segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O império estremece.....

SUCRE – Outra estocada no dólar

Hedelberto López Blanch
Grão a grão, multiplicam-se os sinais da irreversível decadência do centro do império.

Hedelberto López, num curto texto, fala-nos de como o início do percurso de uma nova moeda a criar pelos países da ALBA se soma às decisões que constroem a derrocada do dólar como moeda-padrão internacional





Hedelberto López Blanch* - www.odiario.info


Os Chefes de Estado e de Governo participantes na VII Cimeira da Aliança Bolivariana para os povos da Nossa América (ALBA) tomaram a decisão de implementar o Sistema Único de Compensação Regional (SUCRE) para o intercâmbio comercial entre os seus países, que entrará em vigor no princípio de 2010.

A futura integração monetária que contará com reservas no Banco da ALBA permitirá a protecção contra as crises económicas dos nove Estados membros, e transformam os seus países em territórios sem dependências das agressivas políticas implementadas por organismos financeiros como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM), além de os afastar da hegemonia do dólar.

Pertencem à ALBA a Venezuela e Cuba (fundadores), a Bolívia, a Nicarágua,a Dominica, as Honduras, o Equador, S. Vicente e as Granadinas, Antigua e Barbudas, mas esta nova iniciativa está aberta a outros Estados membros da América Latina e do Caribe.

Os retoques finais para a entrada em vigor do SUCRE foram tomados numa reunião ainda em Novembro., quando os seus membros analisaram e puseram em marcha as suas quatro estruturas: o Conselho Monetário Regional, uma Unidade Monetária Comum que funcionará como moeda virtual com a perspectiva de se converter em moeda física; uma Câmara Central de Compensação e um Fundo de Reserva e Compensação Regional.

O SUCRE regulará as compras e vendas entre os Estados, e prevê-se para um futuro próximo que circule como moeda real, tal como fez o euro.Na reunião de Novembro definiu-se, entre outros aspectos, até onve vai a sua aplicação em todo o comércio entre as nações e a quanto equivale o SUCRE na moeda de cada país.

O sistema de pagamentos será principalmente aplicado através do Tratado de Comércio entre os Povos (TCP) que os países aprovaram na Aliança, e o apoio a essa unidade será através dos depósitos em dinheiro e nas suas moedas que os países farão no Banco da ALBA.

A utilização do SUCRE nas grandes transacções dos seus membros, limitará a utilização do dólar nas operações, o que permitirá promover ainda mais o comércio na região e gerará um crescimento económico importante nos países da ALBA.

Depois da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos converteu-se em potência global e com o acordos assinados em Bretton Woods, em 1944, conseguiu que o dólar se estabelecesse como divisa de reserva na orbe, com o valor garantido pelas suas grandes acumulações de ouro.

Apesar disso, na década de 1970, Washington conseguiu um acordo com a OPEP para que as vendas de petróleo fossem em dólares, e nessa altura desligou o valor do dólar das suas reservas de ouro. Dessa forma, começou a imprimir moeda e inundou o mundo com os seus papéis, sem que estes tenha um valor real com as riquezas do país emissor.

«Ao suspender a conversão, o dólar passou a ser uma divisa que podia ser impressa põe decisão do governo estadunidense, sem o apoio de um valor constante», afirmou numa recente reflexão o líder cubano Fidel Castro.

Esta foi a principal motivação para que os credores estrangeiros procurem alternativas à dívida estadunidense que compraram e na qual têm as suas reservas.

Nessa corrida para se desfazerem dos dólares sem que este se desvalorize abruptamente antes que se tenham desfeito deles, têm estado envolvidos vários países.

Em 2003, a Síria começou a trocar as suas reservas por euros; o Banco Central dos Emiratos Árabes Unidos converteu em euros 10% das suas reservas em solares; A Venezuela seguiu o mesmo caminho e procurou moedas mais seguras como euros e yuans chineses; a Suécia diminuiu as suas reservas em dólares em mais de 20% e elevou para 50% as acumuladas em euros; o Banco Central da Rússia já tem a maior parte das suas reservas em euros.

O Irão abriu em 2005 uma bolsa de venda de petróleo em euros na ilha de Kish, no Golfo Pérsico, que foi um dos primeiros golpes no dólar, o que provocou um aumento do ódio dos Estados Unidos para com aquela nação.

Nesse mesmo sentido, a China e o Brasil subscreveram um acordo para utilizar o real e o yuan nas suas transacções, que este ano atingiram o montante de 40.000 milhões de dólares.

A China e a Argentina fizeram o mesmo em trocas que atingem os 20.000 milhões de dólares. Pequim assinou acordos idênticos com a Coreia do Sul, a Malásia, a Bielo-Rússia e a Indonésia.

A Organização de Cooperação de Xangai (OVS) – China, Rússia, Uzbequistão, Kyrgistão, Tajiquistão, Kazaquistão está a pressionar os seus países-membros a fazerem o comércio nas suas moedas nacionais ou com uma futura divisa supranacional e prescindirem do dólar.

Enquanto o poderoso grupo de economias emergentes conhecido como BRIC ( Brasil, Rússia, Índia e China) declararam num encontro recente que se torna «muito necessário ter um sistema internacional de divisas estável e diversificado».

