regulamentação ou apertar a supervisão. Toda a conversa sobre mudança é uma forma de dar satisfações ao público enquanto ele tenta sabotar as tentativas do Congresso de re-regulamentar o mercado de derivativos.

Nas próximas semanas, Geithner provavelmente vai anunciar uma série de "novos produtos" da reforma, acompanhados do tradicional discurso sobre mercados livres, inovação e da "necessidade de proteger o interesse público". É tudo farsa. Afortunadamente, o pobre Geithner é o pior vendedor do mundo, o que significa que cada palavra do que ele disser será analisada por uma legião de blogueiros tentando entender o que ele quis dizer exatamente. Vai ser difícil para ele jogar um cobertor sobre os olhos do público novamente.

[Nos Estados Unidos, ninguém leva mais a sério os comentaristas econômicos da TV ou dos jornais, com algumas exceções. A mídia do país já se deslocou completamente para a internet, pelo menos aquela que é levada a sério em Wall Street. Os blogs do Wall Street Journal, por exemplo, são frequentados por analistas de mercado que, usando pseudônimos, contam todos os podres dos bastidores e deixam nuas as "otoridades" do governo]

Os swaps [operações que envolvem os CDS] se originaram nos anos 80 como forma de as instituições financeiras se garantirem contra variações repentinas de preços ou flutuações das taxas de juros. Mas os derivativos tomaram um caminho diferente quando o Congresso aprovou o Ato de Modernização do Mercado Futuro de 2000, no governo Clinton.

A lei causou uma grande mudança na forma como os CDS eram usados. A indústria descobriu fórmulas para expandir a emissão de papéis através de complexos instrumentos apoiados em quantidades cada vez menores de capital. Tudo para maximizar os lucros com dinheiro emprestado. Os CDS eram o veículo perfeito; afinal, sem qualquer regulamentação, é impossível saber quem tem o dinheiro para cobrir os papéis. Além disso, apostar no valor de papéis para os quais você não corre risco de perda é divertido; é como fazer uma apólice de seguro da casa de um rival enquanto você espera que ela queime.

Ainda assim, limpar o sistema financeiro não significa acabar completamente com todos os CDS. Existe uma solução e ela não é complicada. É preciso uma estrita regulamentação e supervisão de todos os emissores de CDS para ter certeza de que todos estão suficientemente capitalizados; e é preciso ter uma plataforma central onde são feitos os negócios. Só isso. (Nota do Whitney: Não pode ser a Bolsa Intercontinental, ICE, que é muito conectada aos bancos)

[Ou seja, o governo deveria regulamentar a emissão de vales das vendinhas para ter certeza de que todas tem estoque ou capital para comprar estoque e, portanto, honrar os vales emitidos.]

Geithner está tentando torpedear a reforma nascente ao propor consertos que preservam o monopólio dos bancos na emissão de derivativos. É o carregador de água dos banqueiros. Agora podemos ver porque a indústria financeira é a maior contribuinte das campanhas políticas.

"Muito grande para falir" é um slogan de relações públicas, mas acima de tudo é um mito. Nenhuma instituição financeira é muito grande para sofrer intervenção do governo; para que o governo leiloe os seus bens desvalorizados, para que mude os gerentes e reestruture a dívida. Isso já foi feito uma vez e pode ser feito de novo sem danificar o sistema como um todo.

O problema real é como separar as instituições financeiras saudáveis das insolventes, agora que o sistema está amarrado em uma rede complexa de negócios. Os CDS formam a maior parte dessas transações, o que os torna a principal fonte de risco sistêmico. Para consertar o problema, os contratos atuais deveriam ser desfeitos ou vencer sem renovação, enquanto os novos contratos deveriam ser fechados através de uma central na qual os inspetores do governo tenham poder de decidir se os vendedores estão devidamente capitalizados ou não.

