Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
domingo, 7 de março de 2010
A visita de Hillary Clinton ao Brasil
Durante a visita de Hillary Clinton “deputados
do PT, em resposta à clara intervenção de Hilary em assuntos internos
do Brasil, questionaram a miséria nos EUA, a falta de atendimento médico
a mais de 40 milhões de cidadãos norte-americanos, as intervenções
militares em países do Oriente Médio e no Afeganistão, a morte de civis
em flagrante violação aos direitos humanos, a prisão de Guantánamo e
outros pontos, como o eixo EUA/Israel”.
A senhora Clinton não gostou. É natural.
Laerte Braga
A secretária
de Estado do governo dos Estados Unidos reuniu-se com senadores e
deputados brasileiros para discutir temas como o Irã, o reconhecimento
do governo golpista de Honduras, as propostas do governo Obama para a
América Latina e a velha cantilena que o Brasil é importante parceiro
dos EUA na preservação da democracia na América Latina.
Hilary Clinton está no Brasil para tentar atenuar o impacto das
posições do governo Lula sobre temas como esses que discutiu a portas
fechadas com parlamentares no gabinete do presidente do Senado, José
Sarney.
Os norte-americanos têm consciência que, a despeito do envolvimento
de várias agências daquele país no processo eleitoral de outubro (a
eleição do futuro presidente, entre outras), em franco apoio a
candidatura José Collor Arruda Serra, o presidente Lula tem chances
concretas de eleger sua candidata, a ministra Dilma Roussef. Essa
perspectiva contraria interesses de Obama que pretende ver retomada a
agenda do governo de FHC.
A privatização de empresas como a PETROBRAS, o BANCO DO BRASIL, uma
parceria estreita (que significa controle) sobre a exploração das
reservas petrolíferas do pré-sal e uma presença maior na Amazônia e na
região Meridional do Brasil, tanto através de empresas, como das famosas
“bases militares de combate ao tráfico de drogas”.
A política externa de Lula é o ponto alto de seu governo. O trabalho
desenvolvido pelo ministro Celso Amorim deu ao Brasil uma credibilidade
impressionante em todo o mundo e colocou o País no centro de
importantes decisões, cada vez mais contrárias ao imperialismo
norte-americano. E por dentro do próprio modelo neoliberal. Lula não
mudou a estrutura político econômica do Brasil.
Deputados do PT, em resposta à clara intervenção de Hilary em
assuntos internos do Brasil, questionaram a miséria nos EUA, a falta de
atendimento médico a mais de 40 milhões de cidadãos norte-americanos, as
intervenções militares em países do Oriente Médio e no Afeganistão, a
morte de civis em flagrante violação aos direitos humanos, a prisão de
Guantánamo e outros pontos, como o eixo EUA/Israel. O último «feito»
desse eixo foi a falsificação de passaportes de países europeus para que
agentes do serviço secreto de Israel, o MOSSAD, pudessem assassinar um
líder do Hamas em Dubai.
Hilary esteve com o chanceler Celso Amorim e deve ter estranhado as
diferenças entre o ministro brasileiro de Lula e os dois ministros de
FHC. Lampreia e Celso Láfer. Lampreia aprendeu a dizer sim senhor
faremos tudo que o mestre mandar e não dizia outra coisa durante o
governo do marido da secretária. Láfer chegou a tirar os sapatos no
aeroporto de New York para submeter-se a uma revista, fato inadmissível e
que FHC engoliu em seco, já que funcionário da Fundação Ford, braço do
governo e da iniciativa privada nos EUA para países latino-americanos.
Há dias o presidente Lula fez duras críticas às posições dos EUA no
Oriente Médio e citou a farsa das armas químicas e biológicas para a
invasão do Iraque, no episódio que culminou com o afastamento do
embaixador brasileiro José Maurício Bustani, então presidente da Agência
de Energia Nuclear da ONU, por não aceitar pressões e recusar-se a
assinar um relatório falso sobre essas armas inexistentes.
A passagem de Hillary pelo Chile a pretexto de dar solidariedade à
presidente Bachelet diante da tragédia do terramoto e tsunamis que
abalaram e abalam o país, trouxe de volta a participação crítica dos
militares no processo democrático e o novo presidente, eleito com apoio
dos EUA, já disse que vai endurecer estendendo o toque de recolher no
país e ampliando a presença militar em várias outras áreas.
A simples ideia que o Brasil possa continuar a trilhar caminhos de
preservação de sua soberania e venha a avançar no processo de ocupação
de seu próprio território, Amazônia e sul do País, assusta ao governo
dos EUA. A perspectiva de um gigante adormecido que acorda e começa a
caminhar por suas próprias pernas não interessa a Obama e nem a Wall
Street. Querem o Brasil de quatro e por isso mesmo Hilary termina sua
visita depois de avistar-se com Lula, em São Paulo, onde, naturalmente,
José Collor Arruda Serra vai desmanchar-se em salamaleques e rodopios na
valsa da submissão.
Conversar primeiro com congressistas antes de avistar-se com o
presidente do Brasil é um insulto, um desrespeito e mostra os
verdadeiros objetivos da visita de Hilary. Quando Obama disse, logo nos
primeiros dias de seu governo, que Lula «é o cara», estava contando que
funcionasse aquele esquema de troca de colares, pirolitos e chicletes
pela PETROBRAS, pelo BANCO DO BRASIL, tal e qual funcionava no governo
FHC. Os colares, os pirolitos e os chicletes vinham recheados de dólares
em contas no exterior.
Segundo Hilary o povo hondurenho está sofrendo com as sanções
impostas pelo Brasil ao governo golpista e sua extensão. Não falou sobre
o bloqueio norte-americano imposto a Cuba desde 1962 e seus efeitos. Na
prática a secretária quer arrastar os governos da Venezuela, da Bolívia
e do Equador ao reconhecimento da situação de fato em Honduras, golpe
«legitimado» por uma grotesca farsa eleitoral, ao mesmo tempo que tenta
afastar o Brasil das políticas de integração latino-americana e que
envolvem governos populares na América do Sul e América Central.
A disposição de se criar um organismo latino-americano, que exclua
EUA e Canadá, manifesta por governos dessa região, é inaceitável para os
donos do mundo, acostumados a enxergarem a América Latina como quintal,
como América Latrina.
Já que a moda é muro, levando em conta os problemas criados por
norte-americanos em suas políticas colonialistas, imperialistas, qual
tal cercar os Estados Unidos com um grande muro impedindo a exportação
do modelo Disneyworld, aquele em que você imagina que as assombrações do
trem fantasma são só ficção, quando na verdade chegam aos bandos com
epíteto de «libertadores».
Que o digam os presos quando da ocupação do Iraque, ou os detidos em
Guantánamo.
As unhas e as garras do governo branco e ariano de Obama começam a
ser mostradas sem disfarces em países como o Brasil.
Hillary não pediu a Lula que não vá ao Irã, mas de forma solerte,
que tente convencer o governo de Teerã a desistir de seu programa
nuclear.
Se Israel tem perto de 60 bombas nucleares, isso é outra história, a
senhora Clinton não fala sobre esse assunto, é «legítima defesa» do
estado terrorista contra palestinos. Direito divino de ocupação de
terras palestinas.
«Democracia cristã, ocidental e capitalista» servida ao mundo em
bolos gigantescos de onde saem mariners e aviões que bombardeiam tudo o
que possa parecer inimigo. Inclusive participantes de uma festa de
casamento no Afeganistão.
É só pedir desculpas depois.
Torna-se desnecessário dizer que a mídia brasileira está toda
emperiquitada com a visita da senhora Clinton. É, afinal, a
representante legítima dos patrões.
* Jornalista brasileiro
sábado, 6 de março de 2010
Governo bolivariano alvo do imperialismo
Venezuela repudia acusações espanholas
A Venezuela considera «inaceitáveis» e de
«natureza e motivação política» as acusações da Audiência Nacional
espanhola sobre uma suposta cooperação do executivo de Hugo Chávez com
as FARC e a ETA, visando a realização de atentados contra altos
funcionários do governo colombiano em território espanhol.
Original Jornal Avante
Em comunicado emitido
segunda-feira pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), o governo
bolivariano diz ter tido conhecimento do auto emitido nesse mesmo dia
por um juiz espanhol (Eloy Velasco), no qual se tecem «considerações
inaceitáveis, de natureza e motivação política sobre o governo
venezuelano» e «se toma a liberdade de fazer reiteradas referências
desrespeitosas ao presidente de todos os venezuelanos, Hugo Chávez,
proferindo acusações tão tendenciosas quanto infundadas».
O MNE da Venezuela responde, desta forma, ao texto assinado por um magistrado da mais alta instância judicial de Espanha, no qual se acusa a República Bolivariana de facilitar a cooperação entre os dois grupos armados. Velasco processa seis presumíveis membros da ETA e sete das FARC e sustenta que as organizações tinham como alvos em território espanhol o actual presidente colombiano, Álvaro Uribe, o ex-presidente daquele país, Andrés Pastrana - que reside em Madrid e terá mesmo sido vigiado, diz -, e, entre outras personalidades, acrescenta ainda, o actual vice-presidente da Colômbia e mais que provável candidato da direita colombiana às próximas eleições, Francisco Santos.
Vale tudo
Eloy Velasco, fundamenta esta autêntica teoria da conspiração na alegada correspondência encontrada no computador supostamente apreendido a Raúl Reys, morto pelo exército colombiano num bombardeamento realizado no território do Equador, em Março de 2008, que matou o então comandante das FARC e outros guerrilheiros, e vitimou vários civis.
Para envolver o Estado venezuelano, o juiz não mede as palavras e refere que os 13 acusados «utilizaram a cooperação governamental venezuelana na colaboração ilícita entre as FARC e a ETA». Velasco vai mesmo mais longe e, numa argumentação forçada para criminalizar a Venezuela e o seu executivo, traz a lume o nome de Arturo Cubillas Fontán.
