sábado, 25 de agosto de 2012

Reforma agrária é aposta para independência alimentar na Venezuela


O país, no final do século XIX, chegou a ser o terceiro exportador mundial de café


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A área rural de El Tigre, município do estado Azoátegui, no oriente venezuelano, parece um formigueiro binacional. O espanhol se mistura ao português. Desde que, em 2009, um convênio entre o Brasil e a Venezuela começou a ser implementado, possibilitando a criação de uma companhia destinada ao plantio e à colheita de produtos agrícolas, chegaram dezenas de trabalhadores brasileiros para ajudar no desenvolvimento do projeto.

O nome do empreendimento: Empresa Socialista José Inácio de Abreu e Lima. Seu batismo é homenagem a um general brasileiro que lutou ao lado de Simón Bolívar nas jornadas pela independência venezuelana. De propriedade estatal, seu objetivo é funcionar como centro produtor e distribuidor da região. Articulada com os agricultores locais, através do apoio às suas atividades e a compra de seus produtos, a Abreu e Lima busca principalmente reforçar a oferta nacional de soja e milho.


Esse ano a empresa prevê estender o plantio a 20 mil hectares, saltando para 25 mil no próximo ano e chegando a 110 mil em 2019. “Atingimos, até agora, 20% de nossa meta”, relata Yhonny Zabaleta, vice-presidente da companhia. “Mas o crescimento tem sido acelerado, ano passado nossa área produtiva era de apenas 4 mil hectares. Mas já começamos a vender soja e milho para todo o país.”

A empresa possui uma estrutura industrial sofisticada para exercer sua função econômica. São quatro silos com capacidade para 10 mil toneladas de grãos cada um, outros seis em construção. O processo industrial é mecanizado e controlado por computadores. Uma fábrica de refino e embalagem de óleo, carne e leite de soja está sendo erguida.

Segundo o presidente da Abreu e Lima, Alfredo Herrera, o consumo anual de soja é de 1,2 milhão de toneladas, quase tudo importado. “Se você não tem soja, não desenvolve a pecuária, a produção de ovos, a piscicultura, porque a soja é a mais barata fonte de proteína”, constata o dirigente. “Mas atualmente nossa produção não chega a cem mil toneladas, quando apenas o consumo de óleo de soja é de 1,5 litro por habitante.”

Dependência

Iniciativas com Abreu e Lima fazem parte de um esforço para reverter uma das heranças malditas do modelo econômico que se consolidou na Venezuela durante o século XX. Beneficiado pela renda petroleira, o país trocou sua base agrícola e sua perspectiva industrial pelo recurso ao comércio exterior.

A Venezuela, no final do século XIX, chegou a ser o terceiro exportador mundial de café, atrás apenas do Brasil e das ilhas holandesas. Mas as facilidades das receitas com o petróleo e a concentração do Estado e capitais nesse ramo incomparavelmente lucrativo colocaram a agricultura de joelhos. No início do governo Chávez, o país importava 70% dos alimentos e a atividade rural não chegava a 5% do PIB.

“Praticamente tínhamos uma economia baseada na agricultura de porto” explica Javier Alejandro Ramos, vice-ministro da Agricultura. “Todos os alimentos que ingressavam no país chegavam pela via de importação. Importávamos até feijão enlatado.” Sem assistência técnica, financiamento, maquinário e incentivos, a produção rural era de subsistência e em poucas culturas havia produção significativa. “Saia mais barato comprar alimento fora”, registra Ramos.
Opera Mundi

Ramos: "Todos os alimentos que ingressavam no país chegavam pela via de importação. Importávamos até feijão enlatado."

O governo decidiu enfrentar essa chaga histórica através de um conjunto de medidas elencadas na Lei de Terras e Desenvolvimento Agrário, aprovada no final de 2001, que desde então fixa os parâmetros para políticas de reforma agrária. A nova legislação passou a proibir uma única pessoa de possuir mais que cinco mil hectares, estabeleceu impostos progressivos sobre propriedades, adotou mecanismos para desapropriação de latifúndios improdutivos e determinou a recuperação de áreas públicas ilegalmente ocupadas.

