domingo, 12 de dezembro de 2010

Governo faz acordo com ruralistas e Código Florestal vai a votação na próxima terça

Na sessão extraordinária desta quarta-feira, dia 8, o líder do Governo, Cândido Vaccarezza (PT/SP), anunciou publicamente o que muitos já sabiam, mas ninguém confirmava: foi feito um acordo com líderes da bancada ruralista para votar na próxima terça, dia 14, o regime de urgência para a mudança no Código Florestal. Segundo Vaccarezza, o acordo seria para votar "apenas" o regime de urgência, e o mérito ficaria para o ano que vem.

A reportagem é do Instituto Socioambiental –
 
Não é "apenas" um regime de urgência. Se a proposta for aprovada, o projeto volta a plenário já no começo da próxima legislatura, para ser votado na frente da fila. Considerando que ele foi um projeto elaborado e aprovado por uma comissão amplamente dominada por parlamentares que historicamente defendem a mudança (anulação) no Código Florestal, na qual houve pouca possibilidade de debate real (praticamente todas as audiências públicas foram convocadas e organizadas por sindicatos rurais ligados à CNA), e que no começo do ano que vem temos uma nova legislatura, com 40% de deputados novos, colocar um projeto desses para ser votado logo de cara é um atentado ao bom senso.

O relatório Aldo Rebelo, como ficou conhecido, tem ainda muitos problemas, grande parte fruto da ausência de debate democrático. Premia todos os que fizeram desmatamentos ilegais no passado com a possibilidade de uma ampla anistia para quem ocupou indevidamente encostas e beiras de rio (mas os que cumpriram a lei nada ganham). Outro presente para os que não cumpriram a lei até 2008 é a diminuição da reserva legal para todos, incluindo a extinção para os imóveis de até 4 módulos, o que pode ser até 440 hectares, e corresponde a mais de 90% dos imóveis rurais no país. Algumas áreas hoje protegidas, como os topos de morro, deixam de ter qualquer tipo de proteção.

Para completar a obra, abre a possibilidade de que os municípios venham a autorizar desmatamento, o que significaria o fim de qualquer tipo de controle sobre o desmatamento no Cerrado e na Amazônia. Para saber mais sobre a proposta e suas consequências, acesse o site do sosflorestas.

A aprovação do regime de urgência significará fechar as portas para qualquer tipo de debate mais amplo sobre o projeto. Significará empurrar goela abaixo da sociedade como um todo um projeto que atende aos interesses de uma pequena parcela de um setor econômico, o agropecuário, pois nem todos os agentes desse setor são contrários à idéia de que é necessário conservar nossos ecossistemas e manter os serviços ambientais. As florestas, os rios, a biodiversidade, a qualidade de vida dos brasileiros, que não querem mais ter que conviver com enchentes e secas todos os anos, não podem ser rifados num acordo de ocasião. Isso não interessa à sociedade. E se não interessa à sociedade, não deveria interessar ao governo.

Se o líder Vaccarezza está falando em nome do Governo, é porque a presidente eleita Dilma quebrou sua palavra. Se não está falando em nome do Governo, então tem que voltar atrás nesse acordo, com o qual nem o líder do PT concorda. Com a palavra o Presidente Lula e a presidente eleita, que têm que se manifestar - e agir - até a próxima terça.

O Testamento de Howard Zinn


Ben Dandelion*no Odiario.info
Howard Zinn 
Howard Zinn entregou o original do seu último livro ao editor um mês antes da sua morte em 27 de Janeiro passado. Figura proeminente dos movimentos pacifista e antibelicista, Zinn foi o mais destacado dos inúmeros dissidentes norte-americanos. É sobre a importância deste seu último livro, A Bomba [The Bomb], publicado postumamente que Ben Dandelion nos fala.

Falecido este ano, Howard Zinn [1] era conhecido principalmente pela sua obra A Outra História dos Estados Unidos, um livro citado até nos Simpson e nos Sopranos, e que inspira a personagem interpretado por Matt Damon no filme Good Will Hunting. Este livro, que dá uma visão da história norte-americana dos últimos 500 anos de imperialismo, colonização e racismo, não foi academicamente bem recebido, e os seus críticos classificaram-no de polémico e com uma visão subjectiva da História. Em última análise, Zinn era um activista, oq eu deixava transparecer no seu trabalho académico tal como nos seus ensaios e textos mais políticos.
The Bomb [A Bomba], entregue ao seu editor um mês antes da sua morte, entra nesta última categoria. Nele, Zinn reúne dois ensaios, um intitulado «Hiroshima, breaking the silence» [Hiroshima, romper o sil~encio] e o outro The bombing of Royan [O Bombardeamento de Ruão]. Jovem desejoso de ser desmobilizado, Zinn recorda que celebrou o lançamento da bomba atómica, que significou para ele o final de uma guerra a que não queria voltar. Tinha participado no bombardeamento da cidade francesa de Ruão precisamente três meses antes. O ensaio rememora essa irreflectida comemoração, e o desejo de cumprir as ordens recebidas naqueles meses de 1945. Com provas históricas defende daquelas missões era necessária e interroga-se sobre o que precipitou uma acção militar que ia para lá da lógica militar e da sensibilidades morais.
Tal como Zinn, também eu mudei de mentalidade sobre a necessidade e glória da Guerra. Quando terminei o colégio quaker [3] aos 17 anos queria ser piloto de combate. Mas numa viagem pelo mundo em bicicleta cheguei à mesma conclusão de Zinn: não há nenhum «eles», não há mais do que um «nós» global. Digo com muita alegria que mudar de mentalidade não foi nenhuma e não deve assim ser considerada como um sinal de debilidade, como tanta vez sucede com os políticos, mas uma reflexão criativa. Naturalmente, agora que sou um pacifista comprometido, espero que as mudanças nas pessoas sigam o mesmo rumo que seguimos Zinn e eu próprio, em vez do contrário: passar de pacifistas a belicistas.
Contudo, Zinn também se entra por argumentos mais complexos que o do simples pacifismo. Crítico das descrições de qualquer parcela da humanidade como algo de «menor» consideração, Com razão, Zinn aponta que só desumanizando o inimigo estratégias como os bombardeamentos por saturação ou o lançamento de bombas atómicas podem ser consideradas possíveis por parte de pessoas que até as consideravam morais.
Recordo uma análise dos media do sociólogo Christie Davies que explicava como a humanidade podia em qualquer momento ser descrita como membros inominados de um grupo ou como dados estatísticos, e que o seu status moral na cobertura dada pela imprensa muda em função do grau de humanidade que se lhes atribui. «Dezoito mortos num acidente de autocarro» trata os mortos como estatística. É o que acontece no caso da guerra, em que desumaniza ou diaboliza o «inimigo» até ao ponto em que matá-lo já não se compreende como um assassínio. E onde já não são vítimas «inocentes» mas apenas «inimigos mortos».
Trata-se de um processo totalmente consciente dos Estados e dos meios de comunicação que pode ser comprovado na censura das imagens que documentam os efeitos das bombas atómicas nos anos seguintes à guerra. Zinn defende, implicitamente, que se nos colocarmos na situação do «inimigo» já não podemos justificar a acção militar proposta, então, estamos moralmente em falta. Isto pode desembocar numa espécie pacifismo, mas de uma classe tal que faz as críticas de forma diversa e pode com mais agudeza examinar cada acção proposta à luz de uma moral mais globalizante.
Nestes casos particulares, sobretudo na destruição de Ruão, na realidade povoado por aliados e não por inimigos, Zinn defende que motivos de orgulho militar, da experimentação de novas tecnologias (foi em Ruão que se usou pela primeira vez o napalm) e o desejo de vingança impuseram-se ao facto de nada disso ser estrategicamente necessário: O porto de Ruão era um elemento de diversão secundário que não representava qualquer ameaça ao rápido avanço para Berlim em Maio de 1945.
Dito isto, os mesmos «males» que se supunha que a guerra ia derrotar estavam implícitos nas acções dos aliados. Todas as potências aliadas tinham um historial de colonização e todas tinham anteriormente invadido outros países, tal como acusavam que faziam a Alemanha e o Japão. Todas defenderam os seus impérios contra os movimentos de independência nos anos seguintes a 1945.
Em última instância, todas promoveram acções militares com o resultado de milhares e milhares de civis mortos. Churchill descreveu o bombardeamento de saturação de Dresden como uma «contundente incursão». Então, o racismo tanto apontava o sistema social dos EUA como avivava a retórica de fazer avançar na guerra contra o Japão e a Alemanha. Também neste sentido, «eles» eram na realidade iguais a «nós». Apesar disso, a retórica da guerra liga-se a um «eles» considerado como algo menor.
Algumas partes de The Bomb não são fáceis de ler, tendo em conta que relatam o sofrimento infligido por bombardeamentos: é um livro que enfurecerá alguns. Alguns resistirão á sua análise histórica, à sua miscelânea de argumentos a favor, e haverá os que dirão que Zinn, simplesmente, não compreendeu a verdadeira natureza das decisões que havia (que ainda há) que tomar. O que mostra, no entanto, é a divisão que existe entre os que circulam pelos passeios do poder, e os que, como nós, não sabem realmente o que acontece e só sabem da defesa da necessidade que eles fazem de que a guerra continue.
Infelizmente o livro de Zinn continua oportuno e crucial. Como último testemunho de uma vida de trabalho académico e activismo, também nos serve para levarmos muito a sério tudo o que escreveu.

