Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
domingo, 10 de julho de 2011
sábado, 9 de julho de 2011
Immanuel Wallerstein: Um tsunami sobre Israel
Os palestinos estão perseguindo seu projeto: obter
reconhecimento formal de sua soberania pela ONU, cuja Assembleia Geral
vai se reunir em setembro. Querem uma declaração de que seu Estado ocupa
as fronteiras de 1967 – as de antes da guerra israelense-palestina. É
quase certo que o voto será favorável.
Por Immanuel Wallerstein no VERMELHO
A única questão, no momento, é saber
quão favoravel. A liderança política israelense está bem ciente disso.
Discute três diferentes respostas. A posição dominante aparenta ser a do
primeiro-ministro Netanyahu. Ele propõe ignorar totalmente tal
resolução e simplesmente manter as políticas atuais. Netanyahu acredita
que Israel ignorou com sucesso, por muito tempo, resoluções
desfavoráveis adotadas pela Assembléia Geral. Por que agora seria
diferente?
Há alguns políticos de extrema direita (sim, existe uma posição ainda mais à direita que Netanyahu) que propõem, em represália, a anexação formal, por Israel, de todos os territórios ocupados, encerrando qualquer negociação com os palestinos. Parte da extrema direita também quer forçar um êxodo de população não-judaica, a partir deste estado israelense expandido.
O ex-primeiro-ministro (e atual ministro da Defesa) Ehud Barak, cuja base política está agora quase extinta, adverte Netanyahu por estar sendo irrealista. Barak diz que a resolução da ONU será um tsunami para Israel; e que, portanto, Netanyahu deveria ter a sabedoria de fazer algum tipo de acordo com os palestinos, antes que a resolução passe.
Ehud Barak está certo? Será um tsunami para Israel? Há uma boa chance de que sim. Porém, há pouca chance real de que Netanyahu siga os conselhos de Barak e tente fazer com seriedade um acordo prévio com os palestinos.
Considere o que é provável na Assembléia Geral. Sabemos que a maioria (talvez todos) dos países da América Latina e uma parte dos países africanos e asiáticos votarão em favor da resolução. Sabemos que os Estados Unidos votarão contra e tentarão persuadir outros a votar também. Os votos incertos são os da Europa. Se os palestinos obtiverem um número significativo dos votos europeus, sua posição política será muito reforçada.
Os europeus votarão em favor da resolução? Isso dependerá em parte do que acontecer no mundo árabe nos próximos dois meses. Os franceses já sugeriram abertamente que apoiarão a resolução, exceto se virem negociações significativas entre Israel e Palestina (que não ocorrem no momento). É quase certo que os países nórdicos se juntem a eles. A posição da Grã-Bretanha, Alemanha e Holanda está mais indefinida. Se estes países decidirem apoiar a resolução, provavelmente puxarão vários países do leste europeu. Nesse caso, a resolução obterá uma vasta maioria dos votos na Europa.
Precisamos, portanto, olhar o que está acontecendo no Oriente Médio. A segunda revolta árabe ainda está em pleno andamento. Seria temerário prever exatamente quais regimes cairão e quais se aguentarão, nos próximos dois meses. O que parece estar claro é que os palestinos estão à beira de lançar uma terceira intifada. Até os mais conservadores entre eles parecem ter perdido a esperança de qualquer acordo com Israel. Esta é a mensagem clara do acordo entre o Fatah e o Hamas. Levando em conta que as populações de praticamente todos os estados árabes estão em plena revolta política contra seus regimes, como poderiam os palestinos permanecer relativamente tranquilos? Não ficarão em silêncio.
E se não permanecerem em silencio, o que os outros regimes árabes farão? Todos vivem tempos difíceis — para dizer o mínimo –, enfrentando as revoltas em seus próprios países. Apoiar taticamente a terceira intifada seria a posição mais fácil para eles, no esforço para recuperar o controle de seu próprio país. Que regime ousaria não apoiar uma terceira intifada? O Egito já se movimentou claramente rumo a esta postura. E o rei Abdullah da Jordânia deu a entender que também o fará.
Então, imagine a seqüência: uma terceira intifada, seguida pelo apoio árabe ativo, seguido por intransigência israelense. O que farão os europeus em seguida? É difícil vê-los recusar o voto a favor da resolução. Poderíamos facilmente chegar a uma votação em que apenas Israel, Estados Unidos e alguns poucos países minúsculos votariam contra a posição pró-Palestina, talvez com poucas abstenções.
Isso me parece um possível tsunami. Israel teme acima de tudo, nos últimos anos, a “deslegitimação”. Não seria essa votação precisamente o grau mais alto de deslegitimação? E o isolamento norte-americano não enfraqueceria ainda mais a posição de Washington no mundo árabe? O que farão, nesse caso, os Estado Unidos?
Fonte: Opera Mundi
Há alguns políticos de extrema direita (sim, existe uma posição ainda mais à direita que Netanyahu) que propõem, em represália, a anexação formal, por Israel, de todos os territórios ocupados, encerrando qualquer negociação com os palestinos. Parte da extrema direita também quer forçar um êxodo de população não-judaica, a partir deste estado israelense expandido.
O ex-primeiro-ministro (e atual ministro da Defesa) Ehud Barak, cuja base política está agora quase extinta, adverte Netanyahu por estar sendo irrealista. Barak diz que a resolução da ONU será um tsunami para Israel; e que, portanto, Netanyahu deveria ter a sabedoria de fazer algum tipo de acordo com os palestinos, antes que a resolução passe.
Ehud Barak está certo? Será um tsunami para Israel? Há uma boa chance de que sim. Porém, há pouca chance real de que Netanyahu siga os conselhos de Barak e tente fazer com seriedade um acordo prévio com os palestinos.