[É o governo, não o dono da vendinha, que deveria decidir se a vendinha pode ou não emitir novos vales. Parece óbvio, mas isso tiraria dos banqueiros todas as "facilidades" para ganhar dinheiro mole]

A solução do Fed -- de garantir todo o sistema financeiro para evitar um novo fiasco como o da Lehman Brothers -- não ataca o problema fundamental; só coloca mais pressão sobre o dólar, que já começa a ceder. A questão agora é se o Congresso vai tirar a cabeça da areia por um tempo suficientemente longo para fazer o trabalho em nome do povo, aprovando leis para re-regulamentar o sistema. Existe uma saída, mas ela requer ação, e rápida. Sem uma correção de rota, a perspectiva de um derretimento do mercado de derivativos aumenta a cada dia.

Mike Whitney mora no estado de Washington. Responde a e-mails no fergiewhitney@msn.com

Occupation 101: vozes da maioria silenciada...

É um documentário que aborda o conflito Israelo-Palestino dirigido por Sufyan Omeish e Abdallah Omeish, e narrado por Alison Weir, fundadora do If Americans Knew. O filme discute os eventos a partir do surgimento do movimento Sionista até a segunda Intifada, a limpeza étnica da Palestina, as relações entre Israel e Estados Unidos e as violações dos direitos humanos e abusos cometidos por colonos e soldados israelenses contra os Palestinos.


Um em cada quatro brasileiros tem preconceito contra pessoas LGBT

Um em cada quatro brasileiros tem preconceito contra pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneras (LGBT) e assume sua rejeição às identidades que compõem esta população, revelou a pesquisa “Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil: intolerância e respeito às diferenças sexuais”, realizada pela Fundação Perseu Abramo em pareceria com a Fundação Rosa Luxemburgo Stiftung, e apresentada pelo sociólogo da USP Gustavo Venturi, no Rio de Janeiro, no último dia 15, durante lançamento da pesquisa na Academia de Polícia do Rio de Janeiro (ACADEPOL).

O estudo foi realizado entre os dias 7 e 22 de junho de 2008 em 150 municípios brasileiros. Foram feitas 2014 entrevistas domiciliares, com aplicação de questionários estruturados, somando 92 perguntas. A primeira delas buscou medir o grau de aversão ou intolerância a diversos grupos sociais, como gente que não acredita em Deus (42%), usuários de drogas (41%), garotos de programa (26%), transexuais (24%), travestis (22%), fanáticos religiosos (22%), ex-presidiários (21%), gente muito rica (20%), lésbicas (20%), gays (19%), pessoas com Aids (9%), judeus (11%), muçulmanos (10%) e índios (2%), entre outros.

A partir daí a pesquisa centrou-se no tema do preconceito contra LGBTs, a partir de conhecidas afirmações preconceituosas, formuladas para medir o grau de concordância ou discordância dos entrevistados:

84% concordaram que “Deus fez o homem e a mulher com sexos diferentes para que cumpram seu papel e tenham filhos

58% concordaram que “A homossexualidade é um pecado contra as leis de Deus

38% concordaram que “Casais de gays ou de lésbicas não deveriam criar filhos

29% concordaram que “Quase sempre os homossexuais são promíscuos

29% concordaram que “A homossexualidade é uma doença que precisa ser tratada

26% concordaram que “A homossexualidade é safadeza e falta de caráter

23% concordaram que a “Mulher que vira lésbica é porque não conheceu um homem de verdade

21% concordaram que “Os gays são os principais culpados pelo fato da Aids estar se espalhando pelo mundo” (neste último, embora 21% das pessoas entrevistadas tenham concordado plenamente, outros 12% concordaram em parte, o que alcança um índice de concordância de 33%. Há também um aumento em relação às outras perguntas se levado em conta os que afirmaram “concordar em parte”).

A pesquisa mediu ainda o grau de tolerância para a convivência com gays e lésbicas nas relações de trabalho e vizinhança, nas relações pessoais, com médicos e com professores.

Ao medir o grau de tolerância entre os pais, 72% afirmaram que não gostariam de ter um filho gay, mas procurariam aceitar, enquanto 7% afirmaram que o expulsariam de casa.

