terça-feira, 1 de maio de 2012

Baixe o livro Agrotóxicos no Brasil, um guia para ação em defesa da vida

”Embora a agricultura seja praticada pela humanidade há mais de 10mil anos, o uso intensivo de agrotóxicos para o controle de pragas e doenças das lavouras existe há pouco mais de meio século” Flavia Londres.
Veja mais no livro disponível para download AQUI

Quando os trabalhadores perderem a paciência


Mauro Iasi
 Mauro Iasi

As pessoas comerão
três vezes ao dia
E passearão de mãos
dadas ao entardecer
A vida será livre e
não a concorrência

Quando os trabalhadores perderem a paciência
Certas pessoas perderão seus cargos e empregos
O trabalho deixará de ser um meio de vida
As pessoas poderão fazer coisas de maior pertinência

Quando os trabalhadores perderem a paciência
O mundo não terá fronteiras
Nem estados, nem militares para proteger estados
Nem estados para proteger militares prepotências

Quando os trabalhadores perderem a paciência
A pele será carícia e o corpo delícia
E os namorados farão amor não mercantil
Enquanto é a fome que vai virar indecência
Quando os trabalhadores perderem a paciência!

Quando os trabalhadores perderem a paciência
Não terá governo nem direito sem justiça
Nem juízes, nem doutores em sapiência
Nem padres, nem excelências
Uma fruta será fruta, sem valor e sem troca
Sem que o humano se oculte na aparência
A necessidade e o desejo serão o termo de equivalência
Quando os trabalhadores perderem a paciência!

Quando os trabalhadores perderem a paciência
Depois de dez anos sem uso, por pura obsolescência
A filósofa-faxineira passando pelo palácio dirá:
“declaro vaga a presidência”!

Homenagem a quem constrói o Rio Grande com Sabedoria, Coerëncia e Luta!

EDUCADORES também são TRABALHADORES!


Por Nei Sena, Diretoria e Funcionária do 14º Núcleo/CPERS-Sindicato.

"OS TRABALHADORES"

Foto: 15º Núcleo
Frutos de uma evolução constante, o homem e a mulher atuais - e a sociedade como um todo - vêm passando, desde seus primórdios, por uma transformação imensurável: de caçadores por subsistência, para trabalhadores multifacetados nos mais diversos setores!


Com o desenrolar da história da humanidade em seus múltiplos períodos e lugares, o homem transforma-se, de um trabalhador submetido a condições escravas e de espoliação, evoluindo para um trabalhador consciente do seu papel na sociedade. Isto acontece graças a muita Luta da classe trabalhadora que a manteve organizada em sindicatos e, inclusive, com o sacrifício de muitos trabalhadores que morreram em confronto, defendendo direitos de sua categoria.


Nos dias de hoje existem, ainda, muitas Lutas a serem conquistadas como, por exemplo, eliminar as diferenças salarias existentes entre homens e mulheres; Buscar a coerência entre o discurso e a prática na política e no dia-dia; Ver na Educação um caminho de desenvolvimento e de assertiva para o País, ... Estas lutas fazem parte, com toda certeza, de um leque maior de reivindicações da classe trabalhadora.                      

Fonte: 15º Núcleo

Podemos dizer que Dia dos Trabalhadores são todos os dias. Que passa não só pela sua jornada de trabalho, mas que vai do seu despertar ao seu repouso.

Que a democracia no Brasil evolua e se consolide!


Que os Trabalhadores em Educação sejam valorizados de verdade!
Saudações a todos Trabalhadores deste País!

Por Sergio Augusto Weber, Professor e Diretor Financeiro do 14º Núcleo.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Clara Zetkin: Apenas junto com as mulheres proletárias o socialismo será vitorioso


S
Sha
Mulheres trabalham em um Kolkhoz na URSS 

Portal AVERDADE

As investigações de Bachofen, Morgan e outros parecem provar que a repressão social das mulheres coincide com a criação da propriedade privada. O contraste na família entre o marido como proprietário e a mulher como não proprietária se tornou a base da dependência econômica e da ilegalidade social do sexo feminino. Essa ilegalidade social representa, de acordo com Engels, uma das primeiras e mais antigas formas da exploração de classes. Ele afirma:

“Na família, o marido representa a burguesia e a esposa o proletariado”.

No entanto, a questão das mulheres não era questionada neste sentido específico do mundo moderno. Somente o modo de produção capitalista, o modo de produção que criou a transformação social, que levantou a questão feminina destruindo o antigo sistema econômico e familiar, trazendo substância e sentido de vida para a grande massa de mulheres, durante o período pré-capitalista. Nós não devemos, entretanto, transferir para as atividades econômicas femininas antigas aqueles conceitos (como futilidade e mesquinhez) que são ligados às atividades femininas de nosso tempo. Desde que o antigo tipo de família existia, a mulher encontrará nas atividades produtivas, um sentido de vida, mesmo que ela não tenha consciência de sua ilegalidade social e de que seu desenvolvimento de seus potenciais enquanto indivíduo é limitado.

O período do Renascimento é tempestuoso e estressante, no sentido de despertar da individualidade moderna que era capaz de se desenvolver completamente em diversas direções. Encontramos indivíduos que eram gigantes bons e maus que rejeitam os mandamentos das religiões, das concepções morais e desprezam igualmente céu e inferno. Nós descobrimos as mulheres como centro da vida social, artística e política. E, ainda, não existe um traço de movimento feminino. Esta é a maior razão para o antigo sistema começar a ruir sob o impacto da divisão do trabalho. Milhares e milhares de mulheres não mais encontravam sentido na vida no interior da família, mas essa questão, de acordo com o que podemos analisar, foi resolvida na época com conventos, instituições de caridade e ordens religiosas.

