Diplomacia, militarismo e imagem
Os maiores êxitos de política externa do Presidente Obama encontram-se publicados em todos os mass media. Os seus maiores fracassos, que não são relatados, têm tido grandes consequências. Um estudo sobre as maiores prioridades da política externa da Casa Branca revela uma série contínua de reveses, que põe em questão os principais objectivos e métodos seguidos pelo regime de Obama.
Estas prioridades foram, por ordem de importância:
1) A tentativa de Washington de conseguir um programa de estímulo económico conjunto para as 20 maiores economias na reunião do G-20 em Abril de 2009;
2) A tentativa de um maior empenhamento militar da NATO, com o aumento de tropas nas zonas de conflito do Afeganistão e Paquistão, complementando o aumento de 21 mil militares estado-unidenses (Financial Times, 12/Abril, p. 7);
3) Planos para formar relações políticas e diplomáticas mais fortes com os países das Américas com uma agenda comum que incluirá a exclusão continuada de Cuba e o isolamento da Venezuela, Bolívia e Equador (La Jornada, 20/Abril);
4) Enfraquecer, isolar e pressionar o Irão através de uma mistura de gestos diplomáticos e sanções económicas crescentes, a abdicar do seu programa de energia nuclear (Financial Times, 16/17 de 16-17/Abril/2009 p. 7);
5) Aplicação de pressão sobre a Coreia do Norte para suspender os seus programas de testes de satélites e de mísseis, além de exigir o desmantelamento do seu programa de armas nucleares. (Financial Times, 13/Abril/2009, p.4);
6) Conseguir um acordo entre Israel e a Autoridade Palestiniana para a "Solução de dois Estados", no qual Israel concorde com o fim e desmantelamento dos seus colonatos ilegais em troca do reconhecimento de Israel como um "Estado Judeu" (Financial Times, 13/Abril/2009, p.5);
7) Pressionar o governo do Paquistão a aumentar o seu papel militar no ataque às províncias autónomas do Noroeste e territórios na fronteira paquistanesa/afegã, em apoio à guerra dos EUA contra os movimentos de resistência islâmicos, especialmente entre o povo pashtun (mais de 40 milhões), tanto no Afeganistão como no Paquistão (FT, 23/Abril/2009, p.3);
8) Assegurar um regime pró-EUA seguro no Iraque, capaz de se manter no poder após a retirada da maioria das tropas de ocupação americanas (FT, 8/Abril/2009).
O que é impressionante nos objectivos de Obama é a clara continuidade com a administração de GW Bush, mesmo que os mass media proclamem "mudanças significativas" (American Conservative, 14/Abril/2009).
Continuidade de políticas:
Fracasso nas propostas de estímulos na cimeira do G20 em Abril de 2009
Como o seu antecessor Bush, a primeira prioridade económica de Obama é despejar milhares de milhões de dólares emprestados no sistema financeiro em vez de dirigir os recursos do estado para reavivar a procura popular, reconstruindo o sector manufactureiro, criando um sistema de saúde universal e empregando directamente os 5 milhões de desempregados criados no ano passado. O regime económico de Obama é totalmente dominado pelos banqueiros de Wall Street e completamente desprovido de quaisquer representantes do sector produtivo, do Trabalho ou da Saúde (FT, 2/Abril/2009, p.11). Essencialmente, Obama reforçou e agudizou o modelo de desenvolvimento capitalista "baseado na finanças", que exige que os G20 sigam programas de estímulo financeiro – ignorando a criação de emprego através de investimentos públicos focados na produção. Para Obama, "estímulo económico" significa reconstruir o poder do capital financeiro, nem que tal signifique manter défices orçamentais gigantes que minem outros investimentos públicos. A "teoria" que justifica o foco nas finanças baseia-se na crença que o império mundial dos EUA construir-se-á na recuperação do capital financeiro – ao qual as potências industriais se deveriam submeter (FT, 15/Abril/2009, p.9). Os conflitos na cimeira do G20 e a derradeira falha de Obama em conseguir apoio seguro para a dita proposta de "estímulo" ocorreu porque ele procurava promover um "estímulo" baseado na finanças enquanto o resto das potências – excepto o Reino Unido – estava preocupada em "estimular" a produção, o emprego e a exportação de bens (FT, 2/Abril/2009, p.4). As pressões do trabalho e do sector manufactureiro europeu – em particular na Alemanha e em França – têm muito maior peso no rumo da política económica que nos EUA (FT, 26/Março/2009, p. 1).
A incompatibilidade do regime de Obama dominado pelas finanças e os regimes europeus, asiáticos e latino-americanos reflecte uma classe dirigente economicamente mais diversificada nos últimos, e leva ao fracasso da Casa Branca em conseguir uma política de estímulos "coordenada".