Considere o que é provável na Assembléia Geral. Sabemos que a maioria (talvez todos) dos países da América Latina e uma parte dos países africanos e asiáticos votarão em favor da resolução. Sabemos que os Estados Unidos votarão contra e tentarão persuadir outros a votar também. Os votos incertos são os da Europa. Se os palestinos obtiverem um número significativo dos votos europeus, sua posição política será muito reforçada.
Os europeus votarão em favor da resolução? Isso dependerá em parte do que acontecer no mundo árabe nos próximos dois meses. Os franceses já sugeriram abertamente que apoiarão a resolução, exceto se virem negociações significativas entre Israel e Palestina (que não ocorrem no momento). É quase certo que os países nórdicos se juntem a eles. A posição da Grã-Bretanha, Alemanha e Holanda está mais indefinida. Se estes países decidirem apoiar a resolução, provavelmente puxarão vários países do leste europeu. Nesse caso, a resolução obterá uma vasta maioria dos votos na Europa.
Precisamos, portanto, olhar o que está acontecendo no Oriente Médio. A segunda revolta árabe ainda está em pleno andamento. Seria temerário prever exatamente quais regimes cairão e quais se aguentarão, nos próximos dois meses. O que parece estar claro é que os palestinos estão à beira de lançar uma terceira intifada. Até os mais conservadores entre eles parecem ter perdido a esperança de qualquer acordo com Israel. Esta é a mensagem clara do acordo entre o Fatah e o Hamas. Levando em conta que as populações de praticamente todos os estados árabes estão em plena revolta política contra seus regimes, como poderiam os palestinos permanecer relativamente tranquilos? Não ficarão em silêncio.
E se não permanecerem em silencio, o que os outros regimes árabes farão? Todos vivem tempos difíceis — para dizer o mínimo –, enfrentando as revoltas em seus próprios países. Apoiar taticamente a terceira intifada seria a posição mais fácil para eles, no esforço para recuperar o controle de seu próprio país. Que regime ousaria não apoiar uma terceira intifada? O Egito já se movimentou claramente rumo a esta postura. E o rei Abdullah da Jordânia deu a entender que também o fará.
Então, imagine a seqüência: uma terceira intifada, seguida pelo apoio árabe ativo, seguido por intransigência israelense. O que farão os europeus em seguida? É difícil vê-los recusar o voto a favor da resolução. Poderíamos facilmente chegar a uma votação em que apenas Israel, Estados Unidos e alguns poucos países minúsculos votariam contra a posição pró-Palestina, talvez com poucas abstenções.
Isso me parece um possível tsunami. Israel teme acima de tudo, nos últimos anos, a “deslegitimação”. Não seria essa votação precisamente o grau mais alto de deslegitimação? E o isolamento norte-americano não enfraqueceria ainda mais a posição de Washington no mundo árabe? O que farão, nesse caso, os Estado Unidos?
Fonte: Opera Mundi
Marcadores:
cultura,
discriminação,
islamismo,
oriente medio,
palestina,
sionismo
sexta-feira, 8 de julho de 2011
Professora do RN que criticou a educação recusa prêmio de empresários
Porque não aceitei o prêmio do PNBE
Nesta segunda,o Pensamento Nacional de Bases Empresariais (PNBE) vai
entregar o prêmio "Brasileiros de Valor 2011". O júri me escolheu, mas,
depois de analisar um pouco, decidi recusar o prêmio.
Mandei essa carta aí embaixo para a organização, agradecendo e expondo os motivos pelos quais não iria receber a premiação. Minha luta é outra.
Espero que a carta sirva para debatermos a privatização do ensino e o papel de organizações e campanhas que se dizem "amigas da escola".
Amanda
Mandei essa carta aí embaixo para a organização, agradecendo e expondo os motivos pelos quais não iria receber a premiação. Minha luta é outra.
Espero que a carta sirva para debatermos a privatização do ensino e o papel de organizações e campanhas que se dizem "amigas da escola".
Amanda
Natal, 2 de julho de 2011
Prezado júri do 19º Prêmio PNBE,
Recebi comunicado notificando que este júri decidiu conferir-me o prêmio
de 2011 na categoria Educador de Valor, “pela relevante posição a favor
da dignidade humana e o amor a educação”. A premiação é importante
reconhecimento do movimento reivindicativo dos professores, de seu papel
central no processo educativo e na vida de nosso país. A dramática
situação na qual se encontra hoje a escola brasileira tem acarretado uma
inédita desvalorização do trabalho docente. Os salários aviltantes, as
péssimas condições de trabalho, as absurdas exigências por parte das
secretarias e do Ministério da Educação fazem com que seja cada vez
maior o número de professores talentosos que após um curto e angustiante
período de exercício da docência exonera-se em busca de melhores
condições de vida e trabalho.
Embora exista desde 1994 esta é a primeira vez que esse prêmio é destinado a uma professora comprometida com o movimento reivindicativo de sua categoria. Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação. Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald's, Brasil Telecon e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva.
A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e personalidades. Minha luta é igual a de milhares de professores da rede pública. É um combate pelo ensino público, gratuito e de qualidade, pela valorização do trabalho docente e para que 10% do Produto Interno Bruto seja destinado imediatamente para a educação. Os pressupostos dessa luta são diametralmente diferentes daqueles que norteiam o PNBE. Entidade empresarial fundada no final da década de 1980, esta manteve sempre seu compromisso com a economia de mercado. Assim como o movimento dos professores sou contrária à mercantilização do ensino e ao modelo empreendedorista defendido pelo PNBE. A educação não é uma mercadoria, mas um direito inalienável de todo ser humano. Ela não é uma atividade que possa ser gerenciada por meio de um modelo empresarial, mas um bem público que deve ser administrado de modo eficiente e sem perder de vista sua finalidade.