As máquinas, o modo moderno de produção, lentamente acabaram com a produção doméstica e não apenas para milhares, mas para milhões de mulheres a pergunta era: Onde encontraremos nosso meio de vida? Onde nós encontraremos um sentido de vida assim como um trabalho que nos dê satisfação mental? Milhões estavam agora forçadas a encontrar seu meio e sentido de vida fora de suas famílias, na sociedade como um todo. Nesse momento, elas se tornaram conscientes do fato de que sua ilegalidade social esteve em oposição com a maioria de seus interesses básicos. A partir deste momento surgiram as modernas questões das mulheres. Aqui estão algumas estatísticas que mostram como o modo de produção moderno funciona para as questões das mulheres, mesmo as mais agudas. Durante 1882, 5,5 milhões das 23 milhões de mulheres e meninas na Alemanha estavam totalmente desempregadas, um quarto da população feminina não encontrava mais seu meio de vida na família. 
De acordo com o Censo de 1895, o número de mulheres empregadas na agricultura, no sentido mais amplo desse termo, havia crescido desde 1882 mais de 8% e no sentido estrito cerca de 6%, enquanto o número de homens empregados na agricultura decrescia cerca de 3% a 11%, por ano. Na área das indústrias e das minas, o número de empregadas cresceu cerca de 35% e o de homens cerca de 28%. No mercado de tecelagem, o número de mulheres empregadas cresceu mais de 94% e o de homens apenas 38%. Apenas esses números mostram muito mais a urgência em se resolver as questões das mulheres do que uma declamação inflamada.

O problema das mulheres, entretanto, está presente apenas entre aquelas classes da sociedade nas quais elas mesmas se tornaram produtos do modo capitalista de produção. Então, não encontraremos tais questões nos círculos camponeses, onde existe a economia natural (embora reduzida e puncionada). Mas, nós certamente encontraremos esses problemas naquelas classes da sociedade em que todas as crianças participam do modo moderno de produção. Existe um problema feminino para cada mulher do proletariado, da burguesia, da intelectualidade, etc. Assume uma forma diferente de acordo com a situação de classe de cada uma.

Como se entende um questionamento feminino na alta sociedade? As mulheres desta classe graças as suas propriedades, podem desenvolver sua individualidade e viver como desejam. Em toda sua vida, entretanto, ela ainda depende de seu marido. A guarda sobre o sexo mais frágil sobrevive na lei da família que afirma: “Ele deverá ser seu mestre”. E qual é a constituição da alta sociedade para que a mulher seja legalmente subjugada pelo marido? Em seus primórdios, essas famílias não seguiam pré-requisitos morais. Não era a individualidade, mas o dinheiro que decidia sobre o matrimonio. Seu mote é: No que o capital participa, moralidade sentimental não deve participar. Então, nessa forma de casamento, duas prostituições são tomadas como uma virtude. A eventual vida em família se desenvolve de acordo com os mesmos termos. Onde quer que a mulher não seja mais forçada a realizar seus deveres, ela transfere seus deveres de mulher, mãe e dona de casa para serviçais pagos. Se as mulheres destes círculos tem o desejo de dar a suas vidas um propósito sério, elas devem, primeiramente, aumentar a possibilidade de dispor de suas propriedades de forma independente e livre. Esta demanda representa o centro das demandas apresentadas pelo movimento feminino da alta sociedade. Estas mulheres, em sua luta pela realização de suas demandas contra o mundo masculino de suas classes, lutam exatamente a mesma batalha que a burguesia lutou contra as classes privilegiadas, ou seja, a batalha para remover todas as diferenças baseadas nas posses das propriedades.

O fato de que esta demanda não lida com os direitos dos indivíduos está provado pela defesa de Herr Von Stumm no Reichstag. Mas quando ele defendeu os direitos de uma pessoa? Este homem, na Alemanha, significa mais do que uma personalidade, ele é o dinheiro em carne e osso e se este homem se apresenta com uma mascara barata pelos direitos das mulheres, então isso só aconteceu porque ele foi forçado a dançar diante da “Arca da Aliança do Capitalismo”. Este é o Herr Von Stumm que sempre está pronto para colocar um basta para seus trabalhadores se eles não dançarem conforme sua música e ele certamente receberia com um sorriso satisfeito se o Estado, enquanto empregador colocasse os professores e intelectuais que insistem em discutir políticas públicas sob suas rédeas também. Os esforços de Herr Von Stumm não almejam nada além do que instituir a posse dos bens móveis no caso da herança feminina, uma vez que existem pais que adquiriram posses, mas não tem como escolher seus filhos, deixando apenas as filhas como herdeiras. Assim, o capitalismo honra a poucas mulheres, permitindo que elas dispusessem de suas fortunas. Esta é a fase final da emancipação da propriedade privada.

Como se apresentam os problemas femininos nos círculos da pequena burguesia, da classe media e da burguesia intelectual? Nesse caso, não é a propriedade que dissolve a família, mas principalmente os sintomas concomitantes da produção capitalista. Neste grau, a produção completa sua marcha triunfal, a classe media e a pequena burguesia estão cada vez mais próximas de sua destruição. Entre a burguesia intelectual, outra circunstância leva à piora das condições de vida: o capitalismo precisa de força de trabalho inteligente e treinada cientificamente. Isso então favoreceu uma super produção de trabalhadores cientificamente qualificados e contribuiu para o fenômeno de que as posições de respeito entre essas classes de profissionais estão se erodindo.

No mesmo nível, entretanto, o número de casamentos está caindo; mesmo com bases materias piores, o aumento da expectativa de vida dos indivíduos, faz com que os homens pensem duas ou três vezes antes de entrar em um casamento. A idade limite para se formar uma família aumentou e o homem não sofre pressão para se casar, pois em nosso tempo existem bastantes instituições sociais que oferecem uma vida confortável a um velho bacharel sem uma esposa legítima. A exploração capitalista da força dos proletários até os níveis mais exaustivos, está ai um grande suprimento de prostitutas que correspondem às demandas desses homens. Então, dentro dos círculos da burguesia o número de mulheres solteiras sempre cresce.

