Ótima reflexão sobre nossa latinidade americana. Por Fausto Brignol, no seu blog
(foto capturada na Internet).
O Uruguai já
ganhou a sua Copa do Mundo. Tudo o que fizer, doravante, será lucro e
se perder a semifinal sairá aplaudido, ao contrário do time dos amigos
do Dunga que, por sorte, perdeu apenas por 2 a 1 para a Holanda.
Agora, a mídia futeboleira quer achar um vilão
para a previsível derrota e já estão culpando o Felipe Melo. É sempre
assim: criou-se o mito de que o Brasil é imbatível no futebol e, quando
perde, tem que haver um único culpado. Os midiáticos futebolísticos
sobrevivem em sua profissão através desses mitos. Sabem que o povo
brasileiro é facilmente influenciável, e, como aqui continua sendo o
“país do futuro”, eles querem que o Brasil seja o eterno país do
presente apenas no futebol. Fabricaram esse mito e o povo acreditou.
Pobre povo brasileiro! Favelizado,
marginalizado, aculturado, acreditando sempre que poderá acertar na
próxima mega-sena, enganado pelos políticos que o manipulam, pagando
impostos até pelo ar que respira, pensando que o voto quadrienal é
sempre salvador, submisso às mensagens midiáticas, assistindo com fervor
religioso cada capítulo da sua novelinha das oito, torcendo pelo
fulaninho ou pela fulaninha do BBB, aceitando as esmolas do Sílvio
Santos e do Jô Soares, fazendo milagres para que o dinheiro do dia 1º de
cada mês dure até o dia 10 – escravizado mental e materialmente pela
burguesia que lucra com o seu trabalho e que depois vai passear na Copa
do Mundo da África do Sul, enquanto os escravos ficam aqui, acreditando
no mito do futebol, torcendo pelos milionários jogadores que formam uma
seleção medíocre, que acaba perdendo para outra seleção um pouquinho
menos medíocre.
Alguns dirão: “o povo merece ser enganado,
porque é submisso demais.” Nenhum povo merece ser enganado por nenhum
motivo. Menos ainda pela sua ingenuidade, o que é o mesmo que enganar
crianças. É certo que submissão e ingenuidade podem se transformar em
indignidade e subserviência. Mas ainda mais indignos e subservientes são
aqueles que manipulam o povo - usando de todas as malícias para
torná-lo em massa moldável aos seus interesses -, porque são os servos
do capital, promotores da invasão da cultura estrangeira e que excluíram
do seu vocabulário a palavra “nacionalismo”, negando o seu sentido.
O Uruguai recentemente se reergueu, depois de
décadas de luta contra os inimigos internos e externos. É um país que
tem um povo corajoso e – o que é mais importante – consciente de sua
realidade. Ali não se criam mais mitos, recria-se uma nação. Uma nação
com verdadeira alma gaúcha, alma castellana. Vale dizer: dignidade e
força. Aquele povo muito irmão conserva sempre a cabeça erguida e não
vive de ilusões, mas sabe dos seus limites e luta para ultrapassá-los.
Ainda resta muito para que isso aconteça, para que a luta diária
torne-se revolucionária e provoque uma verdadeira transformação social
que irá beneficiar a todos. Mas, a cada passo, cada passo...
A partida épica contra Gana revelou, mais uma
vez, essa alma gaúcha. Não somente pela vitória. Se a seleção uruguaia
tivesse perdido aquela partida, não deixaria de ser uma seleção
vencedora, porque é composta por lutadores. Igualmente seria aplaudida.
A força e a consciência de uma nação
refletem-se nas atitudes dos seus integrantes. E o Uruguai, assim como
outros países da nossa América Latina, tem revelado essa força interna.
É um exemplo que nós, brasileiros, devemos
seguir. Está-se tornando urgente reconstruir a alma brasileira. Mas não
através do futebol ou de quaisquer outros mitos. Devemos tratar o
esporte como esporte, não como uma guerra de vida ou morte. O Brasil
precisa de brasilidade. Nós, brasileiros, precisamos recuperar a nossa
identidade que está cada vez mais diluída ante o assédio pernicioso da
cultura anglófila. Não só a nossa identidade cultural e social, mas
também a nossa identidade como povo latino-americano. Já está durando
demais esse vírus maléfico da subcultura estadunidense que faz dos
brasileiros bonecos de mola. Precisamos resgatar nossa alma.