segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Facismo Ordinário (Обыкновенный фашизм/Obyknovennyy fashizm; Mikhail Romm; 1965)


Título: Facismo Ordinário (Обыкновенный фашизм/Obyknovennyy fashizm)
Ano: 1965
Diretor: Mikhail RommProdução: URSS
Tema: Visão de um diretor Soviético sobre o nazismo
Créditos: Filmes Políticos
 

A direita política e midiática criando doentes mentais

Com todas as possibilidades técnicas e jornalísticas do século XXI, a demência de alguns líderes políticos e o poder de algumas vias midiáticas de propaganda conseguem arrastar grandes setores da opinião pública para uma dissociação psicótica que ninguém sabe até onde pode nos levar.

Por Pascual Serrano na Revista Fórum

Em plena era da informação, é estarrecedor como se pode conseguir  que amplos setores da opinião pública possam executar uma alteração tão impressionante da realidade. Na Venezuela, atende pelo nome de ‘dissociação psicótica’, isto que consiste em um processo mental pelo qual se cria no subconsciente do indivíduo uma realidade fictícia na qual todos os males e todo o mal que se sucede provém de uma só causa ou de uma só pessoa. A tese levantada pelos setores alinhados ao governo venezuelano e à manutenção da institucionalidade é que os meios de comunicação implantaram este modo de pensamento, de tal maneira que responsabilizam de forma patológica Hugo Chávez e o governo venezuelano por todo o mal que ocorre, perdendo assim qualquer capacidade de análise racional da realidade. O curioso é que não é somente na Venezuela que isto ocorre. Nos Estados Unidos se trata de uma forma de pensamento que não para de aumentar e se difundir entre a ultra direita política e midiática.

No dia 6 de março de 2003 o membro da Câmara de Representantes do Texas, Debbie Riddle, em uma entrevista ao jornal El Paso Times, afirmava: “De onde surge esta idéia de que todo o mundo merece uma educação gratuita, atenção médica gratuita, independente de quem seja? Vem de Moscou, da Rússia. Vem diretamente da boca do inferno. E é habilmente disfarçada como uma idéia de gente de bom coração. Nada de bom coração. Isso é o que rasga o coração deste país”1 . O professor de História da Universidade de Houston, Robert Zaretsky recordava2 que a supracitada congressista republicana levantou no início de 2010 aquilo que chamou de “o problema dos terroristas de bermudas”. Segundo ela, existiriam mulheres enviadas por terroristas que cruzariam a fronteira para dar à luz seus filhos em solo estadunidense. Uma vez crescidos, estes “agentes adormecidos” passariam à ação com o objetivo de disseminar o caos nos Estados Unidos.

Não se trata de uma paranóia exclusiva de Riddle; outro membro do Texas na Câmara de Representantes, Louie Gohmert, afirmou em um discurso pronunciado na Câmara em junho de 2010 que um ex-agente do FBI lhe havia contado sobre os “terror baby”. Segundo explicou mais tarde em uma entrevista ao Fox Business News, ele conheceu num avião um passageiro com um familiar que pertencia ao Hamas que lhe contou que este tinha a intenção de conseguir que um neto seu nascesse nos Estados Unidos3. Na entrevista, Gohmert afirmou que as mulheres grávidas viajam do Oriente Médio aos EUA com vistos de turista e munidas da intenção de dar a luz nos Estados Unidos e conseguir assim para seus filhos a cidadania estadunidense. Segundo Gohmer, depois a criança voltaria ao país de origem da mãe onde faria um treinamento com terroristas com o objetivo de voltar depois aos Estados Unidos. Quando o jornalista pediu a Gohmert que fornecesse provas disto, ele se limitou a indicar um artigo do Washington Post4 que descrevia o que denominam de turismo de nascimento (“birth tourism”). Tratava-se da existência de pacotes turísticos, em especial para cidadãos chineses, com o objetivo que a “turista” grávida tivesse seu filho em território estadunidense. Aquilo foi descrito pelo político republicano como um “enorme rombo na segurança do nosso país”. Perguntando pela relação disto com as crianças terroristas, afirmou: “Se você não acredita que isto é uma prova, é porque acha que os terroristas são mais tontos que estas pessoas empreendedoras” 5. O assunto foi de tal maneira absurdo que provocou uma paródia no The Daily Show6, mas sem dúvida, tendo em vista os hábitos eleitorais, não faltariam cidadãos para compartilhar a tese de Gohmert.

A paranoia política da ultra direita tem também seu correspondente braço midiático. O professor de literatura da Universidade de Illinois, Walter Benn Michaels, conta7 que no verão do ano passado, surgiu uma controvérsia entre duas “estrelas” da direita estadunidense da emissora Fox, em torno da pergunta: Qual é o inimigo mais perigoso dos Estados Unidos da América? O primeiro deles, Bill O’Reilly, responde o previsível: Al-Qaeda. Porém, o outro jornalista, Glenn Beck, afirmou: “não são os jihadistas os que ‘querem destruir nosso país’, mas sim ‘os comunistas’”. Pode se pensar que Beck somente respondeu mediante um condicionamento mental característico da Guerra Fria. No entanto, ele nasceu em 1964, e não pode conhecer este período com pleno uso da razão. Por outro lado, Beck não é um apresentador minoritário. Em 2009 seu programa foi um dos que obteve maior audiência de notícias comentadas na televisão a cabo, com oito milhões de espectadores. Em programas de outros canais, como a ABC, ele foi selecionado pelo público como uma das “10 pessoas mais fascinantes” de 20098 . E em 2010 o jornal The Times o incluiu entre os cem líderes políticos mais influentes9 .

Benn Michaels recorda que na lista dos best-sellers da Amazon, o ensaio político mais vendido é Caminho de Servidão, do economista ultraconservador austríaco Friedrich Hayek, falecido em 1992. Uma das teses do livro é que qualquer política dirigida diretamente a um ideal de justiça distributiva, isto é, o que se entende como uma distribuição “mais justa”, tem necessariamente que conduzir à destruição do império da lei. Nos Estados Unidos pode-se escutar o jornalista de rádio com maior audiência do país, Rush Limbaugh, alertando contra os espiões “comunistas” que “trabalham para Vladimir Putin” 10.

