domingo, 6 de março de 2011

Romaria da Terra: os sonhos do Sepé ressuscitado


 
Jacques Távora Alfonsin (*) no Rsurgente

A Romaria da Terra deste ano se reúne em Candiota, neste 8 de março, sob a inspiração do lema “Do clamor da terra à esperança da vida”.
Todos os anos, em plena terça-feira de carnaval, uma multidão de gente ligada às Igrejas, aos sindicatos rurais, às pastorais como a CPT, a movimentos populares como o MST, o MAB, o MMC (Movimento das mulheres camponesas) o das/os desempregadas/os, das/os índios (CIMI), das/os catadoras/es de material, e outros, colocam-se em marcha para rezar, reverenciar suas/seus mártires. Roseli Nunes e Sepé Tiaraju, entre tantas/os outras/os são lembradas/os com respeito, carinho e exemplo, nessas ocasiões.
Não é só o fato de Sepé ter sido assassinado num 7 de fevereiro (1756), num passado superior a três séculos, que reune todo esse povo, na maioria camponês/a, agricultor/a, pequena/o proprietária/o, colona/o e pobre. É a causa dessa morte e a semelhança dos seus efeitos se desdobrando até hoje, o motivo desse clamor da terra aparecer repetido em cada romaria.
As/os caminhantes não cansam de insistir naquelas canções, belas testemunhas da nossa arte popular, nas quais os sacrifícios de agora ainda geram vítimas de terra e gente. Uma parte do hino a São Sepé, por exemplo, diz assim:
“Tiaraju morreu peleando no arroio Caioboaté / mas depois noutro combate todos viram São Sepé / que vinha morrer de novo junto a gente Guarani / pra embeber seu sangue todo neste chão onde nasci. / Mais um valente guerreiro a morrer pelo seu pago/ é por isso que seu nome pro Rio Grande é sagrado / São Sepé subiu pro céu e sua cruz ficou no azul/ cai a noite ela rebrilha ele é o cruzeiro do sul”.
“Isso é história”, afirmam alguns com indiferença, “águas passadas”, “hoje é outra coisa, vive-se num Estado de direito e numa democracia”, “vivemos época de globalização da economia”, “só é pobre, hoje, quem não quer trabalhar”, são observações freqüentes partidas de quem está satisfeito com a distância mantida da realidade miserável, sofrida pelas/os descendentes de Sepé e de outras vítimas do mau uso da terra e da exploração de sua gente.
Fica parecendo mentira, então, mas a mesma injustiça daquele tempo, o poder econômico-militar e colonizador estrangeiro, atualmente refletido em transnacionais responsáveis por massacre de índios, desrespeito a quilombolas e sacrifício da terra, feito por desmatamentos, pesticidas, transgênicos, dá seguimento a mortes de terras e gentes como a do tempo daquele índio. Ela está retardando a tramitação do projeto de lei que pune o trabalho escravo, impedindo discutirem-se índices de produtividade das terras e dos limites indispensáveis à sua apropriação, inclusive por empresas estrangeiras ou brasileiras com maioria de capital estrangeiro. Atropela o debate sobre as modificações pretendidas sobre o nosso Código Florestal, usa de qualquer pretexto para instaurar CPIs que persigam movimentos populares, barra enfim qualquer política pública de reforma agrária.
Por macabra coincidência, portanto, Elton Brum da Silva, um sem-terra assassinado por um brigadiano em 21 de agosto de 2009, parece ter provado como aquele hino a São Sepé, cantado nessas romarias, continua atual. Morto na mesma terra onde foi trucidado Sepé (município de São Gabriel) – por força de uma ordem judicial, para vergonha nossa, atendendo defesa de latifúndio – Sepé parece ressuscitado na pessoa do Elton.
Por isso, aparece bem motivado o convite redigido para convocar as/os participantes desse evento: “Somos jardineiros de um belo jardim cujo dono é Deus, o criador da vida. No entanto, ao longo dos séculos, nós, seres humanos, nos esquecemos de ser jardineiros. Pretendemos ser os donos e, com nosso egoísmo e prepotência, usufruímos e destruímos o jardim belo e viçoso que Deus criou por amor. Onde nós impedimos a vida de brotar e florir, onde calamos a vida, agora estamos ouvindo os clamores de agonia da natureza. A natureza clama através de catástrofes e desequilíbrios que são sinais visíveis da perversidade do ser humano, que se esqueceu de ser o jardineiro do universo. Os clamores que surgem fazem eco e se reproduzem na 34ª Romaria da Terra que acontecerá dia 08 de março de 2011, no assentamento Roça Nova, município de Candiota, Diocese de Bagé.”
Quem sabe o PAC Regional, idealizado em novembro passado, neste mesmo lugar, como um instrumento de reforma agrária, assim reconhecido pelo Incra, possa dar mais um sinal de que existe, sim, possibilidade de uma nova economia, solidária, sustentável do ponto de vista social, econômico, ecológico, efetivamente participativo.
Se não é “só de pão que vive o homem”, como Jesus Cristo ensina no evangelho, as romarias da terra dão testemunho anual dessa outra verdade: os sonhos de Sepé por uma “terra sem males”, onde “mane o leite e corra o mel” pode substituir os maus tratos que a transformem em terra de fel, a ponto de negarem alimento e vida para a maioria do povo.
Dia 8 de março relembra, igualmente, o dia internacional da mulher. O leite dessa mãe e o mel da fêmea – terra, também ela mãe, não podem mais ser negados às/os suas/seus filhas/os, em nome de um mercado anti social e predatório que marcou o martírio coletivo de mulheres trabalhadoras, não importando aqui se essa mesma data foi escolhida pelo fato ter tido origem no massacre das trabalhadoras em 1857, ou em outro ano e por outra razão.
O certo é que, como ocorreu com Sepé, elas também lutavam por direitos tão evidentes que hoje são considerados simplesmente “humanos”. A fé inspiradora dessa caminhada-romaria de todos os anos desafia o lugar comum daquelas versões suspeitas do passado, capazes de desprezar, hoje, causas econômico-sociais de opressão de gente e de terra, ainda atuais, com a agravante de, agora, certas interpretações de lei cultural e ideologicamente servis de preconceitos, lhes darem cobertura. Sepé, do mesmo modo que Jesus Cristo e outros/as mártires, elas/es estão ressuscitando nessas caminhadas, encarnados/as no corpo e na alma de homens e mulheres conscientes de sua ascendência histórica e dignidade. Como no tempo delas/es, sabem que a terra, inspiradora do lema da romaria deste ano, é “esperança da vida”.

