sexta-feira, 26 de março de 2010

A França rejeita Sarkozy...

França: A explosão do antisarkosismo


  Editado por Cristieni Castilhos


PARIS, França – Um enigma paira sobre o primeiro turno das eleições regionais de domingo [14 de março]. Se as previsões das pesquisas de opinião se confirmarem, a França amanhecerá na segunda-feira coberta pelo véu rosa dos socialistas, e pelo verde, dos ecologistas, e o que será dessa vasta e mal-humorada corrente que é o Antisarkosismo? A parcela da população que reprova a ação e o estilo do presidente francês e sua equipe é grande, mas carece de líderes que agrupem os descontentes.
O chefe de Estado cristaliza em torno de si um poderoso sentimento de insatisfação que se manifesta nos baixos níveis de popularidade com que ele governa. Nicolas Sarkozy tem apenas 37 por cento de opiniões favoráveis e as pesquisas prevêem para este domingo [12 de março] uma derrota significativa do partido que ele mesmo promoveu, a UMP [União por um Movimento Popular, sigla em francês]. Operários, Universitários, professores, estudantes, advogados, médicos, executivos, trabalhadores, funcionários e desempregados formam o corpo desse movimento sem liderança, mas que se expressa com solidez nas redes sociais e cujos argumentos podem ser ouvidos nas filas de supermercado ou nos balcões de bares.
Por paradoxal que pareça, o antisarkosismo não tem realmente quem o represente de forma coesa. Seus exércitos estão espalhados por todo o espectro político francês e em diversos movimentos que vão desde os grupos que defendem os imigrantes, passando pelos psicólogos e os médicos, os ecologistas, os militantes antiglobalização, os contrários a organismos geneticamente modificados, os desgostos com as multas de trânsito, os ativistas que denunciam a “geração precária”, os membros da “Quinta-feira Negra”- que clama por uma política alternativa para a habitação, até mesmo a última versão do Antisarkosismo, inspirada no caso italiano, o “No Sarkozy Day” [Dia do Não ao Sarkozy]. Esses movimentos de contestação política surgem em grade parte pela Internet. Os meios de comunicação franceses, sobretudo a imprensa, mantêm uma distância ainda mais abismal do que os políticos com relação aos problemas da sociedade.
Por outro lado, não existe hoje uma linha editorial de oposição. Há certas temáticas em que há oposição na imprensa, mas essas carecem de continuidade e, por conseguinte, de consistência. O jornal semanal Marianne, leva a cabo uma campanha sistemática contra Sarkozy, mas não representa toda a complexidade do antisarkosismo. O que faz o resto da imprensa parece uma brincadeira inconseqüente que deve fazer rir o presidente francês. Diante dessa ausência de base e de análise, o antisarkosismo se estendeu por um espectro hiperfragmentado, mas não por isso menos real.
O rancor social é profundo. Nicolas Sarkozy herdou também as desavenças das administrações passadas e coloca-se com certa responsabilidade global, como se essa sociedade desencontrada e que vem perdendo suas conquistas e benefícios tivesse inventado tal responsabilidade sozinha.
Há quem deseje fervorosamente que a seleção francesa de futebol faça um papel vergonhoso no Mundial africano, porque associam a política de Nicolas Sarkozy ao treinador da seleção, o impopular Raymond Domenech. Os bares são palco para um teatro de protestos múltiplos e revelam a polifonia do desencanto, assim como a solidão eleitoral da sociedade. Em meio a piadas e críticas, o povo admite que nenhuma figura de oposição política reflete um projeto alternativo ou inspira suficiente seriedade para voltarem suas expectativas para ele.
O antisarkosismo aparece hoje como o modelo de uma sociedade policiada e controlada, desumanizada e centralizada em diversos arquivos, em que o dinheiro é rei, quem tem amigos influentes é privilegiado, a indiferença e a vontade de controlar a tudo são princípios orientadores e que a cobertura política pelos meios de comunicação já é um recurso desgastado. Até agora, o grande desejo de se fazer uma convergência entre as diversas demandas setoriais não se fez realidade. As eleições deste mês talvez marquem uma mudança na maneira com a qual a oposição assume seu papel, na forma como governa o Executivo e no perfil que adquire o antisarkosismo.  A dimensão do movimento é mais uma sensação do que o reflexo de idéias políticas organizadas, especialmente porque os antisarkozy desconfiam dos partidos políticos como o diabo foge da cruz.
Os antisarkosistas sonham em sair das redes da Internet e levar às ruas os descontentos com o presidente. Uma viagem do virtual ao real. Seguindo o exemplo italiano, os criadores do “No Sarkozy Day” convocaram uma manifestação para o próximo 27 de março para dizer não à política do presidente. A iniciativa teve origem pelo Facebook sob o lema de “Um milhão de pessoas contra Nicolas Sarkozy” e agregou muitas vozes transversais que não se sentem representadas pelo sistema de partidos políticos e os meios de comunicação, mas simpatizam com o antisarkosismo.
Segundo Sebastian Ball, um dos fundadores do grupo, o movimento “Um milhão de pessoas contra Nicolas Sarkozy” conta hoje com 380 mil membros. Ball afirma que o “No Sarkozy Day” de 27 de março é apenas uma etapa, que não se trata apenas “de um encontro único entre todos os descontentes e irritados com Sarkozy”. O que buscam é unir-se e consolidar-se para mudar o estado das coisas.

Traduzido por: Cristieni Castilhos

Para acessar o texto original, clique aqui.
 
Imagem retirada daqui

Para reflexão.....



Três homens de esquerda
 
Por Fernando Evangelista - Caros Amigos
  
O governo Lula trouxe à baila uma discussão que alguns intelectuais, daqui e de fora, haviam decretado como ultrapassado: o que é ser de esquerda hoje? O presidente, mesmo sem querer, ressuscitou o debate ainda no início do seu segundo mandato, deixando muita gente confusa.  
 
O problema é que a dúvida durou pouco e ficou mais ou menos assim: exceto alguns inexpressivos grupos partidários, é de esquerda quem apóia o governo Lula, é de direita quem o critica. O curioso é que o próprio presidente disse, em mais de uma ocasião, que não é e nunca foi de esquerda. Porém, algumas coisas devem ser ignoradas porque senão tudo perde o sentido.
 
Vive-se um Fla-Flu político pouco polido e muito raivoso, e quanto mais próximas as eleições, maiores os decibéis da gritaria entre simpatizantes e críticos do governo. Por isso, de maneira simples e objetiva, destaco algumas posturas que, na minha visão, seriam os pressupostos formadores do homem ou da mulher de esquerda.
 
Escolhas
Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
 
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
 
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
 
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
 
Vida Real
Eu conheço três homens de esquerda. Nenhum deles participa de partidos políticos ou utiliza palanques para proclamar suas próprias virtudes. Não são super-heróis ou pessoas infalíveis, são pessoas de carne e osso, com qualidades e contradições. São homens de esquerda, sem nunca, talvez, terem pensado nisso. Os três são de Santa Catarina.
 
O primeiro e mais novo é Vilson Groh, 55 anos, padre que vive e trabalha há 30 anos no Mont Serrat, comunidade da periferia de Florianópolis. Entre dezenas trabalhos que coordena, está o Aroeira, onde cinco mil jovens, todos pobres, quase todos negros, recebem formação profissional, com bolsas, para entrar no mercado de trabalho. Foi através de outro projeto, o Pré-Vestibular da Cidadania, que 400 jovens daquela comunidade se formaram nas universidades públicas de Santa Catarina e outros tantos seguem o mesmo caminho.   
 
O segundo chama-se Aldo Brito, 77 anos, farmacêutico, que dedica a sua vida à luta pela inclusão dos portadores de necessidades especiais. Quando foi presidente da APAE, idealizou a Feira da Esperança, maior evento filantrópico de Santa Catarina. Há 11 anos, criou a COEPAD (www.coepad.hpg.ig.com.br), a primeira cooperativa no Brasil tocada por portadores de deficiência intelectual.  
 
O terceiro é Francisco Xavier Medeiros Vieira, 78 anos, que escolheu a magistratura porque entendia ser o caminho mais eficaz para lutar por justiça. Entre seus projetos, está a construção de 50 casas da cidadania, para agilizar e humanizar o Poder Judiciário. Foi ele quem implementou e coordenou a primeira eleição computadorizada na América Latina e foi ele, quando presidente do Tribunal de Justiça, quem nomeou o primeiro juiz agrário do Brasil, para evitar conflitos no campo. O homem de esquerda sabe que não é justo, por isso inaceitável, que menos de 1% dos proprietários rurais detenham 46% de todas as terras agricultáveis do país.  
 
Os três são movidos pela integridade de caráter, pela generosidade de espírito e por uma bondade risonha. E é com pessoas assim, como escreveu o poeta e revolucionário cubano José Martí, “que vão milhares de homens, vai um povo inteiro, vai a dignidade humana”. Então, para quem diz que a esquerda na essência não existe ou perde tempo com argumentos teóricos vazios de sentido, para quem ainda não entendeu o embuste da briga entre tucanos e petistas, aí está o exemplo destes três homens. Três homens de esquerda.
 
