segunda-feira, 23 de maio de 2011

Palestina: fala um líder da resistência pacífica


Em entrevista ao Middle East Channel, Mustafa Barghouti revela bastidores da pacificação Fatah-Hamas, destaca avanço da opção pela não-violência e sugere isolar direita israelense. "Tornou-se evidente para o líder da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas que nada seria jamais conseguido em discussões com o premier israelense, Benyamin Netanyahu. Portanto, o único modo para alterar a situação dependia de nós fortalecermos o nosso lado – o lado dos palestinos", diz Barghouti.


Um acordo político assinado no início do mês no Cairo entre os dois partidos políticos palestinos marca a primeira vez, em quatro anos, em que há governo palestino unificado nos territórios (até aqui, o Fatah governava a Cisjordânia e o Hamás, Gaza).

Mustafa Barghouti, participante ativo das negociações que levaram ao acordo, e líder do movimento independente “Iniciativa Nacional Palestina”, que também assinou o acordo, falou do Cairo ao Middle East Channel sobre as implicações do acordo.

Há anos militante pelos direitos dos palestinos e pela resistência não-violenta, Barghouti concorreu como candidato nas eleições presidenciais palestinas em 2005. Obteve o segundo lugar, quando Mahmoud Abbas foi eleito. Logo depois, foi eleito para o Conselho Legislativo Palestino, em 2006; em 2007, foi ministro da Informação do governo da unidade palestina, que teve vida curta.

Por que esse acordo entre Fatah e Hamas, que vem sendo tentado, sem sucesso há anos, aconteceu agora?

Moustapha Barghouti: São vários fatores. Um dos mais importantes, na minha opinião, é o alto grau de frustração dos palestinos, de todos os lados, com a persistente divisão interna. De certo modo, pode-se dizer que seja influência das revoluções árabes na Palestina. No final de janeiro e início de fevereiro começaram as manifestações públicas pelo fim da divisão. E as pessoas mostraram-se suficientemente maduras e prudentes para perceber que ninguém precisava de um terceiro partido, contra os dois existentes; e que, sim, era hora de pressionar na direção da unificação. A pressão das ruas foi muito importante. Fatah e Hamas perceberam que, separados, começariam a perder o apoio popular.

Um segundo fator foi o fracasso do processo de paz e, sobretudo, a intransigência obcecada dos israelenses. Tornou-se evidente para o líder da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas que nada seria jamais conseguido em discussões com o primiê israelense, Benyamin Netanyahu. Portanto, o único modo para alterar a situação dependia de nós fortalecermos o nosso lado – o lado dos palestinos. Abbas fez o que podia ter feito para convencer Netanyahu a aceitar um processo de paz sério e significativo. Até que se convenceu de que Israel não tem interesse algum em fazer a paz. Além do mais, Israel usou o fato de os palestinos estarem divididos, como pretexto para nada fazer. Foi a ideia de que os palestinos não tinham liderança que os representasse.

Um terceiro fator foi, não há dúvidas, as mudanças que houve na região. Acho que o Egito passou a ser mais positivo, mais proativo. Primeiro, os egípcios estimularam a ideia de que os palestinos nos entendêssemos internamente. E os palestinos, com nosso próprio empenho, conseguimos avançar. Os egípcios, então, puderam voltar à cena como mediadores; e, em apenas três, quatro horas, numa única reunião, Fatah e Hamas assinaram o acordo. Como novidade, os mediadores egípcios são hoje menos sensíveis às pressões externas contra a unificação. Os egípcios trabalharam muito firme e empenhadamente a favor do acordo – e essa é mudança muito importante, efeito das outras mudanças pelas quais está passando hoje toda a política egípcia.

Há mais um fator importante. Percebemos que, como palestinos, tínhamos, nós mesmos, que definir o papel que mais nos interessava, que tínhamos de mudar alguns pontos, e que, para fazer isso, tínhamos de alterar a correlação de forças em relação a Israel. Para fazer isso, o primeiro passo, passo vital, tinha de ser a unidade interna. Esse foi o resultado da nossa avaliação, depois do fracasso do processo de paz. Os dois partidos palestinos não têm objetivos essencialmente diferentes: os dois apoiam a solução dos Dois Estados e, hoje, os dois lados convergiram a favor da resistência não-violenta. Hoje todos acreditam mais nas possibilidades da resistência não-violenta. É oportunidade que se configura pela primeira vez, para que haja governo palestino unificado. Em minha opinião, é a primeira boa oportunidade que se cria para uma paz real, duradoura.

Houve outros acordos de unificação, antes, que não deram certo. Quais os principais obstáculos que se podem prever, em relação ao novo acordo?

Moustapha Barghouti: O principal obstáculo é que o acordo não interessa a Israel e, portanto, Israel mobilizará toda sua máquina de propaganda contra a unificação dos palestinos. Foi o que Israel já fez em 2007, quando atacaram, com propaganda, o acordo que havia e a democracia palestina. Já estão tentando fazer o mesmo, outra vez. Claro que ainda temos muito trabalho por fazer. Temos de formar o governo e a liderança interna da OLP. Mas acho que as ações de Israel para boicotar o acordo são o principal obstáculo a enfrentar.

O ministro dos Negócios Exteriores de Israel, Avigdor Lieberman, já reagiu, de forma nada difícil de entender. Disse que Israel prefere que os palestinos continuem divididos, porque divididos são mais fracos e unidos são mais fortes. Foi claramente ao ponto: essa é, exatamente, a posição de Israel. Se Israel tivesse qualquer interesse real na solução Dois Estados – que foi apoiada claramente na assinatura do acordo, tanto pelo presidente Abbas como pelo líder do Hamas, Khaled Meshaal – essa seria a ocasião certa para Israel aceitar um acordo com todos os palestinos, em vez de insistir em negociar só com Abbas, como tem feito. Estamos diante de oportunidade excelente para a paz, mas, infelizmente, Israel preferiria voltar ao passado, antes da união dos partidos palestinos, do que pensar no futuro.

Mas quero chamar atenção para mais um aspecto. É importante ver que o acordo que assinamos não é apenas acordo para voltar a um tempo em que os palestinos viviam sob um único partido. O acordo é, sobretudo, para recuperar o que perdemos com a divisão, porque perdemos, naquela época, toda a democracia que tínhamos e sob a qual vivíamos. O acordo visa, sobretudo, a reconstruir as instituições do estado, que foram destruídas. Visa a revitalizar o parlamento palestino e o conselho legislativo. Trata-se de devolver aos cidadãos o direito de escolher os governantes em eleições limpas e livres, votando democraticamente. Quem se manifeste contra o acordo entre Fatah e Hamas, terá de explicar por que exige democracia na Líbia e na Síria… mas não exige democracia na Palestina.

Considerando-se a resposta do governo de Israel, a resposta até aqui cautelosa do governo Obama e a reação declaradamente negativa do Congresso dos EUA, e, também, o fato de que um governo de unidade não atende às três condições do Quarteto [EUA, Rússia, União Europeia e ONU], por que a unidade dos palestinos deve ser vista como útil à causa da paz?

Moustapha Barghouti: Em primeiro lugar, acho que os EUA devem ficar atentos para não repetir os erros de 2007. Os EUA devem ter posição independente – não devem limitar-se a seguir o que Israel faça. Devem ficar atentos, sobretudo, em não seguir os conselhos de Israel, porque tudo que Israel diga ou faça visa, exclusivamente, a garantir que Netanyahu tenha pretexto para nada fazer a favor da paz e para prosseguir com a política de construir nos territórios ocupados. É altamente desejável que os EUA construam abordagem mais cuidadosa, e que considerem o potencial que o acordo gera, com vistas à paz. Dentre outras coisas, o acordo abre um caminho real para a reconstrução de Gaza, além de ser boa via para que se reconstruam também as instituições em Gaza, e para consolidar o que já foi construído na Cisjordânia. A alternativa é divisão continuada, que se pode tornar irreversível e dificultar ainda mais qualquer solução futura.