(*) Procurador do Estado do Rio Grande do Sul aposentado, advogado popular e educador.

Jornada Nacional de mulheres socialistas homenageia mexicanas


Donas de casa, trabalhadoras, campesinas, estudantes, atletas, artistas, artesãs, militantes políticas, ativistas de direitos humanos e ambientalistas; mães, irmãs, esposas, filhas de presos desaparecidos, entre tantas outras mulheres que "são vozes populares que não separam o sexo ao gritar um lema”, são as homenageadas pela Jornada Nacional de Mulheres Socialistas no México, pelo Dia Internacional da Mulher, celebrado na próxima terça-feira, 8 de março.


Por Tatiana Félix, na Adital

A Jornada de Mulheres Socialistas, composta pela Frente Nacional de Luta pelo Socialismo (FNLS), pela Rede de Defesa dos Direitos Humanos (REDDH), Rede pelos direitos sexuais e reprodutivos no México, entre outras organizações, defende a comemoração de um 'Dia Internacional da mulher proletária', para valorizar essas determinadas lutadoras que enfrentam todo um sistema de violações e desigualdade de gêneros.

As instituições que formam a Jornada das Mulheres aproveitam a proximidade do dia 8 de março para, mais uma vez, dar visibilidade e chamar a atenção da sociedade para os obstáculos que as mulheres enfrentam por causa de um sistema desigual que valoriza o homem e viola os direitos da mulher. Para a Jornada, o socialismo seria uma alternativa viável para implantar uma política igualitária.

As entidades criticam que, em um país onde se fala de direitos humanos, de igualdade de gênero, de campanhas de gênero e de campanhas contra a violência, aconteçam tantas mortes, incertezas e inseguranças. Um país onde as mulheres são assassinadas e se negam a admitir que estes casos são, na verdade, feminicídio, uma perseguição às mulheres.

"Não são necessárias leis protetoras, senão processos, ações, que realmente garantem melhores condições de vida como gênero humano”, avalia a Jornada, comentando ainda que é urgente transformar as condições de violação sistematizada aos direitos constitucionais.

Para as organizações feministas da Jornada, a comemoração do Dia Internacional da Mulher ‘é o resultado do ativismo social, da organização e da manifestação de milhares de mulheres com coragem e valor'. A celebração de um dia especial para as mulheres, segundo a Jornada, vai à contramão do sistema arcaico que começa por ‘denegrir um gênero com a finalidade de terminar com a conscientização do povo'.