“Os quatro eixos principais da nossa política são distribuição de terras, financiamento ao setor agrícola, assessoramento técnico e distribuição de alimentos”, destaca o vice-ministro. “A autossuficiência é uma meta fundamental de nossa revolução.”

Nos últimos treze anos, mais de 6,4 milhões de hectares foram regularizados e distribuídos entre 168 mil famílias. Os bancos, públicos e privados, passaram a ser obrigados a oferecer uma carteira de créditos para o financiamento dos camponeses. Os fundos financeiros aportados pela renda do petróleo viabilizaram programas de alimentação escolar e de distribuição subsidiada de alimentos nas cidades, obrigatoriamente abastecidos pelas terras da reforma agrária.

Os registros do Ministério da Agricultura demonstram que o Banco Agrícola da Venezuela emprestou aos produtores rurais 1,22 bilhões de bolívares em 2010, cifra 6.352% maior que em 2006. Desde a criação do Fundo para o Desenvolvimento Agrário Socialista (Fondas), em 2008, mais de 3,7 bilhões de bolívares foram emprestados aos agricultores do país.

As fazendas privadas produtivas não foram alcançadas pelas desapropriações, mas o Estado passou a ser o grande vetor da atividade agrícola.

Corporações agroindustriais

Apesar do patamar de importação alimentar continuar próximo aos 70%, autoridades governamentais analisam que ocorreram avanços estruturais no quadro agrário. O consumo energético por habitante subiu de 2,2 mil calorias em 1998 para 3,2 mil em 2011, sem aumentar as compras no exterior. A produção nacional de carne bovina, por exemplo, já atende 78% da demanda. A de arroz, 96%. A de leite, 64%.
Opera Mundi


A estratégia governamental combina ampliação da agricultura familiar com grandes corporações estatais. Essas empresas, além de terem sua própria produção, compram a safra dos pequenos agricultores e das cooperativas locais, além de fornecerem crédito e assistência.

Também distribuem os alimentos nas cidades, tanto através da rede privada quanto do sistema Mercal, controlado pelo governo e com preços subsidiados. Vários desses projetos contam com apoio e sociedade da PDVAL, o braço agrícola da gigantesca estatal do petróleo, que canaliza parte de seus lucros para programas de reforma agrária.

Companhias agroindustriais desse tipo, estatais que articulam a produção regional com o mercado nacional, parecem ser uma grande aposta de Chávez. Várias delas, em diferentes ramos, proliferam por distintas províncias. Empresas como a Los Andes, de engarrafamento de leite, sucos e água; Café Fama da América; Café Venezuela; Cacao Oderi, de chocolates.

O próprio estatuto dessas companhias determina o papel social. “A Abreu e Lima está obrigada a dar suporte para as comunidades da região, em uma área de 30 quilômetros ao redor da área industrial”, explica Pedro Orellana, coordenador de Gestão Comunitária. “Há 711 pequenos e médios produtores beneficiados pela empresa, em 19 comunidades indígenas e criolas.”

Segundo dados oficiais, a produção de alimentos na Venezuela, entre 1988 e 1998, cresceu 8%, de 15,9 milhões de toneladas anuais para 17,1 milhões. Em 2010, esse volume tinha subido para 25 milhões de toneladas, representando um aumento de 44% da produção agrícola nacional durante a era Chávez.

O fato é que o venezuelano passou a comer mais e a ter mais alimentos nacionais no prato, apesar de ainda estar longe de ser superada a dependência do mercado mundial.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

País menos desigual da América do Sul, Venezuela é cenário de forte confrontação política


Fenômeno acontece apesar da redução da diferença de renda e da manutenção do padrão de consumo dos mais ricos


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no blog OPERAMUNDI

Um dos paradigmas mais aceitos na ciência política, ao estudar comportamentos eleitorais, está na constatação que a diminuição dos abismos sociais e o fortalecimento da classe média tendem a enfraquecer o embate político-ideológico. Quem for aplicar essa lógica na Venezuela, porém, dará com os burros n'água. A disputa entre os campos chavista e antichavista se acirra na mesma proporção em que o país se torna socialmente mais homogêneo, alcançando o topo do ranking sul-americano de distribuição da renda.