Cimeira das Américas: Isolamento e divergências
Conflitos de interesses evitaram que Washington conseguisse quaisquer acordos favoráveis na "Cimeira das Américas" em Abril. A queda do império financeiro dos EUA em todos os países da América minou os esforços de Obama para reassumir a liderança hegemónica dos EUA (ver Comissão Económica para a América Latina – Relatório da Cimeira de 17 a 19 de Abril de 2009). A Casa Branca já sabia da futilidade de quaisquer esforços para reavivar o acordo comercial na região. Ainda pior, o argumento de Washington a favor das vantagens da "globalização" foi seriamente minado pela promoção de Obama de um "proteccionismo financeiro" no qual os bancos subsidiários dos EUA na América Latina receberam ordens para redireccionar os seus recursos financeiros para as casas-mãe, secando o financiamento e o crédito para os exportadores latino-americanos. Por outras palavras, sob o stress da depressão económica, a "globalização" levou a uma migração no sentido contrário dos recursos financeiros da América Latina, que migraram de volta para os EUA, criando sérios preconceitos quanto à influência norte-americana e aumentando as ligações regionais e o nacionalismo económico nos países latino-americanos.
O resultado é que o império de Obama, baseado num regime financeiro, nada tinha a oferecer e tudo a perder em quaisquer diagnósticos de fundo do impacto da recessão/depressão. A Casa Branca nada oferecia para os mercados em expansão, para os fluxos de capitais ou para a estimulação de investimentos produtivos para a criação de emprego. Nestas apertadas circunstâncias, o regime de Obama preferiu optar por afirmações vazias e evasões sistemáticas acerca dos mais importantes problemas económicos para criar a ilusão de um "bom sentimento" entre os participantes (La Jornada, 20/Abril/2009). Em vez de "projectar poder" no hemisfério, Washington ficou reduzido a reiterar políticas de bancarrota e a justificar o embargo a Cuba em esplêndido isolamento (La Jornada, 17/Abril/2009).
O declínio do poder dos EUA, baseado no seu império financeiro em crise, é evidente na sua incapacidade de manter os seus tradicionais líderes-clientes ou de desestabilizar presidentes adversos. Mesmo enquanto decorria a Cimeira, na Bolívia um grupo de mercenários armados, contratados pelas elites apoiadas pelos EUA na província separatista de Santa Cruz para derrubar o regime de Morales, foi capturado, com muitos elementos mortos pelos militares bolivianos (La Jornada, 20/Abril/2009). Após três anos de financiamento norte-americano e envolvimento profundo com as elites regionais envolvidas em conflitos políticos e económicos contra Evo Morales, e após sofrer várias derrotas eleitorais, Washington e os seus aliados regionais apenas conseguiram organizar um tiroteio num hotel de quinta categoria entre mercenários do Leste europeu e o exército boliviano, que terminou numa ignominiosa derrota.
A fraqueza política do regime de Obama é ainda mais evidente nas grandes derrotas eleitorais que sofreu no Equador, onde o presidente Correa foi reeleito com mais de 52% dos votos – uma margem de 22% sobre o candidato pro-Washington Lucio Gutierrez (La Jornada, 27/Abril/2009). Na Nicarágua, Bolívia, Venezuela, El Salvador e Honduras, o eleitorado votou decisivamente em candidatos de esquerda e centro-esquerda, derrotando a ala direita apoiada pelos EUA. A única excepção foi o Panamá, onde um milionário de extrema-direita foi eleito em Maio de 2009. Apesar de poucos dos regimes de centro-esquerda seguirem políticas económicas nacionalistas, mantêm um certo grau de independência em termos de políticas externas e internas, especialmente nas relações que mantêm com Venezuela e Cuba, no comércio, investimento, intervenção estatal e oposição aos ditames do FMI.
Além disso o colapso financeiro nos EUA e a depressão económica que o acompanha levou a uma grande crise e conflito entre os americanos do Norte e do Sul, com profundas consequências a longo prazo. A implosão de empréstimos transfronteiriços nos bancos dos EUA (e europeus) provocou uma depressão regional e mundial das finanças pelo regresso exigido do capital às casas-mãe, que não tem um fim há vista (Financial Times, 30/Abril/2009, p. 7). O crash financeiro da Wall Street deu um golpe estratégico na "globalização" financeira (imperialismo). Entre Abril e Dezembro de 2008 as instituições financeiras do EUA "repatriaram" US$750 mil milhões das suas subsidiárias além-mar. Os holdings estrangeiros dos bancos estado-unidenses estão a encolher enquanto fatia dos balanço totais – atingindo especialmente os regimes latino-americanos que dependem de fluxos de capital provenientes dos EUA. Os investidores norte-americanos na América Latina, incapazes de obter crédito, cortaram na sua actividade no estrangeiro. Os processos de "descapitalização" da América Latina aceleraram com a intervenção estatal nos bancos feita pelos EUA e Europa, o que levou ao "proteccionismo financeiro" onde os bancos "do estado" pressionam para um aumento dos empréstimos internos em detrimento das operações no exterior (Financial Times, 30/Abril/2009, p. 7). Isto prejudica especialmente países como o Brasil, o México e a Argentina, onde as instituições financeiras em repatriamento (estado-unidenses e espanholas) possuem uma percentagem significativa dos bancos internos. A retirada do capital para os estados imperiais, o proteccionismo financeiro e o declínio do financiamento oficial dos EUA significam que o "plano de recuperação" de Obama baseia-se na descapitalização da América Latina e na secagem do crédito para importação/exportação, exacerbando a recessão. As implicações em termos de políticas são facilmente visíveis.