As mulheres e filhas destes círculos são empurradas para dentro da sociedade, elas próprias precisam se estabelecer em suas vidas nas quais não se espera apenas que elas tenham seu sustento, mas também saúde mental. Nestes círculos, as mulheres não são iguais aos homens na forma de donas das propriedades privadas, como elas são nos altos círculos. As mulheres nestes círculos ainda precisam garantir sua igualdade econômica com os homens e elas podem fazer isso a partir de duas demandas: A demanda por treinamento profissional igualitário e a demanda por oportunidades iguais de trabalho para ambos os sexos. Em termos econômicos, isto significa nada menos do que a realização do livre acesso a todos os empregos e competição igualitária entre homens e mulheres. A realização disso desencadeia um conflito entre homens e mulheres da burguesia e da intelectualidade. A competição das mulheres dentro do mercado de trabalho é a força que move a resistência dos homens contra as demandas daqueles que advogam pelos direitos das mulheres burguesas. Pura e simplesmente, medo da competição. Todas as outras razões que são listadas contra o trabalho feminino qualificado, como o cérebro feminino ser menor e a tendência natural das mulheres a serem mães são apenas pretextos. Esta batalha coloca as mulheres deste estrato social diante da necessidade de exigir seus direitos políticos, lutando politicamente, derrubando todas as barreiras que foram criadas contra a sua atividade econômica.

Até então, me posicionei apenas diante da estrutura política básica e pura. Nós iremos, entretanto, cometer uma injustiça contra o movimento burguês pelos direitos das mulheres se nós atribuíssemos apenas motivações econômicas. Não, este movimento também contém um aspecto mais profundo. As mulheres da burguesia exigem não só seu sustento, mas também querem poder desenvolver sua individualidade. Exatamente junto a esse segmento encontramos esta trágica, porém psicologicamente interessante figura “Nora”, mulheres que estão cansadas de viver como bonecas, em casas de bonecas e que querem compartilhar do desenvolvimento da cultura moderna. A economia, bem como a intelectualidade empreendida pelos defensores dos direitos das mulheres da burguesia são completamente justificáveis.

No que diz respeito ao proletariado feminino, foi a necessidade do capitalismo de explorar e buscar incessantemente por uma força de trabalho barata que criou questão das mulheres. Essa também é a razão pela qual o proletariado feminino se tornou parte do mecanismo da vida econômica de nosso período e foi para as oficinas e para as máquinas. Elas saíram para a vida econômica para ajudar seus maridos na subsistência, mas o sistema capitalista as transformou em competidoras desleais. Elas queriam trazer prosperidade para a família, entretanto, a miséria se estabeleceu. As mulheres proletárias se empregaram porque queriam construir uma vida feliz e prazerosa para seus filhos, entretanto, elas ficaram totalmente separadas deles. Elas se tornaram iguais aos homens como trabalhadores; as máquinas davam as forças necessárias e em qualquer lugar o trabalho das mulheres gerava o mesmo resultado que o dos homens. E como as mulheres constituem uma força de trabalho barata e acima de tudo submissas, tanto que apenas raros casos se colocam contra a exploração do capitalismo, os capitalistas aumentaram as possibilidades de trabalho das mulheres na indústria. Como resultado, as mulheres proletárias alcançaram sua independência. Mas, verdadeiramente, o preço para isso foi muito alto e para o momento elas ganharam muito pouco. Se durante a Era da Família, o homem tinha o direito (pense na lei eleitoral da Bavária!) de domar sua mulher com um chicote, o capitalismo está, agora, domando-a ainda mais. Antigamente, o governo de um homem sobre sua mulher era amenizado por sua relação pessoal. Entre um empregador e um empregado, entretanto, existe apenas o vínculo financeiro. O proletariado feminino ganhou sua independência, mas nem como ser humano, nem como mulheres ou esposas elas tem a possibilidade de desenvolver sua individualidade. Para suas tarefas como esposa e mãe, restam apenas as migalhas que a produção capitalista deixa cair da mesa.

Então as lutas pela libertação das mulheres proletárias não podem ser comparadas às lutas que as mulheres da burguesia enfrentam contra os homens de sua classe. Ao contrário, elas devem empreender uma luta unitária com os homens de sua classe contra toda a classe capitalista. Elas não precisam lutar contra os homens de sua classe para derrubar as barreiras que foram erguidas contra sua participação no mercado da livre competição. A necessidade do capitalismo de explorar e desenvolver o modo moderno de produção as libera totalmente de travarem tal briga. Ao contrário, novas barreiras precisam ser erguidas contra a exploração do proletariado feminino. Seus direitos como esposa e mãe precisam ser restaurados e garantidos permanentemente. Seu clamor final não é a livre competição com os homens, mas o poder político nas mãos do proletariado. As mulheres operárias lutam lado a lado com os homens de sua classe contra a sociedade capitalista. Para se ter certeza, elas também concordam com as demandas do movimento feminino burguês, mas elas sabem que a simples realização dessas demandas é uma forma de impedir que o movimento entre na batalha, equipado com as mesmas armas, ao lado de todo o proletariado.

A sociedade burguesa não é fundamentalmente contra o movimento feminino burguês, o que pode ser provado pelo fato de que em vários estados foram iniciadas reformas das leis, em âmbito público e privado. Existem duas razões pelas quais a implementação dessas reformas parece demorar excepcionalmente na Alemanha: primeiramente, os homens temem a competição nas profissões liberais e precisa-se levar em consideração que o desenvolvimento da democracia burguesa é bastante lento e fraco na Alemanha, que não acompanha sua tarefa histórica porque sua classe dominante teme o proletariado. Temem que estas reformas só trarão vantagens para os social-democratas. Quanto menos a democracia burguesa se deixar levar pelo medo, mais estará preparada para realizar tais reformas. A Inglaterra é um bom exemplo. A Inglaterra é o único país que ainda tem uma burguesia verdadeiramente poderosa, enquanto a burguesia alemã, tremendo de medo do proletariado, se intimida em realizar reformas políticas e sociais. Assim como está a Alemanha, existe o fator adicional de visão Filistina ampla. A noção Filistina de prejuízo atinge profundamente a burguesia alemã. Para se ter certeza, este medo da burguesia alemã é muito raso. Garantir igualdade política para homens e mulheres não muda o atual balanço de forças. As mulheres proletárias acabam no proletariado e as da burguesia acabam no campo da burguesia. Não podemos nos deixar enganar pelas tendências socialistas no movimento de mulheres burguês, que só persistirá enquanto a burguesia feminina se sentir oprimida.

