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Vinicius Valentin Raduan Miguel |
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"Aparentemente, mesmo o mais horrendo dos crimes, como o genocídio em Gaza, é tratado como um evento discreto, desconectado de tudo que aconteceu no passado e não associado a uma ideologia ou sistêmico processo" (Pappé, 2009). "O mundo se acostumou com a idéia de migrações em massa e quase que se tornou afetuoso à prática" (Jabotinsky apud Finkelstein, 2002). 1. Como desaparecer com um país (apagando a história da Palestina) Em um pequeno artigo intitulado "A guerra que não terminou" (1) defendi a continuidade da Nakba - a tragédia palestina efetivada em 1948. Meu ponto principal - da continuidade da tragédia - pode ser sintetizado na frase que uso no último parágrafo do texto: "Neste sentido, a maior eliminação provocada por este verdadeiro crime de limpeza étnica foi a supressão do acontecimento da História, de maneira que ninguém sequer menciona este outro holocausto". Na ocasião, sustentei que o projeto de apagamento da Palestina envolve um intencional ocultamento dos fatos. Neste mesmo texto, apontei a existência de projetos de lei (2) em Israel tentando criminalizar a memória de 1948. Esta se idéia se articula com a desenvolvida em outro texto (3), onde usei uma frase criticada por atestar que o maior problema no estudo do Oriente Médio seria o "duplo processo de ocultamento e mascaramento do verdadeiro significado dos acontecimentos políticos". A crítica dos leitores se baseou na ambigüidade e imprecisão da frase. Retrato-me e esclareço: por ocultamento entendo a tentativa de "desaparecer" fatos, encobrindo-os e não os mencionando. Por mascaramento pensei em um sistema ideológico, idéias e interpretações não verdadeiras que alteram os eventos históricos lhes conferindo uma fictícia "realidade". As duas noções dificilmente poderiam ser isoladas: elas se complementam. As notícias dos últimos dias confirmam os pontos que havia indicado nestes textos. A tentativa de apagar a Palestina da memória e mesmo criminalizar a sua lembrança (o "ocultamento" que descrevi) é visível em um projeto de lei que clama assegurar "a unidade de Israel" e penaliza com prisão aqueles que relembrarem a Nakba em atos públicos. É o "acobertamento" dos fatos, mantendo a singularidade de uma narrativa e usando do aparato legal para penalizar as outras narrativas, apenas para assegurar a observância da única narrativa aceitável: a do bom Israel. Sem causar surpresa, temos a decisão do ministro de educação de Israel, Gideon Saar que ordenou a supressão da palavra Nakba de livros escolares destinados à população árabe em idade escolar de Israel (4). Nas próprias palavras de Saar, "A Nakba não deve ser ensinada nas escolas" (5). Dois pontos extras: O uso da palavra nos livros escolares só havia sido autorizado em 2007, por Yuli Tamer, prévio ministro da educação. Se persistir o banimento, o ensino da Nakba terá vigorado por apenas dois anos. Finalmente e não menos importante, o termo NÃO é ensinado para judeus-israelenses, que preserva a narrativa de Israel como a restauração mística de um antigo lar sobre um território desocupado. Portanto, o banimento busca exclusivamente o apagamento da memória da tragédia árabe e palestina dos próprios árabe-israelenses! Temos uma situação similar ao governo autoritário descrito por A. Huxley em Admirável Mundo Novo onde os credos que desafiam a percepção dominante são tidos como um desrespeito e afronta à sociedade, sendo conseqüentemente banidos por mecanismos que envolvem a criação de uma nova linguagem. O trágico diálogo extraído de Huxley serve para ilustrar o fato (6): 'O Diretor interrompeu: "Eu suponho que você sabe o que é o polonês(?)" "É uma língua morta". E outro estudante complementou, tentando exibir seu conhecimento: "Como são as línguas francesa e alemã." "E um "pai?" - questionou o diretor. Houve um desconfortante silêncio. Vários garotos se avermelharam embaraçados (Huxley, 2005).'
A imaginada cena de Huxley - por mais absurda que possa ser - se assemelha com o projeto educacional de Israel: apagar o significado da catástrofe humanitária que foi a Guerra de 1948/Nakba. Evidente que não é a primeira tentativa de apagamento da expulsão de 700.000 a 800.000 palestinos de seus lares e a tomada de suas terras. No dia 14 de julho deste ano, outra prática - comum embora, até então, não sistematizada como política de estado - foi adotada pelo ministério israelense de transporte (sob comando de Yisrael Katz): o apagamento do nome árabe de cidades em 2500 placas de Israel e 60% das placas na Cisjordânia ocupada! (7) O experimento para desaparecer com a Nakba (e qualquer traço da Palestina) é uma tentativa de cumprir a fala de David Ben-Gurion, quando disse que "Eles [os "árabes"] apenas vêem uma coisa: nós viemos e roubamos o seu país. Por qual razão deveriam aceitar isto?" E então profetizou: "Talvez eles esqueçam em uma ou duas gerações, mas no momento não há esta possibilidade" (8). Não, nem as gerações de palestinos e nem o mundo vai esquecer... 2. A cicatriz que é sempre aberta: 48 horas no noticiário israelense para provar que a Nakba é todo dia A Guerra de 1948, com a expulsão em massa de árabes-palestinos para a alocação de judeus-sionistas vindos majoritariamente da Europa não foi um acidente - faz parte da ideologia sionista que prega um nacionalismo exclusivamente judaico (seja em termos étnico-lingüísticos ou religioso-culturais) (Pappé, 2007; 2009). Para a obtenção demográfica deste exclusivismo judaico em um território previamente habitado, só haveria como solução a limpeza étnica - ou no circunlóquio sionista, promover a "transferência" dos palestinos. A idéia de expulsão dos palestinos estava presente em todo o espectro político sionista, seja do (suposto) sionismo-socialista de Ben-Gurion ao sionismo de direita de Ze'ev Jabotinsky. Ben-Gurion, confessadamente apresentou em 1936 que "Eu sou favorável a transferência compulsória [dos palestinos]. Eu não vejo nada imoral nisto". Jabotinsky em 1923 declarou que "A colonização sionista, mesmo a mais restrita, deve ser feita e concluída contrariando a vontade da população nativa" (9). Estes pontos - que não são os únicos na literatura sionista - demonstram o padrão colonial do projeto sionista: simplesmente não se preocupar com a expulsão da população local (Finkelstein, 2003; Rodinson, 1988; Said, 1979). E se historicamente o projeto sionista envolveu a eliminação da população palestina, as metas deste projeto não são tidas como efetivadas no mainstream israelense. Os debates que seguem sobre a criação de um "Estado" palestino - na realidade apartheid, uma estrutura para segregação, dominação e controle da população árabe seja palestina seja israelense - envolvem novamente a "transferência" de 20% da população de Israel formada por árabes que conseguiram (de uma forma ou outra) permanecer na região. Tzipi Livni, então ministra das relações exteriores de Israel e atualmente líder do partido Kadima no Parlamento, enquanto candidata (dezembro de 2008) expressou seu apoio à transferência de árabes-israelenses para o futuro Estado palestino. Avigdor Lieberman, atual ministro das relações exteriores de Israel, quando parlamentar, declarou (em 2008) que "um dia uma nova administração será estabelecida e então nós vamos cuidar de vocês [árabe-israelenses]". Em 2004, ele propôs à Rússia à expulsão de árabe-israelenses e declarou em uma entrevista que os "árabes [israelenses] não têm lugar aqui [em Israel]", devendo "pegar suas malas e irem para o inferno". Mas as pretensões para a expulsão não se limitam aos membros do governo. Uma pesquisa divulgada em março de 2008 indicou que 76% dos judeus israelenses manifestam apoio à "realocação" (outra palavra para limpeza étnica!) dos árabes-israelenses (10). A eliminação da população árabe de Israel não é uma bravata apocalíptica, mas slogan político de diversos partidos israelenses e projeto profundamente enraizado na história das idéias sionistas. Mas não é só pela ameaça de re-expulsão dos palestinos que a Nakba não acabou. Há o fator de expansão israelense em detrimento da população palestina, prática em contravenção com o Direito Internacional que impede a aquisição de território à força e à resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU (1967) que ordena a retirada israelense dos territórios árabes ocupados. No fim de 2008, enquanto Israel atacava a população em Gaza, havia 121 assentamentos israelenses reconhecidos e outras 100 "pequenas comunidades" (assentamentos menores e não declarados oficialmente) nos territórios palestinos da Cisjordânia habitados por 479.500 israelenses. Pelo menos 40% destes colonos são estrangeiros (judeus não nascidos em Israel). Os assentamentos são mantidos graças aos vultosos recursos do Estado de Israel que vislumbra a possibilidade de ampliação territorial de facto. O expansionismo fica claro nos números: a população dos assentamentos aumenta três vezes mais rápido que a população "interna" à Israel, e é estimulada pelos subsídios governamentais. E embora a população dos assentamentos constitua apenas 3.1% da população israelense total, 4.1% do orçamento público de Israel é destinado para manter 57% da renda gerada nestes locais (notícia de 21.07.2009, nota 11). E a exaltação expansionista é clara. O representante do ministério de relações exteriores, Danny Ayalon afirmou que Israel tem um direito indisputável de construir em qualquer lugar, incluindo Jerusalém. O parlamentar Eli Yishai afirmou que o governo israelense é livre "para construir onde quiser" (ambos os pronunciamentos divulgados no dia 21.07.2009, ver nota 12). Um adendo para uma discussão jurídico-moral. Tanto a transferência da população árabe-israelense para outro Estado (expulsão) como a transferência de população israelense para os territórios ocupados (um colonialismo nos territórios ocupados, como é o caso dos assentamentos) são proibidos pelo Direito Internacional Humanitário e, desta forma, ilegais. O artigo 49 da IV Convenção de Genebra (1949) afirma que "Transferências forçadas individuais ou em massa, assim como a deportação de pessoas protegidas de um território ocupado para o território da potência ocupante ou para qualquer outro país, ocupado ou não, são proibidas independentemente do motivo". E continua "A potência ocupante não deverá deportar ou transferor parcialmente sua população civil para os territórios que ocupa". Não menos importante é o Estatuto de Roma que cria o Tribunal Penal Internacional. No artigo 7º "d" é definido como um crime contra a humanidade "a deportação ou transferência forçada de uma população", o que encerra perfeitamente o plano israelense de "transferência" ou "realocação" da população árabe-israelense. Concluindo a proposta estabelecida nesta subdivisão (de olhar para 48 horas do noticiário do conflito Israelo-Palestino), temos a declaração do Primeiro Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu que afirmou que Israel não irá "remover o muro da Cisjordânia". O muro (de 650 quilômetros, construído dentro dos territórios palestinos ocupados e declarado ilegal pela Corte Internacional de Justiça, em 2004) serve para anexar de facto 50% da Cisjordânia (14). Fatalmente, o que Netanyahu está reconhecendo é o pretenso direito de Israel de ocupar e controlar militarmente a Palestina, expandir o território israelense à custa do povo palestino e a preservação de uma estrutura física de apartheid. Mais uma vez, a Nakba não terminou... Por fim, retornamos ao ponto trazido no começo deste texto: a proibição da lembrança e do ensino da Nakba, banimento divulgado no dia 22.07.2009 e discutido ao fim da primeira parte deste texto. Esta prática de eliminação cultural se conjuga com a já demonstrada eliminação física do espaço palestino, cercado pelo Muro do Apartheid e tomado pelo expansionismo dos assentamentos israelenses. A metodologia aqui proposta - um tanto quanto aleatória - consistiu em selecionar dois dias e demonstrar como o noticiário indica uma continuidade dos tópicos centrais do conflito Israelo-Palestino. A hostilidade não ficou no passado. O colonialismo/expansionismo israelense e as violações do Direito Internacional ocorrem todos os dias. Com os desdobramentos da ofensiva racista (contra os novos bárbaros, agora de barba e turbante) sob o título ideológico de "Guerra ao Terror" se reativou a antiga estratégia colonialista para reescrever os limites geográficos do mundo. Na Palestina, no coração do Oriente Médio, se evidenciam os experimentos que desafiam não somente o Direito Internacional, mas às noções de humanidade. Ensinar a catástrofe palestina - a Nakba - é o primeiro passo para impedir o esquecimento. Combater o esquecimento e resgatar a memória e cultura de um povo é essencial para enfrentar novas tentativas de agressão e apagamento da região e seu povo. Proibir o ensino e a memória da tragédia não é somente um passo para a impunidade histórica e descontextualização das origens do conflito, mas um avanço para justificar os crimes do presente. Não reconhecer que houve uma expulsão em massa em 1948 facilita uma nova expulsão. Esquecer 1948 e apagar o presente são políticas suplementares para fundamentar uma só prática: o genocídio do povo palestino. É como pretendiam os ideólogos sionistas Jabotinsky e Ben-Gurion: fazer o mundo se acostumar com a idéia de migração em massa e depois argumentar que não há nada de imoral na prática.