Não esqueça que esse acordo não visa a construir governo partilhado entre Hamas e Fatah. Trata-se de um entendimento – o que está bem claramente dito no texto do acordo e nos discursos – segundo o qual Abbas será autorizado, agora por todos os palestinos, inclusive pelo Hamas, a prosseguir nas negociações. Abbas não mudou nenhum dos parâmetros que a OLP aceitou antes, inclusive o reconhecimento de Israel. Há uma única diferença: agora, Abbas está autorizado por todos os palestinos – não só pelo Fatah. O próprio governo da Autoridade Palestina nada terá a ver com as negociações. Sua tarefa é trabalhar no front interno e preparar as eleições. A OLP continuará responsável pelas negociações – com delegação chefiada por Abbas.

Há agora, também, probabilidade real de manter um amplo cessar-fogo – e não só em Gaza – e de menos violência, inclusive na Cisjordânia. O melhor meio de ultrapassar a rejeição e a oposição israelense é a comunidade internacional aceitar o acordo, reconhecendo o direito que os palestinos têm de promover reformas democráticas e, depois, aceitar o futuro governo a ser eleito e dispor-se a negociar com ele.

Pelo acordo assinado, o Hamas passa a ser parte da OLP [Organização para a Libertação da Palestina]?

Moustapha Barghouti: O Hamas será parte da OLP – bem como todos os grupos que estavam fora da OLP e que agora também assinaram o acordo, inclusive o movimento do qual participo, a Iniciativa Nacional Palestina. Tudo isso significa que haverá um liderança de transição que não substitui nem se sobrepõe ao papel que hoje cabe à comissão executiva da OLP e nada muda nos compromissos da OLP. A nova estrutura de transição trabalhará para preparar eleições livres e democráticas para o Conselho Nacional Palestino da OLP, que há 25 anos não realiza eleições. Na prática, o acordo fortalece a OLP e lhe garante representatividade, sem alterar os atuais compromissos, e abre a porta para ampla participação democrática, de todos.

Como se conectam o acordo e a possibilidade de a OLP comparecer à ONU, em setembro, para requerer reconhecimento internacional para o estado palestino?

Moustapha Barghouti: Acho que o acordo ajuda a fortalecer essa ideia. O comportamento de Israel nos tornou mais determinados do que nunca, e daremos andamento a esse projeto. Agora, os palestinos podem apresentar-se como frente unida, ante a comunidade internacional, para requerer que o estado palestino seja reconhecido, o que inclui, evidentemente, o fim da ocupação.

Houve quem levantasse a possibilidade de os EUA suspenderem o financiamento que dão à Autoridade Palestina, por causa desse acordo. Como o senhor analisa essa possibilidade e que impacto teria para os palestinos?

Moustapha Barghouti: Esperemos que não aconteça, mas, se acontecer, será um problema a ser enfrentado. O mais importante é que os EUA não deem início à prática de sanções contra nós, ou pressionem outros governos, como fizeram em 2007, para que implantem sanções contra os palestinos.

Há, nesse acordo, uma oportunidade – há consenso entre os palestinos em torno da solução Dois Estados; e todos estamos dispostos a nos abster de qualquer prática violenta. Nossa mensagem é: os palestinos estão prontos para fazer a paz.

Por outro lado, há um risco. Se Israel preferir pressionar a Autoridade Palestina – e os EUA apoiarem Israel e, por sua vez, pressionarem a comunidade internacional contra os palestinos –, o efeito será um só: o colapso total da Autoridade Palestina e de todo o projeto construído até aqui. Que escolham: se escolherem a oportunidade, ela levará à paz; se escolherem o risco, ele levará ao desastre.

E o que será feito das forças de segurança palestina? O Hamás manterá suas milícias armadas?

Moustapha Barghouti: Concordamos que, nessa primeira etapa, tudo ficará como está – o status quo será mantido na Cisjordânia e em Gaza. Os arranjos vigentes não serão alterados e adiante, aos poucos, enfrentaremos gradualmente essa e outras questões, depois de o governo estar reconstituído e operando. Será formado um comitê de supervisão formado por profissionais que planejarão e executarão a unificação e a despartidarização de todo o aparelho de segurança. De tal modo que, quando tivermos eleições, devemos estar organizados para que os corpos eleitos possam assumir a responsabilidade pelas forças de segurança.

Há quem diga que, ao fazer esse acordo, a OLP adotou a cartilha do Hamas. Como o senhor reage a esse argumento?

Moustapha Barghouti: Perdoe a franqueza, mas isso é bullshit. Lixo, mentiras, intrigas. O que aconteceu é que o Hamás adotou a cartilha da OLP. Se você ler o discurso de Khaled Meshaal, lá está dito que o Hamás aceitou a solução Dois Estados. Meshaal disse muito claramente que o Hamás subscreve proposta a favor das fronteiras de 1967, capital em Jerusalém, estado soberano e democrático; que é a favor de eleições e que o Hamás respeitará o resultado de eleições livres e democráticas. O que mais querem de nós? Melhor fariam todos se não engolissem, tão cegamente, a propaganda de Netanyahu. É o caminho errado, que leva a nada de bom e promove o atraso.

Tradução: Vila Vudu

UNIVERSIDADE POPULAR: A EDUCAÇÃO EM MOVIMENTO PELA LIBERDADE EPELA INCLUSÃO SOCIAL...


                                                        Jorge Bichuetti

A Universidade Popular caminha... e floresce. Um sonho que agora já anda, move-se e deseja a sua companhia...
Reafirmamos: é um projeto público não estatal. Gratuito e de produção de saberes e fazeres vinculados ao trabalhho de afirmação da vida, dos direitos humanos, do direito à diferença, da  inclusão social e da solidariedade, da cidadania e justiça social...
Uma caminhada de alegria; um aprender nas trocas de diálogo, escuta, experimentação. Arte-vida... Utopia ativa...
Voltamos a divulgar os cursos abertos em Uberaba / Mg que iniciarão no dia 11 de junho, às 13:30, e a postar a ficha de inscrição...
Cursos - semestrais, de 20 hs, sendo das 13:30 às 14:30, nos segundos sábados de cada mês, iniciando-se em junho: Marxismo; Desinstitucionalização e práticas sociais; Cuiidade e clínica da vida : caixa-de-ferramentas; e Ambiência : ecologia e vida...
Oficinas: na mesma data, das 14:30 às 15:30: Arte; Comunicação e jornalismo; Como trabalhar com o povo; e Ética e vida...
Háverá sempre  depois da plenária uma atividade lúdica-criatica - próximo encontro, Cineclube e trabalho com a comunidade, trabalho de diagnóstico de demandas...
 No dia 07/06 inicia-se o grupo de estudos da obra de Juvenal Arduini; das 19 hs às 21 hs...
As inscrições podem ser feitas neste blog em qualquer comentário ou encaminhadas para o email utopiaativa@netsite.com.br
Em postagem anterior - Universidade Popular - Os novos passos... - há as ementas dos cursos...
Amigos, a construção de um espaço de cidadania e liberdade, alegria e partilha no campo da educação é uma potência insituinte que clareia nossos caminhos , dão vida aos nossos sonhos e nos permite  o fortalecimento das nossas lutas e vidas que buscam a dignidade se opondo às sinistras investidas da escuridão, presente nos microfascismos que exclui e maltrata o coração da vida e no terror presente nos atos de repressão...
Pela vida e pela liberdade, por direitos tão humanos, construamos juntos a Universidade Popular Juvenal Arduini...
Upop-JA é vida e utopia numa caminhada pela libertação...

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                                FICHA DE INSCRIÇÃO
                  UNIVERSIDADE POPULAR JUVENAL ARDUINI

Nome:                                                                      Data de nascimento:
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O caminho é a travessia onde a vida acontece... O sonho é uma ponte que nos dá no hoje o porvir e o devir...