Quanto menos a democracia burguesa entende seu papel, mais importante é para a Social Democracia defender a igualdade política das mulheres. Não queremos parecer melhores do que somos. Não estamos reivindicando por um princípio, mas interessados na classe operária. Quanto mais o detrimento do trabalho feminino influenciar na vida dos homens, mais urgente se tornará a necessidade de incluí-las na batalha econômica. Quanto mais a batalha política afetar a existência de cada indivíduo, mais urgente será a participação das mulheres nessa luta. Foi a lei anti-socialista que deixou claro para as mulheres o que significava justiça de classe, Estado de classe e leis de classe. Foi esta lei que ensinou às mulheres a necessidade de aprender sobre a força que intervém tão brutalmente em suas famílias. A lei Anti-Socialista cumpriu com sucesso seu trabalho que não teria sido realizado por uma centena de agitadoras e, portanto, somos profundamente gratas a essa lei que como todos os órgãos do governo (desde o ministério até a polícia local) que participaram e contribuíram maravilhosamente com esses serviços involuntários de propaganda. Então, como podem acusar a nós, social democratas de ingratidão? (Risos) – sic.

Ainda existe outro evento que deve ser levado em consideração. Estou me referindo à publicação de Augusto Bebel, o livro “Mulheres e o Socialismo”. Este livro não deve ser julgado de acordo com seus aspectos positivos ou pelos seus atalhos. Deve ser julgado pelo contexto de quando foi escrito. Foi mais do que um livro, foi um evento – um maravilhoso tratado. (Bastante preciso). O livro apontou pela primeira vez a conexão entre a questão feminina e o desenvolvimento histórico. Pela primeira vez, deste livro soou um apelo: Nós apenas conquistaremos o futuro se persuadirmos as mulheres a se tornarem co-batalhadoras. Reconhecendo isso, não estou falando apenas como mulher, mas como uma camarada do partido.

Quais conclusões práticas nós podemos esboçar para nossa propaganda junto as mulheres? A tarefa que deste congresso do Partido não deve ser resumida a sugestões de detalhes práticos, mas desenhar diretrizes gerais para o movimento de mulheres.
Nossa linha de pensamento deve ser: não devemos conduzir propaganda especial para as mulheres, mas fazer agitação socialista entre as mulheres. Os interesses mesquinhos e momentâneos interesses do mundo feminino não podem ser permitidos nesse estágio. Nossa tarefa deve ser incorporar as trabalhadoras modernas na nossa luta de classes! Não temos tarefas especiais para a agitação junto às mulheres. Essas reformas para as mulheres que devem ser realizadas no âmbito da sociedade de hoje já são exigidas dentro do programa mínimo de nosso partido.

A propaganda das mulheres deve tocar naquelas questões que são de grande importância para todo o movimento operário. A principal tarefa, portanto, de acordar a consciência de classe das mulheres e incorporá-las à luta de classes vigente. A sindicalização das trabalhadoras é extremamente difícil. Durante os anos de 1892 a 1895, o número de trabalhadoras organizadas em centrais sindicais cresceu para cerca de 7000. Se adicionarmos a esse número as trabalhadoras organizadas em sindicatos locais e enxergarmos que ao menos 700.000 mulheres estão envolvidas ativamente nas grandes indústrias, então começaremos a entender o tamanho do trabalho de organização que ainda está a nossa frente. Nosso trabalho se torna mais difícil pelo fato de que muitas mulheres estão ativas na indústria caseira e podem, portanto, ser organizadas apenas com grande dificuldade. Também temos que lidar com a difundida crença entre as garotas jovens que seu trabalho industrial é apenas transitório e que terminará quando se casarem. Para muitas mulheres existe a dupla obrigação de ser ativa tanto na fábrica quanto em casa. O que é mais necessário para as trabalhadoras é obter uma jornada de trabalho legalmente fixada. Enquanto na Inglaterra todos concordam que a eliminação da indústria caseira, o estabelecimento de uma jornada de trabalho legal e o pagamento de salários mais altos são importantes requisitos para a sindicalização das trabalhadoras – na Alemanha, além desses obstáculos, enfrentamos também a obrigação da sindicalização e das assembléias. A completa liberdade de formar coalizões, que era garantida pela lei do Império, foi ilusoriamente retida pelas leis de cada estado federativo. Não quero discutir a forma como tal direito de formar um sindicato é tratado na Saxônia (mesmo que alguém possa falar de um direito lá). Mas em dois dos maiores estados federativos, a Bavária e a Prússia, as leis sindicais são tratadas de tal forma que a participação feminina nos sindicatos tem se tornado cada vez mais impossível. Mais recentemente na Prússia, o distrito do “liberal”, o eterno candidato a ministro, Herr Von Bennigsen tem feito o humanamente possível na interpretação da Lei da Sindicalização e das Assembléias. Na Bavária todas as mulheres são excluídas de reuniões públicas. Na Câmara de lá, Herr Von Freilitzsch declarou muito abertamente que ao lidar com a lei da sindicalização, não apenas o texto, mas também a intenção do legislador deve ser levada em consideração. Herr Von Freilitzsch está na melhor posição para saber exatamente as intenções dos legisladores, todos eles acabaram de morrer, antes deixando a Bavária com mais sorte do que qualquer um pudesse imaginar nos seus melhores sonhos, apontando Herr Von Freilitzsch como seu ministro da polícia. Isso não me surpreende por quem quer que receba um ofício de Deus também recebe a inteligência concomitante, e em nossa Era do Espiritualismo, Herr Von Freilitzsch obteve tanto sua inteligência oficial, como por meio da quarta dimensão, descobriu as intenções dos falecidos legisladores. (Risos.)

