Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sábado, 26 de fevereiro de 2011
Hitler falava em nome dos cristãos?
Hitler é o da direita
Estou cansado de ler textos analíticos de esquerda e de direita sobre o Oriente Médio.
E todos acabam se perdendo em elucubrações sobre o islamismo.
Como se o islamismo fosse um bicho papão.
Isso na verdade é o preço que se paga ao se ilustrar pela mídia corporativa que não vende informações, mas adjetivos.
O islamismo, como toda religião, tem seus altos e baixos.
O perigo é a generalização.
Associar o radicalismo ao islamismo é o mesmo que associar o cristianismo ao nazismo e o sionismo ao judaísmo.
Nem todo cristão é nazista e nem todo judeu é sionista.
Ambas as religiões tem seu lado bom e seu lado ruim.
O que está acontecendo no Oriente Médio não tem nada a ver com religião.
Tem a ver com a miséria, exclusão, fome e opressão.
No
Oriente Médio ha nações ocupadas fisicamente – Iraque, Palestina,
Líbano, Síria, o que as transforma em nações colonizadas em pleno século
21.
E há
nações ocupadas monetariamente por corporações que mantêm no poder
títeres cuja única preocupação é assaltar seus países e manter suas
populações sob o jugo dos carrascos.
O que
ocorre agora na região não tem nada a ver com religião, mas com
revoluções que num primeiro momento prescindem das armas, mas todos
sabemos o que pode acontecer num segundo momento.
Sempre se fala que a vontade do povo é soberana, que a voz do povo é a voz de Deus, mas ai do povo que acreditar nisso.
Acaba pagando um preço muito alto.
No entanto e independente disso, a roda da História sempre caminha para frente.
Pode até haver alguns recuos para que o sistema tenha alguma sobrevida, mas que ela anda para a frente, ela anda.
E se o povo do Oriente Médio entender que o islamismo pode sim ajudar na realização de bons governos, que assim seja.
Pelo
menos o islamismo não produziu a inquisição, nem as duas guerras
mundiais e nem jogou bombas atômicas sobre Nagazaki e Hiroshima.
Então que tal deixarmos o islamismo em paz e nos atermos ao que de fato interessa?
Revolução: a vez do Bahrain e da Arábia Saudita?
Revolta popular cresce na pequena monarquia e desponta no maior
produtor mundial de petróleo. Mas são aliados dos EUA — e, portanto,
“modernos” para a velha mídia…
Por Pepe Escobar, do Asia Times Online | Tradução: Coletivo VilaVudu
Nessa terça-feira, nada menos que 20% da população do Bahrein reuniu-se na rotatória Lulu
(Pérola) (na foto) em Manama na maior manifestação contra a monarquia
feudal, ação intimamente conectada à grande revolta árabe de 2011.
Amostra de toda a sociedade bahraini – professores, advogados,
engenheiros, suas mulheres e filhos – numa marcha infinita, em volta do
monumento, coluna compacta nas cores vermelho e branco, da bandeira
nacional.
Na quinta-feira, havia motivos
para crer que a revolta alcançara o santo graal, i.e., a Casa de Saud,
quando 100 jovens saíram às ruas de Hafar al-Batin, nordeste da Arábia
Saudita, exigindo o fim dessa monarquia feudal encharcada em petróleo. O
extraordinário é que tenha acontecido justamente quando o “Guardião
das Duas Mesquitas Sagradas”, rei Abdullah da Arábia Saudita, 85 anos,
voltava para casa depois de três meses de tratamento médico e cirurgia
nos EUA e convalescença no Marrocos – em plena onda de massiva
propaganda do regime, completada com toques de orientalismo, como um
homem vestido de branco dançando danças tradicionais beduínas sobre
tapetes especialíssimos.
Para a Casa de Saud, a revolta é o
pesadelo absoluto: como todo o mundo já está sabendo, um Bahrain
microscópico, de maioria xiita, mas também microscópica, faz fronteira
com a região da Arábia Saudita, de grande maioria xiita, onde está o
petróleo.
Mas não surpreende que a revolta
tenha eclodido nem bem o rei Abdullah pôs o pé nos seus tapetes, e
apesar de toda a ação preventiva para evitar que surgissem espasmos
pró-democracia entre as massas, com lançamento de um programa de 35
bilhões de dólares, que inclui um ano de benefícios para jovens
desempregados, além da criação de um fundo nacional de desenvolvimento
que permitirá que os jovens comprem casa, abram pequenos negócios e
casem.
Como sempre, todos os eufemismos
param na política: não se vê sinal algum de qualquer investimento real
na direção de atender as aspirações políticas dos súditos – partidos
políticos, sindicatos e qualquer tipo de manifestação pública continuam
totalmente proibidos. E não se vê qualquer sinal, tampouco, de que o
rei esteja preocupado com os enormes problemas sociais – da repressão
policial, à intolerância religiosa – exatamente os problemas que o
encurralaram e obrigaram a tentar seu gambito multibilionário da “ampla
via”.
Assassinato soft, com nossa trilha sonora
A narrativa inventada no ocidente, à Disneyworld,
de que o rei Hamad seria “reformista progressista”, interessado em
“fazer avançar a democracia” e “preservar a estabilidade” foi
totalmente detonada quando o exército real realmente mercenário atirou,
com munição real, usando armamento antiaéreo, de APC, contra
manifestantes que levavam flores, ou quando helicópteros marca Bell, americana, sobrevoaram e perseguiram pessoas, sem parar de atirar.
Mensagem pelo tuíter, semana
passada, vinda da jornalista bahraini Amira al-Husseini, resumiu tudo:
“Também amo o Bahrein. Nasci no Bahrein. Meu sangue é bahraini – e vi
meu país assassinado hoje, à vista dos próprios filhos.”
A rebelião xiita contra a dinastia
al-Khalifa de mais de 200 anos – invasores, vindos do continente –,
está em andamento, de fato, há décadas; inclui centenas de prisioneiros
políticos em quatro prisões, na cidade e nos arredores da capital
Manama, presos e torturados por “conselheiros” jordanianos; e um regime
cujo exército é composto, basicamente, de soldados punjabi e baloques
paquistaneses.
O relato de como a política
externa dos EUA agilmente se adaptou à Grande Revolta Árabe de 2011
oferece algumas lições. Hosni Mubarak expulso do Egito e o rei Hamad do
Bahrein são “moderados” e certamente não são “o mal”. Afinal, um foi e
o outro é, respectivamente, pilar da “estabilidade”, como se lê em
MENA (Middle East-Northern Africa [em http://en.wikipedia.org/wiki/2010–2011_Middle_East_and_North_Africa_protests ].
Por outro lado, Muammar Gaddafi da Líbia e Bashar al-Assad da Síria são realmente péssimos, porque não se submetem nunca aos diktats de
Washington. A escala moral que determina a resposta dos EUA é
diretamente proporcional a o quanto o monarca ditador feudal em questão
comporte-se como sátrapa a serviço dos EUA.
Assim se explica a instantânea
repulsa (que o Departamento de Estado manifestou anteontem e o
presidente Obama só hoje, quinta-feira) aos ataques de Gaddafi contra
seu próprio povo, enquanto a mídia-empresa nos EUA e legiões de
analistas de think-tanks disputam entre eles a glória de ter
encontrado o adjetivo que mais elaboradamente ensina a crucificar
Gaddafi. Ninguém é melhor que essa gente, quando se trata de denunciar
ditador que não se encaixa no modelo de lacaio que os EUA prefiram.