 

domingo, 22 de maio de 2011

CBF e o.... Sionismo? / CBF and the.... Zionism?


Do blog do TSAVKKO
Marcelo vieira é lateral-esquerdo do Real Madrid (time conhecido por sua torcida fascista e por ter sido time do coração de Francisco Franco) e, até ontem, era dado como certo para disputar a Copa América e para os amistosos contra a Romênia e Holanda no começo do próximo mês.

O corte na seleção seria algo normal se o jogador não tivesse se envolvido em uma polêmica recentemente por apoiar a causa palestina.

No dia 15 de maio, dia da Nakba, ou Grande Catástrofe, a criação oficial do Estado Nazi-Sionista de Israel, Marcelo postou em seu facebook uma foto de um lutador palestino com a frase "My heart with Palestinian now as they fighting with Israel” ["Meu coração está com os palestinos em sua luta contra Israel", em tradução literal]. Foi o suficiente para que o facebook DELETASSE o perfil de Marcelo Vieira depois de pressão de Sionistas.
Two days later, the unexpected happened. Marcelo Vieira’s Official facebook page was shut down. Official Real Madrid website mentioned that the facebook administration received requests from Israelis to shut down the page as it was inciting violence against Israel by supporting the Palestinian Intifada.
Interessante é a ausência total de repercussão do caso no Brasil, assim como em blogs pelo mundo. O jornal israelense YNET divulgou o caso (em hebraico, e aqui uma tradução) e alguns poucos blogs repercutiram.

O primeiro absurdo do caso é o fato do facebook deletar a conta de um usuário por este manifestar solidariedade ao povo palestino. Que direito tem o facebook de deletar a conta de alguém, sem aviso, por defender uma causa política legítima? Não é a primeira vez que o Facebook deleta contas de militantes políticos ligados à causa palestina ou mesmo à causa basca, movimentos sociais, de esquerda e etc.

O segundo absurdo vem da CBF e do curioso corte do jogador logo depois de suas declarações. Será mera coincidência? Ou o mais puro Nazi-Sionismo tomando conta?

Uma página foi criada no facebook em homenagem ao jogador e centenas de pessoas estão postando mensagens de apoio e agradecimento pela sua clara defesa da Causa Palestina.

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Informações iniciais me foram passadas pela @ReginnaSampaio

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English version:

Marcelo Vieira is a left-winger playing for the Spanish team Real Madrid (known for his fascist supporters and as the team of the dictator Francisco Franco) and, until yesterday, he was considered as guaranteed to play in the Copa America and for the friendly matches against Romania and Netherlands early next month.

Not to be drafd this time for the Brazilian team would be something normal if the player had not been involved in a controversy recently by supporting the Palestinian cause.

On May 15, day of the Nakba, or Great Catastrophe, the official creation of the Nazi-Zionist state of Israel, Marcelo posted on his facebook a photo of a Palestinian fighter with the phrase "My heart with Palestinian now as they fighting with Israel”. It was enough for Facebook to DELETE Marcelo's profile after the pressure from the Zionists.
Two days later, the unexpected happened. Marcelo Vieira’s Official facebook page was shut down. Official Real Madrid website mentioned that the facebook administration received requests from Israelis to shut down the page as it was inciting violence against Israel by supporting the Palestinian Intifada.
Interesting is the total absence of repercussions of the case in Brazil, as well in blogs around the world. The Israeli newspaper YNET reported the case (in Hebrew, and more info in english here) and a few blogs reverberated.

First, the absurdity of Facebook deleting the account of an user because of a demonstration of solidarity to the cause of the Palestinian people. What right has facebook to delete someone's account, without notice, for defending a legitimate political issue? It is not the first time that Facebook deletes accounts of political activists linked to the Palestinian cause or even linked to the Basque cause, to social movements, to the left and so on.

The second absurdity comes from the CBF [Brazilian Football Confederation] and the curious cut of the player from the national team shortly after his remarks. Is it mere coincidence? Or the pure Nazi-Zionist taken hold?

A Facebook page has been created to honor the player and hundreds of people are posting messages of support and gratitude for his clear defense of the Palestinian Cause.

Música das "buenas"!!!!!!!

Créditos: UmQueTenha

 

Sivuca & Orquestra Sinfônica do Recife – Sivuca Sinfônico (2002)

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João do Vale – João do Vale (1981)




Elis Regina – Poema de Amor (1962)













TV COMUNITÁRIA (DF), RESISTÊNCIA REVOLUCIONÁRIA


Cesar Fonseca/www.independenciasulamericana.com.br
Extraido do sitio PATRIA LATINA

cESAR fONSECA
O espaço da liberdade de expressão conquistado pela TV Cidade Livre é uma vitória expressiva dos movimentos sociais pela construção da cidadania comprometida com os valores nacionalistas expressos na cultura, na política, na economia, mobilizando o espírito de participação e defesa do patrimônio público, indo além do indiividualisomo e o do egoísmo característicos do modelo de comunicação vigente nas tevês abertas, compromissado tão somente com o lucro e não com a verdadeira qualidade de vida que implica em consciência de si dos valores sociais que se impregnam no indivíduo para a sua construção verdadeiramente coletiva. É essa ação revolucionária da TV Comunitária que incomoda os conservadores do pensamento neoliberal, consumidores da cultura e valores importados na tentativa de eternizar colonialismo cultural no Brasil. A resistência contra esse estado de coisas completa agora 13 anos de lutas e promete seguir adiante com força renovada. Saravá.

TV Cidade Livre, TV Comunitária DF: 17 de maio, 13 anos de existência, de luta, de resistência, de insistência contínua capazes de fazer valer um outro olhar para a comunicação brasileira, comprometido, substancialmente, com os movimentos sociais em toda a sua variedade cultural, autêntica. Uma África! Trata-se de um dos empreendimentos mais gigantescos verificados no Brasil no campo da comunicação popular, esse espaço que ganha, com o tempo, uma soberania espetacular, mas que, também, enfrenta grandes ataques, até mesmo de onde não se imaginaria, como é o caso do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, para afirmar o pensamento livre, comprometido com a liberdade total de expressão, colocada a serviço dos interesses populares, totalmente, excluídos das programações das tevês abertas, privadas, comprometidas, essencialmente, com o lucro e não com a educação verdadeira, voltada para a formação da consciência relativamente à afirmações dos valores humanos. O que se pode considerar espírito revolucionário? Certamente, é aquele que cultiva os interesses do povo brasileiro para além dos interesses particulares e se articula, do ponto de vista da comunicação, com essa missão maior, organizando, debatendo, abrindo-se à participação, à polêmica, à promoção de oportunidade para as vozes que não têm acesso na grande mídia nacional a fim de expor sua verdadeira consciência, de modo a colaborar na formação da cidadania autêntica. Durante o período de existência da TV Comunitária, pode-se, tranquilamente, dizer, que se praticou, levando em consideração os valores nacionais, uma resistência revolucionária. Tanto é verdade que forças poderosas em diversas ocasiões se mobilizaram para calar sua voz. Inventaram, inicialmente, desculpas fajutas, relacionadas à questão institucional do veículo, no contexto legal, porém, tais investidas não ocultaram e continuam não ocultando a verdadeira causa, que é o incômodo provocado pela tevê popular de insistir em abrir seu espaço com as opiniões daqueles que são excluídos por um modelo de desenvolvimento econômico e social concentrador de renda e poupador de mão de obra, empenhado, com a ajuda da grande mídia conservadora e reacionária, em dificultar a democratização da informação. O que se verifica como predominante, com o apelido de informação democrática, anunciada pelos grandes proprietários, é uma ação informativa oligopolizada, um pensamento único, em essência, no plano político e econômico, que veicula as razões dos grandes anunciantes, que, no caso brasileiro, são os principais bancos, cuja ação nefasta se expressa na vigência de uma taxa de juro mais alta do mundo, escravizando a nação.