Esta situação, portanto, não dá possibilidade para que as trabalhadoras se organizem junto aos homens. Até agora, elas enfrentaram uma luta contra o poder policial e estratagemas jurídicos e, superficialmente, parecem ter sido derrotadas. Na realidade, entretanto, elas se tornaram vitoriosas porque todas as medidas usadas para esmagar a organização das trabalhadoras só serviram para despertar sua consciência de classe. Se quisermos ter uma poderosa organização de mulheres, tanto no aspecto econômico como político, devemos então, primeiramente, cuidar da possibilidade para um movimento feminino livre, lutando contra a indústria caseira, por jornadas de trabalho menores e, acima de tudo, contra o conceito de organização da classe dominante.

Não podemos determinar, neste congresso do Partido, qual forma nossa propaganda entre as mulheres deve tomar. Devemos, primeiramente, aprender como faremos nosso trabalho junto às mulheres. Na resolução que vos foi apresentada, propõe-se para eleger delegadas sindicais, cuja tarefa será a de estimular a união e organização econômica das mulheres e para consolidá-la de maneira uniforme e planejado. Esta proposta não é nova; foi adotada em princípio pelo Congresso do Partido de Frankfurt, e em algumas regiões foi implanado com sucesso. O tempo irá dizer se essa proposta, quando aplicada em maior escala, é adequada para colocar as mulheres em maior medida no movimento proletário.

Nossa propaganda não deve ser realizada apenas de maneira falada. Um grande número de pessoas passivas não estão em nossas reuniões e incontáveis esposas e mães não podem vir. Na verdade, não deve ser tarefa da propaganda socialista alienar a mulher trabalhadora de seus deveres como mãe e esposa. Ao contrário, ela deve ser encorajada a realizar essas tarefas melhor do que nunca. Quanto melhor suas condições em sua família, quanto mais eficiente for em casa, maior será sua capacidade de lutar. Quanto mais ela for modelo e educadora de seus filhos, mais hábil ela será para faze-los continuar na luta com o mesmo entusiasmo e sacrifício que tivemos para a libertação do proletariado. Quando um trabalhador disser: “Minha esposa!” ela pensará “camarada de meus ideais, companheira em minhas batalhas e mãe dos meus filhos, para as futuras batalhas.” Muitas mães e esposas que despertam a consciência de classe em seus maridos e filhos fazem tanto quanto as camaradas que nós vemos em nossas reuniões.

Se a montanha não vai a Maomé, Maomé deve ir à montanha: Nós devemos levar o Socialismo para as mulheres através de uma propaganda escrita planejada. Para tal campanha, eu sugiro a distribuição de panfletos e eu não quero dizer do tradicional panfleto no qual todo o programa socialista e todo o conhecimento científico do século estão condensados em um quarto de página. Não, nós devemos usar pequenos panfletos nos quais se discuta um problema prático de um ponto de vista, principalmente aquele da luta de classes, que é a tarefa principal. E não devemos assumir uma atitude indiferente para a produção técnica de panfletos. Não devemos usar, como é nossa tradição, o pior papel e o pior tipo de impressão. Tal panfleto miserável será amassado e jogado fora pelas trabalhadoras que não tem o mesmo respeito pela palavra impressa do que os trabalhadores. Devemos imitar os norte americanos e ingleses que faziam pequenos livretos de quatro a seis páginas. Pois mesmo uma trabalhadora é mulher suficiente para dizer para si mesma: “Isso é mesmo encantador. Terei que pegá-lo e mante-lo.” As frases que realmente importam devem ser impressas em letras grandes. Então as trabalhadoras não ficarão com medo de ler e sua atenção será estimulada.

Por causa de minhas experiências pessoais, não posso defender a fundação de um jornal especial para as mulheres. Minha experiência não é baseada na minha posição como editora do “Gleichheit” (que não é destinado à massa feminina, mas à sua vanguarda progressista), mas como distribuidora de literatura entre as trabalhadoras. Estimulada pelas ações de Frau Gnauck-Kuhne, eu distribui jornais por semanas em certa fábrica. Eu me convenci que as mulheres lá não só não aprenderam com aquele jornal o que era esclarecedor, mas o que era engraçado e de entretenimento. Dessa forma, os sacrifícios de se publicar um jornal barato não valeriam a pena.

Também criamos uma série de brochuras que traziam o Socialismo mais próximo das mulheres como trabalhadoras, esposas e mães. Exceto pela poderosa brochura de Frau Popp, não tivemos uma só que chegou ao número de requerimentos que precisávamos. Nossa imprensa diária, também, precisa realizar mais do que fez até então. Alguns jornais diários tiveram a intenção de esclarecer as mulheres adicionando o suplemento especial para mulheres. O “Magdeburger Volkstimme” é um exemplo e o camarada Goldstein no Zwickau tem estimulado habilidosamente e com sucesso. Mas até agora a imprensa diária manteve a trabalhadora como assinante, enaltecendo sua ignorância, seu gosto ruim e informe, no lugar de esclarecê-las.

Repito que estou apenas colocando sugestões para vossa consideração. Propaganda entre as mulheres é difícil e onerosa e requer grande devoção e sacrifício, mas este será recompensado e deve ser trazido à luz. O proletariado poderá se libertar apenas se lutar unido, sem diferenciar-se por nacionalidade ou profissão. No mesmo sentido, só se libertará sem a distinção por sexo. A incorporação de grandes massas de trabalhadoras na luta pela libertação do proletariado é um pré-requisito para a vitória do ideal socialista e para a construção da sociedade socialista.

Apenas a sociedade socialista irá resolver o conflito que hoje é gerado pela atividade profissional das mulheres. Uma vez que a família como uma unidade econômica irá desaparecer e seu lugar será tomado pela família como uma unidade moral, as mulheres terão igualdade em direitos, igual em criatividade, será companheira de frente de seu marido; sua individualidade poderá crescer no mesmo tempo e ela cumprirá suas tarefas de esposa e mãe da melhor forma possível.
16 de Outubro de 1896

Tradução de Mayra Garcia da Silva
Movimento de Mulheres Olga Benário, Belo Horizonte

Altamiro Borges: 1º de Maio e a histeria da mídia

no PORTAL VERMELHO


Já virou rotina. Sempre que se aproxima a comemoração do Dia Internacional do Trabalhador, a mídia patronal publica editoriais e “reporcagens” contra o sindicalismo. É a mesma ladainha: as leis trabalhistas são “anacrônicas” e “engessam” o crescimento econômico, há libertinagem nas greves e o Brasil caminha para uma “república sindicalista” – o refrão preferido dos golpistas de 1964.


