A par da luta contra a violência, o direito
ao trabalho e à independência económica devem estar no centro das
reivindicações das mulheres neste dia 8 de Março de 2011.
No dia internacional da Mulher, devemos não só reafirmar a nossa
memória colectiva evocando as conquistas politicas económicas e sociais
já alcançadas pelas mulheres, mas também, e sobretudo evidenciar o muito
que ainda está por fazer quanto ás inadmissíveis discriminações que
persistem no século XXI.
Ainda que muitos liberais e neoliberais pretendam confundir o 8 de
Março tentando transformá-lo numa data meramente simbólica, em que se
oferecem postais com poemas insípidos e lamechas ou apenas flores de
todas as formas e feitios, a verdade é que esta é uma data que deve ser
amplamente comemorada por tod@s as que lutam numa sociedade capitalista e
patriarcal contra as diferentes discriminações de que as mulheres são
alvo.
Ainda que os discursos oficiais exaltem que a igualdade de género é
hoje um dado adquirido, tal discurso caí por terra quando um século
passado as desigualdades salariais persistem e as discriminações na área
do trabalho são mais do que evidentes.
Não se pergunta a um homem candidato a um emprego se pensa casar, se tem filhos ou tem intenção de ser pai!
Convive-se muito bem com a desproporção que existe nos cargos de chefia
e de direcção, nos cargos políticos e até nos cargos governamentais.
Admite-se como normal que as empresas dispensem mais facilmente as
mulheres justificando o seu absentismo motivado a maior parte das vezes
por assistência aos seus filhos e progenitores.
E se estas são questões particularmente graves, a gravidade do número
de mortes em 2010 (43 contra as 29 contabilizadas em 2009) torna
evidente o falhanço das políticas do governo nesta área, quando a maior
parte dos casos foram antecedidas de denúncias.
Neste tempo de incerteza como o que vivemos, multiplicam-se sempre as
solicitações geradoras de descrenças e dúvidas, desmoralizando as lutas,
enviesando a participação, camuflando de consenso “mole” as
contradições óbvias. Acho por isso necessário que novas linhas de
intervenção e de activismo terão que emergir para que a igualdade de
género seja de facto alcançada. A par da luta contra a violência, o
direito ao trabalho e à independência económica devem estar no centro
das reivindicações das mulheres neste dia 8 de Março de 2011.
Em um informe publicado dia 8 de janeiro, a revista
anunciou a "próxima batalha" liberal: o confronto com os sindicatos do
setor público. A tese da revista pode ser resumida em três pontos: os
Estados europeus enfrentam déficits públicos abismais; para reduzir o
gasto, é preciso reduzir efetivos, salários e sistemas de pensões dos
funcionários; os governos ganharão a opinião pública incentivando a
denúncia dos “privilégios” (em especial a estabilidade no trabalho) dos
“acomodados” do setor público. Em nenhum momento o informe recorda que
os déficits públicos são em grande parte consequência das ajudas
colossais aos bancos e outros responsáveis pela crise atual. O artigo é
de Bernard Cassen.
Bernard Cassen – Le Monde Diplomatique (edição em espanhol)
A revista The Economist é onde são
expostas com maior radicalismo – e também com talento – as teses
ultraneoliberais. É conhecida a grande influência que este semanário
britânico exerce sobre as autoridades políticas, influência esta que vai
muito além do mundo anglosaxão. O que The Economist preconiza
transmite-se frequentemente para as políticas dos governos, em primeiro
lugar na Europa. Por isso, é preciso levar muito a sério a capa da
edição de 8 de janeiro passado e o conteúdo do informe especial: “A
próxima batalha. Rumo ao confronto com os sindicatos do setor público”.
A
tese da revista é de uma simplicidade evangélica e pode ser resumida em
três pontos: a) todos os Estados europeus enfrentam déficits públicos
abismais; b) para reduzir o gasto público, é preciso reduzir os
efetivos, os salários e os sistemas de pensões dos funcionários; c) os
governos ganharão com maior facilidade a opinião pública incentivando a
denúncia dos “privilégios” (em especial a estabilidade no trabalho) dos
“acomodados” do setor público, que supostamente vivem a custa do
conjunto dos contribuintes.
Em nenhum momento o informe recorda
que os déficits públicos são em grande parte consequência das ajudas
colossais aos bancos e outros responsáveis pela crise atual. Tampouco
que estes déficits aumentaram devido aos presentes sob a forma de
isenções fiscais outorgadas aos ricos. Nem sequer se deixa claro que, em
troca de seu salário, os funcionários prestam serviços indispensáveis
para o bom funcionamento da sociedade. Em particular os professores, atacados muito especialmente neste informe.