Os paíse da ASEAN (Brunei, Birmânia, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Filipinas, Singapura, Tailândia e Vietname) poderão no futuro realizar acordos em yuansem vez de dólares, segundo um programa piloto ensaiado primeiro por Pequim primeiramente com Hong-Kong e Indonésia.

A hegemonia do dólar, como dono e senhor das transacções comerciais internacionais está a perder importância e dentro de pouco tempo deixará de ser a principal moeda de reserva mundial. Nesta inegável realidade, o SUCRE também pôs o seu grãozinho de areia na engrenagem.

* Jornalista cubano especializado em assuntos internacionais.

Este texto foi originalmente publicado em:
www.alternativabolivariana.org

domingo, 3 de janeiro de 2010

A Revolução Verde no Irã...

Irã: A Verdade e a Histeria





 
 
 
A Revolução Verde falhou na República Islâmica do Irã. Por uma razão muito boa: ela foi coordenada a partir do exterior, por dissidentes iranianos de famílias abastadas, e concentrada nas classes abastadas nos bairros abastados nas principais cidades. O povo está maciçamente em torno do Presidente Ahmadi-Nejad. Como , então, separar a verdade e a histeria?
 
Protestos no domingo. Mir Hussein Mousavi, o sobrinho. Assassinato pelas forças de segurança. Repressão. Estas são as manchetes de inúmeras fontes ocidentais da mídia depois dos protestos de domingo. As fontes? "Um proeminente defensor". "Um cineasta". "Um porta-voz da oposição (sem nome)".
 
Eufemismos tão profissionais...ou seja, material do e sgoto. Lixo . Tolice. Mentiras… do tipo escritos por jornalistas estagiários enviados para investigar um cano de esgoto bloqueado em um parque de estacionamento subterrâneo, e depois produzem "Alien Lixa Parque". Inglesmente falando, isso é…
 
No caso dos protestos de domingo em Teerão, enquanto a mídia ocidental está usando “alguém ouviu dizer que o padeiro disse” como fonte, o quê estão citando as autoridades?
 
Quem está dizendo que as autoridades iranianas estão admitindo o que aconteceu e que estão realizando uma investigação? Uma investigação aprofundada. E, enquanto alguns estão afirmando que o sobrinho do "Lider" da Oposição Mir Hossein Mousavi (Seyed Ali Mousavi) foi ameaçado por "agentes da polícia secreta" dizendo que ele seria morto dia antes dos protestos, no domingo, há outras versões.
 
Uma versão das notícias, oficiais no Irão mas não fora, é de que as autoridades iranianas alegam que, se um "agente da polícia secreta" queria matar o sobrinho de Mosavi, certamente não teria passado dias fazendo chamadas ameaçadoras… e, por outro lado, a morte está sendo investigada. Porque é suspeita.
 
E porque é suspeita? Porque os elementos terroristas, mais uma vez, vêm operando em território iraniano. Na verdade, o Presidente Ahmadi-nejad, que é conhecido por sua abordagem franca e honesta na gestão política, declarou recentemente que há provas de que toda a campanha está sendo planejada por interesses ocidentais. "A mascarada nauseabunda" é como ele descreveu os comícios de domingo, em que sete/oito pessoas perderam suas vidas.
 
Para começar, as autoridades iranianas têm admitido que os comícios foram apoiados por "dezenas de milhares" de manifestantes. Eles também admitiram que "sete ou oito pessoas morreram”. No entanto, a República Islâmica do Irã não é Mousavi e não é a classe elitista que apoiaram o Xá e hoje providencia o apoio da oposição.
 
Abbas Ja'fari Dolatabadi, Procurador Público de Teerão, admitiu hoje que "Sete pessoas foram mortas nos tumultos no domingo", enquanto um outro relato de assassinato está sendo investigado, devido ao fato de que o inquérito policial revela que não houve tiroteios. Os mortos "foram atingidos com objetos duros ou por um tipo de bala que a polícia não têm as autoridades".
 
As autoridades iranianas continuam a avançar com uma investigação adequada de modo que "os culpados por trás desses crimes sejam punidos".
Então, onde está a verdade e onde reside a histeria?

Mais um CANALHA do PiG desmascarado...