Hoje, a Folha criticou o fato das centrais sindicais receberem patrocínios oficiais para a realização dos atos do 1º de Maio. Para a mídia patronal, só os patrões deveriam receber recursos públicos – que proveem dos impostos dos trabalhadores – para realizar as suas festivas atividades. Dinheiro público para as elites empresariais, sim; para eventos dos trabalhadores, nunca!

O falso discurso da transparência

Segundo a matéria, que parece ter sido encomendada, “o governo federal dobrou, em três anos, o valor repassado às principais centrais [através de um percentual da contribuição sindical], que preparam festas milionárias para celebrar o feriado do Dia do Trabalho. O bolo destinado às centrais saltou de R$ 62 milhões em 2008 para R$ 124 milhões no ano passado”.

A Folha garante que, “apesar da origem pública, não há nenhuma fiscalização sobre o uso da verba”. Já que é tão transparente, o jornal bem que poderia publicar quanto recebe de publicidade oficial ou de isenções no papel para a impressão; também poderia informar aos leitores quanta grana as empresas e os governos destinam para financiar os seus inúmeros eventos.

Asfixiar financeiramente os sindicatos

Além de criticar os patrocínios às comemorações do Dia Internacional dos Trabalhadores, o diário da famiglia Frias aproveita para satanizar a contribuição sindical descontada na folha de pagamento. Para os empresários, o sindicalismo deveria receber menos recursos. De preferência, deveria morrer à míngua. Desta forma, não promoveria tantas lutas e greves. Não daria tanta dor de cabeça!

Segundo a Folha, o ex-presidente Lula, que teve a sua origem no sindicalismo, beneficiou as centrais ao garantir recursos para a sua atuação. “Nos primeiros quatro anos da regra, as seis centrais receberam um total de R$ 370 milhões. A exemplo do Ministério do Trabalho, todas defendem a cobrança obrigatória, à exceção da CUT”, informa jornal, que sempre pregou o fim deste “privilégio”.

Restrições ao direito de greve

No mesmo rumo da satanização do sindicalismo, editorial do Estadão de segunda-feira passada (23) criticou o aumento do poder de mobilização dos trabalhadores do setor público. Para o jornalão da famiglia Mesquita, que iniciou a sua trajetória publicando anúncios da venda de escravos, o governo deveria restringir drasticamente o direito de greve do funcionalismo.

“Números divulgados pelo Dieese chamam a atenção, mais uma vez, para a urgência de regulamentação do direito de greve de servidores públicos civis. Em 2009 houve 518 greves, o maior número no país desde 1978, com 266 no setor privado, ou 51,5% do total, número ligeiramente superior às 251 greves do setor público... Em 2010, porém, o setor público passou a liderar em número de greves, tendo deflagrado 269 paralisações, 60% do total de 448”.

Que tal o retorno à escravidão?

Para o Estadão, estes números são absurdos. Os servidores deveriam ser reprimidos – ou melhor, sumariamente demitidos. “Com tantas greves e horas não trabalhadas, a máquina do governo, que não prima pela eficiência, é ainda mais emperrada e aumentam os gastos de custeio”. O jornal da famiglia Mesquita culpa os governos Lula/Dilma por não restringirem as greves no setor público.

Sem esconder as suas predileções partidárias, o Estadão apoia descaradamente um projeto do senador Aloysio Nunes, do PSDB, que tramita no Congresso. “O projeto ataca o cerne da questão, definindo com clareza serviços que não podem ser paralisados, em hipótese alguma - abastecimento de água, fornecimento de energia, segurança pública, defesa civil, assistência médico-hospitalar, transporte coletivo, telecomunicações, serviços judiciários, etc”. Ou seja: quase todos os servidores públicos!

Como se observa, a mídia patronal não tolera as lutas dos trabalhadores. O seu desejo insaciável é para retirar direitos trabalhistas, criminalizar as greves e asfixiar financeiramente o sindicalismo. Se pudesse, até proibiria a comemoração do Dia Internacional dos Trabalhadores – como ocorre nos EUA. Ou melhor: ela imporia um decreto pelo retorno da escravidão! Seria bem mais simples.

Rede de supermercados britânica anuncia boicote a produtos de colônias israelenses

Filipe mauro das redação do Opera mundi

Desde 2009, itens israelenses que são vendidos no país trazem uma etiqueta informando o local de origem


Uma das maiores redes de supermercados do Reino Unido, a cooperativa Co-op, anunciou anunciou neste final de semana que não importará mais os produtos agrícolas cultivados nas colônias judaicas da Cisjordânia.
Já há alguns anos que varejistas britânicos etiquetam os produtos com origem em assentamentos israelenses. Contudo, esse é o primeiro caso de ruptura com os fornecedores da região. A Agrexco, cujo principal cliente é a União Europeia, é a maior companhia de produtos agrícolas de Israel e está entre as mais afetadas.
A decisão resultou da forte pressão de grupos pró-palestina que atuam no Reino Unido. Entretanto, em anúncio à imprensa, o grupo Co-op faz questão de ressaltar que esse não é um boicote completo e que continuará a adquirir os produtos de Israel desde que sejam criteriosamente cultivados ou produzidos dentro da Linha Verde, a fronteira de Israel definida a partir do fim do conflito com árabes em 1949.    
Em 2009, o ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown determinou com as grandes redes varejistas do país que os produtos -- manufaturados ou não -- importados de Israel deveriam trazer uma etiqueta que deixasse claro se vinham de Gaza ou da Cisjordânia ou do território determinado pela Linha Verde. À época, Israel se recusou a seguir essas diretrizes e iniciou uma tensão comercial com o Reino Unido.
WikiCommons

