Escrito por Lucio Carvalho no Correio da Cidadania | |
A universalização do atendimento escolar, preconizada como a segunda
grande diretriz do Plano Nacional de Educação (PNE) 2011-2020, enviado
ao Congresso Nacional em fins de dezembro (15/12) pelo ministro Fernando
Haddad, do MEC, enfrenta desde já um importante desafio pelo menos no
que se refere à educação especial. Caberá aos deputados federais
eleitos, que assumem suas funções em 1º de fevereiro de 2011, conhecer,
analisar e decidir pelo PNE e também sobre proposta de Decreto
Legislativo que visa anular a aplicação de regulamentação proposta pelo
Conselho Nacional de Educação (CNE) no que diz respeito à matrícula de
estudantes com deficiência nas classes comuns do ensino regular.
É o que pretende o PDC-2846/2010 (http://www.camara.gov.br/internet/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=485598),
de autoria do Deputado Eduardo Barbosa (PSDB-MG), também é presidente
da FENAPAES - Federação Nacional das APAES (Associações de Pais e Amigos
dos Excepcionais). Barbosa alega a inconstitucionalidade da Resolução
4/10 da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação
(CBE/CNE) e propõe anular o artigo da resolução que trata do caráter
complementar e/ou suplementar do atendimento educacional especializado,
justificando que alunos com deficiência possam receber exclusivamente a
educação oferecida pelas escolas especiais, deixando de freqüentar o
espaço comum das escolas regulares, tendo em vista que o projeto de
decreto visa tão somente a suspensão do efeito da norma expedida pelo
CNE e publicada pelo ministro Fernando Haddad em julho de 2010 e a
obrigatoriedade dos sistemas de ensino em matricular alunos com
deficiência.
A principal barreira legal que o projeto do Deputado Barbosa vai
encontrar pelo caminho é a legislação federal atual, que incorporou com
força de emenda constitucional a Convenção sobre os Direitos da Pessoa
com Deficiência e que assegura, em seu Art. 24, um sistema educacional
inclusivo em todos os níveis e prevê que todos os apoios necessários
sejam dirigidos à inclusão plena dos indivíduos na sociedade. A proposta
ainda impacta o desejo da Conferência Nacional de Educação (CONAE) que
confirmou em abril de 2010 o sentido de universalização a partir da
instituição de uma escola unificada.
Avanço nas matrículas e na qualificação
O último ano foi o segundo em que o número de alunos com deficiência
matriculados em classes comuns do ensino regular superou as matrículas
em escolas especiais. De acordo com o Censo Escolar 2010, o número de
alunos com deficiência matriculados em todos os sistemas de ensino
aumentou cerca de 10% e, segundo o INEP, isso resulta de uma maior
presença social através do desenvolvimento da educação inclusiva.
Por todo o país, dezenas de cursos envolvendo professores e gestores na
área de educação aconteceram no sentido de qualificar a escola comum
como um espaço efetivamente democrático e capaz de atender às diferenças
inerentes a população de alunos, seja através dos poderes públicos
municipais e estaduais como no meio universitário, atingindo novos
profissionais da educação.
Muitas escolas especiais, inclusive algumas APAES, redimensionaram sua
forma de atendimento e passaram a atuar em regime de colaboração com a
escola regular. Elas oferecem, no contraturno, o atendimento educacional
especializado (AEE), que é um serviço disponibilizado aos alunos com
deficiência também pelas próprias escolas e constitui a base da Política
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva,
sustentada pelo MEC e recentemente regulamentada pelo CNE.
Resistências não são novidade
Não são exatamente novidade as resistências em torno da atual política
de inclusão. Além das escolas especiais, que vêem seus recursos
ameaçados e seus serviços com uma clientela cada vez menor, também
muitas escolas particulares ainda rejeitam essa nova perspectiva de
atendimento. Mesmo sendo integrantes do sistema geral de ensino e
obrigadas a cumprir a legislação educacional em vigor, ainda são muito
freqüentes situações de constrangimento às famílias de crianças com
deficiência que encontram dificuldade inclusive para matricular seus
filhos e imposições contratuais desiguais, como obrigações de pagamentos
adicionais e outras necessidades específicas negociadas em particular.
Sob o pretexto de aumentar custos em decorrência de necessidades não
habituais, cria-se um espírito de animosidade que vai encontrar solução
muitas vezes judicialmente. O judiciário, por sua vez, ainda vem
assimilando os valores expressos na nova ordem constitucional sobre o
tema e o resultado disso são prejuízos desnecessário à população, que
apenas quer ver cumpridos os seus direitos. As decisões judiciais,
entretanto, cada vez mais têm favorecido aos cidadãos e também o
Ministério Público tem agido como indutor de políticas públicas,
orientando e fiscalizando tanto escolas públicas quanto privadas, em
todas as modalidades de ensino.
No legislativo, o tema tem sido objeto de disputa e debates há pelo
menos dez anos, desde que o MEC assumiu posição em prol da educação
inclusiva e despertou a reação das escolas especiais, principalmente
através da FENAPAES. Desde então, o debate ganhou importância na
comunidade escolar, no meio acadêmico e também na cobertura
jornalística, escapando do discurso especializado e ganhando relevância
na sociedade de um modo geral.
Em dezembro, o Senado Federal promoveu o 6º Fórum Senado Debate Brasil,
com o objetivo de capacitar os agentes legislativos a observar e
efetivar os princípios propostos na Convenção sobre os Direitos da
Pessoa com Deficiência. Resta saber se o legislativo que irá tomar posse
em fevereiro próximo irá acompanhar a vontade pública expressa na CONAE
e no PNE e respeitar a hierarquia legal em vigor no Brasil ou se irá
prevalecer o desejo de quem quer voltar atrás na implementação da
educação inclusiva, abrindo brechas para que crianças com deficiência e
suas famílias voltem a submeter-se à exclusão precoce do convívio social
escolar e alijando-as do direito indisponível à educação e participação
plena na sociedade.
Lucio Carvalho é coordenador da revista digital Inclusive: inclusão e cidadania (http://null/www.inclusive.org.br
Contato:
lucioscjr@uol.com.br
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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
Educação e inclusão: ano-velho ou ano-novo?
2010 - pior ano para a Reforma Agrária nos oito anos de Governo Lula
Comissão Pastoral da Terra
Os
constantes elogios dos media alcunhados de referência a Lula e ao
Brasil “emergente”, “à potência emergente”, não reflectem a realidade
mas apenas o juízo que o capital faz dela:
“No Brasil, não poderá haver desenvolvimento alternativo, democrático e
sustentável sem uma reforma agrária intensa e extensa. Atualmente, todo o
Mundo se volta para as questões do meio ambiente e à necessidade de
salvar o planeta. A reforma agrária e a agricultura familiar e camponesa
são partes essenciais desse esforço inadiável para se alcançar a
sustentabilidade desejada na agricultura, na produção de alimentos e nos
modelos produtivos. Igualmente nessa parte, o Governo Lula beneficiou o
latifúndio no debate, na formatação e na tramitação do projeto do novo
Código Florestal.”
Ao
fim de mais um ano, que representa o encerramento de dois mandatos do
Presidente Lula, os desafios e impasses históricos da Reforma Agrária no
Brasil não foram superados. Em 2010, vimos a redução de 44% do número
de famílias assentadas, com relação ao ano passado, além da redução de
72% no número de hectares destinados à Reforma Agrária. O Incra
tornou-se ainda mais ineficaz com o seu orçamento reduzido em quase a
metade em relação a 2009.
Os números deste último ano da Era Lula explicitam: a Reforma
Agrária não foi uma prioridade para o Governo Federal. A Reforma Agrária
que deveria ser assimilada enquanto um Projeto de nação e de
desenvolvimento sustentável, transformou-se em um precário programa de
assentamentos, em nível bastante aquém das reais demandas dos homens e
mulheres do campo.
Balanço da Reforma Agrária 2010
2010, que encerra a chamada Era Lula, foi o pior ano para a Reforma
Agrária brasileira nos últimos 08 anos. A realidade é que a promessa do
Presidente Lula de fazer a Reforma Agrária com uma canetada não foi
cumprida.
A situação dos camponeses e trabalhadores rurais é bastante grave! O
campo exige mudanças a favor da cidadania, do desenvolvimento
sustentável, contra a concentração de terra e contra o fortalecimento do
já poderoso agronegócio brasileiro!
Em 2010, houve uma redução das famílias assentadas em 44% com
relação ao ano passado, o qual já foi bastante insuficiente diante das
promessas e dos deveres de um governo de fazer a Reforma Agrária e,
sobretudo, diante das necessidades das famílias camponesas.
Também ocorreu neste ano uma drástica redução de 72% no número de
hectares destinados à Reforma Agrária, conforme os números divulgados
pelo próprio Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra). Não é exagero afirmar que em 2010 houve uma intensa estagnação
no processo de Reforma Agrária em todo o País.
De fato, o orçamento do Incra foi reduzido em quase a metade em
relação ao ano passado. Esse profundo corte dos recursos confirma que a
Reforma Agrária não foi uma prioridade para o Governo Federal. O quadro
se agravou ainda mais porque, além do corte, o orçamento destinado para a
Reforma Agrária neste ano se encerrou no mês de junho e o Governo nada
fez para evitar que o Congresso Nacional vetasse a suplementação
orçamentária. O dinheiro que já era pouco, faltou por quase um semestre.
A Reforma Agrária, como um conjunto de medidas estratégicas para
enfrentar a concentração da propriedade da terra e para promover um
desenvolvimento sustentável e igualitário no campo, transformou-se em
um precário programa de assentamentos, em nível bastante aquém das
próprias promessas do II Plano Nacional de Reforma Agrária.
É lamentável que o Governo Lula, nestes oito anos, tenha relegado
esta pauta à periferia das políticas públicas e tenha consumado uma
surpreendente opção preferencial pelo agronegócio e pelo latifúndio.
A histórica disputa no Brasil entre dois projetos para o campo
brasileiro está sendo desequilibrada em favor dos poderosos de sempre.
De um lado, se favorece com recursos públicos abundantes o agronegócio
agroexportador e destruidor do planeta. De outro lado, praticamente se
relega a um plano inferior a agricultura familiar e camponesa que é
responsável pela produção dos alimentos, do abastecimento do mercado
interno e pelo emprego de mais de 85% da mão-de-obra do campo, segundo o
último Censo agropecuário de 2006.
Com a expansão do setor sulcroalcooleiro e maior investimento
governamental para a produção de etanol, os números de trabalhadores
encontrados em situação de escravidão subiram significativamente. Na era
FHC, cerca de cinco mil trabalhadores e trabalhadoras foram libertados
do trabalho escravo no campo. Na Era Lula esse número sobe drasticamente
para 32 mil. Atribuímos este aumento a uma maior atuação do Grupo Móvel
de combate ao Trabalho Escravo, pressionados por uma maior mobilização
social em torno do tema, criações de Campanhas, denúncias nacionais e
internacionais (OIT), visibilidade na imprensa, a criação da lista suja,
além de outros mecanismos jurídicos como a alteração da definição penal
do crime de Trabalho Escravo (TE), no art. 149.