Simultaneamente, não se ouviu no
MENA nem um pio quando o aparelho de repressão de Hamad – parcialmente
importado da Arábia Saudita – matou seus próprios cidadãos na rotatória
da Pérola. OK, terrorista reabilitado, Gaddafi sempre foi doido, mas
ao Bahrain aplica-se todo um longo mantra, como “aliado próximo” dos
EUA; “nação pequena mas estrategicamente valiosa”; lar da 5ª Frota,
essencial para garantir que o petróleo continue a fluir pelo Estreito
de Ormuz; defesa contra o Irã etc.
Husain Abdullah, diretor de Americans for Democracy and Human Rights
no Bahrein, não está convencido: “Não sei se a própria família
reinante, eles próprios, merecem alguma confiança para algum diálogo
sério, porque, se se assiste à televisão do Bahrain, nada se vê além de
ataques sectários contra a multidão que permanece na praça-rotatória Lulu.”
Para Abdullah, o que está de fato
acontecendo é que “mais e mais pessoas estão exigindo abertamente o fim
do regime, por meios pacíficos, e querem que o Bahrein seja governado
pelo povo do Bahrein. Além disso, há conclamação séria de desobediência
civil completa (não parcial, como até agora), em todo o país, para
expulsar do país a família reinante, como foi feito na Tunísia e no
Egito.” Não surpreende que a Casa de Saud esteja em pânico.
O levante dos 70% de xiitas do
Bahrein, mais alguns poucos sunitas – o mantra principal do protesto
era “Nem xiitas nem sunitas. Todos bahrainis” – começou como movimento
de direitos civis. Mas o príncipe coroado melhor fará se concordar
rapidamente – ou a coisa ali também se transformará em revolução. Por
enquanto, há muita retórica sobre “estabilidade”, “calma”, “segurança”,
“coesão nacional”, mas nada de sério sobre reforma eleitoral e
constitucional.
Há razões para crer que Salman –
aconselhado pelos sauditas – talvez tente uma saída à Mubarak e faça
algumas promessas vagas para algum futuro distante. Todos sabemos como a
coisa acabou, na praça Tahrir.
Os manifestantes começaram por
pedir primeiro-ministro eleito, monarquia constitucional e o fim da
discriminação contra os xiitas. Agora, Matar Ibrahim, um dos 18
deputados xiitas do Parlamento, já diz que há um abismo de distância
entre os manifestantes da rotatória da Pérola e os deputados da oposição
que se reuniram com o Príncipe Coroado. A palavra de ordem que mais se
ouve na rotatória da Pérola já é “Fora, Fora Khalifa”.
Se houver mudança democrática de regime no Bahrein, os megaperdedores serão a Arábia Saudita e os EUA.
O Bahrein é caso clássico de
colusão entre o império das bases dos EUA e uma ditadura/monarquia
feudal sem sal. Naturalmente, o chefe do Estado-maior dos EUA favorece a
“ordem-e-estabilidade” comandada pela ditadura – e o mesmo aconteceu
com o velho poder colonial britânico; os massacres de civis no Bahrein e
na Líbia chegam até vocês por especial cortesia da Royal Military Academy Sandhurst e dos sistemas BAE [para saber o que é, veja http://www.baesystems.com]
O rei Hamad é formado pela Escola Militar de Alto Comando dos EUA (orig. US Army Command and General Staff School)
em Fort Leavenworth, Kansas, e “tem papel destacado na direção da
política de segurança do Bahrein” – como se leu em telegrama de 2009
publicado por WikiLeaks. Foi ministro da Defesa de 1971 a 1988 e é fã do armamento pesado dos EUA.
O Príncipe Coroado, renomado por
sua “abordagem muito ocidental”, por sua vez, estudou na escola que o
Departamento de Defesa mantém no Bahrein e graduou-se na American University
em Washington. Tradução: dois vassalos cabeça-de-Pentágono, estão hoje
encarregados de fazer reformas democráticas no Bahrein.
A Grande Revolta Árabe de 2011,
por todas as razões específicas nos diferentes países, não é, não, de
modo algum, sobre religião (como Mubarak, Gaddafi e Hamad tentaram
fazer parecer que seria). É revolta da classe trabalhadora, diretamente
provocada pela crise global do capitalismo.
Choque de civilizações, fim da
história, islamofobia e outros conceitos igualmente tolos estão mortos e
enterrados. As pessoas querem direitos sociais, querem navegar em
águas da democracia política e da democracia social.
Ecoa, nessa frase, a primeira linha do Manifesto Comunista, Marx e Engels, 1848: “Um espectro ronda a Europa – o espectro do comunismo [em http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/manifestocomunista.pdf (NTs)].
Chinchilpos e Gamonales, arte e diferenças sociais no Peru
Por Júlia Nassif de Souza na Caros Amigos
Huancayo é um distrito localizado na
região central do Peru, no sul do Valle del Mantaro, no estado de Junín.
A zona foi originalmente habitada pelos huancas, povo que sofreu com a
dominação inca e novamente com espanhóis, recebendo posteriormente seu
apoio e o nome de Santíssima Trindade de Huancayo, desgastados pelo
Império Inca de Cuzco.
Huancayo está nos pés da perpetuada
Cordilheira dos Andes, nutrida de terras férteis e clima temperado, a
3244 metros sobre o nível do mar. Seu nome significa “o lugar da rocha”,
que parece representar uma pedra de grandes extensões antigamente
encontrada no trajeto do Caminho Real dos Incas que cortava a cidade.
No alto e marcando presença igualmente
em todas as estações climáticas, está a Huaytapallana, a montanha nevada
e grande responsável pelas chuvas que alimentam as terras e lagoas de
Huancayo. Não é atoa que a montanha nevada representa a personificação
do deus huanca, Huallallo-Carhuancho, ao qual lhe é oferecido oferendas e
rituais, assim como à Pachamama (Mae Terra).
Huancayo historicamente é uma das
importantes cidades responsáveis por grande parte da produção
alimentícia e artesanal, que abastece Lima, a capital peruana. Está
localizada a nada mais que 310 quilômetros da capital, mas esse trajeto
pode durar de 5 a 9 horas, dependendo das condições das estradas e por
consequência do tempo. É também uma das principais cidades da serra
peruana e do centro do país.
A população do distrito de Huancayo,
além do espanhol, fala quéchua wanka, uma língua pré-incaica, viva até
hoje e importante para a manutenção e preservação da cultura ancestral
na região, que abunda em músicas e danças.
A disputa entre Chinchilpos e Gamonales é
uma das diversas festas do distrito de Huancayo. Ao final de janeiro, a
população fantasiada de brancos e negros representam a disputa entre
Chinchilpos, os camponeses, oprimidos; e os Gamonales, os comerciantes,
patrões, a burguesia aristocrática; em três dias de festas que terminam
em uma grande batalha, onde um deles é derrotado, caso seja o patrão,
haverá colheita o ano inteiro, caso seja o camponês, virá adiante um ano
de seca e escassez.
O Bando dos Chinchilpos são os negros
dançarinos e trajam uniformes com detalhes vermelhos, o Bando dos
Gamonales, estão protegidos pela cor azul, estes são os celestiais
patrões, e ambas as vestimentas levam luvas grossas, uma espécie de
capacete, botas, paletó e calcas bem abrigadas.
As festas se dividem pelos povoados do
distrito e é Huaycachi que recebe a disputa final que tem importância em
toda a região, já que é dela que sairá a previsão de escassez ou
abundancia na produção agrícola anual, por isso é representada no mês de
janeiro, a princípio de cada ano.
De caráter religioso a celebração de
três dias dá início com diversas festas de negros bailarinos e todas
acontecem em homenagem a Tayta Niño, patrono de Huayucachi, que
representa o menino Jesus considerado o menino Sábio, que aos 12 anos
foi encontrado no Templo de Jerusalém, e a ele são oferecidas todas as
danças e festejos.