Fernando Evangelista é jornalista

quinta-feira, 25 de março de 2010

Tarik Ali sobre o Iêmen

 Infeliz Iêmen

Há excelente mapa aqui.

por Tariq Ali, em London Review Books

Parti para o Iêmen, já que Obama anda insistindo que “grandes fatias” do país ainda não estariam “sob completo controle do governo”, depois de o senador Joseph Lieberman ter alegremente anunciado que o Iêmen seria alvo adequado para mais guerra e mais ocupação.
O infeliz portador daquela cueca-bomba que tentou explodir o avião de Amsterdam no dia de Natal deflagrou nova onda de interesse pelo país e pela “al-Qaida in the Arabian Peninsula (AQAP)” – porque se disse que, embora o homem tenha sido convertido ao Islã linha-dura na Inglaterra, seu abraço felizmente fracassado com o terrorismo teria sido viabilizado pela AQAP em algum ponto do Iêmen.
O Iêmen é país sóbrio, diferente dos postos imperiais de gasolina espalhados por outras partes da península arábica, onde as elites dominantes vivem em arranha-céus construídos em prazos sempre recordes, projetados por arquitetos-celebridades, cercados por shopping-centers em que se vendem produtos com todas as griffes ocidentais, atendidos por escravos que chegam em ondas do Sul da Ásia e das Filipinas. Sana’a, capital do Iêmen, foi fundada em tempos em que o Velho Testamento ainda estava em produção, sendo escrito, editado e costurado. É verdade que o novo hotel Mövenpick, no coração do enclave diplomático que há na cidade, faz lembrar o pior de Dubai (estive lá quando todos eram obrigados a engolir um menu “Valentine’s Day Dinner Menu”), mas a elite iemenita é cuidadosa e não ostenta riqueza.
A velha cidade murada foi resgatada da extinção-por-modernização, pela Unesco (depois, também pelo Aga Khan Trust) nos anos 80s, e a antiga muralha foi reconstruída. A Grande Mesquita do século 9º está atualmente sendo restaurada por equipe de especialistas italianos associados a arqueólogos locais e têm encontrado objetos e imagens do passado pré-islâmico daquela região. Se vão ou não localizar uma pequena estrutura que se diz que teria sido construída ainda em vida do profeta Maomé, não se sabe.
A estrutura de Sana’a é deslumbrante, diferente de tudo o que se vê no mundo. As construções – arranha-céus de oito ou nove andares – foram erguidas no século 9º e restauradas 600 anos depois, conservando-se o estilo original: tijolos de argila decorados com padrões geométricos em gesso e pedra esculpida (não havia madeira em quantidade suficiente para construir). Faltam só os jardins suspensos em cada piso, que cativaram a imaginação dos viajantes medievais.[1]
Resultado líquido das preocupações ocidentais com a Al-Qaeda AQAP é que, esse ano, os EUA darão 63 milhões de dólares em ajuda ao Iêmen. Um quinto disso já está reservado para comprar armas, e o restante, praticamente todo, irá para o presidente e sua trupe, sem esquecer o que irá para os bolsos dos altos comandantes militares. O que sobrar será disputados pelos chefetes das várias regiões do país. (No total, não está incluído o que o Pentágono enviará para combater o terrorismo, e que ano passado chegou a 67 milhões.) Um empresário iemenita contou-me que ficara boquiaberto, há alguns anos, quando o primeiro-ministro, aparentemente homem moderado e respeitável, exigiu comissão de 30% em negócio que estavam planejando. Percebendo que o empresário ficara chocado, o primeiro-ministro tratou de tranquilizá-lo: 20% iriam diretamente para o presidente.
Não sei se a AQAP é ameaça séria, ou o quanto é séria, de fato. Quantos membros da organização estariam no país, quantos seriam meros visitantes vindos do outro lado da fronteira com a Arábia Saudita?
Abdul Karim al-Eryani, 75 anos, ex-primeiro-ministro e ainda conselheiro do presidente recebeu-me na grande biblioteca no subsolo de sua casa. É homem de fala interessante e falou longamente sobre a história do Iêmen, destacando as continuidades desde o período pré-islâmico até as culturas islâmicas na região. Lastimou que o dialeto árabe falado pelos beduínos de Nejd (que hoje é parte da Arábia Saudita) tenha sido a principal fonte para o moderno dicionário árabe, esquecendo-se assim a real fonte da língua, o dialeto dos Sabeans [talvez “sabinos”? Só o Arnaldo Carrilho saberá dizer!] que viveram onde hoje é o Iêmen, de cujo idioma os autores do dicionário excluíram 5.000 palavras.
Mais adiante, contou-me que, graças ao nigeriano da cueca-bomba, tinha sido visitado por Thomas Friedman, colunista do New York Times. Friedman fez as perguntas que quis, voltou aos EUA e contou aos leitores que “a cidade não é Cabul… ainda”; que a AQAP é um ‘vírus’ que merece urgente atenção antes que a doença se espalhe e torne-se incontrolável. Não cogitou, sequer, da causa da infecção.
Mas quando pedi que Eryani estimasse o tamanho da AQAP, ele riu. “Trezentos? Quatrocentos” – insisti. “No máximo”, disse ele. “No máximo, mesmo. Os americanos exageram enormemente. Temos nossos problemas reais e muito mais importantes.”
O mesmo ponto de vista foi reiterado por Saleh Ali Ba-Surah, ministro da Educação Superior, formado na Alemanha Oriental, como muitos nascidos na república que, até 1990, foi a República Popular Democrática do Iêmen, a porção sul do atual Estado.
As duas partes do que hoje constitui a República do Iêmen – controlada há 20 anos por Ali Abdullah Saleh, o qual, como Mubarak e Gaddafi, está criando o filho para sucedê-lo – representaram duas muito diferentes sociologias ao longo de grande parte do século passado. O norte, das terras altas – onde está a capital Sana’a –, foi dominado por tribos armadas; e no interior da região de Aden, dominavam os operários, intelectuais, sindicalistas, nacionalistas e, depois, os comunistas.
O país foi unificado séculos antes, sob a liderança dos imãs xiitas Zaidi, cujos poderes temporais dependiam da lealdade tribal e da aquiescência dos camponeses. O sul do Iêmen separou-se em 1728; o império britânico em expansão ocupou Aden e a área litorânea em 1839 (no mesmo ano em que começou a ocupar Hong Kong).
O já enfraquecido império otomano ainda abocanhou, pouco depois, uma fatia do norte do Iêmen, mas teve de cedê-la depois da I Guerra Mundial. Sob o império-do-bem dos britânicos, os imãs da família Hamid-ed-Din reassumiram o controle do norte. Em 1948, o governante, Yahya Muhammad, foi assassinado por um de seus guarda-costas, e o filho de Yahya, Ahmad, isolacionista obcecado, assumiu o poder.
Para Ahmad, a escolha foi fácil: seu país poderia ser dependente e rico, ou pobre e livre. Aos poucos, o descontentamento popular cresceu, à medida que Ahmad ia-se tornando cada vez mais excêntrico, mergulhado em morfina a maior parte do dia, ele e os amigos, num quarto iluminado com lâmpadas de neon, brincando com os brinquedos que colecionava desde criança. Não havia no país sequer uma escola moderna, uma estrada de ferro ou fábrica moderna, praticamente nenhum professor e nenhum médico.
Todos apostavam na volta de um irmão exilado do imã, que viria para expulsar Ahmad; ou, antes disso, em que os apoiadores de Nasser no exército do Iêmen perdessem a paciência. Ahmad combatera o nacionalismo árabe de Nasser em 1960, instigado pelos sauditas, fez divulgar pela rádio estatal uma denúncia contra Nassar, e havia quem esperasse por resposta do Cairo. A Rádio Cairo, sim, declarou guerra ao Iêmen. Mas antes que chegassem às vias de fato, Ahmad morreu.
Em menos de uma semana, o chefe da guarda pessoal de Ahmad, al-Sallal, reuniu oficiais nacionalistas e tomou o poder. O imanato chegara ao fim. Em Aden, milhares de pessoas manifestaram-se nas ruas a favor do novo regime. Nas mesmas manifestações deixaram bem claro também que resistiriam contra a ocupação colonial do sul do país pelos britânicos.
Com medo tanto dos radicais nacionalistas quanto de seus muito prováveis apoiadores comunistas, Washington e Londres decidiram que o melhor a fazer seria devolver o poder aos imãs. Os britânicos, doidos para dar uma lição a Nasser e vingar a humilhação de Suez, foram com muito mais sede que os EUA ao pote das armas. A principal preocupação dos norte-americanos era que a infecção iemenita se espalhasse pela península e que, se a intervenção saudita fracassasse, as correntes nacionalistas engolfassem também a Arábia Saudita – o que poria em risco a monarquia. Os sauditas passaram a alimentar os apoiadores dos imãs e as tribos mais conservadoras do norte – com uma mistura barata de islamismo primitivo e muito dinheiro.
Os líderes políticos e militares do novo Estado do norte eram fracos e atrapalhados. Os intelectuais nasseristas no governo aproveitaram-se da indecisão deles e, finalmente, conseguiram convencer o exército a recorrer diretamente a Nasser. Os egípcios, então, com apoio de soviéticos e chineses, mandaram para o Iêmen uma força expedicionária de 20 mil soldados.
Gerou-se assim uma prolongada guerra civil, disputada por simulacros dos personagens oficiais da Guerra Fria – sauditas versus egípcios, para ser bem claro –, que custou a vida de 200 mil iemenitas e deixou em ruínas todo o norte do país.