Obama tem poucos activos para pressionar a América Latina e muitas desvantagens a abordar. Dada a baixa prioridade atribuída à América Latina na actual crise, Washington depende das elites locais, que têm sido enfraquecidas pela Wall Street, e a presença em declínio do FMI e estão agora mais dependentes da intervenção estatal para enfrentarem a queda na procura do mercado de exportações. As prioridades económicas e as políticas de proteccionismo financeiro vão directamente contra a "harmonização dos juros" e fortalecem as políticas económicas nacionalistas, regionalistas e estadistas dos governos da América Latina. Os "movimentos históricos" em direcções opostas entre os EUA e a América Latina são exacerbados pelo compromisso de Obama com a construção imperial centrada na força militar. Enquanto os regimes civis da América Latina estão desesperadamente à procura de novos mercados, créditos e investimentos para contrariar o declínio do seu sistema capitalista, adiando desafios sociais domésticos que vêm de baixo, Obama projecta o império através do militarismo. As políticas falhadas de Obama na América Latina são o resultado de relações estruturais dependentes de mercados financeiros (e do seu colapso) e do militarismo global. Ao longo do tempo a composição divergente dos regimes e políticas socio-económicas tornar-se-á mais aguda com o aprofundar da recessão, até atingir uma grande depressão na América Latina. Uma consequência desta divergência pode ser vista pelas trocas crescentes entre a América Latina e os países árabes, que triplicaram o seu volume desde 2005 (Al Jazeera, 31/Março/2009).
O mais evidente indicador do declínio da presença económica e da influência política dos Estados Unidos na América Latina vê-se nos números de comércio do Brasil, a maior e mais industrializada economia da América Latina. Em Abril de 2009, o total de trocas entre o Brasil e a China atingia os US$3.2 mil milhões, enquanto o seu comércio com os EUA era de US$2.8 mil milhões (Telegraph (UK), 10/Maio/2009). Este foi o segundo mês de seguida em que a China ultrapassou os EUA como maior parceiro comercial, acabando com 80 anos de primazia estado-unidense. Tal como os EUA despejam centenas de milhares de milhões de dólares na sua construção militar de império, a China persegue o seu império económico além-mar, através de trocas de milhares de milhões e investimentos conjuntos com o Brasil em petróleo, gasolina, minérios, soja e celulose. A China já suplantou os EUA como principal parceiro económico também no Chile e aumenta as trocas com a Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina – e até com clientes crónicos dos EUA, como a Colômbia, o Peru e o México.
Enquanto guerras regionais e depressão económica impõe a retirada dos EUA da América Latina, as classes dirigentes da região olham para a Ásia, em particular para a China, para atingirem as suas necessidades de troca e investimento.
Cedo problemas de produção económica superior e de crescimento impedirão que o poder militar puro molde a hierarquia das nações na economia mundial. Este processo de uma potência económica em ascensão desalojar uma potência militar em crise aguda como principal interlocutor desenrola-se neste momento. Embora a transição possa ter começado há mais de uma década antes desta administração, as políticas do presidente Obama estão a acelerar a "mudança" na América Latina, afastando-a dos EUA.
Conferência da NATO: A escalada militar de Obama na procura por aliados
A 4 de Abril de 2009 Obama esteve na conferência da Nato em Estrasburgo para pressionar apoio aliado para a Guerra em expansão na Ásia Meridional. A Ásia Meridional, particularmente a região fronteiriça Afeganistão-Paquistão, tornou-se a zona chave da política externa de Obama. É nesta área que os Estados Unidos estão mais vulneráveis a perdas estratégicas militares e políticas e onde têm tido mais dificuldade em obter apoio material e tropas dos aliados da NATO.
Desde o seu primeiro dia no cargo, Obama tem enfatizado a importância "estratégica" de ganhar a Guerra no Afeganistão, revertendo os avanços dos talibã e outros resistentes e estabelecendo um regime pró-Washington em Kabul. Com esse fim em mente, Obama anunciou uma escalada massiva no envio de tropas (mais de 21 000) para o Afeganistão, fundos adicionais de US$80 mil milhões aos US$750 mil milhões já atribuídos ao Pentágono, e manteve uma política agressiva de pressão sobre os aliados europeus e asiáticos para que estes adicionem quantidades substanciais de tropas e apoio financeiro. Na conferência de Abril da NATO, as propostas de Obama foram liminarmente recusadas (Financial Times, 2 de Abril, 2009 p.7). Os principais aliados concordaram enviar 5000 soldados temporariamente e com funções de não-combatentes, incluindo 3000 para "monitorizar" eleições em Agosto de 2009 e depois regressarem e dois mil para treinar e "aconselhar" em regiões fora das zonas "quentes" (Financial Times, 8 de Abril, 2009 p.2). O que Obama não consegue perceber é que os países da NATO não consideram o Afeganistão uma área de importância estratégica para a segurança europeia. Não vêm as forças em combate como uma ameaça à sua segurança; não vêm perspectivas de uma vitória rápida e de baixo custo. Não concordam com a proposta de Obama de estender a guerra até ao Paquistão – multiplicando assim a resistência aos seus planos. Não querem alienar a vasta maioria das suas próprias populações e desestabilizar o seu próprio poder.