Oponho-me à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e às chamadas “organizações da sociedade civil de interesse público” (Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o ensino público. Defendo que 10% do PIB seja destinado exclusivamente para instituições educacionais estatais e gratuitas. Não quero que nenhum centavo seja dirigido para organizações que se autodenominam amigas ou parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma oportunidade de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração fiscal.
Por essa razão, não posso aceitar esse Prêmio. Aceitá-lo significaria renunciar a tudo por que tenho lutado desde 2001, quando ingressei em uma Universidade pública, que era gradativamente privatizada, muito embora somente dez anos depois, por força da internet, a minha voz tenha sido ouvida, ecoando a voz de milhões de trabalhadores e estudantes do Brasil inteiro que hoje compartilham comigo suas angústias históricas. Prefiro, então, recusá-lo e ficar com meus ideais, ao lado de meus companheiros e longe dos empresários da educação.
Saudações,
Professora Amanda Gurgel
Embora exista desde 1994 esta é a primeira vez que esse prêmio é destinado a uma professora comprometida com o movimento reivindicativo de sua categoria. Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação. Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald's, Brasil Telecon e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva.
A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e personalidades. Minha luta é igual a de milhares de professores da rede pública. É um combate pelo ensino público, gratuito e de qualidade, pela valorização do trabalho docente e para que 10% do Produto Interno Bruto seja destinado imediatamente para a educação. Os pressupostos dessa luta são diametralmente diferentes daqueles que norteiam o PNBE. Entidade empresarial fundada no final da década de 1980, esta manteve sempre seu compromisso com a economia de mercado. Assim como o movimento dos professores sou contrária à mercantilização do ensino e ao modelo empreendedorista defendido pelo PNBE. A educação não é uma mercadoria, mas um direito inalienável de todo ser humano. Ela não é uma atividade que possa ser gerenciada por meio de um modelo empresarial, mas um bem público que deve ser administrado de modo eficiente e sem perder de vista sua finalidade.
Oponho-me à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e às chamadas “organizações da sociedade civil de interesse público” (Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o ensino público. Defendo que 10% do PIB seja destinado exclusivamente para instituições educacionais estatais e gratuitas. Não quero que nenhum centavo seja dirigido para organizações que se autodenominam amigas ou parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma oportunidade de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração fiscal.
Por essa razão, não posso aceitar esse Prêmio. Aceitá-lo significaria renunciar a tudo por que tenho lutado desde 2001, quando ingressei em uma Universidade pública, que era gradativamente privatizada, muito embora somente dez anos depois, por força da internet, a minha voz tenha sido ouvida, ecoando a voz de milhões de trabalhadores e estudantes do Brasil inteiro que hoje compartilham comigo suas angústias históricas. Prefiro, então, recusá-lo e ficar com meus ideais, ao lado de meus companheiros e longe dos empresários da educação.
Saudações,
Professora Amanda Gurgel
Marcadores:
educação,
POLITICAS PUBLICAS,
relações de trabalho
quinta-feira, 7 de julho de 2011
Para a crítica do capitalismo
Escrito por Duarte Pereira no Correio da Cidadania |
A Boitempo Editorial, numa iniciativa conjunta com a Editora da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, acaba de lançar a primeira
tradução brasileira integral da obra de Karl Marx, celebrizada como Grundrisse (em português, Esboços ou Fundamentos para a crítica da economia política). Uma tradução brasileira da parte desses manuscritos relativa às chamadas Formen (ou Formações econômicas pré-capitalistas)
já fora publicada pela Editora Paz e Terra em 1975, com importante
introdução escrita pelo historiador britânico Eric Hobsbawn.
Os Grundrisse reúnem manuscritos redigidos por Marx em 1857 e
1858, no andamento de sua monumental investigação crítica do novo modo
de produção e da nova formação social – capitalistas – que emergiam e se
desenvolviam na Europa, assim como das primeiras interpretações dessa
nova economia e dessa nova sociedade, feitas de um ângulo burguês, pelos
economistas denominados clássicos, como Adam Smith e David Ricardo.
Aos Grundrisse, mantidos inéditos por Marx, se seguiria a Contribuição à crítica da economia política, publicada em 1859, e, num nível incomparavelmente superior de elaboração, o primeiro volume de O capital, publicado em 1867. Como se sabe, o 2º e o 3º volumes de O capital
somente seriam publicados em 1885 e 1894, respectivamente, organizados e
editados por Engels após a morte de Marx. O 4º volume, mais conhecido
como Teorias da mais-valia ou como História crítica das doutrinas econômicas,
reunindo os rascunhos escritos por Marx entre 1861 e 1863, seria
organizado e editado por Karl Kautsky em vários tomos publicados entre
1905 e 1910. Existe uma edição brasileira integral dessa obra, traduzida
diretamente do alemão por Reginaldo Sant’Anna e lançada pela Editora
Civilização Brasileira em 1980.
Ao ler os Grundrisse, é preciso não perder de vista dois
comentários feitos pelo próprio Marx, um ressaltando sua importância e
outro alertando para seus limites. Primeiro, que os manuscritos foram “o
resultado de 15 anos de pesquisa, ou seja, dos melhores anos de minha
vida”. E segundo, que “as monografias foram escritas em períodos muito
diversos, para meu próprio esclarecimento, não para publicação”. A
maioria dos temas e das teses dos Grundisse seria reelaborada nas obras posteriores de Marx, principalmente em O capital,
com mais rigor e cuidado no que diz respeito ao conteúdo e à forma e
levando em conta o avanço das investigações do autor. Algumas passagens
dos Grundisse não seriam reescritas por Marx, nem incorporadas a
suas obras posteriores, talvez porque ele sentisse a necessidade de
aprofundá-las.
A publicação da primeira edição integral em português dos Grundrisse,
traduzida diretamente dos originais alemães por Mário Duayer e um grupo
de colaboradores, representa um marco na história da cultura brasileira
e uma contribuição muito importante para o estudo especializado e
histórico-crítico do marxismo.