Boris Casoy é “uma vergonha” 
Blog do Miro, por ele mesmo

Primeiro vídeo: ao encerrar o Jornal da Band da noite de 31 de dezembro de 2009, dois garis de São Paulo aparecem desejando feliz ano novo ao povo brasileiro. Na sequência, sem perceber o vazamento de áudio, o fascistóide Boris Casoy, âncora da TV Bandeirantes, faz um comentário asqueroso: “Que merda... Dois lixeiros desejando felicidades... do alto de suas vassouras... Dois lixeiros... O mais baixo da escala do trabalho”. Segundo vídeo: na noite seguinte, o jornalista preconceituoso pede desculpas meio a contragosto: “Ontem durante o programa eu disse uma frase infeliz que ofendeu os garis. Eu peço profundas desculpas aos garis e a todos os telespectadores”. Numa entrevista à Folha, porém, Boris Casoy mostra que não se arrependeu da frase e do seu pensamento elitista, mas sim do vazamento. “Foi um erro. Vazou, era intervalo e supostamente os microfones estavam desligados”. Do CCC à assessoria dos golpistas Este fato lastimável, que lembra a antena parabólica do ex-ministro de FHC, Rubens Ricupero – outras centenas de comentários de colunistas elitistas da mídia hegemônica infelizmente nunca vieram ao ar –, revela como a imprensa brasileira “é uma vergonha”, para citar o bordão de Boris Casoy, com seu biquinho e seus cacoetes. O episódio também serve para desmascarar de vez este repugnante apresentador, que gosta de posar de jornalista crítico e independente. A história de Boris Casoy é das mais sombrias. Ele sempre esteve vinculado a grupos de direita e manteve relações com políticos reacionários. Segundo artigo bombástico da revista Cruzeiro, em 1968, o então estudante do Mackenzie teria sido membro do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), o grupo fascista que promoveu inúmeros atos terroristas durante a ditadura militar. Casoy nega a sua militância, mas vários historiadores e personagens do período confirmam a denúncia. Âncora da oposição de direita Ainda de 1968, o direitista foi nomeado secretário de imprensa de Herbert Levy, então secretário de Agricultura do governo biônico de Abreu Sodré – em plena ditadura. Também foi assessor do ministro da Agricultura do general Garrastazu Médici na fase mais dura das torturas e mortes do regime militar. Em 1974, Casoy ingressou na Folha de S.Paulo e, numa ascensão meteórica, foi promovido a editor-chefe do jornal de Octávio Frias, outro partidário do setor “linha dura” dos generais golpistas. Como âncora de televisão, a sua carreira teve início no SBT, em 1988. Na seqüência, Casoy foi apresentador do Jornal da Record durante oito anos, até ser demitido em dezembro de 2005. Ressentido, ele declarou à revista IstoÉ que “o governo pressionou a Record [para me demitir]... Foram várias pressões e a final foi do Zé Dirceu”. Na prática, a emissora não teve como sustentar seu discurso raivoso, que transformou o telejornal em palanque da oposição de direita, bombardeando sem piedade o presidente Lula no chamado “escândalo do mensalão”. Nos bastidores da TV Bandeirantes Em 2008, Casoy foi contratado pela TV Bandeirantes e manteve suas posições direitistas. Ele é um inimigo declarado dos movimentos grevistas e detesta o MST. Não esconde sua visão elitista contra as políticas sociais do governo Lula e alinha-se sempre com as posições imperialistas dos EUA nas questões da política externa. O vazamento do vídeo em que ofende os garis confirma seu arraigado preconceito contra os trabalhadores e tumultuou os bastidores da TV Bandeirantes. Entidades sindicais e populares já analisam a possibilidade de ingressar com representação junto à Procuradoria Geral da República. Como ironiza Beto Almeida, presidente da TV Cidade Livre de Brasília, seria saudável o “Boris prestar serviços comunitários por um tempo, varrendo ruas, para ter a oportunidade de fazer algo de útil aos seus semelhantes”. Também é possível acionar o Ministério Público Federal, que tem a função de defender os direitos constitucionais do cidadão junto “aos concessionários e permissionários de serviço público” – como é o caso das TVs. Na 1ª Conferência Nacional de Comunicação, realizada em dezembro, Walter Ceneviva, Antonio Teles e Frederico Nogueira, entre outros dirigentes da Rede Bandeirantes, participaram de forma democrática dos debates. Bem diferente da postura autoritária das emissoras afiliadas à Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), teleguiadas pela Rede Globo. Apesar das divergências, essa participação foi saudada pelos outros setores sociais presentes ao evento. Um dos pontos polêmicos foi sobre a chamada “liberdade de expressão”. A pergunta que fica é se a deprimente declaração de Boris Casoy faz parte deste “direito absoluto”, quase divino.

Judaismo é diferente do sionismo?????

sábado, 2 de janeiro de 2010

Para começar bem o ano, uma otima musica nativa...


Bruna Caram respira musica desde sempre, nascida em Avaré (SP), começou estudando piano aos sete anos e aos nove ingressou nos Trovadores Urbanos, aos quinze anos foi para a divisao principal do Trovadores Urbanos, onde ganhou experiencia e tato com a musica e publico.
Se formando agora em Educação Musical pela UNESP, lança agora seu segundo trabalho, Feriado Pessoal, (o primeiro se chama Essa Menina de 2006, que tambem esta disponivel aqui no blog).
Como Maria Gadú e Tiê, Bruna é mais uma promessa da nova safra da MPB, que realmente estava caindo na mesmice, trago entao a voces mais este lindo trabalho de jovens que querem fazer a diferença, fica aqui entao minha parte na historia que é o de lhes mostrar as novidades, por isso, Deleitem-se!!!
Saravá!!!

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Feliz 2010.....


AMIGO(A)S, FREQUENTADORES DESSE BLOG  E  CAMARADAS DE LUTA, UM FELIZ 2010 A TODOS E FIQUEM COM A MENSAGEM DE "PEPE" MUJICA, PRESIDENTE RECEM ELEITO DO URUGUAI...