Os Caporales são os grupos de bailarinos
que, divididos entre os dois bandos (Gamonal e Chinchilpo), integram a
comunidade à festividade, onde todos participam, mas somente jovens
rapazes usam as vestimentas representativas de cada bando.
O espetáculo da região de Huancayo
demonstra a religiosidade adquirida em épocas coloniais e assimiladas
pelos costumes, tradições e até mesmo pela língua originária dos
huancas, que permite manter vivos elementos importantes da cultura
ancestral.
As contradições das classes sociais na
sociedade peruana aparecem na representação do patrão e do camponês, uma
questão sócio-política igualmente posicionada e relacionada à questões
da natureza e aos resultados a serem obtidos na agricultura do ano
inteiro.
Zumbanacuy, a luta final que definirá a
situação da colheita anual, acontece no Estádio de Huayucachi, com a
utilização da Zumba, uma espécie de espada feita de couro e madeira,
manuseada somente pelos homens mais habilidosos, onde aquele que mais
acerta o adversário, de forma honesta, mais pontos soma para seu bando.
Em Huancayo o religioso, as questões
sociais e o poder estão diretamente vinculados à natureza e a sua
capacidade produtiva, atuando como castigo aos camponeses ou premio para
trabalhadores e patrões.
Esse ano a batalha foi vencida pelos
Chinchilpos, ou seja, os camponeses derrotaram o patrão, e o ano de 2011
promete fartura e boa colheita, para alegria de Tayta Niño e de toda a
população.
Julia Nassif de Souza é antropóloga e comunicadora.
>> Assista o vídeo do Grupo de Negritos Corazón Africano, residentes na cidade de Huancayo, durante parte da celebração em homenagem a Tayta Niño, realizado nos dias 28, 29 e 30 de janeiro de 2011.
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
Gilberto Carvalho: “Política para salário mínimo até 2015 é vitória das centrais”
Felipe Prestes no Sul21
O secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, teve encontro
ameno ontem (24) à tarde com o governador Tarso Genro, no Palácio
Piratini. Carvalho foi um dos convidados do governo para um seminário
que discute a participação popular. Entre o encontro e o seminário,
Carvalho concedeu coletiva em que minimizou possível estremecimento na
relação entre governo e centrais sindicais.
Para o ministro, responsável pela relação entre governo e movimentos
sociais, a aprovação da lei que permite ao governo reajustar por decreto
o salário mínimo até 2015 é uma vitória para os trabalhadores, por que
isso provavelmente acarretará ganhos reais nos próximos anos. “A
política do salário mínimo é uma grande vitória das centrais. O Brasil
tem crescido a uma média de 5% ao ano, nossa expectativa é que continue
(crescendo nesta média), o que garante ao trabalhador uma recuperação
real do salário mínimo”, afirmou.
Para Carvalho ao manifestarem sua contrariedade durante as votações
no Senado e na Câmara, as centrais faziam seu papel, de reivindicar. Ele
assegurou que os representantes dos trabalhadores devem ter papel
central nas políticas do governo. “Embora tenham feito o barulho que era
natural que fizesse – é o papel das centrais – o diálogo vai continuar.
Nós não queremos as centrais apenas reivindicando, queremos que elas
opinem e participem do conjunto das políticas do governo. O diálogo está
muito acima desse incidente na questão do salário mínimo”.
Infiéis
Questionado sobre a atuação dos senadores gaúchos na discussão sobre o
salário mínimo, Gilberto Carvalho exaltou o senador Paulo Paim, que
votou com o governo, mas fez certo barulho antes da votação. “Vamos
valorizar muito o gesto do Paim. Vai ser chamado para tratar os grandes
temas do governo. A presidenta já tratou com ele alguns temas, como a
questão da pequena e da micro empresa”, disse, prometendo também que o
governo começará a discutir na semana que a valorização dos aposentados,
um dos pleitos de Paim.
Quanto aos senadores Ana Amélia Lemos, que votou pelo salário mínimo
de R$ 600, e Pedro Simon, que se absteve, Carvalho adotou postura dúbia.
Primeiro, disse que os infiéis “sabem dos problemas que vão enfrentar”.
Depois, disse que o governo espera contar muito com os dois senadores.
“Tenho o maior respeito pelo senador Pedro Simon, a senadora Ana Amélia
está começando uma carreira que nós sabemos que será brilhante”.
Fórum Social Mundial em Porto Alegre
Gilberto Carvalho garantiu que, caso o Fórum Social Mundial de 2013
seja sediado no Brasil, vai ocorrer em Porto Alegre. “Fizemos um acordo
lá em Dacar. Se for no Brasil, será em Porto Alegre. Há um
reconhecimento do êxito que os fóruns aqui tiveram e, portanto, a
tendência é vir para cá”, revelou. A cidade de Salvador também pleiteia
ser sede do evento.
McDonald´s: Maus tratos e superexploração
Nesta semana, nas bancas, o jornal Brasil de
Fato traz uma grande reportagem sobre a superexploração e maus tratos
que sofrem os jovens e adolescentes na maior rede fastfood do mundo.
Confira a seguir trechos
Michelle Amaral
da Reportagem
“Uma
vez eu estava com uma bandeja cheia de lanches prontos para serem
entregues e escorreguei. Quando ia caindo no chão, meu coordenador viu,
segurou a bandeja, me deixou cair e disse: 'primeiro o rendimento,
depois o funcionário'”, conta Kelly, que trabalhou na rede de
restaurantes fast food McDonald´s por cinco meses.
“Lá
você não pode ficar parado, se sentar leva bronca”, relata Lúcio, de 16
anos, que há 4 meses trabalha em uma das lojas da rede na cidade de São
Paulo. “Você não tem tempo nem para beber água direito”, completa José,
de 17 anos. “Uma vez eu queimei a mão, falei para a fiscal e ela disse
para eu continuar trabalhando”, lembra o adolescente. Maria, de 16 anos,
ainda afirma que, apesar da intensa jornada de trabalho nos
restaurantes, recebe apenas R$ 2,38 por hora trabalhada.
Os
relatos acima retratam o dia-a-dia dos funcionários do McDonald´s.
Assédio moral, falta de comunicação de acidentes de trabalho, ausência
de condições mínimas de conforto para os trabalhadores, extensão da
jornada de trabalho além do permitido por lei e fornecimento de
alimentação inadequada são algumas das irregularidades apontadas por
trabalhadores da maior rede de fast food do mundo.
Somente no Brasil, o McDonald´s tem mais de 600 lojas e emprega 34 mil funcionários, em sua maioria jovens de 16 a 24 anos.
As
relações de trabalho impostas pelo McDonald´s são objetos de estudo de
muitos pesquisadores. Do mesmo modo, pelas irregularidades recorrentes, a
rede de fast food é alvo de diversas denúncias na Justiça do Trabalho.
Em
São Paulo, o Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis e Restaurantes de
São Paulo (Sinthoresp), ao longo dos anos, tem denunciado as más
condições a que são submetidos os funcionários do McDonald´s.
Recentemente,
resultou em uma punição ao McDonald´s uma denúncia feita há quinze anos
pelo sindicato ao Ministério Público do Trabalho (MPT) da 2ª Região, em
São Paulo. Trata-se de um acordo que, além de exigir o cumprimento de
adequações trabalhistas, estabelece o pagamento de uma multa de R$ 13,2
milhões.
Desse valor, a rede de fast food deve
destinar R$ 11,7 milhões ao financiamento de publicidade contra o
trabalho infantil e à divulgação dos direitos da criança e do
adolescente durante os próximos nove anos. Além disso, a rede deve doar
R$ 1,5 milhão para o Instituto de Medicina Física e Reabilitação do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo (USP). O compromisso foi firmado em outubro de 2010 e passou a
valer em janeiro deste ano.