Os egípcios eram homens do vale do Nilo e o terreno montanhoso lhes era completamente desconhecido. Mas, certos de que seriam invencíveis, não ouviram advertências nem conselhos e trataram os aliados locais, simultaneamente, como inferiores e irrelevantes. A guerra civil enfrentava impasse completo, e crescia a oposição aos métodos dos egípcios, que incluíam o uso de armas químicas. Foi quando aconteceu o brutal massacre dos operários e sindicalistas que faziam oposição aos egípcios em Sana’a e Taiz.
Em 1970, a guerra acabou sem vencedores e um acordo insatisfatório para todos. Os egípcios trabalharam na direção de subornar as tribos para comprar o poder; como resultado, compraram o poder – que foi entregue associado a entidades divinas e muitos pregadores e clérigos. A guerra custara ao Egito um milhão de dólares por dia e a vida de 15 mil soldados, além de quase 50 mil feridos. A subsequente desmoralização do exército pode ter contribuído para a derrota que sofreu na Guerra dos Seis Dias. Seja como for, a ‘guerra relâmpago’ de Israel, em junho de 1967, foi o túmulo do nacionalismo árabe.
A guerra civil forçou muitos comunistas e nacionalistas de esquerda do Iêmen do Norte a fugir para Aden. Ali, soldados britânicos, veteranos franceses da Argélia e mercenários belgas foram recrutados para a empresa do coronel David Stirling, Watchguard International Ltd., para operar por trás das linhas inimigas. Também no sul os nacionalistas estavam divididos: o Egito apoiava a Frente para a Libertação do Iêmen do Sul [ing. Front for the Liberation of South Yemen (FLOSY)] e grupos mais radicais reunidos sob a bandeira da Frente Nacional de Libertação [ing. National Liberation Front (NF)]. Os dois lados lutavam para expulsar os britânicos, e os britânicos, determinados a continuar onde estavam, agarrados a uma base estrategicamente importante e recorrendo cada vez mais a prisões sem julgamento e à tortur a.
Em 1964 Harold Wilson declarou que os britânicos permaneceriam na região, mas que passariam o poder, em 1968, à chamada Federação Sul-arábica [ing. Federation of South Arabia], sob a qual Wilson esperava que a população de Aden fosse mantida sob o controle de sultões do interior.
O plano deu gravemente errado, depois de todas as vilas terem sido bombardeadas, até serem varridas do mapa, pela Força Aérea britânica [ing. Royal Air Force (RAF)]. Em palavras de Bernard Reilly, oficial britânico que viveu praticamente toda a vida em Aden: “Só se pode pacificar país não habituado a governo ordeiro, mediante atos de punição coletiva, assalto e pilhagem.” Os líderes daquelas tribos não desejavam ser pacificados. Começou luta feroz nas ruas do Crater, uma das áreas mais antigas de Aden.
Em 1967, a Frente Nacional de Libertação usava bazucas e morteiros em Aden e atacava diretamente as bases militares britânicas. O governo trabalhista decidiu pôr fim às perdas e ordenou a retirada. “Lamentavelmente” – lê-se em carta do Colonial Office aos seus colaboradores nativos – “não podemos continuar a protegê-los”.
A vitória dos israelenses em junho de 1967 não ajudou os britânicos, porque a Frente Nacional de Libertação não era peão que os Egípcios jogassem como bem entendessem e bem diferente, nisso, da Frente para a Libertação do Iêmen do Sul [ing. FLOSY] a qual, então, estava gravemente enfraquecida. Uma greve geral comandada pela Frente Nacional de Libertação paralisou Aden e ataques de guerrilheiros forçaram a administração colonial a cancelar as celebrações do aniversário da rainha. Seis meses mais tarde, dia 29/11/1967, quando o fechamento do canal de Suez acabou com qualquer importância que Aden tivesse para os britânicos, os britânicos afinal partiram, depois de 128 anos.
Ao mesmo tempo em que Humphrey Trevelyan, último comissário, acenava uma rápida despedida dos degraus do avião que o devolveria a Londres, a Banda da Real Marinha Britânica do HMS Eagle tocava ‘Fings Ain’t Wot They Used To Be’ [as coisas não serão mais como foram, escrito ‘com sotaque’].
A Frente Nacional de Libertação venceu, mas ainda faltava planejar a reconstrução do país. A Frente reunia membros de várias correntes da esquerda: pró-Moscou, maoístas, guerrilheiros à Che Guevara, alguns poucos trotskyistas e nacionalistas ortodoxos. Todos concordaram imediatamente com restabelecer relações diplomáticas com a URSS, o que foi feito dia 3/12/1967. Mas as disputas começaram imediatamente.
O Congresso da Frente Nacional de Libertação aprovou deliberação apresentada pelos radicais, em que se exigiam reformas no campo, o fim do analfabetismo, a formação de uma milícia popular, expurgo nos aparelhos civil e militar, apoio à resistência palestina e cooperação intensa e próxima com a China.
A esquerda dominava no corpo dirigente então eleito. Uma tentativa de putsch liderada pelo exército por pouco não levou à guerra civil; mas comandos guerrilheiros armados cercaram as bases militares e desarmaram os oficiais. Em maio de 1968 já se via que a ala direita da Frente Nacional de Libertação não tinha qualquer intenção de implementar as resoluções do Congresso.
Foi criado um Movimento 14 de Maio, para mobilizar os que apoiavam as reformas. Houve confrontos com os militares, seguidos por um estranho período de calmaria que fazia recordar os Dias de Julho de 1917 em Petrogrado. A direita supôs que havia vencido e declarou que “os organizadores do Movimento 14 de Maio, de tanto ler os escritos de Régis Debray, supuseram que estivessem fazendo “uma revolução dentro da revolução”. Um ano depois, todos entenderam que a esquerda vencera.
A constituição de 1970 declarou o país uma república socialista – a República Popular Democrática do Iêmen – contra os conselhos de China e da URSS. (Em outubro de 1968, o ministro das Relações Exteriores da China, Chen Yi, o qual, ele mesmo, estava então sitiado pelos Guardas Vermelhos, declarou a uma delegação do Iêmen do Sul que visitava a China que “a ideia de vocês, de construir o socialismo, alimentada com slogans irrealizáveis e promessas que não poderão cumprir, pela própria natureza da ideia, afia as espadas de seus adversários.”) O que aconteceu foi tragicamente previsível.
Um Estado economicamente muito atrasado partiu para criar estruturas que institucionalizaram a austeridade e universalizaram a miséria. Promover a industrialização mediante empresas estatais poderia ter ajudado, não fosse pela proibição total de qualquer tipo de produção doméstica, sequer para o consumo das próprias famílias. A isso somou-se o monopólio estatal de todas as modalidades de comunicação, controle estrito sobre tudo que se podia dizer ou publicar, e extinção de todos os partidos do país, exceto o Partido Socialista Iemenita [ing. Yemeni Socialist Party]. Zombaram, ao mesmo tempo, do socialismo e das promessas feitas durante a luta anticolonial. O que é inegável é que o novo sistema de educação e atendimento médico universal, e a aparição da mulher na cena pública marcaram extraordinário passo adiante para toda a região. O que não agradou à Arábia Saudita.
Como desenvolvimento esperável, as potências vizinhas – o Iêmen do Norte, os Estados do Golfo, a Arábia Saudita – puseram-se a trabalhar, estimulados pelo governo Reagan, numa contrarrevolução de dentro para fora, do tipo que estava então sendo tentada na Noruega com os Contras. Em Ali Nasser, apparatchik cru, semianalfabeto, obcecado pelo poder absoluto, que se tornou presidente da República Popular Democrática do Iêmen em 1980, aquele grupo encontrou o instrumento de que precisava.
Por mais de um ano o presidente trabalhou contra o carismático Abdul Fateh Ismail, que o precedera na presidência e liderara a luta contra os britânicos, até conseguir que renunciasse por “motivos de saúde” e partisse para longa estadia na Europa Oriental. Havia vários apoiadores de Ismail na liderança local, quando ele retornou de Moscou em 1985; foi rapidamente reeleito para o Politburo da República Popular Democrática do Iêmen, como líder da maioria.
Dia 13/1/1986, o carro de Ali Nasser foi visto na calçada do prédio do Comitê Central (réplica de outras horrendas estruturas que se viam na Europa Oriental), onde deveria acontecer uma reunião do Politburo. Mas Ali Nasser não compareceu à reunião. Em vez dele, apareceu seu guarda-costas, drogado e armado com uma metralhadora Scorpion; entrou na sala e assassinou à bala o vice-presidente Ali Ahmed Antar, para começar; em seguida matou todos quantos estavam na sala. Foram mortos quatro membros-chave do Politburo, inclusive Ismail, além de outro membros do Comitê Central. Em outros pontos da cidade, homens de Ali Nasser destruíram, a tiros de morteiros, a casa de Ismail; e houve pesado tiroteio em vários pontos. Às 12h30, rádios e televisões de Aden noticiaram que o presidente derrotara uma tentativa de golpe dos direitistas e que Ismail e seus colaboradores haviam sido executados. Três horas de pois, o serviço árabe da BBC anunciava que o “moderado e pragmático” presidente do Iêmen conseguira abortar uma tentativa de golpe pelos comunistas extremistas. E a mesma linha foi acompanhada por quase toda a mídia ocidental, que repetiu a versão da derrota de uma tentativa de golpe apoiada por Moscou para radicalizar ainda mais o Iêmen… e, isso, apesar de Gorbachev já estar no poder na URSS.