Fontán, pretenso etarra, é casado com a venezuelana Goizeder Lataillade, a qual, por sua vez, ocupou cargos públicos no governo do presidente Hugo Chávez, mais concretamente no gabinete de Administração e Serviços do Ministério de Agricultura e Terras.
O magistrado da Audiência Nacional também especula que Fontán seria, desde 1999, «o dirigente da ETA para aquela área da América, encarregando-se de coordenar as relações com as FARC e a participação de integrantes do organização separatista basca em cursos de explosivos e armamentos e na difusão de técnicas de guerrilha urbana terrorista».
Ocultação maliciosa
A respeito deste rol de acusações, o MNE da Venezuela precisa que no auto de Eloy Velasco «faz-se referência a um cidadão residente na Venezuela desde Maio de 1989 em resultado dos acordos então alcançados entre Carlos Andrés Pérez [à data presidente da Venezuela] e Filipe González [então primeiro-ministro espanhol]» mas, «surpreendentemente, em nenhum momento se menciona o nome dos autores deste acordo».
Simultaneamente, prossegue a resposta do MNE da Venezuela, «o juiz tem a ousadia de referir-se reiteradamente e de maneira desrespeitosa ao presidente de todos os venezuelanos, Hugo Chávez, proferindo acusações tão tendenciosas quanto infundadas acerca do governo bolivariano».
«A totalidade das alegações deste magistrado são produto da utilização de arquivos contidos no computador supostamente apreendido a Raúl Reys durante a operação militar que implicou um bombardeamento ilegal em território equatoriano e durante o qual foram massacradas dezenas de pessoas. Resulta também surpreendente que o juiz ressuscite a desgastada farsa do computador, que passou já a fazer parte do folclore colombiano», acrescenta o comunicado.
«O ministro dos Negócios Estrangeiros da República Bolivariana da Venezuela, em comunicação com o responsável das relações externas do reino de Espanha, recordou que o acordo de 1989 ao abrigo do qual reside na Venezuela, a pedido do Estado espanhol, o cidadão em questão, repudiou as acusações infames deste juiz e reiterou o profundo apego aos valores democráticos e humanistas que caracterizam o governo bolivariano da Venezuela», conclui.
CIA reúne com Uribe
Menos divulgado que o auto do juiz Velasco foi o encontro que, por estes dias, ocorreu entre o director da CIA, León Panetta, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, e alguns dos seus ministros, entre os quais o titular da Defesa, Gabriel Silva. Segundo fontes oficiais colombianas, Panetta encontrou-se igualmente com «peritos» locais da área da segurança, com o director da polícia, o general Óscar Naranjo, e outros altas patentes militares colombianas.
Esta é toda a informação oficial divulgada, mas nem por isso é menos interessante, sobretudo se tivermos em conta o clima de tensão entre a Venezuela e a Colômbia, fruto das permanentes provocações do governo de Bogotá, e o facto de o governo de Caracas, a par de outros governos do subcontinente, considerarem a cooperação militar entre a Colômbia e os EUA uma ameaça à sua soberania e um trampolim para a ingerência norte-americana na política de cada um dos Estados da América Latina que não sigam os ditames de Washington.
Há menos de quinze dias, Hugo Chávez alertou, mais uma vez, que o governo colombiano procura qualquer pretexto para agredir a Venezuela.
Não menos relevante neste contexto é o facto de estar provado - por documentação de acesso público e não por alegados arquivos de um suposto computador - que a CIA mantém relações, desde 1994, com o exército colombiano e com os paramiliatres, usados no combate às FARC e na defesa dos interesses do capital contra os trabalhadores colombianos.
Estes vínculos foram revelados pela National Security Archive (NSA), organização sem fins lucrativos sediada na Universidade George Washington. Nos documentos tornados públicos pela NSA, em Janeiro de 2009, seis dias antes de George W. Bush agraciar Álvaro Uribe com a Medalha Presidencial da Liberdade, confirma-se ainda que «a ideia de assassinar civis colombianos e fazê-los passar por guerrilheiros (os chamados falsos positivos) é antiga».
Recorde-se que mais de dois mil casos de falsos positivos estão a ser investigados pela justiça colombiana. O escândalo foi desencadeado depois da descoberta dos corpos de cerca de 20 jovens naturais da localidade de Soacha, recrutados por supostos angariadores de mão-de-obra que, posteriormente, os levaram à execução e os apresentaram como guerrilheiros das FARC abatidos em combate.
Aproximadamente 500 militares colombianos são suspeitos de envolvimento nos falsos positivos, diz o Ministério Público da Colômbia.
Narcotráfico como pretexto
Outra linha de ataque do imperialismo à Venezuela foi a divulgação, esta segunda-feira, do relatório anual do Departamento de Estado dos EUA relativo ao tráfico de estupefacientes. Diz Washington, segundo a AFP, que «há fortes evidências de que alguns elementos das forças de segurança da Venezuela assistem directamente» grupos colombianos designados como organizações terroristas pelos Estados Unidos, aludindo, claramente, às colombianas FARC.
Mas os EUA vão mesmo mais além alegando que o transito de droga no território venezuelano «aumentou bruscamente em 2009», que a Venezuela é «um importante país de trânsito», e, ainda, que o volume da exportação de estupefacientes é «extraordinário» desde o «sector adjacente à fronteira com a Colômbia».
Os norte-americanos não perdoam que desde 2006 a Venezuela tenha interrompido a cooperação com a agência americana antinarcóticos (DEA) e acusam igualmente os funcionários venezuelanos de não empreenderam «esforços significativos» para combater o narcotráfico, isto apesar de que contactos norte-americanos nesse sentido, prosseguem.
Em resultado de tudo isto, continua a Casa Branca, incrementou-se no território venezuelano «o nível de corrupção, crime e violência» e «a politização das investigações e a corrupção, que sufocam a confiança pública no sistema judiciário».
Esta declaração, para além de revelar nítidas acusações de natureza política e de ataque ao regime democrático venezuelano, e de pretender fazer passar a fronteira entre a Venezuela e a Colômbia por um território onde convivem o narcotráfico e o «terrorismo» com o beneplácito das autoridades, é mentirosa. Os dados divulgados no passado dia 26 pelo embaixador venezuelano nos EUA comprovam-no.
Venezuela na primeira linha
De acordo com Bernardo Álvarez, no último ano a Venezuela aumentou em 11 por cento as apreensões de droga no país.
Numa comunicação que pretendia rejeitar a politização da luta contra o tráfico de estupefacientes (que acabou por acontecer, quatro dias depois pela mãos dos EUA), Álvarez lembrou que a Venezuela partilha uma larga fronteira com o maior produtor de cocaína do mundo, a Colômbia, e encontra-se no mesmo continente que o maior consumidor do mundo, os EUA.
No que diz respeito a investimentos, o ano passado o governo boliviano canalizou 260 milhões de dólares para a compra e instalação de 10 radares de rastreio de voos ilegais, deteve cerca de 9 mil pessoas, destruiu 26 laboratórios clandestinos, começou a usar inceneradores (5 dos 10 previstos) dedicados à destruição de estupefacientes e reforçou os acordos internacionais de cooperação com 38 países.
No mesmo sentido, disse, foram preparadas e certificadas mais de 100 mil pessoas como assessores comunitários para a prevenção integral. Nos próximos três anos a meta é que este corpo de ligação entre a polícia e as comunidades se alargue a mais de 5 milhões de pessoas.
Já este ano, continuou o diplomata, a Venezuela interceptou 30 aviões, deportou três grandes narcotraficantes para a Colômbia, França e EUA, entre os quais Salomón Camacho, barão que figura no restrito lote dos 12 mais procurados pela DEA em todo o mundo.
Em suma, entre 2006 e 2008, o volume das apreensões feitas pelas autoridades venezuelanas aumentaram 38 por cento face ao registado no período de 2002 e 2005, quando o país cooperava com a DEA e os EUA, sublinhou para insistir que «a acusação de que a Venezuela não coopera no combate ao narcotráfico é puramente política».
Às palavras do embaixador venezuelano, juntam-se as informações oficiais das Nações Unidas, segundo as quais 90 por cento da cocaína que ingressa nos EUA segue a rota do Pacífico Oriental através do corredor mexicano e centro-americano. Na sua esmagadora maioria, esta droga provém da Colômbia, revela a ONU.
O MNE da Venezuela responde, desta forma, ao texto assinado por um magistrado da mais alta instância judicial de Espanha, no qual se acusa a República Bolivariana de facilitar a cooperação entre os dois grupos armados. Velasco processa seis presumíveis membros da ETA e sete das FARC e sustenta que as organizações tinham como alvos em território espanhol o actual presidente colombiano, Álvaro Uribe, o ex-presidente daquele país, Andrés Pastrana - que reside em Madrid e terá mesmo sido vigiado, diz -, e, entre outras personalidades, acrescenta ainda, o actual vice-presidente da Colômbia e mais que provável candidato da direita colombiana às próximas eleições, Francisco Santos.
Vale tudo
Eloy Velasco, fundamenta esta autêntica teoria da conspiração na alegada correspondência encontrada no computador supostamente apreendido a Raúl Reys, morto pelo exército colombiano num bombardeamento realizado no território do Equador, em Março de 2008, que matou o então comandante das FARC e outros guerrilheiros, e vitimou vários civis.
Para envolver o Estado venezuelano, o juiz não mede as palavras e refere que os 13 acusados «utilizaram a cooperação governamental venezuelana na colaboração ilícita entre as FARC e a ETA». Velasco vai mesmo mais longe e, numa argumentação forçada para criminalizar a Venezuela e o seu executivo, traz a lume o nome de Arturo Cubillas Fontán.
Fontán, pretenso etarra, é casado com a venezuelana Goizeder Lataillade, a qual, por sua vez, ocupou cargos públicos no governo do presidente Hugo Chávez, mais concretamente no gabinete de Administração e Serviços do Ministério de Agricultura e Terras.