Notas: (1) Miguel, Vinicius Valentin Raduan. 15 de maio de 1948: A guerra que não terminou. Fundação Lauro Campos. 19.05.2009. Disponível em http://www.socialismo.org.br/portal/internacional/38-artigo/937-15-de-maio-de-1948-a-guerra-que-nao-terminou- Acesso em 23.07.2009. (2) A lei pretende tornar crime punível com até três anos de cadeia aqueles que tentarem relembrar a Nakba como um êxodo imposto aos palestinos. Esta lei não pode ser olhada individualmente. De fato, ela se articula com projetos para exigir "lealdade" dos cidadãos árabes de Israel, obrigando-os a reconhecer Israel como um Estado Judeu e Sionista. São movimentos em direção ao autoritarismo, significando claramente violação à liberdade de expressão, de manifestação e de organização. Buck, Tobias. Draft Bill by Israel to ban Nakba is attacked. 26.05.2009. Disponível em http://www.ft.com/cms/s/0/c198813a-4961-11de-9e19-00144feabdc0.html?nclick_check=1 Acesso em 23.07.2009; Human Rights Tribune. Israel to ban Nakba commemorations. 27.05.2009. Disponível em http://www.humanrights-geneva.info/Israel-to-ban-Nakba-commemorations,4495 Acesso em 23.07.2009. Alterações no projeto de lei feitas no dia 22.07.2009 sugerem outro caminho, não proibindo a comemoração pública do acontecimento, mas impedindo qualquer financiamento estatal às organizações que reconheçam a Nakba. De qualquer maneira, ampliam os vãos entre a narrativa popular palestina e de historiadores e a "versão oficial" aceita por Israel. (3) Miguel, Vinicius Valentin Raduan. A lógica da violência sem fim: brutalidade imperialista no Oriente Médio. Fundação Lauro Campos. 04.06.2009. Disponível em http://www.socialismo.org.br/portal/internacional/38-artigo/968-a-logica-da-violencia-sem-fim-brutalidade-imperialista-no-oriente-medio Acesso em 23.07.2009. (4) Black, Ian. 1948 no catastrophe says Israel, as term nakba banned from Arab children's textbooks. The Guardian. 22.07.2009. Disponível em http://www.guardian.co.uk/world/2009/jul/22/israel-remove-nakba-from-textbooks Acesso em 23.07.2009 (5) Jerusalem Post. Sa'ar: Nakba mustn't be taught in school. 22.07.2009. Disponível em http://www.jpost.com/servlet/Satellite?cid=1246443877113&pagename=JPost/JPArticle/ShowFull Acesso em 23.07.2009. (6) Tradução do trecho de minha autoria, em livre interpretação. O diálogo, no original é o que se segue: The Director interrupted himself. "You know what Polish is, I suppose?" "A dead language." "Like French and German," added another student, officiously showing off his learning. "And 'parent'?" questioned the D.H.C.There was an uneasy silence. Several of the boys blushed" (Huxley, 2005). (7) McGregor-Wood, Simon. Israel at War... Over Road Signs? Israeli Transport Ministry Accused of Plan to Ethnically Cleanse Road Signs. ABC News. 14.07.2009. Disponível em http://abcnews.go.com/International/story?id=8078245&page=1 Acesso em 23.07.2009. Acrescento aqui um curioso fato: a criação de um comitê de "renomeação", criado por Ben-Gurion após o estabelecimento de Israel, em 1948, que deveria "judaizar" os nomes de paisagens, montes, lagos e outras 400 cidades palestinas (Cook, 2009). (8) Em ingles: "They only see one thing: we have come here and stolen their country. Why should they accept that? They may perhaps forget in one or two generations' time, but for the moment there is no chance" (Ben-Gurion apud Goldman, N. The Jewish Paradox. New York: Fred Jordan Books, 1978). (9) "I am for compulsory transfer; I do not see anything immoral in it" Ben-Gurion apud Pappé, I. The ethnic cleansing of Palestine. Oxford: Oneworld Publications, 2007. A outra citação, no original é: "Zionist colonization, even the most restricted, must either be terminated or carried out in defiance of the will of the native population". Jabotinsky, Z. The iron wall (we and the Arabs). Disponível em http://www.zfa.org.il/opinions/ironwall.html Acesso em 23.07.2009. (10) BBC News. Livni sparks Arab "transfer" row. 12.12.2008. Disponível em http://news.bbc.co.uk/1/hi/world/middle_east/7779087.stm Acesso em 23.07.2009. Jerusalem Post. Poll: Israelis favor Arab transfer to Palestine. 31.03.2008. Disponível em http://www.jpost.com/servlet/Satellite?pagename=JPost/JPArticle/ShowFull&cid=1206632376762 Acesso em 23.07.2009.; Galili, Lily. Lieberman presents to Russia plan to expel 'disloyal' Arabs. Haaretz. 30.05.2004. Disponível em http://www.haaretz.com/hasen/pages/ShArt.jhtml?itemNo=433141 Acesso em 23.07.2009. ; Ilan, Shahar. Lieberman to Arab MKs: One day we will 'take care of you'. Haaretz. 10.03.2008. Disponível em http://www.haaretz.com/hasen/spages/962767.html Acesso em 23.07.2009. e Peace Now. APN Warns Against Legitimizing Lieberman's Bigotry. Disponível em http://peacenow.org/updates.asp?rid=0&cid=5933 Acesso em 23.07.2009. (11) BTselem. Land expropriation and settlements. Disponível em http://www.btselem.org/English/Settlements/Statistics.asp Acesso em 23.07.2009. Bem como Haaretz. Study: Settlements get more state funding than Israeli cities. 21.07.2009. Disponível em http://www.haaretz.com/hasen/spages/1101829.html Acesso em 23.07.2009. (12) Ravid, Barak. 'Israel has indisputable right to build in East Jerusalem'. Haaretz. 21.07.2009. Disponível em http://haaretz.com/hasen/spages/1101835.html Acesso em 23.07.2009. (13) Haaretz. Netanyahu: Israel won't dismantle West Bank fence. 22.07.2009. Disponível em http://haaretz.com/hasen/spages/1102097.html Acesso em 23.07.2009. (14) PENGON. Frequently asked questions about the Apartheid Wall. Disponível em http://stopthewall.org/FAQs/33.shtml Acesso em 23.07.2009. Ver também PENGON (eds.). The Wall in Palestine: Facts, Testimonies, Analysis and Call to Action. Jerusalem: PENGON, 2003.
Outras referências Cook, Jonathan. Israel's Plan to Wipe Arabic Names off the Map. Dissent Voice. 17.07.2009. Disponível em http://dissidentvoice.org/2009/07/israel's-plan-to-wipe-arabic-names-off-the-map/comment-page-1/ Acesso em 23.07.2009. Finkelstein, Norman. An Introduction to the Israel-Palestine Conflict. Setembro de 2002. Disponível em http://www.normanfinkelstein.com/article.php?ar=10&pg=4 Acesso em 23.07.2009. _____. Image and reality of the Israel-Palestine conflict. London: Verso, 2003. Huxley, Aldous. Brave New World. London: Vintage, 2005.
Pappé, Ilan. A "fúria virtuosa" de Israel e suas vítimas em Gaza. Tradução de Vinicius Valentin Raduan Miguel. Fundação Lauro Campos. 18.07.2009. Disponível em http://www.socialismo.org.br/portal/internacional/38-artigo/1031-a-qfuria-virtuosaq-de-israel-e-suas-vitimas-em-gaza Acesso em 23.07.2009 Roberts, Adam ; Guelff, Richard (eds.). Documents on the laws of war. 3a ed. Oxford: Oxford University Press, 2000. Rodinson, Maxime. Israel: a colonial-settler state? Translated by David Thortsad. New York; London: Anchor Foundation, 1988. Said, Edward. [1979]. Zionism from the standpoint of its victims. pp. 114-168. Bayoumi, M. and Rubin, A. (eds.). The Edward Said Reader. New York: Vintage Books, 2000. |
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
Desaparecendo com um país...