À medida que se espalhavam em Aden as notícias dos assassinatos, multidões começaram a reunir-se nas ruas, e soldados conseguiram desalojar os novos donos do prédio do ministério da Defesa e da sala de operações, de onde os homens de Ali Nasser foram expulsos. Os confrontos atravessaram a noite. Morreram muitos membros desarmados do Partido, sindicalistas, líderes camponeses, assassinados pelos soldados de Nasser – que tinham listas de nomes antecipadamente preparadas. Seja como for, depois de cinco dias de luta sangrenta, os “moderados e pragmáticos” foram derrotados. Ali Nasser fugiu para o Iêmen do Norte e de lá, depois, para Dubai. Atualmente, é diretor de um “centro cultural” em Damasco, onde dirige também suas várias empresas.
A matança na reunião do Comitê Central foi o começo do fim da República Popular Democrática do Iêmen. Os prepostos do Ocidente na região, que haviam organizado toda a ação, puseram-se a falar contra “os gângsteres socialistas que ocuparam o governo do país”. Enquanto a URSS começava a desmoronar, começaram negociações entre o Iêmen do Sul e do Norte, e o país foi rapidamente unificado em maio de 1990, comandado por um conselho presidencial de cinco membros que representava as duas ‘metades’. Em 1991, uma nova Constituição levantou todas as limitações à liberdade de expressão e da imprensa e à liberdade de reunião e associação.
Mas a unificação também não deu certo. Os iemenitas do sul sentiam que seus interesses haviam sido traídos, e os repetidos confrontos e discussões não auguravam bom futuro para o governo de coalizão criado depois das eleições. Os socialistas do sul acusavam as gangues apoiadas por Ali Saleh, ex-presidente do Iêmen do Norte, e então presidente do país unificado, de atacar sulistas em Sana’a e em outras cidades. As relações deterioram-se rapidamente e houve escaramuças no Sul entre remanescentes do exército da República Popular e soldados que haviam lutado pelo Norte. Chegou a irromper guerra generalizada em 1994, da qual participaram grupos jihadistas e Osama bin Laden – que apoiavam Ali Saleh. Os sulistas foram esmagados, não apenas militarmente, mas também cultural e economicamente. Houve expropriação, roubo de terra, de propriedades urban as, as mulheres voltaram a ter de cobrir-se dos pés à cabeça (“Se não nos cobríssemos, chamavam-nos de prostitutas. Houve muitos estupros. A brutalidade foi imensa. Nos obrigaram a fazer o que queriam” – contou-me uma mulher sem véu, em Aden).
Quando cheguei a Aden, percebi que a Al-Qaeda da Península Árabe (AQAP, em inglês) é o menor dos problemas do país.
A maioria dos sul-iemenitas anseiam desesperadamente por separar-se do Iêmen do Norte. “Aqui não se trata de unificação. Trata-se de ocupação” – ouvi inúmeras vezes.
A população está sem liderança política e há fortes rumores em Sana’a de que o assassino Ali Nasser estaria sendo preparado pelo atual presidente Ali Saleh para fazer uma reestreia política; Ali Saleh o vê como “o homem da unificação”. Enquanto isso, há manifestações nas vilas e cidades menores, nas quais se queimam a bandeira do Iêmen e fotos do presidente Ali Saleh, e vê-se subir o velho estandarte da República Popular Democrática. A repressão é sempre violenta e a amargura só faz crescer, essa sim, de todos.
Dia 1/3/2010, as forças de segurança cercaram e destruíram a casa de Ali Yafie o qual, na véspera, queimara em público uma fotografia do presidente Ali Saleh. Yafie e oito membros de sua família, inclusive a neta de sete anos, foram mortos. A propaganda governamental acusou-o de ser membro da Al-Qaeda da Península Árabe.
Na noite de 4/1/2010, as forças de segurança em Aden cercaram a casa de Hasham Bashraheel, editor-chefe do jornal Al-Ayyam – fundado em 1958 e jornal que sempre noticiou, com abundância de fotos, as atrocidades do Estado. Por exemplo, publicou fotos dos mortos depois que as forças de segurança abriram fogo contra ex-soldados que reclamavam pagamentos atrasados; o jornal foi fechado em maio de 2009, embora a sala da redação tenha continuado a servir como local de reunião de jornalistas, intelectuais e ativistas de direitos civis. Quando as forças de segurança cercaram o prédio, logo surgiram também defensores do jornal que se reuniram na área. Os policiais dispararam para o ar, para dispersá-los. Depois, atiraram granadas na direção do prédio, onde o jornalista e sua família, inclusive duas netas pequenas, ainda estavam. Todos sobreviveram, miracu losamente, porque conseguiram esconder-se no porão do prédio.
Na manhã seguinte, Bashraheel e seus dois filhos renderam-se publicamente, para, pelo menos, tentar dificultar algum tipo de atentado contra eles e a família. Um ativista local disse-me que “amigos que tenho na polícia” disseram-lhe que havia dois cadáveres não identificados no porta-malas de um automóvel sem placa, em frente ao jornal.
Se Bashraheel e sua família tivessem sido assassinados, os dois cadáveres teriam sido plantados no prédio e identificados como membros da Al-Qaeda da Península Arábica, que estariam recebendo abrigo no prédio do jornal e teriam sido mortos por resistir à prisão. Um guarda pago pela família para cuidar da segurança foi morto, ao tentar render-se. O seu pai foi preso no enterro, dia seguinte. O jornalista foi pessoalmente acusado de “formação de quadrilha armada”. Há boatos de que o embaixador britânico, Tim Torlot, teria escrito ao governo, sugerindo que a mídia independente seria o principal problema no Iêmen. Meu informante em Sana’a garante que viu a carta. Torlot é famoso no Iêmen por ter trocado a esposa por uma ofuscante norte-americana que trabalha para o jornal Yemen Observer, jornal cujo proprietário é o secretário de imprensa do p residente Ali Saleh.
Viajei pelo sul, de Aden a Mukallah. Mas quando vi Shibam, esqueci completamente a política, pelo menos por uns instantes. Essa cidade murada, feita de edificações com paredes de argila, muito altos, alguns com 30 metros de altura, é um museu vivo[2]. Não surpreende que tenha sido escolhida por Pasolini para cenário de boa parte de suas “Mil e Uma Noites”. Pasolini fez mais. De volta a Roma, tanto falou sobre a cidade que conseguiu que a Unesco a declarasse patrimônio universal da humanidade (“World Heritage”). Em 2009, ao fotografarem a cidade de cima de uma colina, quatro turistas sul-coreanos foram mortos por um suicida-bomba do Norte.
Perguntei por todos os lados sobre a Al-Qaeda da Península Árabe. Um habitante de Shiban aproximou-se e perguntou-me num sussurro: “Quer mesmo saber onde Al-Qaeda se esconde?” Fiz que sim, com a cabeça e ele respondeu: “Na sala ao lado do gabinete do presidente”.
O mesmo aconteceu, em versão quase idêntica, também em Sana’a e Aden. Na véspera do Natal, o governo bombardeou (com jatos e aviões-robôs coordenados pelos EUA) duas vilas do sul onde, diziam eles, estaria escondido Anwar al-Awlaki, o clérigo iemenita-norte-americano acusado de ser o mentor do nigeriano da cueca-bomba. Não o encontraram, mas mataram mais de uma dúzia de civis.
O governo de Ali Saleh também enfrentou rebelião na província de Sa’ada, no norte, que faz fronteira com a Arábia Saudita. A população das terras altas anda irritada com os grupamentos de Wahhabitas e, sem ajuda do governo de Sana’a, decidiu se autodefender. Milícias tribais capturaram alguns soldados sauditas.
Resultado disso foi que, dia 5/11/2009, o mundo viu pela primeira vez em ação a Força Aérea Saudita (dita a mais poderosa força aérea na Região, depois de EUA e Israel; mas os aviões enferrujam até desmanchar, em hangares no deserto). Ali Saleh, o presidente, descreve a revolta como uma rebelião de xiitas apoiados por Teerã, e que tem de ser contida à força. Já praticamente ninguém acredita nisso.
O exército iemenita promoveu em agosto passado a Operação “Terra Arrasada” [ing. Scorched Land], que destruiu vilas e desalojou de suas casas 150 mil pessoas. Dada a total ausência de notícias e de organizações humanitárias, não se conhece exatamente a extensão das atrocidades cometidas pelo governo de Ali Saleh.
Muhammad al-Maqaleh, líder do Partido Socialista Iemenita e editor do jornal do partido, o Socialist, obteve depoimentos de algumas testemunhas oculares e publicou-os na Internet em setembro passado. Descreveu um ataque aéreo que matou 87 refugiados em Sa’ada, e incluiu fotografias. Foi preso por quatro meses, torturado e ameaçado de execução, por quatro meses. Finalmente foi apresentado a uma corte de justiça, à qual revelou o que sofrera.
Sana’a ainda não é Cabul, sim. Mas se o regime de Ali Saleh continuar a usar a força contra a população na escala em que está acontecendo hoje, novas guerras civis são hoje muito prováveis.
[1] Ver Salma Samar Damluji (2007), The Architecture of Iêmen: From Yafi to Hadramut.
[2] Há boas imagens em http://whc.unesco.org/en/list/192/.