No caso dos territórios quilombolas a situação é a mesma. Com
efeito, não houve vontade política em demarcar os territórios
quilombolas, além de o Incra não dispor de pessoal capacitado e de
estrutura para promover o procedimento de titulação e de elaboração de
relatórios técnicos, mantendo-se inerte diante dessa dívida histórica
com o povo dos quilombos, remanescente ainda sofrido da odiosa
escravidão.
Como resultado disso, são insignificantes os dados divulgados pelo
Instituto, que revelam que o Governo Lula chega ao seu último ano
emitindo apenas 11 títulos às comunidades quilombolas. Número bastante
irrisório diante da demanda de mais de 3.000 comunidades em 24 estados
brasileiros.
Também nessa questão, o agronegócio tem exercido pressões contrárias
à titulação das terras e, infelizmente, o Governo tem sido mais
sensível a essas pressões e interesses do que ao seu dever maior de
fazer justiça às comunidades quilombolas. Setores políticos ligados ao
agronegócio articularam uma instrução normativa que não mais respeita o
direito de autoidentificação, conforme preconiza a Convenção 169 da
Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o Decreto 4887/03.
A postura do Governo Federal foi ainda mais lamentável quando a Casa
Civil passou a reter todos os processos de regularização territorial
dessas comunidades, embora o Supremo Tribunal Federal tenha negado o
pedido liminar do DEM na ADIN que pretende julgar inconstitucional o
decreto que regulamenta a matéria.
Na Reforma Agrária, como nos remanescentes dos quilombos,
lamentavelmente, o governo Lula manteve o passivo de conflitos de terra
recebido do Governo anterior. A atual política econômica é uma aliada
das empresas transnacionais, mineradoras e do agronegócio e, assim,
penaliza cada vez mais a agricultura familiar e camponesa.
Embora as ocupações de terra tenham diminuído em alguns Estados nos
últimos anos, em especial em 2010, o número de famílias envolvidas na
luta pela terra na Era Lula, não é tão distante do da Era FHC (570 mil
famílias, 3.880 ocupações). Os dados do governo Lula, relativos aos dois
mandatos, ainda não foram fechados, mas estimativas indicam a
participação de cerca de 480 mil famílias em 3.621 ocupações de Terra ao
longo desse período (dados do Núcleo de Estudos, Pesquisa e Projetos de
Reforma Agrária - NERA).
No Sertão Nordestino também são visíveis os efeitos perversos desse
abandono de prioridade das políticas públicas. Tem se intensificado o
crescimento do agronegócio e da mineração, com o decisivo apoio dos
Governos Federal e Estaduais, através de ações e de recursos públicos. É
o que vem ocorrendo na região do Vale do Açu e na Chapada do Apodi, no
Rio Grande do Norte, no alto sertão paraibano e no sertão pernambucano.
Todos são projetos de mineração, de fruticultura irrigada, com uso
intensivo de agrotóxicos, com a degradação do meio ambiente e,
sobretudo, com a irrigação custeada por recursos públicos para atender
prioritariamente às grandes empresas e não aos pequenos produtores.
Em todos esses grandes Projetos, os resultados imediatos na geração
de empregos e de investimentos mascaram um futuro nada sustentável, com a
geração de danos à saúde das pessoas e ao meio ambiente, bem como com a
intensificação da concentração de renda e de terras, com graves
impactos nas populações tradicionais.
Com esses moldes e parâmetros, o projeto de transposição das águas
do Rio São Francisco, que o governo tanto divulga e festeja, é mais um
Projeto que só vai beneficiar o agro-hidronegócio e que trará impactos
negativos para as comunidades tradicionais, como os indígenas,
quilombolas e ribeirinhos. Na região de Curumataú e Seridó paraibano, a
exploração das atividades de mineração só fez aumentar a grilagem de
terras e a expulsão das famílias que há décadas moram e plantam na área.
Na Zona da Mata pernambucana, o Governo Federal não questionou o
domínio territorial do decadente agronegócio canavieiro. Nem a tragédia
ambiental, com a inundação de dezenas de cidades em Alagoas e
Pernambuco, em decorrência da devastação provocada pela cana de açúcar,
sensibilizou os Governos Federal e Estadual.
Embora o IBAMA tenha ajuizado ações civis públicas para obrigar as
Usinas de Açúcar e Álcool de Pernambuco a repor os seus passivos
ambientais, a forte pressão do setor e o apoio do Ministério Público
Federal, fez com que houvesse uma trégua da Justiça para com essas
Empresas seculares, enquanto a população mais pobre perdia tudo que
tinha na devastadora enchente de 2010.
Diante desses fatos, a reconstrução das cidades está se dando em
áreas desapropriadas das Usinas, sem que qualquer medida preventiva ou
estrutural de recomposição da Mata Atlântica destruída tenha sido
tomada.
No que se refere à aquisição de terras por estrangeiros, o Governo
Federal perdeu o controle que existiu de 1971 até 1994 e deu
continuidade à política de FHC, com a permissão de compras de extensas
áreas de terras por empresas estrangeiras ou brasileiras controladas por
estrangeiros.
Apenas em 2010, a Advocacia Geral da União reviu seu parecer e
passou a entender que a venda de terras brasileiras a estrangeiros ou
empresas brasileiras controladas por estrangeiros, estaria limitada ao
máximo em cinco mil hectares, cuja soma das áreas rurais controladas por
esses grupos não poderia ultrapassar 25% da superfície do município.
A decisão veio tardia e foi ineficaz, além de consolidar todas as
aquisições anteriormente realizadas, configurando-se uma medida de
extrema gravidade e atentatória à soberania nacional, ao manter sob
domínio estrangeiro áreas próximas às fronteiras e na região amazônica.
Assim, no governo Lula, pouco há a comemorar em favor da agricultura
camponesa. Mas temos o dever de registrar essas exceções para estimular
a sua multiplicação. Por exemplo, o Programa Nacional da Agricultura
Familiar (PRONAF) e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária
(Pronera) foram transformados em políticas públicas permanentes, através
de decretos assinados por Lula.
Um outro fato positivo foi a reestruturação da Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab), que praticamente não existia e que virou um
instrumento importante para a comercialização da agricultura familiar e
camponesa.
Também é merecedor de reconhecimento que o Governo Federal tenha
deixado de ser um agente ativo na criminalização de trabalhadores
sem-terras, de suas lideranças e de seus movimentos. O que dificultou os
esforços do agronegócio junto à Justiça, um poder que pouco tem
melhorado nesses anos, no trato das questões agrárias e no
reconhecimento dos direitos de cidadãos humildes e explorados.
Diante da existência dessas poucas ações importantes e positivas, em
contraste com a abundância do mau desempenho do Governo Lula na Reforma
Agrária, o próximo governo tem que ter um posicionamento firme, com
ações concretas, nas questões estratégicas da Reforma Agrária, a
exemplo de (1) assumir efetivamente a vontade política de realizar a
reforma agrária e de defender a agricultura familiar e camponesa; (2)
ter um orçamento compatível e do tamanho das demandas, da dignidade e
dos direitos do povo do campo; (3) propor um modelo que priorize a
soberania alimentar baseado na produção camponesa; (4) Limitar o tamanho
da propriedade da terra; (5) assegurar a aprovação do Projeto de Emenda
Constitucional (PEC) 438/2001 PEC, que prevê o confisco de terras de
escravagistas; (6) garantir a demarcação das terras indígenas e
Quilombolas; (7) promover a aferição da função social da terra pelos
vários pontos fixados pela Constituição Federal; (8) atualizar, enfim,
os índices de produtividade.
No Brasil, não poderá haver desenvolvimento alternativo, democrático
e sustentável sem uma reforma agrária intensa e extensa. Atualmente,
todo o Mundo se volta para as questões do meio ambiente e à necessidade
de salvar o planeta. A reforma agrária e a agricultura familiar e
camponesa são partes essenciais desse esforço inadiável para se alcançar
a sustentabilidade desejada na agricultura, na produção de alimentos e
nos modelos produtivos. Igualmente nessa parte, o Governo Lula
beneficiou o latifúndio no debate, na formatação e na tramitação do
projeto do novo Código Florestal.
O período que agora se encerra com o final do segundo mandato do
Presidente Lula, produziu resultados evidentes na formação de
Consumidores, mas não na formação de Cidadãos. Os desafios são imensos
para que a migração que ocorreu entre as classes sociais não seja
meramente provisória. Na verdade, o fato positivo de poder consumir é
apenas uma parte da cidadania, a qual somente se estabiliza com o acesso
ao conhecimento, à educação, à terra, às condições de nela produzir,
dentre outros atributos que o Governo Lula não soube, nem quis assegurar
ao povo do campo.
Assim, diante das demandas da reforma agrária e da agricultura
familiar e camponesa, é imensa a missão da Presidenta da República
recentemente eleita. Com o apoio da maioria do Congresso Nacional, a
futura Presidenta efetivamente terá, nesses campos estratégicos, a
missão de fazer a Reforma Agrária que nunca foi feita no Brasil.
Educação para erradicação da miséria
Especialistas afirmam que compromisso da
presidenta Dilma Rousself só será concretizado com a redução das
desigualdades e qualificação para a população pobre
Felipe Prestes Sul 21
A
erradicação da miséria é uma das metas da presidenta Dilma Rousseff,
que já anunciou a criação de um PAC para cuidar desta missão. Para que
todos os brasileiros tenham condições de viver com dignidade,
especialistas apontam que o governo federal terá de dar atenção especial
às desigualdades regionais. Os estudos mais recentes mostram que as
zonas rurais das regiões Norte e Nordeste ainda são importantes bolsões
de miséria. Mas a pobreza extrema é também um problema em todo o país,
especialmente nas áreas periféricas das grandes cidades. Nestas
localidades o desenvolvimento econômico já chegou, mas não incluiu a
todos. É preciso apostar, principalmente, na qualificação destes
excluídos, por meio da educação.
Os estudos mais
recentes mostram que as regiões Norte e Nordeste ainda apresentam as
maiores incidências de miserabilidade. Estados como Alagoas e Maranhão
em 2008 apareciam ainda com mais de 30% de extremamente pobres segundo
pesquisas de instituições como o IPEA e o Centro de Políticas Sociais da
FGV. O estudo “Geografia da Pobreza”, da FGV, aponta que o Nordeste, em
2008, tinha 30,69% de miseráveis (cerca de 16 milhões de pessoas), e o
Norte, 19,07% (pouco mais de três milhões de cidadãos), considerando a
faixa de miséria ter renda domiciliar per capita abaixo de R$ 137.