“Que seria deste mundo sem militantes? Como seria a condição humana se não houvesse militantes? Não porque os militantes sejam perfeitos, porque tenham sempre a razão, porque sejam super homens e não se equivoquem. Não é isso. É que os militantes não vem para buscar o seu, vem entregar a alma por um punhado de sonhos. Ao fim e ao cabo, o progresso da condição humana depende fundamentalmente que exista gente que se sinta feliz em gastar sua vida ao serviço do progresso humano. Ser militante não é carregar uma cruz de sacrifício. É viver a glória interior de lutar pela liberdade em seu sentido transcendente”.




السلام عليكم
As-Salamu Alaykum
(Que a paz esteja contigo).

VA - Sax Colossuses: Jazz Inflections

UM FELIZ 2010 PARA TODOS  AQUELES QUE AINDA LUTAM EM PROL DE UMA SOCIEDADE MENOS DESIGUAL, ONDE A MAIORIA EXCLUIDA POSSA TER ACESSO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS SERES HUMANOS!


http://img167.imageshack.us/img167/8160/saxcooi3.jpg


01. Gene Ammons - A Stranger In Town (Torme) 6'02"
02. Benny Carter - Malibu (Carter) 4'31"
03. Tina Brooks - Everything Happens To Me (Dennis-Adair) 6'12"
04. Ben Webster - How Long This Has Been Going On (Gershwin) 8'08"
05. Willis Jackson - Home (Clarkson-Van Steeden) 5'15"
06. Coleman Hawkins - Self Portrait (of the Bean) (Ellington) 3'57"
07. Oliver Nelson - Time After Time (Styne-Cahn) 7'28"
08. Harold Land - Wrap Your Troubles in Dreams (Moll-Koehler-Barris) 9'25"
09. Lee Konitz & Art Pepper - The Shadows of Your Smile (Mandel) 5'40"
10. Gene Ammons - Goodbye (Jenkins) 4'34"

Downloads abaixo:
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quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Uma batalha quase esquecida...



A Batalha de Kursk

e a falsificação da História 




Salvo raríssimas excepções, os historiadores militares da burguesia omitem qualquer referência à batalha de Kursk, “ a maior batalha da História, de importância decisiva para o desfecho da II Guerra Mundial. “A omissão não resulta de ignorância. Tornar pública a verdade sobre Kursk pulverizaria os mitos forjados por Hollywood sobre a participação dos EUA na II Guerra e arrancaria a máscara à moderna historiografia norte-americana, tirando-lhe credibilidade”.


Miguel Urbano Rodrigues - - Odiario.info


As comemorações do desembarque anglo–americano na Normandia, em Junho de 44, serviram mais uma vez de pretexto para uma campanha de falsificação da História de dimensão planetária. Este ano, pela primeira vez, até a Alemanha, o país vencido, se fez representar através da chanceler Angela Merkel.

De Obama a Brown, com passagem por Sarkozy, os líderes do Ocidente repetiram que a batalha da Normandia foi não só decisiva para a vitória sobre o nazismo como o maior acontecimento militar da história. Todos estavam conscientes de que mentiam.

Da contribuição da URSS para o esmagamento do III Reich não se falou praticamente.

É significativo que os historiadores militares norte–americanos e britânicos, com raríssimas excepções, desconheçam nas suas obras a batalha de Kursk ou se limitem a breves referências.

A omissão não resulta de ignorância. Tornar pública a verdade sobre Kursk pulverizaria os mitos forjados por Hollywood sobre a participação dos EUA na II Guerra e arrancaria a máscara à moderna historiografia norte-americana, tirando-lhe credibilidade.

Kursk foi pelos efectivos e armamentos nela empenhados a maior batalha da História. Nela participaram 4.155.000 soviéticos e alemães. A fase defensiva e a ofensiva somadas duraram escassas semanas (Stalinegrado prolongou-se por sete meses). Mas os meios utilizados – 69.000 canhões, 13.200 tanques e canhões de propulsão e 11.950 aviões – superam de longe o total dos equipamentos bélicos terrestres e aéreos mobilizados por americanos e japoneses durante os quase quatro anos da Guerra no Pacifico [1].

A batalha de Kursk mudou o rumo da guerra. O Exército Vermelho retomou ali a iniciativa e passou à ofensiva para a manter até a tomada do Reichstag, em Berlim, em Maio de 45, que ficou a assinalar a capitulação incondicional da Alemanha nazi.

Julgo útil esboçar para o povo português muito resumidamente o quadro em que ocorreu a gigantesco confronto de Kursk e alguns factos e situações que os historiadores ocidentais – incluindo os da Alemanha Federal – têm omitido nas suas obras.

Em Fevereiro e Março de 1943, quando o Exército Vermelho deteve o movimento ofensivo iniciado após o aniquilamento e capitulação em Stalinegrado do VI Exército Alemão de Von Paulus, a Wehrmacht desencadeou uma contra-ofensiva que lhe permitiu reocupar na Região Centro–Sul, entre outras, as cidades de Karkhov, Orel e Bielgorod.

Formou-se assim naquela área, quando a Frente se estabilizou no início da Primavera, aquilo a que se chamou o Saliente de Kursk, um território quase quadrado, com uma dimensão equivalente à da Bélgica, que entrava como uma cunha pelas linhas alemãs.