Subsidio europeu para a população carente...

O Bolsa-família na Europa

Juremir Machado - blog do correio do povo

Dizem que bolsa-família é coisa de país atrasado. Concordo. Todo país europeu desenvolvido e com algum senso de responsabilidade social tem bolsa-família. Sem esse nome, claro. A Alemanha tem. A França tem. Os países escandinavos tem. Até a Inglaterra tem. Os europeus são dinossauros. Na França, o bolsa-família atende pelo nome de “aides sociales” (ajudas sociais). A França é totalmente insensível aos novos tempos. O seguro-desemprego francês pode durar até 36 meses. Depois disso, se a vida continua dura, o sujeito pode ter acesso ao RMI (renda mínima de inserção): 447 euros para uma pessoa só, 671 euros para quem tiver um filho. Quase 2 milhões 500 mil franceses recebem o RMI (nome válido até este ano). A partir dos 59 anos de idade, a pessoa pode receber o RMI sem sequer ter a obrigação de procurar trabalho. Não dá!
As famílias francesas recebem ajuda financeira conforme o número de filhos. O Estado ajuda a alugar apartamento e até a tirar férias. O sistema de saúde é universal e gratuito, inclusive os medicamentos. Que atraso! Um estudante estrangeiro em situação regular na França pode receber ajuda do Estado para ter onde morar. É muita mamata. Lembrete: o governo francês atual é, como eles dizem, de direita. Mas o Estado francês é republicano. A concepção de Estado dos europeus é muito esquisita: uma instituição para ajudar a todos e proteger os interesses da coletividade, devendo estimular a livre-iniciativa e dar condições de vida digna aos mais desfavorecidos. Agricultores recebem subsídios. Empresas ganham incentivos. A universidade é gratuita para todos os aprovados no BAC, o Enem deles. Há vagas para todos. Obviamente não há necessidade de cotas. Que loucura!
Existem instituições privadas de ensino, cujos salários dos professores são, em geral, pagos pelo Estado, pois se trata de um serviço de utilidade pública. Aí os nossos liberais adoram dizer: “E por isso que a França está quebrada”. Tive a impressão de que a crise mundial mostrou os Estados Unidos mais quebrados do que a França. Os mesmos liberais contradizem-se e afirmam: “A França é rica e pode se dar esse luxo...” É rica ou está quebrada? Quase 30% do PIB francês é distribuído em ajudas sociais. O modelo francês enfurece os capitalistas tupiniquins, leitores de revistas como a Veja, cujas páginas pingam ideologia. Visto que dá mau exemplo de proteção social, o Estado francês é chamado de anacrônico, ultrapassado, assistencialista e outros termos do mesmo quilate usados na guerra midiática. Está certo. Moderno é ajudar a turma dos camarotes e mandar a plebe se virar. Acontece que a plebe do Primeiro Mundo não aceita esse tipo de modernidade tão avançada.
É plebe rude. Se precisa, quebra tudo, mas não cede. Os ruralistas de lá são mestres em incendiar prefeituras quando falam em cortar-lhes os subsídios estatais. Nas cidades, a turma adora queimar uns carros para fazer valer seus direitos. Na Europa, pelo jeito, não se melhora o Estado piorando a sociedade. A França tem muito a aprender com o Brasil. Somos arcaicamente modernos. Numa pesquisa recente, a França tem a melhor qualidade de vida da Europa. Nada, claro, que possa nos superar.

Porque o PiG não chama Uribe de ditador e facista??

Por Camilo Raigozo

As mais recentes chacinas têm-se apresentado no estado de Córdoba, onde fica a fazenda O Ubérrimo, de Álvaro Uribe Vélez. Nesse estado, segundo analistas e defensores dos Direitos Humanos, como Iván Cepeda e Jorge Rojas, teve sua origem o modelo paramilitar que depois foi expandido pelo país todo.

Ao respeito, Cepeda e Rojas, contam no seu livro “Às portas do Ubérrimo”, como no coração desse estado não só se criou um modelo paramilitar, mas também, como a perversa estratégia foi aceita pela sociedade cordobesa e as figuras públicas.

O modelo paramilitar cordobés, estendido ou copiado posteriormente em todo o país, era o mesmo que queria para Bogotá, Francisco Santos, segundo manifestaram os chefes paramilitares Mancuso e Jorge 40.

Pois nesse estado de múltiplas covas comuns, deslocamento forçoso, de choro e muita dor, em menos de 24 horas foram assassinadas ao menos 17 pessoas, entre elas um jornalista que se atreveu a denunciar a corrupção, o paramilitarismo e as alianças desses assassinos com a classe política e a força pública.

O passado 19 de março, em Monteria, capital do estado de Córdoba, foi assassinado o jornalista Clodomiro Castilla Ospin, quem denunciava constantemente a corrupção e o paramilitarismo nesse estado.

Em 21 de março anterior, em horas da noite, no vilarejo de São João, do município de Porto Libertador, do estado Córdoba, paramilitares massacraram sete camponeses inermes em um estabelecimento público.

As vítimas foram os irmãos Francisco Javier e María Inés Pertuz de 14 e 16 anos de idade respectivamente, Hamilton José Herrera Ortiz de 17 anos, Edilberto Torres Palacio de 23 anos, Wilber Pantoja Sotelo de 20 anos, Francisco Emiro Rodríguez e Antonio Soto Santamaría de 26
anos.

No vilarejo de João José, do mesmo município, os ‘paras’ assassinaram três pessoas e desapareceram mais uma. No vilarejo Santa Rosita, município de La Apartada, paramilitares massacraram um pai, seu filho e um amigos que viajava com eles. O mesmo sucedeu em Montelíbano, onde foram assassinadas outras duas pessoas.

A comunidade se pergunta: ¿Essa é a aplicação ou é o fracasso da tão anunciada “segurança democrática?
Hora de acordar
Adriano Benayon*   

http://www.anovademocracia.com.br/58/4a.jpgOuro e dólar

Faz tempo que advertimos: manter— se atado ao "sistema financeiro internacional" custará caro a todos os povos, e tanto mais caro quanto maior, em cada país, seu entrosamento com esse "sistema" e quanto mais tempo isso dure.

No artigo Derivatives Collapse and the China Gold and Silver Markets — publicado por Global Research, 10.09.2009 – Bob Chapman mostra que o império anglo— norte— americano amarrou dentro de estreita armadilha os países detentores de créditos em dólares, exercendo sobre eles pressão político— militar e/ou enganando e cooptando seus dirigentes políticos.

Entre outros, chineses, japoneses, alemães e árabes. A China, um dos poucos países com poder para retaliar e exigir compensações, foi induzida a não só acumular dólares em quantidade estarrecedora, mas também a fazer apostas erradas nos mercados financeiros, adquirindo títulos — com a obrigação de, no futuro, entregar ouro e prata — derivados de contratos detidos por bancos estrangeiros.

Dada a tendência, cada vez mais clara, à valorização dos metais preciosos, os logrados que ficaram com esses derivativos sofrerão enormes prejuízos, pois, para entregar esses metais, terão de comprá— los a preços mais elevados. Esses contratos, chamados forward, são, na maioria, negociados fora das Bolsas e exigem o cumprimento da obrigação ao final do prazo estabelecido.

Como outros, os chineses demoraram a perceber a dimensão da enrascada em que caíram ao comprar títulos denominados em dólares. Eles vêm, nos últimos meses, procurando vendê— los e comprar ouro e metais preciosos. Além disso, o governo da China está aconselhando seus cidadãos a fazer o mesmo. Ademais, proibiu as exportações de prata.

Ainda mais preocupante para os concentradores anglo— americanos, controladores das finanças mundiais: diante da escalada nos preços dos metais preciosos, o governo chinês fez saber que cogita renegar contratos forward, por força dos quais teria de entregar quantidades volumosas de ouro e prata.

Um dos objetivos dos anglo— americanos ao induzir os chineses e outros a adquirir esses derivativos foi obrigar os detentores de títulos dos EUA a não despejá— los no mercado, pois, se assim o fizerem, farão elevar o preço dos metais preciosos, sofrendo, em consequência, vultosos prejuízos.

Em setembro, o ouro voltou a ultrapassar US$ 1.000,00 por onça*, apesar das jogadas e pressões dos concentradores financeiros anglo— americanos, coadjuvados por seus satélites europeus, para manter baixo o preço. Nesse contexto, os bancos centrais têm— se desfeito, nos últimos anos, de suas reservas em ouro, o que beneficia adicionalmente os oligarcas, que o têm podido adquirir a preço baixo.

É interessante notar que esses oligarcas, sobre tudo os britânicos, são os maiores detentores do ouro existente no mundo, tanto em cofres de bancos, como em minas de todos os continentes.

Podem— se esperar, portanto, grandes embates no jogo de poder mundial no último trimestre do ano, quando deve ficar desmoralizada a farsa de que a "crise" está terminando.

Novas bolhas vão espocar, como as mencionadas em meus artigos recentes. Só nos EUA, até agora, o Estado gastou com elas US$ 23 trilhões. As emissões monetárias para cobrir os novos rombos certamente farão intensificar a descrença dos fundos soberanos chineses e de outros países em preservar o valor de suas vultosas carteiras de títulos norte— americanos.