O estudo enfocou ainda o preconceito assumido versus o chamado preconceito velado. Embora entre 69% e 72% das pessoas entrevistadas tenham afirmado não ter preconceito contra gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, 26% admitiram preconceito contra o primeiro grupo, 27% contra o segundo e o terceiro e 29% contra os dois últimos.

Ao medir o índice de homofobia por sexo (um para cada 3 homens e uma para cada 5 mulheres), o estudo dá conta de que os homens são mais homofóbicos do que as mulheres.

Entre os LGBTs, foi perguntado como estes se sentem em relação a sua identidade sexual: 65% afirmaram se sentir à vontade, 26% orgulhosos. Perguntados se alguma vez já sofreram discriminação, 22% afirmaram já terem sido discriminados pelos pais, 27% na escola, 31% na família, 24% por amigos, 11% por policiais na rua, 9% por policiais na delegacia e 7% por professores.

Para o antropólogo Sergio Carrara (IMS/CLAM), a pesquisa pode ser lida como uma espécie de termômetro de como as cosias estão acontecendo no Brasil atual. “Os dados revelam a presença forte da homofobia, mas também revela uma sociedade mais tolerante. Podemos olhar esses dados com um pouco mais de otimismo”, analisou.

Leia mais sobre este tema:

- Orientação sexual em MS
- Entrevista: André Fischer fala da mídia e da comunidade gay

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Rediscutindo exploração ambiental







Marcelo Pompêo
- Correio da Cidadania

A descabida exploração ambiental à luz do dia será mais escancarada?

Hoje vivemos uma avalanche de discussões sobre problemas ambientais, passando pela necessidade de proteção da mata atlântica e da Amazônia, entre outros biomas brasileiros, mas também relativamente à destruição da camada de ozônio, ao efeito estufa e aos efeitos das mudanças climáticas globais na vida de todos nós. Outras discussões debatem se há propriedade ou prioridade para instalar grandes usinas hidroelétricas na Amazônia ou se o mais indicado seria instalar PCH (pequenas centrais hidroelétricas) ou ainda se a troca de motor e gerador das atuais hidroelétricas em funcionamento traria ganho na produção de energia e refletiria em baixo impacto ambiental, pois não seria necessária a construção de novas barragens.

Ainda para a região Amazônica temos o eterno debate relacionado aos problemas decorrentes das queimadas, da ação devastadora da agricultura e da pecuária extensiva e, refletindo na perda de área da floresta em pé e de diversidade biológica, mais recentemente, sobre o problema da emissão de carbono liberado pelas queimadas, entre outros.

Há também inúmeras discussões sobre as significativas alterações na qualidade das águas, seja de lagos, rios e reservatórios em todo território nacional ou de nossos mares, com reflexo na biota e na redução dos usos prováveis desses recursos, passando pela redução da quantidade de água com qualidade para o uso mais nobre, o abastecimento público, principalmente próximo aos grandes centros urbanos. Relativo à água, também é premente ampliar a discussão sobre a necessidade de coletar, afastar e de fato tratar as águas residuárias domésticas que são lançadas indiscriminadamente nos corpos de água, causando inúmeros problemas de saúde pública e agravando o processo de eutrofização no Brasil. Para se ter uma idéia, o esgoto não tratado lançado nos corpos de água da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) é representativo a 10 milhões de habitantes.

Também estão na ordem do dia discussões sobre a ampliação da produção de álcool combustível derivado da monocultura da cana-de-açúcar e a produção do biodiesel. O intenso e descontrolado uso de agrotóxicos também preocupa, mas, para piorar, há proposta em curso no Conama (Conselho Nacional de Meio Ambiente) que, se aprovada, permitirá a aplicação direta de agrotóxicos em ambientes aquáticos para o controle do crescimento da fauna e flora.

Há sempre o polêmico uso da energia nuclear e seus resíduos tóxicos. Há também os organismos geneticamente modificados, em particular a falta de controle no seu uso nas diversas etapas da cadeia produtiva. E vai longe, pois a agenda de discussões e problemas ambientais é vasta.