O
jornalista que escreveu um dos artigos deve estar muito desinformado
sobre as reais condições de trabalho dos professores para ter coragem de
escrever que “65 anos deveria ser a idade mínima para que essa gente
que passa a vida em uma sala de aula se aposente”.
The Economist festeja
que vários governos europeus – dois deles dirigidos por “socialistas”,
Grécia e Espanha – tenham rebaixado os salários de seus funcionários e
que, em toda a União Europeia haja “reformas” – seria mais justo falar
de contrarreformas dos sistemas de pensões já realizadas ou em vias de
realização.
Por ideologia, os liberais são hostis aos
funcionários e demais assalariados do setor público. Em primeiro lugar
porque privam o setor privado de novos espaços de lucro. Em segundo
porque, protegidos por seu estatuto, podem ser socialmente mais
combativos que seus companheiros do setor privado, até o ponto de que,
às vezes, fazem greves “por delegação” e representam os trabalhadores do
setor privado que não podem fazê-las.
Esta solidariedade é a
que os governos querem destruir a todo custo para reduzir a capacidade
de resistência das populações contra os planos de ajuste e de
austeridade implementados em toda a Europa. Os déficits públicos
constituem assim um pretexto inesperado para modificar as relações
sociais conflitivas em detrimento do mundo do trabalho. Defender os
serviços públicos é defender o único patrimônio do qual dispõem as
categorias mais pobres da população. A aposta na caça aos funcionários
públicos e a seus sindicatos proposta por The Economist não é apenas financeira. É política ou ideológica.
A Romaria da Terra deste ano se reúne em Candiota, neste 8 de março,
sob a inspiração do lema “Do clamor da terra à esperança da vida”.
Todos os anos, em plena terça-feira de carnaval, uma multidão de
gente ligada às Igrejas, aos sindicatos rurais, às pastorais como a CPT,
a movimentos populares como o MST, o MAB, o MMC (Movimento das mulheres
camponesas) o das/os desempregadas/os, das/os índios (CIMI), das/os
catadoras/es de material, e outros, colocam-se em marcha para rezar,
reverenciar suas/seus mártires. Roseli Nunes e Sepé Tiaraju, entre
tantas/os outras/os são lembradas/os com respeito, carinho e exemplo,
nessas ocasiões.
Não é só o fato de Sepé ter sido assassinado num 7 de fevereiro
(1756), num passado superior a três séculos, que reune todo esse povo,
na maioria camponês/a, agricultor/a, pequena/o proprietária/o, colona/o e
pobre. É a causa dessa morte e a semelhança dos seus efeitos se
desdobrando até hoje, o motivo desse clamor da terra aparecer repetido
em cada romaria.
As/os caminhantes não cansam de insistir naquelas canções, belas
testemunhas da nossa arte popular, nas quais os sacrifícios de agora
ainda geram vítimas de terra e gente. Uma parte do hino a São Sepé, por
exemplo, diz assim:
“Tiaraju morreu peleando no arroio Caioboaté / mas depois noutro
combate todos viram São Sepé / que vinha morrer de novo junto a gente
Guarani / pra embeber seu sangue todo neste chão onde nasci. / Mais um
valente guerreiro a morrer pelo seu pago/ é por isso que seu nome pro
Rio Grande é sagrado / São Sepé subiu pro céu e sua cruz ficou no azul/
cai a noite ela rebrilha ele é o cruzeiro do sul”.
“Isso é história”, afirmam alguns com indiferença, “águas passadas”,
“hoje é outra coisa, vive-se num Estado de direito e numa democracia”,
“vivemos época de globalização da economia”, “só é pobre, hoje, quem não
quer trabalhar”, são observações freqüentes partidas de quem está
satisfeito com a distância mantida da realidade miserável, sofrida
pelas/os descendentes de Sepé e de outras vítimas do mau uso da terra e
da exploração de sua gente.
Fica parecendo mentira, então, mas a mesma injustiça daquele tempo, o
poder econômico-militar e colonizador estrangeiro, atualmente refletido
em transnacionais responsáveis por massacre de índios, desrespeito a
quilombolas e sacrifício da terra, feito por desmatamentos, pesticidas,
transgênicos, dá seguimento a mortes de terras e gentes como a do tempo
daquele índio. Ela está retardando a tramitação do projeto de lei que
pune o trabalho escravo, impedindo discutirem-se índices de
produtividade das terras e dos limites indispensáveis à sua apropriação,
inclusive por empresas estrangeiras ou brasileiras com maioria de
capital estrangeiro. Atropela o debate sobre as modificações pretendidas
sobre o nosso Código Florestal, usa de qualquer pretexto para instaurar
CPIs que persigam movimentos populares, barra enfim qualquer política
pública de reforma agrária.