Depressão, desemprego e guerra

Com a confirmação, em breve, de que o colapso financeiro mundial e a depressão se aprofundarão, o cenário de confrontação se tornará mais explícito, levando a conflitos armados e/ou a soluções de compromisso entre países dotados de poder real, ou seja, militar — inclusive nuclear — , industrial e tecnológico.

O desemprego, em proporções jamais vistas, acarretará lutas sociais às quais os governos títeres da oligarquia reagirão por meio de repressão e, em parte, de investimentos econômicos e sociais.

Estes, porém, são inviáveis se forem mantidas as atuais moedas e não se cancelar os títulos tóxicos e liquidar os bancos que os detêm. Isso porque a dimensão dos déficits públicos é incontrolável, mesmo sem grandes iniciativas sociais. Mais que isso, elevar, em favor destas, as emissões de moeda, que já são estratosféricas, desencadeará a hiperinflação. A saída clássica, para as poderosas dinastias, é a guerra de grandes proporções.

De qualquer forma, o povo norte— americano é participativo, e os protestos e manifestações já contam com dezenas de milhões de pessoas, embora os grupos estejam, em geral, desorientados e ideologicamente divididos.

O desemprego, altíssimo e crescente, também na Europa, aumentou em mais de 10 milhões nos EUA, nestes dois anos, incluindo os que decidem parar de buscar trabalho, e a cifra segue crescendo a ritmo mensal entre 600.000 e 1 milhão.

A taxa oficial, grandemente manipulada, de quase 10%, mais que dobrou desde 2007. O desemprego que inclui os trabalhadores a título precário e os de tempo reduzido, está perto de 21% da força de trabalho.

A Flórida tornou— se o 19º estado a recorrer a crédito para pagar benefícios sociais. Na Califórnia, onde estão sem emprego 40% das pessoas em idade de trabalhar, o governo, em estado falimentar, cortará, este mês, 140.000 beneficiários.

Brasil

Tenho repetido que os efeitos no Brasil já são graves e que não passa de paliativo a tentativa de elevar os gastos sociais e os investimentos, via BNDES, inclusive elevando, para isso, a dívida pública.

O jogo de poder mundial, sempre pesado, vai sê— lo ainda mais, e para o Brasil é preferível que se prolongue o conflito entre países com poder real a que eles se entendam.

Para países destituídos de poder, a chance de mudar de rumo depende da desordem no sistema imperial, infinitamente melhor que a ordem mundial pretendida pela oligarquia. São condições favoráveis à organização da sociedade brasileira para se dotar de instituições capazes de a levar a evoluir: 1) o impacto da depressão; 2) o choque causado pela transformação em caos do sistema financeiro internacional; 3) a confrontação entre as potências.

Urge, em suma, para o Brasil, encontrar o rumo da independência, saindo da subserviência em que afunda desde 1954, com o Estado financiando e subsidiando as transnacionais. Elas se tornaram a classe dominante no País, têm tido acesso gratuito às suas fabulosas riquezas naturais e feito esmagar as atividades industriais e tecnológicas dos brasileiros.

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* Adriano Benayon é Doutor em Economia. Autor de "Globalização versus Desenvolvimento", editora Escrituras. abenayon@brturbo.com.brEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email
1 Onça (oz) unidade de medida equivalente a a 31,1035g.

quarta-feira, 24 de março de 2010

O monopolio da midia Australiana....

Bem-vindos à primeira murdocracia mundial

por John Pilger
Rupert Murdoch. Adelaide é a cidade festiva da Austrália. O seu festival de arte está a dar que falar. Debates civilizados, estética e vinho de muitas octanas estão a ditar leis ao mundo. Com uma excepção. Adelaide é o sítio onde Rupert Mordoch iniciou o seu império. O trilho devorador começou aqui. Não existe nenhuma estátua; a dele é uma presença espectral, que controla o único jornal diário, e também as empresas gráficas. Em toda a Austrália, ele controla quase 70 por cento da imprensa da capital e o único jornal nacional, e a Sky Television, e muitas outras coisas. Bem-vindos à primeira murdocracia do mundo.

O que é uma murdocracia? É onde a fidelidade e o acréscimo de editores e gestores de Murdoch existem sem disfarce, uma inspiração ao seu coro em sete continentes, onde mesmo os seus competidores cantam em uníssono e os políticos sagazes prestam atenção ao murdoquismo: "Como é que vai ser? Um cabeçalho por dia ou um balde de merda por dia?"

Embora a veracidade desta famosa observação seja por vezes posta em causa, o espírito dela não é. Atacado por uma pneumonia, o antigo primeiro-ministro John Howard arrastou-se para fora da cama para prestar vassalagem ao homem a quem devia muitos baldes vazios. O seu sucessor, Kevin Rudd, foi a correr a uma audiência obrigatória com Murdoch em Nova Iorque antes da sua eleição. Isto é um padrão em todo o planeta. Antes de subir ao poder, Tony Blair voou até uma ilha ao largo de Queensland para subir à tribuna azul Newscorp e defender o tratcherismo e a desregulamentação dos meios de comunicação diante da cara papuda que acenava com a cabeça na fila da frente. No dia seguinte, o Sun elogiava Blair como alguém que "tem visão [e] fala a nossa linguagem sobre a moral e a vida familiar".

Murdoch sabe que pouco separa os principais partidos políticos da Austrália, da Grã-Bretanha e da América. Porta-se como um homem. Em 1972, apoiou Gough Whitlam da Austrália que se revelou um reformador radical, ameaçando mesmo denunciar as bases espiãs da América. Um Murdoch furioso agitou os seus jornais contra Whitlam com histórias tão escandalosamente deformadas que jornalistas rebeldes do The Australian queimaram o jornal no meio da rua. Isso nunca mais se repetiu.

Os temas dominantes na murdocracia australiana, para além do desporto e das coscuvilhices sobre celebridades, são a promoção da guerra e o nacionalismo exacerbado, a política externa americana, Israel e o paternalismo para com os aborígenes, o povo indígena mais empobrecido do mundo, segundo a ONU. Este antiquado combatente da guerra-fria não se deve inteiramente à imprensa de Murdoch, evidentemente, mas a agenda sim. Quando o tirano indonésio general Suharto esteve prestes a ser derrubado pelo seu próprio povo, o editor-chefe do The Australian, Paul Kelly, chefiou uma delegação de editores da maior parte dos principais jornais da Austrália a Jakarta. Com Kelly ao lado, o assassino de massas, que os pasquins de Murdoch promoveram a "moderado", aceitou o tributo de todos eles.

O lacaio de Murdoch mais descarado, senão mesmo ridículo, é Greg Sheridan, editor do estrangeiro do The Australian. Numa das suas peregrinações aos Estados Unidos, local da sede de Murdoch, Sheridan escreveu, "Os EUA são o melhor argumento possível para a desregulamentação dos meios de comunicação. Todas as manhãs, saltito entre a Fox, a CNN e a MSNBC enquanto como os cereais… porque é que demorou tanto tempo para a TV a pagar chegar à Austrália?" Estava a referir-se, instintivamente, à Foxtel, a companhia de TV paga, do seu patrão. Quanto ao terrorismo, Sheridan acusa o "chomskismo pilgerista" de "alimentar ideologicamente os seguidores de Osama bin Lenin, desculpem, Laden".

Uma das campanhas mais eficazes da murdocracia australiana foi a lavagem dum passado colonial sangrento, incluindo uma série de ataques ao distinto cronista do genocídio aborígene, professor Henry Reynolds, e ao director do Museu Nacional da Austrália, Dawn Casey, por terem ousado apresentar a verdade sobre o sofrimento indígena. O grande historiador independente da Austrália, o falecido Manning Clark, foi caluniado pelo Courier-Mail de Murdoch como um agente vermelho, depois como uma fraude, no mesmo estilo com que o London Sunday Times de Murdoch caluniou o membro do parlamento do partido Labour, Michael Foot, como sendo um agente soviético.

Uma coisa parecida espera todo aquele que questionar a manipulação da recordação do sacrifício de sangue da Austrália em prol do imperialismo, o antigo e o novo. Visando os jovens, um "novo patriotismo" sentimental atinge o clímax anual em 25 de Abril, aniversário do desastre da primeira guerra mundial em Gallipoli [1] , conhecido por Dia Anzac [2] . A mensagem é um militarismo aberto que promove as invasões do Afeganistão e do Iraque. Assim, o primeiro-ministro Rudd diz, de modo absurdo, que as forças armadas são a profissão mais elevada da Austrália.

Estas falsas bandeiras estão constantemente viradas para Israel, que assiste a uma corrente de jornalistas australianos apoiados e pagos por grupos sionistas. O resultado é a reportagem apologética de acções criminosas que evoca os grandes pacificadores como Geoffrey Dawson, editor do The Times nos anos 30. O debate sobre declarados crimes de guerra não chegou à Austrália. Que um antigo e um actual primeiro-ministros britânicos tenham sido convocados a depor perante o inquérito Chilcot em Londres, é encarado com estupefacção porque aqui nunca aconteceria uma coisa dessas. Mas John Howard, que também invadiu o Iraque, detém uma espécie de recorde por ter afirmado 30 vezes num só discurso que sabia que Saddam Hussein tinha um "verdadeiro programa maciço" de armas de destruição maciça.

A emissora nacional, a Australian Broadcasting Corporation, há muito que foi intimidada pela imprensa de Murdoch sob a forma obsessiva da campanha travada contra a BBC. Financiada directamente pelos governos, a ABC não tem a independência nominal e a protecção do sistema britânico através do recurso a uma taxa de TV para a difusão pública. No ano passado, o HarperCollins, propriedade de Murdoch, foi recompensado com uma lucrativa "parceria" com o ramo editorial da ABC, o ABC Books.