Com base nesse pequeno histórico de problemas ambientais, todos concordam que o meio ambiente não suportará a continuidade de mais um século de exploração humana, nos moldes dos últimos cinqüenta anos, e algo deve ser feito. Assim, há calorosos debates sobre a necessidade de alterações na legislação ambiental brasileira para que ela seja menos permissiva. No entanto, na contramão, sob patrocínio do governo federal, alguns debatem sobre a necessidade de alterações na direção de reduzir as restrições ambientais para a instalação de qualquer empreendimento. Como justificativa, alegam que a redução nas restrições ambientais e nas exigências para as compensações ambientais agiria como um facilitador, pois permitiria maior rapidez na liberação de autorizações para o início das obras e de operação do empreendimento, contribuindo para ampliar a oferta de emprego e renda. Caso essa discussão em curso de fato se qualifique e reduza as restrições ambientais, e tudo indica que isso ocorrerá, será um estrondoso retrocesso na já fragmentada política ambiental brasileira patrocinado pelo governo Lula.

Água, ar e alimentos

A água, o ar e os alimentos devem ser considerados como recursos inalienáveis aos seres humanos e cada família deveria ser provida de uma quantidade digna desses itens para permitir a manutenção de sua vida com qualidade. Se privados de ar, em minutos morremos, mas, privados de uma porção adequada de água ou de alimento, podemos ser subjugados por décadas.

Além disso, há dificuldades em controlar o ar que respiramos; desta forma, é o único recurso ainda gratuitamente disponível. Ao longo dos séculos, paulatinamente os demais recursos foram apropriados por alguns poucos homens e hoje estão nas mãos de empresários e banqueiros e somente mediante pagamento são disponibilizados. A terra, seu subsolo e demais produtos naturais (fauna, flora e minerais) e os produtos trabalhados (indústria, agricultura e mineração etc.) pela grande massa de homens permanecem de poucos. Isso tem que mudar.

Especialistas em meio ambiente e o setor produtivo

As posições de inúmeros especialistas e técnicos em meio ambiente, tais como "pouco importa se os recursos ou serviços ambientais são fornecidos por empresas públicas ou privadas", ou "a questão central é quem vai pagar a conta quando o governo investir", ou ainda "somente o setor produtivo poderá trazer a melhor solução", devem ser analisadas com cautela.

Importa sim, principalmente quando o recurso ou serviço ambiental é ofertado por companhia privada. Esta última tem interesses próprios que seguem a lógica de mercado, pois o que importa não é a oferta em si necessária ou não do recurso ou serviço, mas o espectro dessa necessidade e a conseqüente obtenção do lucro rápido para poucos homens, suas famílias e alguns associados, que se sentem donos desses recursos e serviços ambientais. Para tanto, visando obter lucro, basta operar qualquer recurso ou serviço, independente do que representa e da sua necessidade objetiva.

Ao setor produtivo não interessa garantir a manutenção da vida ou a sua qualidade, o importante é a manutenção do lucro certo e imediato, mas para poucos. Quanto a pagar a conta, esta também é uma questão fundamental. Assim, os empresários querem operar só no que dá lucro e são avessos a qualquer forma de tributo, taxa ou regulamentação, pois interferem na ampliação do lucro. Captam água e energia elétrica, por exemplo, e usam nas suas atividades produtivas, mas não querem pagar nem pelo uso particular, pelo impacto ambiental gerado pelas obras necessárias para instalar toda estrutura para captar, produzir e distribuir água e energia elétrica e, posterior ao uso, não têm interesse em pagar pelo adequado descarte dos eventuais resíduos gerados em suas atividades produtivas.

Como se diz no popular, interessa somente o filé, e não cuidam do osso. Desta forma, fica garantido para toda sociedade, presente e futura, o passivo ambiental gerado pelo interesse de poucos. Reduzir as restrições ambientais ao estabelecimento de empreendimentos, como tem sido proclamado por ministros, governadores, secretários de estado e inúmeros empresários, vem a gosto da iniciativa privada, que vê nesses facilitadores a possibilidade de ampliar seus lucros e manter o domínio sobre esses recursos e serviços ambientais, deixando de lado importantes preocupações e ações que visem minimizar os impactos sobre os ecossistemas.