Repercussão

Hilary Smith, uma das lideranças do Boycott Israel Network (Rede de Boicote a Israel em inglês), apoiou a decisão da Co-op's alegando que a rede varejista "assumiu uma liderança internacional ao bloquear companhias que são cúmplices das violações de Direitos Humanos por Israel”. Ela agora espera que outras companhias ajam de forma semelhante.
Em replica à decisão, o Ministério das Relações Exteriores de Israel argumentou que "é uma pena ver aqueles que buscam contribuir ostensivamente para a paz e para a reconciliação avançar em uma agenda negativa de boicotes”.

domingo, 29 de abril de 2012

Microcrédito, o negócio da miséria


Ao emprestar somas módicas a fim de possibilitar o desenvolvimento de uma atividade produtiva, o microcrédito deveria emancipar os mais pobres. Mas, na Índia, a lógica dos acionistas triunfou: empresas de microcrédito constroem fortunas vampirizando os mais vulneráveis
por Cédric Gouverneur no LeMondeBrasil
Laksmi e sua esposa Rama não aguentavam mais confeccionar, dia após dia, quase mil beedies(cigarros aromáticos), em doze horas de trabalho, na esperança de ganhar 70 rupias (R$ 2,50) ao final do mês. Esse casal com duas crianças fez então um empréstimo de 5 mil rupias (R$ 180) em uma empresa de microcrédito para abrir uma minúscula lojinha de noz de bétele na periferia de Warangal, no estado de Andhra Pradesh, no sul da Índia. Isso deveria permitir-lhes uma vida melhor, reembolsando 130 rupias por semana. Mas, conta Rama, Laksmi ficou doente: “Durante quatro meses, ele não pôde trabalhar”. Os vencimentos se acumularam e, com eles, os juros. Os vizinhos começaram a ficar agressivos, pois as empresas de microcrédito colocaram em ação um sistema de corresponsabilidade: quando um devedor falha, os outros devem reembolsar. Assediado, aterrorizado, o casal contratou um segundo empréstimo para pagar o primeiro. Depois um terceiro para pagar o segundo... Um total de cinco empréstimos, pelo equivalente a cerca de R$ 2.300.
Os credores acabaram por literalmente acampar diante do casebre de Laksmi e Rama. Depois – em completa ilegalidade – tomaram a lojinha de bétele, o fogão, as joias de ouro e finalmente a máquina de costura com a qual uma das filhas do casal, Eega, de 20 anos, fazia roupas para revender. “Você é bonitinha, vá se prostituir!”, disseram os credores quando ela perguntou como sua família iria conseguir comer. Humilhada, ela se imolou com fogo no dia 28 de setembro de 2010.
“Os pobres têm acesso a um crédito fácil, na porta de casa”, resume Reddy Subrahmanyam, na chefia do ministério do Desenvolvimento Rural do estado. “Mas a que custo! Com os impostos, as taxas de juros beiram os 60%.” Seguindo o espírito de seu inventor, o bengali Muhammad Yunus, Prêmio Nobel da Paz, o microcrédito deveria permitir a aquisição de uma nova fonte de renda, e não atuar como um complemento. Uma nuance fundamental, o microcrédito indiano se assemelha agora aos créditos de consumo: “Os mais pobres contratam créditos para pagar gastos médicos, um dote, um casamento, até uma televisão ou uma peregrinação”, fulmina Subrahmanyam. “O microcrédito deveria emancipar [empower] os mais desfavorecidos, devolver-lhes a dignidade. Agora ele os está afundando na miséria.” E em vez de criar solidariedades, a corresponsabilidade dos devedores implode as comunidades dos vilarejos.
Andhra Pradesh concentra um quarto dos microcréditos privados do país, ou seja, 52 bilhões de rupias (R$ 1,866 milhão) emprestados a 6,25 milhões de lares em 2010.1 “Nos anos 2000”, conta Abhay N., editor do jornal on-line India Microfinance, “o governo regional lançou diversos programas sociais para conter a influência dos maoístas”, cuja guerrilha é ativa na zona rural.2 O estado incitou os bancos a fazer empréstimos aos habitantes dos vilarejos reunidos no seio de grupos de cooperação (self-help groups, ou SHG), ele mesmo se encarregando de uma parte dos juros.
No vilarejo de Dharmasagaram, no distrito de Warangal, uma mãe de família, Bhergya, conta como pôde, graças ao SHG, fazer um empréstimo de pouco mais de R$ 2.300 no banco, com uma taxa de 12% (da qual 9% por conta do Estado) para adquirir um riquexó (carro de duas rodas para transporte de passageiros a tração humana) que ela depois alugou ao irmão: “O aluguel do riquexó me paga 6 mil rupias (R$ 215) líquido por mês, e eu devo reembolsar 2.700”, indica ela, satisfeita.
Mas empresas privadas utilizaram essa rede para abordar os habitantes dos vilarejos e vender créditos para consumo segundo o modelo europeu. Esse desvio se explica pela evolução da maioria dos setenta órgãos de microcrédito indianos, agora guiados por uma só lógica, a do lucro. Número um do setor, a SKS foi fundada em 1998 por Vikram Akula, um trabalhador social diplomado na Universidade de Chicago. A SKS era originalmente uma organização sem fins lucrativos. “Esse statusjurídico a impedia de emprestar dinheiro suficiente”, justifica o porta-voz da empresa na sede social em Hyderabad. “Akula decidiu então, em 2005, fazê-la evoluir para uma companhia financeira não bancária.” Em direito indiano, uma empresa empresta dinheiro, mas não pode receber depósitos. Assim como todos os patrões de órgãos de microcrédito contatados, Akula está “muito ocupado” para nos receber.
Uma ordem recente do governo de Andhra Pradesh (Partido do Congresso) proíbe os coletores de ir ao domicílio de seus devedores e condiciona a contratação de novos empréstimos ao aval das autoridades. Medidas julgadas insuficientes pela oposição: o Telugu Desam Party (TDP), no poder em Andhra Pradesh entre 1999 e 2004, incita os milhões de devedores a parar de pagar.
Na periferia de Hyderabad, encontramos Kaushalya e suas vizinhas. Essa enérgica avó fez um empréstimo para cuidar da saúde de seu marido paralítico. Incapaz de reembolsar, ela deveria ter sido assediada pelas outras devedoras do bairro, obrigadas a pagar em seu lugar. Mas essas senhoras decidiram se unir no enfrentamento e não pagar mais nada: “Não demos mais nada desde novembro de 2010”, dizem elas ao mesmo tempo orgulhosas e graves em seus saris. “As pessoas da empresa de crédito nos ameaçam, dizem que vamos para a prisão, mas nada acontece, a gente nem dá mais atenção a elas!” Tais exemplos de solidariedade nos vilarejos se multiplicam em todo o estado. E as taxas de reembolso afundam, passando de 97% para 20%, até 10%... Enfim, “investigações estão em andamento sobre uns cinquenta suicídios. Os responsáveis pelo assédio deverão responder por seus atos diante dos tribunais”, promete Subrahmanyam.
Sentindo o vento mudar, 39 dirigentes da SKS liquidaram suas stock optionsdesde o começo da crise, no fim de 2010.3 Segundo nossas informações, as empresas de microcrédito se instalam agora no interior profundo, nas cidades dos indígenas Adivasis: isolados, miseráveis, analfabetos, eles são menos suscetíveis a desconfiar... A microfinança indiana poderia tomar para si a tirada do humorista Alphonse Allais (1854-1905): “É preciso procurar o dinheiro onde ele está: com os pobres. Eles não têm muito, mas são muitos...”.
Cédric Gouverneur é jornalista.