Em 1983, havia 50 importantes empresas que dominavam os meios de comunicação mundiais. Em 2002, estavam reduzidas a nove. Rupert Murdoch diz que acabará por haver apenas três, incluindo a sua própria. Se aceitarmos isto, os meios de informação e o controlo da informação serão a mesma coisa, e passaremos a ser todos cidadãos duma murdocracia.

N.T.
[1] Campanha Gallipoli – batalha na peninsula da Turquia em 1915-1916. Tentativa falhada de conquista de Istambul com pesadas baixas.
[2] ANZAC – Australian and New Zealand Army Corps


O original encontra-se em http://www.johnpilger.com/page.asp?partid=569 . Tradução de Margarida Ferreira.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

terça-feira, 23 de março de 2010

Belo texto de Marcelo Salles sobre João Ripper

JOÃO QUERIDO RIPPER


Ele chega em mangas de camisa, preta, e calça bege. Usa óculos e tem sempre uma expressão serena, que parece eterna. A primeira coisa que transmite é paz. Encontro o repórter fotográfico João Roberto Ripper em Brasília, na casa do diplomata Celso França, que preparou uma calorosa recepção. Na terça-feira, dia 23, Ripper inaugura a exposição “Mulheres entre luzes e sombras”, no Espaço Cultural Zumbi dos Palmares, na Câmara dos Deputados.
De acordo com o rilisi, a exposição mostra “o paralelismo entre as realidades de mulheres exploradas, violadas, ameaçadas e livres com a evolução histórica do seu papel na sociedade brasileira. Ao lançar o seu olhar sobre o assunto, Ripper contamina a todas e todos sobre essa questão tão antiga e tão importante na atualidade – a quem pertence os corpos das mulheres?”.
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Mulheres, camponeses, índios, favelados, carvoeiros, canavieiros, a gente mais explorada pelo sistema capitalista. São esses os que movem Ripper, que nos últimos seis anos alugou uma casa na favela da Maré, no Rio de Janeiro, onde coordena um curso de fotografia na Escola Popular de Comunicação Crítica.
O mergulho de Ripper na favela gerou frutos. Os alunos formados por ele – e outros professores extremamente competentes, como Dante Gastaldoni e Évlen Bispo – já são centenas. Mais que isso, estão sendo formados professores capazes de interpretar a realidade sem o filtro das corporações de mídia.
Nesse ponto Ripper comenta: essa mídia acusa o governo Lula de querer censurar a imprensa, mas na verdade ela é a grande censora. O exemplo que ele dá é o da favela. Na medida em que a favela só vira notícia quando há algum tipo de violência (geralmente tiroteios entre traficantes varejistas ou entre estes e policiais), a mensagem que fica é: na favela só há violência, bandidos. A favela passa a ser, consequentemente, o mal na terra.
Se considerarmos os níveis alarmantes da concentração midiática no Brasil (ex.: seis emissoras privadas de tv e uma pública recém-nascida para 190 milhões de habitantes); e se considerarmos que essas emissoras privadas, que detêm mais de 90% da audiência, defendem o mesmo projeto político-econômico, ou seja, as ditaduras civil-militares, estrutura neoliberal que prega o Estado fraco, a exploração dos povos e o enriquecimento dos monopólios privados; então a consideração de Ripper fica muito nítida.
Hoje a censura não está no Estado, mas nas Redações, em grande parte financiadas pelo poder econômico. É o que confirma pesquisa divulgada pelas Nações Unidas, em 2002, com chefes e ex-chefes latino-americanos. A pergunta foi: “Quem exerce o poder na América Latina?”. A resposta: 1) Os grupos econômicos, empresários, o setor financeiro; 2) Os meios de comunicação; 3) Os poderes constitucionais – Executivo, Legislativo e Judiciário; 4) As Forças Armadas, a polícia; 5) Partidos políticos, os políticos, operadores políticos, líderes políticos; 6) EUA, a embaixada norte-americana, organismos multilaterais de crédito, o fator internacional, o fator externo, empresas transnacionais.
Essa é a grande batalha política do nosso tempo. “O jornalismo está implicado numa dinâmica, a disciplinariedade, que é, desde o século XVIII, a principal estratégia de poder”, anota a professora da USP Mayra Rodrigues Gomes, no livro “Poder no jornalismo”. A mídia, hoje, é a instituição com maior capacidade de produção e reprodução de subjetividades. Ou seja: é a mídia quem, em grande parte, determina formas de pensar, sentir e agir dos indivíduos e da sociedade como um todo. Claro que há outras instituições fortíssimas (Família, Igreja, Governos, Escola…), mas a mídia ganha papel de destaque nos dias de hoje basicamente por três razões:
1) o desenvolvimento das tecnologias, que permitem um maior alcance das mídias (outdoor, televisão, rádio, revista, publicidade em ônibus, em prédio, internet, sites, vídeos, cinema, jornal, orkut, twitter etc.), de modo que para o cidadão é praticamente impossível evitar as mensagens da mídia 2) A extrema concentração, conforme mencionado acima; e 3) O analfabetismo e analfabetismo funcional da população. Segundo o Instituto Paulo Montenegro, em pesquisa divulgada em 2005, apenas 26% da população entende o que lê. Para além da limitação causada pelo analfabetismo ao indivíduo, esse dado joga peso para rádios e tevês, que são concessões públicas, mas que se encontram sob o controle de corporações privadas, cujos interesses divergem dos interesses da nação e de seu povo.
Quem continua ignorando o papel das corporações de mídia, que não é meramente informativo, como dizem, e sim o de grande sustentáculo do sistema opressivo, ou é desqualificado ou está mal intencionado.
Por tudo isso, o trabalho de Ripper é um convite à resistência. Ao mesmo tempo em que dá visibilidade aos que historicamente são marginalizados pelo sistema, e assim fortalece indivíduos e movimentos sociais que lutam, o repórter fotográfico é, ele mesmo, um exemplo de que é possível trabalhar com dignidade sem se submeter aos tiranos. E assim a gente segue, fazendo mídia, enquanto os medíocres vão fazendo média por aí.

Gripe suína e a vacina

Gripe suína, vacinar ou não?