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
A GREVE - de Sergei Eisenstein - 1925
Sinopse
Informações do Arquivo
Formato: Rmvb.
Tamanho: 595 Mb.
Duração: 95 Min.
Legendas: Português - BR.
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Código para descompactação:
http://farra.clickforuns.netInformações do Filme
Direção: Sergei M. Eisenstein.
Roteiro: Sergei M. Eisenstein, Grigori Aleksandrov, Ilya Kravchunovsky.
Produção: Boris Mikhin.
Fotográfia: Vasili Khvatov, Vladimir Popov, Eduard Tisse.
Direção de Arte: Vasili Rakhals.
Elenco: M. Gomarov, M. Straukh, G. Alexandrov, I. Ivanov, Aleksandr Antonov.
Créditos: Shadows V. - FARRA
Física Quântica...
Osny Ramos trilhou o caminho de boa parte dos cientistas quânticos. Cético, viveu uma experiência mística e morou durante dois anos em uma montanha, como um ermitão. Tornou-se profundo conhecedor dos pilares da Física Quântica, que estuda há oito anos, mas, principalmente, na aplicação destes conceitos no cotidiano de cada pessoa. No entanto, ressalta que esta aplicação é real, longe de conceitos rasteiros de autoajuda. Prefere construir com observações, estudos e reflexões uma ponte quântica entre esta nova ciência e vários aspectos da sociedade, tais como relacionamentos, carreira e espiritualidade.
"A Física Quântica em nossa vida" Número de páginas: 247 Adquira o livro "A Física Quântica em nossa vida", de Ony Ramos. |
Seu perfil é peremptório. Estar na sua presença é mergulhar em novas sensações em torno de um conhecimento ainda rudimentar para a maioria das pessoas, o que para Osny é motivação e entusiasmo em seu discurso, articulado e convincente. Sim, algo está acontecendo e ainda não sabemos bem o que é. E para responder às nossas indagações, Osny bancou a publicação do livro “Física Quântica em nossa vida” (ao lado), que, em uma linguagem acessível, sem ser superficial, traz o assunto para o entendimento popular.
Sem medo de polêmica, Osny encara os desafios de um pesquisador determinado, ao afirmar que foi a “Física Quântica que refutou Einstein!”, ou ainda: “A Física Quântica não precisa do referendo de Einstein para ser verdadeira”.
É graduado em Engenharia Mecânica, bacharel em Filosofia, pós-graduado com especialização em Filosofia da Ciência, mestre em Antropologia Filosófica, e professor de Filosofia e Física Quântica no Instituto de Parapsicologia e Ciências Mentais de Joinville. Há 20 anos estuda e pesquisa a influência dos fótons sobre o psiquismo humano em Psicodinâmica das Cores, e há oito anos estuda a ocorrência de processos quânticos na vida do homem.
Nesta entrevista exclusiva na internet brasileira, porque só recentemente Osny Ramos começou a utilizar este meio para a divulgação de seu trabalho, fala com convicção sobre este tema e completa o título desta entrevista: “Deus joga dados, mas sempre sabe quais os lados que vão cair para cima”.
Com o falatório sobre os fenômenos da Física Quântica, já existem correntes céticas acusando todos os que falam sobre o assunto de serem aproveitadores, de utilizarem pesquisas nos ambientes das micropartículas para se promover, e que é impossível utilizar os mesmos critérios no cotidiano das pessoas. Você, como autor de um livro sobre o assunto, o que comenta sobre isto?
Eu já tenho respondido mais de uma dezena de vezes a essa mesma pergunta. Como faço agora, sempre começo dizendo que nós não devemos esperar que o público não especializado acredite nos fantásticos e estonteantes fenômenos que ocorrem na realidade quântica. Pois esses são fenômenos tão fantásticos que o cotidiano intelectual dessas pessoas - no qual se efetiva a maior parte de seu processo cognitivo - não é capaz de oferecer visões ou referências necessárias à sua compreensão. Nem os místicos e religiosos vão tão longe, em suas criações espirituais, quanto às realidades fantasmáticas afirmadas pelos físicos. Primeiramente, devo dizer que se trata de pessoas que não estão lendo sobre Física Quântica ou estão lendo pouco; portanto, eu não devo ser intelectualmente rigoroso com elas, e até poderia desconsiderá-las como interlocutoras sérias para a discussão sobre o assunto. Mas eu escrevi um livro precisamente para o público não especializado, e por isso devo responder à pergunta. Há também aqueles que acreditam que tudo isso seja possível, mas considerado apenas no âmbito da realidade das partículas, e este é o tipo de cético para o qual a minha resposta se dirige, enumerada em 6 diferentes argumentos.
Primeiro Argumento
Há algo importante que primeiramente essas pessoas devem saber sobre Física Quântica, que é o Princípio da Simetria, por meio do qual os físicos acreditam que as leis da Física são válidas em todo o Universo e em todos os tempos, as chamadas simetrias P e T, respectivamente, e isso é comprovado por inúmeros experimentos sobre os quais não há nenhuma dúvida. O assunto da simetria é algo profundo em Física Quântica, difícil de ser compreendido nos estreitos limites da compreensão popular sobre o assunto. Portanto, assim como é embaixo é em cima, podemos citar este antigo apotegma taoísta para ilustrar o princípio simétrico de que assim como é na realidade das partículas é na realidade humana.
Segundo Argumento
Mas o argumento clássico para fundamentar cientificamente a ideia de que as leis quânticas são válidas também para a realidade humana, é a consideração de que o universo físico e suas leis surgiram de uma realidade quântica. De um grão microscópico de energia com o tamanho de uma Dimensão de Planck, que existia antes do Big-Bang, algo tão pequeno quanto 1 milionésimo de 1 trilionésimo de 1 trilionésimo de 1 trilionésimo de centímetro!!! Nessa energia primordial, as 4 leis físicas com as quais o Universo foi construído – Força de Gravidade, Força Eletromagnética, Força de Interação Forte, Força de Interação Fraca - estavam unificadas numa simetria primordial. Porém, durante o período de 1 centésimo de milionésimo de segundo que durou a expansão inflacionária, ocorreu a quebra de simetria e essas 4 forças passaram a atuar separadamente, para construir a realidade física em que vivemos atualmente. Nessa matriz quântica, a realidade física e suas leis tiveram a sua origem, inclusive as leis que regem a realidade humana. Assim, do mesmo modo que o relógio funciona por meio das leis utilizadas pelo relojoeiro, no seu fundamento físico mais essencial o Universo era uma realidade quântica, de onde surgiram as leis que regem a realidade humana em que nós vivemos.
Terceiro Argumento
Há algo mais, ainda. No Experimento da Fenda Dupla – uma experiência emblemática em Física Quântica – fica comprovado que há uma interação algo psíquica entre a partícula que está sendo estudada e a intenção do experimentador. Neste experimento, a mente do experimentador participa da fenomenologia quântica e lhe altera o resultado, assim ficando evidenciado que a realidade quântica – a partícula é uma realidade quântica – atua sobre a realidade humana e vice-versa.
Quarto Argumento
Para que o átomo possa existir em seu estado fundamental – estado de mínima energia ou estado fundamental – é necessário considerar que os elétrons que giram ao redor do seu núcleo estejam condicionados pelo princípio do quantum de energia, segundo o modelo de Niels Bohr. Pois somente assim fica explicado o mistério da ruptura que o estado fundamental do átomo faz com as leis do eletromagnetismo, segundo as equações de Maxwell. Portanto, para que existam corpos físicos como o corpo do homem, por exemplo, é preciso que existam moléculas e átomos. Mas os átomos somente existem por causa do princípio quântico. Logo, sem o princípio quântico não poderia existir a realidade física nem a realidade humana. Eu até poderia anuir com esses céticos, desde que eles então dessem outra explicação para a existência de átomos violando as leis do eletromagnetismo.
Quinto Argumento
Entre os biofísicos, é sabido que as células vivas se comportam como um dipolo elétrico, isto é, elas vibram emitindo radiação eletromagnética ou fótons. Verifica-se, também, que essas células vivas apresentam spin, uma espécie de movimento de rotação apresentado pelas partículas. Estando relacionada com fótons e spins, isso já é suficiente para vincular a célula ou a vida aos processos quânticos. Porém, o mais admirável é o fato de os spins estarem relacionados com a saúde e a doença. Quando a célula se encontra doente, o seu spin gira para a esquerda, e quando se trata de uma célula sadia, o giro do seu spin é para a direita! É impossível, destarte, negar que os estados de saúde e doença não sejam influenciados pelas leis quânticas da Física das Partículas.
Sexto Argumento
Essas coisas fantásticas sobre fenômenos quânticos que acontecem na realidade humana, que ouvimos nos falatórios das avenidas e logradouros, não são ilações dos autores de livros sobre Física Quântica, mas são coisas afirmadas por respeitáveis senhores encanecidos. de olhar grave, ostentando profundas olheiras produzidas por longos períodos de estudos, ganhadores de Prêmio Nobel! Quando alguém duvida das coisas que escrevemos nesses livros, necessariamente, então, é preciso duvidar também desses senhores ganhadores de Prêmio Nobel, e certamente isso é algo que eles não fariam.
Vou insistir no assunto: até que ponto os fenômenos quânticos podem ser "vividos" longe dos laboratórios de pesquisa?
Se a resposta dada à primeira pergunta ficou clara, esta segunda pergunta não tem sentido, pois na medida em que existimos, nós vivemos os fenômenos quânticos. É o mesmo que perguntar: Até que ponto os fenômenos celulares podem ser "vividos" longe dos laboratórios de pesquisa? Células são feitas de moléculas, que são feitas de átomos, que são feitos de partículas, que são estruturadas com leis e princípios quânticos. A superestrutura é aquilo que é a infraestrutura. Nas livrarias encontram-se excelentes livros escritos por físicos respeitáveis, sobre a fundamentação de muitos aspectos da realidade humana em princípios de Física Quântica. Mas é preciso ler esses livros, informar-se sobre a Física das Partículas atuando em nossa vida. Eu escrevi um livro precisamente para informar sobre isso: A Física Quântica em nossa Vida. A nossa cultura peculiar – a cultura do homem brasileiro – é típica por fazer juízos sobre coisas que não conhece, e neste processo joga-se fora o feto juntamente com a placenta.