O fenômeno, como era de se esperar, não se restringe aos Estados Unidos nem à Venezuela. Na Itália, Silvio Berlusconi afirma que os comunistas querem eliminá-lo11, apesar dos comunistas não terem ali nem mesmo um só deputado nacional. Na Espanha, até mesmo o setores midiáticos próximos ao governo tentam dar o sinal de alerta sobre a paranoia da direita midiática12. Assim o denuncia o ex-diretor adjunto do jornal El País, José Maria Izquierdo, em seu livro As Cornetas do Apocalipse, onde passa por algumas das figuras da direita troglodita espanhola e suas “pérolas” de análise sobre a situação espanhola e o governo Zapatero. Ainda que valesse a pena recordar ao autor que foi em seu jornal que mais soaram as trombetas do apocalipse contra os governos progressistas da América Latina. Também se na Espanha se une a eles a Igreja, a instituição mais antiga na arte de disseminar o pânico e a angústia. O bispo de Córdoba assegurou que a Unesco tem um plano “para, nos próximos vinte anos, fazer com que a metade da população mundial seja homossexual” 13.
Em qualquer caso, a inquietante conclusão é a angústia de comprovar que, com todas as possibilidades técnicas e jornalísticas do século XXI, a demência de alguns líderes políticos e o poder de algumas vias midiáticas de propaganda consigam arrastar grandes setores da opinião pública para uma psicose, uma dissociação psicótica que ninguém sabe até onde pode nos levar.

Pascual Serrano é jornalista. Acaba de publicar o livro Traficantes de información. La historia oculta de los grupos de comunicación españoles. Foca.

1 "Legislators Question Border Health", El Paso Times. 6-3-2003
2Le Monde Diplomatique (edição espanhola) Dezembro, 2010
3Editorial. The Boston Globe, 14-8-2010. http://www.boston.com/bostonglobe/editorial_opinion/editorials/articles/2010/08/14/and_avoid_crackpot_theories_too/ .
4Richburg, Keith. "For many pregnant Chinese, a U.S. passport for baby remains a powerful lure", Washington Post, 18-7-2010 http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2010/07/17/AR2010071701402.html
5 "Video: Rep. Gohmert on `terror babies` ”. CNN, 12-8-2010. http://ac360.blogs.cnn.com/2010/08/12/video-rep-gohmert-on-terror-babies-conspiracy/
6 "Jon Stewart & Anderson Cooper Look at Gaping Holes - Security - The Daily Show with Jon Stewart. Video Clip | Comedy Central" . Thedailyshow.com. 17-8-2010. http://www.thedailyshow.com/watch/tue-august-17-2010/jon-stewart---anderson-cooper-look-at-gaping-holes---security .
7Le Monde Diplomatique, Dezembro 2010.
8 "Top 10 Most Fascinating People of 2009" . ABC News. http://abcnews.go.com/Entertainment/slideshow?id=9225910&page=3 .
9 “ Time`s 2010 Top 100 most influential people list ”. The Times, 29-4-2010. http://www.time.com/time/specials/packages/completelist/0,29569,1984685,00.html http://www.time.com/time/specials/packages/article/0,28804,1984685_1984864_1985415,00.html
10Se puede escuchar en Media Matters, 8-7-2010 http://mediamatters.org/mmtv/201007080038
11Berlusconi: "Os comunistas existem e usam dos juízes próximos para me eliminar". El País, 5-1-2011. http://www.elpais.com/articulo/internacional/Berlusconi/comunistas/existen/usan/jueces/cercanos/eliminarme/elpepuint/20110105elpepuint_9/Tes
12“O `discurso do ódio` envenena a democracia”. Público, 16-1-2011. http://www.publico.es/internacional/356440/el-discurso-del-odio-envenena-la-democracia
13El País, 2-1-2011 http://www.elpais.com/articulo/sociedad/obispo/Cordoba/Unesco/quiere/hacer/mitad/poblacion/sea/homosexual/elpepusoc/20110102elpepusoc_5/Tes
Publicado por Rebelión. Foto por http://www.flickr.com/photos/cjc4454/.