O magistrado da Audiência Nacional também especula que Fontán seria, desde 1999, «o dirigente da ETA para aquela área da América, encarregando-se de coordenar as relações com as FARC e a participação de integrantes do organização separatista basca em cursos de explosivos e armamentos e na difusão de técnicas de guerrilha urbana terrorista».
Ocultação maliciosa
A respeito deste rol de acusações, o MNE da Venezuela precisa que no auto de Eloy Velasco «faz-se referência a um cidadão residente na Venezuela desde Maio de 1989 em resultado dos acordos então alcançados entre Carlos Andrés Pérez [à data presidente da Venezuela] e Filipe González [então primeiro-ministro espanhol]» mas, «surpreendentemente, em nenhum momento se menciona o nome dos autores deste acordo».
Simultaneamente, prossegue a resposta do MNE da Venezuela, «o juiz tem a ousadia de referir-se reiteradamente e de maneira desrespeitosa ao presidente de todos os venezuelanos, Hugo Chávez, proferindo acusações tão tendenciosas quanto infundadas acerca do governo bolivariano».
«A totalidade das alegações deste magistrado são produto da utilização de arquivos contidos no computador supostamente apreendido a Raúl Reys durante a operação militar que implicou um bombardeamento ilegal em território equatoriano e durante o qual foram massacradas dezenas de pessoas. Resulta também surpreendente que o juiz ressuscite a desgastada farsa do computador, que passou já a fazer parte do folclore colombiano», acrescenta o comunicado.
«O ministro dos Negócios Estrangeiros da República Bolivariana da Venezuela, em comunicação com o responsável das relações externas do reino de Espanha, recordou que o acordo de 1989 ao abrigo do qual reside na Venezuela, a pedido do Estado espanhol, o cidadão em questão, repudiou as acusações infames deste juiz e reiterou o profundo apego aos valores democráticos e humanistas que caracterizam o governo bolivariano da Venezuela», conclui.
CIA reúne com Uribe
Menos divulgado que o auto do juiz Velasco foi o encontro que, por estes dias, ocorreu entre o director da CIA, León Panetta, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, e alguns dos seus ministros, entre os quais o titular da Defesa, Gabriel Silva. Segundo fontes oficiais colombianas, Panetta encontrou-se igualmente com «peritos» locais da área da segurança, com o director da polícia, o general Óscar Naranjo, e outros altas patentes militares colombianas.
Esta é toda a informação oficial divulgada, mas nem por isso é menos interessante, sobretudo se tivermos em conta o clima de tensão entre a Venezuela e a Colômbia, fruto das permanentes provocações do governo de Bogotá, e o facto de o governo de Caracas, a par de outros governos do subcontinente, considerarem a cooperação militar entre a Colômbia e os EUA uma ameaça à sua soberania e um trampolim para a ingerência norte-americana na política de cada um dos Estados da América Latina que não sigam os ditames de Washington.
Há menos de quinze dias, Hugo Chávez alertou, mais uma vez, que o governo colombiano procura qualquer pretexto para agredir a Venezuela.
Não menos relevante neste contexto é o facto de estar provado - por documentação de acesso público e não por alegados arquivos de um suposto computador - que a CIA mantém relações, desde 1994, com o exército colombiano e com os paramiliatres, usados no combate às FARC e na defesa dos interesses do capital contra os trabalhadores colombianos.
Estes vínculos foram revelados pela National Security Archive (NSA), organização sem fins lucrativos sediada na Universidade George Washington. Nos documentos tornados públicos pela NSA, em Janeiro de 2009, seis dias antes de George W. Bush agraciar Álvaro Uribe com a Medalha Presidencial da Liberdade, confirma-se ainda que «a ideia de assassinar civis colombianos e fazê-los passar por guerrilheiros (os chamados falsos positivos) é antiga».
Recorde-se que mais de dois mil casos de falsos positivos estão a ser investigados pela justiça colombiana. O escândalo foi desencadeado depois da descoberta dos corpos de cerca de 20 jovens naturais da localidade de Soacha, recrutados por supostos angariadores de mão-de-obra que, posteriormente, os levaram à execução e os apresentaram como guerrilheiros das FARC abatidos em combate.
Aproximadamente 500 militares colombianos são suspeitos de envolvimento nos falsos positivos, diz o Ministério Público da Colômbia.
Narcotráfico como pretexto
Outra linha de ataque do imperialismo à Venezuela foi a divulgação, esta segunda-feira, do relatório anual do Departamento de Estado dos EUA relativo ao tráfico de estupefacientes. Diz Washington, segundo a AFP, que «há fortes evidências de que alguns elementos das forças de segurança da Venezuela assistem directamente» grupos colombianos designados como organizações terroristas pelos Estados Unidos, aludindo, claramente, às colombianas FARC.
Mas os EUA vão mesmo mais além alegando que o transito de droga no território venezuelano «aumentou bruscamente em 2009», que a Venezuela é «um importante país de trânsito», e, ainda, que o volume da exportação de estupefacientes é «extraordinário» desde o «sector adjacente à fronteira com a Colômbia».
Os norte-americanos não perdoam que desde 2006 a Venezuela tenha interrompido a cooperação com a agência americana antinarcóticos (DEA) e acusam igualmente os funcionários venezuelanos de não empreenderam «esforços significativos» para combater o narcotráfico, isto apesar de que contactos norte-americanos nesse sentido, prosseguem.
Em resultado de tudo isto, continua a Casa Branca, incrementou-se no território venezuelano «o nível de corrupção, crime e violência» e «a politização das investigações e a corrupção, que sufocam a confiança pública no sistema judiciário».
Esta declaração, para além de revelar nítidas acusações de natureza política e de ataque ao regime democrático venezuelano, e de pretender fazer passar a fronteira entre a Venezuela e a Colômbia por um território onde convivem o narcotráfico e o «terrorismo» com o beneplácito das autoridades, é mentirosa. Os dados divulgados no passado dia 26 pelo embaixador venezuelano nos EUA comprovam-no.
Venezuela na primeira linha
De acordo com Bernardo Álvarez, no último ano a Venezuela aumentou em 11 por cento as apreensões de droga no país.
Numa comunicação que pretendia rejeitar a politização da luta contra o tráfico de estupefacientes (que acabou por acontecer, quatro dias depois pela mãos dos EUA), Álvarez lembrou que a Venezuela partilha uma larga fronteira com o maior produtor de cocaína do mundo, a Colômbia, e encontra-se no mesmo continente que o maior consumidor do mundo, os EUA.
No que diz respeito a investimentos, o ano passado o governo boliviano canalizou 260 milhões de dólares para a compra e instalação de 10 radares de rastreio de voos ilegais, deteve cerca de 9 mil pessoas, destruiu 26 laboratórios clandestinos, começou a usar inceneradores (5 dos 10 previstos) dedicados à destruição de estupefacientes e reforçou os acordos internacionais de cooperação com 38 países.
No mesmo sentido, disse, foram preparadas e certificadas mais de 100 mil pessoas como assessores comunitários para a prevenção integral. Nos próximos três anos a meta é que este corpo de ligação entre a polícia e as comunidades se alargue a mais de 5 milhões de pessoas.
Já este ano, continuou o diplomata, a Venezuela interceptou 30 aviões, deportou três grandes narcotraficantes para a Colômbia, França e EUA, entre os quais Salomón Camacho, barão que figura no restrito lote dos 12 mais procurados pela DEA em todo o mundo.
Em suma, entre 2006 e 2008, o volume das apreensões feitas pelas autoridades venezuelanas aumentaram 38 por cento face ao registado no período de 2002 e 2005, quando o país cooperava com a DEA e os EUA, sublinhou para insistir que «a acusação de que a Venezuela não coopera no combate ao narcotráfico é puramente política».
Às palavras do embaixador venezuelano, juntam-se as informações oficiais das Nações Unidas, segundo as quais 90 por cento da cocaína que ingressa nos EUA segue a rota do Pacífico Oriental através do corredor mexicano e centro-americano. Na sua esmagadora maioria, esta droga provém da Colômbia, revela a ONU.
Professores de SP, entram em greve a partir de segunda...
Professores da rede estadual do Estado de São Paulo, aprovaram
ontem, em assembleia, uma greve por tempo indeterminado que será
iniciada na segunda-feira. O ato reuniu 10 mil manifestantes.A principal
reivindicação, segundo os sindicatos, é a ausência de reajuste salarial
para a categoria, cujos salários estão congelados há cinco anos,
segundo a Apeoesp. Eles pedem também o fim da política de conceder
apenas gratificações e bônus.
Em nota divulgada ontem à noite,
o governador de São Paulo, José Serra (PSDB) diz considerar a
aprovação da greve como uma decisão política da Apeoesp e que, os
professores não tem notivos para fazer paralização
sexta-feira, 5 de março de 2010
Qual PT??
Do “maduro” ao podre |
Escrito por Gilvan Rocha - Correio da Cidadania | |
Quando no Brasil surgiu um partido de trabalhadores que encarnava seus
interesses, não as suas migalhas, a burguesia apavorou-se. Criou toda
forma de dificuldades jurídicas e criou o voto vinculado para impedir o
êxito deste partido que tantas esperanças trazia para os trabalhadores.
A burguesia colocou um círculo de ferro para o partido não ser
ultrapassado. Vendo, porém, não funcionar seus expedientes escusos, ela
partiu para uma segunda tática. Procurou afagar com seus mimos o líder
do partido no Congresso.
Tornou Genoíno em garoto propaganda da Globo, pois ele jogava um brando
papel e a cada concessão sua a burguesia aplaudia e dizia: isso sim!
Isto é que é um partido "maduro"! Juntaram-se a Genoíno: Delúbio Soares,
Silvio Pereira, Ideli Salvatti, João Paulo, os dólares nas cuecas, os
aloprados, os sanguessugas e formaram uma bela quadrilha.
Dizem que basta uma laranja podre para botar um cesto a perder e essa
laranja podre já existia na figura de José Dirceu, franco arrivista do
petismo. O partido ficou assim dividido: os bem intencionados, os
beatos, os honestos, os ingênuos, que são muitos. Do outro lado ficaram
aqueles que, de "maduros", ficaram podres, e eles representam uma
minoria bem situada no aparelho do Estado e fora dele.