“A politização de todas as classes sociais, radicalizada desde a eleição do presidente Chávez, conduz a um posicionamento que vai além de interesses imediatos dos diversos setores”, analisa Jesse Chacon, diretor da GIS XXI (Grupo de Investigação Social Século XXI). “Aqui esquerda e direita, governo e oposição, vão às ruas para disputar projetos nacionais, que ultrapassam reivindicações pontuais, benefícios econômicos ou avanços sociais.”

Opera Mundi

Jesse Chacón: "proprietários dos meios de produção estão deixando rapidamente de ser os donos do poder político"

Participante da rebelião militar de 1992, quando o atual presidente lançou-se na tentativa de derrubar a IV República, Chacón era então um jovem tenente que acabou atrás das grades junto com seu chefe. Engenheiro de sistemas e mestre em telemática, já foi ministro das Comunicações, do Interior e de Ciência e Tecnologia no atual governo. Com 46 anos, dedica-se a estudar a dinâmica político-social da Venezuela.

“O ponto central de tensão é que os proprietários dos meios de produção estão deixando rapidamente de ser os donos do poder político, o que provoca forte reação dos extratos mais altos e seu entorno”, ressalta. “A renda média dos 20% mais ricos não foi afetada, tampouco seu estilo de vida, mas percebem que não detém mais o comando sobre o Estado e a sociedade, o que lhes provoca medo e raiva.”

Nos setores mais pobres, atendidos por amplo repertório de políticas sociais e distributivistas, o comportamento é igualmente ditado por motivações que extrapolam conquistas ou expectativas econômicas. A combustão dessas camadas, tendo na melhoria de vida seu pano de fundo, determina-se também pelo esforço do presidente em travar permanentemente batalhas por ideias e valores.

Desde o início de seu governo, mas de forma mais ampla depois do golpe de Estado em 2002, Chávez trata de ocupar o máximo de espaço nos meios de comunicação. Seu discurso é voltado, quase sempre, para identificar cada movimento de seu governo como parte de um processo revolucionário, ao mesmo tempo em que fermenta entre seus seguidores um sentimento de repulsa aos adversários das mudanças em curso.
Efe (08/08/2012)

Chávez inaugura unidade de supermercado popular em Caracas. Evento foi transmitido ao vivo pela televisão

Avesso à lógica da conciliação, o presidente fez uma aposta pedagógica que aparentemente tem sido bem-sucedida: quanto maior a polarização, quanto mais cristalino o confronto entre pontos de vista, mais fácil seria criar uma forte e mobilizada base de sustentação. Para os bons e os maus momentos.

A princípio, o fio condutor da pedagogia chavista foi o resgate da história e do pensamento de Simón Bolívar, o patriarca da independência venezuelana, chefe político-militar da guerra anticolonial contra os espanhóis no século XIX. Por esse caminho, Chávez imprimiu ao seu projeto forte marca nacionalista, que contrapôs aos novos senhores coloniais (os Estados Unidos) e seus aliados internos (a elite local).
Aos poucos, juntou-se ao bolivarianismo original a sintaxe do socialismo histórico. Esse amálgama entre nacionalismo de raiz e valores da esquerda passou a ser difundido amplamente como código cultural que dá cara e cor às realizações do governo. O presidente foge, assim, da receita na moda, mesmo entre correntes progressistas, de carimbar a política como uma questão de eficácia. Para usar o velho jargão, Chávez é um político da luta de classes, na qual aposta para isolar e derrotar seus inimigos.

Opera Mundi

Fio condutor da pedagogia chavista foi o resgate da história e do pensamento de Simón Bolívar, patriarca da independência

A oposição, animada pela predominância nos meios de comunicação, também colocou suas fichas no enfrentamento aberto. Além das reservas midiáticas, sempre contabilizou a seu favor forças econômicas e relações internacionais para mobilizar as camadas médias contra o governo. Mesmo após o golpe e o locaute de 2002, no auge da polarização, os partidos antichavistas deram continuidade à estratégia da colisão.

Classe C

Mas ambos os lados atualmente têm que levar em conta um novo fenômeno. Mais de 30% da população trocou de extrato social. Migraram dos segmentos mais pobres para o que a sociologia das pesquisas chama de classe C – mais propriamente, viraram classe média.