Noticias do Portal Patria Latina

Um político na lata do lixo da história


As mais recentes revelações do site WikiLeaks mostram uma faceta do ex-senador Heráclito Fortes (foto) que muitos já imaginavam existir. O ex-senador prefere negar, como outros indicados pela WikiLeaks o fizeram. Heráclito não tem coragem de admitir ter sugerido ao então embaixador estadunidense Clifford Sobel que o governo dos Estados Unidos estimulasse a produção de armas no Brasil para conter supostas ameaças de Venezuela, Irã e Rússia, como revelou o site WikiLeaks.
O povo do Piauí julgou este senhor nas urnas, impedindo que ele tivesse mais oito anos de mandato no Senado. Na verdade, o Piauí livrou-se de um político pernicioso aos interesses nacionais. Quando Heráclito Fortes tinha mandato, os meios de comunicação de mercado lhe proporcionavam grandes espaços, sobretudo ao criticar pontos positivos da política externa do governo Lula e o próprio Presidente da República. Portanto, o Brasil consciente agradece ao povo do Piauí por mandar este Heráclito Fortes para o lixo, de onde se espera nunca mais saia.
Tem políticos do Demo e do PSDB que continuam por aí seguindo a mesma linha de Fortes. As revelações do site WikiLeaks mostram também como são promíscuas as relações de alguns políticos brasileiros com diplomatas estadunidenses.
A patota do Heráclito Fortes e adjacências não vai gostar nada da informação segundo a qual o governo da Venezuela anunciou ter ampliado suas reservas petrolíferas para 297 bilhões de barris. Se o fato for mesmo confirmado pela OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), a República Bolivariana da Venezuela se transformará no país com a maior reserva de petróleo do mundo, maior até do que a Arábia Saudita, aliadíssima dos Estados Unidos.
Falando em mundo árabe, a Tunísia está dando um exemplo de como é fundamental a mobilização popular. O povo nas ruas tirou um ditador corrupto, Zine El Abidine Ben Ali, que fugiu exatamente para a Arábia Saudita, levando ouro e tudo mais para viver nababescamente. 
Na área de imprensa, os jornalistas tunisinos estão fazendo uma revolução que deve servir de exemplo em muitas partes do mundo. Segundo o Le Monde, ao levarem a cabo a “Revolução do Jasmim”, os jornalistas estão assenhoreando-se da linha editorial nas redações, sem, por enquanto, exigir a saída de sua direção. Formam comitês de redação nos meios de comunicação do Estado, nos jornais privados vinculados ao antigo regime e até naqueles do ex-partido no poder, a União Constitucional Democrática, cuja dissolução as massas populares estão a exigir nas ruas. «Somos nós que vamos decidir doravante a linha editorial», garantiu o jornalista Faouzia Mezzi. O jornalista Taukif Ben Brik, ferrenho opositor do regime de Ben Ali, será candidato na eleição presidencial que deverá ocorrer dentro de seis meses.
Os donos do poder na Tunísia querem trocar o seis pelo meia dúzia, ou seja, que permaneça no poder o esquema anterior, apenas com a saída de Ben Ali. O povo e os jornalistas não aceitaram o jogo e almejam um novo país, sem esquemas corruptos e ditatoriais, do tipo que se subordina sem pestanejar aos ditames do mercado financeiro. O povo percebeu a manobra e segue nas ruas exigindo virar a página em definitivo.
Por aqui seguimos sob o impacto da tragédia na região serrana. Um esclarecimento, o que houve na região serrana não foi o evento natural com o maior número de mortos. O maior até agora ocorreu em 1967 na Serra das Araras, quando a encosta desabou matando entre 1.500 e 1700 pessoas, cujos corpos ficaram lá mesmo e não foram encontrados. Como naquele ano o país vivia em plena ditadura, muitas informações foram omitidas, mas não dá para esquecer o fato, como fizeram os jornalões e telejornalões de hoje.
E, para finalizar, vale assinalar que o município de São Lourenço segue sob a influência nefasta da Nestlé, que vem utilizando os poços de água mineral daquela cidade para fabricar água marca PureLife. Diversas organizações da cidade vêm combatendo a prática, por muitas razões.
Segundo informa a jornalista Carla Klein, para fabricar a PureLife, a Nestlé, sem estudos sérios de riscos à  saúde, desmineraliza a água e acrescenta sais minerais de sua patente. E a desmineralização de água é proibida pela Constituição. Cientistas europeus afirmam que nesse processo a Nestlé desestabiliza a água e acrescenta sais minerais em larga escala as águas minerais naturais, o que pode ter reflexos em outras cidades vizinhas.
Tem mais: como na Europa a campanha contra a Nestlé se intensificou e conta com apoio de Igrejas que denunciam o que acontece em São Lourenço, o próprio presidente da empresa tinha cedido às pressões e prometeu o fim dos trabalhos na cidade mineira. Aí sabem o que fez o governo tucano de Aécio Neves logo após a promessa do chefão da Nestlé? Baixou portaria regulamentando a atividade da empresa em São Lourenço. Ou seja, permitiu que a empresa multinacional continuasse a fazer o que sempre fez na corrida pelo lucro em detrimento da população. E tudo isso acontece sob o silêncio da mídia de mercado, que tem a Nestlé como grande ($$$$) aliada.
Mario Augusto JakobskindÉ um dos fundadores de Pátria Latina, correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE

Crianças são resgatadas de fazenda de fumo ilegal

Ação conjunta do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Ministério Público do Trabalho (MPT), Polícias Federal e Militar no município de Rio Negrinho, Planalto Norte catarinense, resgatou 23 pessoas de uma fazenda produtora de fumo onde trabalhavam em condições análogas a de escravo. Dos 23 trabalhadores resgatados, onze são crianças e adolescentes com idades entre 12 e 16 anos.
"Conforme orientação da promotora de Justiça na região, as crianças e adolescentes foram entregues em suas casas. O Ministério Público Estadual vai tomar as providências cabíveis com relação ao trabalho infantil”, contou o procurador do Trabalho Guilherme Kirtschig. A fazenda foi interditada e o procurador deu uma semana de prazo para o proprietário levantar os recursos para pagar os danos morais e as verbas trabalhistas e previdenciárias devidas.

A reportagem é do Ministério Público do Trabalho em Santa Catarina e publicada por EcoDebate, 21-01-2011 e publicada do portal do MST