Os aliados europeus e a maioria dos asiáticos não estão dispostos a desperdiçar os seus escassos recursos e pessoal militar numa guerra perdida, numa região não-estratégica, na altura de um depressão económica cavalgante. Obama, por outro lado, seguindo Bush e muitos dos seus outros antecessores, mergulhado na construção imperial militar, fala de diplomacia enquanto prossegue com guerras de conquista.
As suas tentativas de elevar o conflito local a uma ameaça à segurança mundial baseando-se para tal na presença de um pequeno número de combatentes da Al-Qaeda nas montanhas do Kush Hindu dificilmente convencem. A recusa de Obama em reconhecer que os talibã e outros grupos têm acesso a fronteiras vastas, contíguas e porosas com aliados étnicos, religiosos e clãs capazes de manter uma guerrilha prolongada, levam-no a estender as fronteiras da guerra e a aumentar o número de tropas estado-unidenses. A expansão da guerra, por sua vez, multiplica os inimigos e recrutas armados. No Paquistão esta situação tem criado uma maior falange de apoio à oposição política armada, que mina o estado-cliente em Islamabad (Financial Times, 06/Maio/2009, p.1; ver também Gareth Porter, "Errant Drone Attacks Spur Militants in Pakistan, IPS 16/Abril/2009). Sob forte pressão da Casa Branca, o Paquistão lançou uma grande campanha militar na região de Swat causando a fuga em massa de 2 milhões de refugiados e não logrando derrotar os talibã.
Despejar milhares de milhões de dólares numa longa guerra colonial com poucas possibilidades de ganhos económicos numa altura em que o PIB caiu 6% e as exportações 30% demonstra a centralidade contínua da construção militar do império, e o papel de Obama como um "executante voluntarioso" (BBC News, 02/Abril/2009).
A divergência entre Europa/NATO e EUA/Obama está estruturalmente enraizada nas suas visões conflituais de poder mundial: os primeiros enfatizam o financiamento das suas economias para recuperar e expandir as exportações, os segundos operam sob a ilusão que guerras coloniais prolongadas em zonas remotas do mundo são essenciais para a "estabilidade" do capitalismo mundial. O fracasso de Obama na obtenção de apoio da NATO para expansão no Afeganistão/Paquistão realça o seu completo isolamento político e militar numa das principais áreas-chave da política da sua administração. Isto significa que os EUA aguentarão o custo total da guerra no Afeganistão, que se expandiu para o Paquistão, e sofrerão condenação mundial enquanto crescem aos milhares as vítimas civis e aos milhões os refugiados desta guerra aérea e terrestre (BBC News, 07/Maio/2009).
Irão: A presença sionista e as oportunidades perdidas
A abordagem política prometida por Obama para o Irão deveria "virar uma nova página", com negociações abertas, sem condições prévias para assegurar um acordo que acabasse com o alegado programa de armas nucleares iraniano, e o seu alegado apoio a organizações "terroristas", nomeadamente o Hamas e o Hezbollah. Obama ainda esperava assegurar a sua cooperação na guerra americana no Afeganistão assim como um apoio ao regime-cliente de Maliki no Iraque ( Financial Times, 06/Março/2009 p. 5).
A política de Obama começou imediatamente com o pé errado. Nomeou dois dos mais pro-israelenses e virulentos inimigos do Irão para lugares-chave no Tesouro e no Departamento de Estado. Stuart Levey foi renomeado como sub-secretário para o Terrorismo e Serviços Secretos Financeiros no Departamento do Tesouro e Dennis Ross (muitas vezes chamado de "O Advogado de Israel") foi nomeado como o homem forte para o Irão no Departamento de Estado. Stuart Levey lidera uma campanha mundial de intimidação e coerção contra qualquer negócio, banco, ou companhia petrolífera que mantenha relações económicas com o Irão. Ross, que deixou um think-tank financiado pelo governo de Israel para assumir a sua nova posição na administração Obama, apoiou o documento publicado em finais de 2008 que defendia a "opção militar" contra o Irão. Ross e Levey dificilmente apoiarão a viragem "de uma nova página" nas relações EUA-Irão. Na verdade eles encaixam que nem uma luva na política belicosa que advoga um maior confronto e que aumenta a possibilidade de uma nova guerra dos EUA no Médio Oriente.
A nomeação de Hillary Clinton como secretária de Estado não favorecerá uma abertura em relação ao Irão. Há registo público de afirmações suas apoiando a "obliteração" do Irão durante a campanha presidencial de 2008 e, agora que chegou ao seu novo cargo, apoia "sanções de amputação" para forçar o Irão a desmantelar o seu programa de energia nuclear. A sua abordagem segue à risca o guião da anterior Administração Bush ( Financial Times, 23/Abril/2009, p.3).
O regime Obama não procurou "negociações" – em vez disso tem seguido na procura de sanções crescentemente duras contra o Irão, ditando os desfechos de quaisquer encontros com Teerão.