O campo opositor se vê obrigado a reconhecer certos avanços no terreno social, ao contrário do rechaço absoluto anterior. A campanha de Capriles promete preservar as missões sociais, apesar de propor em seu plano de governo a eliminação do Fonden, fundo de financiamento dos programas abastecido com dinheiro do petróleo. Além disso, modera relativamente sua mensagem, para poder dialogar com os setores beneficiados pela V República.

Para os governistas também surgem novas questões. “O problema do processo é disputar corações e mentes desse novo contingente de classe média”, afirma Chacón. “Muitos dos que ascenderam socialmente graças às iniciativas governamentais abraçaram os valores morais e culturais das elites, cujo modo de vida é sua referência”. O ex-militar focaliza especialmente a preservação das aspirações consumistas, o desapego a projetos e organizações coletivos, a negação da identidade original de classe e, às vezes, até de raça.

As pesquisas diversas, tantos as do GISXXI quanto dos institutos próximos à oposição, apontam que emergiu, nos últimos anos, um grupo de eleitores informalmente referidos como os ni-ni . Ou seja, sem alinhamento automático com Chávez ou com seus inimigos. A maioria de seus integrantes é parte dessas camadas ascendentes.
Os ni-ni chegam a representar ao redor de 40% dos eleitores, contra igual montante de adeptos firmes do chavismo e 20% de oposicionistas fiéis. A esquerda, contudo, tem colhido resultados que ultrapassam suas fronteiras, graças à combinação entre satisfação popular com programas governamentais (especialmente o da habitação) e o clima afetivo de solidariedade provocado pelo cãncer de Chávez. O presidente vem beirando, nas pesquisas mais confiáveis, os 60% de intenção eleitoral para o pleito de outubro, abrindo vantagem de 15% a 30% contra Capriles.

Efe (11/08/2012)

Capriles faz campanha no rio Oricono. O candidato da oposição luta para conquistar parte dos votos dos "ni-ni"

Esses números indicam que os ni-ni estão se repartindo entre os dois polos. Apesar de essa tendência ser favorável à reeleição do presidente, até com certa folga, a busca dos apoios nessa fatia do eleitorado continua frenética. “Se a campanha de Chávez reconquista uma parte maior desse setor, poderá ser construída uma vantagem ainda mais expressiva”, destaca Chacón.

Estratégias

Um dos aspectos da estratégia para vencer resistências entre esses setores híbridos, ao que parece, é desmontar a ideia, em grande medida forjada pelos veículos de comunicação vinculados à oposição, de que Chávez pretende liquidar com a propriedade privada e colocar toda a atividade econômica nas mãos do Estado.

“O processo aumentou o número de proprietários no país, especialmente depois que começou a reforma agrária”, afirma o diretor da GISXXI. “O programa da revolução se volta contra os monopólios, fortalece o Estado, mas abre espaço para vários tipos de propriedade, de caráter privado, cooperativo ou social. O governo precisa definir melhor o papel de cada uma dessas modalidades para enterrar a imagem de fundamentalismo estatista que a oposição tenta vender.”

O candidato oposicionista, por sua vez, tem problema inverso. Representante de uma aliança formada por grandes empresários (como a cervejaria Polar, o grupo agroindustrial Mavesa e companhia alimentícia Alfonzo Rivas, entre outros), Capriles precisa convencer que é capaz de absorver ao menos parte das medidas que, desde 1999, favoreceram os 80% de eleitores que não estão nas classes A e B.

Seu programa de governo não ajuda muito. Mesmo tendo abrandado suas críticas às políticas sociais do presidente, o ímpeto privatista está presente e com força. Não apenas fala em reduzir o Estado, reverter nacionalizações ou tirar a PDVSA do controle estatal, mas defende explicitamente que as terras desapropriadas dos grandes latifundiários voltem às mãos dos antigos donos. “Primeiro, precisamos acabar com as expropriações, devemos trazer a segurança ao campo, dar confiança a partir do governo”, afirmou Capriles em recente coletiva de imprensa.