Portanto, não é o setor dito produtivo quem tem o interesse e as competências para atender a todos, principalmente sobre a manutenção da qualidade ecológica e da saúde de nossos ecossistemas. Quando este setor apresenta solução, é de momento e segue interesses particulares, almejando unicamente a manutenção ou ampliação do lucro.

Meio ambiente & políticas públicas

Ao se discutir o uso pelo homem dos recursos e serviços ambientais, o que deve vir em primeiro lugar é a política pública que definirá como, quando e por que esses recursos ou serviços serão utilizados e quem será o principal beneficiado, tanto durante o período de instalação do empreendimento e principalmente quando este já estiver em operação. É importante que se inclua na discussão o tema "quem pagará a conta" e qual a política que definirá as diferentes taxas atribuídas aos vários setores beneficiados pelo empreendimento.

Hoje, os detentores dos meio produtivos e do capital estão em postos chaves de decisão e, ao lado da falsa necessidade relativa aos inúmeros bens e serviços que produzem, reiterada pela televisão, jornais e revistas, passam a ser justamente os setores que ditam a agenda ambiental brasileira. Desta forma, as atuais políticas públicas são muito permissivas e sempre caminham na direção do lucro, da pouca regulamentação e da exploração ambiental sem preocupação com a sustentabilidade. Os recursos água e energia elétrica, por exemplo, são então prioritariamente empregados para atender aos interesses do capital e dos empresários.

Mas toda a facilitação hoje existente no Brasil ainda não satisfaz e o setor produtivo e o capital querem menor regulamentação visando ampliar as facilitações para explorar os recursos e serviços ambientais, sem dúvida agravando o quadro de exploração ambiental e os inúmeros problemas ambientais decorrentes dessa exploração mais permissiva. A recente alteração no regimento do Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente) do estado de São Paulo, ampliando de 8 para 12 o número de assinaturas dos Conselheiros para se avocar EIAs-RIMAs para exame pelo Conselho, pode ser compreendida como uma das ações facilitadoras em curso para permitir agilidade na instalação de empreendimentos no estado, particularmente a construção do trecho norte do Rodoanel, que passará em importantíssima área de manancial, o sistema Cantareira, que abastece cerca de 8,1 milhões habitantes da região metropolitana.

A ampliação das facilitações na exploração dos recursos e serviços ambientais caminha na contramão da sustentabilidade e se contrapõe a uma visão de mundo mais igualitária, onde "todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida" (*). Assim, é urgente trocar os atores que comandam a agenda ambiental brasileira e inverter as prioridades atendendo à maioria, mas em busca da sustentabilidade ambiental.

* Constituição da República Federativa do Brasil, Art. 225º, 1988.

Marcelo Pompêo é professor do Departamento de Ecologia da USP.

Contato: mpompeo@ib.usp.br

860 dias de sofrimento: Impeachment para extirpar o câncer que ameaça o RS

Para marcar os 860 dias de agonia do Rio Grande, seridores públicos, estudantes e movimentos sociais realizaram o enterro do governo Yeda Crusius. 860 velas foram distribuidas aos manifestantes que se deslocaram da sede do CPERS , na av. Alberto Bins, em direção ao palácio Piratini. Em frente ao palácio as velas foram dispostas em uma armação de madeira que formava a palavra "impeachment".

Numa noite amena, contrariando os primeiros ventos gelados do inverno riograndense e o clima nebuloso que normalmente cobre as imediações da praça da Matriz, os mais de 1000 manifestantes cantavam palavras de ordem como "ai, ai, ai, empurra a yeda que ela cai", "não tem dinheiro para educação, mas tem para comprar educação", e outras tantas mais ofensivas. Apesar dos motivos funebres, a juventude mostrou o seu diferencial, animando, cantando e pulando, como quem diz que quem tem de ter medo são outros. Quem tem de ter vergonha são aqueles que desviaram 44 milhões do Detran, os que estão encrencados nas operações Solidária e Rodin da Polícia Federal e nas denúncias de caixa 2 na campanha estadual de 2006. Eles são o câncer que ameaça o Rio Grande.
Foto: Hugo Scotte