Por macabra coincidência, portanto, Elton Brum da Silva, um sem-terra
assassinado por um brigadiano em 21 de agosto de 2009, parece ter
provado como aquele hino a São Sepé, cantado nessas romarias, continua
atual. Morto na mesma terra onde foi trucidado Sepé (município de São
Gabriel) – por força de uma ordem judicial, para vergonha nossa,
atendendo defesa de latifúndio – Sepé parece ressuscitado na pessoa do
Elton.
Por isso, aparece bem motivado o convite redigido para convocar as/os participantes desse evento: “Somos
jardineiros de um belo jardim cujo dono é Deus, o criador da vida. No
entanto, ao longo dos séculos, nós, seres humanos, nos esquecemos de ser
jardineiros. Pretendemos ser os donos e, com nosso egoísmo e
prepotência, usufruímos e destruímos o jardim belo e viçoso que Deus
criou por amor. Onde nós impedimos a vida de brotar e florir, onde
calamos a vida, agora estamos ouvindo os clamores de agonia da natureza.
A natureza clama através de catástrofes e desequilíbrios que são sinais
visíveis da perversidade do ser humano, que se esqueceu de ser o
jardineiro do universo. Os clamores que surgem fazem eco e se reproduzem
na 34ª Romaria da Terra que acontecerá dia 08 de março de 2011, no
assentamento Roça Nova, município de Candiota, Diocese de Bagé.”
Quem sabe o PAC Regional, idealizado em novembro passado, neste
mesmo lugar, como um instrumento de reforma agrária, assim reconhecido
pelo Incra, possa dar mais um sinal de que existe, sim, possibilidade de
uma nova economia, solidária, sustentável do ponto de vista social,
econômico, ecológico, efetivamente participativo.
Se não é “só de pão que vive o homem”, como Jesus Cristo ensina no
evangelho, as romarias da terra dão testemunho anual dessa outra
verdade: os sonhos de Sepé por uma “terra sem males”, onde “mane o leite
e corra o mel” pode substituir os maus tratos que a transformem em
terra de fel, a ponto de negarem alimento e vida para a maioria do povo.
Dia 8 de março relembra, igualmente, o dia internacional da mulher. O
leite dessa mãe e o mel da fêmea – terra, também ela mãe, não podem
mais ser negados às/os suas/seus filhas/os, em nome de um mercado anti
social e predatório que marcou o martírio coletivo de mulheres
trabalhadoras, não importando aqui se essa mesma data foi escolhida pelo
fato ter tido origem no massacre das trabalhadoras em 1857, ou em outro
ano e por outra razão.
O certo é que, como ocorreu com Sepé, elas também lutavam por
direitos tão evidentes que hoje são considerados simplesmente “humanos”.
A fé inspiradora dessa caminhada-romaria de todos os anos desafia o
lugar comum daquelas versões suspeitas do passado, capazes de desprezar,
hoje, causas econômico-sociais de opressão de gente e de terra, ainda
atuais, com a agravante de, agora, certas interpretações de lei cultural
e ideologicamente servis de preconceitos, lhes darem cobertura. Sepé,
do mesmo modo que Jesus Cristo e outros/as mártires, elas/es estão
ressuscitando nessas caminhadas, encarnados/as no corpo e na alma de
homens e mulheres conscientes de sua ascendência histórica e dignidade.
Como no tempo delas/es, sabem que a terra, inspiradora do lema da
romaria deste ano, é “esperança da vida”.
(*) Procurador do Estado do Rio Grande do Sul aposentado, advogado popular e educador.
Donas de casa, trabalhadoras, campesinas, estudantes, atletas,
artistas, artesãs, militantes políticas, ativistas de direitos humanos e
ambientalistas; mães, irmãs, esposas, filhas de presos desaparecidos,
entre tantas outras mulheres que "são vozes populares que não separam o
sexo ao gritar um lema”, são as homenageadas pela Jornada Nacional de
Mulheres Socialistas no México, pelo Dia Internacional da Mulher,
celebrado na próxima terça-feira, 8 de março.