Entretanto,
em números absolutos, a região Sudeste é a segunda região com mais
pobreza extrema. Os 9,68% de miseráveis no Sudeste significam quase oito
milhões de pessoas. E as regiões Sul e Centro-Oeste também apresentam
números significativos de extremamente pobres. O Sul tem cerca de dois
milhões de miseráveis (7,29%), e o Centro-Oeste, 1,5 milhão de cidadãos
(10,49%).
“Do ponto de vista da presença de
pessoas pobres no total de sua população, o Norte e o Nordeste são as
regiões com maiores bolsões. Por outro lado, é necessário considerar que
mesmo as regiões ricas como São Paulo ainda tem um contingente absoluto
de pobres considerável”, afirma Márcio Pochmann. Ex-diretora da Sudene e
integrante do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social durante os
oito anos de Governo Lula, a economista Tânia Bacelar chega a conclusão
semelhante. “A pobreza no Brasil tem dois endereços: o Norte e o
Nordeste, em especial na zona rural, e as grandes cidades em todo o
país”.
Desigualdade histórica
Bacelar
e Pochmann também concordam no diagnóstico para os altos índices de
pobreza extrema nas regiões Norte e Nordeste. Segundo ambos, o olhar
especial dado pelo Governo Lula a estas regiões não foi suficiente para
colocá-las em igualdade com as demais, porque a desigualdade histórica
era muito grande. “Na transição de um país rural para a sociedade urbana
e industrial nós tivemos uma concentração das oportunidades econômicas
nas regiões Sul e Sudeste do país. Nos anos setenta tivemos uma expansão
da fronteira agrícola que permitiu ao Centro-Oeste ser o celeiro
agroalimentar brasileiro. As regiões Norte e Nordeste convivem ainda com
mazelas herdadas deste baixo dinamismo historicamente acumulado”,
explica Pochmann.
“No século XX o Nordeste perdeu
o trem do desenvolvimento industrial. Não houve investimentos em
infraestrutura e em ciência e tecnologia”, afirma Tânia Bacelar. A
economista diz que o presidente Lula “deu um empurrão” para a região ao
realizar investimentos, como a construção de estradas, da ferrovia
Transnordestina e a transposição do Rio São Francisco. Além disso, a
Petrobras passou a ter no Governo Lula atuação bem mais significativa no
Nordeste. Bacelar explica ainda que as políticas sociais como o
Bolsa-Família tiveram grande impacto nas regiões menos desenvolvidas do
país.
Desenvolvimento regional e qualificação
Para
o presidente do IPEA, Márcio Pochmann, após o avanço das políticas
sociais de âmbito nacional, o país está diante de um ‘núcleo duro’ da
pobreza, que precisa ser combatido com foco em políticas regionais em
paralelo às políticas nacionais. “Estamos observando uma convergência
entre expansão econômica e melhor repartição destes ganhos na sociedade.
Mas para os próximos anos, a continuidade desta trajetória implica em
maior sofisticação das políticas públicas, considerando que estaremos
diante de um núcleo duro da pobreza extrema. É preciso ter em vista
especificidades regionais, é difícil chegar a esta pobreza consolidada
em determinados lugares”, afirma o presidente do IPEA Márcio Pochmann.
Para o pesquisador, o compromisso político assumido por Dilma Rousseff
só será concretizado se for feito um esforço comum entre o governo
federal, os poderes executivos estaduais e municipais, e a sociedade
civil.
Segundo o estudo “Geografia da Pobreza”,
da FGV, em 2008, mais de 34% dos moradores de áreas rurais no país
estavam abaixo da linha da miséria. Tânia Bacelar afirma que esta
questão se aprofunda ainda mais nas regiões Norte e Nordeste. “Há um
hiato em termos de padrão de vida, especialmente entre as zonas rural do
Norte e do Nordeste e o resto do país. Na zona rural do Nordeste há,
por exemplo, 33% de analfabetismo enquanto a média nacional é de 9%”. A
doutora em economia aponta que há também em outras regiões do país
localidades com menor dinâmica produtiva.
No Rio
Grande do Sul, isto se aplica às metades Sul e Oeste do estado e, em
especial, à Região Noroeste. O economista da FEE Adelar Fochezatto
explica que os últimos dados que mostram índices de pobreza por
município do estado se baseiam no censo de 2000. Entretanto, os dados do
censo de 2010 já mostram que há um êxodo populacional nestas regiões, o
que dá fortes indícios de que elas continuam sendo as regiões com maior
índice de pobreza extrema.
Fochezatto ressalta,
contudo, que o maior número de pessoas abaixo da linha da pobreza
extrema está mesmo na Região Metropolitana de Porto Alegre. “A
participação de famílias pobres no total de famílias dos municípios é
maior na Região Noroeste. Mas o número é pequeno na Região Noroeste,
porque são municípios pequenos. Se a gente for pensar onde estão os
pobres em números absolutos, eles estão na Região Metropolitana”.
Fochezatto
explica as diferenças entre a miséria da Grande Porto Alegre e a das
regiões menos desenvolvidas do estado. “A gente pode falar de dois tipos
de pobreza. A pobreza por insuficiência de desenvolvimento, lá daquela
região (Noroeste), por exemplo. As pessoas são pobres porque não têm
alternativa. Já a pobreza da Região Metropolitana é decorrente de
exclusão do processo de desenvolvimento. O desenvolvimento não incorpora
todo mundo. Muitos ficam excluídos. Boa parte destes excluídos sai,
inclusive, das regiões de menor desenvolvimento”.
A
explicação de Fochezatto, não é diferente do que diz Tânia Bacelar. “No
meio urbano, geralmente você tem pessoas (abaixo da linha de pobreza
extrema) que não têm qualificação para se inserir vida da cidade, que
não tiveram oportunidade. Em regiões menos desenvolvidas, as pessoas até
têm ocupação, mas a atividade econômica é muito frágil”, explica a
ex-diretora da Sudene.
Para Fochezatto, as ações
para combater a pobreza extrema precisam ser no sentido de levar o
desenvolvimento para regiões de economia retraída. “Lá é preciso pensar
em empreendedorismo. Criar e atrair empresas, fazer convênios para
produção de merendas escolares no campo. Alternativas para promover o
emprego”. Nas grandes cidades, segundo o economista, é preciso investir
na qualificação da mão-de-obra e em criar frentes de trabalho,
investindo, por exemplo, em obras públicas.
O
investimento em educação é um dos pontos-chave para a redução da miséria
segundo Adelar Fochezatto. Um estudo recente da FEE, em parceria com a
Secretaria de Justiça e Desenvolvimento Social do estado, mostrou que a
pobreza extrema aparece no Rio Grande do Sul em maior número entre os
jovens de até 20 anos e em entre os que têm menores índices de
escolaridade. “Fazer com que estes jovens se mantenham na escola e
tenham ensino de qualidade é um dos grandes desafios”, aponta.
Como medir a pobreza
Uma
das intenções da presidenta Dilma é criar uma linha oficial de miséria
no país. O presidente do IPEA, Márcio Pochmann, foi um dos que sugeriu a
criação do índice. “O critério é subjetivo. O que é miserabilidade? A
gente (do IPEA) tem um critério, um quarto de salário mínimo per capita,
outros têm outros valores”, explica.
Um dos
índices é o dos Objetivos do Milênio das Nações Unidas, de um dólar per
capita por dia – valor bem menor que os utilizados pelo IPEA e por
outros institutos de pesquisa. Foi com base neste valor da ONU que o
governo federal conseguiu retirar 28 milhões de pessoas da linha da
miséria, o que não deixa de ser um grande feito. Pelo IPEA, os números
são mais modestos. Entre 1995 e 2008, 13,1 milhões de brasileiros
deixaram a pobreza extrema, segundo o instituto.
Mas
um índice oficial de pobreza não é para saber se quem divulga dados
está mais ou menos correto, e sim para que o governo possa estabelecer
políticas para uma faixa determinada de pessoas. “Há governos que têm
uma linha oficial de pobreza, como é o caso dos Estados Unidos. Pode-se
achar que está errado, mas é sobre estes que o governo vai tratar como
prioridade. Do ponto de vista do governo, o que interessa é ter um
horizonte para que estabeleça qual é o segmento sobre o qual vai atuar
de maneira mais privilegiada e para ter condições de saber se esta
interferência é exitosa”, explica Pochmann.
Uma
questão a ser analisada é que os índices que são geralmente utilizados
para medir pobreza se baseiam apenas na renda. Assim, se o Brasil
erradicar a miséria isto não significa que não haverá mais brasileiros
analfabetos, ou vivendo ao lado de esgoto a céu aberto, por exemplo. E
os serviços públicos costumam demorar mais para chegar do que a renda.
“Os programas de transferência são os programas geralmente de menor
custo, porque é tão somente a transferência da renda. Agora, um programa
de saúde, por exemplo, precisa do equipamento necessário para operar,
pessoas qualificadas”, explica Pochmann.
Ainda
assim, o pesquisador defende que os indicadores de renda são eficazes
para que mostrar quem vive em situação de vulnerabilidade social. “O
indicador de renda é o indicador mais fácil de você identificar onde
estão os pobres e os mais pobres entre os pobres. É claro que a pobreza
não é só uma questão de renda. Mas você observando, atuando sobre
aqueles que menos recebem, certamente estará atuando sobre os que têm
mais dificuldades de acesso a outros aspectos que podem definir a
pobreza de maneira mais ampla”, diz o presidente do IPEA.
Tânia
Bacelar acredita que o governo federal deve utilizar vários índices
para considerar a pobreza e a miséria. Ela ressalta, por exemplo, que o
programa Luz Para Todos foi, para muitas pessoas, mais importante que o
Bolsa-Família. “Acho que podemos ampliar o conceito de pobreza. Concordo
que a renda é o aspecto prioritário, já que ela é necessária até para
que se possa comer. Só que a pobreza é muito mais do que a renda. O
pobre pode morrer, por exemplo, de uma doença que já não mata quase
ninguém”.
domingo, 16 de janeiro de 2011
Paulo Bernardo, a regulação da mídia e o novo Ministério das Comunicações
Por Idelber Avelar em seu blog
Já de cara, me chamou a atenção uma declaração de Paulo Bernardo acerca do debate que envolve a regulação da mídia: não podemos controlar o grau de beligerância com que vai se dar essa discussão. A tendência, sabemos, é que se acentue a beligerância. Por um lado, grande parte da mídia brasileira tem horror a ouvir falar de “regulação”, e faz o possível para associar a ideia à “censura”, mesmo que já seja amplamente sabido que regulação não tem absolutamente nada a ver com controle prévio do que pode ou não ser publicado ou mesmo televisionado. Por outro lado, na base de sustentação do governo, há uma compreensível tendência a se radicalizar: produto da frustração com décadas de mídia concentrada e alinhada com os mais poderosos. Essa radicalização tem levado, em algumas comarcas, a estratégias que considero equivocadas, como a de se criticar a cautela do Ministro com o tema, como se o governo estivesse se acovardando.