N. do T.:
[1] Artigos de Howard Zinn em odiario.info:
«Sacco e Vanzeti» www.odiario.info/?p=311 e «A História tem de ser criativa», www.odiario.info/?p=143.
[2] People´s History of the United States: 1492 to present, não está traduzido em Portugal. Há traduções em castelhano com o título de La otra historia de Estado Unidos de Ed. Hiru, Hondarribia/Fuenterrabía, 1997 e Editorial de Ciencias Sociales, La Habana, 2004.
[3] Os quakers, comunidade religiosa nascida na Inglaterra do século XVII, que se distinguiu pelo seu activo pacifismo e o seu compromisso humanitário.

* Ben Dandelion é Professor honorário da Universidade de Birmingham.

Led Zeppelin inesquecível....

BBC Sessions - 1997



Disco 1
(Marzo - Junio 1969)

1. "You Shook Me" (Dixon/Lenoir) - 5:14
2. "I Can't Quit You Baby" (Dixon) - 4:22
3. "Communication Breakdown" (Bonham/Jones/Page) - 3:12
4. "Dazed and Confused" (Page) - 6:39
5. "The Girl I Love She Got Long Black Wavy Hair"
(Bonham/Estes/Jones/Page/Plant) -3:00
6. "What Is and What Should Never Be" (Page/Plant) - 4:20
7. "Communication Breakdown" (Bonham/Jones/Page) - 2:40
8. "Traveling Riverside Blues" (Johnson/Page/Plant) - 5:12
9. "Whole Lotta Love" (Bonham/Dixon/Jones/Page/Plant) - 6:09
10. "Somethin' Else" (Cochran/Sheeley) - 2:06
11. "Communication Breakdown" (Bonham/Jones/Page) - 3:05
12. "I Can't Quit You Baby" (Dixon) - 6:21
13. "You Shook Me" (Dixon/Lenoir) - 10:19
14. "How Many More Times" (Bonham/Jones/Page) - 11:51


Disco 2
(Abril 1971)


1. "Immigrant Song" (Page/Plant) - 3:20
2. "Heartbreaker" (Bonham/Jones/Page/Plant) - 5:16
3. "Since I've Been Loving You" (Jones/Page/Plant) - 6:56
4. "Black Dog"(Jones/Page/Plant) - 5:17
5. "Dazed and Confused" (Page) - 18:36
6. "Stairway to Heaven" (Page/Plant) - 8:49
7. "Going to California" (Page/Plant) - 3:54
8. "That's the Way" (Page/Plant) - 5:43
9. "Whole Lotta Love" (Bonham/Dixon/Jones/Page/Plant) - 13:45
10. "Thank You" (Page/Plant) - 6:37



http://img819.imageshack.us/img819/7950/bioledzeppelin1.jpg 

Jimmy Page
John Paul Jones
Robert Plant
John Bonham
 
Créditos: Looloblog

Entendendo o genocídio sionista na Palestina

Mantida em sigilo, destruição de vilas palestinas é revelada após incêndio em Israel

O trágico incêndio nas florestas que forravam o Monte Carmel, na cidade israelense de Haifa e que resultou na morte de 41 pessoas e na destruição de um patrimônio nacional, trouxe à tona um tema incômodo para a história de Israel. No local, nos anos 1940, viviam centenas de famílias palestinas, que foram forçadas a abandonar suas propriedades pelo exército israelense. Somente uma pequena comunidade de palestinos permaneceu no local.

Efe

Placa aponta para a vila árabe de Ein Hawd, na região de Haifa, em Israel

O maior incêndio da história de Israel demorou quatro dias para ser extinguido e revelou a falta de preparo e de logística para enfrentar uma situação de tamanhas proporções. Cerca de 20 países enviaram ajuda aérea, equipamentos técnicos e pessoal para apagar as chamas, inclusive carros de bombeiro dos territórios palestinos.

Formada principalmente por árvores coníferas, como eucaliptos, as florestas foram criadas a partir de1948 pelo FNJ (Fundo Nacional Judaico), uma organização criada em 1901 para criar e desenvolver terras na Palestina para judeus. Após a criação do Estado de Israel, o FNJ se tornou um instrumento da expansão judaica.

Leia mais:
Israel critica decisão do Brasil de reconhecer Estado palestino Argentina reconhece oficialmente existência de Estado palestino 
Para centro palestino nos EUA, reconhecimento do Brasil pode ser decisivo 
"Israel está fazendo muito dinheiro com a ocupação da Palestina", diz economista israelense

A denúncia de que no local havia vilas palestinas é corroborada pelo historiador palestino Jonny Mansour, que estuda a trajetória da comunidade palestina de Haifa. Ele vive na parte baixa da cidade e pôde observar a destruição da floresta no Carmel. De acordo com ele, onde hoje há cidades israelenses e parques naturais, havia vilas palestinas. “Um dos lugares que foram queimados foi a vila de Umm-Al-Zinnat, completamente destruída”, afirmou ao Opera Mundi.

De acordo com um mapa disponibilizado pela organização pró-palestina BagPoud, que mostra a localização de antigas vilas palestinas no terrítória da Palestina, a região de Haifa era ocupada por mais de dez cidades palestinas.

Conforme conta o historiador israelense Illan Pappè no livro Limpeza Étnica da Palestina, diversos pontos habitados por palestinos foram alvo de uma política de antirrepatriação nos anos 1940, logo após a criação do Estado de Israel: “a maior parte das atividades já para o final das operações de limpeza étnica de 1948 estavam focadas em implementar a política de antirrepatriação de Israel em dois níveis. O primeiro era nacional, introduzidas em agosto de 1948 por uma decisão do governo israelense de destruir as vilas tomadas e transformá-las em novos assentamentos judeus ou em florestas ‘naturais’. O segundo era diplomático, esforçar-se ao máximo para amenizar a pressão internacional crescente sobre Israel para permitir o retorno dos refugiados.”

Efe

Judeu reza próximo a incêndio em Haifa. Local era habitado por palestinos 60 anos atrás

Mansour contou a história da vila de Ein Hod (chamada pelos palestinos de Ayn Hawd) antes de maio de 1948, a mais famosa entre as vilas ocultas que emergiram do fogo do Carmel.  “Em 1948, o exército israelense disse aos moradores que deixassem a vila momentaneamente e que a eles seria permitido retornar. Uma parte da população armou um acampamento em uma caverna próxima à vila original. Mas perceberam que não poderiam voltar, pois viam a construção de uma cidade judaica. Os palestinos permaneceram próximo a sua antiga vila e durante o incêndio, ficaram a pouquíssimos metros do fogo”. Tanto a cidade judaica quanto a vila palestina foram evacuadas pelas autoridades israelenses durante o incêndio.

Aspecto europeu

Além de encobrir a “limpeza” feita em localidades palestinas, as florestas de coníferas que compõem os parques nacionais serviram também para tentar dar a Israel um aspecto mais europeu. O jornalista Max Blumenthal, em artigo no site Electronic Intifada, explicou como isso foi feito no Monte Carmel.

“O FNJ plantou centenas de milhares de árvores sobre vilas palestinas ainda recém-destruídas como al-Tira, ajudando a estabelecer o Parque Nacional Carmel. Uma área da face sul do Monte Carmel lembrava tanto a paisagem do Alpes Suíços que foi apelidada de ‘Pequena Suiça’. Claro, as árvores do FNJ eram pouco adaptáveis ao ambiente da Palestina. A maioria das amostras que o Fundo planta em um lugar como Jerusalém simplesmente não sobrevive, e requer plantação frequente. Em outros lugares, as folhas das coníferas mataram espécies de plantas nativas e causaram dano ao ecossistema. E, como vimos na queimada do Carmel, as chamas das árvores do FNJ se espalharam como um pavio inflamável no calor seco”.