Por Tatiana Félix, na Adital
A Jornada de Mulheres Socialistas,
composta pela Frente Nacional de Luta pelo Socialismo (FNLS), pela Rede
de Defesa dos Direitos Humanos (REDDH), Rede pelos direitos sexuais e
reprodutivos no México, entre outras organizações, defende a comemoração
de um 'Dia Internacional da mulher proletária', para valorizar essas
determinadas lutadoras que enfrentam todo um sistema de violações e
desigualdade de gêneros.
As instituições que formam a Jornada das Mulheres aproveitam a
proximidade do dia 8 de março para, mais uma vez, dar visibilidade e
chamar a atenção da sociedade para os obstáculos que as mulheres
enfrentam por causa de um sistema desigual que valoriza o homem e viola
os direitos da mulher. Para a Jornada, o socialismo seria uma
alternativa viável para implantar uma política igualitária.
As entidades criticam que, em um país onde se fala de direitos humanos,
de igualdade de gênero, de campanhas de gênero e de campanhas contra a
violência, aconteçam tantas mortes, incertezas e inseguranças. Um país
onde as mulheres são assassinadas e se negam a admitir que estes casos
são, na verdade, feminicídio, uma perseguição às mulheres.
"Não são necessárias leis protetoras, senão processos, ações, que
realmente garantem melhores condições de vida como gênero humano”,
avalia a Jornada, comentando ainda que é urgente transformar as
condições de violação sistematizada aos direitos constitucionais.
Para as organizações feministas da Jornada, a comemoração do Dia
Internacional da Mulher ‘é o resultado do ativismo social, da
organização e da manifestação de milhares de mulheres com coragem e
valor'. A celebração de um dia especial para as mulheres, segundo a
Jornada, vai à contramão do sistema arcaico que começa por ‘denegrir um
gênero com a finalidade de terminar com a conscientização do povo'.
Segundo a organização, a violência contra os movimentos populares no
México ‘persiste e tem se sistematizado'. Exemplo disso são os
assassinatos de mulheres e ativistas, realizados por grupos que atuam
como paramilitares, e que despertam pouco interesse das autoridades.
Para protestar contra toda essa violação e homenagear as mulheres
mexicanas é que diversas atividades foram programadas pelo movimento no
país. As celebrações já começam na manhã de segunda-feira (7), na
Benemérita Universidade Autônoma de Puebla (BUAP), com um dia todo
dedicado à discussão de temas de interesse das mulheres.
O primeiro seminário falará sobre "A participação da mulher no movimento
popular ante a violência de Estado”. Em seguida, mesas de trabalho
discutirão temas como "Experiências, testemunhos e denúncias da luta no
movimento popular” e "Denúncias”, com o objetivo de dar visibilidade à
violência e as violações que as mulheres sofrem no dia-a-dia.
O primeiro ato no dia das mulheres, terça-feira (8), será uma marcha
para exigir o esclarecimento e o julgamento dos responsáveis pelo
assassinato do ativista social Fermín Mariano Matías. Na parte da tarde
haverá um evento político-cultural. Outras atividades como o 2º Festival
Mulheres de Cores e o Encontro Popular de Mulheres, também fazem parte
das comemorações em homenagem à mulher mexicana.
Empresa
de origem holandesa, a Bunge é a maior exportadora do agronegócio no
Brasil, país onde possui cerca de 150 unidades – indústrias, centros de
distribuição, silos e instalações portuárias – distribuídas por 16
estados.
A Multigrain, cujas operações
brasileiras estão sediadas em São Paulo (SP), é outro importante grupo
internacional que opera no comércio internacional de soja, algodão,
trigo, açúcar, fertilizantes e etanol.
Já a
Company Comércio e Representações Ltda. é uma empresa regional sediada
em Primavera do Leste (MT), com atuação no comércio atacadista de soja.
Por
fim, a Cargill – de matriz norte-americana – opera no Brasil desde 1965
e é uma das principais exportadoras de soja do país, mantendo
escritórios e unidades industriais espalhadas por 120 municípios.
O problema
Bunge,
Multigrain e Company (fornecedora da Cargill) mantiveram relações
comerciais com fazendas do grupo Capim Fino, possuidor de áreas
embargadas pelo Ibama no Mato Grosso e dono de uma propriedade instalada
irregularmente na Terra Indígena Maraiwatsede.