No momento da ação da fiscalização, os trabalhadores e as crianças trabalhavam na colheita do fumo e aplicação de agrotóxicos sem equipamentos de proteção, descalços ou de chinelos de dedo. O trabalho em plantações de fumo está entre as piores formas de exploração da criança e do adolescente, conforme a Organização Internacional do Trabalho (OIT), pois provoca câncer e outras doenças fatais e degenerativas sendo expressamente proibido, por decreto do MTE, para menores de 18 anos. “Além do contato com o fumo, que já é nocivo à saúde e proibido para menores de 18 anos, eles também lidavam com agrotóxicos sem proteção alguma”, afirma Lilian Carlota Resende, coordenadora de fiscalização do trabalho rural do MTE em Santa Catarina.
Segundo ela, os menores – uma menina de 12 anos, duas meninas e um menino de 13 anos, um menino e uma menina de 14 anos e duas meninas e três meninos de 15 anos – informaram que um trator, com uma caçamba acoplada, passava perto das 6 horas da manhã no centro de Vargem Grande – localidade onde fica a fazenda autuada – e transportava menores e adultos dentro da caçamba até o local de trabalho. “Os menores trabalhavam até perto das 19 horas quando retornavam na caçamba do trator chegando em casa perto das 20 horas”, relata Lilian.
No local, uma grande plantação de fumo, havia apenas o banheiro da casa do produtor que arrendou terras para o empregador. Os menores relataram que muitas vezes faziam suas necessidades no mato e que apesar da água fornecida estar em um galão, todos bebiam a água no mesmo copo, aumentando os riscos de contaminação por doenças infecto-contagiosas.
De acordo com a auditora fiscal, no momento em que a equipe de fiscalização chegou ao local, dois trabalhadoras faziam a aplicação do produto Primeplus – agrotóxico altamente altamente perigoso. “As empregadas esconderam os aplicadores atrás do chiqueiro de porcos para que a fiscalização não visse que as mesmas faziam a aplicação sem qualquer proteção, uma delas inclusive estava de chinelos, e ambas usavam a roupa própria de uso comum, que posteriormente inclusive seria lavada normalmente com as roupas da família, vindo a contaminar outras pessoas”, completa.
As empregadas passavam os agrotóxicos nos locais em que os menores colhiam o fumo, conforme relataram os menores, e o produtor não possuía qualquer Estudo de Gerenciamento dos Riscos dos Agrotóxicos em relação aos trabalhadores. Não havia local para guarda, armazenamento e preparação da calda do agrotóxico. Também não havia local para higienização dos empregados que aplicavam o agrotóxico.
Os fiscais constataram ainda que outra caçamba transportava, ao mesmo tempo, os galões de água, junto com o agrotóxico Primeplus e o agrotóxico Agral, junto com os mantimentos que serviam para as refeições dos empregados.
Os empregados adultos não estavam registrados, portanto não estavam amparados pela previdência social em caso de acidentes, doenças ou morte (no caso para apoio da família), não tinham sido submetidos a exame médico, não recebiam outros direitos como repouso semanal remunerado, férias proporcionais, 13º salário proporcional e FGTS.

Reicidente

A fazenda em questão foi autuada há dois anos atrás pelos mesmos motivos quando firmou Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o MPT. “Infelizmente, não conseguimos saber para quem seria vendida a produção desta fazenda, pois certamente o MPT acionaria a fumageira, que é solidariamente responsável por esse tipo de situação”, lamentou o procurador. Kirtschig deu uma semana de prazo para o proprietário levantar os recursos para pagar os danos morais e as verbas rescisórias trabalhistas e previdenciárias.
"Alguns estavam trabalhando há cerca de 26 dias enquanto outros estavam há três ou quatro dias”, diz o procurador. Para evitar uma ação judicial e a execução integral do TAC descumprido, que estabelece mais de R$ 100 mil em danos morais, o proprietário deverá pagar R$ 1 mil para cada trabalhador e R$ 1,3 mil para cada um dos menores a título de danos morais individuais. “Mais as verbas rescisórias trabalhistas e previdenciárias, o que deve totalizar cerca de R$ 60 mil”, conclui o procurador.

Pedagogia ecológica: Proposta para evitar tragédias e salvar vidas

 

 

Marcus Eduardo de Oliveira (*)
14446.jpegInequivocamente, o homem é um agressor em potencial da natureza. Esse pouco cuidado com o meio ambiente, aprofundado enfaticamente no último meio século, já fez centenas de milhares de vítimas mundo afora.
            Enquanto os horizontes do sistema de mercado priorizarem a busca incessante do lucro, pouco se importando se com isso o meio ambiente será ou não afetado, a natureza, agredida sem piedade, vai aos poucos dando seu recado.
            Nessa história toda parece que continuamos - nós, o bicho-homem -, sem aprender algo substancial, enquanto vítimas e mais vítimas - humanos, animais, plantas, flores e frutos - vão tombando pelo caminho. É a vida em toda sua plenitude que está sendo dilacerada.
            A recente tragédia na Região Serrana do estado do Rio de Janeiro, com vítimas fatais que aumentam a cada dia, afora o descaso do poder público que sempre fez vistas grossas para a construção de habitações nas encostas íngremes e irregulares, pois isso rende votos, é, na essência, culpa do desequilíbrio ambiental que tem, na origem, a agressão humana para com a Mãe e a Irmã Natureza.
 
            Talvez não seja precipitado associar as fortes chuvas dos últimos dias ao aquecimento global. Um aquecimento que propicia em seu conjunto mais energia no sistema climático. No centro da questão está a agressão ambiental para atender ao sistema de produção que "reclama" mais produtos no mercado.
            Enquanto grande parte de nossa gente, dos diversos estratos da sociedade, continuar a atender aos ditames do mercado engrossando os apelos do consumo voraz, insistindo em ver a natureza apenas como mero apêndice de um sistema econômico cada vez mais tacanho e perverso, capaz de construir uma "falsa" riqueza sobre os reais escombros da natureza, outras tragédias surgirão e mais e mais mortes serão computadas.
            Para tentar reverter essa trágica situação, a idéia da prática de uma Pedagogia Ecológica, ou tenha isso o nome que tiver - ecopedagogia, consciência ecológica, bioeconomia, socialismo ecológico e outros -, se insere como condição essencial de aprendizagem capaz de proporcionar não só qualidade de vida, mas sim a preservação da própria vida.
            Essa Pedagogia Ecológica aqui modestamente defendida, é fruto de ponderações de renomados pensadores da órbita ambiental, e tem como ponto focal pensar num mundo sustentável partindo do conhecimento pleno do ambiente aliado a uma relação harmoniosa para com a natureza.
            Essa Pedagogia Ecológica, para resumirmos essa idéia em poucas palavras, pressupõe uma regência do mundo natural, em todas suas matizes, de forma a se coadunar na prática do comum e irrestrito respeito ambiental, afastando-se do consumo voraz e vendo a vida no futuro como parceira indispensável da natureza.
            Na essência, trata-se de uma proposta de ecologia pedagógica que visa ensinar primeiro a respeitar o recurso natural, pois isso se reflete na qualidade de vida. Isso deverá ser ensinado nos primeiros anos de estudo, fazendo com que a garotada tenha contato inicial com a necessidade de preservar a natureza, tal qual defendemos em outro artigo que, para nossa satisfação, teve boa acolhida e ampla repercussão nos sites e boletins informativos que circulam pela internet (*).
            Além disso, essa proposta de Pedagogia Ecológica não deverá ficar restrita aos bancos escolares. É necessário e mesmo fundamental para o sucesso dessa proposta, que isso ganhe tom de campanha nacional, veiculado em termos de propaganda televisiva no horário nobre, permitindo a possibilidade de maior consciência ecológica de todos nós.
            A "linguagem" usada nessa proposta de Pedagogia Ecológica televisiva e escolar, deve ser fácil e inteligível, capaz de "chegar" a todos, do Phd que poderá reproduzir isso em sala de aula, até o mais humilde morador de uma simples habitação num pedaço de morro qualquer.
            Edward Teller certa vez disse que "A ciência procura encontrar lógica e simplicidade na natureza". Kepler, de certa forma, corroborou afirmando que "A natureza ama a simplicidade" e Newton, por sua vez, pontuou que "(...) a natureza se apraz com a simplicidade".