Como se processou, no seu íntimo, o contato com realidades metafísicas? Você pode falar brevemente de sua história até atingir seu atual estágio de conhecimento quântico?
Nunca deixo de me admirar como foi possível que em minha vida pudesse existir uma fase em que fui um agnóstico perigoso. Um agnóstico perigoso é aquele capaz de fazer discípulos! Então eu era um jovem engenheiro recém-formado, deslumbrado com as coisas admiráveis que a racionalidade clássica e o formalismo matemático da ciência eram capazes de explicar. Todavia, eu também tive a minha Estrada de Damasco, figurada pelo topo de uma montanha onde eu vivi durante 2 anos, em meditações profundas ao meio-dia e ao entardecer. Vivendo ao modo de um eremita, num ranchinho de chão batido e coberto de palha, e de onde desci com a barba negra crescida e longos cabelos caindo pelo ombro, já sendo conhecido pelo povo da região como o Eremita da Montanha.
Das fantásticas experiências psíquicas que experimentei na montanha, o homem ateu que subiu a montanha de lá desceu como um metafísico espiritualista. Desde então eu me abri intelectualmente para as realidades ontológicas mais rarefeitas das nossas experiências, inapreensíveis pela lógica das causalidades utilizada pela racionalidade clássica da ciência tradicional. Mais tarde, depois de 20 anos estudando o poder psíquico das cores com base na fenomenologia do fóton refletido – resultando na produção de dois livros sobre o assunto das cores – minha mente tomou contato com os processos da Física Quântica, pois o fóton é o elemento quântico mais emblemático representativo da Quantística.
Se você fica muito tempo mexendo com flores, o perfume delas acaba ficando em suas mãos. Assim também ocorre com a Metafísica da Luz: quem fica muito tempo estudando a natureza do fóton, acaba ficando por muito tempo pertinho de Deus. O fóton ou luz é a realidade física mais espiritual, a única partícula que é eterna e não possui massa. Entre a luz e Deus fisicamente nada mais existe! Este convívio com o fóton, agora intensificado com os meus estudos em Física Quântica, consolidou em mim a condição de homem metafísico espiritualista, sem ser místico. No curso de Física Quântica que eu ministro a distância (o leitor não deveria deixar de fazê-lo) essas fantásticas experiências psíquicas são narradas com detalhes.
Muitos afirmam que Einstein criticou a Física Quântica nas três últimas décadas de sua vida, e que por esse motivo ela não tem a credibilidade necessária. A pergunta é a seguinte: quanto tempo ainda pode demorar para se ver a inserção deste novo paradigma na ciência?
Desde o início, e não apenas no fim da sua vida, Einstein foi contrário aos postulados da Física Quântica. Mas é preciso esclarecer que ele não rejeitou a realidade dos processos quânticos, solidamente verificados por seus colegas físicos. Ele apenas achava que esses processos eram aspectos ainda desconhecidos da Física, que poderiam ser mais bem conhecidos por um estudo mais profundo da realidade. Einstein não aceitou os chamados saltos quânticos do átomo, propostos por Niels Bohr, para quem ele respondeu que Deus não joga dados! O fato é que, efetivamente, os saltos quânticos existem e assim, de fato, Deus joga dados, mas sempre sabe quais os lados que vão cair para cima. Assim podemos arrematar em boa Física Quântica e em boa Teologia. Foi a Física Quântica que refutou Einstein!
Não é verdade que, por causa da incredulidade de Einstein, a Física Quântica não tem credibilidade científica. Por Deus, isso não é verdade! Uma pessoa cientificamente informada sabe que a Física Quântica cada vez mais se afirma como a última expressão da ciência. Quando, em 1929, Edwin Hubble provou que o Universo está em expansão, esta descoberta refutou a teoria einsteiniana de um universo estático. Para salvar a sua teoria, Einstein havia inventado uma constante cosmológica, colocada à mão na sua equação, para deste modo fazer o Universo permanecer estático. Mais tarde, no fim de sua vida, Einstein confessou que a constante cosmológica havia sido o maior erro de sua vida. Mas nem por isso devemos jogar fora o feto juntamente com a placenta, e o grande físico alemão não perdeu seu valor por causa deste erro. A Física Quântica não precisa do referendo de Einstein para ser verdadeira. A Física Quântica não é um construto teórico inventado pelos físicos; antes de Max Plack ter topado com o quantum da energia, em 1901, as leis e os princípios quânticos já estavam lá, na natureza, mesmo antes que houvesse intelectos para afirmá-los ou negá-los. A Física Quântica é uma revelação da natureza para um espírito que efetivamente quer conhecê-la em sua essência!
Toda mudança de paradigma é precedida por um período de revolução epistemológica, quando então temos de conviver com espantos e perplexidades intelectuais. Este é atualmente o período por que passa a Física Quântica. Por isso mesmo, eu tenho insistido, em meu livro, sobre a necessidade da humildade intelectual do físico quântico, em travar diálogos com todos os setores pensantes da sociedade, inclusive com o conhecimento místico e religioso. Pois a Física Quântica é essencialmente uma física de probabilidades, onde tudo é suscetível de existencialidade. Desde Eugene Wigner, Nobel de Física, vem se afirmando, nos setores de vanguarda da Física Quântica, a ideia de que o fundamento último da realidade é uma grande consciência, e que o Universo e suas coisas foram planejados por uma intencionalidade oculta, que os físicos chamam de Princípio Antrópico. Tem um bocado de gente que desde o princípio do mundo chama isso de Deus!
Tem sido objeto de muita insistência minha deixar claro que a Física Quântica nada de novo apresenta: a sua contribuição é mostrar cientificamente que as coisas estranhas que achávamos absurdas na boca dos místicos e religiosos, agora podem ser admitidas como sendo verdadeiras. E sem precisarmos ser místicos ou religiosos, para os que são intelectualmente preconceituosos. Daí porque a Física Quântica desde sempre já ter garantido o seu paradigma de verdade afirmado pelos povos das diferentes épocas e lugares; afirmado pelas pessoas intelectualmente simples, das avenidas e dos logradouros, das igrejas e das barbearias...
Em seu verdadeiro fundamento mais essencial, a Física Quântica nos informa sobre a estrutura da realidade, ali onde há fenômenos e processos. Mesmo que se trate daqueles fenômenos chamados paranormais ou espirituais, dos quais a racionalidade clássica newtoniana da lógica das causalidades sempre manteve um exagerado e preconceituoso distanciamento intelectual. Agora, quando o rigor metodológico dos experimentos científicos comprova a interação entre as partículas observadas e a mente do observador, e a consciência parece fazer parte do substrato ontológico da realidade física, impõe-se inevitavelmente que a Física Quântica tenha o seu ponto de chegada numa Ontologia da Consciência. E que, deste modo, se apresente aos espíritos epistemologicamente abertos também como uma ciência da espiritualidade.
Foi precisamente este o objetivo que eu tinha em mente quando escrevi A Física Quântica em nossa Vida: interpretar, para o público não especializado, o significado das leis e dos princípios quânticos. E sempre com fidelidade ao espírito da ciência, explicando como eles atuam sobre a realidade do cotidiano do homem, para em seguida mostrar como é possível utilizá-los na vida prática, de segunda-feira a segunda-feira, direcionados para a produção de contextos favoráveis à concretização dos nossos projetos e atividades. No mundo inteiro ainda não se tem notícia de outro livro escrito com este objetivo, preservando a identidade cientifica.
Fale-nos um pouco mais do seu livro "A Física Quântica em nossa Vida". Como está sendo sua repercussão e aceitação pelas pessoas? O que o levou a conceber a obra? Qual o seu processo criativo em um assunto tão, digamos, espinhoso?
Em língua portuguesa, atualmente, são publicados excelentes livros sobre Física Quântica, escritos por físicos com grande conhecimento sobre o assunto – talvez uma dezena de títulos encontre-se disponível nas nossas livrarias. Esses livros contêm tudo o que é preciso saber, para se ter uma boa compreensão sobre as leis e os princípios quânticos. Todavia, depois de terem lidos esses livros, tem sido comum ouvir as pessoas dizerem que não entenderam patavina, e o assunto sobre Física Quântica continua a ser grego para elas. Isso é compreensível, pois é extremamente difícil falar sobre a realidade quântica e seus processos, e mais difícil se torna quando se trata de falar para um público popular. Meu livro foi escrito para esse público popular; para o indivíduo dos cotidianos intelectualmente simples das avenidas e dos logradouros, numa linguagem clara e compreensível.
Nesse livro as leis e os princípios quânticos são interpretados em seus significados essenciais, de um modo fiel ao espírito da Física Quântica. Em seguida é explicado como essas leis e princípios podem ser utilizados na vida real das pessoas, para produzir contextos favoráveis e concretizar projetos e atividades. Diferenciando-se completamente desses ensinos com o nome de autoajuda, o livro orienta as pessoas em como adotar atitudes e comportamentos capazes de sintonizá-las com as leis e os princípios da Física Quântica. Em síntese, o livro demonstra que em seu fundamento mais essencial a Física Quântica mostra um fundamento metafísico e espiritual da realidade, porém sem misticismo ou religiosidade, isso é importante ressaltar.
Qual a relação entre Física Quântica e Espiritualidade? Como você pode comentar isto?
Quando o físico Frances Louis de Broglie descobriu que as partículas possuíam também uma dimensão ondulatória, além de uma dimensão corpuscular, a realidade cósmica passou a ser compreendida apenas como uma parte bastante pequena de uma grande totalidade invisível. A ideia de que algo pudesse existir concomitantemente como partícula e como onda era extremamente difícil de ser aceita pela comunidade dos físicos, pois ela exigia uma ruptura com paradigmas da Física Clássica. Pois nessa sua dimensão ondulatória as partículas podem existir fora do tempo e do espaço, não estando sujeitas aos condicionamentos impostos nem pelas leis da Física nem pelo Princípio de Causalidade. Era necessário admitir um fantástico modo de existência para as partículas, inimaginável até mesmo pelos místicos e religiosos. Niels Bohr ganhou um Prêmio Nobel ao explicar como isso é possível, ao formular o seu famoso Princípio de Complementaridade.