Ilustração: Daniel Kondo

1 Narasimhan Srinivasan, “Microfinance India: state of the sector report” [Microfinança na Índia: relatório sobre o estado do setor], SAGE Publications India Pvt Ltd, Nova Déli, 2010.

2 Ler “En Inde, expansion de la guérilla naxalite” [Na Índia, expansão da guerrilha naxalita], Le Monde Diplomatique, dez. 2007.

3 Express India, Nova Déli, 11 fev. 2011.

Incompreensível para as massas - Maiskóvski

Do blog CINEFUSÃO

Entre escritor                            
                        e leitor
                                        posta-se o intermediário,
e o gosto
                            do intermediário
                                                         é bastante intermédio.

Medíocre
                  mesnada
                                    de medianeiros médios
pulula
         na crítica
                        e nos hebdomadários.

Aonde
            galopando
                               chega teu pensamento,
um deles
                  considera tudo
                                            sonolento:
- Sou homem
                        de outra têmpera! Perdão,
lembra-me agora
                             um verso
                                              de Nadson...
O operário
                   não tolera
                                    linhas breves.
(E com tal
               mediador
                               ainda se entende Assiéiev!)

Sinais de pontuação?
                                   São marcas de nascença!
O senhor
                corta os versos
                                         toma muitas licenças.

Továrich Maiacóvski,
                                            porque não escreve iambos?
Vinte copeques
                          por linha
                                         eu lhe garanto, a mais.
E narra
              não sei quantas
                                        lendas medievais,
e fala quatro horas
                                longas como anos.
O mestre lamentável
                                  repete
                                             um só refrão:
- Camponês
                     e operário
                                       não vos compreenderão.
O peso da consciência
                                     pulveriza
                                                     o autor.
Mas voltemos agora
                                  ao conspícuo censor:
Campones só viu
                            há tempo
antes da guerra,
na datcha,
                  ao comprar
                                     mocotós de vitela.

Operários?
                  Viu menos.
Deu com dois
                       uma vez
                                    por ocasião da cheia,
dois pontos
                   numa ponte
                                      contemplando o terreno,
vendo a água subir
                              e a fusão das geleiras.

Em muitos milhões
                               para servir de lastro
colheu dois exemplares
                               o nosso criticastro.
Isto não lhe faz mossa -
                                      é tudo a mesma massa...
Gente - de carne e osso!!

E à hora do chá
                         expende
                                       sua sentença:
- A classe
               operária?
                             Conheço-a como a palma!
Por trás
            do seu silêncio,
                                     posso ler-lhe na alma -
Nem dor
               nem decadência.
Que autores
                     então
                               há de ler essa classe?
Só Gógol,
                 só os clássicos.
Camponeses?
                        Também.
                                         O quadro não se altera.
Lembra-me e agora -
                                    a datcha, a primavera...
Este palrar
                 de literatos
                                    muitas vezes passa
entre nós
                por convívio com a massa.

E impige
               modelos
                              pré-revolucionários
da arte do pincel,
                             do cinzel,
                                              do vocábulo.

E para a massa
                         flutuam
                                      dádivas de letrados -
lírios,
            delírios,
                          trinos dulcificados.

Aos pávidos
                    poetas
                              aqui vai meu aparte:
Chega
          de chuchotar
                               versos para os pobres.
A classe condutora,
                                 também ela pode
compreender a arte.
Logo:
           que se eleve
                                a cultura do povo!
Uma só,
              para todos.
O livro bom
                      é claro
                                   e necessário

a mim,  
              a vocês
                           ao camponês
                                                 e ao operário.

Musica das buenas

Jamelão – Aqui Mora O Ritmo (1962)

download


Créditos: UmQueTenha














Elenco do Teatro da PUC de São Paulo – Morte e Vida Severina (1966)

download








Beth Carvalho – Coração Feliz (1984)

download

Revolução de Abril (II)
Processo Revolucionário e Contra-Revolucionário

Ana Saldanha
Quando passam 38 anos sobre o 25 de Abril de 1974, iniciamos a publicação de três artigos sobre esse momento fundamental da nossa história. Que continua bem presente, por muito que isso doa aos que continuam a sonhar com o que chamam “regime anterior”.

Carregue aqui para ver o artigo (PDF)