O caso
A
Terra Indígena Maraiwatsede, da etnia Xavante, foi homologada em 1998
pelo governo federal. No entanto, ainda hoje possui a maior parte de sua
área ocupada de forma irregular por fazendeiros. Entre os ocupantes
está Antônio Penasso, que cultiva soja na Fazenda Colombo, localizada na
porção sul da Terra Indígena. Ela é apenas uma das propriedades
mato-grossenses do grupo Capim Fino, pertencente à família Penasso, e
que computa mais de R$ 58 milhões em multas por crimes ambientais.
Em
2008, a Fazenda Colombo teve milhares de hectares embargados pelo Ibama
após a constatação no local de queimadas ilegais e do impedimento da
regeneração natural de florestas nativas. Apesar do embargo, o Instituto
flagrou tais áreas em plena colheita de soja durante a Operação Soja
Pirata, em março de 2010 – ou seja, produzindo de forma irregular. Na
ocasião, a Company Comércio e Representações Ltda. foi notificada pela
receptação da soja ilegal. Em 2009 e 2010, a Company manteve
relacionamento comercial com importantes traders do setor, como a
Cargill.
Também possuidoras de áreas embargadas,
duas outras propriedades do grupo Capim Fino – as fazendas Mata Azul e
Capim Fino – foram objeto de contrato de venda de soja firmado com a
Multigrain para a safra 2009/2010. Durante a Operação Soja Pirata, foi
constatado nestes locais o plantio em terras objeto de embargo, e
apreendida a matéria-prima que seria destinada à empresa.
Apesar
de Antônio Penasso figurar na lista de áreas embargadas do Ibama desde
2008, a unidade de Bom Jesus do Araguaia (MT) da Bunge adquiriu soja do
produtor no ano passado, proveniente de suas terras localizadas em Alto
da Boa Vista (MT).
Relação com o consumidor paulistano
A
Bunge fabrica, entre outros produtos, óleos de soja, margarinas e
azeites, que chegam às principais redes de supermercados de São Paulo
(SP) – Carrrefour, Pão de Açúcar, Sonda e Walmart – através de marcas
conhecidas do mercado, como Delícia, Primor, Soya, Cyclus e Salada. Além
disso, é responsável pela produção do óleo de soja das marcas Carrefour
e Qualitá (grupo Pão de Açúcar).
A Cargill
também abastece as maiores redes varejistas da capital paulista com
óleos, azeites, maioneses e molhos para salada, dentre outros produtos.
Possui marcas bastante conhecidas do público consumidor como os óleos
Liza, Maria, Mazola, a maionese Gourmet e o azeite Gallo.
O que dizem as empresas
Por
meio de sua assessoria de imprensa, a Bunge informou que tem como
política a não aquisição de produtos cultivados em áreas embargadas e
que a soja comprada de Antônio Penasso não teria sido produzida em
terrenos interditados pelo Ibama por problemas ambientais. “Existe um
criterioso acompanhamento da origem dos grãos para este fim”, sustenta a
nota da empresa.
Vale ressaltar que, de acordo
com os critérios da articulação Conexões Sustentáveis São Paulo –
Amazônia, as restrições comerciais devem ser aplicadas não apenas à área
objeto de embargo, mas a todos os empreendimentos de um produtor cujo
nome figura da lista do Ibama. Nenhuma das principais empresas
compradoras do grão no Brasil aderiu ao Pacto da Soja proposto pela
articulação em 2008.
A Multigrain alega que houve
uma falha de informação no site do Ibama, o que induziu a empresa a
firmar um contrato de compra de soja produzida em área embargada. “O
incidente levou a própria Multigrain a ser vitimada, pois toda a soja
produzida pelos referidos senhores foi apreendida pelo Ibama. Fique
claro que tais produtores contendem com o Ibama na esfera da Justiça
Federal e, recentemente, foi liberada, através de alvará judicial, a
comercialização da soja apreendida. Todavia, a Multigrain, mesmo com a
liberação judicial, cuidou de se abster de adquirir a soja, que veio a
ser comercializada com outras empresas do ramo”, diz nota emitida pela
direção da empresa.
Procurada pelo Conexões
Sustentáveis, a Company Comércio e Representações Ltda. não se
manifestou. Já a Cargill, que tem a Company como fornecedora, afirma que
não realizou negócios com a companhia na região onde se localiza a
Terra Indígena. De qualquer maneira, a Cargill informa que “suspendeu o
relacionamento com a referida empresa, em todas as regiões”.
Em
nota, o Grupo Pão de Açúcar afirma que “solicitou imediatamente
esclarecimento por parte dos fornecedores envolvidos”. Além disso, a
resposta da companhia diz ainda que “confirmadas as evidências, tomará
medidas cabíveis, como a suspensão dos contratos de fornecimento, até
que a situação esteja resolvida”.