As consequências advindas da Mecânica Vibratória de Louis de Broglie e do Princípio de Complementaridade para a realidade cósmica em que todos nós vivemos são tão fantásticas que chegam a ultrapassar, em nível de transcendência, tudo aquilo que os místicos e religiosos afirmavam sobre a realidade espiritual da alma do homem. Se você ler dois textos, um sobre mística e outro que trate sobre as possibilidades da realidade quântica, não será capaz de distinguir entre um e outro. Existem alguns experimentos clássicos em Física Quântica que comprovam isso, como o Efeito de Não Localidade, O Experimento da Fenda Dupla, a Correlação Quântica, por exemplo. Ademais, quando você adquire uma lúcida compreensão de certos conceitos em Física Quântica, como o de Função de Onda, Colapso da Função de Onda, Correlação Quântica, Emaranhamento Quântico, Princípio Antrópico, em especial, é intelectualmente impossível não admitir um substrato metafísico para a realidade física, um substrato como que psíquico, como que espiritual.
O Princípio de Simetria diz que as leis da Física Quântica são válidas também para a macrorrealidade, e, portanto, para a realidade humana. Em meu livro faço uma análise profunda do Princípio de Simetria, colocando em realce as evidências que comprovam que tudo o que acontece no mundo das partículas acontece também na realidade humana. Quando utilizamos a ideia de simetria consoante o Princípio da Complementaridade, o fundamento ondulatório da realidade passa então a lhe conferir um irrefutável substrato metafísico, em nada sendo menos imponderável do que um substrato de espiritualidade.
Manoel Fernandes Neto, 46 anos, é jornalista, pesquisador de comunidades digitais, escreve e edita revistas na Internet. Criador e editor da revista NovaE. ( www.novae.inf.br ), Prêmio Ponto de Mídia Livre do Ministério da Cultura, 2009.
Série Gramsci/2009: Hegemonia(texto longo)
Do blog Na pratica a teoria é outra
Esse post, aviso, vai ser longo. Demorou pra escrever, e só sai agora que o Amiano me arrumou a imagem acima.
Aviso também que não tenho muito entusiasmo para discutir a “ortodoxia” da interpretação que se segue. Não que não acredite que toda interpretação é possível, mas, em geral, algumas são; e, no caso de um autor como o Gramsci, cuja obra é uma coleção de fragmentos, o problema é especialmente grave. Minha sugestão é deixar as interpretações circularem e ver que trabalho elas fazem de interessante, sob os vários critérios pelos quais se pode julgar essas coisas.
Enfim, taí o que você queria:
Hegemonia é provavelmente o conceito mais conhecido do Gramsci. Na versão Olavopop, é uma sacanagem tipo maçonaria pela qual os comuna arranjam um monte de emprego público, escrevem livros didáticos, botam o Vaticano no bolso, dominam as redações dos jornais e mandam ele embora. A partir daí, eles passam a repetir um monte de baboseira que é o exato inverso da verdade, e, como nego é burro pra cacete, todo mundo começa a acreditar nisso. Vamos voltar a falar do Olavo no último post ( e não só mal), mas a primeira coisa que deve ser dita sobre hegemonia é: não é isso não.
Para começar, uma boa comparação é com a análise do poder do Foucault. No célebre começo do Vigiar e Punir, o rei da França sai pra dar uma volta e toma umas facada. Pegam o sujeito que fez isso e estrupiam ele todo (e o cabra demora pra morrer). O poder é mostrado como um corpo, o corpo do Rei, que é facilmente identificável pela peruca ridícula e pode ser atingido com uma faquinha vagabunda.
Na modernidade, por outro lado, o poder se exerce em uma rede, composta pela legislação, pelo saber científico, pela medicalização do não-adaptado, pelas instituições difusas, cada qual com seu funcionamento, mas pautadas por uma determinada visão moderna de disciplina (que também se vê na fábrica, na burocracia).
E esse poder mais difuso é menos, muito menos frágil do que o poder do reizinho lá. Exemplifico com uma história que me contaram. Numa discussão no CEBRAP, um estudante reclamou que não aguentava mais ficar estudando conceitos abstratos, como Estado; queria estudar coisas concretas. Aí o Giannotti pega um copinho de plástico e pergunta: o que é mais concreto, esse copo ou o Estado, ou o Capitalismo? E o moleque responde, esse copo. O Giannotti esmaga o copo com a mão, vira pro moleque, e diz: agora faz isso com o Estado, ou com o Capitalismo.
Pois bem: o livro do reizinho do começo do Foucault é “O Príncipe”. O livro desse novo poder é o que o Gramsci quis escrever (”O Moderno Príncipe”), sempre dentro da interpretação que o Gramsci dava ao Maquiavel: Gramsci achava que Maquiavel explicando o poder não servia aos príncipes. Os príncipes já sabiam como alcançar e manter o poder. Quem não sabia era o povo.
Mas há uma diferença crucial entre o Gramsci e o Foucault: o poder do Foucault é um negócio descentrado, uma nuvem de redes na qual o poder circula. Para Gramsci, marxista que era, essa nuvem de redes tinha um núcleo duro: a dominação de classe burguesa, à qual correspondia, não apenas a dominação na fábrica, mas também uma visão de mundo que se impunha cada vez mais à medida em que o capitalismo se consolidava, mas tinha sua própria história: o capitalismo também se desenvolvia à medida em que as condições ideológicas, por sua própria dinâmica, se tornavam mais favoráves - com a reforma protestante, por exemplo.
(note-se que Weber, cuja obra Gramsci conheceu muito pouco, não deixou de notar algo parecido, por exemplo, quando falava das semelhanças entre a separação entre produtor e meios de produção na fábrica e administrador e meios de administração na burocracia)
Quando a burguesia consegue articular essa visão de mundo (em grande parte, porque o capitalismo se desenvolve rapidamente), passa a exercer liderança sobre as outras classes, inclusive a classe dominada (em momentos de hegemonia particularmente consolidada). Hegemonia é um conceito que expressa essa idéia de que a classe dominante é a que leva a sociedade em uma determinada direção.
Uma idéia frequentemente levantada como objeção a isso: ora, não há evidência de uma conspiração burguesa para implementar valores burgueses na sociedade, os teóricos do liberalismo eram aristocratas ou padres. Esse é o argumento de quem ainda procura o poder no corpo do rei.
As idéias iluministas surgem a partir de uma dinâmica própria da discussão intelectual da época (cujos participantes eram, em geral, aristocratas ou padres), e têm uma longa pré-história. Muitas delas se originam em países em que o capitalismo era pouco desenvolvido. Mas elas exercem maior influência em países em que o capitalismo se desenvolve cada vez mais rápido, como a Inglaterra e a França (há casos complicados, como a Alemanha - ver Kant sobre a revolução francesa). Usando a expressão do Weber, há uma afinidade eletiva entre o capitalismo e essas maneiras de pensar, e a partir de certo ponto é difícil diferenciar a difusão de um e das outras: quando a Rússia perde a guerra da Criméia, fica claro que precisa se modernizar para sobreviver como Estado: e o desafio, para o qual a elite russa não encontra resposta à altura, é como importar o capitalismo sem aqueles igualitarismos todos.
Aí caiu a aristocracia russa. Sobem os bolcheviques ao poder, todos animadinhos. Querem implementar uma coisa totalmente diferente. Uma nova hegemonia (é Lenin quem inventa o termo). Acaba a guerra civil, e o que os bolcheviques fazem? Depois de reprimir os movimentos operários dentro das fábricas e perder o conflito militar contra os camponeses, que eram os verdadeiros autores da revolução (a revanche, sob Stalin, seria um dos piores episódios da história humana), os bolcheviques descobrem que controlam apenas “O Estado czarista caiado de vermelho” (Lenin). E têm que executar exatamente as mesmas tarefas, visto que, ao contrário da burguesia triunfante, por exemplo, na Revolução Gloriosa, não incorporam um poderoso movimento da estrutura econômica em direção à esfera ideológica.
O socialismo não existe enquanto plataforma econômica, a não ser na versão, já completamente aburguesada desde a Segunda Internacional, de completa estatização da economia. Leia-se: estatização das fábricas criadas pela hegemonia burguesa pelo Estado burocrático criado pela hegemonia burguesa. Porque o operariado não conseguiu inventar sua própria unidade de produção e sua própria visão de poder. O projeto de hegemonia operária, pelo menos até agora, fracassou.
Para o Gramsci, observando isso aí em tempo real, havia um sinal claro desse fracasso: o terror stalinista. A classe dominante precisa apelar para a coerção contra os dominados quando sua hegemonia entra em crise - quando o capitalismo entra em crise nos anos 30, surge o fascismo para fuzilar os opositores que o liberalismo não conseguia mais cooptar. Em momentos de hegemonia consolidada, o poder se exerce de maneira sutil, pela conversão ideológica, ou porque o modo de produção consegue produzir o suficiente para cooptar os dominados ou classes dominantes rivais. A famosa citação do “imperativo categórico” (algo como: o poder do partido deve ser como um imperativo categórico), que às vezes é lida como “o que o partido disser é verdade absoluta”, na verdade quer dizer: o poder do hegemon é o poder de dar as categorias com as quais mesmo seus rivais se oporão a ele, as idéias fundamentais a partir dos quais se fazem as deduções no debate.
(Quando a Coréia do Norte faz questão de ser chamada de República Democrática da Coréia, é porque a democracia atingiu o ideal gramsciano de idéia hegemônica. Note-se que, por outro lado, quando a hegemonia burguesa entrou em crise, mesmo um movimento reacionário como o nazismo colocou um “socialista”zinho no seu nome).
O Gramsci, portanto, desenvolvia seu conceito de hegemonia diante de dois problemas:
1) o socialismo soviético não conseguiu estabelecer uma hegemonia operária, como se nota pelo fato de que foi necessário o Stalin para preservar o poder soviético. Era óbvio que isso não era o que os operários socialistas da Europa Ocidental de Gramsci tinham em mente para seu futuro Estado. Era preciso explicar (como Maquiavel) ao operariado como exercer o poder sem coerção (mais precisamente, com um mix consenso/coerção pelo menos semelhante ao conquistado pela burguesia em seu domínio).