Em dezembro, alguns dias antes da confirmação de Paulo
Bernardo, enviei um tuíte celebrando o “cheiro de araucária” num
renovado Ministério das Comunicações, de “tato e firmeza”. Estas duas
características, aparentemente contraditórias, são as que considero
fundamentais para o Ministério neste momento histórico. O petista
paranaense assumiu aquela que será a pasta politicamente mais difícil do
novo governo, e tudo o que vi até agora do Ministro—a quem acompanho há
algum tempo—fortalece a minha ótima expectativa inicial. Ele esteve
ontem no programa 3 por 1,
apresentado pelo jornalista Luiz Carlos Azedo. Os outros
entrevistadores eram Elvira Lobato, da Folha de São Paulo, e Samuel
Possebon, da Revista Teletime.
Já de cara, me chamou a atenção uma declaração de Paulo Bernardo acerca do debate que envolve a regulação da mídia: não podemos controlar o grau de beligerância com que vai se dar essa discussão. A tendência, sabemos, é que se acentue a beligerância. Por um lado, grande parte da mídia brasileira tem horror a ouvir falar de “regulação”, e faz o possível para associar a ideia à “censura”, mesmo que já seja amplamente sabido que regulação não tem absolutamente nada a ver com controle prévio do que pode ou não ser publicado ou mesmo televisionado. Por outro lado, na base de sustentação do governo, há uma compreensível tendência a se radicalizar: produto da frustração com décadas de mídia concentrada e alinhada com os mais poderosos. Essa radicalização tem levado, em algumas comarcas, a estratégias que considero equivocadas, como a de se criticar a cautela do Ministro com o tema, como se o governo estivesse se acovardando.
A referência à experiência argentina e sua ley de medios
pode ser uma rica comparação, mas pode também nublar, mais que
esclarecer, caso essa experiência vire um fetiche. Nos últimos dias, ao
ver no Twitter a pergunta o Ministro é ou não é a favor da ley de medios?
tive a sensação de que muitas vezes não se sabe muito bem do que se
está falando quando se evoca a lei argentina. Afinal de contas, todos os
principais elementos da lei—limitação à propriedade cruzada na mídia,
limitação à concentração, regulamentação do direito de resposta, criação
de uma agência reguladora—têm sido tratados com bastante clareza pelo
Ministro. Faltando a paciência para se ler a íntegra da lei argentina
linkada acima, que se leia pelo menos um breve resumo.
Ver-se-á que o encaminhamento da discussão pelo Ministro está
contemplando a essência do que se convencionou chamar "ley de medios".
Esses temas voltaram a aparecer na entrevista da TV Brasil, na qual o
Ministro: 1) defendeu o fim das concessões de rádios e TVs para
deputados e senadores (apesar da compreensão de que isso seria de
dificílima aprovação no Congresso); 2) defendeu a redução do grau de
concentração de propriedade da mídia, com a ressalva de que o governo
não pode quebrar contratos e não pode enviar ao Congresso leis de efeito
retroativo—ou seja, qualquer ajuste teria que ser feito no momento de
renovação das concessões; 3) defendeu a constituição de uma agência que
opere com autonomia e que se encarregue da regulação da mídia.
Merece todo apoio a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão
(ADO) que move Fábio Konder Comparato contra o Congresso Nacional, pela
não regulamentação dos artigos da Constituição de 1988 que lidam com o
tema. Mas apoiá-lo, e forçar o governo Dilma à esquerda, não implica pressupor que Paulo Bernardo “tem medo da Globo”, inclusive porque essa leitura se nutre de uma falsidade
disseminada pela própria mídia dos oligopólios, a de que o Ministro
teria “enterrado” o projeto de regulação preparado por Franklin Martins
(quando, na verdade, ele simplesmente disse o óbvio, que o projeto deve
ser discutido pela sociedade!).
O Ministro confirmou que a orientação da Presidenta Dilma é que se
trate com atenção o tema das rádios comunitárias—uma área na qual o
governo Lula poderia ter se saído melhor. Paulo Bernardo também falou
longamente sobre o Plano Nacional de Banda Larga, reiterando a
possibilidade de parceria entre a Telebras, o BNDES e os pequenos
provedores para uma massificação considerável do acesso à internet a
bons preços (R$30 a R$35).
A expectativa deste blog para o setor é positiva. A estratégia deve
ser o aprofundamento das iniciativas de democratização, mas sem
simplismos que sugiram que o governo está se acovardando cada vez que o
Ministro coloque o tema em debate com tato e ponderação. Radicalizemos
nós, aqui embaixo, quando for o caso. Mas, de preferência, com a cabeça
no lugar. Este jogo vai durar bem mais de 90 minutos.
Prioridade do governo é reduzir homofobia, diz coordenador LGBT
Novo coordenador nacional LGBT quer radicalizar diálogo com o movimento militante
Gustavo é o novo coordenador nacional LGBT
O advogado gaúcho Gustavo Bernardes é figura
conhecida no movimento militante brasileiro e um dos principais nomes
do Grupo SOMOS – Comunicação, Saúde e Sexualidade, de Porto Alegre. Ele
acaba de assumir a Coordenadoria Nacional de Promoção dos Direitos LGBT e
conversou com a gente sobre o quê de mais importante vem por aí.
Em entrevista ao Mix Gustavo conta como recebeu o convite para o cargo da ministra dos Direitos Humanos e defende um diálogo maior entre governo e movimento militante, que, para ele, conhece melhor do que ninguém o povo LGBT. Ele não deixa de lado a recente onda de homofobia em São Paulo e promete que o combate à intolerância “será a prioridade da Coordenadoria para o ano de 2011”. Confira:mixBrasil
Em entrevista ao Mix Gustavo conta como recebeu o convite para o cargo da ministra dos Direitos Humanos e defende um diálogo maior entre governo e movimento militante, que, para ele, conhece melhor do que ninguém o povo LGBT. Ele não deixa de lado a recente onda de homofobia em São Paulo e promete que o combate à intolerância “será a prioridade da Coordenadoria para o ano de 2011”. Confira:mixBrasil
Como surgiu o convite para ocupar o cargo?
A
ministra Maria do Rosário sempre foi uma grande parceira do movimento
LGBT. Portanto, ela sempre acompanhou meu trabalho no movimento social.
Quando ela foi convidada pela presidenta Dilma Rousseff para ocupar a
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, destacou que
a defesa dos direitos LGBT seriam uma prioridade do seu trabalho. Ela
me convidou para participar da sua equipe por conhecer minha militância e
articulação com o movimento social, o que ela pretende aprofundar no
próximo período. Fiquei muito honrado com o convite e encaro a
Coordenadoria LGBT como um grande desafio já que ela está entre uma das
prioridades da ministra.
Como você pretende usar sua experiência como advogado e militante dentro da Coordenadoria?
Eu
pretendo usar a minha experiência na militância e como advogado no
estreitamento do diálogo com o movimento social, com o Legislativo e
também com o Judiciário. Hoje temos questões importantes para a nossa
população tramitando no Congresso Nacional e no Supremo Tribunal
Federal, o que merecerá grande atenção do Governo Federal.
Quais mudanças serão necessárias para 2011?
O
que temos que fazer imediatamente é reduzir a violência contra a
população LGBT. Essa será a prioridade da Coordenadoria para o ano de
2011.
Quais serão os maiores desafios que a Coordenadoria terá nos próximos anos?
Os
desafios são inúmeros, mas os principais são o enfrentamento à
violência homofóbica, a divulgação do Disque Direitos Humanos - Disque
100, módulo LGBT, e a estruturação e fortalecimento de uma rede de
acolhimento e enfrentamento da violência contra LGBT.
Muitos
LGBT ficaram mais otimistas com a eleição de uma mulher presidente.
Você acredita que com uma presidente a Coordenadoria terá mais espaço,
mais trânsito dentro do governo?
Não só por termos uma
presidenta que já disse que os Direitos Humanos serão prioridade no seu
mandato, mas também por termos uma ministra historicamente comprometida
com a defesa dos direitos humanos da população LGBT. Tenho absoluta
confiança que nós teremos muitos avanços nas políticas para lésbicas,
gays, bissexuais, travestis e transexuais no Brasil.
A Coordenadoria vai atuar na 2ª Conferência Nacional LGBT? Em que sentido?
Em
parceria com o Conselho Nacional LGBT, vamos organizar e realizar a 2ª
Conferência Nacional LGBT, que tem o papel fundamental na formulação de
políticas e prioridades para a nossa área e vai pautar nossa atuação nos
próximos anos.
Como será o diálogo da Coordenadoria com o movimento militante na sua gestão?
O diálogo
com o movimento social é fundamental para que as nossas políticas
estejam sempre atreladas à realidade de lésbicas, gays, bissexuais,
travestis e transexuais. O movimento social tem uma capilaridade que
permite que ele conheça bastante a realidade da nossa população. Nesse
sentido, vamos radicalizar o diálogo com o movimento social e teremos
sempre como nosso parceiro o Conselho Nacional LGBT.
Como você vê o trabalho da militância brasileira atualmente? É preciso melhorar algum ponto?
A
militância brasileira é referência no mundo. Tem qualidade e atua de
forma qualificada nos espaços de intervenção da sociedade civil. Há
pontos que precisamos melhorar, como na questão de convênios e apoios.
Precisamos qualificar a comunicação entre a Secretaria de Direitos
Humanos e a sociedade civil no que tange às parcerias, deixando claro ao
movimento nossos objetivos e limites orçamentários. Queremos ter muita
transparência sobre nossos compromissos e também limitações legais.
Acredito que a criação do Conselho Nacional LGBT facilitará a
comunicação entre Governo e Sociedade Civil nesse aspecto.
Qual
é o papel da Coordenadoria em casos como as agressões na Avenida
Paulista e na Parada do Rio de Janeiro? Pretende ampliar esse papel?
A
pedido da Ministra Maria do Rosário já estamos trabalhando numa ação
para o enfrentamento da violência homofóbica. Pretendemos fazer o
lançamento dessa ação ainda neste mês.
Existe alguma estratégia ou trabalho sendo desenvolvido para impedir o arquivamento do PLC 122, sem chance de retorno?
Estamos
buscando alternativas para evitar o arquivamento definitivo do PLC 122,
que é fundamental para a nossa estratégia de enfrentamento da violência
homofóbica. A SDH vai procurar os parlamentares parceiros da nossa
causa para articular que esse projeto siga em frente e seja aprovado, o
que significa uma grande vitória ao Brasil.
O Brasil num patamar bem mais alto em Ciência
O Brasil fechou 2010 com duas decisões históricas: firmou
acordo de adesão à ESO (Organização Europeia de Pesquisa Astronômica no
Hemisfério Austral) e candidatou-se a membro associado do Cern
(Organização Européia de Pesquisas Nucleares). A entrada na ESO implica o
investimento de 250 milhões de euros (R$ 700 milhões) em dez anos. A
filiação ao Cern envolve a contribuição anual da ordem de US$ 15 milhões
(R$ 25 milhões).