O Walmart
declarou que, nos últimos anos, vem desenvolvendo diversas ações visando
adequar os produtos que comercializa aos critérios do Pacto Nacional
pela Erradicação do Trabalho Escravo e dos pactos setoriais do Conexões
Sustentáveis. A empresa reconhece, no entanto, que os resultados ainda
não são suficientes. “Temos mantido discussões constantes com os
fornecedores indicados no estudo para buscar as soluções necessárias”,
atesta nota emitida pela Vice Presidência de Assuntos Corporativos e
Sustentabilidade.
O Carrefour informou, através
de nota, que tem um rígido controle para evitar, em todas as linhas de
produto que comercializa, compras de áreas que violam as legislações
ambientais e trabalhistas. Em relação aos seus fornecedores listados no
estudo, a empresa afirma ter entrado em contato solicitando
esclarecimentos sobre os fatos relatados. “Foi informado que as compras
de matéria-prima ou insumos não foram realizadas em áreas embargadas ou
constantes da lista suja”, diz o Carrefour.
Mais
uma vez, é importante esclarecer que, de acordo os pactos do Conexões
Sustentáveis – que têm o Carrefour como signatário –, as empresas não
devem adquirir insumos de quaisquer empreendimentos pertencentes a
fornecedores incluídos na lista de embargos do Ibama ou na “lista suja”
do trabalho escravo, divulgada pelo Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE).
Milton TemerDe
um lado, Denis Rosenfeld, professor ultra-reacionário de filosofia,
louva os dois primeiros meses de Dilma. Do outro,Wladimir Pomar,
dirigente histórico do Partido dos Trabalhadores, critica cortes nos
gastos públicos, ontem anunciados pelo governo, para gáudio dos
banqueiros. É a direita fascista fazendo festa, e o petismo histórico
ressuscitando, assumindo postura coerente com duas décadas iniciais de
um partido que se orgulhava do socialismo.
Está aí a promessa de algo importante, não só para o PT, mas para toda a esquerda; para toda a Nação.
Dois meses é pouco, dirão alguns, tentando argumentar uma distinção
entre Dilma e Lula., Aliás, para desqualificar Lula – a quem sempre
combateram por puro preconceito de classe e não por divergência quanto
ao modelo econômico –, vale tudo, desde que a partir dos que dominam o
andar de cima da Nação.
Mas acontece que as medidas iniciais tomadas – arrocho de salário
mínimo e cortes de R$ 50 bi nos gastos públicos – não são de efeito tão
curto. Elas valem, na melhor das hipóteses, para um quarto do mandato da
presidente Dilma. Para todo este ano.
Mais ainda, nas considerações sobre a guinada conservadora, não se
trata apenas de medidas internas. No Itamaraty, símbolo positivo do
governo Lula, pelo protagonismo em temas fundamentais – solidariedade às
repúblicas bolivarianas do continente, e apoio explícito à causa
palestina no Oriente Médio – , que nos levaram a inevitável contraponto
com a política imperialista do Departamento de Estado americano, os
sinais também são preocupantes. Há uma aproximação explícita com o
Departamento de Estado americano.
Vamos ter claro que as questões levantadas sobre o governo Lula não
pretendem, absolutamente, criar qualquer ambiência nostálgica em relação
aos oito anos de pragmatismo assistencialista que ele implementou.
Nem de perto. Pretendem apenas registrar que tudo o que havia de
condenável; de despolitizador da política; de desmobilizador das
mobilizações cidadãs se manteve intocado. E a segunda elevação da taxa
de juros em apenas dois meses de nova administração do Banco Central só
confirmam a manutenção e o agravamento do que havia de pior: a submissão
do governo ao sistema financeiro privado. O que se pretende, sim, é
deixar claro que o imobilismo de cabeças pensantes, prontas a tudo
aceitar desde que originário da caneta, ou do discurso, de Lula, já não
encontra a mesma reação quando a iniciativa vem da sucessora.
Nesse contexto, é fundamental que o debate se estenda a todas as
instâncias do PT. Entre os pragmáticos, no poder, e os programáticos,
em posição de espera. Wladimir Pomar não é um quadro inexpressivo, nem
fala por si só. Seu filho, Valter Pomar, é um dos dirigentes mais
respeitados no partido, um dos líderes do campo programático.
Que nesse debate, já publicamente instalado, os últimos se tornem primeiros é do interesse de toda a esquerda brasileira.