Leia mais:
Palestinos rejeitam oferta de Israel de congelar assentamentos em troca de reconhecimento do Estado judeu

De acordo com Blumenthal, que visitou a cidade de Ein Hod, os próprios habitantes reconhecem que ali viviam palestinos. Ao questionar uma israelense se ela sabia que, onde atualmente há um bar, funcionava uma mesquita, ela responde: "Mas tudo em Israel é assim. Esse país inteiro foi criado em cima de vila árabes. Então é melhor deixar de lado isso."

Em seu livro de memórias, David Ben-Gurion, o primeiro chefe de governo de Israel, escreveu: "Quando olho pela minha janela e vejo as árvores, elas trazem um significado de beleza e encanto pessoal maior do que os que senti na Suíça e na Escandinávia. Porque cada uma dessas árvores foi plantada por nós."

Efe

A característica da floresta no Monte Carmel, formada principalmente por coníferas, dificultou a extinção do fogo

Investigação

Após o luto pelas mortes provocadas pelo incêndio no Monte Carmel, agora as atenções da mídia e da população se voltam para a investigação dos culpados pelo desastre. E não sobram críticas para o governo do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.

A imprensa do país já chama o incêndio de a “Segunda Guerra do Líbano”. Em 2006, o exército de Israel não conseguiu destruir o grupo Hizbollah, alvo das operações. O fracasso foi um dos fatores para a queda do então primeiro-ministro Ehud Olmert.

Muitos israelenses questionaram a habilidade do governo em lidar com desastres ecológicos. O fogo só foi extinguido após a ajuda de países da Europa, além de Chipre, Egito, Jordânia e Turquia, com quem Israel tem tido estremecimento nas relações nos últimos dois anos. E, por último, carros de bombeiros foram enviados dos territórios ocupados da Palestina.

O chefe da Defesa Civil da cidade de Belém, Ibrahim Ayish, disse à agência de notícias palestina Maan que 21 homens da Cisjordânia e quarto carros de bombeiros totalmente equipados estavam ajudando israelenses e as forças internacionais que tentavam controlar o fogo perto de Haifa.

Efe

Netanyahu e o presidente israelense Shimon Peres premiam equipes de resgate de diversos países pelo auxílio dado

Netanyahu pode sair ileso do fiasco, mas o mesmo não pode ser dito de seu ministro de Interior, Eli Yishai. Em relatório do Controlador Geral do Estado, Micha Lindenstrauss, liberado na quarta-feira (08/12), Yishai foi apontado como principal culpado pela “deterioração e falta de preparo das forças de combate a fogo de Israel e dos serviços de ajuda de emergência”, informou o jornal israelense Haaretz.

O despreparo custou 41vidas (ardas prisionais que estavam em um ônibus preso no incêndio) e fez 17 mil pessoas serem evacuadas. O prejuízo pode chegar a dois bilhões de shekels (cerca de um bilhão de reais) entre perdas, reconstruções de casas, estradas e infraestrutura.

O controlador-geral já apontava em relatório de 2007 que o serviço de combate a fogo era o mais fraco entre as forças de resgate de Israel. E em relatório no início deste ano, declarou que a situação havia se deteriorado.

O Haaretz pediu em editorial do dia 6 de dezembro a renúncia do ministro do Interior. “Yishai acusa o Ministro das Finanças, Yuval Steinitz, e seus oficiais do Tesouro de ignorar suas requisições para aumentar a receita de combate a fogo. Mas ele mesmo não mostrou a mesma persistência que teveem suas batalhas contra os filhos de trabalhadores migrantes, ou à expansão dos assentamentos em Jerusalém Oriental”.

O controlador não decidiu ainda se fará uma investigação detalhada sobre o incêndio do Carmel. Segundo o diário israelense, ele esperará recomendação do Comitê de Aperfeiçoamento dos Serviços do Governo para uma investigação nacional dos eventos do incêndio após a apresentação do relatório ao próprio Comitê. 

Siga o Opera Mundi no Twitter

Gays e lésbicas de Portugal em campanha contra bullying homofóbico


Psiquiatra Gabriela Moita diz que a homofobia "é muitas vezes validada em família". Júlio Machado Vaz preferia campanha para todos.
A primeira campanha contra o bullying homofóbico está nas escolas desde Outubro A primeira campanha contra o bullying homofóbico está nas escolas desde Outubro (Foto: Nelson Garrido)

Num dos cartazes, três rapazes adolescentes surgem abraçados, quadro de ardósia em pano de fundo, com a frase "Ele é gay e estamos bem com isso". Na versão feminina, repetem-se os elementos, mas a frase muda, claro, para "Ela é lésbica e estamos bem com isso". A primeira campanha contra o bullying homofóbico está nas escolas desde Outubro, numa iniciativa que custou 50 mil euros, financiados em 85 por cento pela Comissão Para a Cidadania e Igualdade de Género.

Os adolescentes que aparecem nos cartazes "são jovens portugueses que, em regime pro bono, decidiram dar a cara pela campanha", como enfatizou ao PÚBLICO Sara Martinho, coordenadora do Projecto Inclusão da rede ex aequo, a associação de jovens lésbicas, gays, bissexuais, transgéneros e simpatizantes responsável pela iniciativa, inédita em Portugal. Além dos 20 mil cartazes, a campanha compreende a edição de 123 mil postais onde os jovens são desafiados a denunciar situações de discriminação, física ou verbal, por homofobia ou transfobia, através do site www.rea.pt/observatorio. "Em 2006, vinte queixas; em 2008, o número subiu para mais de noventa; e, no relatório deste ano, as queixas de situações de bullying homofóbico ou transfóbico já são da ordem das centenas", precisou Sara Martinho, para quem o aumento das queixas decorre, não tanto de um agravamento do problema, mas de uma maior sensibilização das pessoas.

Queixas de vários tipos

À rede ex aequo chegam queixas de vários tipos. Sobre um professor de uma escola de Lisboa que quis baixar a nota dada a um aluno depois de ter percebido que ele era gay. De alguém que viu um rapaz apedrejar duas raparigas de 16 anos por serem lésbicas. De insultos, de ameaças, de segregação. "Durante dois anos consecutivos, sofri tortura psicológica. Gozaram comigo, fizeram pouco de mim, falaram mal e fizeram-me sentir abaixo do pior animal que pode existir", queixou-se, sob anonimato, alguém de 15 anos, residente em Aveiro.

O que distingue a homofobia em contexto escolar da praticada noutros meios é que aquela tem como vítimas "jovens que ainda estão em processo de crescimento e que, muitas vezes, não têm maturidade nem ferramentas para se defenderem", sublinha Sara Martinho. "Uma das coisas que costumo dizer quando vou às escolas é que muitas crianças ainda não sabem o que é ser homossexual, mas já sabem que ser lésbica ou gay é uma coisa negativa e suja, do campo do insulto". Claro que a partir daqui "fica muito mais difícil conseguir que lidem com isso e com a sua própria sexualidade de forma saudável e natural", acrescenta Martinho.

Porque é assim e porque "este tipo de bullying acaba muitas vezes por ser validado pelas próprias famílias", a psicóloga Gabriela Moita - com uma pós-graduação em psicoterapia da criança e um doutoramento sobre a homossexualidade em contexto clínico - aplaude de pé esta campanha. "Todas as campanhas contra o bullying são fundamentais e, no caso da homofobia ou transfobia, a iniciativa tem a vantagem de mostrar que isso também é bullying porque se trata de um nicho menos cuidado, e o que se passa, muitas vezes, é que quando o menino chega a casa e comenta que o miúdo tal é gay o que os pais fazem é reforçar o preconceito."

Questionado quanto à pertinência de campanhas como esta, o sexólogo Júlio Machado Vaz é menos categórico. "Compreendo que determinados grupos sintam a necessidade, atendendo à xenofobia de que ainda são alvo, de chamar a atenção para o seu caso específico, mas prefiro que as campanhas sejam dirigidas ao público em geral". Porquê? "Porque o bullying contra homossexuais é apenas uma triste variante do bullying em geral e também aqui devemos ir por um caminho que nos leve cada vez menos ao acentuar das diferenças e cada vez mais ao acentuar das semelhanças".

Para seleção feminina de futebol afegã, competir é vitória

Por Rod Nordland no The New York Times

Time de mulheres tenta recuperar esporte feminino e treina em base de helicópteros da Otan, único local seguro na capital Cabul

Na primeira terça-feira de dezembro, a seleção feminina de futebol do Afeganistão tinha apenas mais dois dias para treinar antes de partir para sua primeira competição internacional.
Elas se revezaram nos chutes de longa distância ao gol, praticaram o bloqueio de pênaltis e driblaram a bola entre si em torno de um círculo. Em seguida, soldados armados irromperam através de um portão na lateral ordenando-lhes - educadamente – que fossem para um canto. Ouviu-se o barulho e vários helicópteros chegaram de uma vez, levantando poeira e detritos sobre seus rostos.