2) a crise de hegemonia do capitalismo não produziu uma revolução socialista na Europa desenvolvida. Muito pelo contrário: os regimes burgueses regrediram brutalmente diante dos próprios valores da burguesia, e se tornaram abertamente opressivos, com o apoio de setores significativos do operariado (Mussolini, lembremos, era do partido socialista). A ofensiva operária dos anos anteriores foi perfeitamente passivizada (esse termo é importante) pelo fascismo: idéias como planejamento econômico ou partido de massas foram esvaziadas de seu conteúdo anti-capitalista e tornadas moeda comum na discussão burguesa (lembremos que, nos primeiros anos do fascismo, um conservador lúcido como Churchill se entusiasmava com Mussolini; para não falar, naturalmente, de Henry Ford, objeto de numerosas análises de Gramsci).
Antes de entender a solução, uma observação. Vocês já devem ter visto a caracterização do Gramsci como um sujeito que pretende infiltrar todas as instituições da boa sociedade com idéias comunistas. Bem, é possível, também, vê-o como um sujeito tentando introduzir idéias democráticas a partir do vocabulário leninista (indispensável para a eficácia política de seu esforço dentro do partido). Cada um interprete como queira, mas eu acho que há uma boa dose de verdade nessa segunda interpretação, que é a que eu desenvolvo a seguir.
Pois o dogma leninista por excelência é: o instrumento do poder operário é o partido, e o partido deve tomar o Estado. O Gramsci, diante disso, diz: é isso aí. Isso aí, 100%. Concordo com isso com cada fibra de meu ser. Isso está totalmente certo, e aproveito para fazer minha apologia do Lenin e de tudo que ele dizia. Lenin era o cara. Quem não gosta do partido tem mais é que se fuder, mesmo. A proposição “instrumento do poder operário é o partido, e o partido deve tomar o Estado” é perfeitamene correta. Agora, tenho algumas considerações sobre o que quer dizer “Partido” e o que quer dizer “Estado”…(nesse momento, NPTO dá uma risadinha sacana e diz “ooooooléééééééé” para a operação retórica).
O Estado, diria Gramsci, é “mais ou menos aquilo que o Foucault vai dizer daqui a algumas décadas sem me dar o devido crédito por ter dito isso primeiro, careca miserável”. Não é só o que o Hegel chamava de sociedade política, o Estadinho lá, com seu congressinho, seu presidentinho, sua policinha, capitão Nascimento, Sarney, essas coisas. É isso também, bem entendido. Mas também é a articulação disso tudo com a sociedade civil, a escola e as academias que elaboram e desenvolvem a visão de mundo dominante, o saber assim produzido, os sindicatos reformistas e partidos social-democratas que mantém o conflito sob controle, a mídia que fixa os limites do debate, a família que transmite os valores dominantes e consagra hierarquias, etc. Se você conquista o Estado czarista, você caia ele de vermelho e os burocratas que obedeciam o czar obedecem você. Mas de nada adianta conseguir uma adesão puramente externa (quem é que era contra o Stalin na frente dele?) em termos de ideologia, sentimentos, valores, saberes. Ou você consegue convencer, sensibilizar, justificar-se, descrever a realidade, ou você, cedo ou tarde, ao invés de impor sua visão de mundo, vai ser lentamente colonizado pelos dominantes conquistados.
(acho que foi o Lenin, mas pode ter sido o Bukhárin, que disse algo como: os bolcheviques, em seu contato com os burocratas do Estado, eram como um povo bárbaro que conquista um povo civilizado e passa a ser lentamente colonizado pelos conquistados).
Por isso, a política moderna não é guerra de movimento - êêê!!!!vamo conquistá o estado e dar porrada em todo mundo - mas guerra de posição. Hoje você convence aqui, amanhã você sensibiliza ali, depois de amanhã seu adversário produz algo mais convincente que você e você tem que começar tudo de novo, enquanto isso um setor que oscila entre você e o seu adversário sai do seu controle, logo depois uma descoberta científica, sem que tenha sido feita pra isso, fortalece sua visão de mundo, e vamos nessa, que esse jogo é demorado.
(Olha o eco do Maquiavel aí: diferença entre o reino da França e o reino da Pérsia. A Pérsia, como a Rússia, pré-bolchevique, tinha o poder altamente centralizado. A França na época do Maquiavel, como as sociedades ocidentais modernas, tinha o poder altamente disperso. O poder na Pérsia era difícil de conquistar, porque o poder centralizado é ágil na reação, mas, se você conquistar, é fácil de manter, porque todo aquele aparato centralizado agora é seu. O poder na França era fácil de conquistar, porque por quaisquer dez real você conseguia uma conspiração de barões qualquer e tomava o poder, mas era difícil de manter, porque, naturalmente, era com a lealdade desses mesmos barões que você precisava contar para governar. Sim, sim, lembra mesmo)
Ou seja: o Lenin tem razão, tem que conquistar o Estado, mas conquistar o Estado é jogar esse jogo todo. Não é à toa que, no pós-guerra, o partido comunista italiano usou o mártir Gramsci como bandeira para se tornar um partido democrático normal, no que, se vocês me perguntarem, fez muito bem, mas sempre se pode discordar disso. Notem também que, deixando claro que estavam falando das sociedades ocidentais modernas, os eurocomunistas mais ou menos conseguiam livrar a própria cara por apoiar o pós-stalinismo na Rússia (um puta argumento racista).
E o partido? Ah, o partido é exatamente o que o Lenin falou, tem que obedecer o partido. Mas o que é o partido? Não é só o partido = legenda registrada no TSE, ou, como é mais comum com os partidos leninistas de hoje em dia, registrada provisoriamente porque não se consegue eleger ninguém. O partido é um movimento, uma articulação do partido, do sindicato, de movimentos religiosos ou ideológicos de outra natureza, um interesse de desenvolver determinadas áreas da ciência, uma certa sensibilidade artística, movendo-se em determinada direção. Note-se que, quando digo “articulação”, não estou falando de controle de todas essas esferas pelo partido registrado (mesmo que provisoriamente) no TSE. Cada elo dessa corrente se desenvolve por si só, e, se a classe que é o núcleo duro dessa nuvem de redes se tornar hegemônica, a unidade entre elas se desenvolve naturalmente.
Uma classe dominante, inclusive, pode deixar amplos espaços para tendências antagônicas sem perder sua hegemonia, desde que o modo de produção que fundar ainda se desenvolva e os pressupostos básicos de sua cultura ainda convençam. Se o socialismo conseguisse se tornar hegemônico, portanto, poderia facilmente tolerar partidos anti-socialistas; e o fato de que não pode (não tem mais acento isso, certo? É poder no passado) mostra claramente que não se tornou hegemônico.
Resumindo: o conceito gramsciano de hegemonia faz dois trabalhos.
Um é descrever o processo pelo qual uma classe ascendente produz uma nova visão de política e novos valores culturais, e só se torna dominante se conseguir convencer e sensibilizar, além de produzir; a coerção deve ser apenas um elemento secundário e excepcional no exercício de poder hegemônico. Já viram o conceito do Joseph Nye de “soft power”? É por aí. A origem gramsciana da melhor formulação atual sobre o poder, a do Steve Luke, é reconhecida. Nesse sentido, é uma boa idéia para pensar certos processos históricos.
O outro é explicar à esquerda como agir eficazmente na política moderna: sem tentar ir pro pau de qualquer maneira, mas construindo um novo consenso a respeito da maneira certa de viver a partir da experiência das lutas operárias e dos valores igualitários que nada mais são do que uma “heresia da liberdade”. Historicamente, isso levou os partidos comunistas ocidentais a aceitarem a democracia como valor, não apenas como arena.
Claro, o problema é que o operariado (ainda?) não conseguiu produzir uma nova forma de produzir. Nesse sentido, pelo critério marxista, sua chance de construir uma nova hegemonia ainda é zero. O que acontece, então, com esse esforço de construção hegemônica que começa a rodar no vazio por falta de substrato econômico? Esse será o assunto de outro post.
Poesias da Tania... Homens e Mulheres são da Terra
Nem de Marte nem de Vênus
Homens e mulheres são da Terra
De um planeta em erupção
Corrompido pela ambição
Homens e mulheres em competição
Breve tempo o que os uniu
Sem nostalgia
Sentimentos
Valores
Só conhecem o contra
Nesta jornada XXI
Desrespeito muito amplo
Desigualdade salarial
Estupidez
Rispidez
Nem de Marte nem de Vênus
Homens e mulheres são da Terra
Sem determinismos
Vivendo
Com pouco otimismo
Seu calvário
Por falta de sintonia
Por falta de compreensão
Por puro egoísmo
Nem de Marte nem de Vênus
Homens e mulheres são da Terra
Negam preconceitos
mas
Não aceitam empate
Não brincam mais de papai e mamãe
Homens e mulheres
são
intraterrestres
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Dez anos esta tarde(ontem)
Por Katarina Peixoto
Não é o fato de o Ministério Público Federal não dizer, uma vez mais, algo surpreendente. Não é o constrangimento que a grande mídia, cúmplice, teria de enfrentar, vergonha alguma tivesse, ao anunciar a presença de nomes até hoje pela manhã solenemente sonegados na lista dos suspeitos de saque ao erário e enriquecimento ilícito. Não é a esquisita falta da mínima compaixão pelos que estão, agora, juridicamente implicados, contra qualquer interpretação editorial de plantão. Não é o lamento perante os chargistas de aluguel. Não é o desprezo e mesmo o nojo do colunismo político da grande mídia. Nada disso realmente importa, hoje, nesta tarde em que essa gente toda foi exposta. Nem mesmo importa a constatação não sujeita a qualquer debate de que essa fraude específica começou no ano imediatamente seguinte à saída do PT do governo do estado do RS.
Não é o castelinho de papel de que se fez e faz Rigotto, cujo secretário de segurança pública, louvado pela mídia monopólica cúmplice, encabeça a lista de réus. Não é o desejo de devolver, como cuspe, os perdigotos deliberados e falastrões do senador vitalício da grande cúmplice da hecatombe que assola este estado, e que vem sendo gestada e produzida há pouco mais de dez anos.