As investigações
realizadas pelo MPT a partir da denúncia do Sinthoresp confirmaram as
seguintes irregularidades: não emissão dos Comunicados de Acidente de
Trabalho (CAT); falta de efetividade na Comissão Interna de Prevenção de
Acidentes; licenças sanitárias e de funcionamento vencidas ou sem prazo
de validade, prorrogação da jornada de trabalho além das duas horas
extras diárias permitidas por lei, ausência do período mínimo de 11
horas de descanso entre duas jornadas e o cumprimento de toda a jornada
de trabalho em pé, sem um local para repouso.
O
MPT também apontou irregularidades na alimentação fornecida aos
trabalhadores: apesar de oferecer um cardápio com variadas opções, o
laudo da prefeitura de São Paulo reprovou as refeições baseadas
exclusivamente em produtos da própria empresa por não atender às
necessidades nutricionais diárias. Em relação à alimentação, o
McDonald´s chegou a ser condenado, em outubro de 2010, pela Justiça do
Rio Grande do Sul a indenizar em R$ 30 mil um ex-gerente que, após
trabalhar 12 anos e se alimentar diariamente com os lanches fornecidos
pela rede de fast food, engordou 30 quilos. (A reportagem completa você lê na edição impressa número 417 do jornal Brasil de Fato).
*Os nomes dos funcionários citados na matéria são fictícios.
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
THE SOFT MACHINE: VOLUMES ONE AND TWO - 1968 - 1969
Créditos: From Russians With Love
Volume One
1. Hope for Happiness (Kevin Ayers, Brian Hopper, Michael Ratledge) – 4:21
2. Joy of a Toy (Ayers, Ratledge) – 2:49
3. Hope for Happiness (reprise) (Ayers, B. Hopper, Ratledge) – 1:38
4. Why Am I So Short? (Ayers, Hugh Hopper, Ratledge) – 1:39
5. So Boot if At All (Ayers, Ratlege, Robert Wyatt) – 7:25
6. Certain Kind (H. Hopper) – 4:11
7. Save Yourself (Wyatt) – 2:26
8. Priscilla (Ayers, Ratledge, Wyatt) – 1:03
9. Lullabye Letter (Ayers) – 4:32
10. We Did It Again (Ayers) – 3:46
11. Plus Belle Qu'une Poubelle (Ayers) – 1:03
12. Why Are We Sleeping? (Ayers, Ratledge, Wyatt) – 5:30
13. Box 25/4 Lid (Ratledge, H. Hopper) – 0:49
Volume Two
14. Pataphysical Introduction - part I (Robert Wyatt) - 1:01
15. A Concise British Alphabet - part I (Hugh Hopper, arr. Wyatt) - 0:10
16. Hibou Anemone and Bear (Mike Ratledge, Wyatt) - 5:59
17. Concise British Alphabet - part II (Hopper, arr. Wyatt) - 0:12
18. Hullo Der (Hopper, arr. Wyatt) - 0:54
19. Dada Was Here (Hopper, arr. Wyatt) - 3:26
20. Thank You Pierrot Lunaire (Hopper, arr. Wyatt) - 0:49
21. Have You Ever Bean Green? (Hopper, arr. Wyatt) - 1:19
22. Pataphysical Introduction - part II (Wyatt) - 0:51
23. Out of Tunes (Ratledge, Hopper, Wyatt) - 2:34
24. As Long as He Lies Perfectly Still (Ratledge, Wyatt) - 2:35
25. Dedicated to You But You Weren't Listening (Hopper) - 2:32
26. Fire Engine Passing with Bells Clanging (Ratledge) - 1:51
27. Pig (Ratledge) - 2:09
28. Orange Skin Food (Ratledge) - 1:47
29. A Door Opens and Closes (Ratledge) - 1:10
30. 10:30 Returns to the Bedroom (Ratledge, Hopper, Wyatt) - 4:13
Volume One
1. Hope for Happiness (Kevin Ayers, Brian Hopper, Michael Ratledge) – 4:21
2. Joy of a Toy (Ayers, Ratledge) – 2:49
3. Hope for Happiness (reprise) (Ayers, B. Hopper, Ratledge) – 1:38
4. Why Am I So Short? (Ayers, Hugh Hopper, Ratledge) – 1:39
5. So Boot if At All (Ayers, Ratlege, Robert Wyatt) – 7:25
6. Certain Kind (H. Hopper) – 4:11
7. Save Yourself (Wyatt) – 2:26
8. Priscilla (Ayers, Ratledge, Wyatt) – 1:03
9. Lullabye Letter (Ayers) – 4:32
10. We Did It Again (Ayers) – 3:46
11. Plus Belle Qu'une Poubelle (Ayers) – 1:03
12. Why Are We Sleeping? (Ayers, Ratledge, Wyatt) – 5:30
13. Box 25/4 Lid (Ratledge, H. Hopper) – 0:49
Volume Two
14. Pataphysical Introduction - part I (Robert Wyatt) - 1:01
15. A Concise British Alphabet - part I (Hugh Hopper, arr. Wyatt) - 0:10
16. Hibou Anemone and Bear (Mike Ratledge, Wyatt) - 5:59
17. Concise British Alphabet - part II (Hopper, arr. Wyatt) - 0:12
18. Hullo Der (Hopper, arr. Wyatt) - 0:54
19. Dada Was Here (Hopper, arr. Wyatt) - 3:26
20. Thank You Pierrot Lunaire (Hopper, arr. Wyatt) - 0:49
21. Have You Ever Bean Green? (Hopper, arr. Wyatt) - 1:19
22. Pataphysical Introduction - part II (Wyatt) - 0:51
23. Out of Tunes (Ratledge, Hopper, Wyatt) - 2:34
24. As Long as He Lies Perfectly Still (Ratledge, Wyatt) - 2:35
25. Dedicated to You But You Weren't Listening (Hopper) - 2:32
26. Fire Engine Passing with Bells Clanging (Ratledge) - 1:51
27. Pig (Ratledge) - 2:09
28. Orange Skin Food (Ratledge) - 1:47
29. A Door Opens and Closes (Ratledge) - 1:10
30. 10:30 Returns to the Bedroom (Ratledge, Hopper, Wyatt) - 4:13
Chegou a hora de uma nova ordem monetária internacional
A contínua diluição das dívidas em dólar pede a mudança para
uma nova ordem multi-divisas. A defesa da revisão — pelos países
ocidentais liderados pelos Estados Unidos — da forma como as atuais
contas correntes são mensuradas expõe plenamente suas tentativas de
transferir as responsabilidade dos desequilíbrios da economia global
aos países que têm superavit no comércio exterior.
Por Zhang Monan, no China Daily via Portal Vermelho
Os desequilíbrios econômicos globais
são em essência um resultado do desequilíbrio das vantagens
trabalhistas comparadas entre diferentes países. Existem duas grandes
divisões na atual economia global, nomeadamente o comércio e as
finanças.
A primeira categoria é representada principalmente pela Alemanha, Japão e China, todos exportadores de commodities que sustentam um grande saldo positivo nas suas contas, e o segundo é representado pelos Estados Unidos e algumas nações europeias, que usufruem de grandes vantagens financeiras na exportação de capital e vários tipos de produtos financeiros e serviços que contribuem para seu grande déficit nas contas correntes.
Enquanto o setor industrial global foi transferido dos países desenvolvidos para os mercados emergentes, as economias desenvolvidas ainda conseguem reter seu status como centros financeiros mundiais.
Países em desenvolvimento, devido a seus sistemas e mercados financeiros menos vulneráveis, tiveram de empregar reservas monetárias estabelecidas por seus preços, ajustes, empréstimos e investimentos. Em resultado disso, as economias emergentes têm de sustentar uma taxa de câmbio cada vez maior e riscos de investimentos.