Espaço do trabalhador


Para o deputado Wasny de Roure, que organizou solenidade para homenagear a TV Cidade Livre, totalizando mais de 400 pessoas, entre as quais sindicalistas, diplomatas, políticos, integrantes dos movimentos sociais, empresários etc, o espírito combatente das tevês comunitárias germina a verdadeira mudança social à qual todos devem se submeter por estar ali o recado essencial da evolução cultural, econõmica e política da sociedade. Nesse sentido, disse, a TV Comunitária cumpre papel relevante que as tevês comerciais desdenham por estarem comprometidas com a lucratividade acima do bem e do mal e não com a formação da verdadeira cidadania que unifica o sentimento popular para a ação transformadora.
Se pinta uma tevê capaz de debater abertamente essa questão pela voz da comunidade, que se organiza conforme as lutas de classes no ambiente capitalista, evidentemente, todas as forças do mundo se unem contra tal propósito. Esse é o verdadeiro motivo que mobiliza os inimigos da TV Cidade Livre, o espaço que se amplia da cidadania para se organizar em favor dos seus direitos, nos bairros, no trabalho, nos sindicatos, nos partidos, como movimento de criação da verdadeira democratização. Os feitos desse novo veículo que se articula com grande dificuldade, mas com extraordinário vigor, com a alegria da infância e a serenidade dos velhos experientes, de forma tenaz e emocionante, são enormes, abrangendo uma gama diversificada de ações. Contudo, acreditamos que o valor substancial, supremo da TV Comunitária é o de abrir seu espaço para os trabalhadores. Os sindicatos estão ali presentes, levando suas lutas, no dia a dia, espraindo-se pela cidade, pelos bairros, pelas ruas, pelas comunidades, com total liberdade. Grande incômodo para a grande mídia, que trata o movimento social como algo abstratamente estético, como um ideal construído no exterior da realidade, sem sangue, sem vibração. No canal comunitário, não. Vibram as consciências, que se forjam no processo de construção do empreendimento de comunicação popular, organizado em assembléias representativas dos segmentos sociais variados, dispostos à luta, à participação, à construção coletiva etc. A cultura popular está presente de maneira intensa, o sentimento integracionista latino-americano é amplo, os movimentos nacionalistas, alí,  se constroem nas propostas que brotam dos debates, como a defesa da energia brasileira para os brasileiros, a proteção das matérias primas estratégicas, como o nióbio, alvo da cobiça internacional, dada sua utilização fundamental na industrialização estratégica dos componentes da comunicação e da automação, etc. Sobretudo, a tevê popular se bate pela integração econômica sul-americana, pela criação de uma consciência continental que se expresse no parlamento sul-americano, no tribunal de justiça sul-americano, no banco central sul-americano, nas forças armadas sul-americanas, capazes de coordenar interesses integracionistas, na moeda sul-americana, a fim de que se possa fugir da ditadura do dólar furado que se encontra em crise total na bancarrota financeira capitalista. Enfim, o debate desabrido de todas essas questões tem ido ao ar com os recursos modestos, muito inferiores aos que estão ao alcance dos veículos comprometidos com o interesse do capital, mas faz um barulho forte e assustador para as consciências infelizes, preocupadas e comprometidas, tão somente, com a expansão do egoísmo, do individualismo, do espírito diversionista, empenhado em atacar os que se põem contra investidas anti-nacionalistas racistas e promotoras da exclusão social.

A construção da revolução


Abnegado defensor da tevê pública por entender que somente por meio dela o interesse público se realiza com verdadeira liberdade e participação popular, sobrepujando o interesse econômico e a gama de iniciativas interesseiras que ele carrega, dada sua natureza intrínseca individualista e egoísta, Beto Almeida, desde o primeiro momento, em 1986, engajou-se de corpo e alma no projeto da tevê comunitária com a dedicação total, buscando sempre a articulação com os movimentos sociais, a fim de dar ao empreendimento o verdadeiro sentido que ele carrega, o de ser o veículo de expressão do trabalhador brasileiro.

Tremendo carregador de piano, entusiasta, vibrante, engajado, articulador dos grupos sociais e mobilizador das principais lideranças das classes sindicais, para que seu pensamento se expresse genuinamente no canal comunitário, configurando espírito de classe do trabalhador ao veículo de comunicação, fazendo a diferença em relação à mídia nacional, Paulo Miranda, pode se dizer, é a verdadeira alma da TV Cidade Livre. Por ela, sacrifica tudo, a fim de formar em torno de si uma conjugação de fatores que acabou transformando a TV Cidade Livre, no verdadeiro espaço da liberdade radical.
























Um grupo de abnegados tem se postado, bravamente, heroicamente, no comando das operações da TV Comunitária, para dar sequências decisões democráticas tiradas das assembléias amplamente representativas. Como sempre acontece nos empreendimentos humanos, existem aqueles gigantes que não deixam a peteca cair e em torno dos quais os resistentes se unem para levar adiante a grande luta. Nesse sentido, deve-se fazer justiça aos jornalistas Beto Almeida e Paulo Miranda, verdadeiros apóstolos do espírito comunitário que anima a  TV Cidade Livre, coordenando as ações, distribuindo bolas, arregimentando outros abnegados como eles para levar adiante a tarefa hercúlea, de manter no ar, 24 horas por dia, a comunicação a serviço do trabalhador. As novas etapas que estão por vir, certamente, serão coroadas de sucesso, mas de muito combate por parte dos resistentes ao espírito libertário. A iniciativa, anunciada por Beto, na solenidade de comemoração do aniversário da tevê popular, na Assembléia Distrital, convocada pelo deputado Wasny de Roure(PT-DF), de abrir-se mais amplamente a tevê para a comunidade, para a ampla mobilidade dela em organizar-se para produzir o seu próprio conteúdo comunicacional, é algo absolutamente revolucionário. Ao mesmo tempo, cuidar de preservar a memória popular da capital é outra jogada de comunicação genial, porque as gerações mais velhas, como acontece nas comunidades indígenas, dispõem do DNA comunitário que deve ser passado adiante, às gerações presentes e futuras, com seus ensinamentos, suas lutas, vitórias e derrotas, de modo a servir de lição para novas etapas de luta. O aprofundamento da visão comunitária sintonizada com a herança cultural intensa que carrega as gerações que lançaram as sementes do próprio saber comunitário significam um plano de trabalho que finca raízes profundas no campo social e político, configurando o modo de ser de uma sociedade que se constroi por si mesma, conscientemente, manejando seus próprios instrumentos de libertação, visto que comunicar é libertar, desde que essa comunicação, como a empreendida pela TV Comunitária, não tenha  seu compromisso com o lucro, mas , fundamentalmente, com a libertação da consciência popular. O canal de comunicação verdadeiro dos trabalhadores em que se transformou a TV Comunitária, agora, reproduzindo o noticiário da TV do Trabalhador, diariamente, representa uma lição da verdadeira lei do valor-trabalho, ancorada na consciência de que o trabalho é valor que se valoriza em favor do próprio trabalhador. Há algo mais revolucionário do que isso no ambiente televisivo nacional totalmente descomprometido com a ética do trabalhador? Salve a TV Comunitária!