Na oposição até 2002, capitaneada pelos cúmplices e seus capangas opinativos hoje homens de patrimônio material improvável a qualquer assalariado, a direita gaúcha liberou-se pelo voto para reiniciar o saque do estado. À oposição ideológica fecunda, construída em campanhas de amparo às crianças e sob a espantosa bandeira da paz, seguiu-se esse saque através de um organismo vinculado à segurança pública. Exatamente a Segurança, aquela vitimada pela guerra ideológica que o monopólio midiático escolheu para massacrar, não poupando pessoas, vidas e histórias, depois de terem sepultado de vez qualquer compromisso com a verdade.
Esta fraude no DETRAN-RS teve início no primeiro ano do governo Germano Rigotto. O rapaz que substituiu José Paulo Bisol encabeça a lista dos denunciados na fraude, de aproximadamente 44 milhões de reais. Um dos substitutos de Flavio Koutzii na casa civil também ocupa a lista, envolvido e ou com enriquecimento ilícito, e ou com desvio de recursos públicos, e ou com a facilitação desses desvios. O rapaz que substituiu Miguel Rossetto na Secretaria Geral de Governo também está na lista, bem como está nas notícias esquisitas sobre o uso de dinheiro sem procedência justificada que comprou a casa em que a senhora que substituiu o cargo ocupado certa feita por Olívio Dutra atualmente habita. E talvez seja preciso lembrar quem indicou o atual presidente do Tribunal de Contas do Estado, também presente na lista desta tarde.
Na Assembléia, os cúmplices desses réus se recusam a assinar uma CPI. Recusam-se, é de se concluir, porque foi um documento produzido após a realização da CPI do DETRAN, no ano passado, que deu origem à investigação cujos resultados hoje vieram parcialmente à tona. Os cúmplices dessa gente não querem CPI, a começar pelo Senador Pedro Simon, neste momento encenando uma peça sobre probidade e ética, no caso, contra José Sarney, o mais recente neófito da política peemdebista.
Nesta tarde, o que importa é a claridão que suprime o ressentimento e libera o espírito e a Política das trevas em que se foi metendo o Rio Grande do Sul, há pouco mais de dez anos. Há uma expressão médica que nomeia aquela melhora que um paciente terminal experimenta dias ou no dia anterior a sua morte: melhora crepuscular. Pode-se dizer que o irracionalismo e a barbárie contra o seu povo e sobretudo contra a democracia constituíram a melhora crepuscular da direita gaúcha, que se fortaleceu a partir de 1999. Melhora que ganhou vigor na campanha delirante de afastamento do fabricado tumor maligno, finalmente derrotado nas eleições de 2002. E que foi se consumindo como metástase e putrefação ao vivo, nesta tarde. Dez anos, esta tarde. É isso o que importa.
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
Robert Fisk, The Independent, UK
Por que o mundo árabe – falemos terrivelmente claramente – é tão atrasado? Por que tantos ditadores, tão ralos direitos humanos, tanta 'segurança' e tortura, tantos analfabetos?
Por que esse mundo destroçado, tão rico em petróleo, tem, em tempos de computador, tantos milhões de analfabetos, mal nutridos, além de tantos corruptos? Sim, eu sei da história do colonialismo ocidental, as conspirações sinistras do Ocidente, o argumento árabe de que não se depõem xeiques e reis e autocratas, além de imans e emires, quando "o inimigo está à porta". Há verdade nisso, mas não suficiente verdade.
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP) aí está com mais um relatório, o quinto – feito por analistas e especialistas árabes, observem bem –, que denuncia o espantoso estado de atraso em que vive parte significativa do Oriente Médio. Fala da "fragilidade das estruturas políticas, sociais, econômicas e ambientais da Região (...), da vulnerabilidade à intervenção do exterior". Mas será que a desertificação explicaria o analfabetismo – maior entre as mulheres –, ou o Estado árabe o qual, o relatório admite, muitas vezes "é mais ameaça à segurança humana, do que instrumento para prover segurança"?
Rami Khouri, jornalista árabe, escreveu muito claramente, semana passada: "Como enfrentar as causas ocultas de nossa mediocridade e implantar mudanças reais ancoradas em cidadania sólida, economia produtiva e Estado estável continua a ser o enigma que continua a desafiar três gerações de árabes". O PIB real per capita na Região – um dos indicadores que mais chocaram Khouri – cresceu apenas 6,4% entre 1980 e 2004. Apenas 0,5% ao ano, taxa menor que a de 198 dos 217 países analisados no CIA World Factbook em 2008. Isso, para uma população árabe – 150 milhões em 1980 –, que chegará a 400 milhões em 2015.
Vejo, eu mesmo, quase tudo isso. A primeira vez em que estive no Oriente Médio, em 1976, já havia gente demais. As ruas malcheirosas, tão cheias que mal se pode andar nelas, do Cairo, já estavam sempre cheias, dia e noite, com quase um milhão de sem-tetos, muitos dos quais viviam nos grandes cemitérios otomanos. As casas árabes são imaculadamente limpas, mas as ruas são imundas, muitas vezes repugnantes, sujeira e lixo espalhados pelas calçadas. Mesmo no belo Líbano, onde há uma espécie de democracia e cujo povo está entre os mais cultos e bem educados de todo o Oriente Médio, o fenômeno é o mesmo. Nas vilas das montanhas do sul, as casas, sempre, rigorosa e perfeitamente limpas. Mas por que as ruas e os arredores das vilas são sempre tão sujos?
Suspeito que haja, sim, algum problema com a cabeça dos árabes: eles não se sentem donos dos próprios países. Constantemente expostos a efusões de entusiasmo em nome de uma "unidade" árabe ou nacional, acho que não sentem que pertencem à terra ou que a terra é sua, como os ocidentais sentimos. Quase sempre, ou muitas vezes, impedidos de eleger quem os represente realmente – até no Líbano, exceto no contexto das tribos ou do sectarismo – as pessoas sentem-se "descartadas", sentem-se excluídas, excetuadas. A rua, o país, como entidade territorial física pertence a outro, a alguém, não ao povo, aos habitantes. E, claro, no instante em que um movimento brota e – caso ainda mais grave – torna-se popular, introduzem-se novas leis de exceção que imediatamente tornam ilegal o movimento, ou o declaram "terrorista". Assim, a responsabilidade por cuidar dos jardins, dos arredores das cidades e das ruas é sempre transferida, sempre é de algum outro.
Os funcionários do Estado – que trabalham diretamente para o Estado e suas autarquias corruptas – também sentem que sua existência depende da mesma corrupção sobre a qual viceja o próprio Estado. A população torna-se parte da corrupção de todos. Nunca esqueço de um árabe dono de terras, há anos, reclamando das campanhas anti-corrupção de seu governo. "Antigamente, era pagar a propina ao funcionário certo, e consertavam o telefone, as bombas d'água voltavam a funcionar, voltávamos a ter energia elétrica" – dizia ele. "Hoje em dia, Mr. Robert, não posso subornar qualquer um, nem consigo subornar todos nem sei a quem subornar. Então... nada funciona!"
Desde o primeiro relatório do UNDP, de 2002, a coisa era já deprimente. Identificavam-se três principais obstáculos ao desenvolvimento humano no mundo árabe: o crescente "déficit" de liberdade, de direitos para as mulheres e de conhecimento. George W Bush – aquele, o da liberdade eterna, democracia eterna etc. etc. além de guerra eterna e eterno massacre no Iraque –, por exemplo, foi sensível a essas dificuldades. Até Hosni Mubarak do Egito (aquele, o do sucesso eleitoral superior a 90%), compreensivelmente irritado por estar ouvindo sermão do homem que rebatizou o "terror", disse a Tony Blair em 2004 que a modernização teria de considerar "as tradições e a cultura da Região".
Alguma solução para a guerra árabe-israelense resolverá todos esses problemas? Talvez, sim, alguns deles. Sem o constante desafio da crise, seria cada vez mais difícil renovar as leis de exceção, não aprovar constituições, negar qualquer legalidade ou constitucionalidade, distrair as populações porque, se não forem distraídas, há risco de que se ponham a exigir mudanças políticas radicais. Às vezes, temo que os problemas tenham-se aprofundado demais, que, como onde há esgoto que vaza há muito tempo, toda a terra em que pisam os povos árabes esteja infiltrada de problemas, porosa, frágil, e que sobre ela já nada se possa construir.
Foi para mim enorme alegria, há alguns meses, em palestra na Universidade do Cairo – aquela, a mesma na qual Barack Obama praticou diplomacia soft com o mundo muçulmano –, descobrir tantos alunos brilhantes, muitas moças nas classes e o quanto são mais bem-educados e mais bem formados, hoje, em comparação ao que vi em visitas anteriores. Mesmo assim, muitos, muitos, só pensam em mudar-se para o Ocidente. O Corão é documento preciosíssimo – mas um Green Card também é. E quem os poderia culpar, se Cairo está cheia de engenheiros pós-graduados que ganham a vida dirigindo táxis?
Quanto ao equilíbrio, sim, uma paz séria entre palestinos e israelenses, sim, ajudaria muito a reequilibrar os espantosos desequilíbrios que atacam como praga a sociedade árabe. Quem já não tenha energia para protestar contra a escandalosa injustiça que é aquela guerra, talvez reencontre forças para lutar contra outras escandalosas injustiças. Uma delas, por exemplo, a violência doméstica, a qual – apesar de os povos árabes serem, sim, muito ligados à família – é mais disseminada na sociedade árabe do que os ocidentais talvez saibam (ou os árabes admitam).
De qualquer modo, estou convencido, sim, de que, militarmente, temos de sair de lá. Temos de desocupar o Oriente Médio. Temos de sair de lá.
Façam o que for preciso. Temos de sair de lá. Mandem para lá professores, economistas, agrônomos. Mas não soldados. Os soldados têm de voltar para casa. Não defendem nada e ninguém, no Oriente Médio. Não nos defendem. Espalham, lá, caos idêntico e alimentam a mesma injustiça que fazem engordar as Al-Qaedas do mundo. Não, os árabes – ou, fora do mundo árabe, os iranianos ou os afegãos – não gerarão democracias eco-amantes, gênero-igualitárias, as risonhas e festejantes democracias que todos gostaríamos de ver (ou de ser). Mas, livres da "nossa" tutela, os árabes desenvolverão suas sociedades, em benefício das pessoas que as constituem. Talvez, assim, os árabes convençam-se de que são donos da terra onde vivem.