            Pois é com essa simplicidade, levando um discurso de reconstrução e preservação ambiental que devemos trabalhar. A hora é de unir esforços - poder público, sociedade civil, organizações não governamentais, movimentos populares, imprensa e universidade - para levar à frente essa campanha de Pedagogia Ecológica que é mais que informativa; é uma campanha de orientação e precaução de novas tragédias.
            Uma vez realçada essa idéia, incorporando novos adeptos, não seria presunção afirmar que outras tragédias poderão ser evitadas. Assim, se há alguém ou algo que poderá ganhar com isso, esse "algo" é, certamente, uma "coisa" indispensável que nos foi dada com total estima: a vida.
            Assegurar a vida é, antes, buscar o equilíbrio ecológico. Para isso, nada melhor que todos tenham em mente a necessidade de saber o que fazer com a natureza.             A natureza nunca foi má conosco; nós é que sempre fomos perversos com ela. É a nossa chance de retribuir o que a natureza sempre nos deu.
(*) Ver o artigo "Sustentabilidade deve ser ensinada e praticada na Escola", de nossa autoria.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo. Especialista em Política Internacional pela (FESP) e mestre pela (USP). Colunista do Portal EcoDebate, do site "O Economista", da Agência ADITAL, do jornal Diário Liberdade (Galícia) e da Agência Zwela de Notícias (Angola).

Os povos turcos na história


A Turquia sobreviveu, mas a transição, traumática, deixou sequelas dolorosas



Miguel Urbano Rodrigues no Brasil de Fato

Voltei a Istambul transcorridas quase seis décadas. Foi um estranho reencontro. A cidade, quando a descobri, tinha menos de um milhão de habitantes; hoje tem mais de 15 milhões.
Na juventude a Turquia apareceu-me como porta do Oriente. Via nela o país dos turcos. Foi somente a partir dos anos 1970 em viagens pela Ásia Soviética que principiei a tomar conhecimento da grande aventura dos povos turcos.
O berço dos turcos foi a taiga siberiana. Nas suas migrações, no primeiro milênio antes da Nossa Era, trocaram as florestas árticas pelas estepes da atual Mongólia e aí se transformaram em pastores nômades, criando cavalos, camelos, bois e ovelhas.
Mais tarde entraram pela China e destruíram e fundaram ali impérios. Séculos depois correram para o Ocidente.
Com o tempo, os idiomas das primitivas sociedades tribais evoluíram, distanciando-se. Mas turcófanos eram os Hunos de Átila, os Heftalitas, os Ávaros que chegaram à Hungria, os Uigures, os primeiros Búlgaros.
Turcófonos eram os Seljucidas que expulsaram os Cruzados de Jerusalém, e os Khazar, os Kiptchak, os Petchenegos, povos dos quais descendem dezenas de milhões de Russos. Turcófonos são os atuais Kazaks, os Uzbeques, os Kirguizes, os Turquemenos, os Azeris. Turcófonos eram os Karluk que, aliados aos árabes, lutaram contra os chineses em Talas, no ano 751, numa batalha que travou definitivamente o avanço da China para o Ocidente.
O finlandês, o estônio e o húngaro mergulham as raízes em dialetos turcos dos seus antepassados vindos do Altai.
Os turcófonos são hoje 160 milhões.
Dos Turcos antigos foi projetada a imagem de gente selvagem e cruel. Voltaire apresentou Tamerlão, o maior conquistador do século 14, como um demônio de rosto humano. É inegável que Tamerlão cometeu chacinas hediondas. Mas esse turco chagatai, nascido no atual Uzbequistão, atraiu à sua capital, Samarcanda, os maiores sábios e artistas do Islão asiático e fez dela na época a mais bela e próspera cidade do mundo muçulmano. Babur seu trineto, fundou na Índia o Império do Grão Mogol onde floresceu uma cultura que criou monumentos como o Tahj Mahal.
Ghazni, no atual Afeganistão, é hoje uma palavra esquecida. Mas no século 11 foi a mais prestigiada capital do Islão turco. Nesse sultanato nasceram, viveram e criaram cultura, ciência e arte alguns dos mais famosos sábios, pensadores e escritores do Islão, entre os quais o astrônomo e matemático Al Biruni, o místico Sanaí, Ibn Sina (o médico Avicena), Ferdauci, autor do poema épico Xá Naama, o criador do moderno persa.
Na República russa da Iakutia, no grande norte siberiano, foi para mim uma enorme surpresa verificar que os autóctones são um povo que continua a expressar-se numa língua turca. Um professor russo informou-me durante a visita que das solidões geladas do Estreito de Behring ao Adriático, numa faixa que atravessa a Ásia e a Europa, continuam a viver comunidades turcófonas.
Uma das mais prodigiosas aventuras dos antigos turcos foi a das tribos Oghuz que, abandonando no século 13 as margens do Cáspio, vieram fixar-se na Ásia Menor, em terras que os seljucidas disputavam a Bizâncio. Do nome do seu chefe, Othman, ficaram conhecidos como os Otomanos, fundadores de um império gigantesco.
A conquista de Constantinopla, em 1453, pelo sultão Maomé II assinalou o fim do Império Bizantino, acontecimento que abalou o mundo cristão. Durante 200 anos a Turquia Otomana foi a primeira potência militar do mundo.
A decadência foi lenta, mas irreversível. Ao terminar a I Guerra Mundial, o Império, derrotado, desagregou-se. Foi então que surgiu um daqueles homens que alteram o caminhar dos povos. Mustafa Kemal, o Ataturk, expulsou as tropas estrangeiras, depôs o sultão, aboliu o Califado, proclamou a república laica, impôs a substituição do alfabeto árabe pelo latino.
A Turquia sobreviveu, mas a transição, traumática, deixou sequelas dolorosas. Os turcos contemporâneos sabem que as civilizações quando morrem nunca voltam. Mas as sementes ficam e a sua germinação é complexa e imprevisível.