Por José Monserrat Filho, no Jornal da Ciência via vermelho
Em compensação, nos dois casos, o
Brasil terá inestimáveis benefícios para os astrônomos, físicos e outros
cientistas brasileiros, bem como para diferentes empresas do país,
desde as de terraplanagem e grandes construções até os de mais alta
tecnologia. Calcula-se que até 75% dos investimentos brasileiros na ESO
poderão retornar ao país em forma de contratos com empresas nacionais.
Herdadas pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, de seu antecessor, Sergio Rezende, estas iniciativas elevam a C&T brasileira a um patamar inusitado, em estreita relação e convivência com as maiores potências científicas do mundo atual, em áreas de conhecimento e aplicações industriais altamente sofisticadas. A ideia estratégica é aproveitar a boa etapa por que passa o Brasil e não perder o bonde da história.
Se o acordo de adesão for ratificado pelo Congresso Nacional, o Brasil será o primeiro país do Hemisfério Sul a filiar-se à ESO e seu 15º país membro, ao lado de Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Itália, Portugal, Reino Unido, República Tcheca, Suécia e Suíça. Seremos co-proprietários de todos os bens e instalações da ESO, que usaremos em pé de igualdade com os demais países membros, gozando dos mesmos direitos e regalias.
A ESO já conta com três conjuntos de observatórios no norte do Chile, o melhor lugar da Terra para se observar o Universo, e vai construir um quarto, ainda mais poderoso:
1) No Cerro La Silla, a 2.400m de altitude, tem vários telescópios ópticos com espelhos de até 3.6m de diâmetro, entre eles o New Technology Telescope, de 3.5m de diâmetro, o primeiro do mundo com espelho principal controlado por computador, e o telescópio de 3.6m, dotado de espectrógrafo com precisão sem precedentes, o High Accuracy Radial velocity Planet Searcher (HARPS), principal responsável pela descoberta de planetas extra solares do mundo;
2) No Cerro Paranal, a 2.600m de altura, tem o Very Large Telescope (VLT), conjunto de quatro telescópios, cada qual com um espelho principal de 8.2m. O VLT é tão poderoso que permite ver objetos quatro milhares de milhões de vezes menos brilhantes que os observados a olho nu.
3) No Planalto de Chajnantor, o mais alto do mundo, a 5.000m de altura, tem o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), que começa a operar neste ano, com rede de 66 antenas gigantes, de 12 e 7m, capaz de observar regiões do espectro do milímetro e sub milímetro. Tem ainda o telescópio APEX, de 12m, que trabalha no milímetro e sub milímetro, a serviço do Observatório Onsala do Instituto Max Planck de Radio Astronomia, Alemanha, e da própria ESO.
4) No Cerro Amazones, vai construir em dez anos o E-ELT, "o maior olho no céu", telescópio óptico/infravermelho com espelho de 42m, que, segundo os estudiosos, "provavelmente revolucionará a nossa percepção do Universo tal como a luneta de Galileu o fez há 400 anos".
É um patrimônio e tanto, que nossos astrônomos já podem usar, embora o acordo de adesão só entre em vigor após a ratificação pelo Congresso Nacional, esperada para este ano. Eles também já podem integrar como observadores o Conselho e os Comitês Técnico-Científico, Financeiro e de Usuários da ESO.
As empresas brasileiras são igualmente, favorecidas desde agora. Já podem participar das concorrências e licitações da ESO, que tem orçamento anual de 130 milhões de euros (R$ 340 milhões) e está sempre realizando uma infinidade de obras, muitas de grande porte.
O Cern, por sua vez, é um dos maiores e mais conceituados centros científicos do mundo. É o mundo da física de altas energias. Uma babilônia avançada por onde circulam anualmente mais de cinco mil cientistas, professores e estudantes de primeira linha.
Como membro associado do Cern, o Brasil não será dono de bens, como no caso da ESO, mas poderá usufruir de todos os seus laboratórios e instalações super modernos, inclusive o maior acelerador de partículas do mundo, o LHC (Large Hadron Collider). Já fazemos isso, mas em pequena escala. Na nova situação, os 80 brasileiros de hoje poderão se multiplicar várias vezes, com direito a ganhar bolsas de pesquisa e a assumir postos na instituição.
A indústria brasileira também se beneficiará em nível nada desprezível. Poderá ter empresas fornecedoras e outras concorrendo a valiosos contratos. É bom lembrar que o Cern tem orçamento anual de cerca de 660 milhões de euros (R$ 1,7 bilhão ou US$ 1 bilhão de dólares).
O sempre bem humorado Ronaldo Shellard, vice-diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Física, um dos batalhadores pela associação do Brasil ao Cern reconheceu, em entrevista à "Folha de S. Paulo", que iniciativas como esta custam caro, sim. Mas, argumentou, irônico: "Nenhum país ficou pobre até hoje ficou pobre por investir em ciência". Ainda mais na grande ciência do século 21.
Herdadas pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, de seu antecessor, Sergio Rezende, estas iniciativas elevam a C&T brasileira a um patamar inusitado, em estreita relação e convivência com as maiores potências científicas do mundo atual, em áreas de conhecimento e aplicações industriais altamente sofisticadas. A ideia estratégica é aproveitar a boa etapa por que passa o Brasil e não perder o bonde da história.
Se o acordo de adesão for ratificado pelo Congresso Nacional, o Brasil será o primeiro país do Hemisfério Sul a filiar-se à ESO e seu 15º país membro, ao lado de Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Itália, Portugal, Reino Unido, República Tcheca, Suécia e Suíça. Seremos co-proprietários de todos os bens e instalações da ESO, que usaremos em pé de igualdade com os demais países membros, gozando dos mesmos direitos e regalias.
A ESO já conta com três conjuntos de observatórios no norte do Chile, o melhor lugar da Terra para se observar o Universo, e vai construir um quarto, ainda mais poderoso:
1) No Cerro La Silla, a 2.400m de altitude, tem vários telescópios ópticos com espelhos de até 3.6m de diâmetro, entre eles o New Technology Telescope, de 3.5m de diâmetro, o primeiro do mundo com espelho principal controlado por computador, e o telescópio de 3.6m, dotado de espectrógrafo com precisão sem precedentes, o High Accuracy Radial velocity Planet Searcher (HARPS), principal responsável pela descoberta de planetas extra solares do mundo;
2) No Cerro Paranal, a 2.600m de altura, tem o Very Large Telescope (VLT), conjunto de quatro telescópios, cada qual com um espelho principal de 8.2m. O VLT é tão poderoso que permite ver objetos quatro milhares de milhões de vezes menos brilhantes que os observados a olho nu.
3) No Planalto de Chajnantor, o mais alto do mundo, a 5.000m de altura, tem o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), que começa a operar neste ano, com rede de 66 antenas gigantes, de 12 e 7m, capaz de observar regiões do espectro do milímetro e sub milímetro. Tem ainda o telescópio APEX, de 12m, que trabalha no milímetro e sub milímetro, a serviço do Observatório Onsala do Instituto Max Planck de Radio Astronomia, Alemanha, e da própria ESO.
4) No Cerro Amazones, vai construir em dez anos o E-ELT, "o maior olho no céu", telescópio óptico/infravermelho com espelho de 42m, que, segundo os estudiosos, "provavelmente revolucionará a nossa percepção do Universo tal como a luneta de Galileu o fez há 400 anos".
É um patrimônio e tanto, que nossos astrônomos já podem usar, embora o acordo de adesão só entre em vigor após a ratificação pelo Congresso Nacional, esperada para este ano. Eles também já podem integrar como observadores o Conselho e os Comitês Técnico-Científico, Financeiro e de Usuários da ESO.
As empresas brasileiras são igualmente, favorecidas desde agora. Já podem participar das concorrências e licitações da ESO, que tem orçamento anual de 130 milhões de euros (R$ 340 milhões) e está sempre realizando uma infinidade de obras, muitas de grande porte.
O Cern, por sua vez, é um dos maiores e mais conceituados centros científicos do mundo. É o mundo da física de altas energias. Uma babilônia avançada por onde circulam anualmente mais de cinco mil cientistas, professores e estudantes de primeira linha.
Como membro associado do Cern, o Brasil não será dono de bens, como no caso da ESO, mas poderá usufruir de todos os seus laboratórios e instalações super modernos, inclusive o maior acelerador de partículas do mundo, o LHC (Large Hadron Collider). Já fazemos isso, mas em pequena escala. Na nova situação, os 80 brasileiros de hoje poderão se multiplicar várias vezes, com direito a ganhar bolsas de pesquisa e a assumir postos na instituição.
A indústria brasileira também se beneficiará em nível nada desprezível. Poderá ter empresas fornecedoras e outras concorrendo a valiosos contratos. É bom lembrar que o Cern tem orçamento anual de cerca de 660 milhões de euros (R$ 1,7 bilhão ou US$ 1 bilhão de dólares).
O sempre bem humorado Ronaldo Shellard, vice-diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Física, um dos batalhadores pela associação do Brasil ao Cern reconheceu, em entrevista à "Folha de S. Paulo", que iniciativas como esta custam caro, sim. Mas, argumentou, irônico: "Nenhum país ficou pobre até hoje ficou pobre por investir em ciência". Ainda mais na grande ciência do século 21.
sábado, 15 de janeiro de 2011
Rosa Luxemburg: judia, polonesa, socialista, revolucionária... também feminista?
Por Por Isabel Loureiro na Revista Forum
Por que homenagear Rosa Luxemburg no Dia Internacional
da Mulher, uma vez que é notório seu desprezo pela questão feminina, e
não sua amiga Clara Zetkin, a feminista de carteirinha da esquerda
alemã? Enquanto esta, na linha dos marxistas clássicos, pensava que o
fim da desigualdade entre os gêneros só ocorreria com o advento do
socialismo que emanciparia todos os oprimidos, inclusive as mulheres,
Rosa Luxemburg, que não se deteve na questão feminina, foi poupada das
críticas que as feministas endereçaram à esquerda tradicional. Algumas
feministas alemãs chegaram mesmo a inspirar-se na sua teoria da
acumulação do capital para desenvolver uma concepção original a respeito
da opressão das mulheres. Desse ponto de vista, Rosa Luxemburg teria
uma contribuição teórica a dar ao movimento feminista. Mas, para além
desse aspecto, existe, a meu ver, uma outra dimensão que também leva
Rosa a ter voz no capítulo. Sua luta incansável para se construir como
mulher livre no plano pessoal e político, exposta em detalhes na vasta
correspondência com os amigos e namorados, é um exemplo que ainda hoje
nos sensibiliza e faz pensar.
Rosa tem 27 anos quando chega a Berlim em 1898 para trabalhar no Partido Social-Democrata Alemão, a mais importante organização de trabalhadores daquela época. O que queria a jovem judia polonesa, cuja carta de apresentação era tão-somente uma tese de doutorado defendida em Zurique sobre o desenvolvimento industrial na Polônia? A resposta é simples: nada menos do que fazer política em pé de igualdade com os maiores teóricos do partido. Essa meta ela alcança em pouco tempo. Dotada de uma inteligência fulgurante e de uma energia sem limites, Rosa torna-se rapidamente conhecida na socialdemocracia alemã ao investir contra o velho e respeitado teórico do partido, Eduard Bernstein, que, embora amigo dos fundadores do marxismo, não hesita em fazer uma revisão da teoria marxista que despencava no mais puro reformismo. A jovem estudiosa e seguidora ortodoxa da obra de Marx não teme enfrentar a hierarquia da organização, dando assim o primeiro passo no caminho a que se tinha proposto: construir-se como mulher independente, tanto no plano político, quanto pessoal.
Rosa tem 27 anos quando chega a Berlim em 1898 para trabalhar no Partido Social-Democrata Alemão, a mais importante organização de trabalhadores daquela época. O que queria a jovem judia polonesa, cuja carta de apresentação era tão-somente uma tese de doutorado defendida em Zurique sobre o desenvolvimento industrial na Polônia? A resposta é simples: nada menos do que fazer política em pé de igualdade com os maiores teóricos do partido. Essa meta ela alcança em pouco tempo. Dotada de uma inteligência fulgurante e de uma energia sem limites, Rosa torna-se rapidamente conhecida na socialdemocracia alemã ao investir contra o velho e respeitado teórico do partido, Eduard Bernstein, que, embora amigo dos fundadores do marxismo, não hesita em fazer uma revisão da teoria marxista que despencava no mais puro reformismo. A jovem estudiosa e seguidora ortodoxa da obra de Marx não teme enfrentar a hierarquia da organização, dando assim o primeiro passo no caminho a que se tinha proposto: construir-se como mulher independente, tanto no plano político, quanto pessoal.
Mas aqui as coisas eram um pouco mais difíceis. Para começo
de conversa, Rosa não era bonita: um metro e 50 de altura, cabeça
desproporcional, nariz grande e um problema no quadril que a fazia
mancar. Numa época em que o andar elegante era um dos principais
atributos femininos, ela quase sempre conseguia disfarçar essa
deficiência por meio do autocontrole e da roupa feita sob medida. Rosa,
que certamente sofria com isso, se protegia na medida do possível com a
auto-ironia, dizendo preferir empregadas altas e fortes, com medo de que
quem fosse visitá-la acreditasse ter chegado a uma casa de anões.
Segundo a biógrafa Elzbieta Ettinger (Rosa Luxemburgo, Zahar, 1986),
esse defeito físico foi determinante em sua vida, levando-a a forjar uma
excepcional força de vontade e a tornar-se, a título de compensação,
primeiro, aluna modelo, depois, oradora, polemista, jornalista e
intelectual brilhante.
As razões para que a fundadora e líder da
socialdemocracia polonesa e líder da ala esquerda da socialdemocracia
alemã ainda exerça tamanho fascínio sobre nós não são apenas suas idéias
políticas libertárias, mas também o fato de que, sendo mulher – o que
faz toda a diferença –, e mulher mergulhada na vida política, ela se
recusa a sacrificar a felicidade individual à carreira. Porém, neste
ponto, acabou se frustrando. Na juventude insistia com Leo Jogiches
(também fundador da socialdemocracia polonesa e o grande amor de sua
vida durante 15 anos) para ter uma vida “normal”: casar, ter filhos etc.
E, junto com isso, dedicar-se à política. Mas Leo era o revolucionário
típico, “durão”, acostumado à luta política clandestina e à conspiração.
Unir prazer e dever era algo que não estava nos seus planos, se
acreditarmos nas eternas reclamações de Rosa, que o censurava por só
pensar na “causa”. De temperamentos muito diferentes, a relação entre os
dois, depois dos primeiros meses, foi uma fonte contínua de tensões e
desavenças, e ela sentia-se infeliz. Segundo Charles Rapoport, que
conhecia bem os dois, “Rosa era sentimental e apaixonada, romântica e
sensível ao extremo. Talvez Jogiches, no fundo do coração, se parecesse
com ela, mas, grande conspirador, soube tão bem esconder sua
sensibilidade que mal podia encontrá-la para manifestá-la
exteriormente”.
A ruptura veio em 1906. Sobre as razões exatas que levaram a isso só nos resta conjeturar. A versão mais divulgada (inclusive pelo filme de Margarethe von Trotta) é que durante a Revolução Russa de 1905, quando Leo estava em Varsóvia e Rosa, em Berlim, ele teria tido um caso com uma militante. Na versão de Ettinger, que parece a mais plausível quando acompanhamos a evolução do relacionamento pela correspondência, foi Rosa quem rompeu ao apaixonar-se por Costia Zetkin, o filho mais novo de sua amiga Clara Zetkin. Apaixonou-se porque internamente já estava afastada de Leo, o homem unilateralmente consagrado à causa. Entretanto, o contato político entre eles durou até o fim da vida. Durante os quatro anos de guerra, quando Rosa ficou presa, Jogiches teve um papel importante na organização do movimento spartakista e, posteriormente, na Revolução Alemã de novembro de 1918, sempre na sombra. Quando Rosa foi assassinada, com o apoio (pelo menos passivo) da socialdemocracia no poder, em 15 de janeiro de 1919, Jogiches, “fiel e sólido como a rocha”, assumiu como tarefa descobrir os culpados. Isso não durou muito: também ele seria brutalmente assassinado no dia 10 de março.
Rosa, diferentemente de Leo, não tinha nenhuma inclinação especial para a clandestinidade, as seitas revolucionárias, o segredo; grande oradora e jornalista, o seu era um combate público contra todas as formas de opressão, tanto social quanto individual. E é como militante política, como combatente na arena pública, que Rosa enfrenta – e vence intelectualmente – os preconceitos arraigados na socialdemocracia alemã. Nessa medida, ela rompe com o tradicional papel feminino de esposa e mãe, ou mesmo, num outro patamar, de secretária do marido. Não podemos esquecer que ela sofre de vários handicaps para a ultraconservadora Alemanha da época – é mulher, judia, polonesa e revolucionária.
Rosa era de fato uma figura singular na sociedade imperial alemã, dominada pelo autoritarismo e o patriarcalismo que contaminavam a própria socialdemocracia, razão para que fosse extremamente discreta sobre sua vida privada. Tanto que Leo Jogiches nunca apareceu publicamente como seu companheiro; muito menos Costia Zetkin, com quem manteve um relacionamento amoroso cuidadosamente escondido de seus convencionais companheiros de partido; e menos ainda a relação com Paul Levi, que só se tornou conhecida em 1983, muito tempo depois da morte de ambos, quando a família dele tornou pública a correspondência com Rosa Luxemburg. E havia motivos para tanta discrição.
Os ataques contra a mulher começaram cedo no ambiente machista da esquerda da época, que temia sua independência de espírito e sua língua mordaz: o socialista austríaco Victor Adler chamou-a de “idiota venenosa”; quando ela foi nomeada redatora-chefe de um importante jornal socialdemocrata e enfrentou quase uma rebelião dos colegas jornalistas que duvidavam de sua competência pelo fato de ser mulher; seus companheiros de partido ao se referirem a ela falavam em “materialismo histérico”; para Lênin, Rosa era uma águia que ocasionalmente voava mais baixo que uma galinha. Seus assassinos fizeram questão de vilipendiá-la como mulher: depois de espancada, levou um tiro na cabeça, foi enrolada em arame farpado e jogada nas águas do canal Landwehr. Só pôde ser enterrada meses mais tarde, numa cerimônia acompanhada por milhares de pessoas, quando o corpo, quase irreconhecível, foi identificado a duras penas por sua secretária Mathilde Jacob. Recentemente na Alemanha, quando o governo de esquerda de Berlim propôs construir um monumento em sua homenagem, entre críticas de todos os tipos, voltaram à cena os ataques contra a mulher, desta vez mais sutis: Rosa nunca recebeu uma proposta de casamento dos amantes, nem realizou o desejo de ter filhos. Quem questionaria um homem dessa maneira, apelando para sua vida privada?
Para concluir, uma rápida menção às feministas alemãs inspiradas em Rosa.1 Segundo essa leitura, em suas obras de economia política, A acumulação do capital e Introdução à economia política, Rosa não compartilha da crença no progresso, comum na socialdemocracia do seu tempo, mas, ao contrário, enfatiza o lado violento da expansão capitalista que leva à destruição das culturas primitivas, distinguindo-se assim de seus companheiros homens, Marx, bolcheviques, socialdemocratas. Es¬tes encaram como positivo o desenvolvimento capitalista com seus aliados naturais, a grande indústria e o desenvolvimento técnico, vendo tal processo como uma etapa necessária no caminho da humanidade em direção ao socialismo. Para Rosa, em contrapartida, cuja tese sobre o imperialismo tem no centro a idéia de que o capitalismo só pode desenvolver-se anexando – com violência – as formações sociais não-capitalistas, o capitalismo traz apenas destruição. Estas formações sociais não-capitalistas, que antes eram as colônias, abarcam hoje setores como a saúde, a educação, a criatividade intelectual, os recursos ambientais, a cultura, e, segundo as feministas, o trabalho das mulheres no âmbito doméstico.
Com toda certeza, Rosa ficaria feliz por ter deixado uma obra mais brilhante e duradoura que a da grande maioria de seus companheiros homens. Mas, para nós mulheres, o mais estimulante ainda hoje é o fato de ela ser uma intelectual revolucionária que vê a sociedade do ponto de vista feminino; e, além disso, a preservação dos registros pessoais em que ela, no decorrer dos anos, relata sua penosa construção como mulher independente contribui para nosso próprio autoconhecimento, dando-nos força para lutar contra os limites que continuam nos sendo impostos e que acabamos por introjetar.
A ruptura veio em 1906. Sobre as razões exatas que levaram a isso só nos resta conjeturar. A versão mais divulgada (inclusive pelo filme de Margarethe von Trotta) é que durante a Revolução Russa de 1905, quando Leo estava em Varsóvia e Rosa, em Berlim, ele teria tido um caso com uma militante. Na versão de Ettinger, que parece a mais plausível quando acompanhamos a evolução do relacionamento pela correspondência, foi Rosa quem rompeu ao apaixonar-se por Costia Zetkin, o filho mais novo de sua amiga Clara Zetkin. Apaixonou-se porque internamente já estava afastada de Leo, o homem unilateralmente consagrado à causa. Entretanto, o contato político entre eles durou até o fim da vida. Durante os quatro anos de guerra, quando Rosa ficou presa, Jogiches teve um papel importante na organização do movimento spartakista e, posteriormente, na Revolução Alemã de novembro de 1918, sempre na sombra. Quando Rosa foi assassinada, com o apoio (pelo menos passivo) da socialdemocracia no poder, em 15 de janeiro de 1919, Jogiches, “fiel e sólido como a rocha”, assumiu como tarefa descobrir os culpados. Isso não durou muito: também ele seria brutalmente assassinado no dia 10 de março.
Rosa, diferentemente de Leo, não tinha nenhuma inclinação especial para a clandestinidade, as seitas revolucionárias, o segredo; grande oradora e jornalista, o seu era um combate público contra todas as formas de opressão, tanto social quanto individual. E é como militante política, como combatente na arena pública, que Rosa enfrenta – e vence intelectualmente – os preconceitos arraigados na socialdemocracia alemã. Nessa medida, ela rompe com o tradicional papel feminino de esposa e mãe, ou mesmo, num outro patamar, de secretária do marido. Não podemos esquecer que ela sofre de vários handicaps para a ultraconservadora Alemanha da época – é mulher, judia, polonesa e revolucionária.
Rosa era de fato uma figura singular na sociedade imperial alemã, dominada pelo autoritarismo e o patriarcalismo que contaminavam a própria socialdemocracia, razão para que fosse extremamente discreta sobre sua vida privada. Tanto que Leo Jogiches nunca apareceu publicamente como seu companheiro; muito menos Costia Zetkin, com quem manteve um relacionamento amoroso cuidadosamente escondido de seus convencionais companheiros de partido; e menos ainda a relação com Paul Levi, que só se tornou conhecida em 1983, muito tempo depois da morte de ambos, quando a família dele tornou pública a correspondência com Rosa Luxemburg. E havia motivos para tanta discrição.
Os ataques contra a mulher começaram cedo no ambiente machista da esquerda da época, que temia sua independência de espírito e sua língua mordaz: o socialista austríaco Victor Adler chamou-a de “idiota venenosa”; quando ela foi nomeada redatora-chefe de um importante jornal socialdemocrata e enfrentou quase uma rebelião dos colegas jornalistas que duvidavam de sua competência pelo fato de ser mulher; seus companheiros de partido ao se referirem a ela falavam em “materialismo histérico”; para Lênin, Rosa era uma águia que ocasionalmente voava mais baixo que uma galinha. Seus assassinos fizeram questão de vilipendiá-la como mulher: depois de espancada, levou um tiro na cabeça, foi enrolada em arame farpado e jogada nas águas do canal Landwehr. Só pôde ser enterrada meses mais tarde, numa cerimônia acompanhada por milhares de pessoas, quando o corpo, quase irreconhecível, foi identificado a duras penas por sua secretária Mathilde Jacob. Recentemente na Alemanha, quando o governo de esquerda de Berlim propôs construir um monumento em sua homenagem, entre críticas de todos os tipos, voltaram à cena os ataques contra a mulher, desta vez mais sutis: Rosa nunca recebeu uma proposta de casamento dos amantes, nem realizou o desejo de ter filhos. Quem questionaria um homem dessa maneira, apelando para sua vida privada?
Para concluir, uma rápida menção às feministas alemãs inspiradas em Rosa.1 Segundo essa leitura, em suas obras de economia política, A acumulação do capital e Introdução à economia política, Rosa não compartilha da crença no progresso, comum na socialdemocracia do seu tempo, mas, ao contrário, enfatiza o lado violento da expansão capitalista que leva à destruição das culturas primitivas, distinguindo-se assim de seus companheiros homens, Marx, bolcheviques, socialdemocratas. Es¬tes encaram como positivo o desenvolvimento capitalista com seus aliados naturais, a grande indústria e o desenvolvimento técnico, vendo tal processo como uma etapa necessária no caminho da humanidade em direção ao socialismo. Para Rosa, em contrapartida, cuja tese sobre o imperialismo tem no centro a idéia de que o capitalismo só pode desenvolver-se anexando – com violência – as formações sociais não-capitalistas, o capitalismo traz apenas destruição. Estas formações sociais não-capitalistas, que antes eram as colônias, abarcam hoje setores como a saúde, a educação, a criatividade intelectual, os recursos ambientais, a cultura, e, segundo as feministas, o trabalho das mulheres no âmbito doméstico.
Com toda certeza, Rosa ficaria feliz por ter deixado uma obra mais brilhante e duradoura que a da grande maioria de seus companheiros homens. Mas, para nós mulheres, o mais estimulante ainda hoje é o fato de ela ser uma intelectual revolucionária que vê a sociedade do ponto de vista feminino; e, além disso, a preservação dos registros pessoais em que ela, no decorrer dos anos, relata sua penosa construção como mulher independente contribui para nosso próprio autoconhecimento, dando-nos força para lutar contra os limites que continuam nos sendo impostos e que acabamos por introjetar.
Barricadas LGBT
Extraido do sitio Barricadas
A sexualidade sempre foi parte
importante da vida em sociedade. Entretanto, o modo como ela é encarada
muda de acordo com a época, o sistema econômico e as condições
materiais. Embora nunca tenha sido a forma predominante de sexualidade,
as relações entre pessoas do mesmo sexo nem sempre foram criminalizadas,
havendo inúmeros registros históricos de sociedades nas quais o
intercurso sexual entre homens ou entre mulheres era parte natural da
vida afetiva. Hoje, no entanto, o que se vê é a mais completa
naturalização do preconceito contra gays, lésbicas, bissexuais,
travestis, transsexuais, trasgêneros (LGBTs) e todos aqueles que escapam
da norma estabelecida pelo sistema capitalista: a família patriarcal,
monogâmica e heterossexual.
Este modelo de organização social
baseado na família tem como objetivo garantir a manutenção da sociedade
de classes por meio da transferência de herança, uma vez que somente as
relações heterossexuais geram herdeiros. Nesse contexto, a
homossexualidade passa a ser encarada como um risco para o sistema
baseado na propriedade. Com o surgimento do capitalismo, a homofobia se
torna um mecanismo de opressão aos homossexuais, da mesma forma como o
machismo e o racismo para oprimir mulheres e os negros, pois é a partir
da imposição das diferenças que se dá a exploração do homem pelo homem,
uma das bases de sustentação do sistema.
Completamos, no último dia 28 de junho,
41 anos da Rebelião de Stonewall, considerada um marco na luta das
lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais e trasgêneros contra séculos de
opressão silenciosa. Desde então, homossexuais de todo o mundo vem se
mobilizando na luta por uma sociedade sem homofobia, pela liberdade
sexual e pela igualdade de direitos, promovendo importantes mudanças no
que diz respeito a concepção de sociedade imposta pelo capital. Aqui no
Brasil, os primeiros grupos formados por homossexuais surgem no final
dos anos 70, lutando contra a repressão dos órgãos de segurança do
regime militar. Entetanto, o caráter fragmentado do movimento
homossexual brasileiro impossibilitou maiores avanços políticos. Para se
ter uma ideia, desde a promulgação da constituição de 1988 nenhuma lei
em benefício da população LGBT foi aprovada pelo congresso nacional.
Atualmente, a legislação brasileira nega
mais de 30 direitos civis aos LGBTs. Não por acaso, a maioria destes
direitos são trabalhistas e previdenciários, o que coloca a luta contra o
preconceito em pé de igualdade com as lutas da classe trabalhadora. A
pessoa homossexual é fortemente discriminada no mundo do trabalho,
sofrendo todo o tipo de assédio moral e sendo muitas vezes obrigada a
esconder sua orientação sexual para não perder o emprego. As travestis,
em sua maioria, são relegadas à prostituição, enquanto os transsexuais
precisam recorrer à justiça para ter o seu nome social reconhecido.
Segundo dados da ONG Grupo Gay da Bahia
(GBB), o Brasil é o país campeão em assassinatos contra homossexuais: em
2010 foram mais de 250 assassinatos, uma média de um a cada dois dias.
Os números revelam ainda que 11% desses homicídios foram cometidos por
policiais. As vítimas geralmente são gays, negros, pobres e o cenários
das execuções na maioria das vezes é a periferia das grandes cidades. Os
números, no entanto, não correspondem à realidade, pois não existem
estatísticas oficiais a respeito de crimes homofóbicos. Isso sem contar
com as agressões físicas, que estão longe de ocorrer somente na Avenida
Paulista. Estão presentes nos quatro cantos do país, no cotidiano de
milhares de lésbicas, gays, bissexuais e transsexuais.
A universidade brasileira, por sua vez,
não cumpre com o papel de ser um espaço crítico de emancipação e
reproduz os valores machistas, sexistas e homofóbicos de nossa
sociedade. Como exemplo, temos o caso da Universidade Mackenzie, que
divulgou recentemente um texto oficial assinado pelo reverendo Dr.
Augustus Nicodemus Gomes Lopes, Chanceler da Universidade, declarando
que a instituição de ensino era “contra a aprovação da chamada lei
da homofobia, por entender que ensinar e pregar contra a prática do
homossexualismo não é homofobia, por entender que uma lei dessa natureza
maximiza direitos a um determinado grupo de cidadãos”.
Também é comum presenciarmos episódios
de agressão ou insulto aos homossexuais em nossas universidades, não
havendo grandes mobilizações estudantis em torno desta pauta. Mesmo
tendo a compreensão de a superação completa de toda a forma de opressão,
seja ela de gênero, sexualidade, raça ou etnia, só será possível a
partir da implementação de um outro modelo de sociedade, nós, estudantes
do campo Barricadas Abrem Caminhos defendemos a luta contra a homofobia dentro e fora das universidades!
Algumas bandeiras que defendemos:
Universidade
A universidade, como espaço de
questionamento da sociedade, deve abordar temas relacionados a livre
orientação sexual e identidade de gênero, afim de formar jovens
conscientes e livres de preconceito. Também é preciso garantir o
respeito, o acompanhamento e a sobrevivência do jovem travesti e
transsexual nas universidades brasileiras, por meio de políticas
específicas de assistência estudantil. O movimento estudantil, por sua
vez, tem o dever de pautar a questão da homofobia, lutando contra a
lógica conservadora e moralista imposta pelas instituições de ensino
superior, que muitas vezes impede o exercício público da sexualidade em
suas dependências. É preciso ainda combater o machismo que impera entre
os próprios estudantes, a exemplo das atléticas, que reproduzem todo o
tipo de preconceito contra as mulheres e os homossexuais.
Violência
Hoje no Brasil, não existe uma lei
específica para penalizar atos homofóbicos, sejam eles verbais ou
físicos. O Projeto de Lei 122/2006, que propõe pena de dois a cinco anos
de reclusão para os crimes resultantes de discriminação à orientação
sexual ou identidade de gênero, acaba de ser arquivado pelo senado
federal, uma vez que a legislação prevê o arquivamento de todo e
qualquer projeto que tramite na casa há mais de duas legislaturas. O
Governo Lula, por sua vez, jamais pressionou sua base aliada para a
aprovação deste projeto e pior ainda, se aliou a diversos políticos que
declaradamente fazem oposição a sua aprovação. Com o Governo Dilma
Rousseff, as perspectivas são ainda piores. Embora tenha assumido o
compromisso de sancionar a PLC 122, caso esta seja aprovada pelo senado,
Dilma chegou ao poder graças a uma série de alianças com os setores
religiosos mais conservadores da sociedade, o que coloca em cheque seu
suposto compromisso com o movimento LGBT.
A recente campanha presidencial de 2010
explicitou o caráter reacionário do debate político feito pelos partidos
da ordem em nosso país. O resultado disso foi uma onda de ataques
homofóbicos amplamente divulgados pela imprensa nacional. Sabemos que
estes fatos representam apenas uma parte da violência enfrentada
diariamente pelos LGBTs brasileiros, mas esta conjuntura reforça a
necessidade da aprovação de instrumentos jurídicos que garantam a nossa
integridade enquanto pessoa humana. Entendemos que o reconhecimento
constitucional obtido a partir da criação de dispositivos legais como a
PLC 122 se constituem como conquistas importantes para a população LGBT,
porém, a formulação de leis como esta não garantem o fim de ações
homofóbicas, sendo para isto fundamental privilegiar ações de
conscientização da sociedade. E a universidade, neste sentido, se mostra
um espaço privilegiado para avançar na consciência e organizar as lutas
sociais.
Estado Laico
O Estado deve assegurar os direitos de
todos os cidadãos, independente de cor, raça, credo, naturalidade,
orientação sexual ou identidade de gênero. Por isso, defendemos a
laicidade do estado, ou seja, o Estado leigo, separado da igreja e livre
de opção religiosa, como previsto na constituição de 1988. Porém, o que
se vê atualmente na esfera legislativa legislativa é um amplo boicote
por parte das chamadas “bancadas religiosas” aos projetos de lei
direcionados a população LGBT (como o casamento civil, a adoção de
crianças por casais do mesmo sexo e a lei que criminaliza a homofobia). O
executivo também foi de encontro ao Estado Laico quando o Presidente
Luís Inácio Lula da Silva assinou em 2009 o acordo Brasil/Vaticano e a
Lei Geral das Religiões, ameaçando os direitos das mulheres, dos
homossexuais e principalmente dos trabalhadores. Compreendemos que a
violação do Estado Laico se configura como um grande retrocesso para a
luta dos setores oprimidos da sociedade.
Por isso, nós homossexuais do campo Barricadas Abrem Caminhos
propomos espaços de organização dos estudantes LGBT no Movimento
Estudantil, para formulação e, mais que isso, ações concretas contra a
opressão a qual somos submetidos!
Presidente tunisino abandona o país
Que a fagulha tunisina abrase todo o mundo árabe!
por Mohamed Belaali
Mais de quatro semanas de revoltas populares, o exército atira com balas
reais sobre a multidão, mortos às dezenas, cessar-fogo,
desaparecimento e execução de sindicalistas, prisão de
bloguistas, etc, etc. Estes acontecimentos não se desenrolam nem em
Cuba, nem na Venezuela, nem na Bolívia, nem na China e nem no
Irão mas na... Tunísia! Os países europeus, a
França de Sarkozy à cabeça, sempre prontos a se
imiscuírem nos assuntos do Irão ou da Costa do Marfim, por
exemplo, desta vez contentaram-se com alguns comunicados após semanas de
silêncio cúmplice: "a Tunísia confronta-se com
problemas económicos e sociais. Só o diálogo
permitirá aos tunisinos ultrapassá-los" dizia servilmente um
comunicado do Ministério francês dos Negócios Estrangeiros.
Que contraste entre a violência da propaganda contra o Irão na Primavera de 2009 aquando das eleições presidenciais e o servilismo das declarações oficiais a propósito da revolta do povo tunisino. Bastaria na época ler os títulos dos jornais e olhar as imagens difundidas em cadeia pelas televisões americanas e europeias para perceber o ódio do imperialismo à República Islâmica do Irão. Mas a revolta do povo tunisino não merece senão o desprezo e o silêncio. Pois "A Tunísia é um país amigo, estamos extremamente vigilantes com o que se passa lá em baixo e muito preocupado (...) Ao mesmo tempo, a França não tem de se ingerir nos assuntos da Tunisia", declarava Luc Chatel na Radio Classique e i-Télé .
Sempre invocando cinicamente o direito de não ingerência nos assuntos dos outros países, os governo francês, através da sua ministra dos Negócios Estrangeiros Michèle Alliot-Marie, chega mesmo a propor aos regimes tunisino e argelino sua colaboração em matéria de seguranças e manutenção da ordem: "Propomos que o know how das nossas forças de segurança, reconhecido no mundo inteiro, resolva situações securitárias deste tipo. Esta é a razão pela qual propomos aos dois países [Argélia e Tunísia], no quadro das nossas cooperações, agir neste sentido para que o direito de manifestar possa ser feito ao mesmo tempo que a garantia da segurança" [1] . É que a França é um dos primeiros investidores estrangeiros na Tunísia. Ela ocupa mesmo o primeiro lugar quanto ao número de empresas instaladas neste país (1200 empresas). Pode-se citar dentre muitas Lacoste, Valeo, Sagem, Danone, Sanofi-Aventis, Fram, Accor, Club med, BNP-Paribas, Société générale, Groupe Caisse d'épargne etc. etc. [2]
As burguesias ocidentais que apregoam incessantemente desejarem difundir a democracia por todo o mundo, na realidade não fazem senão sustentar, directa ou indirectamente, as ditaduras e impedem deste modo todo progresso no caminho da democracia e do progresso social. Toda a história do imperialismo não é senão o apoio aos regimes mais ferozes, quando não são instalados directamente por ele. Seria difícil e fastidioso pretender estabelecer uma lista exaustiva destas ditaduras pois são demasiado numerosas. Citemos ainda assim as mais conhecidas e as mais terríveis: Augusto Pinochet no Chile, Videla na Argentine, Somoza na Nicarágua, Suharto na Indonésia, Marcos nas Filipinas, Musharraf no Paquistão, o xá Reza Pahleve no Irão, Hosni Mubarak no Egipto, Omar e Ai Bongo no Gabão, etc, etc. O apoio indefectível das burguesias ocidentais aos regimes mais sangrentos é uma constante na história do capitalismo.
Hoje, o levantamento do povo tunisino, sua coragem e sua determinação a enfrentar um dos regimes mais repressivos, mostra o caminho a seguir a todos os oprimidos não só do Magreb como de todo o mundo árabe!
As massas populares árabes sofreram demasiado desta cumplicidade objectiva das suas próprias burguesias corrompidas até a medula e da burguesia ocidental que os mantêm na dependência e na miséria. O mundo árabe hoje é uma verdadeira bomba que pode explodir a qualquer momento.
Exploradas, marginalizadas e humilhadas por longo tempo, as massas populares árabes lentamente levantam a cabeça e tentam sair desta longa noite na qual foram mergulhadas.
Trabalhadores, progressistas e democratas europeus: é nosso dever apoiar o povo tunisino na sua luta contra um regime de outra era. A sua vitória nesta região do mundo árabe será igualmente a nossa aqui na Europa.
Que contraste entre a violência da propaganda contra o Irão na Primavera de 2009 aquando das eleições presidenciais e o servilismo das declarações oficiais a propósito da revolta do povo tunisino. Bastaria na época ler os títulos dos jornais e olhar as imagens difundidas em cadeia pelas televisões americanas e europeias para perceber o ódio do imperialismo à República Islâmica do Irão. Mas a revolta do povo tunisino não merece senão o desprezo e o silêncio. Pois "A Tunísia é um país amigo, estamos extremamente vigilantes com o que se passa lá em baixo e muito preocupado (...) Ao mesmo tempo, a França não tem de se ingerir nos assuntos da Tunisia", declarava Luc Chatel na Radio Classique e i-Télé .
Sempre invocando cinicamente o direito de não ingerência nos assuntos dos outros países, os governo francês, através da sua ministra dos Negócios Estrangeiros Michèle Alliot-Marie, chega mesmo a propor aos regimes tunisino e argelino sua colaboração em matéria de seguranças e manutenção da ordem: "Propomos que o know how das nossas forças de segurança, reconhecido no mundo inteiro, resolva situações securitárias deste tipo. Esta é a razão pela qual propomos aos dois países [Argélia e Tunísia], no quadro das nossas cooperações, agir neste sentido para que o direito de manifestar possa ser feito ao mesmo tempo que a garantia da segurança" [1] . É que a França é um dos primeiros investidores estrangeiros na Tunísia. Ela ocupa mesmo o primeiro lugar quanto ao número de empresas instaladas neste país (1200 empresas). Pode-se citar dentre muitas Lacoste, Valeo, Sagem, Danone, Sanofi-Aventis, Fram, Accor, Club med, BNP-Paribas, Société générale, Groupe Caisse d'épargne etc. etc. [2]
As burguesias ocidentais que apregoam incessantemente desejarem difundir a democracia por todo o mundo, na realidade não fazem senão sustentar, directa ou indirectamente, as ditaduras e impedem deste modo todo progresso no caminho da democracia e do progresso social. Toda a história do imperialismo não é senão o apoio aos regimes mais ferozes, quando não são instalados directamente por ele. Seria difícil e fastidioso pretender estabelecer uma lista exaustiva destas ditaduras pois são demasiado numerosas. Citemos ainda assim as mais conhecidas e as mais terríveis: Augusto Pinochet no Chile, Videla na Argentine, Somoza na Nicarágua, Suharto na Indonésia, Marcos nas Filipinas, Musharraf no Paquistão, o xá Reza Pahleve no Irão, Hosni Mubarak no Egipto, Omar e Ai Bongo no Gabão, etc, etc. O apoio indefectível das burguesias ocidentais aos regimes mais sangrentos é uma constante na história do capitalismo.
Hoje, o levantamento do povo tunisino, sua coragem e sua determinação a enfrentar um dos regimes mais repressivos, mostra o caminho a seguir a todos os oprimidos não só do Magreb como de todo o mundo árabe!
As massas populares árabes sofreram demasiado desta cumplicidade objectiva das suas próprias burguesias corrompidas até a medula e da burguesia ocidental que os mantêm na dependência e na miséria. O mundo árabe hoje é uma verdadeira bomba que pode explodir a qualquer momento.
Exploradas, marginalizadas e humilhadas por longo tempo, as massas populares árabes lentamente levantam a cabeça e tentam sair desta longa noite na qual foram mergulhadas.
Trabalhadores, progressistas e democratas europeus: é nosso dever apoiar o povo tunisino na sua luta contra um regime de outra era. A sua vitória nesta região do mundo árabe será igualmente a nossa aqui na Europa.
(2) www.ambassadefrance-tn.org/...
O original encontra-se em www.legrandsoir.info/...
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
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