O amor nos tempos de... crise
Quando começou o estouro da bolha financeira nos Estados Unidos, em setembro de 2008, algum economista disse que a vida de todos ia mudar, e muito. Criou-se a impressão de que “nada será como antes”. Mas a extensão dessa frase só vai sendo percebida aos poucos, embora cada vez que ela se esclareça um pouco mais, os efeitos comprovados têm uma dimensão catastrófica ou, no mínimo, espetacular.
Durante o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso percebia-se um dos índices da “quebradeira Brasil” no fenômeno do “abre-fecha, fecha-abre”. A avenida Corifeu de Azevedo Marques, perto de onde eu vivia, no Butantã, em São Paulo, era um dos locais onde mais se observava esse fenômeno. A avenida era o reino do pequeno comércio, um viveiro de pizzarias com entrega em domicílio, frango assado, armarinhos, farmácias, chaveiros, oficinas, papelarias, lojinhas de todo tipo, além dos tradicionais barzinhos e das padarias.
E naqueles anos, entre 1998 e 2002, praticamente todo o dia um novo pequeno negócio abria e um antigo pequeno negócio fechava. Era uma nova forma de alta-rotatividade. Os que fechavam se viam na contingência de ter de impedir o crescimento das dívidas; os que abriam, muitas vezes eram movidos pela esperança de recém-desempregados de darem um uso promissor para seu fundo de garantia, ou outra indenização que recebessem.
Agora aqui em Berlim onde vivo, e em outras cidades europeias, vê-se um fenômeno mais radical. Os pequenos negócios não desfrutam da proteção dispensada às grandes empresas e grandes bancos; com eles está ocorrendo o simples fecha-fecha. É um espantoso rosário de quebradeiras, de lojas de todo o tipo que liquidam tudo porque vão fechar. Há as grandes lojas também: duas cadeias de lojas de departamento já anunciaram que vão fechar em breve.
E esse novo tipo de “quebra-quebra” sem pancadaria vai provocando um outro, o da deflação: as lojas que não estão quebrando têm de baixar seus preços porque as outras baixaram. Se baixam os preços, diminuem o número de empregados. Resultado: há estimativas de que o atual número de desempregados na Alemanha, aproximadamente 3,5 milhões num universo de quase 45 milhões de potenciais trabalhadores ativos, pule para 5 milhões em menos de um ano.
A tal ponto chegou a situação que Frank Walter Sternmeier, líder do Partido Social Democrata (SPD), cujas chances nas próximas eleições de setembro são reduzidas (com cerca de 23% ou 24% das intenções de voto), decidiu alavancar seu partido com a promessa de criar 4 milhões de novos postos de trabalho nos próximos anos. Esse patamar de insolvência atinge duramente os jovens, e não só na Alemanha. Faz tempo que os jovens – sobretudo os casais jovens que começam a planejar ou a ter filhos – não procuram mais um “emprego” propriamente, mas um “trabalho”. Qual a diferença? Um “emprego” é algo que se projeta no tempo de modo mais duradouro; um “trabalho” é algo mais imediato, ou simplesmente pré-datado: com frequência as ofertas são de “trabalho por um ano”, “por seis meses”, e esses são postos disputados avidamente por cada vez mais concorrentes.
É muito mais comum do que antes os relacionamentos amorosos já começarem ou continuarem à distância. A mãe e o filho, por exemplo, moram numa cidade, num país, e o pai em outro, e com frequência esses endereços mudam ao longo do ano. Por razões de amizade estive num aniversário, no último fim de semana, onde quase todos os casais jovens estavam vivendo de alguma forma essa nova circunstância. Dois dos pares que lá estavam, por exemplo, eram vítimas da circunstância agora cada vez mais comum de dormirem empregados e acordarem desempregados, sem mais nem menos, aliás, com muito menos do que mais, sem direitos, porque as condições de trabalho foram severamente atingidas pelos processos de desregulamentação em escala europeia.
Em alguns países (e na Alemanha é o caso) ainda existe um sistema de previdência social sólido, embora isso também tenha passado por reduções significativas. Um dos casais, com filho pequeno, estava na circunstância da jovem esposa trabalhar em Berlim e o jovem pai ir passar seis meses na Islândia, pois lá pintara um emprego provisório, com esse prazo, e essa era uma oportunidade que não podia ser desperdiçada.
Enquanto isso, a fama do Brasil só cresce no mundo, pois para todo o lado para onde a gente se vire, leem-se elogios ao desempenho brasileiro, como um dos países em que as reações à crise foram das mais imediatas e das mais promissoras, mesmo no curto prazo. Fica a pergunta no ar, porque nunca é demais acautelar-se: será que para nós aquele “efeito Corifeu de Azevedo Marques” é coisa do passado mesmo? Esse certamente será um dos temas decisivos na próxima eleição – não me refiro apenas à alemã, mas à brasileira também, cuja “dança de salão” já começou e no ano que vem vai para as ruas.
Ainda sobre a crise do capitalismo...
“Quando a grande crise económica do capitalismo eclodiu, governos e propagandistas do sistema apressaram-se a despir as camisas que até à véspera envergavam. De grandes arautos do capitalismo selvagem passaram repentinamente a críticos verbais da «ganância», da «cultura de risco», dos «excessos» que, diziam, estavam na raiz do colapso. Em declarações e cimeiras prometeram profundas mudanças. Mas – advertiam – primeiro era preciso travar o descalabro. Muitos milhares de milhões foram entregues pelos estados ao sector financeiro – o principal responsável pelo buraco. E o que mudou?”
Quando a grande crise económica do capitalismo eclodiu, governos e propagandistas do sistema apressaram-se a despir as camisas que até à véspera envergavam. De grandes arautos do capitalismo selvagem passaram repentinamente a críticos verbais da «ganância», da «cultura de risco», dos «excessos» que, diziam, estavam na raiz do colapso. Em declarações e cimeiras prometeram profundas mudanças. Mas – advertiam – primeiro era preciso travar o descalabro. Muitos milhares de milhões foram entregues pelos estados ao sector financeiro – o principal responsável pelo buraco. E o que mudou?
Uma das maiores instituições financeiras – e também um dos maiores viveiros de governantes – dos EUA é a Goldman Sachs. No ano passado recebeu 10 mil milhões de dólares de dinheiros públicos. Agora, proclama lucros recorde no segundo trimestre de 2009, e decidiu distribuir 6,65 mil milhões de dólares em gratificações aos seus 29 400 funcionários (Bloomberg, 14.7.09). Alguns indivíduos vão meter ao bolso milhões de dólares, só neste trimestre. Escreve a Bloomberg: a Goldman Sachs «está a reverter para um modelo de negócios que os analistas consideraram irremediavelmente falido durante a crise de crédito global», aumentando as suas actividades de risco. Isto é, os multimilionários de Wall Street continuam a fazer o que sempre fizeram – e que disseram ser a causa da crise. Agora tentam-nos fazer crer que a crise está a abrandar. Querem o business as usual. Aliás, para alguns a crise nem chegou a começar. O ex-CEO da Porsche, Wendelin Wiedeking foi despedido depois de uma tentativa fracassada de comprar a Volkswagen, que deixou a Porsche com uma dívida de 10 mil milhões de euros. Mas na despedida Wiedeking recebeu uma compensação de 50 milhões de euros (Bloomberg, 23.7.09), sem contar com a remuneração de 77 milhões de euros que recebera no ano anterior, quando andava entretido a afundar a Porsche. Vários grandes bancos estão a aumentar os salários dos seus quadros dirigentes (Financial Times, 24.7.09). São factos para recordar quando vierem com a cantiga de que «todos temos que aceitar sacrifícios para sair da crise».
Se a «ganância» e os «excessos» do grande capital continuam de boa saúde, para o resto da Humanidade a situação é bem diferente. Milhões de trabalhadores já ficaram sem trabalho e estão a cair na miséria. A taxa oficial de desemprego nos EUA aproxima-se dos 10%, mas uma medida mais real e menos manipulada (a “taxa U6”) ascendia em Junho a 16,5% (Bureau of Labor Statistics, www.bls.gov). O patronato e governos dos grandes países capitalistas estão lançados numa ofensiva para aumentar a exploração de quem ainda trabalha. O grande capital nunca acreditou no «fim da luta de classes». Há uma crise para o grande capital e outra para os trabalhadores. Nos EUA foi decretada a falência da General Motors. Essa falência só durou 40 dias, após os quais os trabalhadores bem podiam falar num «11 de Setembro»: até 2011 serão encerradas 11 fábricas, até ao final deste ano o número de trabalhadores vai baixar de 91 mil para 67 mil; os que ficaram viram as suas remunerações drasticamente reduzidas. As greves estão proibidas (Workers' World, 17.7.09). Um desastre parecido ocorreu em Abril na Chrysler, que decretou a bancarrota apesar dos trabalhadores aceitarem todas as concessões que lhes foram exigidas para evitar a falência (Avante!, 21.5.09). Factos para recordar quando vierem com a calúnia de que em Portugal as fábricas fecham por culpa da «intransigência do PCP».
A crise mundial do capitalismo está longe do fim. Em última análise, é uma enorme crise de sobreprodução. Forças produtivas imensas terão de ser destruídas. Mas ao destruir o poder de compra de quem trabalha, também se aprofunda a crise. Os efeitos da crise vão continuar a devastar a vida de muitos milhões de seres humanos. O défice orçamental dos EUA vai atingir este ano uns estonteantes 1,8 milhões de milhões («triliões») de dólares, e a dívida pública total está em cerca de 11,5 milhões de milhões (Bloomberg, 13.7.09). Quem vai pagar esta factura? A palavra de ordem do grande capital é: «A pilhagem continua! Os trabalhadores que paguem a crise!». Mas a crise económica e social já está a desencadear resistência e luta. Em que os partidos de classe dos trabalhadores são chamados a desempenhar um papel fulcral. É por isso que os nostálgicos do fascismo e do anticomunismo violento estão de novo a sair das sarjetas.
* Jorge Cadima é Professor da Universidade Técnica de Lisboa e analista de política internacional
Este texto foi publicado em Avante nº 1.861 de 30 de Julho de 2009