Um sebo de resistência

Com mais de 300 livros publicados sobre o Rio Grande do Norte, o editor Abimael Silva, proprietário do Sebo Vermelho, no centro de Natal, tornou-se uma espécie de guardião da cultura de seu estado, e uma referência para quem quer ir muito além das praias e dunas

Por: João Correia Filho na REDE BRASIL ATUAL

Um sebo de resistência
"O objetivo de um livro é fazer outro" Poucos lugares do Sebo Vermelho são arrumados como a estante das edições do próprio selo (Foto: João Correia Filho)

O local não é o que se pode chamar de ponto turístico. Uma pequena porta de correr pintada de vermelho, com a tinta já descascada, um amontoado de livros entre poeira, móveis e pilhas de papel. Mas se engana quem não vê nesse estabelecimento, no centro histórico de Natal, uma das maiores referências para conhecer a cultura potiguar e adentrar o Rio Grande do Norte de norte a sul, praia e sertão, erudito e popular. 
Criado em 1985, o Sebo Vermelho tornou-se muito mais que um sebo a partir de 1990, quando seu proprietário, o ex-bancário Abimael Silva, resolveu publicar o livro de um amigo sobre a história do cinema em Natal. E foi assim, com Écran Natalense, de Anchieta Fernandes, que Abimael começou sua saga editorial, que já chega à marca de mais de 300 livros lançados, dos mais variados temas, mas todos voltados para a cultura potiguar. 
“Anchieta não encontrava espaço para publicar esse brilhante ensaio, sempre com negativas das editoras daqui. Decidi procurar Varela Cavalcanti, então presidente do Sindicato dos Bancários, que sabia da importância da obra. Comprei todo o material e ele topou fazer a impressão. Imprimimos 300 exemplares e, felizmente, conseguimos vender todos”, conta Abimael­, que a partir daí passou a lançar outros títulos por conta própria. 

Livreiro por natureza

Abimael dono do sebo (Foto: João Correia Filho)
Antes disso, trabalhara quatro anos no setor de conta corrente de um banco. “Ficava o dia inteiro somando cheques, mas sempre pensando que queria trabalhar numa livraria. Na primeira oportunidade, saí do banco e resolvi começar meu próprio sebo”, diz Abimael. Na época, sua biblioteca particular tinha mais de 700 livros, e 600 foram colocados à venda. “Lamento a perda de alguns poucos que nunca mais encontrei em 26 anos de sebo, como Cartas a Nora, de James Joyce, e alguns do Graciliano Ramos.” 

As publicações do Sebo Vermelho, depois de quase três décadas de existência, apresentam um completo panorama da cultura do estado, além de importantes resgates de livros. É o caso de Antologia Poética do Rio Grande do Norte, publicado originalmente em 1922 e reeditado pelo selo em 1993. Os Americanos em Natal, do historiador Lenine Pinto, é outro destaque. Retrata a cidade durante a Segunda Guerra Mundial, quando se tornou uma base dos Estados Unidos e sofreu forte influência da cultura americana. Outra pérola, O Carteiro de Cascudinho, foi escrita por José Helmut Cândido, o carteiro de Câmara Cascudo durante anos, que conta suas experiências servindo um dos maiores intelectuais do Nordeste. 

As tiragens do Sebo Vermelho costumam ser pequenas, no máximo 500 exemplares, e com distribuição extremamente complicada, já que é difícil entrar no esquema das grandes livrarias, que dominam o mercado. “Até o livro número 34, ainda tinha esperança de que isso pudesse render algum dinheiro, mas hoje, para mim, o que importa é apenas que as edições se paguem, pois o objetivo de um livro é fazer outro, e assim por diante”, resume o editor. Ele lembra que um dos livros que mais venderam foi História do Rio Grande do Norte, do pesquisador Ezequiel Vanderlei, publicado originalmente em 1992. Foram 500 exemplares em seis meses. 

É dessa forma que são lançados cerca de 30 títulos por ano, e o editor pretende alcançar a marca de 500 livros editados até 2012. “O mérito é todo do Rio Grande do Norte, que tem tudo isso para ser dito”, argumenta Abimael, que garimpa preciosidades em viagens pelo interior e em conversas com amigos. A triagem é feita pelo valor histórico e editorial, que conta com a sensibilidade de quem conhece seu estado e vive envolto por livros e intelectuais de peso. “Também aparecem várias porcarias, como uma senhora que queria pagar a publicação do livro do neto, de 5 anos, edição bilíngue, pelo selo. Obviamente, não aceitei.” 

Vermelho?

Embora o caráter político-literário do trabalho de Abimael esteja claro, o nome de seu sebo nada tem a ver com posições ideológicas. Ao alugar um quiosque para montar sua banca, ele notou que todos eram azuis ou pretos. Para destacá-lo, pintou tudo de vermelho. “Até o dia em que chegou alguém e perguntou: ‘Aqui é o sebo vermelho?’ E o nome acabou ficando. Mas minha mãe achou horrível, achava que tinha de se chamar Sebo São José”, brinca Abimael. Hoje, o sebo não está mais instalado em um quiosque de rua, mas na Avenida Rio Branco, bem no centro da cidade. E mantém a cor como chamariz.

Ano após ano, a luta do sebista-editor foi se tornando também uma bandeira política e social, à medida em que virava um verdadeiro guardião da cultura do estado. Além de ser hoje o maior editor potiguar (talvez do Nordeste, pelo número de títulos), tem acumulado uma série de resgates cuja importância é negligenciada pelo poder público e pelas editoras privadas. “Só querem saber do que vende em grandes tiragens. É nisso que investem ainda mais. Quando houve o lançamento do livro do Padre Marcelo aqui em Natal, venderam 5.000 exemplares num único dia, graças a um aparato gigante de marketing”, alfineta o sebista. “Aqui, nunca a prefeitura comprou ou indicou um único livro meu que fale do Rio Grande do Norte. Já tentei, já mandei ofício, mas esse povo fica esperando que a gente puxe o saco.”

Sem uma empresa distribuidora, os títulos do Sebo Vermelho são vendidos, em sua grande maioria, no dia do lançamento e no boca a boca, ou em algumas livrarias de Natal, nas quais Abimael leva pessoalmente cada exemplar. “Quanto maior a livraria, maior o obstáculo”, reclama. No sebo, os livros editados por ele são os que têm maior destaque, expostos nas paredes da entrada, com um pouco mais de organização que os demais. Segundo ele, um dos raros momentos de destaque do Sebo Vermelho ocorreu quando foi entrevistado pelo apresentador Jô Soares­. Na ocasião, havia alcançado 100 livros editados e os poucos momentos televisivos renderam visibilidade, embora isso não tenha mudado substancialmente a venda de seus livros. “Foi bom pra chamar a atenção, por exemplo, para o sertão do Rio Grande do Norte, que quase sempre é deixado de lado”, diz Abimael. 

Quando sobra tempo ou dinheiro, Abimael viaja para as duas capitais próximas de Natal, Recife (a 285 quilômetros) e João Pessoa (a 190 quilômetros), sempre com o carro lotado de exemplares, que vai entregando de livraria em livraria, numa verdadeira romaria literária. Já no interior do Rio Grande do Norte, além da pesquisa de novos títulos, realiza eventualmente lançamentos de obras que falem do sertão ou de autores locais. É o caso de O Ataque de Lampião a Mossoró, história em quadrinhos escrita por Emanoel Amaral e Alcides Sales.

Para este ano, um dos destaques entre os lançamentos é a reedição de Indícios de uma Civilização Antiquíssima, de José de Azevedo Dantas. Autodidata e pioneiro da antropologia brasileira, escreveu em 1925 um verdadeiro tratado sobre as pinturas rupestres do sertão potiguar, mais especificamente sobre a região do Seridó, no sul do estado, já na divisa com a Paraíba. 
Seridó (Foto: João Correia Filho)
Para quem quer conhecer o Rio Grande do Norte além dos livros, é bom lembrar que se trata de uma região riquíssima, com belas paisagens, cidades históricas e muitas pinturas rupestres, a maioria datada de 10 mil anos. Somente Carnaúba dos Dantas, a 200 quilômetros da capital, onde viveu José Dantas, possui mais de 60 sítios arqueológicos para serem visitados. 