*Miguel Urbano Rodrigues é escritor português.

Os prostíbulos do capitalismo

Emir Sader no Carta Maior

Os chamados “paraísos fiscais” são verdadeiros prostíbulos do capitalismo. Nesses territórios se praticam todos os tipos de atividade econômica que seriam ilegais em outros países, captando e limpando somas milionárias de negócios como o comércio de armamentos, do narcotráfico e de outras atividades similares.

Os paraísos fiscais, que devem somar um total entre 60 e 90 no mundo, são micro-territórios ou Estados com legislações fiscais frouxas ou mesmo inexistentes. Uma das suas características comuns é a prática do recebimento ilimitado e anônimo de capitais. São países que comercializam sua soberania oferecendo um regime legislativo e fiscal favorável aos detentores de capitais, qualquer que seja sua origem. Seu funcionamento é simples: vários bancos recebem dinheiro do mundo inteiro e de qualquer pessoa que, com custos bancários baixos, comparados com as médias praticadas por outros bancos em outros lugares.

Eles têm um papel central no universo das finanças negras, isto é, dos capitais originados de atividades ilícitas e criminosas. Máfias e políticos corruptos são frequentadores assíduos desses territórios. Segundo o FMI, a limpeza de dinheiro representa entre 2 e 5% doi PIB mundial e a metade dos fluxos de capitais internacionais transita ou reside nesses Estados, entre 600 bilhões e 1 trilhão e 500 bilhões de dólares sujos circulam por aí.

O numero de paraísos fiscais explodiu com a desregulamentação financeira promovida pelo neoliberalismo. As inovações tecnológicas e a constante invenção de novos produtos financeiros que escapam a qualquer regulamentação aceleraram esse fenômeno.

Trafico de armas, empresas de mercenários, droga, prostituição, corrupção, assaltos, sequestros, contrabando, etc., são as fontes que alimentam esses Estados e a mecanismo de limpeza de dinheiro.

Um ministro da economia da Suíça – dos maiores e mais conhecidos paraísos – declarou em uma visita a Paris, defendendo o segredo bancário, chave para esses fenômenos: “Para nós, este reflete uma concepção filosófica da relação entre o Estado e o indivíduo.” E acrescentou que as contas secretas representam 11% do valor agregado bruto criado na Suíça.
Em um país como Liechtenstein, a taxa máxima de imposto sobre a renda é de 18% e o sobre a fortuna inferior a 0,1%. Ele se especializa em abrigar sociedades holdings e as transferências financeiras ou depósitos bancários.

Uma sociedade sem segredo bancário, em que todos soubessem o que cada um ganha – poderia ser chamado de paraíso. Mas é o contrário, porque se trata de paraísos para os capitais ilegais, originários do narcotráfico, do comercio de armamento, da corrupção.

Existem, são conhecidos, quase ninguém tem coragem de defendê-los, mas eles sobrevivem e se expandem, porque são como os prostíbulos – ilegais, mas indispensáveis para a sobrevivência de instituições falidas, que tem nesses espaços os complementos indispensáveis à sua existência.

Revolução Francesa

 

Juremir Machado da Silva, no Correio do Povo de Hoje

<br /><b>Crédito: </b> ARTE PEDRO LOBO

Crédito: ARTE PEDRO LOBO

Ah, essas francesas! Não param de aprontar. Primeiro, leram Simone de Beauvoir, acreditaram que não se nasce mulher, mas que isso vem com a cultura, e rasgaram sutiãs na Bastilha. Depois, perderam o gosto pelo casamento com papel assinado e aderiram ao concubinato por ser mais prático e mais realista. Desde os tempos de Balzac, segundo os mais cínicos, os franceses separam com facilidade amor, sexo e interesses familiares. Alguns chegam a dizer que a família francesa típica é formada por marido, mulher e amante. Vejam que amante tem a vantagem de ser sexualmente indefinido. Pode ser o amante da mulher, a amante do marido, a amante da mulher ou o amante do marido. Mas isso é só literatura.

As francesas estão é fazendo uma revolução silenciosa. Quer dizer, nem tão silenciosa assim, pois tem choro de criança na parada. A situação é a seguinte: as mulheres francesas estão entre as que mais trabalham na Europa (80% delas exercem alguma atividade remunerada). E, ao mesmo tempo, entre as mais férteis do Velho Continente. A taxa de natalidade na França deu um salto. Está em 2,01 filhos por mulher. Tudo indica uma retomada do gosto pela coisa. Vejam que fenômeno: essas mulheres encontram tempo para reclamar - essa é uma arte bem francesa -, trabalhar fora, ter filhos e atender aos apelos governamentais para renovar a população. Os franceses são práticos. As francesas, mais práticas ainda. Ter um segundo filho pode ser um ótimo negócio.

As ajudas governamentais para famílias com mais de um filho podem ser variadas. Um exemplo: ajuda-nascimento ou recepção à cegonha: 903,07 euros. Nasceu, ganhou. Basta precisar. Ou seja, estar na categoria dos que têm renda média ou baixa. Como uma criança não se limita a nascer, é preciso ajudar para que ela cresça com atenção. Até os três anos de idade, mais 180,62 euros por mês para despesas gerais. Até os seis anos de idade, a criança faz jus à "ajuda-babá". Os pais podem usar o dinheiro para colocar o filho numa creche, ter uma babá em casa e assistência à mãe. Tem mais? Claro. Em caso de desemprego, a família recebe mais 379,79 euros mensais como "complementação para atividades livres". Essa soma pode chegar a 560,40 euros. O tempo de duração do benefício varia de acordo com o número de filhos do casal. Dar Bolsa-Família é uma especialidade francesa.

Desde 2006, se pai ou mãe decidem ocupar-se em tempo integral de, ao menos, três filhos, a ajuda governamental pode ir de 620 a 840 euros. Os franceses descobriram que fazer filho é bom, satisfaz o Estado e garante uma graninha legal. A legislação francesa sobre o assunto é complicada e farta. Esse papo aqui é uma pista. As francesas engravidam mais a partir dos 30 anos de idade. É coisa pensada, calculada e madura. Moral da história: país desenvolvido dá Bolsa-Família mesmo. A França gasta até 120 bilhões de euros anuais com isso. Família é fundamental. Nada mais justo que dar um incentivo para todos se animarem a procriar. A educação é gratuita até o último dia de faculdade. Um exemplo constrangedor. Oui!

Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br

Das dez economias que crescerão mais em cinco anos, seis são africanas


Correio do Brasil


Seis das dez economias que mais crescerão nos próximos cinco anos ficam na África Subsaariana, de acordo com a revista britânica The Economist. Angola aparece em primeiro lugar, seguida da China. Os outros africanos da projeção são a Nigéria, Etiópia, o Chade, Moçambique e Ruanda. Para todos eles, a estimativa é de crescimento anual médio de cerca de 8%.
A África inteira ainda é responsável por apenas 2% da economia mundial. Mas, de acordo com a revista, as altas demandas da China por matéria-prima, junto com o alto preço das commodities, farão o continente ter mais importância no total de negócios. Petróleo, gás, outros minerais para componentes eletrônicos, além de madeira e gêneros agrícolas são alguns dos grupos de grandes compras chinesas.
Desde 2009, a China é o maior parceiro comercial da África, superando a União Europeia e os Estados Unidos. O volume de negócios entre a China e os países africanos bateu recorde em 2010, chegando a US$ 114,8 bilhões (aproximadamente R$ 194 bilhões), 43,5% mais que no ano anterior.
Outro fator é o alto investimento direto feito no continente – só pela China, mais de US$ 9,3 bilhões em 2009 (cerca de R$ 15 bilhões) – bem como o perdão de dívidas e as ajudas externas. A urbanização e a melhoria na gestão pública também são apontados como pontos a favor do crescimento africano.
Meio milhão de chineses deixaram seu país para trabalhar em mais de 500 projetos na África, em áreas como mineração, infraestrutura, manufaturas e tecnologia.
      
Nos últimos dez anos, o crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) da África Subsaariana subiu para 5,7%, contra 2,4% nos 20 anos anteriores – mais que os 3,3% da América Latina, mas abaixo da Ásia, com 7,9%, fortemente influenciados por China e Índia. Sem os dois, os percentuais ficam próximos, diz a revista britânica.
Com o aumento de países em rápido crescimento, a África deve superar a Ásia em cinco anos. O Standard Chartered prevê crescimento anual de 7% para o bloco africano nos próximos 20 anos, mesmo com a maior economia – a África do Sul – crescendo menos que a média. De acordo com a revista, a Nigéria, maior exportadora de petróleo da África, pode ultrapassar os sul-africanos nos próximos 10 ou 15 anos.
      
Um dos problemas a serem enfrentados é criar vagas no mercado de trabalho para uma população que, estima-se, crescerá quase 50% até 2030. O problema é maior para as economias muito dependentes da extração mineral, que não expande vagas na mesma medida em que os negócios prosperam. Além disso, o preço das commodities, diz a Economist, deve cair nos próximos anos.
Lembrados como exemplos positivos estão Uganda e Quênia, que não baseiam a economia na exportação de minérios e conseguiram crescer nos últimos anos com base na integração regional e na conquista de fábricas.
Entre as dificuldades a serem superadas, diz a revista, estão a instabilidade política em muitos países, corrupção crônica, os gargalos na infraestrutura e a baixa escolaridade.
Outra questão é reverter essa velocidade de crescimento em menos pobreza para a população. O texto lembra que, em 1980, o ganho médio por habitante na África era quatro vezes maior que na China. Hoje, os ganhos dos chineses são três vezes maiores que os dos africanos.