Foto: The New York Times


Integrantes do time de futebol feminimo afegão, antes de treinamento em Cabul

Mais uma vez, a Otan fazia uso de seu heliporto e as mulheres tiveram de desocupar o único local na capital onde podem jogar em segurança. "Eu odeio os helicópteros, mas em qualquer outro lugar nós não poderíamos jogar em público. Nós seríamos atacadas", disse Khalida Popal, oficial da confederação de futebol feminino e uma das jogadoras mais antigas da equipe.
Ela joga como zagueira na seleção, mas é uma atacante incansável quando se trata de promover o futebol feminino. "É assim que eu luto", disse ela. "Queremos enviar uma mensagem ao mundo para mostrar que as mulheres podem jogar futebol, estudar e trabalhar".
Nenhuma dessas atividades tem sido fácil para as mulheres do Afeganistão, mas o esporte tem sido particularmente difícil. Completamente proibidos durante o regime Taleban, os esportes femininos estão voltando aos poucos, prejudicados por baixos orçamentos e pela falta de segurança, mas principalmente pela falta de lugares para jogar em uma sociedade onde até mesmo modestas exposições do corpo são muitas vezes tratadas como um crime social.
"Onde quer que vamos as pessoas nos dizem: 'Por que vocês jogam futebol? Este jogo não é para mulheres'", disse Khalida.
Esforços
Embora o país tenha algum tipo de equipe feminina em 22 esportes, esses esforços estão apenas começando. Nas Olimpíadas de 2008, apenas uma mulher afegã competiu, em atletismo, enquanto duas competiram em 2004, de acordo com Shukaria Hikmat, chefe do Comitê Olímpico Afegão.
Os homens esportistas, por outro lado, têm conquistado bastante espaço apesar da guerra. Seus jogadores de críquete são heróis nacionais, principalmente depois que derrotaram a Escócia recentemente, e sua equipe de tae kwon do é uma potência asiática.


Foto: The New York Times
Chegada de helicóptero da Otan faz mulheres desocuparem único local na capital onde podem jogar em segurança
A equipe feminina de futebol voou para Bangladesh para sua primeira competição internacional oficial, um torneio promovido pela Federação de Futebol do Sul da Ásia. "Competir internacionalmente já será uma vitória", disse a técnica da equipe, Wahidullah Wahidi, especialmente porque as mulheres afegãs estarão jogando contra equipes provenientes de países onde o futebol feminino está bem estabelecido.
A equipe afegã tem muitas deficiências. A seleção pode usar o campo de futebol localizado dentro de uma base da Otan em Cabul apenas três vezes por semana – caso os desembarques dos helicópteros não atrapalhem. O presidente Hamid Karzai ordenou que o campo fosse colocado à sua disposição depois de uma performance inesperadamente forte em um amistoso contra o Paquistão.

Costumes


A capitã é uma estudante de 16 anos de idade, Roya Noori, uma atacante baixa com um chute feroz. Quatro das melhores jogadoras vivem na América e não tiveram oportunidade de treinar com a equipe antes do campeonato em Bangladesh. Mesmo suas roupas e sapatos esportivos são uma miscelânea de origem variada – calções ou mangas curtas não fazem parte do conjunto.
A maioria das jogadoras, no entanto, não usa lenços na cabeça – vestimenta obrigatória em público para as mulheres do país – por ser pouco prático. "Pode ser perigoso", disse Khalida. "Outra jogadora pode agarrá-la e estrangulá-la".
Khalida, 23 anos, é uma estudante de engenharia que vem de uma conservadora família pashtun. Quando ela demonstrou aptidão para o jogo, na escola, seu pai e irmãos se opuseram à ideia. Quase todos os 21 clubes femininos do Afeganistão ficam na capital.


Foto: The New York Times

País vem retomando esportes femininos, proibidos durante a época do regime talibã

"Eu consegui convencê-los demonstrando o meu amor pelo futebol e eles finalmente concordaram", disse ela. Isso foi há cinco anos. "Agora eles estão muito orgulhosos". Eles também estão preocupados. Como porta-voz do futebol feminino ela recebeu ameaças de morte e é muitas vezes insultada na rua, disse.
"Este é o direito civil de cada mulher", disse Wahidullah. "O esporte não deve ser apenas para os homens. O problema com o nosso país é que há tantos analfabetos, cerca de 85% do nosso povo, e as pessoas não conhecem nada melhor".
Em outubro, a equipe afegã teve um jogo amistoso com a equipe feminina das forças da Otan. "Nós queríamos mostrar-lhes que os afegãos são um povo amigável, não como as pessoas estúpidas com quem estão lutando", disse Popal.
A capitã da equipe da Otan era a sargento da Marinha Danielle Figueroa. "Eu percebi que menosprezo até mesmo a minha capacidade de jogar qualquer esporte", disse ela. "Não me dei conta, até semana passada, quando nós tivemos uma chance de conversar sobre como isso é novo para elas".
Sem interrupções de pousos de helicópteros, as mulheres do Afeganistão venceram a Otan por 1-0.

Tradução: no portal IG não havia créditos para o tradutor

Áreas rurais concentram 75% da pobreza mundial


Em todo o mundo, 925 milhões de pessoas seguem sofrendo fome crônica, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). Cerca de 75% da pobreza mundial está concentrada em áreas rurais. Relator especial da ONU sobre direito à alimentação diz que camponeses de países pobres estão capturados por um círculo vicioso: os governos não investem o suficiente na agricultura e os produtores locais estão sendo expulsos de suas terras e lançados em periferias urbanas onde se afundam ainda mais na pobreza.

Nova York (IPS) – Por todo o mundo, camponeses estão sendo apanhados em um círculo vicioso: os governos não investem o suficiente na agricultura e os produtores locais estão sendo expulsos de suas terras e lançados em periferias urbanas onde se afundam ainda mais na pobreza. Isso só dificulta os esforços para aliviar o problema da desnutrição: em todo o mundo, 925 milhões de pessoas seguem sofrendo fome crônica, segundo dados divulgados em setembro pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).

Olivier de Schutter, relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre direito à alimentação, assinalou que a solução mais sustentável é incrementar os investimentos agrícolas nos países em desenvolvimento do Sul para melhorar a renda dos camponeses e dar-lhes uma maior estabilidade no setor. De Schutter, que trabalha de forma independente, foi designado em maio de 2008 pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, com sede em Genebra. Desde então, visitou a Nicarágua, Guatemala, Brasil, Benin e Síria. Segue a entrevista que ele concedeu a IPS:

IPS: Qual a importância da agricultura nas economias dos países em desenvolvimento?

Vários países em desenvolvimento dependem demasiadamente de um punhado de matérias primas, como o algodão, o café, o tabaco e o açúcar. Isso os torna muito vulneráveis a mudanças dos preços desses produtos e também significa que têm uma tendência a investir muito nestes cultivos para sua exportação e menos para o consumo local. Esse é o caso de quase todos os países da África Subsaariana. Neste contexto, eu estou sugerindo a esses países que façam duas coisas: primeiro, investir na agricultura para produzir alimentos internamente e, assim, tornar-se menos vulnerável no futuro aos aumentos de preços no mercado de alimentos, uma medida fundamental para a sua segurança alimentar.

Segundo, que diversifiquem suas economias para ter um setor secundário (a indústria) e outro terciário (os serviços) que possam absorver a mão de obra excedente e diminuir a dependência de um pacote limitado de cultivos de exportação como fonte de renda.

IPS: Uma maior produtividade agrícola impulsionaria as economias de alguns dos países mais pobres na África e Ásia?

Os investimentos na produtividade agrícola podem ser fundamentais se beneficiarem os camponeses, que são os mais pobres. Cerca de 75% da pobreza mundial está concentrada em áreas rurais. Melhorar a renda dessas pessoas fará com que comprem mais de produtores e provedores de serviços locais, com um importante efeito multiplicador nas economias, beneficiando também os setores da indústria e de serviços em seus respectivos países.

IPS: Que tipo de investimento está recomendando?

São necessários investimentos públicos e privados. Os países simplesmente não tem o orçamento necessário, muitos carecem de recursos. Certos investimentos provavelmente devem ser feitos pelo Estado, já que não existem incentivos ou são débeis para o setor privado. Por exemplo, os estados deveriam desenvolver serviços de extensão rural, infraestrutura e pesquisa agrícola. Deveriam criar escolas agrárias e apoiar organizações e cooperativas de camponeses.

Os investimentos do setor privado também são importantes e podem complementar os do setor público. Mas não devem tomar a forma de aquisições ou de compra de terra em grande escola, pois isso pode causar enormes perturbações sociais e políticas, constituindo um retrocesso nos esforços para melhorar o acesso a terras por parte dos pobres que, em geral, já tem pouco para cultivar. Então, qual é a alternativa? Creio que certas formas de contratos agrícolas podem garantir importantes benefícios para os camponeses, possibilitando que sejam apoiados por investimento e garantam o acesso à terra.