Outra predileção de Abimael são os livros de história e de fotografias. Entre os mais importantes lançados por ele estão Uma Câmara Vê Cascudo, com imagens raras do escritor, feitas no final dos anos 1970; e Natal Através dos Tempos, que retrata a cidade desde os anos 1940, ambos do fotógrafo potiguar Carlos Lyra, falecido em 2006. 

Além de um lugar para comprar livros sobre o Rio Grande do Norte, o Sebo Vermelho também se tornou, em seus 26 anos, um importante reduto de intelectuais, a maioria em busca de boa literatura ou boas conversas, que acontecem ali quase todos os dias. 

No fundo da loja há uma pequena mesa de sinuca e uma geladeira, aos sábados repleta de cervejas. O ponto de encontro virou tradição entre os amigos que frequentam o sebo. Não faltam uma boa cachaça e a carne de sol, “a melhor de Natal, que eu mesmo escolho”, faz questão de dizer Abimael. Nesses churrascos, o papo rende e surgem ideias para novos livros, além do incentivo dos amigos para que Abimael continue na dura batalha a favor da cultura do Rio Grande do Norte, um estado que, se você quiser conhecer a fundo, não pode deixar de incluir o Sebo Vermelho em seu próximo roteiro.  

O ministro consultor...

Palocci e as escolhas de Dilma



por Rodrigo Vianna, via BLOG DO MIRO

A denúncia contra Palocci parece consistente. Ah, mas a “Folha” quer desgastar a Dilma… E daí? O fato ocorreu ou não?
Ah, mas a denúncia foi vazada por “ruralistas” interessados em enfraquecer o ministro. E daí, de novo? É só quando os poderosos divergem que essas coisas vêm à tona…
Sim, Palocci (contradição do mundo real?!) cumpria nesse caso um papel positivo: negociava duramente com os ruralistas da base governista, para que aceitassem um Código Florestal menos retrógrado do que o proposto por Aldo Rebelo.
Por isso, criticar Palocci agora – dizem alguns apoiadores de Dilma – é fazer “o jogo da direita”. Será?
Aliás, se o caso surgiu como “fogo amigo” de dentro da base governista, por conta da votação do Código Florestal, a essa altura parece ter ganho dinâmica própria. Os jornais já relacionam o enriquecimento de Palocci à campanha de Dilma. Vale a pena manter um ministro que traz esse grau de instabilidade ao governo?

Quem acompanhou os bastidores da campanha eleitoral de 2010 sabe qual foi a opção de Dilma e do núcleo dirigente do PT no primeiro turno: tentaram ganhar a eleição só com o programa de TV e a popularidade do Lula. A idéia era ganhar sem fazer política. No primeiro turno, foi assim: campanha controlada pelo marqueteiro e pelos 3 porquinhos (Palocci, Dutra e Zé Eduardo).
Quem fez política foi o Serra. Politizou pela direita: trouxe aborto e religião para a campanha. Com isso, empurrou milhões de votos pra Marina, e levou a eleição pro segundo turno. Aí, a ficha no PT caiu. Dilma e o núcleo da campanha finalmente compreenderam o que já estávamos vendo na internet há semanas: o terrorismo conservador. Dilma deixou os conselhos do marqueteiro de lado, teve coragem de ir pra cima no debate da “Band” (primeiro domingo do segundo turno): pendurou no pescoço do Serra a história do aborto (a mulher de Serra tinha dito que Dilma gostava de “matar crancinhas”), falou em Paulo Preto, reanimou a militância.

Se Dilma tivesse insistido no figurino do primeiro turno, poderia ter perdido a eleição. Pesquisas internas, pouco antes do debate da Band, davam apenas 4 pontos de diferença sobre Serra no início do segundo turno. Foi a realidade que levou Dilma a mudar de figurino.
Pois bem. Passada a eleição, Dilma montou o ministério e começou a governar. Como? Com o figurino idêntico ao usado no primeiro turno da eleição:  sem política, longe dos movimentos sociais, procurando agradar o “mercado” e a “velha mídia”. Foi uma escolha.
Palocci tem a ver com isso. Coordenou a campanha. Ele quer um governo moderadíssimo, que não assuste a turma a quem dá “consultoria”.
Logo no início do governo, estava claro que Dilma procurava ocupar um espaço mais ao centro. Lula tinha (e tem) apoio da esquerda tradicional, dos movimentos sociais, do povão que saiu da miséria. Dilma foi em direção à classe média que lê a “Veja”. Com Palocci à frente. Palocci é amigo da “Veja” e da “Globo”. Palocci é blindado na “Globo”. Perguntem ao Azenha o que aconteceu na Globo quando ele tentou fazer uma reportagem sobre o irmão do Palocci, 5 anos atrás…

Renato Rovai publicou em seu blog um texto que mostra a repercussão desastrosa – para o governo – do caso Palocci nas redes sociais. Como aconteceu na eleição, com o aborto e a onda consevadora: primeiro os temas batem na internet, depois chegam às ruas.
Assim como ocorreu na eleição, Dilma talvez perceba que o figurino palocciano não garantirá estabilidade ao governo. Com quem ela vai contar quando enfrentar crise séria? Com a família Marinho? Com os banqueiros?
Dilma segue com popularidade alta. Mas o caso Palocci mostra os limites do governo. E os riscos que ela corre diante da primeira crise mais grave. Pode faltar base social…

Mas, seja qual for a escolha de Dilma (ela a essa altura parece mais próxima de optar por um acerto “por cima”, com os que mandam nas finanças e nas comunicações do Brasil), é inaceitável que o governo vote o novo Código Florestal sob chantagem dos ruralistas.
O governo está sob pressão dos ruralistas, que dizem nos bastidores: “a oposição pode maneirar com o Palocci, desde que passe o Código Florestal que nós queremos!”
O texto vai a votação na terça.
Hoje, o governo Dilma corre o seguinte risco: aceitar a chantagem dos ruralistas pra salvar Palocci e… não conseguir salvar Palocci. Seria um desastre.

Dilma precisa fazer uma escolha agora. Semelhante à que ela fez naquele debate na “Band”, no início do segundo turno. A quem ela pretende agradar? À turma do Palocci, ou à turma que foi à rua e garantiu a vitória dela enfrentando a onda conservadora que Serra trouxe para o debate?
A oposição está enfraquecida. O lulismo é forte e dominante no país. Mas o governo Dilma parece frágil. Equação estranha. É preciso aproximar o governo Dilma do lulismo. Dilma ganhou por causa disso. Vai governar, de verdade, se estiver alinhada ao lulismo.

Biblioteca Latino-Americana – Radiografia do Pampa (1933)