Sob a mão orientadora do lobby Israel-First (AIPAC), os líderes congressionais dos dois partidos apoiam agora novas e mais duras sanções contra empresas, "incluindo a Lloyds de Londres, a Total (França) e a British Petroleum, se estas não pararem o seu envolvimento na exportação de petróleo refinado para o Irão ou na construção de refinarias nesse país" ( Financial Times, 23/Abril/2009, p.3). O vice-presidente Biden, na Conferência Anual da AIPAC em Washington DC (1 a 3 de Maio, 2009) apoiou sanções militares contra o Irão. Claramente a retórica inicial de apaziguamento de Obama está em contradição directa com as suas nomeações de elementos da linha dura anti-Irão e com as pesadas sanções em que o seu regime insiste. A nomeação para posições estratégicas por Obama de sionistas de linha dura, ligados directamente a Israel, reflecte a poderosa influência que as Configurações de Poder Sionista mantêm sobre assuntos estratégicos para o Médio Oriente. Como resultado, a política de Obama para o Irão está enviesada na direcção de servir os interesses militares de Israel em vez dos mais abrangentes interesses económicos e estratégicos do Império estado-unidense ( Financial Times, 24/Fevereiro/2009, p. 13).
Obama mantém uma política de "negociações" em termos exclusivamente sionistas: Ao exigir ao Irão que desista do seu programa de enriquecimento, internacionalmente reconhecido e sujeito a estreita regulação, e ao abandonar aliados estratégicos e princípios de solidariedade com os direitos do povo palestino, sob ameaça de um bloqueio económico americano, a Casa Branca rejeita qualquer possibilidade de uma solução de paz negociada.
Ao manter uma política de punho de ferro para satisfazer as exigências da Configuração de Poder Sionista, agindo em nome de Israel, Obama desperdiça grandes oportunidades diplomáticas, económicas e políticas para estabilizar os interesses imperiais na região. Através de um processo de dar e receber, Washington poderia assegurar a cooperação iraniana para a estabilização do Iraque e do Afeganistão. No passado o Irão já mostrou a sua disposição de apoiar os regimes-fantoche dos EUA no Iraque e Afeganistão. No caso do Afeganistão, o Irão ajudou directamente a ocupação americana ao atacar forças talibã em fuga na região das suas fronteiras ocidentais. Por outro lado, a relação estreita de Washington e Israel fortalece os talibã no Afeganistão e resistência muçulmana à sua ocupação do Iraque.
Ao opor-se à política israelense de expropriação dos palestinos, o Irão declarou a sua disposição de aceitar uma "solução de dois estados", se "for isso que os palestinos quiserem". O novo regime de extrema-direita que governa Israel, liderado por Netanyahu e Liebermann, apoiado pelas principais organizações sionistas americanas, rejeitou abertamente a "solução de dois estados", em repúdio da posição pública do governo de Obama durante o encontro com o mesmo a 18 de Maio de 2009 em Washington (BBC News, 19/Maio/2009).
As Agências de Informação Nacionais dos EUA publicaram um relatório em Novembro de 2008 que rejeitava publicamente as afirmações de Israel de que o Irão está a transformar o seu urânio enriquecido em armas. Nas investigações de campo das Nações Unidas e inspectores internacionais da Agência Internacional de Energia Atómica não foram encontrados quaisquer indícios de um programa iraniano de armas nucleares (Relatório da AIEA sobre o Irão, 19/Fevereiro/2009). Ao escolher apoiar as afirmações por provar de Israel acerca de uma "ameaça existencial" por parte do Irão, a Administração Obama tornou-se um cúmplice nas preparações explícitas de Israel para uma guerra contra o Irão. Ao recusar-se a utilizar os relatórios dos inspectores internacionais e das suas próprias agências de informação para lidar com o programa de energia nuclear do Irão, Obama corre o risco de se ver envolvido numa guerra devastadora provocada pelo governo de Israel.
Numa altura em que as exportações estado-unidenses caíram mais de 30% no primeiro quarto de 2009 e a economia está a entrar numa recessão profunda e prolongada, o regime de Obama prioriza as relações militares com Israel sob termos altamente desfavoráveis. Neste aspecto as perdas económicas gerais provindas da política de Obama de negociação exclusiva com uma potência económica menor como é Israel levaram ao desperdício de muitos milhares de milhões de dólares em trocas potenciais com o Irão (BBC News, 29/Abril/2009). Ao contrário da altamente desfavorável balança comercial dos EUA com Israel e monstruosa ajuda de 30 mil milhões de dólares dada ao Estado Judeu, o Irão oferece uma forte potencialidade para investimentos e um mercado lucrativo para as empresas americanas de petróleo, agro-business, indústria química e empresas financeiras.
Ao apoiar as políticas israelenses de bloqueio e boicote contra líderes árabes eleitos, especialmente o Hamas em Gaza e o Hezbollah no Líbano, Washington apoia ditaduras violentas e corruptas na Cisjordânia, Egipto e Jordânia, simplesmente porque estas são aliadas de Israel. Se, como o regime de Obama defende, os processos eleitorais estabilizarão a região, então o seu apoio incondicional a Israel e aos seus aliados desestabiliza a mesma.