Consciente da importância estratégica do Saliente, o Estado-Maior General Soviético (EMGS) começou a acumular na retaguarda poderosas forças com a intenção de desencadear uma grande ofensiva no início do Verão. Durante o Inverno a indústria de guerra soviética ultrapassara pela primeira vez na produção de tanques e aviões a do bloco nazi. A força de combate do Exército Vermelho era também já largamente superior à da Whermacht e satélites (italianos, romenos, húngaros entre outros).

No início de Abril, O EMGS, que tinha decifrado os códigos utilizados pelos alemães, tomou conhecimento de que Hitler decidira retomar a ofensiva no Verão para vingar a humilhante derrota de Stalinegrado que destruíra o mito da invencibilidade alemã. Por informações posteriores de pilotos e oficiais capturados soube-se que «Citadel» seria o nome da grande operação em estudo.

O plano, elaborado pelo marechal Von Manstein, previa o ataque simultâneo a partir do Sul e no Norte, a meio do Saliente, com o objectivo de cercar as forças soviéticas ali concentradas, cortando-lhes a retirada. Para o efeito, os alemães mobilizaram 950.000 homens, 10.800 canhões, 3.000 tanques (16 divisões Panzer) e três mil aviões, entre os quais os Focke–Wulf 190 e bombardeiros Henschel-129. Entre as novas armas a utilizar figuravam os tanques pesados Tigre e Pantera. A operação seria desencadeada entre 3 e 6 de Julho. Na sua ordem de serviço Hitler afirmou que ela deveria transformar o inimigo numa tocha que iluminaria o mundo.



Em Nuremberga, o marechal Keitel reconheceu que o Estado-Maior alemão subestimara o poder do Exército Vermelho e ignorava que ele conhecia em pormenor o Citadel.

Foi precisamente o conhecimento do plano alemão que levou o marechal Zhukov em relatório enviado ao Estado-Maior General Soviético em 8 de Abril a sugerir uma alteração da estratégia prevista. Propôs que em vez da ofensiva em preparação, o Exército Vermelho aguardasse o ataque da Wehrmacht em linhas fortificadas a construir e, após uma curta batalha defensiva em que seriam infligidas enormes perdas aos alemães, passasse imediatamente à ofensiva. Stalin, após alguma hesitação, aprovou o projecto de Zhukov que contou com o apoio de Vassilevsky.

Os marechais Manstein e Kluge estavam convictos de que na sua fulminante ofensiva iriam enfrentar apenas os Exércitos soviéticos das Frentes Central e de Voronej, no interior do Saliente. Esperavam uma vitória tão rápida que descuraram o problema das reservas.

Na realidade intervieram na batalha os Exércitos Soviéticos de mais quatro Frentes – a Ocidental e a de Briansk, a Norte, e a da Estepe e a do Sudoeste, do lado Sul.

O dispositivo defensivo, montado em menos de três meses, foi considerado inultrapassável pelo Estado-Maior General Soviético. Contra o que é habitual, na batalha defensiva, a superioridade soviética era considerável. Dispunham de 1.632.000 homens, 27.000 canhões e morteiros, 5.000 tanques, entre os quais o T-34, considerado pelos especialistas o melhor veículo couraçado da II Guerra – e 3.000 aviões de combate.

A Frente da Estepe foi concebida para funcionar na prática como um conjunto de exércitos de reserva.

Na madrugada do dia 5, os alemães, surpreendidos por um bombardeamento inesperado da artilharia soviética, desencadearam a ofensiva. A Luftwaffe despejou milhares de toneladas de bombas sobre as linhas soviéticas e as divisões Panzer ao arrancarem foram apoiadas por uma barragem ininterrupta de artilharia.

A extraordinária concentração de meios numa área de extensão reduzidíssima permitiu aos alemães avançarem alguns quilómetros nos dias 6, 7 e 8: 10 a 12 a Norte e um máximo de 30 a 35 a Sul. Mas foram incapazes de romper as linhas soviéticas. Longe iam os dias da blietzkrieg, a guerra relâmpago.

No segundo dia da batalha a Força Aérea soviética conquistou o domínio definitivo do ar e uma semana depois a Luftwaffe foi praticamente varrida dos céus de Kursk.

Consciente de que Citadel estava a evoluir mal e de que a esperança de fechar as tenazes em torno do inimigo, cercando-o, eram remotas, Manstein lançou os seus Panzer contra Prokovohka, uma pequena cidade, a sudeste do Saliente, na charneira das Frentes Central e da Estepe.

Nessa planura travou-se durante quase três dias a maior batalha de tanques da História. Nela participaram de ambos lados 1.200 carros. As perdas foram elevadíssimas nos dois campos, quase metade dos tanques empenhados. Mas no dia 12 o ímpeto germânico esgotara-se. Os alemães careciam de reservas e as soviéticas afluíam maciçamente da retaguarda.

No dia 12, um fortíssimo contra-ataque soviético assinalou o fim da fase defensiva da batalha. As tropas das Frentes Ocidental e de Briansk atacaram nesse mesmo dia a Noroeste do Saliente. No dia 15 Koniev e Rokossovsky contra-atacaram e os alemães iniciaram a retirada. Hitler foi informado de que Citadel fracassara. No dia 3 de Agosto as Frentes da Estepe (marechal Zakharov) e do Sudoeste passaram também à ofensiva.