Quem ler esses manuscritos seminais com a mente despojada de
preconceitos terá a oportunidade de verificar como permanece atual, em
suas linhas essenciais, a crítica de Marx ao capitalismo e ao pensamento
econômico burguês, feita do ponto de vista dos trabalhadores
destituídos de meios modernos de produção e forçados a assalariar-se.
Ficha técnica
Título: Grundrisse
Subtítulo: Manuscritos econômicos de 1857-1858: Esboços da crítica da economia política Título original: Karl Marx Ökonomische Manuskripte 1857/58 Autor: Karl Marx Tradução: Mario Duayer, Nélio Schneider, Alice Helga Werner e Rudiger Hoffman Supervisão editorial e apresentação: Mario Duayer Orelha: Jorge Grespan Quarta capa: Francisco de Oliveira Páginas: 792 Preço: R$ 79,00 ISBN: 978-85-7559-172-7 Editoras: Boitempo e UFRJ
Duarte Pereira, 72 anos, é jornalista e escritor.
|
Para ajudar o Correio da Cidadania e a construção da mídia independente, você pode contribuir clicando abaixo.
Marcadores:
critica social,
literatura,
opinião filosofica,
revolucionários,
solidariedade
“Inauguramos um novo momento na Educação Gaúcha”, diz Azevedo no 1º Encontro de Avaliação
O secretário de Estado da Educação, Prof. Dr. Jose Clovis de
Azevedo, abriu o 1º Encontro de Avaliação das Coordenadorias Regionais
de Educação, na manhã desta quinta-feira (7), no auditório da Caixa
Econômica Federal, em Porto Alegre. Azevedo apresentou um diagnóstico
das condições políticas e estruturais encontradas pela nova gestão.
“Depois de oito anos de neoliberalismo, inauguramos um novo momento na
Educação Gaúcha. Nossa concepção de Estado parte do princípio da
equidade, onde o Estado tem a obrigação de garantir que todos tenham
seus direitos atendidos, e não aumentar as disparidades entre a
população”, disse o secretário ao iniciar seu pronunciamento.
Entre os principais pontos relatados: ausência de um centro de reflexão e produção de políticas e propostas para a atividade fim; fragmentação da gestão; ausência de planejamento; terceirização das obrigações do Estado, incluindo o programa de alfabetização; isolamento do governo federal; inexistência de diálogo com os professores e comunidades; priorização dos aspectos quantitativos em detrimento dos aspectos qualitativos e o fechamento de 435 escolas sem políticas para a Educação no campo.
Após, informou os avanços da Seduc nos primeiros seis meses de sua gestão, como: o reajuste de 10,91% que baixou de 66% para 50% a diferença salarial para a integralização do piso nacional; a revogação da ordem de serviço que impedia a participação dos professores em eventos de formação no horário de expediente; os seminários de formação regionais que já mobilizaram 24 mil docentes; a liberação de professores para os núcleos do CPERS, além da realização de concurso público neste ano.
O secretário também apresentou as metas para o próximo semestre, entre elas: a expansão do ensino médio, a ampliação dos programas de formação tanto para professores sem formação superior como para 2ª licenciatura e a formação continuada; a execução de 264 obras de ampliação e reforma das escolas somando R$ 61 milhões; a modernização tecnológica através do projeto piloto Santa Tecla em Bagé e avanço no regime de colaboração com os municípios para a resolução da questão do transporte escolar.
Também reafirmou o compromisso de que não
haverá mudanças no plano de carreira e sim um diálogo para alterações nos critérios de avaliação para a promoção dos professores, e que o piso nacional será integralizado durante os quatros anos de governo.
As atividades seguiram com o relato das coordenadorias com a apresentação do histórico administrativo e pedagógico percorrido até o momento. Os relatos seguem no período da tarde, que também terá a avaliação dos avanços da Seduc pelo chefe da Casa Civil, Carlos Pestana.
Entre os principais pontos relatados: ausência de um centro de reflexão e produção de políticas e propostas para a atividade fim; fragmentação da gestão; ausência de planejamento; terceirização das obrigações do Estado, incluindo o programa de alfabetização; isolamento do governo federal; inexistência de diálogo com os professores e comunidades; priorização dos aspectos quantitativos em detrimento dos aspectos qualitativos e o fechamento de 435 escolas sem políticas para a Educação no campo.
Após, informou os avanços da Seduc nos primeiros seis meses de sua gestão, como: o reajuste de 10,91% que baixou de 66% para 50% a diferença salarial para a integralização do piso nacional; a revogação da ordem de serviço que impedia a participação dos professores em eventos de formação no horário de expediente; os seminários de formação regionais que já mobilizaram 24 mil docentes; a liberação de professores para os núcleos do CPERS, além da realização de concurso público neste ano.
O secretário também apresentou as metas para o próximo semestre, entre elas: a expansão do ensino médio, a ampliação dos programas de formação tanto para professores sem formação superior como para 2ª licenciatura e a formação continuada; a execução de 264 obras de ampliação e reforma das escolas somando R$ 61 milhões; a modernização tecnológica através do projeto piloto Santa Tecla em Bagé e avanço no regime de colaboração com os municípios para a resolução da questão do transporte escolar.
Também reafirmou o compromisso de que não
haverá mudanças no plano de carreira e sim um diálogo para alterações nos critérios de avaliação para a promoção dos professores, e que o piso nacional será integralizado durante os quatros anos de governo.
As atividades seguiram com o relato das coordenadorias com a apresentação do histórico administrativo e pedagógico percorrido até o momento. Os relatos seguem no período da tarde, que também terá a avaliação dos avanços da Seduc pelo chefe da Casa Civil, Carlos Pestana.