Em vez de procurar novas políticas para o Irão, visando assegurar os interesses imperiais na região, o regime de Obama escolhe a confrontação que mina a sua "retórica conciliatória" e, ainda pior, leva a tensões crescentes. Novas sanções contra exportadores de gasolina poderiam provocar uma nova e ainda mais extensa guerra, que seguramente afundaria os EUA numa depressão ainda mais profunda.
Coreia do Norte: O desmascaramento de uma política
O regime de Obama destruiu quaisquer tentativas de acordos para desarmamento nuclear obtidas entre a Administração Bush e o Governo Norte-Coreano. O acordo original baseava-se em concessões recíprocas, em que a Coreia do Norte concordava em desmantelar o seu programa de armas nucleares em troca de apoios económicos e energéticos dos EUA, Japão, China, Coreia do Sul e Rússia. Os norte-coreanos cumpriram o acordo, mas o apoio económico não chegou, em particular devido a exigências dos EUA para a inclusão de inspecções inesperadas ( Financial Times, 15/Abril/2009). A recém-chegada Administração Obama não tomou quaisquer medidas para fazer avançar os programas de apoio. Pelo contrário, em resposta ao lançamento de um satélite experimental, a secretária de Estado Hillary Clinton exigiu e conseguiu uma condenação ao acesso legal da Coreia do Norte à tecnologia espacial, exigindo ainda a implementação de novas sanções económicas ( Financial Times, 13/Abril/2009, p. 4). Estas duras represálias levaram os norte-coreanos a terminar as negociações e a reiniciar o seu programa de armas nucleares, elevando tensões militares na península e minando o processo de paz (Al Jazeera, 14/Abril/2009). Num breve período de três meses a Casa Branca de Obama reverteu quase uma década de negociações de paz, criando uma nova arena para confrontação militar.
Afeganistão-Paquistão: Estender a guerra e desestabilizar um cliente
Em resposta à resiliência da resistência afegã e à expansão da sua influência além das suas bases no Sul, Obama abriu novas frentes de conflito no Paquistão ao começar o bombardeamento sistemático de aldeias e comunidades. Como resultado, os combatentes paquistaneses e os seus aliados afegãos passaram a obter apoio popular de modo crescente nos territórios de Noroeste. Ao pressionar o regime fraco e impopular de Zadari para que este intensificasse as operações militares contra os paquistaneses que se opunham aos raids bombistas dos EUA, o regime de Obama conseguiu destruir toda e qualquer base de apoio que tinha dentro do aparelho de estado ( Financial Times, 02/Abril/2009, p. 7). Mais de 2 milhões de paquistaneses na região foram afastados das suas casas pela ofensiva militar (BBC News, 19/Maio/2009). A política de Obama para o Paquistão é a extensão da fracassada estratégia afegã de tornar áreas civis alvos preferenciais (neste caso mais de 40 milhões de pessoas do grupo etno-linguístico pachtun), influenciados ou controlados pela resistência anti-EUA, na esperança de eliminar alguns combatentes talibã entre os milhares de mortos civis. O resultado é previsível: o exército paquistanês, maior sustentáculo do fraco presidente-cliente dos EUA, Zadari, tem-se tornado a ferramenta de continuação de uma guerra colonial e da entrega da soberania em face aos sistemáticos ataques transfronteiriços promovidos pelos EUA. Ao forçar o dividido e enfraquecido regime paquistanês a entrar numa guerra de grande escala contra os seus independentes e desafiantes cidadãos dos Territórios Noroeste, as cidades e aldeias paquistanesas terão de lidar com a catástrofe de 2 milhões de refugiados internos afugentados das suas casas e comunidades. Obama aumenta a possibilidade de uma revolta militar dirigida por soldados e oficiais nacionalistas-islamistas, o que desequilibraria completamente a balança do poder na região (e além) contra Washington (BBC News, 08/Maio/2009). Em vez de "conter" e limitar a área de combate ao Afeganistão, a política de Obama para o Paquistão alargou a frente e implicou um grande mas frágil estado-cliente numa guerra prolongada que poderá implicar a sua queda – de modo similar ao derrube do Shah do Irão ( Financial Times, 27/Abril/2009, p.5).
A escalada de Obama no Afeganistão antecipa um acordo nacional com os talibã, limitando-os ao Afeganistão por troca da exclusão de apoio à Al Qaeda. Sob ataque crescente dos EUA, os talibã internacionalizaram a sua luta além das fronteiras contíguas com o Paquistão fazendo aparecer o espectro de os EUA terem de se embrenhar ainda mais nesse país em apoio ao regime-cliente de Islamabad.