por Conceição Lemes - blog viomundo

Para a Fundação Oswaldo Cruz, (Fiocruz), a Escola Nacional de Saúde Pública, o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Associação Médica Brasileira (AMB), a Sociedade Brasileira de Infectologia, a Sociedade Brasileira de Pediatria, a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, entre dezenas de instituições médicas e de saúde coletiva de peso no país, a resposta é sim.
A saúde pública do Brasil tem um grande desafio nos próximos três meses: vacinar pelo menos 80% das 91 milhões de pessoas que devem ser imunizadas contra a influenza A (H1N1), ou gripe A, mais conhecida como gripe suína. A vacinação acontecerá simultaneamente em todo o território nacional.
“Prioritariamente o objetivo é proteger os profissionais de saúde e alguns grupos que têm maior risco de desenvolver a forma grave da doença ou evoluir para o óbito durante a segunda onda da pandemia da gripe A”, explica o médico epidemiologista Eduardo Hage Carmo, diretor de vigilância epidemiológica da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. “A segunda onda acontecerá no inverno.”
Os grupos com maior risco de desenvolver a forma grave de gripe suína são:
* Gestantes
* Indígenas que vivem em aldeias
* Portadores de doenças crônicas, independentemente da idade
* Crianças de 6 meses a 2 anos de idade
* Pessoas de 20 a 39 anos
Se você está em uma dessas situações ou é profissional da área de saúde, o Ministério da Saúde recomenda que se vacine. A vacinação será feita em cinco etapas, de  acordo com os grupos, como mostra o calendário abaixo.
calendario4_influenza_2010.jpg
MINISTÉRIO DA SAÚDE ESCLARECE AS DÚVIDAS FREQUENTES
Preocupado em informar ao máximo a população, o MS selecionou as dúvidas mais freqüentes nos serviços públicos de saúde e no seu Disque Saúde (0800 611997).  A equipe técnica do próprio ministério é quem as respondeu.
O que é influenza A, ou gripe suína?
É uma doença respiratória contagiosa causada pelo vírus A (H1N1). Assim como a gripe comum, a influenza A é transmitida de pessoa a pessoa, principalmente por meio de tosse, espirro e contato direto com secreções respiratórias de pessoas infectadas. Os sintomas podem aparecer 7 a 14 dias após a pessoa infectar-se pelo novo vírus.
Qual a diferença entre a gripe comum e a suína?
Elas são causadas por diferentes subtipos do vírus influenza. Os sintomas são muito parecidos e se confundem: febre repentina, tosse, dor de cabeça, dores musculares, dores nas articulações e coriza. Por isso, ao apresentar esses sintomas, procure o seu médico ou um posto de saúde.
O vírus da gripe é mais violento do que o da gripe comum? Qual mata mais?
Inicialmente, acreditava-se que o vírus A (H1N1) fosse mais patogênico do que o da gripe sazonal, comum.  Porém, até o momento, ele não demonstrou ser mais violento ou mais mortal na população geral. A maioria das pessoas desenvolve a forma leve da doença e se recupera sem uso de medicamentos. Assim como na gripe comum, portadores de doenças crônicas, gestantes e crianças com menos de 2 anos são  os mais vulneráveis. A principal diferença é que o vírus da gripe A tem potencial maior de causar doença grave em pessoas saudáveis de 20 a 39 anos. Em compensação, tem afetado menos as com mais de 60 anos.
Por que não vacinar toda a população?
A vacinação em massa não tem sentido por um motivo bem simples: a contenção de segunda onda da pandemia de gripe A não é mais possível em todo o mundo.
Que critérios o Ministério da Saúde utilizou para selecionar os grupos prioritários para a vacinação? Esses grupos são os mais afetados ou os que têm maior risco?
Comecemos pelos trabalhadores da saúde. Eles precisam estar protegidos, pois são os que garantirão o funcionamento ininterrupto dos serviços de pronto-atendimento, vigilância em saúde, laboratório. Deles dependem todos os serviços de combate à pandemia de gripe A – da vacinação ao diagnóstico e tratamento. Não se pode correr o risco de colapso dessas atividades essenciais.
Os indígenas aldeados por dois motivos: são mais vulneráveis a infecções e têm maior dificuldade de acesso às unidades hospitalares, caso necessitem.
Os demais grupos prioritários são aqueles que, na primeira onda da pandemia, tiveram mais frequentemente a síndrome respiratória aguda grave (SRAG), que é a forma grave da influenza A. Por exemplo, entre as mulheres em idade fértil que apresentaram SRAG em 2009 devido à gripe A, 22% eram gestantes. Os jovens de 20 a 29 anos foram o grupo etário mais afetado: representam 24% do total de casos de SRAG por influenza A em 2009. Entre os adultos de 30 e 39 anos, ocorreu a maior taxa de mortalidade: 22% do total de óbitos.
Todos os trabalhadores da área de saúde precisam se vacinar?
Não. Apenas aqueles estão na rede de serviços, atendendo diretamente a população. Ou seja, aqueles que, em razão das suas funções, têm risco potencial de contrair a infecção pelo H1N1 no contato com possíveis suspeitos da doença. Portanto, devem se vacinar os trabalhadores da atenção básica (postos de saúde e  programa de saúde da família),  dos serviços de média e alta complexidade (pequeno, médio e grande porte) e aqueles que atuam na vigilância epidemiológica, especialmente na investigação de casos e em laboratório.
É importante que todos os trabalhadores da área de saúde informem-se nos seus serviços e na Secretaria Municipal ou na Secretaria Estadual de Saúde para conhecer os detalhes da vacinação, já que a imunização não será feita em 100%.
E a população indígena que vive em aldeias será 100% vacinada?
A partir dos 6 meses de idade, sim, devido à maior vulnerabilidade a infecções.
Por que vacinar portadores de doenças crônicas?
Devido às doenças crônicas eles já são naturalmente mais vulneráveis a infecções. E a maior vulnerabilidade aumenta a probabilidade de quadros de maior gravidade e óbito. Na pandemia de 2009, observou-se um alto percentual de pessoas com doenças crônicas entre os casos de SRAG.
Quem pode ser considerado portador de doença crônica?
A lista é grande. Estão nesse grupo, por exemplo:
* Pessoas com obesidade grau III, antigamente chamada obesidade mórbida, independentemente da idade.
* Pessoas com doenças renais, pulmonares, cardiovasculares, hepáticas e hematológicas crônicas
* Imunodeprimidos devido ao uso de certos medicamentos (por exemplo, contra rejeição de transplantes, cortiscosteróides e antineoplásicos) e de algumas doenças (como câncer e aids).
* Diabéticos.
E os idosos por que não estão entre os grupos prioritários?
Porque a influenza A afeta menos as pessoas com mais de 60 anos. Porém, se o idoso tiver alguma doença crônica, deverá ser vacinado contra a gripe suína. A vacina será feita durante a campanha anual de vacinação do idoso contra a gripe comum, de 24 de abril a 7 de maio. Portanto, o idoso com doenças crônicas tomará duas vacinas: contra a influenza A e contra a gripe comum.
O fato de as pessoas terem doenças crônicas não aumenta o risco de efeitos colaterais da vacina?
Não. A possibilidade de ocorrer um evento adverso após a administração da vacina em pessoas com doença crônica é a mesma de qualquer outra pessoa.
Por que as crianças com menos de 6 meses não estão incluídas nos grupos prioritários? Há alguma contraindicação?
É que não está comprovado que nessa faixa etária a vacina garante proteção.
Por que vacinar as grávidas contra a gripe suína se normalmente não são vacinadas contra a gripe comum?
Não há nenhuma contraindicação à vacinação de gestantes contra a gripe comum. Acontece que as campanhas anuais priorizam a população de maior risco – a população de 60 anos ou mais. Já em relação à influenza A as gestantes são consideradas como grupo de risco. Relembramos que, em 2009, entre as mulheres em idade fértil que apresentaram a forma grave da gripe A, 22% eram gestantes.
A vacina não oferece risco à grávida? E ao feto? Há risco de aborto?
Não há risco em vacinar grávidas. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e os  laboratórios produtores, a vacina contra o vírus influenza A H1N1 é segura para a gestante. Também não há evidências de que possa causar aborto ou afetar o feto.
A grávida pode se vacinar em qualquer fase da gestação?
Sim, pois será utilizada para as gestantes a vacina que não contém o adjuvante.  Com base na experiência de outros países que estão vacinando desde novembro de 2009, a OMS e Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) orienta o uso da vacina com ou sem adjuvante. Porém, por cautela, a orientação do Ministério é utilizar em grávidas somente a vacina sem adjuvante.
Suponhamos que a mulher só se descubra grávida depois de 21 de maio. Ela poderá se vacinar, mesmo após o término da campanha de vacinação contra a gripe A?
As mulheres que se descobrirem grávidas ou engravidarem depois de 21 de maio poderão se vacinar depois, sim.
A vacina que será utilizada no Brasil é segura?
Sim. Ela já está em uso em outros países. Até o momento não foi observado neles a relação entre o uso da vacina e a ocorrência de efeitos adversos graves.A segurança da vacinação, porém, não depende apenas do imunizante. Está relacionada também à: 1) utilização de seringas e agulhas apropriadas; 2) adoção de procedimentos seguros no manuseio, no preparo e na administração da vacina, conforme normas técnicas estabelecidas; 3) conservação da vacina na temperatura adequada, conforme preconizado; qualidade da capacitação do pessoal envolvido, bem como da supervisão ao trabalho de vacinação. É fundamental, no entanto, o monitoramento de eventos adversos associados temporalmente à vacinação, para investigá-los.
Qual a eficácia da vacina a ser utilizada no Brasil?
Em média, acima de 95%. Proteção máxima é alcançada entre 14º e 21º dia após a vacinação.
A vacina que será utilizada no Brasil é inalável ou injetável?
Injetável, administrada por via intramuscular.

Qual a incidência de efeitos colaterais da vacina?
A grande maioria apresenta os mesmos da vacina contra a gripe em idosos, são reações leves: dor local, febre baixa, dores musculares, que se resolvem em torno de 48 horas.

Tudo bem tomar a vacina em clínica particular?
A vacina vai estar disponível em toda a rede pública de saúde do Brasil. Mas se você preferir vacinar-se em clínica particular, não há nenhum problema. O Ministério da Saúde não impôs nenhum obstáculo para o setor privado adquirir vacina contra a gripe A. O que pode ocorrer é não haver o produto disponível; isso dependerá da capacidade de fornecimento dos laboratórios produtores.

Se eu me vacinar contra a gripe comum estarei protegida contra a gripe A?
Não. Portanto, se faz parte dos grupos prioritários deverá se vacinar também contra a gripe A.
Supondo que eu faça parte dos grupos prioritários e não queira me vacinar, e aí?A vacina é obrigatória?
De modo algum, a vacina contra a gripe A é compulsória.  Nós, enquanto Ministério da Saúde, apenas recomendamos o que do ponto de vista de saúde pública julgamos necessário. A decisão é individual. Questão de livre arbítrio. Mas antes de decidir, reflita bem. Nós esperamos que você espontânea e conscientemente se imunize, caso faça dos grupos prioritários.

O vírus da gripe suína, como já dissemos, é transmitido da mesma forma que o da gripe sazonal: por gotículas que são expelidas quando a pessoa infectada fala, espirra ou tosse. E as medidas de prevenção são as mesmas para o controle e prevenção da gripe sazonal e de outras doenças respiratórias.Por isso, as medidas de prevenção são muito importantes, principalmente as individuais, pois evitam que uma pessoa doente transmita o vírus para outra. Questão de respeito com a saúde do outro:
* Cubra a boca e o nariz com lenço descartável ao tossir e espirrar; é para evitar que gotículas atinjam os que estão próximos.
* Lave frequentemente as mãos com água e sabonete. Faça isso, pelo menos: depois de tossir ou espirrar. Após usar o banheiro; antes de comer; e antes de tocar os olhos, boca e nariz
* Evite compartilhar pratos, talheres e alimentos.
* Evite colocar as mãos nos olhos, nariz ou boca após pegar mexer com dinheiro, pegar produtos no supermercado ou ter contato com superfícies que não estejam devidamente higienizadas.
* Procure ter hábitos saudáveis, como alimentação adequada, ingestão de líquidos e atividade física.
Afinal de contas, quanto mais prevenção mais proteção.