A 5 de Agosto troaram os canhões em Moscovo para festejar a libertação de Orel e Bielgrod; no dia 23, as tropas soviéticas expulsaram os últimos alemães de Karkhov.

A ausência de reservas aumentou muito as dificuldades da ininterrupta retirada alemã. A Wehermacht perdera em Kursk, numa semana, definitivamente, a sua capacidade ofensiva.

Roosevelt e Churchill em mensagens a Stalin felicitaram-no com entusiasmo pela a grande e decisiva vitória alcançada pela União Soviética. Roosevelt escreveu então que «o mundo nunca viu tão grande devoção, determinação e capacidade de sacrifício como as do povo russo e dos seus exércitos». Mas, anos depois, quando principiou a Guerra-Fria, a batalha de Kursk desapareceu da historiografia anglo-americana.

Na Alemanha, o próprio marechal Manstein dedica-lhe poucas páginas nas suas Memórias e em «Vitórias Perdidas» (Bonn, 1955). A falsificação da História, montada com perversidade por iniciativa dos governos de Washington e Londres, foi levada tão longe que um conceituado académico estadunidense, Hanson Baldwin, num livro dedicado às «Onze maiores batalhas» da II Guerra apenas inclui Stalinegrado na Frente Leste. Kursk não é sequer citada, mas da lista constam Corregidor (uma humilhante derrota americana nas Filipinas) e Tarawa, uma desconhecida ilhota do Pacifico onde 10.000 americanos enfrentaram outros tantos japoneses...


ESTRATEGIA E TÀCTICAS INOVADORAS


A Historiografia soviética dedicou milhares e páginas à Batalha de Kursk, mas somente algumas dessas obras foram traduzidas para idiomas estrangeiros.

A atenção preferencial dedicada pelos historiadores militares a essa batalha resulta não tanto por ela ter mudado o rumo da guerra mas sobretudo por ter assinalado uma viragem inovadora naquilo que definem como «a arte militar soviética».

A maioria coincide na conclusão de que Kursk não deve ser considerado um «modelo» para outras batalhas porque nunca mais foi possível utilizar tantos meios humanos e materiais numa área tão reduzida. Os marechais Zhukov, Vassilevsky e Zakharov reflectem sobre o tema nas suas obras. Uma síntese especialmente esclarecedora figura num ensaio do coronel Vasily Morozov, professor de História no Instituto de História Militar do Ministério da Defesa da URSS.

O autor nesse estudo alerta para os aspectos mais inovadores do grande choque.

O primeiro deles foi a súbita inversão de estratégia. Kursk foi concebida para ser uma batalha ofensiva. Dai as enormes reservas acumuladas na retaguarda, das quais os alemães tinham um conhecimento superficial. Pela primeira vez na História – salienta Morosov – as forças que defendiam eram muito superiores às do atacante em efectivos e na qualidade e quantidade do armamento.

A opção pela defensiva inicial baseou-se na certeza de que essa superioridade impediria a ruptura da frente pelo inimigo. As defesas, em toda extensão do Saliente, desdobravam-se em três escalões todos protegidos por obstáculos anti-tanques, campos de minas e uma densidade de artilharia por quilómetro inédita.

As forças alemãs, como já foi sublinhado, não conseguiram romper a frente em qualquer dos sectores da mesma.

O facto de a contra-ofensiva soviética ter partido com diferença de poucos dias de seis frentes diferentes surpreendeu e desorientou o Alto Comando da Wehermacht e desmoralizou os exércitos alemães forçados a passar da ofensiva a uma defensiva caótica.

Outra inovação em Kursk foi o emprego pela primeira vez de exércitos de tanques autónomos. Até então as forças blindadas estavam ligadas a exércitos ou grupos de exércitos de infantaria de cujo comando dependiam.

A coordenação das acções dos exércitos de tanques, da força aérea, da infantaria, e da intervenção das reservas obedeceu também esquemas inovadores.

Informações sobre a localização exacta dos aeródromos alemães recebidas dos guerrilheiros que combatiam na retaguarda dos nazis permitiram bombardeamentos de precisão que destruíram ou danificaram muitos aviões da Luftwaffe.

A engenharia militar construiu no Saliente uns 6.000 quilómetros de trincheiras, dezenas de pontes, centenas de quilómetros de estradas e ramais ferroviários, 78 hospitais (alguns com instalações subterrâneas), campos de aviação.

A logística preparada para a batalha excedeu tudo o que no género se fizera desde o início da invasão. As redes de abastecimento de alimentos e combustíveis e de comunicações telefónicas e telegráficas desempenharam um papel importantíssimo durante a batalha, assegurando comunicações seguras entre as Frentes, as unidades da vanguarda e da retaguarda e Moscovo.

Os generais Pavel Doronin e Konstantin Krainyukov publicaram importantes estudos sobre a participação do PCUS em todas as fases da batalha. O trabalho político desenvolvido pelos representantes do Partido das trincheiras à retaguarda contribuiu muito para o elevado moral das tropas No auge da luta foram realizados concertos e espectáculos teatrais com a presença de destacados artistas nacionais.