Assim como no Brasil, a Alemanha foi palco de uma tragédia política que
é, sem dúvida, a matriz de uma tragédia, a começar pela Revolução Russa,
que se estendeu através dos tentáculos da Terceira Internacional
Comunista, pelo mundo afora, esbarrando o processo revolucionário
mundial.
Assim, no Brasil, tivemos outro Gustavo Noske, que inveja não faz ao
nosso conspirador José Dirceu, que a prática não junta à esquerda, mas
junta a José Sarney, Romero Jucá, Renan Calheiros, Fernando Collor,
Quércia e outros tantos fisiológicos de sua raça.
Agora, o José Dirceu faz intermediação de ricos negócios, tanto no
Brasil como no estrangeiro, afinal, tal como a burguesia, ele não é
nacionalista, ele visa apenas a fortuna. E dentro desse objetivo soube
formar seu staff. Onde está o partido diferente de outrora?
Gilvan Rocha é presidente do Centro de Atividades e Estudos Políticos
(CAEP).
|
quinta-feira, 4 de março de 2010
A américa latina estará se emancipando????
Frustração de Hillary: o ocaso do pan-americanismo imperialista
A secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton,
visitou o Brasil nesta quarta-feira (3). Chegou cheia de intenções sobre
o estabelecimento de “relações especiais” com o Brasil e não pouca
arrogância e atitudes imperiais no que se refere aos temas globais e aos
assuntos em que os dois países mantêm posições diametralmente opostas.
Sai de mãos vazias, levando consigo um imenso desgaste político.
Por José Reinaldo Carvalho*
Os resultados que colheu em termos de “relações especiais” foram muito poucos. E os contenciosos, se não se agravaram pelo equilíbrio com que foram tratados pela parte brasileira, mantiveram-se sem solução.
Momentos antes da sua chegada a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília disparava “press-realeases” para as redações dos principais veículos de comunicação do país, dando conta de que existem 16 mecanismos de consultas bilaterais sobre temas da maior relevância, variando da economia à defesa. O Itamaraty, por sua vez, generoso com a anfitriã, divulgava um número maior. Como informou a “Folha de São Paulo” em sua edição desta quarta-feira, 3, são 18 os mecanismos de consultas no âmbito da Chancelaria brasileira. Há quem ache pouco, como o ex-embaixador do Brasil nos Estrados Unidos, Rubens Barbosa, para quem o Brasil é passivo na implementação da cooperação bilateral. Ressente-se o ilustre diplomata da atual orientação do Itamaraty que não mais privilegia as relações com os Estados Unidos em detrimento do contato com outros parceiros e há muito tempo deixou de ser submissa, característica que marcou a diplomacia brasileira nos tempos de FHC à frente do Ministério das Relações Exteriores e da Presidência da República.
Mantras da política externa imperialista
O fato é que o saldo da visita da senhora Clinton ao Brasil é apenas a assinatura de três atos de cooperação. Um deles se refere à implementação de atividades conjuntas de cooperação técnica com outros países. Outro diz respeito às mudanças climáticas. E um terceiro propõe entendimentos entre os dois países para o avanço na condição da mulher.
A rigor, o fomento das “relações especiais” era apenas a envoltura na qual se escondiam os verdadeiros objetivos da visita. A esposa do ex-presidente dos Estados Unidos veio ao Brasil para pressionar o governo brasileiro a recitar os mesmos mantras da atual política externa norte-americana e o obrigar a transformá-los em ações práticas. Dois desses mantras fazem parte da cena política latino-americana – apoio a Pepe Lobo, presidente de Honduras eleito no rastro do golpe de estado que interrompeu uma breve experiência de democracia e independência no país centro-americano e condenação a Cuba por “violação” dos direitos humanos, com base em falsas acusações. Há poucos dias o presidente Lula esteve em Cuba, encontrou-se com os companheiros Fidel e Raúl, ocasião em que declarou alto e bom som que o Brasil é amigo de Cuba e condena o bloqueio ao país, assim como as tentativas de isolá-lo politicamente. A senhora Clinton não escutou algo diferente nas audiências com as autoridades brasileiras durante esta quarta-feira no Itamaraty e no gabinete presidencial.
“O Brasil não se curva a pressões”
Mas o motivo de maior frustração para a enviada do presidente Obama foi o rechaço às pressões para o Brasil aderir à orquestração do mantra anti-iraniano e se somar ao apelo para a adoção de sanções àquele país do Oriente Médio. “O Brasil não vai se curvar às pressões dos Estados Unidos”, disse o ministro das Relações Exteriores Celso Amorim. E no mesmo tom firme: “Nós pensamos com a própria cabeça. Nós queremos um mundo sem armas nucleares, certamente sem proliferação”, afirmou o chanceler brasileiro diante de uma frustrada secretária de Estado. Amorim pregou o entendimento, o diálogo e o caminho diplomático para lidar com o governo de Mahmud Ahmadinejad.
A visita da chefe da diplomacia estadunidense, prévia à que em breve o presidente Obama fará ao Brasil, ocorre num momento novo do cenário político latino-americano e numa etapa de amadurecimento da política externa independente do governo Lula. A América Latina não é mais o quintal dos fundos do imperialismo estadunidense, cujo pan-americanismo está sendo substituído pela verdadeira integração de povos e nações soberanas, com seus novos instrumentos de cooperação, como a Comunidade de Estados Latinoamericanos e Caribenhos (Celac). Por isso mesmo, os Estados Unidos, apesar da nova retórica, continuam ameaçadores e intervencionistas, como demonstram a recriação da Quarta Frota da Marinha de Guerra dos EUA e a instalação das bases militares na Colômbia. A política externa independente do governo Lula tem evoluído e amadurecido, com suas prioridades para a cooperação, a defesa da paz, o respeito ao direito internacional, o multilateralismo e o estabelecimento de parcerias estratégicas incômodas para o imperialismo e as classes dominantes internas, retrógradas e entreguistas.
Relações complexas
As relações bilaterais do Brasil com os Estados Unidos são bastante complexas e merecem um estudo à parte. Convivem nesta relação elementos de cooperação e conflito. Moniz Bandeira, um dos mais fecundos historiadores das relações entre o Brasil e os Estados Unidos, dá uma explicação geopolítica para as relações ambíguas entre os dois países no seu livro “As relações perigosas: Brasil-Estados Unidos (de Collor a Lula, 1990-2004)”. Diz o historiador: “Como candidato, Lula podia dizer, livremente, o que pensava. Como chefe de governo, tinha de preservar o relacionamento do Brasil com os Estados Unidos (...) Da mesma forma que Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso, que buscaram estabelecer um bom relacionamento entre os dois países, Lula da Silva não conseguiu evitar divergências e atritos (...) A contradição de interesses e de objetivos entre os dois países constituía acima de tudo um dado cartográfico (...) De um lado, os Estados Unidos, a superpotência, que tratavam de preservar a todo custo sua predominância na América do Sul, como no resto do mundo (...) De outro lado, o Brasil, potência industrial emergente, em desenvolvimento, que reservara inteiramente para si a definição dc seus interesses nacionais e tratava de dilatar seu próprio espaço econômico e político, defender sua autonomia, convencido de que a rígida estrutura de poder e riqueza no mundo devia mudar. Esse mesmo dado cartográfico (...) determinava, porém, a necessidade de cooperação entre os dois países, que necessitavam manter laços estreitos. Daí a ambivalência que desde o século 19 caracterizou as suas relações”.
A vida vai mostrando que outras determinações, para além das cartográficas, condicionam a relação entre os dois países e que à medida em que o Brasil se afirma como nação independente e soberana e em que cresce a consciência antiimperialista do povo brasileiro, prevalecerão as disputas de interesses. Foi-se o tempo do beija-mão, da cerviz inclinada, dos pés descalços no aeroporto, da submissão, do alinhamento automático, do pan-americanismo imperialista.
*editor do portal Vermelho
Os resultados que colheu em termos de “relações especiais” foram muito poucos. E os contenciosos, se não se agravaram pelo equilíbrio com que foram tratados pela parte brasileira, mantiveram-se sem solução.
Momentos antes da sua chegada a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília disparava “press-realeases” para as redações dos principais veículos de comunicação do país, dando conta de que existem 16 mecanismos de consultas bilaterais sobre temas da maior relevância, variando da economia à defesa. O Itamaraty, por sua vez, generoso com a anfitriã, divulgava um número maior. Como informou a “Folha de São Paulo” em sua edição desta quarta-feira, 3, são 18 os mecanismos de consultas no âmbito da Chancelaria brasileira. Há quem ache pouco, como o ex-embaixador do Brasil nos Estrados Unidos, Rubens Barbosa, para quem o Brasil é passivo na implementação da cooperação bilateral. Ressente-se o ilustre diplomata da atual orientação do Itamaraty que não mais privilegia as relações com os Estados Unidos em detrimento do contato com outros parceiros e há muito tempo deixou de ser submissa, característica que marcou a diplomacia brasileira nos tempos de FHC à frente do Ministério das Relações Exteriores e da Presidência da República.
Mantras da política externa imperialista
O fato é que o saldo da visita da senhora Clinton ao Brasil é apenas a assinatura de três atos de cooperação. Um deles se refere à implementação de atividades conjuntas de cooperação técnica com outros países. Outro diz respeito às mudanças climáticas. E um terceiro propõe entendimentos entre os dois países para o avanço na condição da mulher.