Política Israel-Palestina
A política da Casa Branca em relação à ocupação israelense da Palestina tem-se caracterizado por uma reiteração ritual da "Solução de Dois Estados" e tentativas indecisas e inconsequentes de formular uma estratégia coerente e a capitulação da continuada expansão territorial de Israel (BBC News, 18/Abril/2009). Obama defronta-se com um governo de extrema-direita, abertamente pró-anexações, que rejeita até a linguagem da "Solução de Dois Estados" em repúdio directo da política do presidente americano (BBC News, 01/Abril/2009). Washington submete-se passivamente às rejeições de Israel. Os nomeados da política de Obama para o Médio Oriente são, do primeiro ao último, membros do lobby israelense. O regime de Obama e as chefias do Partido Democrata estão profundamente em dívida para com o lobby sionista, que rejeita qualquer tentativa de tentar pressionar Israel – desarmando assim quaisquer alavancas económicas ou militares que pudessem ser utilizadas para tentar obter concessões do regime de Netanyahu-Lieberman. Ainda pior, Washington apoia o bloqueio israelense a Gaza, dirigida pelo democraticamente eleito Hamas, fortalecendo assim o pulso de ferro que Israel mantém sobre os palestinos.
Um dos mais egrégios fracassos de política externa na reunião de 18 de Maio de 2009 em Washington com o primeiro-ministro de Israel, Benyamin Netanyahu. Após ter feito a apologia da política dos "Dois Estados", um dos principais objectivos de política externa, Obama não conseguiu sequer um compromisso verbal do líder extremista israelense (BBC News, 19/Maio/2009). Após 4 horas de discussão, Netanyahu rejeitou a oferta de Obama de considerar um período temporal para conversações diplomáticas com o Irão (com a ameaça implícita de opção militar) em em contrapartida de o primeiro-ministro do Likud balbuciar "três palavras": solução de dois estados ! Pior ainda do ponto de vista da Casa Branca: Netanyahu insistiu que quaisquer negociações com os palestinos seriam condicionadas ao seu reconhecimento de Israel como um Estado Judeu, excluindo assim o milhão e meio de muçulmanos e cristãos palestinos que permaneceram no território após as expulsões em massa.
A ostentar o seu desprezo para com a proposta de Obama de congelar os novos colonatos, o regime de Netanyahu acelerou o planeamento de 20 novas estruturas habitacionais na Cisjordânia ocupada – precisamente no dia do encontro. Pior que tudo, Obama saiu destes encontros com uma imagem de total impotência – não pôde sequer fazer um "show" por ter influenciado o primeiro-ministro extremista judeu. O repúdio público feito a Obama por Netanyahu baseou-se no entendimento claro de que o poder da Configuração Sionista de Poder sobre o Congresso dos EUA e sobre o ramo executivo do poder americano garante que Obama não poderá contrariar o extremismo israelense através de ameaças de retirada de apoio financeiro ou militar dos EUA ao estado judeu. Após semanas de rumores e de histórias acerca da "disposição" de Obama de confrontar ou pressionar Netanyahu a aceitar a solução de dois estados, a conclusão foi uma humilhante derrota pública, em que Obama nada conseguiu.
Após o seu encontro com Obama, Netanyahu (o visitante) foi ao Congresso dos EUA com a sua base de poder entre a grande maioria dos membros dos Representantes e do Senado e líderes judeus sionistas de topo, onde a quase totalidade dos representantes eleitos reafirmou o seu apoio incondicional à política de Israel – nos termos estritamente definidos por Netanyahu. A impotência e os fracassos do Presidente Obama nas negociações com Netanyahu não passaram despercebidas em todo o mundo (em particular no mundo árabe). O porta-voz do Hamas Fawzi Brahoum sumarizou a percepção geral do seguinte modo: "As declarações (acerca da solução de dois estados) de Obama não são mais que desejos, com os quais não poderemos contar" (Al Jazeera, 19/Maio/2009).
A "imersão" do regime de Obama em políticas sionistas-israelenses cega-o para as oportunidades favoráveis de um grande acordo na região. Os líderes do Hamas cessaram todos os ataques retaliatórios a Israel com rockets e apelaram a um cessar-fogo de 10 anos ( The New York Times, 04/Maio/2009). A Liga Árabe (incluindo os estados do Golfo) reiterou a sua vontade de reconhecer Israel e de abrir relações diplomáticas em troca do fim da ocupação da Cisjordânia e do bloqueio a Gaza. A União Europeia abriu diálogos com o Hamas e o Hezbollah, adiando a extensão de estatuto económico "especial" a Israel. Até o Irão concordou aceitar uma solução para a Palestina baseada nos Dois Estados. Face a grandes alterações e concessões, o regime de Obama permanece impotente. É incapaz de pressionar em favor das suas propostas; debate-se até para impor uma conclusão para as negociações de paz. No entanto, a Configuração de Poder Sionista no interior e no exterior pressiona por novas e mais perigosas sanções contra o Irão. Durante a conferência AIPAC em Washington (1 a 5 de Maio), seis mil lobbystas estabeleceram como objectivo assegurar que a maioria do Congresso apoie bloqueios e sanções provocativas contra empresas que exportem refinados de petróleo para o Irão ( Jerusalem Post, 01/Maio/2009). O Acto de Sanções de Petróleo Refinado para o Irão (Iran Refined Petroleum Sanctions Act, IRPSA) actualmente no Congresso e da autoria dos operacionais do AIPAC é encarado como uma arma para esmagar a economia iraniana e derrubar o governo. Ao tentar conciliar a ideia de que um acordo de paz para a Palestina levará a um "consenso" com o AIPAC e Israel para a confrontação com o Irão, o regime de Obama desiste da sua opção diplomática com o Irão em favor da abordagem militarista de Israel – sem assegurar quaisquer mudanças na política desta em relação à Palestina.