Fonte: SEDUC
terça-feira, 5 de julho de 2011
Bicentenário da libertação da Venezuela é comemorado em Brasília
O bicentenário da libertação da Venezuela foi comemorado em Brasília pela Embaixada da Venezuela no Brasil. O embaixador, Maximilien Arvelaiz, recebeu autoridades diplomáticas, parlamentares e a comunidade venezuelana para uma solenidade, com ares de festa, na manhã desta terça-feira (5). E destacou, em seu rápido discurso, a alegria do povo venezuelano de ter o presidente Hugo Chávez de volta ao país para comemorar a data.
Lula Lopes no VERMELHO
Embaixador coloca flores no busto de Simon Bolívar.
A embaixada montou um toldo no pátio em frente ao busto de Simon Bolívar para a solenidade. Após a execução dos hinos nacionais – brasileiro e venezuelano – o embaixador colocou um buquê de flores aos pés da estátua. No breve discurso, disse que a história não se acaba, que é preciso continuar a luta para consolidar e defender a nossa sociedade e a América.
Citando os heróis de ontem, como Simon Bolívar e José Martí, ele lembrou que a luta de hoje enfrenta rechaços, intrigas e traições e a franca resistência de ontem persiste hoje na luta pela América livre.
O embaixador venezuelano lamentou o adiamento da Cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe (Celac), sobre Integração e Desenvolvimento, que deveria começar nesse dia 5 de julho devido ao estado de saúde do presidente Hugo Chávez. Mas garantiu que ele vai acontecer, destacando a importância da entidade para a integração da região e para atingirr a independência definitiva.
Maximilien Arvelaiz agradeceu aos convidados pela presença e pela preocupação com o estado de saúde de Chavez. “El está bien”, disse o embaixador.
O embaixador encerrou o discurso convidando os brasileiros a compartilhar a arte venezuelana. Após a solenidade, foi aberta a exposição de bonecas de pano “O que aprendi com a mamãe”, da artista Amada Rojas Vargas. O embaixador destacou ainda, como parte da programação do bicentenário da Venezuela, o jantar harmonizado do ‘chef’ venezuelano Eduardo Castañeda, no Mercado Municipal, na Asa Sul, nesta quarta-feira (6), a partir das 19 horas; e o show musical, de quarta a sexta-feira ( 6 a 8) com Caracas Sincrónica & Luisana Perez, em vários locais de Brasília.
Márcia Xavier
segunda-feira, 4 de julho de 2011
Dirigente do MST: Mais de 24 mil escolas foram fechadas no campo
“Fechamento de 24 mil escolas do campo é retrocesso”, afirma dirigente do MST
Mais de 24 mil escolas no campo brasileiro foram fechadas no meio
rural desde 2002. O fechamento dessas escolas demonstra o drástico
problema na vida educacional no Brasil, especialmente no meio rural.
Após décadas de lutas por conquistas no âmbito educacional, cujas
reivindicações foram atendidas em parte – o que permitiu a consolidação
da pauta – o fechamento das escolas vão no sentido contrário do que
parecia cristalizado.
Nesse quadro, o MST lançou a Campanha Nacional contra o Fechamento de Escolas do Campo,
que pretende fazer o debate sobre a educação do campo com o conjunto
da sociedade, articular diversos setores contra esses retrocessos e
denunciar a continuidade dessa política.
“O fechamento das escolas no campo nos remete a olhar com
profundidade que o que está em jogo é algo maior, relacionado às
disputas de projetos de campo. Os governos têm demonstrado cada vez
clara a opção pela agricultura de negócio – o agronegócio – que tem em
sua lógica de funcionamento pensar num campo sem gente e, por
conseguinte, um campo sem cultura e sem escola”, afirma Erivan Hilário,
do Setor de Educação do MST.
Essas escolas foram fechadas por estados e os municípios, mas o
Ministério da Educação também têm responsabilidade. “Não se têm, por
exemplo, critérios claros que determine o fechamento de escolas, que
explicitem os motivos pelos quais se fecham, ou em que medida se pode ou
não fechar uma escola no campo”, aponta Erivan.
Ele apresenta um panorama do atual momento pelo qual passa a educação
do campo, apontando desafios, lutas e propostas. Abaixo, leia a
entrevista.
Como se encontra a educação no campo brasileiro, de um modo geral?
Vive momentos bastantes contraditórios. Se por um lado, na última
década, avançou do ponto de vista de algumas conquistas e iniciativas
significativas no campo educacional, como no caso da legislação e das
políticas públicas – a exemplo das diretrizes operacionais para educação
básica nas escolas do campo, aprovada em 2002, e tantas outras
resoluções do conselho nacional, como o custo aluno diferenciado para o
campo e as licenciaturas em Educação do Campo – por outro percebemos
que os fechamentos das escolas no campo caminham na contramão desses
avanços, conforme demonstram vários dados das próprias instituições do
governo. Desde 2002 até 2009, foram fechadas mais de 24 mil escolas no
campo. Com isso, voltamos ao início da construção do que hoje chamamos
de Educação do Campo, que foi a luta dos movimentos sociais organizados
no campo, mais particularmente, o MST, contra a política neoliberal de
fechamento das escolas.
A que se deve o fechamento das escolas no campo?
O fechamento das escolas no campo nos remete a olhar com profundidade
que o que está em jogo é algo maior, relacionado às disputas de
projetos de campo. Os governos têm demonstrado cada vez mais a clara
opção pela agricultura de negócio – o agronegócio – que tem em sua
lógica de funcionamento pensar num campo sem gente e, por conseguinte,
um campo sem cultura e sem escola.