Segundo a organização, a violência contra os movimentos populares no México ‘persiste e tem se sistematizado'. Exemplo disso são os assassinatos de mulheres e ativistas, realizados por grupos que atuam como paramilitares, e que despertam pouco interesse das autoridades.

Para protestar contra toda essa violação e homenagear as mulheres mexicanas é que diversas atividades foram programadas pelo movimento no país. As celebrações já começam na manhã de segunda-feira (7), na Benemérita Universidade Autônoma de Puebla (BUAP), com um dia todo dedicado à discussão de temas de interesse das mulheres.

O primeiro seminário falará sobre "A participação da mulher no movimento popular ante a violência de Estado”. Em seguida, mesas de trabalho discutirão temas como "Experiências, testemunhos e denúncias da luta no movimento popular” e "Denúncias”, com o objetivo de dar visibilidade à violência e as violações que as mulheres sofrem no dia-a-dia.

O primeiro ato no dia das mulheres, terça-feira (8), será uma marcha para exigir o esclarecimento e o julgamento dos responsáveis pelo assassinato do ativista social Fermín Mariano Matías. Na parte da tarde haverá um evento político-cultural. Outras atividades como o 2º Festival Mulheres de Cores e o Encontro Popular de Mulheres, também fazem parte das comemorações em homenagem à mulher mexicana.

Soja pirata na Terra Indígena Maraiwatsede


Estudo de caso mostra como vivem os xavantes da terra indígena mais devastada da Amazônia


As empresas
Bunge, Multigrain, Company e Cargill.

Perfis
Empresa de origem holandesa, a Bunge é a maior exportadora do agronegócio no Brasil, país onde possui cerca de 150 unidades – indústrias, centros de distribuição, silos e instalações portuárias – distribuídas por 16 estados.
A Multigrain, cujas operações brasileiras estão sediadas em São Paulo (SP), é outro importante grupo internacional que opera no comércio internacional de soja, algodão, trigo, açúcar, fertilizantes e etanol.
Já a Company Comércio e Representações Ltda. é uma empresa regional sediada em Primavera do Leste (MT), com atuação no comércio atacadista de soja.
Por fim, a Cargill – de matriz norte-americana – opera no Brasil desde 1965 e é uma das principais exportadoras de soja do país, mantendo escritórios e unidades industriais espalhadas por 120 municípios.

O problema
Bunge, Multigrain e Company (fornecedora da Cargill) mantiveram relações comerciais com fazendas do grupo Capim Fino, possuidor de áreas embargadas pelo Ibama no Mato Grosso e dono de uma propriedade instalada irregularmente na Terra Indígena Maraiwatsede.

O caso
A Terra Indígena Maraiwatsede, da etnia Xavante, foi homologada em 1998 pelo governo federal. No entanto, ainda hoje possui a maior parte de sua área ocupada de forma irregular por fazendeiros. Entre os ocupantes está Antônio Penasso, que cultiva soja na Fazenda Colombo, localizada na porção sul da Terra Indígena. Ela é apenas uma das propriedades mato-grossenses do grupo Capim Fino, pertencente à família Penasso, e que computa mais de R$ 58 milhões em multas por crimes ambientais.
Em 2008, a Fazenda Colombo teve milhares de hectares embargados pelo Ibama após a constatação no local de queimadas ilegais e do impedimento da regeneração natural de florestas nativas. Apesar do embargo, o Instituto flagrou tais áreas em plena colheita de soja durante a Operação Soja Pirata, em março de 2010 – ou seja, produzindo de forma irregular. Na ocasião, a Company Comércio e Representações Ltda. foi notificada pela receptação da soja ilegal. Em 2009 e 2010, a Company manteve relacionamento comercial com importantes traders do setor, como a Cargill.
Também possuidoras de áreas embargadas, duas outras propriedades do grupo Capim Fino – as fazendas Mata Azul e Capim Fino – foram objeto de contrato de venda de soja firmado com a Multigrain para a safra 2009/2010. Durante a Operação Soja Pirata, foi constatado nestes locais o plantio em terras objeto de embargo, e apreendida a matéria-prima que seria destinada à empresa.
Apesar de Antônio Penasso figurar na lista de áreas embargadas do Ibama desde 2008, a unidade de Bom Jesus do Araguaia (MT) da Bunge adquiriu soja do produtor no ano passado, proveniente de suas terras localizadas em Alto da Boa Vista (MT).

Relação com o consumidor paulistano
A Bunge fabrica, entre outros produtos, óleos de soja, margarinas e azeites, que chegam às principais redes de supermercados de São Paulo (SP) – Carrrefour, Pão de Açúcar, Sonda e Walmart – através de marcas conhecidas do mercado, como Delícia, Primor, Soya, Cyclus e Salada. Além disso, é responsável pela produção do óleo de soja das marcas Carrefour e Qualitá (grupo Pão de Açúcar).
A Cargill também abastece as maiores redes varejistas da capital paulista com óleos, azeites, maioneses e molhos para salada, dentre outros produtos. Possui marcas bastante conhecidas do público consumidor como os óleos Liza, Maria, Mazola, a maionese Gourmet e o azeite Gallo.

O que dizem as empresas
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Bunge informou que tem como política a não aquisição de produtos cultivados em áreas embargadas e que a soja comprada de Antônio Penasso não teria sido produzida em terrenos interditados pelo Ibama por problemas ambientais. “Existe um criterioso acompanhamento da origem dos grãos para este fim”, sustenta a nota da empresa.
Vale ressaltar que, de acordo com os critérios da articulação Conexões Sustentáveis São Paulo – Amazônia, as restrições comerciais devem ser aplicadas não apenas à área objeto de embargo, mas a todos os empreendimentos de um produtor cujo nome figura da lista do Ibama. Nenhuma das principais empresas compradoras do grão no Brasil aderiu ao Pacto da Soja proposto pela articulação em 2008.
A Multigrain alega que houve uma falha de informação no site do Ibama, o que induziu a empresa a firmar um contrato de compra de soja produzida em área embargada. “O incidente levou a própria Multigrain a ser vitimada, pois toda a soja produzida pelos referidos senhores foi apreendida pelo Ibama. Fique claro que tais produtores contendem com o Ibama na esfera da Justiça Federal e, recentemente, foi liberada, através de alvará judicial, a comercialização da soja apreendida. Todavia, a Multigrain, mesmo com a liberação judicial, cuidou de se abster de adquirir a soja, que veio a ser comercializada com outras empresas do ramo”, diz nota emitida pela direção da empresa.
Procurada pelo Conexões Sustentáveis, a Company Comércio e Representações Ltda. não se manifestou. Já a Cargill, que tem a Company como fornecedora, afirma que não realizou negócios com a companhia na região onde se localiza a Terra Indígena. De qualquer maneira, a Cargill informa que “suspendeu o relacionamento com a referida empresa, em todas as regiões”.
Em nota, o Grupo Pão de Açúcar afirma que “solicitou imediatamente esclarecimento por parte dos fornecedores envolvidos”. Além disso, a resposta da companhia diz ainda que “confirmadas as evidências, tomará medidas cabíveis, como a suspensão dos contratos de fornecimento, até que a situação esteja resolvida”.
O Walmart declarou que, nos últimos anos, vem desenvolvendo diversas ações visando adequar os produtos que comercializa aos critérios do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo e dos pactos setoriais do Conexões Sustentáveis. A empresa reconhece, no entanto, que os resultados ainda não são suficientes. “Temos mantido discussões constantes com os fornecedores indicados no estudo para buscar as soluções necessárias”, atesta nota emitida pela Vice Presidência de Assuntos Corporativos e Sustentabilidade.
O Carrefour informou, através de nota, que tem um rígido controle para evitar, em todas as linhas de produto que comercializa, compras de áreas que violam as legislações ambientais e trabalhistas. Em relação aos seus fornecedores listados no estudo, a empresa afirma ter entrado em contato solicitando esclarecimentos sobre os fatos relatados. “Foi informado que as compras de matéria-prima ou insumos não foram realizadas em áreas embargadas ou constantes da lista suja”, diz o Carrefour.
Mais uma vez, é importante esclarecer que, de acordo os pactos do Conexões Sustentáveis – que têm o Carrefour como signatário –, as empresas não devem adquirir insumos de quaisquer empreendimentos pertencentes a fornecedores incluídos na lista de embargos do Ibama ou na “lista suja” do trabalho escravo, divulgada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Procurado, o grupo Sonda não se manifestou.

PT: Progmáticos x Pragramáticos


Milton Temer   
Milton TemerMilton TemerDe um lado, Denis Rosenfeld, professor ultra-reacionário de filosofia, louva os dois primeiros meses de Dilma. Do outro,Wladimir Pomar, dirigente histórico do Partido dos Trabalhadores, critica cortes nos gastos públicos, ontem anunciados pelo governo, para gáudio dos banqueiros. É a direita fascista fazendo festa, e o petismo histórico ressuscitando, assumindo postura coerente com duas décadas iniciais de um partido que se orgulhava do socialismo.
Está aí a promessa de algo importante, não só para o PT, mas para toda a esquerda; para toda a Nação.
Dois meses é pouco, dirão alguns, tentando argumentar uma distinção entre Dilma e Lula., Aliás, para desqualificar Lula – a quem sempre combateram por puro preconceito de classe e não por divergência quanto ao modelo econômico –, vale tudo, desde que a partir dos que dominam o andar de cima da Nação.
Mas acontece que as medidas iniciais tomadas – arrocho de salário mínimo e cortes de R$ 50 bi nos gastos públicos – não são de efeito tão curto. Elas valem, na melhor das hipóteses, para um quarto do mandato da presidente Dilma. Para todo este ano.
Mais ainda, nas considerações sobre a guinada conservadora, não se trata apenas de medidas internas. No Itamaraty, símbolo positivo do governo Lula, pelo protagonismo em temas fundamentais – solidariedade às repúblicas bolivarianas do continente, e apoio explícito à causa palestina no Oriente Médio – , que nos levaram a inevitável contraponto com a política imperialista do Departamento de Estado americano, os sinais também são preocupantes. Há uma aproximação explícita com o Departamento de Estado americano.
Vamos ter claro que as questões levantadas sobre o governo Lula não pretendem, absolutamente, criar qualquer ambiência nostálgica em relação aos oito anos de pragmatismo assistencialista que ele implementou. Nem de perto. Pretendem apenas registrar que tudo o que havia de condenável; de despolitizador da política; de desmobilizador das mobilizações cidadãs se manteve intocado. E a segunda elevação da taxa de juros em apenas dois meses de nova administração do Banco Central só confirmam a manutenção e o agravamento do que havia de pior: a submissão do governo ao sistema financeiro privado. O que se pretende, sim, é deixar claro que o imobilismo de cabeças pensantes, prontas a tudo aceitar desde que originário da caneta, ou do discurso, de Lula, já não encontra a mesma reação quando a iniciativa vem da sucessora.
Nesse contexto, é fundamental que o debate se estenda a todas as instâncias do PT. Entre os pragmáticos, no poder, e os programáticos, em posição de espera. Wladimir Pomar não é um quadro inexpressivo, nem fala por si só. Seu filho, Valter Pomar, é um dos dirigentes mais respeitados no partido, um dos líderes do campo programático.
Que nesse debate, já publicamente instalado, os últimos se tornem primeiros é do interesse de toda a esquerda brasileira.

Milton Temer é jornalista e diretor-técnico da Fundação Lauro Campos

A verdade sobre o carnaval...

sábado, 5 de março de 2011

Comunidade Mbyá-guarani da Tekoá Koenju

Tekoá Koenju Ojexauka - Aldeia Alvorecer se Apresenta

Putirõ, mutirão, auxílio recíproco no trabalho conjunto. Eis o termo que dá a dimensão da construção dessa obra que foi gestada a partir da sensibilidade e generosidade da Comunidade Mbyá-Guarani da Tekoá Koenju, residente em São Miguel das Missões, Rio Grande do Sul.
Esse “filho” que, ora chega as suas mãos, traz as marcas da reciprocidade Guarani no trabalho coletivo de abrir sua aldeia para mostrar um pouco do seu cotidiano. Ele vem impregnado da cor da terra, sagrada na realização dos seus roçados e na construção das suas casas tradicionais; do cheiro da Tataxina, quem vem do Petynguá; do sabor do mbojapé e do avatí; dos sons da mata e do Inhacapetum; da imagem dos pequenos animais confeccionados em seu artesanato, enfim, da sua cultura. Sobretudo, vem carregado das Belas Palavras, desses autores e colaboradores Guarani, que nos permitiram reproduzir aqui, um pouco de sua sabedoria, do seu “modo de ser”, o Nhande Reko. São as palavras do Cacique Ariel Ortega – Kuaray Poty, da sua esposa e professora indígena da aldeia, Patrícia Ferreira – Kerexu Rete, do sábio Mariano Aguirre - Karai Tata Hendy, do Karaí Solano, de Elza Chamorro – Para Yxapy, do Pedro - Verá Txiunu e de tantos outros que, são protagonistas dessa história.
Mby é outra expressão Guarani que ajuda a compreender esse livro, ou seja, Coração. Eis a palavra que lembra uma fala do Cacique Geral dos Mbyá-Guarani no Rio Grande do Sul, José Cirilo Pires Morinico – Mburuvixá Tenondé Kuaray Nheery, quando esteve em Santo Ângelo, em 2008: ”Nós queremos chegar até o branco, pelo coração”. É assim que entregamos essas páginas que se somam às iniciativas no sentido de combater o preconceito e a discriminação em relação aos povos indígenas, respeitando sua diversidade cultural.
Japoi, mãos abertas para dar e receber, como dádiva e dom mútuo. As mãos Guarani que semeiam o roçado, imagem emblemática na capa, simbolizam a semente que se almeja com esse projeto. Pensado e implementado a partir da participação efetiva desses autores, dos seus depoimentos transformados em textos e das fotos, feitas por eles na aldeia,considerando a importância de tal publicação.
Cabe destacar  e agradecer esse trabalho de autoria Guarani, permitindo o registro de suas falas e disponibilizando-se , também, a captar as imagens da Tekoá, através das lentes da câmera digital. De nossa parte, coube, tendo em vista todos esses anos de contato, pesquisa e aprendizado, apresentar um pouco do que nos foi oferecido como dádiva, isto é, o conhecimento sobre seu Reko, manifestado nas fotos(selecionadas pelo Cacique Ariel), bem como, fragmentos de nosso diário de campo.

Bedati Finokiet no Sitio do cpergs

A evolução da liberdade?


 
 O fato de, este ano, o Dia Internacional da Mulher cair em plena terça-feira de Carnaval deve sim provocar reflexões que articulem as duas datas. Se por um lado, a festa celebra a alegria, por outro, ela não pode ser justificativa ou atenuante para situações de humilhação, coerção ou exploração das mulheres.

Alessandra Terribili *

O Carnaval é das festas mais tradicionais e aguardadas no Brasil. Em cada estado, as pessoas festejam a seu modo, e a alegria unifica tudo numa coisa só. Essa é a imagem bela que temos do Carnaval: bailes, blocos de rua, festas populares, muita gente feliz que, por 4 dias, consegue esquecer seus problemas e se irmana com desconhecidos e desconhecidas que estão sob a mesma condição.
O problema é que, como tudo, o Carnaval não é só beleza não. Todo ano, relatos de excessos cometidos por foliões Brasil afora deixam de orelha em pé qualquer pessoa que tenha algum apreço pelos direitos humanos. Entre tanta prática de barbárie, uma apresenta-se bastante comum: o desprezo pelas mulheres, seus direitos e sua autonomia.

Quem nunca ficou sabendo de uma história carnavalesca que envolveu violência sexual? Pra nem ir tão longe: quantas vezes você soube que, no meio da festa, passaram a mão em fulana ou beltrana? Quantas vezes você viu mulheres serem agarradas à força nessas situações? Pior: quantas vezes você ouviu, diante disso tudo, que “não se leve a mal, hoje é Carnaval”?

A celebração vira justificativa para uma porção de absurdos que, algumas vezes, nem são tolerados fora do contexto de Carnaval, mas sob ele são aceitos como se fossem práticas sociais recorrentes e até premiadas.

Há mulheres que deixam de freqüentar alguns espaços por causa do assédio fora de qualquer limite. Ficam constrangidas diante da imposição de um beijo, de um abraço, de uma mão em seu peito ou em sua bunda. Essas mulheres são mais numerosas do que se imagina.

Isso sem contar que o turismo sexual corre solto nessa época, ainda mais que em outras. Afinal, a propaganda que se faz do Brasil lá fora parece dizer que é a terra das mulheres gostosas e do sexo fácil e descompromissado. Milhares de mulheres sambando peladas, closes ginecológicos nas coberturas de TVs, fotos pornográficas em qualquer site de internet. Isso pra nem falar de como são retratadas as mulatas, pois o Carnaval é mais um momento em que o preconceito e a opressão das mulheres negras se reafirmam com muito mais força.

“Não seja exagerada ou moralista” é algo que certamente ouvirei (ou lerei) por conta desta opinião. Evidente que o Carnaval não é só a parte da falta de limites e da agressão de mulheres, seja pela mercantilização do seu corpo, pela vulgarização da sua imagem ou pela coerção física mesmo. Mas é conveniente tratar deste assunto agora, este ano, mais do que nunca, porque 8 de março de 2011 – Dia Internacional da Mulher – será terça-feira de Carnaval.

“Ô sua mal amada, que tem inveja das mulheres que podem ficar nuas na frente de todo mundo porque são belas”; ou “Deixa de ser histérica, que a maioria das mulheres nem se sente ofendida por nada disso que você está falando”. Mas é que este blog tem um público de esquerda, consciente da vida real, das desigualdades, da opressão, que sabe que as coisas não acontecem por acaso.

A luta das mulheres no Brasil e no mundo é histórica, conquistou muita coisa, transformou o mundo todo. Mas ainda falta muito. Nem precisamos nos alongar pra justificar essa afirmação, basta olhar os conhecidos dados acerca da violência contra mulheres, desigualdade salarial, atribuições domésticas, etc.

Bandeiras caras ao feminismo, como aquela contra a exploração do corpo das mulheres, contra a mercantilização, em defesa do livre exercício da sexualidade e contra todo tipo de violência são altamente contrariadas durante o Carnaval, em salões, blocos e TVs do país inteiro. Não pode ser um momento de exceção: a humilhação, coação e opressão das mulheres devem ser combatidas todos os dias do ano.

E pra quem fica indignada ou indignado diante da completa banalização que se faz do corpo feminino nessa época, que é exposto como se fosse uma lata de sardinha no supermercado, ou um frango assado girando em volta de si mesmo numa padaria, não se sinta ultrapassado ou moralista. Anacrônica é essa forma de ver as mulheres. E uma indignação coletiva e em voz alta pode ajudar a alterar as coisas como estão – porque, como disse Paulo Freire, o mundo não é, o mundo está sendo.

Neste 8 de março, além de guerrear contra a indústria de cosméticos e seus afins, que não se conforma enquanto não tornar nosso dia de luta em mais um dia de comércio, temos esse forte adversário pela frente: a naturalização da opressão e a ideia de “período de exceção”. Mas nós, feministas, que tantas batalhas já vencemos, não tememos essa não. E viva o dia internacional da mulher!

* Alessandra Terribili, jornalista, é integrante da Secretaria Nacional de Mulheres do PT.

Fascismo Ordinário

 
Quantcast
Fascismo Ordinário é um documentário soviético de Mikhail Romm, discípulo de Eisenstein, realizado em 1965.Nele podemos observar a visão soviética sobre o nazismo: suas causas, características e conseqüências. A ascensão de Hitler, o arianismo, o anti-semitismo, e a manipulação por parte da propaganda nazista.Feito com filmagens da época e dos arquivos dos nazistas, Mikhail Romm mostra um particular retrato do fascismo alemão, narrando-as com sua voz em off ele não se priva de fazer comentários sarcásticos e transigentes sobre o ridículo regime nazista.
Créditos: cafesfilosoficos

Arquivo em Mp4 – Otima qualidade – Legenda em anexo.
Parte 1
Parte 2

sexta-feira, 4 de março de 2011

Professor do Ensino Básico poderá pagar crédito de curso superior com aulas na rede pública


 
Rui Felten

Uma medida anunciada nesta quinta-feira (03) pelo Ministério da Educação (MEC) pretende ampliar o número de professores da Educação Básica matriculados em cursos superiores. O governo federal decidiu estender os benefícios do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) para permitir que professores que já trabalham na rede pública de ensino possam frequentar faculdades.
Desde 2010, o Fies vinha financiando cursos de licenciatura a professores que vão pagar o crédito depois da formatura não em dinheiro, mas com aulas em escolas públicas. Para cada mês de trabalho, com carga horária de 20 horas por semana, será abatido 1% do débito. Dessa forma, a dívida será considerada quitada depois de oito anos e quatro meses, sem acréscimos financeiros. Agora, a oportunidade se abre também para aqueles que já estejam trabalhando na rede pública. Para estes, o tempo em que estiverem dando aulas já será contado para o desconto da dívida.
Uma pesquisa feita pelo MEC mostrou que, em 2009, aproximadamente 381 mil professores da Educação Básica frequentavam universidades. O número equivale a somente 16% dos que já exercem atividade em sala de aula. Também de acordo com o levantamento, a maior parte deles cursa Pedagogia. A ordem de preferência segue com Letras, Matemática, História, Biologia e Geografia. Outros optaram por áreas não ligadas ao exercício pedagógico, como Direito, Administração e Engenharia. Do total, 67% estão matriculados em faculdades privadas.
O MEC não sabe quantos professores, dentre estes, já teriam formação universitária e estariam fazendo um segundo curso superior. Esta é uma informação, segundo o ministro Fernando Haddad, que será avaliada mais adiante. “De qualquer forma, os números nos surpreendem positivamente, e a busca pela formação é positiva”, afirma.

Com informações da Agência Brasil

Líbia: O que a mídia do PIG esconde.

por Miguel Urbano Rodrigues

Transcorridas duas semanas das primeiras manifestações em Benghazi e Tripoli, a campanha de desinformação sobre a Líbia semeia a confusão no mundo.

Antes de mais uma certeza: as analogias com os acontecimentos da Tunísia e do Egipto são descabidas. Essas rebeliões contribuíram, obviamente, para despoletar os protestos nas ruas do país vizinho de ambos, mas o processo líbio apresenta características peculiares, inseparáveis da estratégia conspirativa do imperialismo e daquilo que se pode definir como a metamorfose do líder.

Muamar Kadhafi, ao contrário de Ben Ali e de Hosni Mubarak, assumiu uma posição anti-imperialista quando tomou o poder em 1969. Aboliu uma monarquia fantoche e praticou durante décadas uma politica de independência iniciada com a nacionalização do petróleo. As suas excentricidades e o fanatismo religioso não impediram uma estratégia que promoveu o desenvolvimento económico e reduziu desigualdades sociais chocantes. A Líbia aliou-se a países e movimentos que combatiam o imperialismo e o sionismo. Kadhafi fundou universidades e industrias, uma agricultura florescente surgiu das areias do deserto, centenas de milhares de cidadãos tiveram pela primeira vez direito a alojamentos dignos.

O bombardeamento de Tripoli e Benghazi em l986 pela USAF demonstrou que Reagan, na Casa Branca identificava no líder líbio um inimigo a abater. Ao país foram aplicadas sanções pesadas.

A partir da II Guerra do Golfo, Kadhafi deu uma guinada de 180 graus. Submeteu-se a exigências do FMI, privatizou dezenas de empresas e abriu o país às grandes petrolíferas internacionais. A corrupção e o nepotismo criaram raízes na Líbia.

Washington passou a ver em Kadhafi um dirigente dialogante. Foi recebido na Europa com honras especiais; assinou contratos fabulosos com os governos de Sarkozy, Berlusconi e Brown. Mas quando o aumento de preços nas grandes cidades líbias provocou uma vaga de descontentamento, o imperialismo aproveitou a oportunidade. Concluiu que chegara o momento de se livrar de Kadhafi, um líder sempre incómodo.

As rebeliões da Tunísia e do Egipto, os protestos no Bahrein e no Iémen criaram condições muito favoráveis às primeiras manifestações na Líbia.
Não foi por acaso que Benghasi surgiu como o pólo da rebelião. É na Cirenaica que operam as principais transnacionais petrolíferas; ali se localizam os terminais dos oleodutos e dos gasodutos.

A brutal repressão desencadeada por Kadhafi após os primeiros protestos populares contribuiu para que estes se ampliassem, sobretudo em Benghazi. Sabe-se hoje que nessas manifestações desempenhou um papel importante a chamada Frente Nacional para a Salvação da Líbia, organização financiada pela CIA. É esclarecedor que naquela cidade tenham surgido rapidamente nas ruas a antiga bandeira da monarquia e retratos do falecido rei Idris, o chefe tribal Senussi coroado pela Inglaterra após a expulsão dos italianos. Apareceu até um "príncipe" Senussi a dar entrevistas.

A solidariedade dos grandes media dos EUA e da União Europeia com a rebelião do povo da Líbia é, porem, obviamente hipócrita. O Wall Street Journal, porta-voz da grande Finança mundial, não hesitou em sugerir em editorial (23 de Fevereiro) que "os EUA e a Europa deveriam ajudar os líbios a derrubar o regime de Kadhafi".

Obama, na expectativa, manteve silêncio sobre a Líbia durante seis dias; no sétimo condenou a violência, pediu sanções. Seguiu-se a reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU e o esperado pacote de sanções.

Alguns dirigentes progressistas latino americanos admitiram como iminente uma intervenção militar da NATO. Tal iniciativa, perigosa e estúpida, produziria efeito negativo no mundo árabe, reforçando o sentimento anti-imperialista latente nas massas. E seria militarmente desnecessária porque o regime líbio aparentemente agoniza.

Kadhafi, ao promover uma repressão violenta, recorrendo inclusive a mercenários tchadianos (estrangeiros que nem sequer falam árabe), contribuiu para ampliar a campanha dos grandes media internacionais que projecta como heróis os organizadores da rebelião enquanto ele é apresentado como um assassino e um paranóico.

Os últimos discursos do líder líbio, irresponsáveis e agressivos, foram alias habilmente utilizados pelos media para o desacreditar e estimular a renúncia de ministros e diplomatas, distanciando Kadhafi cada vez mais do povo que durante décadas o respeitou e admirou.

Nestes dias é imprevisível o amanhã da Líbia, o terceiro produtor de petróleo da África, um país cujas riquezas são já amplamente controladas pelo imperialismo.
Vila Nova de Gaia, 28/Fevereiro/2011
O original encontra-se em http://www.odiario.info/?p=1993

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