A rigor, o fomento das “relações especiais” era apenas a envoltura na qual se escondiam os verdadeiros objetivos da visita. A esposa do ex-presidente dos Estados Unidos veio ao Brasil para pressionar o governo brasileiro a recitar os mesmos mantras da atual política externa norte-americana e o obrigar a transformá-los em ações práticas. Dois desses mantras fazem parte da cena política latino-americana – apoio a Pepe Lobo, presidente de Honduras eleito no rastro do golpe de estado que interrompeu uma breve experiência de democracia e independência no país centro-americano e condenação a Cuba por “violação” dos direitos humanos, com base em falsas acusações. Há poucos dias o presidente Lula esteve em Cuba, encontrou-se com os companheiros Fidel e Raúl, ocasião em que declarou alto e bom som que o Brasil é amigo de Cuba e condena o bloqueio ao país, assim como as tentativas de isolá-lo politicamente. A senhora Clinton não escutou algo diferente nas audiências com as autoridades brasileiras durante esta quarta-feira no Itamaraty e no gabinete presidencial.
“O Brasil não se curva a pressões”
Mas o motivo de maior frustração para a enviada do presidente Obama foi o rechaço às pressões para o Brasil aderir à orquestração do mantra anti-iraniano e se somar ao apelo para a adoção de sanções àquele país do Oriente Médio. “O Brasil não vai se curvar às pressões dos Estados Unidos”, disse o ministro das Relações Exteriores Celso Amorim. E no mesmo tom firme: “Nós pensamos com a própria cabeça. Nós queremos um mundo sem armas nucleares, certamente sem proliferação”, afirmou o chanceler brasileiro diante de uma frustrada secretária de Estado. Amorim pregou o entendimento, o diálogo e o caminho diplomático para lidar com o governo de Mahmud Ahmadinejad.
A visita da chefe da diplomacia estadunidense, prévia à que em breve o presidente Obama fará ao Brasil, ocorre num momento novo do cenário político latino-americano e numa etapa de amadurecimento da política externa independente do governo Lula. A América Latina não é mais o quintal dos fundos do imperialismo estadunidense, cujo pan-americanismo está sendo substituído pela verdadeira integração de povos e nações soberanas, com seus novos instrumentos de cooperação, como a Comunidade de Estados Latinoamericanos e Caribenhos (Celac). Por isso mesmo, os Estados Unidos, apesar da nova retórica, continuam ameaçadores e intervencionistas, como demonstram a recriação da Quarta Frota da Marinha de Guerra dos EUA e a instalação das bases militares na Colômbia. A política externa independente do governo Lula tem evoluído e amadurecido, com suas prioridades para a cooperação, a defesa da paz, o respeito ao direito internacional, o multilateralismo e o estabelecimento de parcerias estratégicas incômodas para o imperialismo e as classes dominantes internas, retrógradas e entreguistas.
Relações complexas
As relações bilaterais do Brasil com os Estados Unidos são bastante complexas e merecem um estudo à parte. Convivem nesta relação elementos de cooperação e conflito. Moniz Bandeira, um dos mais fecundos historiadores das relações entre o Brasil e os Estados Unidos, dá uma explicação geopolítica para as relações ambíguas entre os dois países no seu livro “As relações perigosas: Brasil-Estados Unidos (de Collor a Lula, 1990-2004)”. Diz o historiador: “Como candidato, Lula podia dizer, livremente, o que pensava. Como chefe de governo, tinha de preservar o relacionamento do Brasil com os Estados Unidos (...) Da mesma forma que Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso, que buscaram estabelecer um bom relacionamento entre os dois países, Lula da Silva não conseguiu evitar divergências e atritos (...) A contradição de interesses e de objetivos entre os dois países constituía acima de tudo um dado cartográfico (...) De um lado, os Estados Unidos, a superpotência, que tratavam de preservar a todo custo sua predominância na América do Sul, como no resto do mundo (...) De outro lado, o Brasil, potência industrial emergente, em desenvolvimento, que reservara inteiramente para si a definição dc seus interesses nacionais e tratava de dilatar seu próprio espaço econômico e político, defender sua autonomia, convencido de que a rígida estrutura de poder e riqueza no mundo devia mudar. Esse mesmo dado cartográfico (...) determinava, porém, a necessidade de cooperação entre os dois países, que necessitavam manter laços estreitos. Daí a ambivalência que desde o século 19 caracterizou as suas relações”.
A vida vai mostrando que outras determinações, para além das cartográficas, condicionam a relação entre os dois países e que à medida em que o Brasil se afirma como nação independente e soberana e em que cresce a consciência antiimperialista do povo brasileiro, prevalecerão as disputas de interesses. Foi-se o tempo do beija-mão, da cerviz inclinada, dos pés descalços no aeroporto, da submissão, do alinhamento automático, do pan-americanismo imperialista.
*editor do portal Vermelho
quarta-feira, 3 de março de 2010
Texto de Chomsky....
Os não eleitos "arquitetos da política"
Noam Chomsky
Do The New York Times
Do The New York Times
Mudanças no poder global, potenciais ou em andamento, são um
tema pulsante entre articuladores políticos e observadores. Uma questão é
se (ou quando) a China poderia destronar os Estados Unidos como
protagonista global dominante, talvez juntamente com a Índia.
Tal mudança restituiria o sistema global ao que era antes das conquistas
europeias. O crescimento econômico da China e da Índia foi rápido e,
graças a sua rejeição às políticas ocidentais de desregulação
financeira, esses países sobreviveram à recessão melhor do que a
maioria. No entanto, surgem algumas questões.
Uma medida-padrão de saúde social é o Índice de Desenvolvimento Humano
da Organização das Nações Unidas, cujos dados mais recentes são de 2008.
A Índia está em 134ª lugar no ranking, pouco acima do Camboja e abaixo
do Laos e do Tadjiquistão, próximo da posição em que esteve por muitos
anos. A China está em 92º - junto com Belize, um pouco acima da Jordânia
e abaixo da República Dominicana e do Irã.
A Índia e a China também têm uma desigualdade muito alta, pois mais de
um bilhão de seus habitantes estão no nível mais baixo da escala social.
Outra preocupação é a dívida dos Estados Unidos, que, conforme se teme,
transforma os Estados Unidos em cativos da China. Exceto por um breve
interlúdio, o Japão foi por muito tempo o maior detentor da dívida do
governo americano. A alavancagem dos credores, além disso, é
superestimada.
Em uma perspectiva - o poder militar -, os Estados Unidos permanecem
totalmente sozinhos. E Obama está estabelecendo novos recordes com seu
orçamento militar. Quase metade do déficit dos Estados Unidos deve-se
aos gastos militares, intocáveis no sistema político.
Ao considerar outros setores da economia dos Estados Unidos, o vencedor
do prêmio Nobel Joseph Stiglitz e outros economistas alertaram que
deveríamos ter cuidado com o "fetichismo do déficit". Um déficit é um
estímulo à recuperação e pode ser compensado com crescimento da
economia, como ocorreu depois da Segunda Guerra Mundial, quando o
déficit era muito pior.
A expectativa é que a dívida aumente, principalmente por causa do
irremediavelmente ineficaz sistema de saúde privatizado - também
virtualmente intocável, graças à habilidade do mundo dos negócios em se
sobrepor à vontade pública.
Porém, a estrutura dessas discussões está equivocada. O sistema global
não é apenas uma interação entre estados, cada um defendendo algum
"interesse nacional" subtraído da distribuição do poder doméstico. Isso
tem sido compreendido há muito tempo.
Adam Smith concluiu que os "principais arquitetos" da política na
Inglaterra foram os "comerciantes e manufatureiros", que procuram
garantir que seus interesses "sejam satisfeitos da melhor forma
possível", por mais "dolorosos" que sejam seus efeitos sobre os outros,
inclusive as pessoas na Inglaterra.
A máxima de Smith ainda se mantém, embora, hoje, os "principais
arquitetos" sejam corporações multinacionais e, particularmente, as
instituições financeiras cuja participação na economia vem crescendo
desde os anos 1970.
Nos Estados Unidos, acabamos de ver uma dramática ilustração do poder
das instituições financeiras. Na última eleição presidencial, elas
garantiram a base do financiamento do presidente Obama.
Naturalmente, esperavam ser recompensadas. E foram - com o programa de
socorro aos bancos e muito mais. Considere o Goldman Sachs, líder da
economia e do sistema financeiro. A instituição fez uma mina de ouro ao
vender títulos lastreados em hipotecas e instrumentos financeiros mais
complexos.
Consciente da fragilidade dos pacotes que comercializava, a companhia
apostou, com a gigante dos seguros American International Group (AIG),
que as ofertas cairiam. Quando o sistema financeiro entrou em crise, a
AIG afundou com ele.
Os arquitetos da política do Goldman não apenas se beneficiaram de um
socorro financeiro para o próprio Goldman, como também conseguiram que
os contribuintes salvassem a AIG da falência, restagando, assim, o
Goldman.
Agora, o Goldman está registrando lucros recordes e pagando robustos
bônus e, assim como alguns outros bancos principais, está maior e mais
poderoso do que nunca. O público está furioso. As pessoas podem ver que
os bancos que foram os agentes primários da crise agem como bandidos,
enquanto a população que os resgatou está enfrentando um desemprego de
quase 10%.
A indignação popular finalmente provocou uma virada retórica da
administração, que respondeu com acusações sobre banqueiros gananciosos e
sugestões de políticas das quais o setor financeiro não gosta (a
Volcker Rule, proposta de regulação dos bancos, e outras propostas).
Presumindo que Obama é o seu representante em Washington, os principais
arquitetos perderam pouco tempo com orientações: a menos que Obama
recue, eles vão transferir seus recursos para a oposição política.
Há alguns dias, Obama disse à imprensa que os banqueiros são "caras"
legais, destacando os presidentes de duas grandes instituições, o JP
Morgan Chase e o Goldman Sachs: "eu, como a maioria dos americanos, não
invejo pessoas de sucesso ou riqueza. Isso é parte do sistema de livre
mercado" - como "livre mercado", entenda-se a doutrina do estado
capitalista.
Essa mudança de direção é uma reveladora fotografia instantânea da
máxima de Smith na prática. Os arquitetos da política também estão a
serviço de uma verdadeira mudança de poder: da força de trabalho global
para o capital transnacional.