Conclusão: Consequências das políticas fracassadas de Obama
Desde o início as políticas externas do regime de Obama têm sofrido fortes reveses.
As suas iniciativas económicas no G20 para assegurar o apoio às propostas de políticas coordenadas de estímulos baseadas em salvamentos financeiros e défices mais elevados foram rejeitadas. A revitalização do FMI via uma injecção de US$750 mil milhões não foi bem-vinda pelos países de "mercados emergentes" devido às duras condições impostas por esta instância. A cimeira da NATO rejeitou as exigências de Washington de mais tropas de combate para o Afeganistão. Das 5000 tropas prometidas, três quartos servirão apenas durante a eleição presidencial afegã (Agosto/2009) e o resto como treinadores e conselheiros, longe das linhas da frente.
A Cimeira das Américas foi um fiasco para Washington. Ficou completamente isolado na sua defesa da política estado-unidense em relação a Cuba, o Embargo a Cuba e a sua designação de Cuba como "um estado apoiante de terrorismo". Obama nada ofereceu em termos de novas políticas face à recessão económica regional que os EUA induziram na região. Ao mesmo tempo os países latino-americanos voltaram-se para outros lados – Irão e China, assim como para o mercado regional, como locais de oportunidade para estimularem as suas economias. A postura belicosa de Obama em relação à Coreia do Norte reverteu seis anos de negociações, pelo que se passaram a reviver tensões passadas e a reactivação do programa de armas nucleares de Pyongyang. A escalada da guerra dos EUA/NATO no Afeganistão e a sua extensão para o Paquistão mina a força dos clientes americanos na região e faz com que seja possível que o exército dos EUA se encontre novamente com uma guerra colonial sem possibilidades de vitória.
Os laços profundos de Obama com as políticas e organizações americanas-sionistas e a sua lealdade para com a nova ala da extrema-direita israelense impossibilita a procura de qualquer política que possa abrir o caminho na direcção de uma resolução de dois estados como forma de resolução do conflito. A linha dura da Casa Branca de escalada de sanções contra o Irão e o armamento de Israel com armas ofensivas de longo alcance põe em causa quaisquer novas iniciativas significativas em relação a Teerão ( Financial Times, 23/Março/2009, p.3). O resultado destas políticas fracassadas é que Washington se encontra cada vez mais isolado politicamente: Luta sozinho no Sul da Ásia; É o único apoiante da intransigência de Israel. Está sozinho entre as nações do Hemisfério Ocidental na sua imposição do embargo de Cuba. Isolamento político significa que os custos políticos e económicos da construção militar do império por Obama serão suportados quase exclusivamente pelo Tesouro Americano e pelos seus cidadãos – numa época de défice sem precedentes em épocas de paz e uma recessão em agravamento.
O foco de Obama em aventuras militares no estrangeiro, injecções financeiras no país e a promoção do FMI provocou um afastamento da América Latina do seu tradicional grande parceiro económico. O Brasil acolheu uma centena de membros de delegações empresariais do Irão, liderada pelo primeiro-ministro e composta por uma vasta gama de líderes de empresas e de bancos para assinarem negócios multimilionários e de co-investimentos. Em finais de Maio, o presidente Lula da Silva promoveu um grande aumento de trocas e investimentos com o seu maior parceiro comercial – a China. A resposta da secretária Clinton foi patética: em vez de reconhecer o eclipse económico dos EUA e procurar aumentar a presença económica, citou a ameaça do terrorismo iraniano – entre o petróleo, o agribusiness e os executivos bancários ( www.presstv.com , 02/Maio/2009).
O apoio contínuo de Obama aos líderes regionais de extrema-direita na Bolívia e Equador contra presidentes reformistas contribuiu para as recentes vitórias eleitorais e para o isolamento político dos EUA. A retórica de Obama de uma "abertura" à Venezuela, acompanhada por duros ataques aos perigos do "chavismo", em que inclui acusações infundadas de cumplicidade no tráfico de drogas, levaram a um aumento de trocas entre a Venezuela e a China, Irão e Rússia.
Políticas falhadas têm consequências. A manutenção de compromissos militares de longo-prazo e grande escala no estrangeiro numa época de depressão económica é auto-destrutiva, auto-isolante e destinada ao fracasso. Satisfazer as aspirações coloniais ilegais e os objectivos militares de Israel sacrifica centenas de milhares de milhões de dólares em trocas com o Irão, os estados do Golfo e as economias do Sul da Ásia.
O grande problema não é que o regime de Obama prossiga com guerras que terminarão em derrotas, mas sim que continue a lançar recursos para a construção militar de um império numa época de recessão em agravamento, o que está a levar à morte de centenas de milhares de pessoas e ao aparecimento de milhões de refugiados por todo o mundo, enquanto destrói as condições de vida e segurança social de milhões de cidadãos estado-unidenses.
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