IPS: De quanto exatamente necessita a agricultura e quanto está sendo investido hoje? Qual é o déficit?

Estima-se que, para relançar a agricultura na África Subsaariana e cobrir 30 anos de esquecimento, são necessários entre 35 e 45 bilhões de dólares anuais durante um período de cinco anos (2010-2015). Isso é mais do que se prometeu até agora e, de fato, pouco dinheiro foi prometido para essa finalidade.

IPS: Quais são algumas das soluções para esta falta de responsabilidade?

A participação dos parlamentos nacionais e de organizações da sociedade civil, incluindo grupos de camponeses, pode ser muito importante para garantir que os governos tomem decisões bem informadas na base de uma adequada compreensão sobre o que os pobres necessitam. Eu recomendo a adoção de estratégias que sejam desenvolvidas em marcos participativos, por meio dos quais os governos estabeleçam pontos de referência para eles mesmos dentro de um prazo determinado e atribuam responsabilidades em diversos departamentos para a adição das medidas necessárias para atingir tais metas. Isso aumenta a responsabilidade do governo, já que terá que justificar a ausência de ações e explicar por que não cumpriu as metas que fixou para si mesmo.

IPS: O alimento pode ser usado como arma de guerra?

Pode sim. Interromper o transporte de ajuda alimentar a zonas afetadas pela guerra sob o pretexto de que a ajuda poderia terminar em mãos de guerrilheiros, matar de fome uma população para castigá-la por ser hostil ao governo central ou destruir cultivos para privar as pessoas de alimentos são graves violações aos direitos humanos. Em alguns casos podem constituir crimes de guerra ou contra a humanidade. No entanto, o mais frequente é o uso de alimentos como ferramenta política, para recompensar partidários e castigar adversários.

Tradução: Katarina Peixoto


Fotos: Unicef

sábado, 11 de dezembro de 2010

Wikileaks: toc toc, está alguém?




Ainda com Wikileaks.
Um pesadelo.

Max do blog Informação Incorreta
O mártir

Não param as notícias nos média: Assange preso, a Suécia quer a extradição, há uma acusação de estupro.
Nos blogues e sites independentes é ainda pior: Wikileaks é a última esperança de quem luta contra o Império do Mal, Assange um mártir.

Poucos são os que param e reflectem.

Reflectem acerca de quê? Acerca dum simples pormenor: Julian Assange está vivo.

Talvez para a maioria dos leitores isso possa parecer como um facto normal, mas não é: se Assange fosse verdadeiramente um perigo para os Estados Unidos e, sobretudo, para Israel, estaria debaixo de dois metros de terra. E não desde agora.

Pelo contrário, Assange é vivo e saudável.
Por enquanto no Reino Unido, onde Scotland Yard teve a cortesia de esperar antes de prende-lo, depois veremos.

Se os militares ingleses tivessem o mesmo respeito quando for altura de capturar os alegados terroristas inimigos do Ocidente, Guantanamo estaria meia vazia.

Mas como é possível duvidar de Wikileaks?
Ao ver Wikileaks e os média em geral que juntam as forças para expor a verdade nua e crua acerca da invasão dos EUA no Iraque, no Afeganistão e, mais recentemente, o que o Departamento de Estado dos EUA pensa acerca dos líderes mundiais? Podemos ter ainda reservas?
Quer dizer, isso é o que está a acontecer, certo?
Uma série de revelações históricas, não é?

Pois não é.

 Velhices

O que acontece é que os média estão a difundir notícias já velhas e incompletas. Só que agora têm uma camada de credibilidade graças ao bom Julian Assange, alto, louro, olhos azuis, um perfeito proto-mártir.

O que verdadeiramente consegue surpreender-me é o facto de sites de notícias alegadamente alternativas estarem a funcionar como um poderos eco para estas mentiras.
Difundem a história de Wikileaks sem algum espírito crítico.

Não vamos fazer nomes, não é simpático: mas falamos de sites que a cada dia podem contar com dezenas de milhares de visitantes. Um movimento impressionante para defender o mártir australiano. Tudo sem parar, sem pensar, sem duvidar, sem perguntar.

Toc toc: está ainda alguém por ai?

O leitor tem dúvidas acerca de quanto afirmado?
Então o leitor faça um favor: abra YouTube e procure alguma coisa acerca das atrocidades dos Estados Unidos no Iraque ou no Afeganistão.
E, uma vez encontrado, olhem para a data de publicação do vídeo. Velhinho, não é?

Pois é.

Os Estados Unidos utilizam esquadras de killer? Olha só a novidade: a notícia tem 7 anos e pode ser encontrada neste link do diário britânico Guardian.
Aliás, na notícia original é presente a informação segundo a qual estes killer são treinados pelos Israelitas.

Washington paga os média do Iraque e do Afeganistão para obter notícias mais favoráveis?
Wow! Quem poderia ter imaginado uma coisa destas?
Talvez o Lincoln Group, que em 2005 ganhou em exclusivo a possibilidade de controlar todos os média do Iraque. Esta revelação é tão perturbadora que está no Wikipedia desde 2005.

Quantos civis foram mortos no Iraque? Milhares? Ohhhhhh...esta sim que é uma revelação aterradora.
Querem uma ainda pior? Visitem Just Foreing Policy, que ainda faz as contas: já ultrapassou 1 milhão e 400 mil vítimas. Na verdade, Wikileaks apoia uma estimativa muito baixa que fica mais próxima das avaliações oficiais.

Mas se Assange ficasse por aqui até não seria mal.
Afinal é bom lembrar o mal da guerra, os sofrimentos envolvidos, o papel longe de estar limpo das "Forças do Bem", Estados Unidos in primis.

O problema nasce quando Wikileaks avança com outro tipo de "revelações".


A CIA agradece. Israel também.

Wikileaks, por exemplo, fornece as "provas"de que o Paquistão está ajudar os Talibãs. O Paquistão e não a CIA, como muitos suspeitam.

Resultado? O seguinte: o New York Times publica um artigo cujo título é
O serviço de inteligência paquistanês ajuda os revoltosos.
E a CIA agradece.

Avança o Guardian:
Wikileaks revela que Irão e Paquistão vendem mísseis aos Talibãs.
E a CIA agradece, outra vez. Menos o Irão que vê confirmado o seu papel de mau da fita no Médio Oriente. Tal como Israel predica.

Doutro lado, que Teheran seja um dos principais objectivos destas "revelações" parece evidente.

Telegraph:
Wikileaks, como o Irão concebeu um novo colete-suicida para Al-Qaeda no Iraque. 
O quê? Mas nem nas fantasias mais selvagens de Tel Avive haveria espaço para notícias como estas.

Ainda o Telegraph: 
WikiLeaks, o Irão obtém da Coreia do Norte mísseis com os quais atingir Europa.
Com certeza. Também Saddam Hussein tinha mísseis assim, lembram? Guardian:
O especialista da Defesa Adam Holloway afirma que o MI6 [o serviço de intelligence britânico, NDT] obteve a informação directamente dum taxista que tinha ouvido falar dois comandantes militares do Iraque acerca das armas.
E não é o caso de sorrir, o nível é o mesmo.
Mesmo na altura em que os Estado Unidos estão empenhados na demonização do Irão e têm um porta-aviões no Mar da China, eis que surge Wikileaks com estas estrondosas "revelações". Maravilhoso.

E Israel? Ah, pois, Israel...

Eis o pensamento da terra de Rei David:
Em Israel, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, disse que reivindicava as revelações de [Wikileaks, NDT] sobre a extensão das preocupações internacionais e árabes sobre o Irão e o seu programa nuclear.
"Israel não foi danificado de alguma forma pelas publicações de Wikileaks", disse Netanyahu.

"Os documentos mostram muitas fontes que apoiam as avaliações de Israel, particularmente acerca do Irão. A nossa região tem sido refém duma narrativa que é o resultado de 60 anos de propaganda que pinta Israel como a maior ameaça. Na verdade, os líderes entendem que esta visão é falsa. Pela primeira vez na história, há um consenso de que o Irão é uma ameaça."
Netanyahu só não disse "Obrigado Julian".
Talvez tinha pressa, esqueceu do pormenor. Mas o sentido é o mesmo.

Pergunto: mas é preciso dizer mais?
E percebem agora porque Julian Assange está vivo e em boa saúde?


Parabéns

Conclusão: Wikileaks foi uma operação bem pouco sofisticada, mas resultou. E afinal é isso que conta.
Por isso é preciso dar os parabéns aos autores. Cujos nomes podem ser intuídos sem grandes esforços cerebrais.