Não há falsificações dos escritores e académicos da burguesia que possam apagar o significado histórico da batalha de Kursk.

Acontecimento estratégico de viragem, o seu desfecho não teria sido possível se os homens que ali quebraram a coluna vertebral da Wehrmach não contassem com o apoio total do seu povo, agredido pelas hordas hitlerianas.

Kursk não foi uma excepção. Inseriu-se numa saga de sobrevivência nacional.

Os seus combatentes, como os de Moscovo, de Stalinegrado, do Cáucaso, da Bielorrússia e de outras batalhas vitoriosas pertenciam a uma geração que deu continuidade ao espírito revolucionário dos heróis de Outubro de 17. Nas circunstâncias mais difíceis, os soldados da União Soviética bateram-se com a convicção inabalável de que assumiam não somente a defesa do seu povo como a causa da humanidade ameaçada pela barbárie fascista.






(1) Os números citados neste artigo foram extraídos do Livro “The Battle of Kursk”, Ed.Progresso, Moscovo, 1974, que reúne ensaios e depoimentos de 25 altas personalidades soviéticas, entre as quais o marechal Georgi Zhukov, comandante supremo, do marechal Alexander Vassilevsky, chefe do Estado Maior General e os marechais Rokossovsky e Koniev, comandantes de duas das seis Frentes que participaram na batalha.


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O estado da agricultura angolana