Colorado - O Gigante Centenário - Especial [SPORTV]

Título Original: Colorado:O Gigante Centenário
Título Traduzido: Colorado:O Gigante Centenário
Gênero: Esportivo
Duração: 53min
Ano de Lançamento: 2009
Direção: SPORTV

A Festa dos cem anos do Internacional chega ao SporTV através de uma homenagem do canal ao clube. Colorado – O Gigante Centenário relembra os momentos mais marcantes da trajetória do time. O programa conta a história do Internacional desde a criação do clube ao porquê da cor vermelha, com destaque para entrevistas especiais. A atração elege os cinco melhores jogadores e os gols mais importantes.

Tamanho: 542 MB
Resolução: 640 x 480
Frame Rate: 23 Fps
Formato: TVRip
Qualidade de Áudio: 10
Qualidade de Vídeo: 10
Vídeo Codec: XviD
Áudio Codec: Mp3
Idioma: Português - BR
Créditos: SEVEN downloads

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Grande Chavez...

Chávez anuncia estatização de siderúrgicas


Poucos dias após a estatização de parte do setor de serviços petrolíferos, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou, nesta quinta-feira, a nacionalização de cinco empresas do setor siderúrgico e da maior produtora de cerâmica do país. Segundo ele, a iniciativa é no sentido de avançar na construção de novo complexo industrial.



''O setor deve ser nacionalizado, não há nada o que discutir'', afirmou Chávez durante um ato público com trabalhadores metalúrgicos no Estado de Bolívar (sudeste do país), transmitido em cadeia nacional de rádio e TV.

Com a decisão, as empresas Matesi, Comsigua, Venprecar, Orinoco Irons e Tubos Tavsa devem passar ao controle do Estado nos próximos dias.De acordo com representantes dos sindicatos dessas empresas, há pelo menos seis meses os salários dos funcionários estão atrasados e a produção, praticamente paralisada, razão pela qual teriam pedido a intervenção do Estado.

''Estas empresas têm que estar sob controle dos operários (...) faz tempo que deveríamos ter feito. Isso é justiça social'', disse Chávez, sob aplausos dos operários. Além das siderúrgicas, também será nacionalizada a fábrica de cerâmicas Carabobo, a maior empresa do ramo no país.

De acordo com os sindicatos venezuelanos, a Matesi pertence ao consórcio argentino-italiano Teching, que era também proprietário da Siderúrgica do Orinoco (Sidor), a maior indústria do ramo na região andina, nacionalizada no ano passado e pela qual o governo pagará US$1,97 bilhão.

Já as empresas Orinoco Irons e Venprecar pertencem a um consórcio do qual faz parte a empresa anglo-australiana BHP Billiton, uma das maiores mineradoras do mundo.

Com essas nacionalizações, somadas à expropriação de 73 companhias prestadoras de serviços petrolíferos, no início do mês, o Estado venezuelano assume o controle de quase todos os setores da economia considerados estratégicos. Desde 2007, foram nacionalizadas as companhias de telecomunicações e de eletricidade, a faixa petrolífera do rio Orinoco e três empresas de cimento.

Em maio do ano passado, o governo já havia decretado a nacionalização da siderúrgica Ternium-Sidor. Na avaliação de Chávez, aumentar o papel do Estado sobre o setor produtivo do país, ao reverter as privatizações realizadas pelos governos anteriores, é um dos caminhos para consolidar o chamado socialismo do século 21.

Nos próximos dias, poderá ser concretizada a estatização de uma das maiores instituições financeiras do país, o Banco da Venezuela, que pertence ao grupo espanhol Santander.