Em breve a poeira irá assentar-se. Os dados acerca dos civis mortos no Iraque serão esquecidos ("é normal, é uma guerra"). E quando alguém afirmar que o Irão é o Reino do Terror, poderá sempre acrescentar "Também Wikileaks disse isso!".
E o circulo será fechado.

Sinceramente, pensava que fosse preciso algo mais.
Esperava que o 11 de Setembro tivesse ensinado alguma coisa, tivesse difundido o habito de não parar perante as aparências mas de ir um pouco além.
No mundo de internet há pessoas que põe em causa tudo ou quase, chegando a imaginar conspirações que envolvem alienígenas, mundos perdidos, Jesús Cristo, os Kennedys e a gripe das aves.

Depois é suficiente um australiano com recortes de jornais para que todos fiquem aniquilados.

Tal como disse: esperava que fosse preciso algo mais.

Culpa minha, peço desculpa.

Nota
Desejo realçar uma das outras poucas vozes que, tal como eu, pararam e tentaram reflectir: Prova Final. Caso tenha esquecido alguém, façam o favor de indicar! Obrigado!!!

Sobre Judeus e Palestinos

Dois fatos históricos

Georges Bourdoukan em seu blog
 
1 - O império romano nunca exilou povos  de seus países.

2- Os verdadeiros judeus são os palestinos que se converteram ao cristianismo e islamismo.

Isto é tão obvio que até o Novo testamento Testemunha esse fato.

Foram os judeus que viviam em Jerusalém que insistiram na crucificação de Jesus Cristo.

Pôncio Pilatos, indignado, lavou as mãos.

Mas não foram somente os judeus que se converteram ao cristianismo e islamismo.

Todos os povos do Oriente Médio também se converteram às duas religiões: babilônios, fenícios, assírios, caldeus, egípcios, etc.etc.

 Essa é também a tese do historiador Shlomo Sand, professor da Universidade de Tel-Aviv, em seu livro  “Quando e como foi inventado o povo Judeu”.

Shlomo Sand consegue provar que o povo Judeu nunca existiu como "raça-nação" e nunca compartilhou uma origem comum.

Diz também que em Israel não ha judeus, mas israelenses e reafirma que os verdadeiros judeus são os palestinos que se converteram ao cristianismo e islamismo.

Pergunta-se, quem são esses habitantes de Israel, que invadiram a Palestina em nome de uma religião?

A construção do Socialismo na Bolívia (O necessário processo de retificações e precisões)


Marcos Domich*no Odiario.info
Marcos Domich
Homens inteligentes que não cometam erros não há nem pode haver. Inteligente é quem comete erros, mas sabe corrigi-los bem e depressa.
Lenine