Nesse sentido, os camponeses e os pequenos agricultores têm resistido
contra esse modelo que concentra cada vez mais terras e riqueza, com
base na produção que tem como finalidade o lucro. Nessa lógica, os
camponeses são considerados como “atraso”. Por isso, lutar contra o
fechamento das escolas tem se constituído como expressão de luta dos
camponeses, de comunidades contra a lógica desse modelo capitalista
neoliberal para o campo.
Quais os objetivos da Campanha Nacional contra os Fechamentos das Escolas do Campo?
O primeiro grande objetivo é fazermos um amplo debate com a
sociedade, tendo em vista a educação como um direito elementar,
consolidado, na perspectiva de que todos possam ter acesso. O que
precisamos fazer é justamente frear esse movimento que tem acontecido,
do fechamento das escolas do campo, sobretudo no âmbito dos municípios e
dos estados.
Pensar isso significa garantir esse direito tão consolidado no
imaginário social, como uma conquista social à educação, garantir que as
crianças e os jovens possam se apropriar do conhecimento
historicamente acumulado pela humanidade, que esse conhecimento esteja
vinculado com sua prática social e que, sobretudo, esse conhecimento
seja um mecanismo de transformação da vida, de transformação para que
ela seja cada vez mais plena, cada vez mais solidária e humana.
Colado a isso, temos que fazer esse debate da educação como um
direito básico, e que nós não podemos – do ponto de vista da sociedade –
dar passos para trás nesse sentido, ao negar esse direito
historicamente consolidado.
A educação do campo nasce como uma crítica a situação da educação
brasileira no campo. E essa situação na época revelava justamente o
fechamento das escolas no campo e o deslocamento das crianças, de jovens
e de adultos do campo para a cidade.
Qual o significado do fechamento dessas escolas?
Passado mais de 12 anos do que chamamos de educação do campo, dentro
dessa articulação que foi surgindo pela garantia de direitos, de
crítica à situação do campo brasileiro, vemos esse movimento na
contramão, mesmo já tendo conquistado várias políticas públicas no
âmbito educacional. É preciso que não percamos de vista essa luta pela
educação no campo. Essa luta passa, essencialmente, pela defesa de
melhores condições de trabalho, das condições das estruturas físicas
das escolas e pela conquista de mais escolas para atender a grande
demanda do campo brasileiro.
A região Nordeste representou mais da metade do total de estabelecimentos fechado nos últimos anos. Por quê?
No Nordeste é onde ainda está concentrada a maior parte da população
no campo. Por isso, é maior o impacto nessa região. A exemplo, a
maioria das famílias em projetos de assentamentos de Reforma Agrária
estão no Nordeste. É onde se fecha mais escola e continua sendo uma
região que apresenta baixos níveis de escolaridade da população no
quadro geral brasileiro.
A educação é um direito básico que está consolidado no imaginário
popular como conquista dos movimentos sociais, da população brasileira,
mas tem sido negado. Isso configura um retrocesso histórico em meio aos
avanços tidos no âmbito educacional, a exemplo das resoluções do
Conselho Nacional de Educação, que assegura que os anos iniciais do
ensino fundamental sejam ofertados nas comunidades.
No caso dos anos finais, caso as crianças e jovens tenham que se
deslocar, que consigam ir para outras comunidades no próprio campo – o
que chamam de intra-campo -, mas somente após uma ampla consulta e
debate com os movimentos sociais e as comunidades.
Como trabalhar essa questão nacionalmente tendo em vista que a
maioria das escolas que foram fechadas é de responsabilidade dos
municípios?
Os dados de fato apontam que são os estados e os municípios que tem
fechado. Não poderia ser diferente, já que são estes entes federados que
ofertam de maneira geral a educação básica nesse país, cada qual
assumindo suas responsabilidades.
Em geral, os municípios têm assumido a educação infantil e o ensino
fundamental, e tem ficado cada vez mais para os estados a
responsabilidade sobre o ensino médio. O Ministério da Educação tem
também responsabilidade pelo fechamento dessas escolas, até porque
estamos falando de um espaço de Estado que é a expressão máxima de
instituição responsável pela educação no país.
Não se tem, por exemplo, critérios claros que determine o fechamento
de escolas, que explicitem os motivos pelos quais se fecham, ou em que
medida se pode ou não fechar uma escola no campo.
A escola em um determinado município faz parte de uma rede maior que
são as escolas públicas brasileiras. É nessa visão de país que temos
que pensar. É preciso garantir que a população do campo tenha acesso ao
conhecimento elaborado e que este acesso seja possível no território
em que eles vivem.
De qual maneira a luta pela Reforma Agrária se alinha com a luta pela educação?
Quando falamos de luta pela Reforma Agrária, estamos nos referindo a
uma luta pela conquista de direitos como o da terra e as condições
necessárias para trabalhar e viver, como o direito à educação. Com isso,
vinculamos permanentemente à questão do processo educacional à Reforma
Agrária, pois pensar um projeto de campo e de país, fundamentalmente,
passa também por pensar um projeto de educação.
A história do nosso movimento demonstra que é necessário fazer a luta
pela terra paralelamente à luta por outros direitos, como educação,
cultura, comunicação. Viver no campo é exigir cada vez mais conhecimento
– saber elaborado – para poder viver bem e melhor, cuidando da terra e
da natureza e cultivando alimentos saudáveis para toda a sociedade
brasileira.
Quais são as propostas do MST para a educação do campo?
Primeiro, que o direito à educação deixe de ser apenas um direito
formal, que seja direito real das pessoas que vivem no campo, no sentido
de terem em seus territórios acesso à educação e à escola tão
necessária e importante como para os que vivem na cidade.
O acesso ao conhecimento não deve ser moeda de troca, em que os que
necessitam tenham que comprar, algo tão fortemente presenciado na
educação privada. Que possamos seguir lutando para que nenhuma outra
escola seja fechada no campo ou na cidade. Temos que seguir lutando cada
vez mais para garantir na realidade questões como a ampliação e
construção de mais escolas no campo; com acesso a toda educação básica e
suas modalidades de ensino; acesso à ciência e à tecnologia,
vinculados aos processos de produção da vida social no campo e seus
diversos territórios camponeses, de pequenos agricultores.