Milton Temer é jornalista e diretor-técnico da Fundação Lauro Campos
Tekoá Koenju Ojexauka - Aldeia Alvorecer se Apresenta
Putirõ,
mutirão, auxílio recíproco no trabalho conjunto. Eis o termo que dá a
dimensão da construção dessa obra que foi gestada a partir da
sensibilidade e generosidade da Comunidade Mbyá-Guarani da Tekoá Koenju,
residente em São Miguel das Missões, Rio Grande do Sul.
Esse
“filho” que, ora chega as suas mãos, traz as marcas da reciprocidade
Guarani no trabalho coletivo de abrir sua aldeia para mostrar um pouco
do seu cotidiano. Ele vem impregnado da cor da terra, sagrada na
realização dos seus roçados e na construção das suas casas tradicionais;
do cheiro da Tataxina, quem vem do Petynguá; do sabor do mbojapé e do avatí; dos sons da mata e do Inhacapetum;
da imagem dos pequenos animais confeccionados em seu artesanato, enfim,
da sua cultura. Sobretudo, vem carregado das Belas Palavras, desses
autores e colaboradores Guarani, que nos permitiram reproduzir aqui, um
pouco de sua sabedoria, do seu “modo de ser”, o Nhande Reko. São as
palavras do Cacique Ariel Ortega – Kuaray Poty, da sua esposa e
professora indígena da aldeia, Patrícia Ferreira – Kerexu Rete, do sábio
Mariano Aguirre - Karai Tata Hendy, do Karaí Solano, de Elza
Chamorro – Para Yxapy, do Pedro - Verá Txiunu e de tantos outros que,
são protagonistas dessa história.
Mby
é outra expressão Guarani que ajuda a compreender esse livro, ou seja,
Coração. Eis a palavra que lembra uma fala do Cacique Geral dos
Mbyá-Guarani no Rio Grande do Sul, José Cirilo Pires Morinico –
Mburuvixá Tenondé Kuaray Nheery, quando esteve em Santo Ângelo, em 2008:
”Nós
queremos chegar até o branco, pelo coração”. É assim que entregamos
essas páginas que se somam às iniciativas no sentido de combater o
preconceito e a discriminação em relação aos povos indígenas,
respeitando sua diversidade cultural.
Japoi,
mãos abertas para dar e receber, como dádiva e dom mútuo. As mãos
Guarani que semeiam o roçado, imagem emblemática na capa, simbolizam a
semente que se almeja com esse projeto. Pensado e implementado a partir
da participação efetiva desses autores, dos seus depoimentos
transformados em textos e das fotos, feitas por eles na
aldeia,considerando a importância de tal publicação.
Cabe
destacar e agradecer esse trabalho de autoria Guarani, permitindo o
registro de suas falas e disponibilizando-se , também, a captar as
imagens da Tekoá, através das lentes da câmera digital. De nossa parte,
coube, tendo em vista todos esses anos de contato, pesquisa e
aprendizado, apresentar um pouco do que nos foi oferecido como dádiva,
isto é, o conhecimento sobre seu Reko, manifestado nas
fotos(selecionadas pelo Cacique Ariel), bem como, fragmentos de nosso diário de campo.
O fato de, este ano, o Dia
Internacional da Mulher cair em plena terça-feira de Carnaval deve sim
provocar reflexões que articulem as duas datas. Se por um lado, a festa
celebra a alegria, por outro, ela não pode ser justificativa ou
atenuante para situações de humilhação, coerção ou exploração das
mulheres.
Alessandra Terribili *
O Carnaval é das festas mais tradicionais e aguardadas no Brasil. Em
cada estado, as pessoas festejam a seu modo, e a alegria unifica tudo
numa coisa só. Essa é a imagem bela que temos do Carnaval: bailes,
blocos de rua, festas populares, muita gente feliz que, por 4 dias,
consegue esquecer seus problemas e se irmana com desconhecidos e
desconhecidas que estão sob a mesma condição.
O problema é que, como tudo, o Carnaval não é só beleza não. Todo
ano, relatos de excessos cometidos por foliões Brasil afora deixam de
orelha em pé qualquer pessoa que tenha algum apreço pelos direitos
humanos. Entre tanta prática de barbárie, uma apresenta-se bastante
comum: o desprezo pelas mulheres, seus direitos e sua autonomia.