O gigantesco déficit nas contas correntes dos EUA é um reflexo do atual deslocamento da ordem monetária internacional. Em 31 de janeiro de 2011, o débito público estadunidense correspondia a US$ 14,13 trilhões, 96,4% do PIB do país, que é de US$ 17,7 trilhões.
Tomando vantagem de seu longo domínio monetário, os Estados Unidos têm uma longa história de abuso de crédito e seus déficits fiscais e comerciais aumentaram muito mais rapidamente que a produção. O volume dos débitos nacionais dos EUA em mãos de países e regiões estrangeiras tem se mantido em ascensão na última década e já significa 32% do valor total dos títulos em todo o mundo.
Entretanto, Washington habilmente utilizou o dólar como reserva monetária internacional para financiar seu débito nacional, promovendo sua circulação internacional em seu próprio benefício.
O sistema padrão dólar não só ajudou os EUA a circularem internacionalmente seu enorme débito nacional como também ajudou a maior economia do mundo a aumentar suas riquezas nacionais, por meio da monetização ou desvalorização do dólar. O status do dólar como principal moeda internacional também aumentou a capacidade dos Estados Unidos de liquidar sua dívida externa por meio da superprodução e emissão em excesso de papel moeda.
Somente de 2002 a 2006, os Estados Unidos diluiram o valor acumulado de US$ 3,58 trilhões de sua dívida nacional utilizando tal estratégia. Com a evaporação de grande volume das dívidas nacionais dos Estados Unidos, a riqueza de outros países, especialmente aqueles que possuiam papéis da dívida internan americana, tiveram sérias perdas nos últimos anos.
Em 2009, o valor global das reservas internacionais era pouco mais de 13% do PIB mundial. Deste valor, mais de 60% era de ativos baseados no dólar. No mesmo ano, o volume bruto dos ativos americanos em mãos de países estrangeiros, não incluindo aí os derivativos, era 1,25 vez o seu PIB nominal. Entretanto, a depreciação do dólar acelerou a transferência desta grande quantidade de riqueza, um processo no qual os Estados Unidos resultaram ser os maiores beneficiários.
A atual ordem monetária internacional baseada no dólar já fracassa em refletir os últimos desenvolvimentos da estrutura econômica global. Na ausência de um sistema monetário correspondente, a economia mundial está encontrando uma série de desafios e dilemas, induzidos pelas políticas conflitivas entre diferentes países em relação ao crescimento econômico, inflação, emprego e taxa de juros. Em resumo, a última crise financeira global é um ajuste inevitável das disparidades na distribuição dos juros globais e uma retificação de alguns problemas disparatados no processo da globalização.
Devido ao desequilíbrio da estrutura monetária global ter produzido um desequilíbrio nas contas correntes globais, tem havido fortes sinais da comunidade internacional por uma reforma do sistema monetário internacional, desde o início da crise financeira global. Seguindo a proposta da China de criar uma moeda super-soberana para as reservas internacionais, os países europeus, que estão diante da possibilidade da crise da dívida se alastrar, também clamaram pelo estabelecimento de uma moeda global, por meio de reformas do sistema monetário internacional, sob um mecanismo de consulta subordinado ao G20.
Considerando o alastramento internacional das críticas ao atual sistema monetário liderado pelo dólar, um sistema global diversificado permanece como uma boa opção para promover um desenvolvimento equilibrado e saudável da economia global.
O fim da hegemonia de décadas do dólar e a formação de um sistema multi-divisas, que inclua também o euro, o iene japonês e o iuane chinês, ajudará a economia global a se desenvolver em uma direção mais equilibrada.
O autor é pesquisador de economia do Centro Estatal de Informação.
Fonte: China Daily
A primeira categoria é representada principalmente pela Alemanha, Japão e China, todos exportadores de commodities que sustentam um grande saldo positivo nas suas contas, e o segundo é representado pelos Estados Unidos e algumas nações europeias, que usufruem de grandes vantagens financeiras na exportação de capital e vários tipos de produtos financeiros e serviços que contribuem para seu grande déficit nas contas correntes.
Enquanto o setor industrial global foi transferido dos países desenvolvidos para os mercados emergentes, as economias desenvolvidas ainda conseguem reter seu status como centros financeiros mundiais.
Países em desenvolvimento, devido a seus sistemas e mercados financeiros menos vulneráveis, tiveram de empregar reservas monetárias estabelecidas por seus preços, ajustes, empréstimos e investimentos. Em resultado disso, as economias emergentes têm de sustentar uma taxa de câmbio cada vez maior e riscos de investimentos.
O gigantesco déficit nas contas correntes dos EUA é um reflexo do atual deslocamento da ordem monetária internacional. Em 31 de janeiro de 2011, o débito público estadunidense correspondia a US$ 14,13 trilhões, 96,4% do PIB do país, que é de US$ 17,7 trilhões.
Tomando vantagem de seu longo domínio monetário, os Estados Unidos têm uma longa história de abuso de crédito e seus déficits fiscais e comerciais aumentaram muito mais rapidamente que a produção. O volume dos débitos nacionais dos EUA em mãos de países e regiões estrangeiras tem se mantido em ascensão na última década e já significa 32% do valor total dos títulos em todo o mundo.
Entretanto, Washington habilmente utilizou o dólar como reserva monetária internacional para financiar seu débito nacional, promovendo sua circulação internacional em seu próprio benefício.
O sistema padrão dólar não só ajudou os EUA a circularem internacionalmente seu enorme débito nacional como também ajudou a maior economia do mundo a aumentar suas riquezas nacionais, por meio da monetização ou desvalorização do dólar. O status do dólar como principal moeda internacional também aumentou a capacidade dos Estados Unidos de liquidar sua dívida externa por meio da superprodução e emissão em excesso de papel moeda.
Somente de 2002 a 2006, os Estados Unidos diluiram o valor acumulado de US$ 3,58 trilhões de sua dívida nacional utilizando tal estratégia. Com a evaporação de grande volume das dívidas nacionais dos Estados Unidos, a riqueza de outros países, especialmente aqueles que possuiam papéis da dívida internan americana, tiveram sérias perdas nos últimos anos.
Em 2009, o valor global das reservas internacionais era pouco mais de 13% do PIB mundial. Deste valor, mais de 60% era de ativos baseados no dólar. No mesmo ano, o volume bruto dos ativos americanos em mãos de países estrangeiros, não incluindo aí os derivativos, era 1,25 vez o seu PIB nominal. Entretanto, a depreciação do dólar acelerou a transferência desta grande quantidade de riqueza, um processo no qual os Estados Unidos resultaram ser os maiores beneficiários.
A atual ordem monetária internacional baseada no dólar já fracassa em refletir os últimos desenvolvimentos da estrutura econômica global. Na ausência de um sistema monetário correspondente, a economia mundial está encontrando uma série de desafios e dilemas, induzidos pelas políticas conflitivas entre diferentes países em relação ao crescimento econômico, inflação, emprego e taxa de juros. Em resumo, a última crise financeira global é um ajuste inevitável das disparidades na distribuição dos juros globais e uma retificação de alguns problemas disparatados no processo da globalização.
Devido ao desequilíbrio da estrutura monetária global ter produzido um desequilíbrio nas contas correntes globais, tem havido fortes sinais da comunidade internacional por uma reforma do sistema monetário internacional, desde o início da crise financeira global. Seguindo a proposta da China de criar uma moeda super-soberana para as reservas internacionais, os países europeus, que estão diante da possibilidade da crise da dívida se alastrar, também clamaram pelo estabelecimento de uma moeda global, por meio de reformas do sistema monetário internacional, sob um mecanismo de consulta subordinado ao G20.