Desde o 22 de Janeiro deste ano se colocou em cima da mesa da discussão política a construção do socialismo no nosso país. Os dois mais altos dirigentes do governo e do processo, Evo Morales Ayma e Álvaro García Linera, expuseram de forma cristalina essa perspectiva histórica. Além de ratificarem a linha anticapitalista e anti-imperialista, definiram a superação do capitalismo construindo o socialismo que muitas vezes se fez acompanhar do adjectivo comunitário. Álvaro Garcia encarregou-se de fundamentar teoricamente essa possibilidade, retomando posições marxistas.
Não obstante, para começar a caminhada nessa perspectiva histórica, há que ter em conta muitas premissas tanto de carácter objectivo, como subjectivo. Ao socialismo não se chega unicamente por um acto de vontade. Ao mesmo tempo que é certo que esta vontade, que é uma vontade específica – a vontade das massas trabalhadoras, sobretudo – tem de ser uma vontade adequada às condições objectivas.
O desenvolvimento dos processos sociais, económicos e políticos na Bolívia chegou a um ponto crucial. Esse ponto determina-se como o ponto de inflexão a partir do qual se abrem dois caminhos completamente distintos no seu significado e destino histórico. Um é o caminho da reforma social e o outro da revolução social. A via das reformas, sem dúvida pode melhorar a vida na sociedade, quando se destina a reparar a vida da gente que mais necessita. Mas as reformas não tocam nas bases do sistema social que está na origem das desigualdades sociais e na pauperização da maioria das pessoas, sobretudo dos pobres e explorados. A revolução, por outro lado, destrói as bases do regime antigo criando novas relações sociais de produção e liquidando a propriedade privada dos meios de produção. A revolução social não é senão um modo de transição de uma formação socioeconómica caduca para outra superior. Todavia a revolução, contrariamente a uma visão simplista e apressada, não se constrói da noite para o dia.
Até chegar às metas do que poderíamos denominar uma sociedade basicamente socialista, há um processo relativamente comprido, denominado de transição, que vai da velha sociedade caduca e injusta até à nova mais justa, equitativa e livre. A essência do período de transição é a execução das tarefas no campo da economia, fortalecendo as formas sociais de propriedade dos meios de produção e a adequação de essa economia a um novo regime político-jurídico. É um processo contínuo, de mudanças democráticas e revolucionárias que corresponde ao que os clássicos formularam no conceito de revolução permanente ou ininterrupta.
A revolução permanente, como a conceberam Marx e Engels e não em interpretações distorcidas, radica, em suas próprias palavras, é aquela em que: “… os nossos interesses e a nossa tarefa consiste em fazer a revolução ininterruptamente até que as classes – mais ou menos – dominantes sejam afastadas do poder; até que o proletariado conquiste o poder estatal.” Esta formulação atesta o dito: não é um processo rápido e a sua duração é difícil de prever. O que fica claro, aqui, é que se necessitará de um longo processo de educação das massas para manter o seu espírito revolucionário e o fortalecimento e alargamento do sector da propriedade social dos meios de produção. Em suma, manter o vigor da disposição de construir a nova ordem, vencendo o capitalismo na produção dos bens materiais e na forja de uma mente que supere os desequilíbrios do individualismo capitalista.
A primeira ruptura na etapa de transição do poder político do Estado, das mãos opressoras de antes, para as mãos emancipadoras do presente. Esta é a fase política da revolução. A fase social propriamente dita, consiste na mudança do sistema de propriedade dos meios de produção e, sobre esta base, o estabelecimento de novas relações de produção. Dito em outros termos, significa suprimir as causas da exploração do homem pelo homem.
A causa principal da exploração do homem é que os meios de produção (terra, instrumentos, máquinas, instalações, etc.) estão nas mãos dos outros homens. Enquanto uns os possuem outros não têm senão a sua força de trabalho (manual ou intelectual). Não é pura retórica o dito no Manifesto Comunista: os expropriados, os trabalhadores, não têm outra coisa a perder que não as suas correntes.
O poder económico gera poder político e é a propriedade dos meios de produção que outorga esse poder que, em princípio, pressupõe o poder de explorar o trabalho alheio. Implica também muitos outros efeitos; sobre esse poder económico surge toda uma estrutura que, passando pelo poder político, a formação jurídica, a textura moral social e individual, chega ao ideológico, ao psicológico, à esfera total da consciência social.
Em resumo, pode dizer-se que a relação de propriedade com os meios de produção imprime o seu selo até naquele espaço tão sublimado como o dos sentimentos e afectos e naquele que se conhece como a simbólica social; engendra toda uma afectividade de proprietário ou proprietarista. Na sociedade humana e sobretudo na dividida em classes, este afecto engendra a paixão que explica desde a ambição pela pequena posse de alguma propriedade até à busca de uma grande fortuna. Atribui-se ao sacerdote guerrilheiro colombiano Camilo Torres uma afirmação que explica a força deste afecto: “o rico, entre perder a vida ou a carteira, prefere perder a vida”.
Em redor do assunto da propriedade está o cerne das discussões e da confrontação na sociedade boliviana nestes dias. As classes e diversos sectores sociais e as nacionalidades e etnias, com uma ou outra simbologia, movem-se em torno da propriedade em geral, mas em particular em torno da propriedade dos meios de produção. Na sociedade capitalista, inclusive em âmbitos em que se pode imaginar que não há preconceitos ou temores sobre o seu destino, não deixam de se manifestar receios e dúvidas. Vivem dependentes de que não os despojem. É que até nos espaços de menor preconceito se desconhece que, no mais radical dos processos revolucionários, houve (e há) uma diferença entre a propriedade pessoal – ferramentas de trabalho pessoais; a casa e o carro (se o têm) e até a terra familiar ou particular – e a propriedade dos meios de produção, no sentido estritamente capitalista do termo.
Os receios dos menos preconceituosos, nos pouco informados politicamente, convertem-se em atormentadas predisposições e certezas de ameaças. Os meios de comunicação se encarregam de agigantá-los e gerar ondas de rumores que acabam por criar, pelo menos, uma oposição passiva contra o governo.
Não vamos examinar em detalhe os elementos que manobra e com os quais agita, a oposição das direitas, em “defesa da propriedade”. Só referimos alguns dos seus slogans: “Vão tirar as casas!”, “Vai tudo passar para o Estado!”, “Não haverá mais empresas privadas”, “Não haverá mais escolas nem universidades privadas!”, ”Vão encerrar os consultórios privados!”… “e as farmácias” … “o Estado é um mau administrador”, “a burocracia engole tudo”, “cresce a corrupção”, e assim até ao infinito.
Com formas completamente distintas, a extrema-esquerda radical tem os seus próprios slogans que, no fundo, levam a água ao mesmo moinho desestabilizador e reforçam os temores dos incautos que acreditam que de facto esses slogans podem concretizar-se. Os incautos, muitos e variados, não diferenciam o carácter deste governo e a realidade da extrema-esquerda. Esta lança apreciações e consignas da seguinte natureza: “este é um governo neoliberal”, “a nacionalização realizada é uma farsa”, “deve confiscar-se todos os bens aos ricos”, e assim por diante.
As disputas com as direitas e com as facções esquerdistas e a infinita batalha com os meios dominados pelo conservadorismo e as transnacionais da comunicação, se bem que têm importância, não são tão relevantes como as diferenças no seio do próprio governo e nos sectores sociais que se reclamam partidários da mudança. Há uma compreensão muito diversa sobre o assunto da essência e do alcance do tema da propriedade privada, sobretudo da dos meios de produção. Óbvio que esta falta de clareza cria confusão e impede uma concretização fluida das acções governamentais.
No governo, e isto estende-se ao partido governante, existem três correntes bastante distintas entre si; alguns analistas contabilizam até sete. Não entraremos em detalhe acerca da corrente que consideramos revolucionária e de opção nitidamente socialista. Esta corrente, geralmente, de inspiração marxista e marxista-leninista não é homogénea e não é a mais numerosa.
Outra corrente é a que podemos associar a uma concepção social-democrata e que manobra, precisamente, várias alavancas da economia e das finanças do país. Os seus partidários são muito cautelosos no que respeita às transformações verdadeiramente importantes na base económica. Tem-se a impressão que alguns deles prefeririam que as coisas, nesta matéria tão espinhosa, ficassem como estão. Têm um pânico em transtornar a economia ao tentar transformações estruturais. Sua acção económica baseia-se na protecção das suas reservas internacionais, nas exportações, antes de mais de matérias-primas; na poupança de despesa na administração estatal. Os preços altos das matérias-primas e a cotação estável da moeda norte-americana, serviu-lhes de confirmação do acerto da sua gestão económica. Igualmente podem gabar-se do notável aumento das reservas internacionais, de um crescimento positivo do PIB (com uma média de 5% durante os últimos 5 anos), do aumento da riqueza nacional, a diminuição dos índices de pobreza, particularmente rural; da estabilidade relativa dos preços ao consumidor.
A corrente mais caudalosa – que pode ser identificada e englobada, na generalidade, no indigenismo, sendo mais extensa e variada que a anterior – defende a expansão da propriedade, de toda a propriedade, incluindo a dos meios de produção, sempre e quando levem um selo indígena. Em alguns casos, este propósito manifestou-se na reivindicação imperativa de determinadas áreas de trabalho e de onde se cruzou com a presença de trabalhadores de outro sector social. Concretamente, algumas comunidades camponesas tentaram deslocar trabalhadores mineiros, em particular cooperativistas, de algumas minas. Fazem-no sobre o princípio de “terra-território” ou propriedade ancestral que compreende não só a superfície mas sim toda a riqueza que se pode encontrar no subsolo. Apoiam-se também numa interpretação ampla da nova Constituição Política do Estado. Esta estabelece a obrigatoriedade da consulta para a exploração de recursos que se encontrem em áreas que pertencem a povos originários (art. 316 inc. 1). Porém, neste caso, os trabalhos realizavam-se em conformidade com as antigas concessões entregues, habitualmente, a mineiros originários, com base nas disposições actuais. Por último, não têm faltado, nos sectores do indigenismo radical que, felizmente, estão fora do governo, posturas mais intransigentes como o direito, por exemplo, a negociar directamente a exploração de recursos naturais com empresas estrangeiras.
Esta política indigenista vem envolta com um conjunto de conceitos que, no melhor dos casos, não estão contra a perspectiva de um desenvolvimento em transição para um sistema socialista, mas é evidente também que não o tomam em conta como uma possibilidade certa. Mais exacto seria dizer: iludem-no. Substituem-no por uma visão idílica do trabalho, por agora impraticável. Transformam o desejável em utopia.
A concepção indigenista tem alguns pilares sobre os quais assenta e, em geral, estão divididos por todos os grupos que se reclamam originários puros. Não é objectivo desta apresentação analisar algo que é difícil resumir neste espaço. Haverá tempo para cerrar o dente neste problemático assunto. Mais assinalamos o que mais se adormece e é precisamente o mais necessário: a convergência e a unidade de todas as forças populares e de trabalhadores, na tarefa de afiançar e avançar o processo de mudança. A pedra angular das suas posições é de negação de todo o teórico ou instrumental-orgânico que, de alguma forma, provenha da Europa ou, de forma mais lata, do “ocidente”. Subtilmente assentaram-se ideias que não nasceram da criação teórica própria. Na realidade são ideias importadas ou introduzidas sobretudo por ONG’s.