sábado, 22 de janeiro de 2011

WIKIPÉDIA :O idealismo não remunerado

Por Timothy Garton Ash no stio Observatório da Imprensa
Reproduzido do Estado de S.Paulo, 16/1/2011, tradução de Terezinha Martino; título original "Wikipédia, idealismo não remunerado"
A Wikipédia completou dez anos ontem [sábado, 15/1]. É o quinto website mais visitado na internet. Mensalmente, cerca de 400 milhões de pessoas utilizam seus dados. Aposto que muitos leitores desta coluna estão entre elas. Você quer checar alguma coisa, entra no Google e, então, com mais frequência ou não, escolhe o link Wikipédia como o melhor caminho para sua pesquisa.
O que é extraordinário nessa enciclopédia livre, que contém hoje mais de 17 milhões de artigos em mais de 270 línguas, é que ela é quase que inteiramente escrita, editada e autorregulamentada por voluntários não pagos. Todos os outros websites também muito visitados são empreendimentos multibilionários. O Facebook, com 100 milhões a mais de usuários, está avaliado em US$ 50 bilhões.
Visite o Google no Vale do Silício e vai se encontrar num vasto complexo de edifícios de escritórios modernos, como a capital de uma superpotência. Ali pode existir ainda algumas peças divertidas de Lego no saguão, mas você terá de assinar um acordo de confidencialidade para passar pela porta de entrada. A linguagem dos executivos do Google gira estranhamente entre a de um secretário-geral da ONU e a de um vendedor de carros. Num momento falam de direitos humanos universais para, em seguida, discutirem o "lançamento de um novo produto".
A Wikipédia, ao contrário, é supervisionada por uma fundação não lucrativa. A Fundação Wikimedia ocupa um andar de um prédio comercial anônimo no centro de San Francisco . Você precisa bater forte na porta para alguém vir abrir. Dentro, a sensação que se tem é exatamente do que ela é: uma modesta organização não governamental internacional.
Fatos verificáveisSe o principal arquiteto da Wikipédia, Jimmy Wales, tivesse escolhido comercializar a empresa, hoje estaria bilionário – como Mark Zuckerberg, do Facebook. Colocar a Wikipédia sob a égide de uma organização não lucrativa foi, disse-me Jimmy, ao mesmo tempo a mais estúpida e a mais inteligente ideia que teve. Mais do que qualquer outro importante site global, a Wikipédia exala o idealismo utópico dos heróis da internet nos seus primeiros dias. Os "wikipédios", como eles se chamam, são homens e mulheres com uma missão. E essa missão está resumida na seguinte frase, que poderia ter sido de John Lennon, mas foi dita pelo homem que todos chamam de Jimmy: "Imagine um mundo em que todas as pessoas do planeta têm livre acesso à soma de todo conhecimento humano".
Achar que este objetivo utópico poderia ser atingido por uma rede mundial de voluntários, trabalhando sem ganhar nada, editando todos os assuntos, com as palavras que digitam se tornando visíveis para o mundo todo, era, naturalmente, uma ideia completamente maluca. Mas este exército maluco avançou extraordinariamente em apenas dez anos.
A Wikipédia ainda tem grandes deficiências. Os artigos variam muito, em termos de qualidade, de um tema para outro e de língua para língua.
Muitos dos artigos sobre personalidades são irregulares e desproporcionais. E isso ocorre porque depende muito de que um ou dois wikipédios sejam genuinamente conhecedores daquele assunto e língua particulares. Eles podem ser surpreendentemente bons em pontos obscuros da cultura popular, e muito fracos em algumas áreas de interesse dominante. Nas versões mais antigas (em inglês e alemão, por exemplo) as comunidades editoriais voluntárias, apoiadas por uma pequena equipe da fundação, melhoraram muito os padrões de confiabilidade e capacidade de comprovação, especialmente insistindo nas notas de rodapé com links para as fontes.
Sei que você ainda deve sempre checar a informação encontrada ali antes de citá-la em algum contexto. Um artigo na New Yorker sobre a enciclopédia fez uma distinção interessante entre conhecimento útil e conhecimento confiável. Um dos maiores desafios da Wikipédia na próxima década é reduzir o máximo possível esse fosso que separa o útil e o confiável.
Outro grande desafio é levar este empreendimento para além do Ocidente pós-iluminista, onde nasceu e continua, na maior parte, alojado. Um especialista disse-me que 80% de tudo o que é editado pela Wikipédia provém do mundo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico da ONU. A meta da fundação é chegar a 680 milhões de usuários em 2015 e espera que grande parte desse crescimento seja em lugares como Índia, Brasil e Oriente Médio.
Mas o enigma não é porque o site ainda tem claras deficiências, mas porque ele tem funcionado tão bem. Os wikipédios dão várias explicações para isso. A Wikipédia chegou relativamente cedo, quando não existia esse número incontável de sites para os usuários da internet passarem o tempo. Uma enciclopédia trata (principalmente) de fatos verificáveis, em vez de trazer meras opiniões – comuns na blogosfera. E, sobretudo, ela teve sorte com suas comunidades de editores colaboradores. Diante da escala do projeto, a equipe de editores regulares é muito pequena.
ColaboraçãoCerca de 100 mil pessoas colaboram em mais de 5 edições no mês, mas as grandes Wikipédias, mais antigas, como aquelas em inglês, alemão, francês ou polonês, são apoiadas por um grupo minúsculo de talvez 15 mil pessoas, cada uma oferecendo mais de 100 colaborações por mês. Na maior parte são jovens, solteiros e muito instruídos.
Como muitos dos sites globais conhecidos, a Wikipédia tem a vantagem de estar sediada no que o seu conselheiro Mike Godwin descreve como "o oásis da liberdade de expressão chamado EUA". Todas as enciclopédias em línguas diferentes, não importa onde seus editores vivem e trabalham, são fisicamente hospedadas nos servidores da fundação nos EUA. E têm as proteções legais oferecidas pelas leis americanas de liberdade de expressão.
Civilidade é um dos cinco pilares da Wikipédia. Desde o início, Jimmy diz que deve ser possível combinar honestidade com boas maneiras. Indivíduos mal-educados são contatados e o problema é debatido com eles. Depois, eles são advertidos antes de, caso persistam, serem banidos. Se uma comunidade de uma língua for além da conta, a fundação tem poder para eliminar seus disparates do servidor. (A Wikipédia é uma marca protegida legalmente, enquanto que os Wiki alguma coisa não o são; é o caso do WikiLeaks, que não tem nada a ver com a Wikipédia nem é um wiki).
Não sabemos se o ataque a tiros em Tucson, Arizona, foi diretamente um produto da incivilidade corrosiva do discurso político americano, como ouvimos nas entrevistas de rádio e TV. Um louco pode ser simplesmente louco. Mas essa virulência política diária que observamos nos EUA é um fato inegável.
Diante desse pano de fundo deprimente, é bom comemorar uma invenção americana que, apesar de todas as suas falhas, tenta difundir pelo mundo uma combinação de idealismo não remunerado, conhecimento e uma obstinada civilidade.