  Por Roberto Blum - CorreioInternacional

Segundo os dados oficiais, a produção agrícola de Angola está aumentando. Pela primeira vez a barreira de um milhão de toneladas de cereais foi atingida. Acredita-se que a produção de café tenha chegado ao dobro da do ano passado. Os rebanhos de gado bovino de raças importadas ampliaram-se, assim como melhorou o desempenho de alguns empreendimentos pecuários. Os números de empreendimentos de média e grande dimensão e de empregos cresceram. O consumo de fertilizantes foi ampliado e o governo aprovou duas linhas de crédito para investimentos e custos operacionais da campanha agrícola.
A situação melhorou efetivamente, mas estamos longe, muito longe, do que deveria ser feito. As estatísticas não são suficientemente credíveis para se avaliar a real dimensão dessa melhoria. Em Angola não há práticas de monitoria e avaliação independentes dos empreendimentos públicos. O mais preocupante é que estas melhorias acontecem de forma puntual, não constituem reflexo de uma mudança estratégica de fundo e não estão associadas a reformas estruturantes que possam vir a garantir a sustentabilidade das ações.
Promessas irrealistas
Por ocasião das eleições de 2008, o MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, partido político que dirige o país deste 1975] prometeu aos angolanos metas de produção agropecuária ambiciosas para 2012. Por exemplo, a produção de cereais passaria de 700 mil toneladas para 15 milhões, ou seja, aumentaria mais de 20 vezes em quatro anos, o que seria  absolutamente inédito. Foi denunciada a falta de realismo dessas metas em Maio de 2008.
Após um ano, o panorama não é animador. Principalmente no que se refere aos aspectos estruturantes, aqueles que condicionam a produção. A reforma da pesquisa promete muito mas concretiza pouco. Um centro construído em Malanje [capital da província angolana de mesmo nome, situado no centro-norte do país] e equipado com três laboratórios desde 2006, em um investimento de mais de dois milhões de dólares, ainda não entrou em funcionamento. Programas de capacitação de agricultores aprovados há mais de um ano e com financiamento externo garantido, não iniciaram por problemas de pormenor. Não há uma estratégia adequada para estimular a instalação generalizada de provedores de serviços públicos ou privados nos municípios, em mais de 90% dos quais os agricultores não conseguem sequer comprar sementes e ferramentas usuais, nem obter conselhos técnicos elementares. O consumo de fertilizantes chegou a 30 mil toneladas, quando, segundo a FAO, já há muito deveríamos ter ultrapassado as 400 mil.
As linhas de crédito aprovadas tardam a ser concretizadas para desespero dos agricultores e o acesso ao que existe é limitado, quer por deficiências do sistema bancário, concentrado nas capitais de província e demasiado exigente nos requisitos para financiamento de necessidades elementares dos agricultores, quer pela incapacidade desses agricultores de apresentarem projetos credíveis. Nos últimos anos foram adquiridos tratores e equipamentos em quantidades e valores consideráveis que têm uma vida útil média inferior a dois anos, possivelmente uma das mais baixas do mundo, e não são dados os passos necessários para a definição de uma política sensata de mecanização, que tenha em conta o estado atual de organização e as capacidades institucionais e de recursos humanos, e preveja os níveis de intensificação, o tipo de equipamento, a formação de técnicos e de operários especializados e o uso de métodos modernos de planejamento estratégico e de gestão.
Cooperativas de serviços
As cooperativas de serviços poderiam ser uma solução para estes problemas, mas a legislação cooperativa está desatualizada e a nova lei aguarda aprovação há vários anos. Mesmo o ambiente do agronegócio também não é o melhor, pois a maior parte dos empresários são agricultores em tempo parcial, colocando à frente dos seus empreendimentos gestores geralmente pouco qualificados.
Para que serve investir no conhecimento se o petróleo paga tudo, inclusive o conhecimento que vem de fora para dar respaldo a decisões políticas sem fundamento? O que as pessoas parecem ignorar, ou, na esteira de uma outra prática, desejam que não aconteça e confundem tal desejo com a realidade, é que o petróleo tem os anos contados, o que torna o conceito de desenvolvimento sustentável para Angola mais pertinente do que nunca.
E o conhecimento, afinal, está aí à mão. Em meados da década de 90, uma equipe da FAO explicou ao governo angolano que a sua aposta deveria ser, prioritariamente, na agricultura familiar. Os pequenos agricultores constituem a maioria, encontram-se no terreno e já provaram que podem expandir a produção, de modo a garantir sua alimentação básica e fornecer bens para o mercado, incluindo o internacional, o que está estatisticamente comprovado desde antes de 1975. Ademais, o crescimento da produção familiar teria grande impacto na economia nacional, na geração de emprego e na erradicação da pobreza, pois a produção acrescida em unidades de pequena dimensão resulta em uma melhor utilização dos recursos domésticos – sobretudo terra e trabalho –, exige poucas divisas para maquinaria, fertilizantes, pesticidas e conhecimento estrangeiro, e por isso torna-se menos dependente.
Uma política a favor da agricultura familiar assegura desde logo a alimentação de um número elevado de famílias, resulta numa expansão mais justa de benefícios do desenvolvimento econômico, contribui para padrões de vida rural mais elevados e incentiva o consumo, e, consequentemente, estimula a expansão industrial em Angola, como aconteceu no passado com o famoso boom econômico dos anos 60 e 70. Enfim, uma economia rural próspera reduziria os fatores de pressão que induzem a migração para as cidades, e o aumento dos rendimentos dos pequenos agricultores poderia tornar-se o motor do desenvolvimento rural e, por conseguinte, a chave para uma redução da pobreza estrutural.
Parece simples, não é verdade? Mas não é novidade. O agrônomo francês Renê Dumont já havia sugerido algo semelhante aos governantes africanos no início dos anos 60 e as suas ideias foram compiladas num livro que ficou célebre, A África começa mal, que lhe valeu a interdição de entrada em vários países do continente. Perante o desastroso desempenho da agricultura africana, nos anos 80 ele voltou à luta com novo livro, Pela África, eu acuso!, que poderia bem ter outro título: “Eu não vos avisei?”. O que aconteceu foi que, ao contrário do discurso oficial, o Governo angolano não foi capaz de implementar ao longo destes anos uma política justa de desenvolvimento da agricultura familiar, que permitisse a transformação dos camponeses em pequenos ou médios empresários, a melhoria tecnológica, o aumento da produtividade da terra e do trabalho, o aumento da renda familiar e até a garantia da posse da terra.
Nas áreas rurais não há comércio formal e o informal é intermitente e penalizante para os produtores. E deste modo não há incentivos. Não há serviços sociais básicos, como o acesso à água potável, à saúde, à escola – ou não há com a qualidade desejável – que possam estimular a presença de jovens nas suas aldeias, preferindo estes partir para as cidades para viverem de biscates. Serviços estruturados de extensão rural e de medicina veterinária ainda são uma miragem. Os bancos estão geográfica e estruturalmente a uma enorme distância. A pesquisa científica e as instituições públicas em geral quase ignoram a existência da agricultura familiar. Assim, não poderia contribuir para a diversificação da economia. Pior que tudo, instalou-se a ideia de que a agricultura familiar, essa mesma que foi responsável pela alimentação dos angolanos e pela exportação no passado, era, afinal uma agricultura de subsistência, e, por isso, condenada à estagnação.
Agronegócio e agrocombustíveis
O governo angolano caminha, então, no sentido oposto ao indicado pela FAO e por Dumont. Em vez de aplicar uma política de transformação gradual de sua agricultura que possa garantir a segurança alimentar, aposta na “importação” de uma outra agricultura, baseada no agronegócio e nos agrocombustíveis, para a qual o país ainda não está preparado e só o voluntarismo e o fascínio dos angolanos pela “modernização” a qualquer preço explicam essa aposta. Hoje isso é possível, com os meios técnicos e científicos de que a humanidade dispõe, mas é insuportável porque os custos de produção são assustadores.
Se a crise financeira trouxe algo de positivo, uma delas foi o alerta para algumas das opções governamentais e particulares extremamente dispendiosas e com resultados mais do que duvidosos. Há já alguns sinais de dificuldades, insucessos e falências que alguns julgavam impensáveis. Por incrível que possa parecer, algumas das grandes empresas têm transtornos para vender o milho produzido, pois não têm organização nem experiência para enfrentar dificuldades inesperadas. Mas esta é também uma aposta que vai conduzir, inevitavelmente, à exclusão da maioria dos agricultores angolanos e à degradação da biodiversidade, o que terá consequências sociais, políticas e ambientais desastrosas.
Uma aposta que, como diria Mia Couto [célebre escritor moçambicano], pode produzir ricos ou endinheirados, mas nunca a riqueza de que necessitamos para sermos um povo desenvolvido.

Fernando Pacheco


Tradução: Roberto Blum


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Fotografia retirada daqui