O economista e especialista em assuntos da China Martin Hart-Landsberg
explora essa dinâmica. A China tornou-se uma linha de montagem para um
sistema de produção regional. O Japão, Taiwan e outras economias
avançadas da Ásia exportam partes e componentes de alta tecnologia para a
China, que monta e exporta produtos acabados.
O crescente déficit comecial dos Estados Unidos com a China causa
preocupação. O que menos se percebeu é que o déficit comercial dos
Estados Unidos com o Japão e o resto da Ásia declinou fortemente à
medida que o novo sistema de produção regional tomou forma. As
indústrias americanas estão seguindo o mesmo caminho, fornecendo peças e
componentes para a China montar e exportar, principalmente para os
Estados Unidos. Para as instituições financeiras, gigantes varejistas,
proprietários e dirigentes de indústrias manufatureiras e setores
estreitamente ligados a esse nexo de poder, esses desenvolvimentos são
sagrados.
E bem-entendidos. Em 2007, Ralph Gomory, dirigente da Fundação Alfred P.
Sloan, disse no Congresso: "Em tempos de globalização, os interesses de
empresas e países divergem". Em contraste com o passado, o que é bom
para as corporações globais americanas já não é necessariamente bom para
os cidadãos americanos.
Considere a IBM. No final de 2008, mais de 70% dos 400.000 trabalhadores
da IBM estavam em outros países, segundo a Alfred P. Sloan. Em 2009, a
IBM reduziu seus postos nos Estados Unidos em mais 8%.
Para a mão de obra, o resultado pode ser "doloroso", de acordo com a
máxima de Smith, mas é bom para os principais arquitetos da política.
Pesquisas atuais indicam que quase um quarto dos empregos dos Estados
Unidos estarão "além das fronteiras" dentro de duas décadas e, no caso
daqueles postos que forem mantidos, a segurança e os salários decentes
vão diminuir em decorrência da crescente competição gerada pelos
trabalhadores recolocados no mercado.
Esse padrão sucede a 30 anos de estagnação ou declínio para a maioria,
na medida em que a riqueza recaiu sobre poucos bolsos, levando à
provavelmente mais alta desigualdade na história dos Estados Unidos.
Enquanto a China se torna a linha de montagem e a plataforma de
exportação do mundo, os trabalhadores chineses estão sofrendo com o
resto da mão de obra global, como poderíamos esperar de um sistema
destinado a concentrar riqueza e poder e a incitar a competição entre as
pessoas mundialmente.
Em termos globais, a participação dos trabalhadores na renda nacional
caiu em muitos países - no caso da China, dramaticamente, levando a uma
crescente inquietação nessa sociedade altamente desigual.
Portanto, temos outra mudança significativa no poder global: da
população geral para os principais arquitetos do poder global, um
processo favorecido pelo arrefecimento da democracia nos estados mais
poderosos.
O futuro depende do quanto a grande maioria está disposta a resistir e
do desenvolvimento de uma resposta construtiva que possa confrontar os
problemas no núcleo do sistema do estado capitalista de dominação e
controle. Caso contrário, os resultados poderão ser amargos, como a
história mostra plenamente.
Noam Chomsky é professor emérito de lingüística e filosofia
no Instituto de Tecnologia de Massachusetts em Cambridge, Massachusetts.
Artigo distribuído pelo The New York Times Syndicate.
terça-feira, 2 de março de 2010
Prefeito de Bagé-RS na posse de Pepe Mujica...
A prefeitura de Bage-Rs, na figura de seu Prefeito Luis Eduardo Colombo(DUDU) e de seu Coordenador de Assuntos Internacionais Glécio Rodrigues estiveram no Uruguai, no dia de ontem, para a posse do Presidente PEPE Mujica, eleito ano passado.Abaixo algumas fotos do evento, fornecidas por Glecio Rodrigues:
DUDU e Glecio
Grande mídia organiza campanha contra candidatura de Dilma
Grande mídia organiza campanha contra
candidatura de Dilma
Em seminário promovido pelo Instituto
Millenium em SP, representantes dos principais veículos de comunicação
do país afirmaram que o PT é um partido contrário à liberdade de
expressão e à democracia. Eles acreditam que se Dilma for eleita o
stalinismo será implantado no Brasil. “Então tem que haver um trabalho a
priori contra isso, uma atitude de precaução dos meios de comunicação.
Temos que ser ofensivos e agressivos, não adianta reclamar depois”,
sentenciou Arnaldo Jabor.
Bia Barbosa - Carta Maior
Se algum estudante ou profissional de
comunicação desavisado pagou os R$ 500,00 que custavam a inscrição do 1º
Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, organizado pelo Instituto
Millenium, acreditando que os debates no evento girariam em torno das
reais ameaças a esses direitos fundamentais, pode ter se surpreendido
com a verdadeira aula sobre como organizar uma campanha política que foi
dada pelos representantes dos grandes veículos de comunicação nesta
segunda-feira, em São Paulo.
Promovido por um instituto defensor de valores como a economia de mercado e o direito à propriedade, e que tem entre seus conselheiros nomes como João Roberto Marinho, Roberto Civita, Eurípedes Alcântara e Pedro Bial, o fórum contou com o apoio de entidades como a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), ANER (Associação Nacional de Editores de Revista), ANJ (Associação Nacional de Jornais) e Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade). E dedicou boa parte das suas discussões ao que os palestrantes consideram um risco para a democracia brasileira: a eleição de Dilma Rousseff.
A explicação foi inicialmente dada pelo sociólogo Demétrio Magnoli, que passou os últimos anos combatendo, nos noticiários e páginas dos grandes veículos, políticas de ação afirmativa como as cotas para negros nas universidades. Segundo ele, no início de sua história, o PT abrangia em sua composição uma diversidade maior de correntes, incluindo a presença de lideranças social-democratas. Hoje, para Magnoli, o partido é um aparato controlado por sindicalistas e castristas, que têm respondido a suas bases pela retomada e restauração de um programa político reminiscente dos antigos partidos comunistas.
“Ao longo das quatro candidaturas de Lula, o PT realizou uma mudança muito importante em relação à economia. Mas ao mesmo tempo em que o governo adota um programa econômico ortodoxo e princípios da economia de mercado, o PT dá marcha ré em todos os assuntos que se referem à democracia. Como contraponto à adesão à economia de mercado, retoma as antigas idéias de partido dirigente e de democracia burguesa, cruciais num ideário anti-democrático, e consolida um aparato partidário muito forte que reduz brutalmente a diversidade política no PT. E este movimento é reforçado hoje pelo cenário de emergência do chavismo e pela aliança entre Venezuela e Cuba”, acredita. “O PT se tornou o maior partido do Brasil como fruto da democracia, mas é ambivalente em relação a esta democracia. Ele celebra a Venezuela de Chávez, aplaude o regime castrista em seus documentos oficiais e congressos, e solta uma nota oficial em apoio ao fechamento da RCTV”, diz.
A RCTV é a emissora de TV venezuelana que não teve sua concessão em canal aberto renovada por descumprir as leis do país e articular o golpe de 2000 contra o presidente Hugo Chávez, cujo presidente foi convidado de honra do evento do Instituto Millenium. Hoje, a RCTV opera apenas no cabo e segue enfrentando o governo por se recusar a cumprir a legislação nacional. Por esta atitude, Marcel Granier é considerado pelos organizadores do Fórum um símbolo mundial da luta pela liberdade de expressão – um direito a que, acreditam, o PT também é contra.
“O PT é um partido contra a liberdade de expressão. Não há dúvidas em relação a isso. Mas no Brasil vivemos um debate democrático e o PT, por intermédio do cerceamento da liberdade de imprensa, propõe subverter a democracia pelos processos democráticos”, declarou o filósofo Denis Rosenfield. “A idéia de controle social da mídia é oficial nos programas do PT. O partido poderia ter se tornado social-democrata, mas decidiu que seu caminho seria de restauração stalinista. E não por acaso o centro desta restauração stalinista é o ataque verbal à liberdade de imprensa e expressão”, completou Magnoli.
O tal ataque
Para os pensadores da mídia de direita, o cerco à liberdade de expressão não é novidade no Brasil. E tal cerceamento não nasce da brutal concentração da propriedade dos meios de comunicação característica do Brasil, mas vem se manifestando há anos em iniciativas do governo Lula, em projetos com o da Ancinav, que pretendia criar uma agência de regulação do setor audiovisual, considerado “autoritário, burocratizante, concentracionista e estatizante” pelos palestrantes do Fórum, e do Conselho Federal de Jornalistas, que tinha como prerrogativa fiscalizar o exercício da profissão no país.
“Se o CFJ tivesse vingado, o governo deteria o controle absoluto de uma atividade cuja liberdade está garantida na Constituição Federal. O veneno antidemocrático era forte demais. Mas o governo não desiste. Tanto que em novembro, o Diretório Nacional do PT aprovou propostas para a Conferência Nacional de Comunicação defendendo mecanismos de controle público e sanções à imprensa”, avalia o articulista do Estadão e conhecido membro da Opus Dei, Carlos Alberto Di Franco.
“Tínhamos um partido que passou 20 anos fazendo guerra de valores, sabotando tentativas, atrapalhadas ou não, de estabilização, e que chegou em 2002 com chances de vencer as eleições. E todos os setores acreditaram que eles não queriam fazer o socialismo. Eles nos ofereceram estabilidade e por isso aceitamos tudo”, lamenta Reinaldo Azevedo, colunista da revista Veja, que faz questão de assumir que Fernando Henrique Cardoso está à sua esquerda e para quem o DEM não defende os verdadeiros valores de direita. “A guerra da democracia do lado de cá esta sendo perdida”, disse, num momento de desespero.
O deputado petista Antonio Palocci, convidado do evento, até tentou tranqüilizar os participantes, dizendo que não vê no horizonte nenhum risco à liberdade de expressão no Brasil e que o Presidente Lula respeita e defende a liberdade de imprensa. O ministro Hélio Costa, velho amigo e conhecido dos donos da mídia, também. “Durante os procedimentos que levaram à Conferência de Comunicação, o governo foi unânime ao dizer que em hipótese alguma aceitaria uma discussão sobre o controle social da mídia. Isso não será permitido discutir, do ponto de vista governamental, porque consideramos absolutamente intocável”, garantiu.