Considerando o alastramento internacional das críticas ao atual sistema monetário liderado pelo dólar, um sistema global diversificado permanece como uma boa opção para promover um desenvolvimento equilibrado e saudável da economia global.
O fim da hegemonia de décadas do dólar e a formação de um sistema multi-divisas, que inclua também o euro, o iene japonês e o iuane chinês, ajudará a economia global a se desenvolver em uma direção mais equilibrada.
O autor é pesquisador de economia do Centro Estatal de Informação.
Fonte: China Daily
Mulheres conduzem luta pelo meio ambiente
Um poderoso movimento social, destinado a proteger os recursos naturais e adaptar-se à mudança climática, apoia-se em mulheres que assumiram papeis de liderança nesta região costeira de El Salvador.
Por Dahr Jamail na Revista Forum
Um poderoso movimento social, destinado a proteger os
recursos naturais e adaptar-se à mudança climática, apoia-se em mulheres
que assumiram papeis de liderança nesta região costeira de El Salvador.
Cristina Reyes cumpre seu segundo período como presidente da junta diretora da comunidade Ciudad Romero, no departamento de Usulután, no Pacífico. O trabalho feito, motivo de sua reeleição, vai desde conseguir eletricidade, água potável e estradas até instalar serviços de combate à violência contra as mulheres. Antes desta fase de construção, sua vida e a de muitos na região pode ser contada como uma história épica de aventuras, sobrevivência e resistência.
Cristina e sua família tiveram que fugir de sua aldeia natal nos anos de violência política que desembocaram na guerra civil (1980-1992), que deixou cerca de 75 mil mortos. Escondendo-se com uma irmã na selva, fugindo dos militares que combatiam toda a oposição apoiados pelos Estados Unidos, Cristina buscou refúgio na vizinha Honduras. Contudo, “em 1980 tivemos de regressar porque os militares hondurenhos realizavam uma campanha de repressão contra a sociedade exatamente como a de El Salvador”, recorda Cristina. De volta ao seu país, “o Exército continuava com a mesma política”.
Cristina descreve ações brutais como o incêndio de casas, as prisões e a repressão contra sacerdotes católicos que defendiam os direitos humanos. O nome da que agora é sua comunidade é homenagem a um deles, o arcebispo Óscar Arnulfo Romero, assassinado em 1980 quando rezava a missa. “Ao voltar para casa não restava nada, nem um cachorro. Nos juntamos à guerrilha por causa dos massacres que presenciamos”, recorda.
Na época, diferentes grupos armados haviam se unificado na Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN). Cristina e sua irmã trabalhavam em uma emissora de rádio da insurgência e ajudavam as mulheres que haviam perdido seus maridos e filhos na guerra. Essas tarefas a levaram a somar-se a organizações de mulheres na capital e finalmente mudar-se para a região do baixo Rio Lempa, em Usulután, onde Ciudad Romero e outras comunidades se formaram pelos ex-combatentes e refugiados que voltavam ao país.
Hoje olha para frente. “Ajudamos a criar programas de alimentos e agora trabalhamos para melhorar o serviço elétrico. E temos plano de construir um hospital” afirma. Cristina faz parte de um movimento social que se aglutina na Coordenadoria do Baixo Lempa e Baía de Jiquilisco, uma coalizão de grupos de base que atuam em mais de cem comunidades desta região que a Unesco declarou em 2007 Reserva da Biosfera Xiriualtique Jiquilisco. Trata-se de uma planície costeira, banhada pelo Rio Lempa e margeada por mangues.
As juntas diretoras de cada comunidade, constituídas legalmente, são as encarregadas de tomar as decisões políticas. A Associação Mangue, que faz parte da Coordenadoria, funciona como resposta às frequentes crises causadas pela mudança climática: inundações e transbordamento de rios. O movimento social tenta fortalecer a agricultura sustentável e diversificada, a alimentação orgânica, a segurança alimentar e a adaptação às alterações do clima.
“Neste movimento as comunidades cuidam de seus próprios recursos”, explica à IPS Estela Hernández, que integra a junta diretora da Associação Mangue. “E, ao mesmo tempo, trabalhamos para que as políticas do novo governo nacional incluam nossas ações para conseguir a soberania alimentar, o manejo ambiental e hídrico e a tomada de decisões no plano local”, afirma Estela, entrevistada em seu escritório.
O novo governo nacional do qual fala Estela está nas mãos do FMLN, que deixou as armas após os acordos de paz de 1992 e, convertido no principal partido opositor, ganhou as eleições de 2009, levando a esquerda ao poder pela primeira vez neste pequeno país de seis milhões de habitantes.
Maria Elena Vigil, também dirigente da Associação Mangue, dedica-se a organizar a população afetada pelas operações da estatal Comissão Executiva Hidrelétricas do Rio Lempa (CEL), que administra quatro empresas. Na estação chuvosa, as descargas de água de uma delas, a 15 de Setembro, às vezes sem aviso, destruíam as plantações rio abaixo. Assim foram perdidos muitos cultivos, e “inclusive algumas vidas”, assegura. “As comunidades estão sumindo pela inundação. Assim, as estamos organizando contra as hidrelétricas”, completou Maria Elena.
Maria Elena também tem tempo para combater as práticas da indústria açucareira local, que aplica nos canaviais produtos agrotóxicos aos quais se atribui o aumento de doenças como a insuficiência renal. “Há mais doenças. O veneno cai dos aviões usados para aplicá-los e entra em nossa comida e nossa água, e inclusive atinge os mangues da costa”, descreve.
Dolores Esperanza Maravilla coloca sua capacidade de organização a serviço da resistência contra a CEL, a qual responsabiliza por agravar as inundações. “As hidrelétricas são responsáveis por isto. E há outras falhas como esta”, disse Dolores, apontando uma terraplenagem rachada pelas inundações de alguns meses atrás.
Ela foi uma das primeiras a chegar ao lugar quando a barreira cedeu, e usou as fotos que fez do desastre com seu telefone celular para exigir do Ministério da Agricultura que se fizesse presente na área e tomasse medidas. Além destes esforços, muitas mulheres salvadorenhas assumiram a tarefa de estudar, aproveitando um programa nacional de alfabetização.
Em um círculo de leitura e escrita organizado na aldeia de El Carmen, três mulheres resolvem problemas matemáticos com a conversão de divisas. “Esperamos muito por isto”, disse uma delas, María Concepción Ortillo. “A guerra nos impediu de estudar, a maioria de nós estava na guerrilha ou no Exército. Hoje estou feliz de estar aqui e que as mulheres possam avançar na sociedade”.
Para Cristina, um dos êxitos maiores é “a confiança que damos umas às outras e, sobretudo, como combinamos isto com a criação dos filhos”. Ela ajudou a construir um abrigo administrado por sua comunidade, que proporciona assistência psicológica e um mecanismo para que as mulheres possam denunciar de forma confidencial se sofrem violência doméstica ou abuso sexual e consigam ajuda.
Sua própria vida é um exemplo do papel relevante que as mulheres estão desempenhando na organização social da região. “Estamos em um lugar onde tentamos fazer mais pelas mulheres. Esperamos o futuro e mais trabalho como este”, disse.
Por Envolverde/IPS. Foto por http://www.flickr.com/photos/38076430@N05/.
Cristina Reyes cumpre seu segundo período como presidente da junta diretora da comunidade Ciudad Romero, no departamento de Usulután, no Pacífico. O trabalho feito, motivo de sua reeleição, vai desde conseguir eletricidade, água potável e estradas até instalar serviços de combate à violência contra as mulheres. Antes desta fase de construção, sua vida e a de muitos na região pode ser contada como uma história épica de aventuras, sobrevivência e resistência.