Qualquer que seja o resultado, no entanto, a administração de Hugo Chávez terá conseguido um feito que merece análise apurada de cientistas políticos. Ao contrário do que acontece na maioria dos países, nos quais o marketing domesticou a política e oculta a disputa de ideias para atender o gosto do eleitor. Na Venezuela sequer as necessidades eleitorais diluem a batalha frontal entre programas.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

“Não gastamos um copeque sequer com publicidade”


 
Kristina e seu marido Dmítri se mudaram há dois anos para a aldeia de Medoveevka, a 10 quilômetros de Krasnaia Poliana, onde se dedicam à produção de sabonetes artesanais.
 
“Não gastamos um copeque sequer com publicidade”
A grande maioria dos produtores de sabão industriais não perde tempo com reações químicas. Foto: Mikhail Mordásov

Na cozinha de Kristina Suderovskaia, artesã que fabrica sabonetes com suas próprias mãos, tudo tem um aspecto comestível e apetitoso. Na mesa há óleos de girassol e de oliva; em uma panela em fogo brando são derretidos blocos de óleo de coco e em outra, de palmeira.

Há leite de cabra, mel, ovos, folhas secas de eucalipto, botões de rosa e cestas de ervas frescas, colhidas todas as manhãs. Sobre a mesa há ainda um arsenal de frascos e garrafinhas com essências e substâncias.
Imagens:


Os ingredientes necessários para fabricar o sabonete não são mistério algum. Ali estão, anotados em folhas de papel sobre as prateleiras. As receitas são precisas, e calcula-se a proporção dos elementos até o último grão. A única coisa difícil é reproduzir uma receita do autor com a mesma exatidão.

Há três anos, Kristina Sudarevskaia, seu marido Dmítri e as filhas pequenas do casal se mudaram de Moscou para uma pequena aldeia montanhosa, Medoveevka, localizada a dez quilômetros de Krasnaia Poliana, em Sôtchi.

Os problemas de comunicação e eletricidade são comuns na região. A neve cobre as casas até o teto durante o inverno, enquanto ursos visitam com frequência os plantações de maçã no verão. No entanto, o ar e a água são puros, e as florestas e pastagens estão cheias de espécies da flora ameaçadas de extinção.

Não é preciso dizer que os muitos parentes e amigos de Cristina usam seus sabonetes e xampus artesanais. Qualquer novidade é testada primeiro na família, incluindo a filha mais velha Milana e a mais nova, Vlada, com apenas dois anos de idade.

Diferença de qualidade

Segundo Kristina, as pessoas ficam um pouco céticas em relação aos produtos. Primeiro compram em pequenas quantidades para testar, mas depois voltam para adquirir mais. “A diferença entre um sabonete artesanal e industrial é evidente”, rebate.

“Eu entendo, é realmente difícil de acreditar que posso fazer sabonete com leite de cabra, suco de cenoura fresco ou chá de margarida”, diz Kristina. “Por que usar componentes naturais, quando existem corantes baratos, aromatizantes e substitutos de todo tipo?”

Os moradores de Medoveevka seguem a tradição dos antigos produtores de sabonete; combinam gorduras vegetais com uma solução aquosa de soda cáustica (hidróxido de sódio) que provoca uma reação química. Ainda quente, são misturados os demais ingredientes, como óleos, infusões, leite e mel, entre outros.

A grande maioria dos produtores de sabão industriais não perde tempo com reações químicas. Eles usam uma base pronta para fabricação de sabonetes, que geralmente contêm uma quantidade enorme de substâncias nocivas, incluindo compostos de metais pesados.

Se você vir sobre o balcão algum sabonete artesanal transparente, liso e brilhante, é mais provável que tenha sido feito com qualquer uma dessas bases. O sabonete caseiro é esbranquiçado, um pouco turvo, e sua aparência é a mesma de uma barra de sabão comum.

Prazer em trabalhar

Kristina produz sabonetes artesanais há seis anos. Ela começou com algumas barras para uso pessoal e para amigos. Atualmente produz cerca de quatro toneladas de produtos por ano: sabonetes, xampus, géis, pomadas, esfoliantes e cremes.

Com o nome de “Sabonete Krasnaia Poliana”, seus produtos estão distribuídos em salões de spa, casas de banho turco, lojas e pontos de vendas de cosméticos naturais.  O sabonete de Medoveevka também recebe encomendas de clientes particulares da Rússia e do exterior.