Além disso, lutamos para assegurar a formação inicial e continuada
dos educadores nas diversas áreas do conhecimento para atuação na
educação básica, uma vez que são mais de 200 mil educadores no campo sem
formação superior; garantir educação profissional técnica de nível e
superior; e que se efetive uma política pública com a participação
efetiva das comunidades camponesas, dos movimentos sociais do campo.
Qual a importância de que essas escolas sejam voltadas para o campo? Ou seja, que sejam escolas do campo?
Estamos falando de um princípio básico que é da produção da
existência dos sujeitos do campo. Os camponeses, os trabalhadores
rurais, produzem resistência nesse espaço, nesse território. Portanto, o
processo educacional que defendemos é que, além de acessar uma base
comum do ponto de vista do conhecimento, precisamos que as escolas que
estejam situadas no campo possam incorporar dimensões importantes da
vida dos camponeses. Da dimensão do trabalho, da cultura e,
fundamentalmente, da dimensão da luta social – algo que é constante no
campo brasileiro. Nas últimas décadas, vivemos com o avanço do
agronegócio, do capital no campo, que tem se intensificado cada vez mais
e tem expulsado os trabalhadores e trabalhadores que ali vivem. Há uma
resistência no campo, são os trabalhadores, as comunidades camponesas
lutando contra esse modelo. E a escola, de certa maneira, precisa
incorporar na organização de seu trabalho pedagógico essas tensões e
contradições que constituem a realidade no campo brasileiro.
Marcadores:
Direitos Humanos,
educação,
movimentos sociais,
POLITICAS PUBLICAS,
reforma agrária
domingo, 3 de julho de 2011
Sigilo eterno
Como teria sido importante o povo brasileiro ter direito à transparência histórica!
Frei Betto no BrasilDefato
Encerrado
o apocalipse, julgados vivos e mortos na grande assembleia universal
do Vale de Jericó, Matusalém e Noé, encarregados do rescaldo final,
encontraram nos escombros de Brasília, espalhados entre ruínas dos
ministérios, os arquivos ultrassecretos da República.
― Veja só, Noé, esses aqui trazem o carimbo de “sigilo eterno”.
―
Eterno!? Essa gente não deu ouvidos ao que disse Jesus, que tudo
aquilo que se passasse às ocultas seria proclamado nos telhados? Do que
as autoridades brasileiras se envergonhavam? – indagou o ancião da
arca.
― Vejamos esses papéis aqui. Tratam da
Guerra do Paraguai. Eis o relatório da atuação do comandante Luís Alves
de Lima e Silva, o Duque de Caxias... Nossa, Noé, que coisa!... Como
os soldados brasileiros foram cruéis com os paraguaios!
―
Soldados, Matusalém!? Leia isto aqui: escravos arregimentados sob a
promessa de uma liberdade que nunca veio. A maioria teve a morte como
prêmio de combate.
― Nossa, Noé, e o Barão do Rio Branco! Como ele ousou ampliar assim, na cara de pau, as fronteiras do Brasil!?
―
É, Matu, por isso há quem, no Itamaraty, prefira que os documentos
fiquem à sombra das barbas do barão. A história se faz entre heroísmos e
baixarias. Só que sempre foi escrita pelos vencedores, jamais pelas
vítimas. Isso de “sigilo eterno” foi para jogar as infâmias pra debaixo
do tapete.
― Veja isso aqui, Noé, os arquivos da
ditadura militar. Repare neste mapa: assinala quando, quem, como e onde
foram presas, torturadas e assassinadas as vítimas cujos corpos jamais
foram localizados e pranteados por suas famílias. E ainda constam os
nomes dos militares que participaram de torturas, assassinatos e
seqüestros.
― Matu, e este documento aqui, que vergonha!
― Vergonha por quê?
―
São os “decretos secretos” da ditadura. Como um documento público, o
decreto, pode ser secreto? Isso é o mesmo que alguém se apresentar como
ladrão honesto...
― Ora, Matu, vergonhosos são esses papéis que tratam dos governos Sarney e Collor.
― O que há de interessante neles?
―
São dados estarrecedores! Quanta sujeirada em tantos governos do
Brasil! Haja tráfico de influência, corrupção, nepotismo e
favorecimentos. Agora compreendo por que as autoridades brasileiras
sonegaram aos historiadores tantos períodos e fatos da história do
Brasil!
― Naquela pasta ali – disse Noé – estão
as licitações secretas da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016 no
Brasil. Haja maracutaia! Obras que ficariam em quinhentos foram
multiplicadas por bilhões!
― Pena que o mundo
acabou, a história findou e toda essa gente virou pó. Como teria sido
importante o povo brasileiro ter direito à transparência histórica! Com
certeza teria evitado que a nação repetisse tantos erros e reelegesse
aqueles que distorceram os fatos e os encobriram para perpetuarem uma
boa imagem que jamais mereceram.
Frei
Betto é escritor e assessor de movimentos sociais, autor de “Diário de
Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira”, entre outros
livros.
Trabalho escravo na extração de erva mate
Tomado de AGECON – Integrante da RPCC – Rede Popular Catarinense de Comunicação
Força-tarefa flagra trabalho em condições degradantes em SC
Uma força-tarefa formada pela Justiça do
Trabalho, Ministério Público do Trabalho (MPT), Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE) e Polícia Federal encontrou, na última terça (28/6),
trabalhadores em condições degradantes no município de Concórdia, no
oeste de Santa Catarina, trabalhando na extração de erva-mate.