Cristina e sua família tiveram que fugir de sua aldeia natal nos anos de violência política que desembocaram na guerra civil (1980-1992), que deixou cerca de 75 mil mortos. Escondendo-se com uma irmã na selva, fugindo dos militares que combatiam toda a oposição apoiados pelos Estados Unidos, Cristina buscou refúgio na vizinha Honduras. Contudo, “em 1980 tivemos de regressar porque os militares hondurenhos realizavam uma campanha de repressão contra a sociedade exatamente como a de El Salvador”, recorda Cristina. De volta ao seu país, “o Exército continuava com a mesma política”.
Cristina descreve ações brutais como o incêndio de casas, as prisões e a repressão contra sacerdotes católicos que defendiam os direitos humanos. O nome da que agora é sua comunidade é homenagem a um deles, o arcebispo Óscar Arnulfo Romero, assassinado em 1980 quando rezava a missa. “Ao voltar para casa não restava nada, nem um cachorro. Nos juntamos à guerrilha por causa dos massacres que presenciamos”, recorda.
Na época, diferentes grupos armados haviam se unificado na Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN). Cristina e sua irmã trabalhavam em uma emissora de rádio da insurgência e ajudavam as mulheres que haviam perdido seus maridos e filhos na guerra. Essas tarefas a levaram a somar-se a organizações de mulheres na capital e finalmente mudar-se para a região do baixo Rio Lempa, em Usulután, onde Ciudad Romero e outras comunidades se formaram pelos ex-combatentes e refugiados que voltavam ao país.
Hoje olha para frente. “Ajudamos a criar programas de alimentos e agora trabalhamos para melhorar o serviço elétrico. E temos plano de construir um hospital” afirma. Cristina faz parte de um movimento social que se aglutina na Coordenadoria do Baixo Lempa e Baía de Jiquilisco, uma coalizão de grupos de base que atuam em mais de cem comunidades desta região que a Unesco declarou em 2007 Reserva da Biosfera Xiriualtique Jiquilisco. Trata-se de uma planície costeira, banhada pelo Rio Lempa e margeada por mangues.
As juntas diretoras de cada comunidade, constituídas legalmente, são as encarregadas de tomar as decisões políticas. A Associação Mangue, que faz parte da Coordenadoria, funciona como resposta às frequentes crises causadas pela mudança climática: inundações e transbordamento de rios. O movimento social tenta fortalecer a agricultura sustentável e diversificada, a alimentação orgânica, a segurança alimentar e a adaptação às alterações do clima.
“Neste movimento as comunidades cuidam de seus próprios recursos”, explica à IPS Estela Hernández, que integra a junta diretora da Associação Mangue. “E, ao mesmo tempo, trabalhamos para que as políticas do novo governo nacional incluam nossas ações para conseguir a soberania alimentar, o manejo ambiental e hídrico e a tomada de decisões no plano local”, afirma Estela, entrevistada em seu escritório.
O novo governo nacional do qual fala Estela está nas mãos do FMLN, que deixou as armas após os acordos de paz de 1992 e, convertido no principal partido opositor, ganhou as eleições de 2009, levando a esquerda ao poder pela primeira vez neste pequeno país de seis milhões de habitantes.
Maria Elena Vigil, também dirigente da Associação Mangue, dedica-se a organizar a população afetada pelas operações da estatal Comissão Executiva Hidrelétricas do Rio Lempa (CEL), que administra quatro empresas. Na estação chuvosa, as descargas de água de uma delas, a 15 de Setembro, às vezes sem aviso, destruíam as plantações rio abaixo. Assim foram perdidos muitos cultivos, e “inclusive algumas vidas”, assegura. “As comunidades estão sumindo pela inundação. Assim, as estamos organizando contra as hidrelétricas”, completou Maria Elena.
Maria Elena também tem tempo para combater as práticas da indústria açucareira local, que aplica nos canaviais produtos agrotóxicos aos quais se atribui o aumento de doenças como a insuficiência renal. “Há mais doenças. O veneno cai dos aviões usados para aplicá-los e entra em nossa comida e nossa água, e inclusive atinge os mangues da costa”, descreve.
Dolores Esperanza Maravilla coloca sua capacidade de organização a serviço da resistência contra a CEL, a qual responsabiliza por agravar as inundações. “As hidrelétricas são responsáveis por isto. E há outras falhas como esta”, disse Dolores, apontando uma terraplenagem rachada pelas inundações de alguns meses atrás.
Ela foi uma das primeiras a chegar ao lugar quando a barreira cedeu, e usou as fotos que fez do desastre com seu telefone celular para exigir do Ministério da Agricultura que se fizesse presente na área e tomasse medidas. Além destes esforços, muitas mulheres salvadorenhas assumiram a tarefa de estudar, aproveitando um programa nacional de alfabetização.
Em um círculo de leitura e escrita organizado na aldeia de El Carmen, três mulheres resolvem problemas matemáticos com a conversão de divisas. “Esperamos muito por isto”, disse uma delas, María Concepción Ortillo. “A guerra nos impediu de estudar, a maioria de nós estava na guerrilha ou no Exército. Hoje estou feliz de estar aqui e que as mulheres possam avançar na sociedade”.
Para Cristina, um dos êxitos maiores é “a confiança que damos umas às outras e, sobretudo, como combinamos isto com a criação dos filhos”. Ela ajudou a construir um abrigo administrado por sua comunidade, que proporciona assistência psicológica e um mecanismo para que as mulheres possam denunciar de forma confidencial se sofrem violência doméstica ou abuso sexual e consigam ajuda.
Sua própria vida é um exemplo do papel relevante que as mulheres estão desempenhando na organização social da região. “Estamos em um lugar onde tentamos fazer mais pelas mulheres. Esperamos o futuro e mais trabalho como este”, disse.
Por Envolverde/IPS. Foto por http://www.flickr.com/photos/38076430@N05/.
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
“Ninguém sabe como lidar com o crack”
Jairo Werner na Revista Fórum
Para o psiquiatra e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Jairo Werner, um dos principais problemas em relação ao tratamento de usuários de crack no país é a falta de um protocolo de tratamento. Segundo ele, até mesmo o meio acadêmico enfrenta sérias dificuldades nesse aspecto. “Temos que evoluir muito o trabalho para chegar a um consenso”, pondera. Leia a entrevista abaixo:
Por Thalita Pires
Fórum - O crack realmente causa mais dependência que outras drogas?
Jairo Werner - O crack causa dependência de forma similar a todas as outras drogas. A diferença é o tempo que esse processo leva. O crack chega mais rapidamente ao cérebro, o caminho da droga pelo pulmão é mais curto. Logo depois da tragada, o cérebro é “inundado” por neurotransmissores, mas não é isso que causa a dependência. A sensação é muito forte e isso faz com que a pessoa queira fumar outra vez, o mais rápido possível. Não gosto de falar isso porque posso ser mal-compreendido, mas a violência da sensação que o crack proporciona é da ordem de vários orgasmos. A pessoa não vai ter orgasmos fumando crack, mas a magnitude do efeito é semelhante. É por isso que o crack causa uma dependência mais rápida.
Fórum - Por que o crack é a escolha das crianças de rua, se o preço de um cigarro de maconha e de uma pedra de crack é semelhante?
Werner - A maconha relaxa, o crack estimula. Pessoas que não têm o que comer não vão fumar maconha, que além de relaxar dá mais fome, mas sim o crack, que faz com que todas as outras sensações sejam suplantadas.
Fórum - É possível dizer que o crack deixou de ser uma droga usada por moradores de rua e passou para a classe média?
Werner - Isso é um processo dinâmico. Não é porque a droga começou a ser usada principalmente por moradores de rua que isso não pode mudar. O tipo de usuário muda sim. Minha esperiência clínica mostra que a droga está chegando na classe média. Há dez anos não víamos dependentes de crack de classe média, hoje isso já acontece.