“Não gastamos um copeque sequer com publicidade”, conta Dmítri Serov, marido de Kristina. “O marketing boca-a-boca funciona, e eu mesmo sou o gestor da marca”, completa.”

A proposta de fazer esse trabalho, segundo ele, não é comprar um iate no dia de amanhã. “Estamos fazendo isso para dar uma oportunidade aos nossos netos. Só um produto de qualidade pode ser lucrativo. As pessoas acreditarão nele e em 10 ou 20 anos continuará no mercado”, afirma.

Kristina ainda considera sua atividade como um hobby, e não uma empresa. Toda a renda obtida com as vendas e uma parcela significativa do salário do seu marido são gastos no desenvolvimento do negócio, incluindo matéria-prima, papel para embalagem, garrafas e jarras, trabalhos de designer e produção de etiquetas.

Assentados no fim do mundo


Madre Terra é um assentamento que está no meio do caminho: a 80 km de estradas de terra do centro de São Gabriel e 65 km do município de Santa Maria. Tão distante, que tem gente que chama de fim do mundo. Era uma noite de inverno gaúcho quando os caminhões trouxeram as 108 famílias para os lotes. A chegada também foi a partida para três delas: nem deixaram a mudança descer da caçamba. Era longe demais, isolada demais, triste demais aquela antiga Fazenda Santa Rita para refazer ali a vida. Um mês inteiro de chuvas e enchentes esperavam pelos novos assentados; a cada semana uma família ia embora. Os que restaram, contam em 70% o índice de desistência.
Não há quem não tenha pensado e não pense ainda em desistir também do seu lote. Muita gente adoeceu. Como é difícil chegar à cidade, teve criança que nasceu na beira da estrada, aparada pela jaqueta do pai. Um senhor foi encontrado morto no seu lote de terra, não se sabe quantos dias depois de falecer. Como em Morte e Vida Severina, a cova é a parte que lhe coube deste latifúndio.