O grupo de três auditores-fiscais do
trabalho, dois policiais federais, uma procuradora do trabalho, um
oficial de justiça, além do juiz titular da vara do trabalho local,
Adilton José Detoni, realizou inspeção judicial na localidade de Linha
Santa Terezinha para verificar uma denúncia de trabalho escravo na
extração de erva-mate.
Logo na chegada, a equipe encontrou cinco trabalhadores, um deles
menor de idade, alojados em uma barraca rústica coberta por lona preta,
sustentada por taquaras e galhos de árvores. A parte dos fundos era
utilizada como dormitório, com colchões e cobertores sobre o chão de
terra. Na parte da frente da barraca, aberta e sem lona, havia uma
fogueira acesa, uma caixa de madeira com gêneros alimentícios, galão
plástico com água, alguns facões, panelas, pratos e copos sobre outra
estrutura feita de galhos e taquaras.
Os trabalhadores foram identificados e
informaram que utilizavam o mato para as necessidades fisiológicas, e a
água do riacho existente nas proximidades para banho e consumo. Recebiam
em média R$ 15 por dia de trabalho na extração de erva-mate destinada à
Ervateira Tiecher, do município de Vargeão. Todos oriundos do município
de Ponte Serrada, disseram estar a serviço de um senhor de nome
Librante, identificado pelos trabalhadores como sendo o capataz que
chegou ao local algum tempo depois, acompanhado de mais cinco
trabalhadores.
Lavrado o auto de inspeção, todos foram intimados a comparecer à VT de Concórdia.
Ajustamento de Condutas
Na audiência, diante do trabalho em
condições degradantes flagrado pela força- tarefa, os envolvidos,
incluindo o dono da terra onde o trabalho era realizado, chegaram a dois
compromissos de ajustamento de conduta (TACs) destinados a sanar as
irregularidades verificadas. Também se chegou a um acordo para pagamento
das verbas trabalhistas devidas e de indenização por dano moral
coletivo.
Fonte: http://www.sindes.org.br
Imagem tomada de /www.clauderioaugusto.com.br
Os três níveis de homofobia
Eduardo Guimarães em seu Blog da Cidadania
Antes de abordar estudo científico que afirma ter isolado a causa
maior daquela que talvez seja a última grande enfermidade social à qual a
humanidade não dedica maiores e suficientes esforços para tratar – e
que, por isso, é hoje a pior enfermidade dessa natureza -, há que
definir o que é homofobia e apontar suas ramificações.
A principal característica dessa enfermidade psicossocial talvez seja
a de se constituir em uma das raras doenças sociais com potencial para
se transformar em doença mental. Isso porque a homofobia se manifesta em
graus de intensidade que podem evoluir, ainda que, uma vez acometido
por ela, entende-se que o indivíduo não consegue se curar completamente.
Durante o mês passado, travei longos debates com homofóbicos de
várias faixas etárias, gêneros, condição social, origem geográfica e
escolaridade. Entre esses grupos, segundo minhas anotações, o grau de
homofobia variou entre o que chamarei de níveis dissimulado, aberto e
obsessivo.
O nível de homofobia dissimulado começa o seu discurso contra os
homossexuais ressalvando que não apóia a violência contra eles e negando
ser preconceituoso. Dali em diante, desata a pregação que está por trás
dos ataques de violência física de que os homossexuais vêm sendo alvo
com freqüência e em quantidade cada vez maiores.
De 2007 para cá, o número de assassinatos de homossexuais causados por repulsa obsessiva à sua orientação sexual cresceu
impressionantes 62%. E o que vem impulsionando esses ataques é o
levante do grupo de homofóbicos abertos. Esse grupo é o mais perigoso
porque trata de tecer todo um discurso “racional” para justificar um
delírio psicossocial.
Os dissimulados não admitem que são preconceituosos. São vítimas
passivas da homofobia por conta de baixa escolaridade ou por educação
familiar preconceituosa, que se origina na baixa escolaridade dos pais
ou avós. Este grupo se abstém de traficar preconceito. Contudo, se
inquirido diz exatamente o mesmo que os outros grupos.
Os níveis aberto e obsessivo de homofobia ocorrem com maior
freqüência entre adeptos da ideologia política conservadora (direita).
Já à esquerda do espectro político, é mais comum encontrar homofóbicos
passivos, pacientes do nível dissimulado da homofobia. A homofobia,
porém, ocorre com muito maior freqüência à direita.
O nível aberto de homofobia é minoria na sociedade e maioria entre os
homofóbicos. Este grupo trata de fazer campanha contra direitos para
homossexuais e causa pânico veiculando a hipótese da “contaminação gay”.
Esse discurso afeta pacientes dos níveis dissimulado, aberto e
obsessivo com menor escolaridade e gera os atos de violência homofóbica.
O nível obsessivo é vinculado a ideologias nazistas e fascistas que
se aliaram à extrema-direita brasileira e que, além de homofóbicas, são
racistas. Esse grupo adota a prática da intimidação dos homossexuais. A
idéia por trás da violência que pratica contra eles é a de induzi-los a
esconder a própria natureza por medo.
A ciência já identificou a principal origem da homofobia. Segundo pesquisa
da Fundação Perseu Abramo, a variável que mais determina o nível de
homofobia é a escolaridade. Há uma grande diferença de preconceito entre
quem nunca foi à escola e quem concluiu o ensino superior (em %). Vejam
o gráfico abaixo.
-
-
É improvável que se cure a homofobia a curto prazo. Através de leis
como a do racismo será possível conter os níveis aberto e obsessivo
dessa enfermidade psicossocial, mas o nível dissimulado sempre existirá.
O que se pode fazer para reduzir drasticamente o problema, portanto, é
melhorar a educação no Brasil.
Marcadores:
critica social,
Direitos Humanos,
homofobia,
movimentos sociais
Assinar:
Postagens (Atom)