Quem
nunca ficou sabendo de uma história carnavalesca que envolveu violência
sexual? Pra nem ir tão longe: quantas vezes você soube que, no meio da
festa, passaram a mão em fulana ou beltrana? Quantas vezes você viu
mulheres serem agarradas à força nessas situações? Pior: quantas vezes
você ouviu, diante disso tudo, que “não se leve a mal, hoje é Carnaval”?
A
celebração vira justificativa para uma porção de absurdos que, algumas
vezes, nem são tolerados fora do contexto de Carnaval, mas sob ele são
aceitos como se fossem práticas sociais recorrentes e até premiadas.
Há
mulheres que deixam de freqüentar alguns espaços por causa do assédio
fora de qualquer limite. Ficam constrangidas diante da imposição de um
beijo, de um abraço, de uma mão em seu peito ou em sua bunda. Essas
mulheres são mais numerosas do que se imagina.
Isso sem contar
que o turismo sexual corre solto nessa época, ainda mais que em outras.
Afinal, a propaganda que se faz do Brasil lá fora parece dizer que é a
terra das mulheres gostosas e do sexo fácil e descompromissado. Milhares
de mulheres sambando peladas, closes ginecológicos nas coberturas de
TVs, fotos pornográficas em qualquer site de internet. Isso pra nem
falar de como são retratadas as mulatas, pois o Carnaval é mais um
momento em que o preconceito e a opressão das mulheres negras se
reafirmam com muito mais força.
“Não seja exagerada ou
moralista” é algo que certamente ouvirei (ou lerei) por conta desta
opinião. Evidente que o Carnaval não é só a parte da falta de limites e
da agressão de mulheres, seja pela mercantilização do seu corpo, pela
vulgarização da sua imagem ou pela coerção física mesmo. Mas é
conveniente tratar deste assunto agora, este ano, mais do que nunca,
porque 8 de março de 2011 – Dia Internacional da Mulher – será
terça-feira de Carnaval.
“Ô sua mal amada, que tem inveja das
mulheres que podem ficar nuas na frente de todo mundo porque são belas”;
ou “Deixa de ser histérica, que a maioria das mulheres nem se sente
ofendida por nada disso que você está falando”. Mas é que este blog tem
um público de esquerda, consciente da vida real, das desigualdades, da
opressão, que sabe que as coisas não acontecem por acaso.
A luta
das mulheres no Brasil e no mundo é histórica, conquistou muita coisa,
transformou o mundo todo. Mas ainda falta muito. Nem precisamos nos
alongar pra justificar essa afirmação, basta olhar os conhecidos dados
acerca da violência contra mulheres, desigualdade salarial, atribuições
domésticas, etc.
Bandeiras caras ao feminismo, como aquela
contra a exploração do corpo das mulheres, contra a mercantilização, em
defesa do livre exercício da sexualidade e contra todo tipo de violência
são altamente contrariadas durante o Carnaval, em salões, blocos e TVs
do país inteiro. Não pode ser um momento de exceção: a humilhação,
coação e opressão das mulheres devem ser combatidas todos os dias do
ano.
E pra quem fica indignada ou indignado diante da completa
banalização que se faz do corpo feminino nessa época, que é exposto como
se fosse uma lata de sardinha no supermercado, ou um frango assado
girando em volta de si mesmo numa padaria, não se sinta ultrapassado ou
moralista. Anacrônica é essa forma de ver as mulheres. E uma indignação
coletiva e em voz alta pode ajudar a alterar as coisas como estão –
porque, como disse Paulo Freire, o mundo não é, o mundo está sendo.
Neste
8 de março, além de guerrear contra a indústria de cosméticos e seus
afins, que não se conforma enquanto não tornar nosso dia de luta em mais
um dia de comércio, temos esse forte adversário pela frente: a
naturalização da opressão e a ideia de “período de exceção”. Mas nós,
feministas, que tantas batalhas já vencemos, não tememos essa não. E
viva o dia internacional da mulher!
* Alessandra Terribili, jornalista, é integrante da Secretaria Nacional de Mulheres do PT.
Fascismo Ordinário é um documentário
soviético de Mikhail Romm, discípulo de Eisenstein, realizado em
1965.Nele podemos observar a visão soviética sobre o nazismo: suas
causas, características e conseqüências. A ascensão de Hitler, o
arianismo, o anti-semitismo, e a manipulação por parte da propaganda
nazista.Feito com filmagens da época e dos arquivos dos nazistas,
Mikhail Romm mostra um particular retrato do fascismo alemão,
narrando-as com sua voz em off ele não se priva de fazer comentários
sarcásticos e transigentes sobre o ridículo regime nazista.