Ezequiel Martínez Estrada (1895-1964), ensaísta, poeta, contista e crítico literário, nasceu na província de Santa Fé e morreu em Bahía Blanca, província de Buenos Aires. Como a esmagadora maioria da intelectualidade de sua geração, foi anti-peronista. Durante os dois primeiros mandatos de Perón (1946-1955), foi privado de seu emprego em La Plata. Depois do golpe militar conhecido como “Revolução Libertadora”, foi nomeado professor extraordinário na Universidade Nacional do Sul, em Bahía Blanca. Em duas ocasiões, foi presidente da Sociedade Argentina de Escritores. Apesar das origens anti-peronistas, aproximou-se da esquerda depois da Revolução Cubana, e durante dois anos dirigiu o Centro de Estudos Latino-Americanos de Casa de las Américas, a principal instituição de política cultural da Revolução. Mas Martínez Estrada entraria mesmo para o cânone como o autor do principal ensaio de interpretação do ser argentino, Radiografia do Pampa, publicado em 1933.
É interessante comparar os mais celebrados ensaios de interpretação das identidades brasileira e argentina, publicados no mesmo ano. O contraste com Casa-Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, não poderia ser maior. Radiografia do Pampa recorre, com frequência, à figura do pecado original: qual seria a queda originária dos pampas? Qual é a origem da inautenticidade? Martínez Estrada arma sua resposta a partir da noção de vazio. A terra vazia seria o índice do desarraigo, da falta de raízes, da ausência de princípios e de ideais. Os pampas estariam marcados, de antemão, pelo signo do erro e da mentira: o artesão sem pão e o fidalgo empobrecido, ao ouvir relatos fabulosos, já mentiam no próprio ato de escutar.
A viagem originária foi feita sem nenhum ideal ou propósito em si. Não havia um projeto de povoar ou colonizar; a conquista mais se assemelhou a um saqueio. Os que vinham supunham que um dia regressariam à Europa e construíam suas viagens a partir de uma ilusória transitoriedade. Martínez Estrada apelida de “Trapalanda” esse país fictício imaginado pelos colonizadores. Trata-se do El Dorado dos tesouros ocultos, que nunca se concretiza. Na medida em que a realidade o lembra que ele está nos pampas, e não em Trapalanda, o homem americano adentra o rancor. Inaugura-se o ressentimento.
Enquanto que, na Europa, a posse da terra implicava emparentar-se com a história, nos pampas, para Martínez Estrada, ela significava apenas a posse de um bônus de crédito. Possuir, nos pampas, era possuir algo que seria preenchido. O valor era uma pura virtualidade, puro título, crédito, honra. Instalava-se aí o conflito e a contradição com a terra, posto que o colono vivia na projeção de uma Trapalanda futura, enquanto os pampas reais não têm tempo, história ou futuro. Vivem num presente perpétuo. Daí a consolidação da tradição bacharelesca, pois em vez de construir, o homem dos pampas fazia leis, preenchia papeis, enviava petições. Formulava um valor puramente jurídico e teológico, descolado da realidade.
O coitus interruptus funciona, para Martínez Estrada, como alegoria da fundação: as leis de Índias proibiam a formação de famílias com as indígenas, mas implicitamente incentivavam o concubinato. O ato é realizado de maneira incompleta, com pressa e desgosto. Os pouquíssimos que trouxeram mulheres também possuíam amantes, com frequência na própria casa. O desprezo pela mulher seria componente chave da história da América.
Os partidos políticos, para Martínez Estrada, não escapam a esse quadro. Buenos Aires estabelece laços com a Europa antes de enxergar o interior. O Estado se forma antes do povo, e os governos também são filhos da inautenticidade, já que suas origens estariam no espírito de rapina dos soldados da independência, condicionados a saquear, possuir, dominar. A ausência de pacto possível entre o colonizador e o índio geraria a desconfiança constitutiva do mestiço, treinado para farejar intenções e perseguir, suspeito, os rastros do não-dito por baixo das frases.
Toda a interpretação de Martínez Estrada da história argentina deriva desse diagnóstico. Rosas, o caudilho demonizado pela tradição liberal, seria apenas um sistematizador da barbárie, enquanto os democratas se divorciavam de todo o mundo real a sua volta para perseguir uma ideia abstrata. Terminaram sendo eles os bárbaros, buscando ideais de justiça, democracia e liberdade que não tinham qualquer solo comum ou possibilidade de diálogo com a realidade existente. A nossa barbárie, diz Martínez Estrada, foi sempre fomentada pelos sonhadores de grandezas.
Algumas das principais inspirações de Radiografia do Pampa—especialmente O Declínio do Ocidente, de Spengler—já não exercem a mesma influência de antes. Outras, como Totem e Tabu, de Freud, continuam sendo lidas e estudadas numa série de disciplinas. A retórica pessimista de Martínez Estrada pode soar anacrônica, mas resistem muitas de suas teses como, por exemplo, sobre o caráter hipertrofiado do Estado, construído a partir da ausência de lastro na realidade.
Para uma visualização parcial de Radiografia do Pampa, clique aqui. Para uma breve entrevista com o autor, clique aqui. Para ler na íntegra e no original Diferenças e semelhanças entre os países da América Latina, escrito já na época da aproximação do autor com a Revolução Cubana, clique aqui.
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A Biblioteca Latino-Americana da revista Fórum é uma coleção de introduções às principais obras do pensamento de nossos vizinhos, um acervo de referência sobre os grandes clássicos latino-americanos. A cargo de Idelber Avelar, a Biblioteca incluirá breves resenhas, compreensíveis para o leitor não-especializado, de textos clássicos de historiografia, teoria política, literatura e outras áreas. Quando possível, ofereceremos também o link à própria obra e a outros estudos disponíveis sobre ela.

OS XERIFES DA LÍNGUA


POR JOSÉ RIBAMAR BESSA FREIRE no Blog do Altino Machado

Os toques de clarim e o rufar dos tambores chamaram a Infantaria e a 7ª. Cavalaria. O Exército colocou de prontidão os seus soldados armados até os dentes: a tropa da Academia Brasileira de Letras (ABL), o batalhão dos jornalistas, a brigada ligeira dos escritores, a legião de políticos, o pelotão do Ministério Público e até algumas divisões blindadas da Universidade. Todos eles irmanados na santa cruzada lançaram o grito de guerra que ecoou pelos campos, vilas e cidades do Brasil, ameaçando o inimigo:

- Oh, vós, que desejais assassinar o idioma. Liquidar-vos-emos. Avante!.

O inimigo é o livro “Por uma vida melhor” da professora Heloísa Ramos, adotado pelo MEC, que é apenas a ponta do iceberg. Lá, a autora apresenta a diferença entre falar e escrever e reconhece que na fala existe muito mais variação do que na escrita. O jeito de falar muda bastante, de acordo com a região, a classe social e a situação de comunicação. A mesma pessoa fala diferente se está em casa, na feira, no bar, no tribunal ou na igreja.

- Existem várias línguas faladas em português – já disse o escritor José Saramago, prêmio Nobel da literatura.

Nesse sentido, cada um de nós é “bilíngue” na própria língua. Uma dessas línguas é a chamada ‘norma culta’, a de maior prestígio em nossa sociedade, que é usada na sala de aula e está mais próxima da escrita formal. Outras são as variedades populares, regidas por uma diversidade de regras, mas que não chegam a prejudicar a intercompreensão.

Acontece que milhões de brasileirinhos chegam à escola, falando segundo as regras da variedade popular. Por isso, são ridicularizados e humilhados. Dessa forma, são levados a se envergonharem das variedades que a norma culta considera “erradas”, e não se apropriam, nessas condições adversas, da outra variedade considerada “certa”. São reprimidos. Sua fala fica excluída dos espaços públicos, comprometendo o exercício da cidadania.

Esse fato demonstra a incapacidade do Estado, que não encontrou ainda o caminho para permitir que todos os alunos transitem pela norma culta. A autora defende, então, que a alternativa é admitir que a variedade popular existe, tem suas regras e é legítima. As duas normas não se excluem, mas se complementam. O respeito ao jeito de falar do aluno cria um ambiente acolhedor e propício à aprendizagem da norma culta. Só isso.

Mas tal proposta foi suficiente para que os xerifes da língua, que combatem a diversidade, disparassem suas armas alegando, alguns deles, que o MEC quer instituir o “lulês” como idioma oficial. Distorceram – ou no mínimo não compreenderam (será que leram?) - o que está escrito no livro. Eles acham que quem defende o respeito à norma popular quer impô-la ao conjunto da sociedade, como eles o fazem com a norma culta. Por isso, chamam a 7ª. Cavalaria.

As cavalgaduras

A cavalaria veio. Na linha de frente, cavalgando um pangaré manco – tololoc, tololoc - o centurião José Sarney (PMDB, vixe-vixe!), membro da ABL, ex-presidente da República e presidente do Senado. No artigo ‘Fale errado, está certo’ na Folha de SP – com a espada em riste, ele faz aquilo que fez ao longo de sua vida: atribui aos outros seus próprios defeitos. Escreve que o livro em questão pretende “oficializar a burrice”, que “o Brasil resolve criminalizar quem fala corretamente”, quando é justamente o contrário, e que “defender a língua é defender a pátria”.