Mas não adiantou. Nesta análise criteriosa sobre o Partido dos Trabalhadores, houve quem teorizasse até sobre os malefícios da militância partidária. Roberto Romano, convidado para falar em uma mesa sobre Estado Democrático de Direito, foi categórico ao atacar a prática política e apresentar elementos para a teoria da conspiração que ali se construía, defendendo a necessidade de surgimento de um partido de direita no país para quebrar o monopólio progressivo da esquerda.
“O partido de militantes é um partido de corrosão de caráter. Você não tem mais, por exemplo, juiz ou jornalista; tem um militante que responde ao seu dirigente partidário (...) Há uma cultura da militância por baixo, que faz com que essas pessoas militem nos órgãos públicos. E a escolha do militante vai até a morte. (...) Você tem grupos políticos nas redações que se dão ao direito de fazer censura. Não é por acaso que o PT tem uma massa de pessoas que considera toda a imprensa burguesa como criminosa e mentirosa”, explica.
O “risco Dilma”
Convictos da imposição pelo presente governo de uma visão de mundo hegemônica e de um único conjunto de valores, que estaria lentamente sedimentando-se no país pelas ações do Presidente Lula, os debatedores do Fórum Democracia e Liberdade de Expressão apresentaram aos cerca de 180 presentes e aos internautas que acompanharam o evento pela rede mundial de computadores os riscos de uma eventual eleição de Dilma Rousseff. A análise é simples: ao contrário de Lula, que possui uma “autonomia bonapartista” em relação ao PT, a sustentação de Dilma depende fundamentalmente do Partido dos Trabalhadores. E isso, por si só, já representa um perigo para a democracia e a liberdade de expressão no Brasil.
“O que está na cabeça de quem pode assumir em definitivo o poder no país é um patrimonialismo de Estado. Lula, com seu temperamento conciliador, teve o mérito real de manter os bolcheviques e jacobinos fora do poder. Mas conheço a cabeça de comunistas, fui do PC, e isso não muda, é feito pedra. O perigo é que a cabeça deste novo patrimonialismo de estado acha que a sociedade não merece confiança. Se sentem realmente superiores a nós, donos de uma linha justa, com direito de dominar e corrigir a sociedade segundo seus direitos ideológicos”, afirma o cineasta e comentarista da Rede Globo, Arnaldo Jabor. “Minha preocupação é que se o próximo governo for da Dilma, será uma infiltração infinitas de formigas neste país. Quem vai mandar no país é o Zé Dirceu e o Vaccarezza. A questão é como impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir no mundo”, alerta Jabor.
Para Denis Rosenfield, ao contrário de Lula, que ganhou as eleições fazendo um movimento para o centro do espectro político, Dilma e o PT radicalizaram o discurso por intermédio do debate de idéias em torno do Programa Nacional de Direitos Humanos 3, lançado pelo governo no final do ano passado. “Observamos no Brasil tendências cada vez maiores de cerceamento da liberdade de expressão. Além do CFJ e da Ancinav, tem a Conferência Nacional de Comunicação, o PNDH-3 e a Conferência de Cultura. Então o projeto é claro. Só não vê coerência quem não quer”, afirma. “Se muitas das intenções do PT não foram realizadas não foi por ausência de vontades, mas por ausência de condições, sobretudo porque a mídia é atuante”, admite.
Hora de reagir
E foi essa atuação consistente que o Instituto Millenium cobrou da imprensa brasileira. Sair da abstração literária e partir para o ataque.
“Se o Serra ganhasse, faríamos uma festa em termos das liberdades. Seria ruim para os fumantes, mas mudaria muito em relação à liberdade de expressão. Mas a perspectiva é que a Dilma vença”, alertou Demétrio Magnoli.
“Então o perigo maior que nos ronda é ficar abstratos enquanto os outros são objetivos e obstinados, furando nossa resistência. A classe, o grupo e as pessoas ligadas à imprensa têm que ter uma atitude ofensiva e não defensiva. Temos que combater os indícios, que estão todos aí. O mundo hoje é de muita liberdade de expressão, inclusive tecnológica, e isso provoca revolta nos velhos esquerdistas. Por isso tem que haver um trabalho a priori contra isso, uma atitude de precaução. Senão isso se esvai. Nossa atitude tem que ser agressiva”, disse Jabor, convocando os presentes para a guerra ideológica.
“Na hora em que a imprensa decidir e passar a defender os valores que são da democracia, da economia de mercado e do individualismo, e que não se vai dar trela para quem quer a solapar, começaremos a mudar uma certa cultura”, prevê Reinaldo Azevedo.
Um último conselho foi dado aos veículos de imprensa: assumam publicamente a candidatura que vão apoiar. Espera-se que ao menos esta recomendação seja seguida, para que a posição da grande mídia não seja conhecida apenas por aqueles que puderam pagar R$ 500,00 pela oficina de campanha eleitoral dada nesta segunda-feira.
Promovido por um instituto defensor de valores como a economia de mercado e o direito à propriedade, e que tem entre seus conselheiros nomes como João Roberto Marinho, Roberto Civita, Eurípedes Alcântara e Pedro Bial, o fórum contou com o apoio de entidades como a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), ANER (Associação Nacional de Editores de Revista), ANJ (Associação Nacional de Jornais) e Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade). E dedicou boa parte das suas discussões ao que os palestrantes consideram um risco para a democracia brasileira: a eleição de Dilma Rousseff.
A explicação foi inicialmente dada pelo sociólogo Demétrio Magnoli, que passou os últimos anos combatendo, nos noticiários e páginas dos grandes veículos, políticas de ação afirmativa como as cotas para negros nas universidades. Segundo ele, no início de sua história, o PT abrangia em sua composição uma diversidade maior de correntes, incluindo a presença de lideranças social-democratas. Hoje, para Magnoli, o partido é um aparato controlado por sindicalistas e castristas, que têm respondido a suas bases pela retomada e restauração de um programa político reminiscente dos antigos partidos comunistas.
“Ao longo das quatro candidaturas de Lula, o PT realizou uma mudança muito importante em relação à economia. Mas ao mesmo tempo em que o governo adota um programa econômico ortodoxo e princípios da economia de mercado, o PT dá marcha ré em todos os assuntos que se referem à democracia. Como contraponto à adesão à economia de mercado, retoma as antigas idéias de partido dirigente e de democracia burguesa, cruciais num ideário anti-democrático, e consolida um aparato partidário muito forte que reduz brutalmente a diversidade política no PT. E este movimento é reforçado hoje pelo cenário de emergência do chavismo e pela aliança entre Venezuela e Cuba”, acredita. “O PT se tornou o maior partido do Brasil como fruto da democracia, mas é ambivalente em relação a esta democracia. Ele celebra a Venezuela de Chávez, aplaude o regime castrista em seus documentos oficiais e congressos, e solta uma nota oficial em apoio ao fechamento da RCTV”, diz.
A RCTV é a emissora de TV venezuelana que não teve sua concessão em canal aberto renovada por descumprir as leis do país e articular o golpe de 2000 contra o presidente Hugo Chávez, cujo presidente foi convidado de honra do evento do Instituto Millenium. Hoje, a RCTV opera apenas no cabo e segue enfrentando o governo por se recusar a cumprir a legislação nacional. Por esta atitude, Marcel Granier é considerado pelos organizadores do Fórum um símbolo mundial da luta pela liberdade de expressão – um direito a que, acreditam, o PT também é contra.
“O PT é um partido contra a liberdade de expressão. Não há dúvidas em relação a isso. Mas no Brasil vivemos um debate democrático e o PT, por intermédio do cerceamento da liberdade de imprensa, propõe subverter a democracia pelos processos democráticos”, declarou o filósofo Denis Rosenfield. “A idéia de controle social da mídia é oficial nos programas do PT. O partido poderia ter se tornado social-democrata, mas decidiu que seu caminho seria de restauração stalinista. E não por acaso o centro desta restauração stalinista é o ataque verbal à liberdade de imprensa e expressão”, completou Magnoli.
O tal ataque
Para os pensadores da mídia de direita, o cerco à liberdade de expressão não é novidade no Brasil. E tal cerceamento não nasce da brutal concentração da propriedade dos meios de comunicação característica do Brasil, mas vem se manifestando há anos em iniciativas do governo Lula, em projetos com o da Ancinav, que pretendia criar uma agência de regulação do setor audiovisual, considerado “autoritário, burocratizante, concentracionista e estatizante” pelos palestrantes do Fórum, e do Conselho Federal de Jornalistas, que tinha como prerrogativa fiscalizar o exercício da profissão no país.
“Se o CFJ tivesse vingado, o governo deteria o controle absoluto de uma atividade cuja liberdade está garantida na Constituição Federal. O veneno antidemocrático era forte demais. Mas o governo não desiste. Tanto que em novembro, o Diretório Nacional do PT aprovou propostas para a Conferência Nacional de Comunicação defendendo mecanismos de controle público e sanções à imprensa”, avalia o articulista do Estadão e conhecido membro da Opus Dei, Carlos Alberto Di Franco.
“Tínhamos um partido que passou 20 anos fazendo guerra de valores, sabotando tentativas, atrapalhadas ou não, de estabilização, e que chegou em 2002 com chances de vencer as eleições. E todos os setores acreditaram que eles não queriam fazer o socialismo. Eles nos ofereceram estabilidade e por isso aceitamos tudo”, lamenta Reinaldo Azevedo, colunista da revista Veja, que faz questão de assumir que Fernando Henrique Cardoso está à sua esquerda e para quem o DEM não defende os verdadeiros valores de direita. “A guerra da democracia do lado de cá esta sendo perdida”, disse, num momento de desespero.