Entre elas estão, por exemplo, o apartidarismo que se converteu em antipartidarismo generalizado e sem o menor objectivo de distinguir entre si quaisquer partidos políticos. A palavra de ordem nunca foi sempre lutar contra a “partidocracia”, colocando no mesmo saco todos os partidos. Desde essa posição não só negam a necessidade de partidos, sejam de esquerda, mas até dos sindicatos. Estes últimos, até contra a tradição de mais de meio século de organizações de trabalhadores agrícolas em sindicatos agrícolas, filiados na Central Obrera Boliviana. Alegam que tanto os partidos como os sindicatos são de “origem europeia”. É a primeira evidência do esquecimento ou da recusa do enfoque classista, pois, os partidos políticos representam, quase invariavelmente, os interesses das classes sociais e os sindicatos igualmente, mas de maneira mais específica, promovem os interesses concretos dos assalariados.
Começou a exaltar-se, em substituição dos partidos e dos sindicatos, as organizações sociais, categoria, obviamente, muito ampla. Nunca se negou a necessidade de trabalhar com elas. Assim se convergem na luta, mas é necessário dotá-las de uma organicidade mínima e sobretudo manter a tensão sobre a base de um programa com maior alcance histórico. Estamos de acordo com a necessidade de levar a fundo a origem destas correntes: “Com o falso pressuposto e o argumento enganoso de que os relatos pós-modernos e as metafísicas académicas pós-estruturalistas nascem… do solo indígena (?) e brotam… das culturas originárias (?) uma vez mais, como já ocorrera (antes) (…) se terminava adoptando como próprio um discurso teórico forjado exclusivamente a partir de uma experiência política distante, alheia: a de aquela geração europeia derrotada em 1968, desiludida durante toda a década de 70 e finalmente incorporada no sistema durante os anos 80”.
Vale a pena recordar algumas categorias na sua escala de prioridades. Para o indigenismo fortemente caracterizado como tal, a natureza e sobretudo a pachamama (mãe-terra) é mais importante que o homem. Este, ao fim e ao cabo, é um filho, mais um produto da terra. Concepção distinta aquela que defendemos: é a evolução social, a vida em sociedade, o trabalho, o que cria o homem social. Isto é o que o diferencia dos animais, inclusive daqueles que se encontrem no mais elevado nível da escala zoológica, a que pertencemos.
Num importante encontro (Cimeira sobre a Mudança Climática em Cochabamba, em Maio passado) – que teve muitos aspectos positivos e mobilizadores em defesa do meio ambiente e na condenação do capitalismo e a sua responsabilidade na mudança climática – o representante boliviano chegou a defender que os originários “vão mais além do capitalismo e do socialismo, já que estes eram igualmente predadores”. Não demonstrou um só dado que avalize esta comparação do socialismo ao capitalismo, mas a frase foi lançada e ali ficou como expoente de uma posição com pretensões de colocar-se acima do socialismo, particularmente do socialismo marxista.
É difícil sintetizar o conjunto de conceitos que desferem os teóricos da indigenidade que sem dizê-lo directamente, pretendem que a sua concepção de vida, do mundo e do homem, supera o que define o socialismo e muito particularmente o socialismo científico. Elegemos a apresentação aqui de um livro que refere a concepção de suma qamaña, como um resumo que nos dá uma ideia do emaranhado discursivo da “cosmovisão andina”: “A República da Bolívia não conseguiu constituir-se em Estado-nação no espaço-tempo da modernidade. E eis que a modernidade cessou e com ela a forma Estado-nação, o modo industrial de produzir, a visão mecanicista, atomista e redutora de interagir com a realidade. O próprio conceito de realidade se relativizou e tornou-se probabilístico e quântico. Portanto os mitos de Desenvolvimento e do Progresso também chegaram ao seu fim. Nesta transição de época, não obstante, coexistem revoltas, as inércias fantasmagóricas do passado e as virtudes, não reconhecidas como tais, do mundo que amanhece” E conclui: “É de vida ou morte que os bolivianos, na Assembleia Constituinte deram um passo adiante como vanguarda política da humanidade, dando-nos uma constituição que seja capaz de traduzir politicamente o novo paradigma científico técnico e a cosmovisão das Nações indígenas e originárias”.
Um dos traços centrais desta concepção é opor-se aos conceitos, definidos como exclusivamente ocidentais, de desenvolvimento e industrialização. Em algum outro momento Medina define que o modelo bíblico do Éden e da visão aristotélica da “Boa vida na cidade” separam, ambos, o homem e a natureza e conclui quase de modo polpotiano: “Não é a Cidade, mas a Chacra; não é a separação mas a simbiose com a natureza, o espaço-tempo da qualidade de vida”.
Como um resultado directo desta concepção, que pretende negar a ciência – e no fundo não está ganha para as perspectivas revolucionárias do processo de mudança – observa-se, na actual conjuntura, um risco de paralisação da actividade revolucionária das organizações sociais, de regresso às posições dos objectivos concretos, limitados, sectoriais, e do abandono de algo que caracterizou a resistência ao neoliberalismo: a defesa comprometida e prioritária dos interesses à escala nacional. É sem dúvida um processo de fetichização (ainda não insuperável), por trás do simbolismo andino, de linguagem, de ritos. A situação revolucionária que se concretizou em Outubro de 2003 é impensável sem a participação das organizações sociais. É necessário, pois, voltar a activar a efervescência revolucionária de tempos não muito distantes.
Não é a intenção polemizar agora nem com a social-democracia nem com o indigenismo, mas sublinhar como estas correntes podem desviar a atenção dos temas vitais, dos objectivos centrais do processo para este materialize as transformações que permitirão desabrochar o caminho até uma sociedade superior.
É imprescindível determinar, além do ponto de inflexão, em que nível de avanço do processo de transformação nos encontramos. Aprovou-se uma nova Constituição Política do Estado Plurinacional; conquistou-se uma sólida maioria parlamentar pela transformação; conquistou-se 6 em 9 governações; de ter uma presença maioritária na maioria das assembleias departamentais; de dominar mais de 220 das 312 autarquias que existem no País; de encaminhar-se uma renovação ambiciosa do órgão judicial e, o mais significativo, de ter derrotado politica e operativamente os intentos desestabilizadores e separatistas.
Este nível e simultaneamente ponto de inflexão, desde a nossa visão, assinala que praticamente se completou com êxito a fase política da revolução. O sintoma principal de essa mudança é que as velhas classes dominantes e exploradoras foram retiradas das principais estruturas de dominação política. Mas esta afirmação tem de ser relativizada. Não é o mesmo ocupar alguns centros altos da estrutura política e depurá-la de toda a herança da hermenêutica funcionária, dos hábitos e costumes da burocracia sobre tudo, e até da sua composição de pessoal. O velho persiste muito tempo na sociedade e o processo de decantação dura muito tempo e requer um trabalho como o de um mecanismo de relojoaria. Muita de esta gente é necessária para o processo de construção da nova ordem e a partir de certa ética e de certa disposição meramente patriótica convertem-se em necessários, ainda que nunca em imprescindíveis.
Tampouco entraremos na análise de outros aspectos do funcionamento da sociedade no processo de mudança. Em particular daqueles que se referem ao elemento humano, a sua psicologia e orientação ideológica, aos seus hábitos, à sua conduta quotidiana. Nem ao papel nefasto que joga o elemento adicionado à última hora e este processo de mudança; aqueles que saltaram cinicamente para o carro da vitória eleitoral. Nem tão-pouco à ampla capa não só de oportunistas políticos, de aqueles, até piores, em só pensam no seu benefício pessoal, não só ilícito como muitas vezes atinge proporções escandalosas. Quando se pensa neste conjunto de detalhes vemos quão distantes estamos do aparecimento do homem novo, não só individual, mas como sujeito colectivo.
Miguel Urbano abordou este tema do homem construtor do socialismo levantando profundas interrogações. Inferimos do seu trabalho que o que primeiro há a despejar são as ideias românticas e apressadas acerca do homem novo. Sua formação, como tal, exige muito tempo e sobretudo implica aquele ideal das sociedades socialistas avançadas: o paulatino desaparecimento das diferenças de classe. Chegar ao sonho da igualdade – uma das aspirações socialistas que se menciona pouco – se a intui como alta e difícil de alcançar, a partir do estado da pessoa actual e a partir sobretudo da sua consciência.
A observação, de Urbano, acerca de que passada a época gloriosa e romântica dos momentos estelares de uma revolução, as gerações que a conhecem pela história e às vezes a conhecem mal, não actuam como o prescreveria a sua pertença a uma sociedade em que vai desaparecendo a exploração do homem pelo homem e, objectivamente, se vive melhor que na sociedade capitalista, é difícil de responder. Atrevemo-nos a pensar que uma das alavancas para a alcançar é uma crescente democracia e a crescente participação pessoal no trabalho e nas decisões colectivas. Isso levará à forja quotidiana do homem novo, fenómeno que não se dá da noite para o dia e que tem de entender, por sua vez, que no próprio desenvolvimento vivencial, cultural, etário e biológico da personalidade em permanente dinâmica e mudança.
Para finalizar o caso boliviano, um aspecto que merece uma análise detalhada é a correlação e o estado das forças políticas. Na direita clássica e na neo-direita, sucedânea da neo-esquerda dos anos 70, houve grandes remodelações. Provocaram o virtual desaparecimento dos partidos, terríveis cisões e em geral o derrube do conjunto das suas ideias neo-liberais. Sobre isto, repetimos o que disse em seu tempo Almaraz: possuem “ideias (tão escassas) que cabiam numa casca de noz”. Porém o importante é examinar cuidadosamente os seus reagrupamentos e sobretudo as suas novas poses. Uma dirigente camponesa caricaturava a situação desta maneira: “a direita agora veste-se de ponchos e [ojotas]”.
Trespassando as trincheiras da direita é óbvio que não passamos por alto o que não é uma simples trincheira, mas sim uma fortaleza: a bateria dos meios de comunicação ao seu serviço e que trabalham a toda a força distorcendo a informação, desinformando, semeando estereótipos negativos, avivando preconceitos e incitando a manifestações e acções que deteriorem ou prejudiquem o processo. Infelizmente a resposta do governo e da esquerda é insuficiente e muitas vezes inadequada. Estas duas trincheiras citadas, há que o sublinhar, estão grandemente suportadas por ajudas estrangeiras milionárias. Como nunca se evidenciaram os movimentos de entidades como a USAID que opera através de milhares de tentáculos como as Organizações Não Governamentais.
Completa, na generalidade, a tarefa política chega a parte correspondente à mudança da própria estrutura da sociedade, da sua base. Sem a transformação necessária de esta estrutura, toda a mudança política pode dar em nada. Ainda mais, pode ser sucedida por um processo contra-revolucionário. A experiência internacional nesta matéria é muito amarga para os trabalhadores, para os povos que a sofreram. É sobre esta questão da proposta económica que deve haver a maior clareza, mais exactamente a maior lucidez de consciência política.
Nesta matéria não cabem as ambiguidades nem a substituição dos objectivos nem a mudança de uma planificação científica por ideias utópicas. O desenvolvimento nacional soberano, integrado na ALBA e em benefício dos trabalhadores e do povo boliviano é a meta inequívoca, o objectivo invariável do processo de mudança, se queremos converter este numa revolução verdadeira e não numa mera reforma progressista. Efectuar realmente o que chamamos o Resgate da Pátria, rumo ao Socialismo. Obviamente o processo de mudança não nos levará às metas fixadas num período curto. Há que despojar-se de todo o tempo de ilusões, de falsas ideias acerca da construção de uma nova sociedade. Ao socialismo chegaremos, só atravessando – com sabedoria, com flexibilidade, sem dogmatismos nem desvios, contemplando a própria realidade – é difícil, às vezes caminho tortuoso, da transição do capitalismo ao socialismo. Mas antes de mais necessitamos de unidade popular e organização.

* Marcos Domich, Professor da Universidade de La Paz, é amigo e colaborador de odiario.info.