Fórum - Qual a sua opinião sobre o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas, lançado no ano passado pelo governo federal?
Werner - Qualquer plano já é alguma coisa, já que antes não havia nada. Mas é bom lembrar que, na UERJ, denunciamos a existência do crack há cinco anos. Isso significa que essa iniciativa já chega atrasada. O problema é que o crack já está em uma dimensão muito maior do que qualquer plano.
Fórum – Dentro dele, quais seriam os pontos positivos? O texto enfatiza, por exemplo, a atuação de atores sociais como igrejas e líderes comunitários.
Werner - Sim, a participação social é importantíssima. Quando a comunidade que cerca o usuário está envolvida, é possível fornecer uma acolhida imediata. Isso é importante porque o usuário ou dependente não vai buscar ajuda no começo. Se isso acontecer, vai ser apenas quando sua situação chegar num nível muito perigoso. Então, essa é uma forma de buscar o usuário ativamente, e não apenas esperar que ele busque tratamento.
Fórum – E em relação à rede de atendimento ao usuário?
Werner - Temos um atendimento, hoje, que não é uma rede. Precisamos de equipamentos de saúde em todos os níveis, que sejam de fato integrados. Tudo tem que trabalhar junto, a educação, a saúde, a assistência social. Os municípios, no entanto, são muito setorizados, os secretários, em vez de colaborarem, brigam entre si. Esse é um problema que um plano federal pode ajudar a resolver.
Fórum – E quais as falhas, o que pode dar errado no Plano?
Werner - Tenho medo, por exemplo, de que se criem “cracolândias terapêuticas”, um depósito de viciados. Isso já se mostrou ineficaz. O crack é diferente de outras drogas. O problema é que não temos especialistas nem métodos reconhecidos para tratar os dependentes. Uma parte desses pacientes são crianças, mas ninguém sabe lidar com isso. Em resumo, ninguém sabe como lidar com o crack não há protocolo de tratamento e é nisso que devemos trabalhar.
Fórum – O meio acadêmico não pode ajudar a criar esse protocolo de tratamento?
Werner - A universidade também não sabe como lidar com isso. Temos que evoluir muito o trabalho para chegar a um consenso.
Fórum - O que impede a criação desse consenso?
Werner - Nossa discussão sobre drogas é muito ideologizada. Algumas pessoas querem segregar o usuário, tratá-lo separadamente e depois reintegrá-lo à sociedade. Isso já foi tentado e não funcionou. Outros acham que o problema da dependência é estritamente social, então o usuário deve ser deixado como está, pois sua situação só vai melhorar com uma mudança da sociedade. Esses dois extremos ficam debatendo e não chegamos a conclusão alguma.
Nos EUA, por exemplo, existe a Justiça Terapêutica. A pessoa deixa de ser processada por alguns crimes se aceitar o tratamento contra a dependência. Hoje isso jamais seria aceito no Brasil, por que há quem trate o usuário como criminoso. Aqui ou querem o autoritarismo ou a permissividade; ou as crianças ficam nas ruas ou vão para mini-Carandirus. Nenhuma dessas opções é a certa.
Jairo Werner - O crack causa dependência de forma similar a todas as outras drogas. A diferença é o tempo que esse processo leva. O crack chega mais rapidamente ao cérebro, o caminho da droga pelo pulmão é mais curto. Logo depois da tragada, o cérebro é “inundado” por neurotransmissores, mas não é isso que causa a dependência. A sensação é muito forte e isso faz com que a pessoa queira fumar outra vez, o mais rápido possível. Não gosto de falar isso porque posso ser mal-compreendido, mas a violência da sensação que o crack proporciona é da ordem de vários orgasmos. A pessoa não vai ter orgasmos fumando crack, mas a magnitude do efeito é semelhante. É por isso que o crack causa uma dependência mais rápida.
Fórum - Por que o crack é a escolha das crianças de rua, se o preço de um cigarro de maconha e de uma pedra de crack é semelhante?
Werner - A maconha relaxa, o crack estimula. Pessoas que não têm o que comer não vão fumar maconha, que além de relaxar dá mais fome, mas sim o crack, que faz com que todas as outras sensações sejam suplantadas.
Fórum - É possível dizer que o crack deixou de ser uma droga usada por moradores de rua e passou para a classe média?
Werner - Isso é um processo dinâmico. Não é porque a droga começou a ser usada principalmente por moradores de rua que isso não pode mudar. O tipo de usuário muda sim. Minha esperiência clínica mostra que a droga está chegando na classe média. Há dez anos não víamos dependentes de crack de classe média, hoje isso já acontece.
Fórum - Qual a sua opinião sobre o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas, lançado no ano passado pelo governo federal?
Werner - Qualquer plano já é alguma coisa, já que antes não havia nada. Mas é bom lembrar que, na UERJ, denunciamos a existência do crack há cinco anos. Isso significa que essa iniciativa já chega atrasada. O problema é que o crack já está em uma dimensão muito maior do que qualquer plano.
Fórum – Dentro dele, quais seriam os pontos positivos? O texto enfatiza, por exemplo, a atuação de atores sociais como igrejas e líderes comunitários.
Werner - Sim, a participação social é importantíssima. Quando a comunidade que cerca o usuário está envolvida, é possível fornecer uma acolhida imediata. Isso é importante porque o usuário ou dependente não vai buscar ajuda no começo. Se isso acontecer, vai ser apenas quando sua situação chegar num nível muito perigoso. Então, essa é uma forma de buscar o usuário ativamente, e não apenas esperar que ele busque tratamento.
Fórum – E em relação à rede de atendimento ao usuário?
Werner - Temos um atendimento, hoje, que não é uma rede. Precisamos de equipamentos de saúde em todos os níveis, que sejam de fato integrados. Tudo tem que trabalhar junto, a educação, a saúde, a assistência social. Os municípios, no entanto, são muito setorizados, os secretários, em vez de colaborarem, brigam entre si. Esse é um problema que um plano federal pode ajudar a resolver.
Fórum – E quais as falhas, o que pode dar errado no Plano?
Werner - Tenho medo, por exemplo, de que se criem “cracolândias terapêuticas”, um depósito de viciados. Isso já se mostrou ineficaz. O crack é diferente de outras drogas. O problema é que não temos especialistas nem métodos reconhecidos para tratar os dependentes. Uma parte desses pacientes são crianças, mas ninguém sabe lidar com isso. Em resumo, ninguém sabe como lidar com o crack não há protocolo de tratamento e é nisso que devemos trabalhar.
Fórum – O meio acadêmico não pode ajudar a criar esse protocolo de tratamento?
Werner - A universidade também não sabe como lidar com isso. Temos que evoluir muito o trabalho para chegar a um consenso.
Fórum - O que impede a criação desse consenso?
Werner - Nossa discussão sobre drogas é muito ideologizada. Algumas pessoas querem segregar o usuário, tratá-lo separadamente e depois reintegrá-lo à sociedade. Isso já foi tentado e não funcionou. Outros acham que o problema da dependência é estritamente social, então o usuário deve ser deixado como está, pois sua situação só vai melhorar com uma mudança da sociedade. Esses dois extremos ficam debatendo e não chegamos a conclusão alguma.
Nos EUA, por exemplo, existe a Justiça Terapêutica. A pessoa deixa de ser processada por alguns crimes se aceitar o tratamento contra a dependência. Hoje isso jamais seria aceito no Brasil, por que há quem trate o usuário como criminoso. Aqui ou querem o autoritarismo ou a permissividade; ou as crianças ficam nas ruas ou vão para mini-Carandirus. Nenhuma dessas opções é a certa.
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