Créditos: Vermelho

Renato Andrade - A Viola e Minha Gente (1999)




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quinta-feira, 21 de maio de 2009

As massas, o espontaneísmo e o voluntarismo

As massas, o espontaneísmo e o voluntarismo




Wladimir Pomar - Correio da Cidadania

Há pouco tempo escrevi que o problema da ultra-esquerda é que ela continua supondo que são os partidos e os governos que fazem as massas trabalhadoras se movimentarem, para o bem ou para o mal. Desconsidera que as massas possuem sua própria dinâmica de aprendizado. E que são capazes de mobilizar-se por conta própria, quando não estão mais dispostas a aceitar determinadas políticas. É por isso que o governo Lula, o PT e a ultra-esquerda não são capazes de mobilizar as classes trabalhadoras do Brasil para algo além do que elas pretendem no momento.

Para uns, o parágrafo acima seria uma "defesa desinibida do espontaneísmo". Deduzem daí que, "se as massas trabalhadoras se movimentam por conta própria", isso constituiria uma defesa da tese de que os partidos e os governos populares devem adaptar-se "passivamente a esse nível de mobilização espontânea das massas trabalhadoras", já que "eles não teriam nem a possibilidade, nem a responsabilidade de interferirem no nível de consciência, organização e mobilização das massas trabalhadoras".

Sua conclusão: a pretexto de combater o voluntarismo, aquele parágrafo abdica da "responsabilidade que têm os setores mais conscientes e organizados dos trabalhadores de ajudar os demais a avançarem" e "apaga o papel que determinados líderes, partidos e governos influentes podem desempenhar em frear e, até mesmo reverter, a conscientização, a organização e a luta dos trabalhadores".

Naquele parágrafo, fiz apenas três afirmações. Primeiro, as massas possuem sua própria dinâmica de aprendizado. Segundo: as massas são capazes de mobilizar-se por conta própria, quando não estão mais dispostas a aceitar determinadas políticas. Terceiro: ninguém é capaz de mobilizar as massas para algo além dos que elas pretendam no momento.

Em nenhum trecho o parágrafo ou o artigo tratou de como os partidos e os governos populares devem atuar diante da dinâmica de aprendizado e mobilização das massas. Assim, ao invés de discutirem as afirmações do parágrafo, que são realmente as básicas do artigo, os críticos preferem discutir suas próprias suposições. E atacam ao autor pelo que não disse.

Não discutem se as massas possuem ou não uma dinâmica própria de aprendizado, e que importância tem isso para o trabalho cotidiano dos partidos populares. Não questionam se as massas são ou não capazes de mobilizar-se por conta própria, quando não estão mais dispostas a aceitar determinadas políticas, e que importância tem isso para a luta por reformas estruturais, para não falar da revolução social. Nem respondem se alguém é ou não capaz de mobilizar as massas para algo além do que elas pretendam no momento, e que importância isso tem para a tática e a estratégia dos partidos populares.

Como todos os voluntaristas, não querem discutir essas questões. Porque, para eles, tudo depende dos setores mais avançados, dos líderes, partidos e governos "ajudarem" os setores mais atrasados a avançarem, interferindo em seu nível de conscientização, organização e luta. E, quando líderes, partidos ou governos não agem sobre as massas como os voluntaristas pretendem, isso representa, para eles, algo parecido a uma traição.

Se isso fosse apenas um debate literário ou teórico, talvez não valesse a pena perder tempo com ele. No entanto, a história brasileira tem um vasto cabedal de experiências em que o voluntarismo foi a visão predominante entre as forças populares, causando imensos prejuízos à conscientização, organização e luta das massas. Uma análise da história brasileira do século 20 mostra que o voluntarismo causou muito mais prejuízos que o espontaneísmo, embora este também deva ser combatido.

A questão básica para superar o voluntarismo, e também o espontaneísmo, consiste em discutir o papel das massas na história, sua dinâmica de aprendizado e mobilização. A história está cheia de exemplos de mobilizações massivas, em todas as épocas e em todas as regiões do planeta, incluindo o Brasil, como forjadoras dos líderes, partidos e até de governos. Se os voluntaristas ajudassem a recuperar essas experiências históricas, prestariam uma grande ajuda a si próprios.

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

É de matar do coração...dale colorado...