Sarney, defensor da pátria? Quaquaraquaquá! O que é ‘a língua’ e o que é ‘a pátria’ para ele? Em sua ‘pátria’ não cabem os deserdados, apenas os beneficiados pelo nepotismo. Já a ‘língua’ que defende não é um sistema variado, dinâmico e rico, mas se reduz à norma culta, que ele congela. Elimina as demais variedades, proclamando que apenas uma variedade é o português, embora nas conversas telefônicas com sua neta, que ouvimos gravadas e reproduzidas pelos telejornais, a norma usada para contratar o namorado dela, mais coloquial, não foi bem a que ele defende.

Da mesma forma, Sarney, o vixe-vixe, protesta com indignação contra a anarquia:

- Voltemos ao sistema tribal: cada um fala como quer”.

Imagina! Que país é esse onde cada um fala como quer e não como os sarneys da vida pretendem impor! Sarney, que passou a vida confundindo a coisa pública com a privada, sobretudo no que se refere à grana, quer privatizar também a língua. Acha que ela é sua e dos seus. Não reconhece que se trata de produção coletiva. Nem sequer suspeita que existam regras no falar popular. Exige que a norma culta seja o padrão de correção de todas as demais variedades, confirmando o que escreveu Roland Barthes:

- A língua não é fascista quando impede de dizer, mas quando obriga a dizer de uma determinada forma.

Cavalgando um burro alazão – tololoc, tololoc – o presidente da ABL Marcos Villaça também atacou o livro. Reduziu a riqueza do idioma a uma reles operação aritmética, com uma visão primária da matemática, dizendo que admitir outras formas de falar “é como ensinar tabuada errada. Quatro vezes três é sempre doze, seja na periferia ou no palácio”.

A mesma imagem foi usada por sua colega, a escritora Ana Maria Machado, que esqueceu o que ensinou quando foi minha professora de Comunicação Fabular e Icônica na UFRJ. Ela reforça essa comparação infeliz: “Equivale a aceitar que dois mais dois possam ser cinco, com a boa intenção de derrubar preconceitos aritméticos”. Trata-se de uma falácia, porque ninguém está reivindicando que 2+2=5, mas a possibilidade de ser 1+1+1+1 ou 3+1 e até 2+2=5-1 e assim por diante, já que o quatro contém o infinito.

Mas quem se superou mesmo em bobagens foi o jornalista Merval Pereira - um projetinho de Sarney - que veio cavalgando uma besta de sela desembestada: tololoc, tololoc. Em sua coluna no Globo concluiu que se o português popular é legitimo, então ele deveria “ser ensinado nas escolas e faculdades”, como se fosse preciso ensinar o que já se sabe. Merval condenou ainda o que chamou de “pedagogia da ignorância” e criminalizou o livro adotado pelo MEC: “Se for uma tentativa de querer justificar a maneira como o presidente Lula fala, aí então teremos um agravante ao ato criminoso de manter os estudantes na ignorância”.

Os criminosos

Ops! Vocês ouviram o que eu ouvi? Ato criminoso? Pois é. Parece que os xerifes do idioma querem criminalizar a desobediência às regras da norma culta, reproduzindo o que aconteceu na Cabanagem, a revolta popular mais importante da história da Amazônia (1832-1840). Bilhetes escritos pelos cabanos, anexados aos processos criminais, foram exibidos nos tribunais durante o julgamento como “prova de seus instintos criminosos”. Um deles assinado por Antônio Faustino, um cabano com a patente de major, diz:

“Axome çem monisão que muntas vezis teno pidido. Çe uver cunfelito aqi não çei o qe soçederá. Estarei em pouçilitado de zequtar qalqer prugetu. Halguns camaradas já çairão daqi pur farta de cumer”. Pontu da Barra, 3 de otobro de 1835. Antonho Fostino, manjor de artilharia.

O outro, que também se encontra no Arquivo Público do Pará, “com uma caligrafia feita de garranchos”, é de um chefe cabano que adverte o presidente da Província:

“…E se V. Exa. Responsave pellos mal desta província não sortar logo logo móhirmão e outros patrisio que saxão prezo prometo intrar na sidade comeu inzercito de sinco mil Ome i não dexar Pedra sobre Pedra”.

Um terceiro documento, escrito pelo tenente-comandante de Soure, é um ofício dirigido ao cabano Eduardo Angelim, que ocupou o cargo de presidente da Província:

“Rogo a V. Exa. Nois quera há-remidiar com algun çal e mesmo harmamentu que estamos mointos faltos deles. O mais V. Exa. verá no Pidido jontu q. faz obegeto tãoben desti ufisio. Deos guarde V. Exa. pur moitos anus. Soure, 13 de Dezembru de 1835”.

Que Deus guarde a ABL, Sarney e Merval pelo período de tempo acima indicado, bem como proteja políticos como o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), para quem o livro adotado pelo MEC “está transformando a ortografia em pornografia gramatical” e até o senador Cristovão Buarque (PDT), ex-reitor da UnB e ex-ministro da Educação, que declarou sobre o livro em questão:

- Claro que o livro deseduca e, pior, mantém o apartheid linguístico. Manter o português errado é um crime, é manter a desigualdade.

Crime? Desigualdade? Segundo Boaventura de Souza Santos, devemos “lutar pela igualdade sempre que as diferenças nos discriminem e lutar pelas diferenças sempre que a igualdade nos descaracterize”. Não se trata, evidentemente, de adotar as normas dos cabanos, mas de recusar sua criminalização.

A professora Heloisa, que fez um trabalho cuidadoso, está sendo tratada como “criminosa” segundo algumas divisões blindadas da própria Universidade que também entraram em ação. Cláudio Moreno, doutor em Letras, ameaçou no jornal Zero Hora de Porto Alegre:

- O livro tem que ser proibido e as pessoas devem ser punidas.

Não disse que tipo de punição considera mais adequada. Acionado, o pelotão do Ministério Público partiu para o ataque. A procuradora da República Janice Ascari, do Ministério Público Federal, cavalgando um jegue – tololoc, tololoc - considerou o livro citado como “um crime contra nossos jovens”, ganhando manchete de página no Globo. “Essa conduta não cidadã é inadmissível, inconcebível e, certamente, sofrerá ações do Ministério Público”, avisou a procuradora.

O historiador peruano Pablo Macera comenta que se o Império Romano conseguisse proibir o latim vulgar, como querem agora os xerifes da língua, nós não estaríamos hoje falando espanhol, português, francês, italiano, romeno, catalão – todas elas variantes “erradas” do latim clássico, conhecidas como línguas vulgares na Idade Média.

A troca de ‘l’ em ‘r’, que costuma ser considerada como “atraso mental”, quando alguém fala “pobrema”, “craro” ou “pranta” é um fenômeno fonético presente na formação da língua portuguesa, como esclarece Marcos Bagno. Palavras latinas como “blandu, clavu, flacu, sclavu, obligare” mantiveram o “l” no espanhol, no francês e no italiano, mas ficaram consagrados na norma culta da língua portuguesa com o “r”: “brando, cravo, fraco, escravo, obrigar”, etc.

Os xerifes querem continuar hegemônicos na formulação da política de línguas, autoritária e intolerante. Para isso, manipulam a opinião pública, ignorando a Declaração Universal dos Direitos Linguísticos, aprovada em 1996 em Barcelona, num evento realizado com o apoio da Unesco, recomendando que “os direitos linguísticos sejam considerados direitos fundamentais do homem” e que as diferenças linguísticas sejam respeitadas.

P.S.: Agradeço os colegas do COMIN e da EST, de São Leopoldo (RS), e os colegas da lista Uerj XXI, com quem pude trocar ideias sobre essa questão. Eles não têm, no entanto, qualquer responsabilidade pelo conteúdo ou pela forma desse texto.

O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO).