Marcus Eduardo de Oliveira (*)
Inequivocamente,
o homem é um agressor em potencial da natureza. Esse pouco cuidado com o
meio ambiente, aprofundado enfaticamente no último meio século, já fez
centenas de milhares de vítimas mundo afora.
Enquanto os horizontes do
sistema de mercado priorizarem a busca incessante do lucro, pouco se
importando se com isso o meio ambiente será ou não afetado, a natureza,
agredida sem piedade, vai aos poucos dando seu recado.
Nessa história toda parece
que continuamos - nós, o bicho-homem -, sem aprender algo substancial,
enquanto vítimas e mais vítimas - humanos, animais, plantas, flores e
frutos - vão tombando pelo caminho. É a vida em toda sua plenitude que
está sendo dilacerada.
A recente tragédia na Região
Serrana do estado do Rio de Janeiro, com vítimas fatais que aumentam a
cada dia, afora o descaso do poder público que sempre fez vistas grossas
para a construção de habitações nas encostas íngremes e irregulares,
pois isso rende votos, é, na essência, culpa do desequilíbrio ambiental
que tem, na origem, a agressão humana para com a Mãe e a Irmã Natureza.
Talvez não seja
precipitado associar as fortes chuvas dos últimos dias ao aquecimento
global. Um aquecimento que propicia em seu conjunto mais energia no
sistema climático. No centro da questão está a agressão ambiental para
atender ao sistema de produção que "reclama" mais produtos no mercado.
Enquanto grande parte de
nossa gente, dos diversos estratos da sociedade, continuar a atender aos
ditames do mercado engrossando os apelos do consumo voraz, insistindo
em ver a natureza apenas como mero apêndice de um sistema econômico cada
vez mais tacanho e perverso, capaz de construir uma "falsa" riqueza
sobre os reais escombros da natureza, outras tragédias surgirão e mais e
mais mortes serão computadas.
Para tentar reverter essa
trágica situação, a idéia da prática de uma Pedagogia Ecológica, ou
tenha isso o nome que tiver - ecopedagogia, consciência ecológica,
bioeconomia, socialismo ecológico e outros -, se insere como condição
essencial de aprendizagem capaz de proporcionar não só qualidade de
vida, mas sim a preservação da própria vida.
Essa Pedagogia Ecológica
aqui modestamente defendida, é fruto de ponderações de renomados
pensadores da órbita ambiental, e tem como ponto focal pensar num mundo
sustentável partindo do conhecimento pleno do ambiente aliado a uma
relação harmoniosa para com a natureza.
Essa Pedagogia Ecológica,
para resumirmos essa idéia em poucas palavras, pressupõe uma regência
do mundo natural, em todas suas matizes, de forma a se coadunar na
prática do comum e irrestrito respeito ambiental, afastando-se do
consumo voraz e vendo a vida no futuro como parceira indispensável da
natureza.
Na essência, trata-se de uma
proposta de ecologia pedagógica que visa ensinar primeiro a respeitar o
recurso natural, pois isso se reflete na qualidade de vida. Isso deverá
ser ensinado nos primeiros anos de estudo, fazendo com que a garotada
tenha contato inicial com a necessidade de preservar a natureza, tal
qual defendemos em outro artigo que, para nossa satisfação, teve boa
acolhida e ampla repercussão nos sites e boletins informativos que
circulam pela internet (*).
Além disso, essa proposta de Pedagogia Ecológica
não deverá ficar restrita aos bancos escolares. É necessário e mesmo
fundamental para o sucesso dessa proposta, que isso ganhe tom de
campanha nacional, veiculado em termos de propaganda televisiva no
horário nobre, permitindo a possibilidade de maior consciência ecológica
de todos nós.
A "linguagem" usada nessa proposta de Pedagogia Ecológica
televisiva e escolar, deve ser fácil e inteligível, capaz de "chegar" a
todos, do Phd que poderá reproduzir isso em sala de aula, até o mais
humilde morador de uma simples habitação num pedaço de morro qualquer.
Edward Teller certa vez disse que "A ciência procura encontrar lógica e simplicidade na natureza". Kepler, de certa forma, corroborou afirmando que "A natureza ama a simplicidade" e Newton, por sua vez, pontuou que "(...) a natureza se apraz com a simplicidade".
Pois é com essa
simplicidade, levando um discurso de reconstrução e preservação
ambiental que devemos trabalhar. A hora é de unir esforços - poder
público, sociedade civil, organizações não governamentais, movimentos
populares, imprensa e universidade - para levar à frente essa campanha
de Pedagogia Ecológica que é mais que informativa; é uma campanha de
orientação e precaução de novas tragédias.
Uma vez realçada essa idéia,
incorporando novos adeptos, não seria presunção afirmar que outras
tragédias poderão ser evitadas. Assim, se há alguém ou algo que poderá
ganhar com isso, esse "algo" é, certamente, uma "coisa" indispensável
que nos foi dada com total estima: a vida.
Assegurar a vida é, antes,
buscar o equilíbrio ecológico. Para isso, nada melhor que todos tenham
em mente a necessidade de saber o que fazer com a natureza. A
natureza nunca foi má conosco; nós é que sempre fomos perversos com
ela. É a nossa chance de retribuir o que a natureza sempre nos deu.
(*) Ver o artigo "Sustentabilidade deve ser ensinada e praticada na Escola", de nossa autoria.
Marcus Eduardo de Oliveira é
economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São
Paulo. Especialista em Política Internacional pela (FESP) e mestre pela
(USP). Colunista do Portal EcoDebate, do site "O Economista", da Agência
ADITAL, do jornal Diário Liberdade (Galícia) e da Agência Zwela de
Notícias (Angola).