O deputado petista Antonio Palocci, convidado do evento, até tentou tranqüilizar os participantes, dizendo que não vê no horizonte nenhum risco à liberdade de expressão no Brasil e que o Presidente Lula respeita e defende a liberdade de imprensa. O ministro Hélio Costa, velho amigo e conhecido dos donos da mídia, também. “Durante os procedimentos que levaram à Conferência de Comunicação, o governo foi unânime ao dizer que em hipótese alguma aceitaria uma discussão sobre o controle social da mídia. Isso não será permitido discutir, do ponto de vista governamental, porque consideramos absolutamente intocável”, garantiu.
Mas não adiantou. Nesta análise criteriosa sobre o Partido dos Trabalhadores, houve quem teorizasse até sobre os malefícios da militância partidária. Roberto Romano, convidado para falar em uma mesa sobre Estado Democrático de Direito, foi categórico ao atacar a prática política e apresentar elementos para a teoria da conspiração que ali se construía, defendendo a necessidade de surgimento de um partido de direita no país para quebrar o monopólio progressivo da esquerda.
“O partido de militantes é um partido de corrosão de caráter. Você não tem mais, por exemplo, juiz ou jornalista; tem um militante que responde ao seu dirigente partidário (...) Há uma cultura da militância por baixo, que faz com que essas pessoas militem nos órgãos públicos. E a escolha do militante vai até a morte. (...) Você tem grupos políticos nas redações que se dão ao direito de fazer censura. Não é por acaso que o PT tem uma massa de pessoas que considera toda a imprensa burguesa como criminosa e mentirosa”, explica.
O “risco Dilma”
Convictos da imposição pelo presente governo de uma visão de mundo hegemônica e de um único conjunto de valores, que estaria lentamente sedimentando-se no país pelas ações do Presidente Lula, os debatedores do Fórum Democracia e Liberdade de Expressão apresentaram aos cerca de 180 presentes e aos internautas que acompanharam o evento pela rede mundial de computadores os riscos de uma eventual eleição de Dilma Rousseff. A análise é simples: ao contrário de Lula, que possui uma “autonomia bonapartista” em relação ao PT, a sustentação de Dilma depende fundamentalmente do Partido dos Trabalhadores. E isso, por si só, já representa um perigo para a democracia e a liberdade de expressão no Brasil.
“O que está na cabeça de quem pode assumir em definitivo o poder no país é um patrimonialismo de Estado. Lula, com seu temperamento conciliador, teve o mérito real de manter os bolcheviques e jacobinos fora do poder. Mas conheço a cabeça de comunistas, fui do PC, e isso não muda, é feito pedra. O perigo é que a cabeça deste novo patrimonialismo de estado acha que a sociedade não merece confiança. Se sentem realmente superiores a nós, donos de uma linha justa, com direito de dominar e corrigir a sociedade segundo seus direitos ideológicos”, afirma o cineasta e comentarista da Rede Globo, Arnaldo Jabor. “Minha preocupação é que se o próximo governo for da Dilma, será uma infiltração infinitas de formigas neste país. Quem vai mandar no país é o Zé Dirceu e o Vaccarezza. A questão é como impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir no mundo”, alerta Jabor.
Para Denis Rosenfield, ao contrário de Lula, que ganhou as eleições fazendo um movimento para o centro do espectro político, Dilma e o PT radicalizaram o discurso por intermédio do debate de idéias em torno do Programa Nacional de Direitos Humanos 3, lançado pelo governo no final do ano passado. “Observamos no Brasil tendências cada vez maiores de cerceamento da liberdade de expressão. Além do CFJ e da Ancinav, tem a Conferência Nacional de Comunicação, o PNDH-3 e a Conferência de Cultura. Então o projeto é claro. Só não vê coerência quem não quer”, afirma. “Se muitas das intenções do PT não foram realizadas não foi por ausência de vontades, mas por ausência de condições, sobretudo porque a mídia é atuante”, admite.
Hora de reagir
E foi essa atuação consistente que o Instituto Millenium cobrou da imprensa brasileira. Sair da abstração literária e partir para o ataque.
“Se o Serra ganhasse, faríamos uma festa em termos das liberdades. Seria ruim para os fumantes, mas mudaria muito em relação à liberdade de expressão. Mas a perspectiva é que a Dilma vença”, alertou Demétrio Magnoli.
“Então o perigo maior que nos ronda é ficar abstratos enquanto os outros são objetivos e obstinados, furando nossa resistência. A classe, o grupo e as pessoas ligadas à imprensa têm que ter uma atitude ofensiva e não defensiva. Temos que combater os indícios, que estão todos aí. O mundo hoje é de muita liberdade de expressão, inclusive tecnológica, e isso provoca revolta nos velhos esquerdistas. Por isso tem que haver um trabalho a priori contra isso, uma atitude de precaução. Senão isso se esvai. Nossa atitude tem que ser agressiva”, disse Jabor, convocando os presentes para a guerra ideológica.
“Na hora em que a imprensa decidir e passar a defender os valores que são da democracia, da economia de mercado e do individualismo, e que não se vai dar trela para quem quer a solapar, começaremos a mudar uma certa cultura”, prevê Reinaldo Azevedo.
Um último conselho foi dado aos veículos de imprensa: assumam publicamente a candidatura que vão apoiar. Espera-se que ao menos esta recomendação seja seguida, para que a posição da grande mídia não seja conhecida apenas por aqueles que puderam pagar R$ 500,00 pela oficina de campanha eleitoral dada nesta segunda-feira.
Fotos: Bia Barbosa
Guinada cenográfica
Léo Lince - Portal do PSOL |
Nos tempos do saudoso Carlito Maia, quando era "pequeno e insolente", o Partido dos Trabalhadores fazia congressos bem mais animados. Mais criativos e sintonizados com o dinamismo que lhe chegava dos conflitos sociais. Agora, "grandalhão e indolente", o partido aderiu ao figurino "prêt-à-porter" da ordem dominante. Marqueteiro americanizado, brilho de aluguel, confete arremessado na boca dos canhões de luz. Um espetáculo.
A matriz do debate e resoluções congressuais, antes ancorada nas
demandas da cidadania, emana agora da "estadania", aquele espaço onde o
continuísmo conservador elabora os seus múltiplos disfarces. Máquina
eleitoral acoitada na máquina do Estado, o PT não "tomou o poder", foi
tomado por ele. Embarcou no bonde da ordem dominante, sentou na
janelinha e opera como ferramenta a serviço dos novos barões
assinalados.
No entanto, é curioso notar que, apesar de já bem consolidado esse
"passamento", o petismo ainda conserva o dom de iludir alguns e de
assustar os setores mais desavisados da velha direita. Há, por um lado,
os que ainda se emocionam diante dos confetes: pedacinhos coloridos de
saudade dos bons tempos. Por outro lado, o jogo de cena - simulacro do
eterno e insuperável antagonismo entre a esquerda e a direita - cumpre
função importante na polarização cenográfica entre os que disputam a
gestão do mesmo modelo.
Afinal, estamos em ano de eleição geral e há uma disputa presidencial
na linha do horizonte. Em função de tal fato, foi facultado transformar
o primeiro dia do congresso em palco de perdidas ilusões. Foi um
Deus-nos-acuda. Os jornais abriram manchetes garrafais: "guinada à
esquerda". Defesa dos direitos humanos e de seu arquivado Plano
Nacional, taxação das grandes fortunas, redução da jornada de trabalho,
avanço na reforma agrária, controle democrático sobre o monopólio dos
meios de comunicação de massas, tudo isso foi aprovado no contexto de um
estranho silencioso consenso. Não houve, na tribuna do inexistente
debate, uma única ou escassa voz a questionar tais pontos. Uma beleza.
Antes de entoar alvíssaras, a cautela recomenda prestar atenção no
entorno histórico e conjuntural do evento. Ricardo Berzoine, o
presidente que saía, e José Eduardo Dutra, presidente entrante, portanto
figuras postadas no vértice partidário, cuidaram de explicar aos
patrocinadores, em tempo real, o sentido da "guinada". Os dois disseram
mais ou menos a mesma coisa: são apenas diretrizes, algo mais genérico
possível, serão submetidos à candidata, aos aliados, aos setores da
sociedade, sindicatos, empresários. Ou seja, não vale o escrito: é
vento.
No encontro petista que antecedeu a última eleição geral também foi
aprovada uma resolução, tão positiva quanto as atuais, que exigia a
anulação do vergonhoso leilão da Vale. O governo, afinado ao modelo
dominante, era contra e a maioria do partido, acoitada na maquina de
governo, não moveu uma palha. Como no caso da propaganda contra as
privatizações no segundo turno da mesma eleição presidencial, são
palavras ao vento, papel sem lastro.
Os dirigentes de turno da máquina petista podiam até se poupar. Não
carecia o vexame da explicação. Os magnatas supremos do grande capital
estão tranqüilos. Tratam direto com a chefia geral. Passeiam rindo suas
bocas vorazes pelos balcões do Banco Central, do BNDES, fundos de
pensão, onde se acertam sobre o mais espantoso processo de concentração
de poder da história brasileira. As incorporações, apropriações e
mega-fusões, tudo escorado nas arcas do tesouro, são a nova face da
privatização, o novo surto do velho choque de capitalismo.
Aliás, o presidente Lula cuidou de encomendar, nas vésperas do
congresso petista, entrevista exclusiva ao "Estadão". Entre os
destaques, dois recados. Aquele que define o congresso petista como "uma
feira de produtos ideológicos", compra quem quer. E, no estilo Laudo
Natel, respondeu que o único estado forte que ele admite é o "Estadão",
referindo-se ao jornal que é o símbolo mais vetusto do conservadorismo
brasileiro.
Quem predica uma agenda de mudanças que não praticou em sete anos de
governo faz por merecer a desconfiança geral. As resoluções aprovadas,
todas positivas, podem até freqüentar a retórica dos palanques de
campanha, mas carregam a insustentável leveza da mentira cenográfica.
Léo Lince é sociólogo e mestre em
ciência política
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