Desde que acampei regredi muito

É de manhã e Adair da Silva, o Tito, tem pouca bóia para dar aos porcos. Cinco dos oito animais fugiram do cercado ao lado da casa para tentar melhor sorte no pasto ralo. Outros morreram quando Tito teve que escolher entre deixar os bichos livres para comerem ou preservar a pequena plantação de milho que tinha cultivado. Quando os soltou para que buscassem a sobra da lavoura, já estavam fracos demais.
Força é quase tudo o que o agricultor tem. Tito foi um dos que trocaram a Região Metropolitana de Porto Alegre pra tentar vida melhor nas terras da reforma agrária. Por enquanto é só arrependimento: “Desde que acampei regredi muito. Minha família nunca passou tanta necessidade como agora no assentamento. Vendi minha casa e todas as coisas que tinha. Tu sai da cidade mais ou menos, chega aqui e perde tudo o que tem, volta de novo a nada. Muitas vezes tivemos que escolher entre almoçar e jantar, porque as duas refeições não dava pra fazer.”
É com amargura que ele conta terem que beber água de uma sanga podre, suja com merda de bugios e outros animais do mato. O caminhão pipa da Prefeitura traz água potável, mas sempre dura pouco. Só por causa dos filhos (dois deles também assentados) que ainda não desistiu, mas diz que pensa nisso todos os dias. Sabe que a “peleia” na cidade também é grande, por isso quer insistir mais um pouco. Antes de acampar, morava numa favela em Canoas, uma das cidades com mais pobreza ao redor de Porto Alegre.
Na mesma tarde ensolarada, Antonio Valmir da Silva (o Déio), irmão de Tito, conserta uma grade de arado a marteladas, num lote próximo. Quando está preparando o terra para o plantio, ele faz até sete nebulizações por dia. Déio sofre de enfisema pulmonar e nódulos no pulmão esquerdo.
É o filho quem o carrega para dentro de casa, buscar o ar que lhe falta no nebulizador. Se ainda estivesse sem eletricidade, talvez não vivesse mais. A carência de energia elétrica foi resolvida no improviso – fez-se um “gato” – porque as redes regulares ainda não existem no assentamento. Mas quando usa o aparelho, tem que desligar inclusive as lâmpadas, porque senão a energia cai.
Já foi pior. No período em que estavam totalmente às escuras, muitas vezes Déio levantava no frio da madrugada, “cangava” o cavalo para correr no campo, pegar um vento na cara e enfiar nacos de ar pra dentro dos pulmões cansados. A neta nascida há três meses e morando na casa em frente vai seguindo a sina do avô, com bronquite asmática e os aparelhos para nebulização.
Déio gasta muito com remédios. Já deixou de ir a consultas médicas por não ter o dinheiro da passagem do ônibus. Para sua esposa Eonilda Morais lhe acompanhar até a cidade são 72 reais, dinheiro que a família não tem. Vivem com 140 reais por mês do Bolsa-Família. Plantam tudo o que dá, mas nem sempre conseguem colher. A seca deste ano acabou com todo o milho. E o que a terra devolve é apenas para a família, porque o excedente não tem para quem vender. “Ficaram de arrumar um caminhão para buscar carga no assentamento, mas por enquanto nada. Nem as escolas compram”, se queixa a assentada.
A doença já os fez irem embora do lote para tratamento médico, em 2011. Perderam o direito à terra. Depois de negociarem o retorno com o Incra, o acerto era ficar num assentamento mais perto do cidade, mas um erro burocrático não permitiu. “Morro, mas daqui não desisto mais”, promete Eonilda. Para este lugar se tornar uma “maravilha” ela pede luz, água e a visita de um médico, uma ou duas vezes por mês. Não é muito. “Nos sentimos enganados não só pelo Incra, mas por todos. Uns dizem uma coisa e outros dizem diferente. A gente não sabe quem fala a verdade, a gente só espera. Esse assentamento faz três anos que existe só na promessa.”
Permanecer no Madre Terra é uma provação. Muita gente chega no seu lote sem saber o que vai passar. Para Vanice Capeletti e a família, foram longos cinco anos e quatro meses acampados esperando o momento de descobrir o que é ser abandonado. “A terra era tudo o que eu sonhava. No acampamento é uma conversa de mil maravilhas, de projetos acontecendo, de tudo se agilizando. Chegando na terra, os recursos não vêm, não há nada que nos incentive a ficar, a produzir. Chegamos aqui com uma mão na frente e a outra atrás. Por que eles não cumprem o que prometem? As pessoas pensam que a gente não produz porque é vagabundo. A gente não consegue produzir porque não tem como.”
E na pá e na enxada Vanice e Preto, seu companheiro, têm feito muito, mesmo sem nenhum apoio. Criam galinhas e cultivam mandioca, melancia, batata, abóbora, mogango (espécie semelhante à moranga, e tradicional na culinária da região). Mas não conseguem vender para o comércio pelas dificuldades estruturais: “O que se produz aqui dentro, ou vendo para algum companheiro daqui ou dou para os bichos que crio”. Enquanto isso, o casal aguarda pelo projeto que criará um serviço de recolhimento de leite, que ainda não existe, para tentar garantir alguma renda fixa no mês. Chegar ao Madre Terra não foi uma escolha. “Queriam (os políticos) se ver livres dos acampamentos. Quando nós fomos despejados do acampamento de Nova Santa Rita, o Incra nos deu duas alternativas: ‘ou vocês vão pra São Gabriel, ou peguem as suas coisas e vão embora’. Então a gente veio. Mas só fica quem tem força e coragem pra viver aqui.”

Em coletivo

Faz três dias que os irmãos Punk (Ademir Buratti) e Rudi (Rudinei Buratti) cavam um buraco à pá e enxada, cortando pedaços de um chão arenoso e empedrado: “Estamos tentando construir um açude pra ver se durante o inverno, quando chegar a chuva, reserva água aqui pra nós podermos dar pelo menos para os bichos. A gente sabe que com meia hora de uma retroescavadeira isso poderia estar pronto. Mas como não tem, a gente faz com as próprias mãos”, explica Rudi.
Os irmãos fazem parte de um coletivo dentro do Madre Terra formado por jovens que realizaram a formação em agroecologia do MST – a Comuna Pachamama. Cada um tem seu próprio barraco ainda improvisado e dispostos um perto do outro, no local onde deve ser a agrovila que planejam. Há uma cozinha coletiva, onde fazem as refeições juntos. Tudo o que é produzido na terra ou trazido de fora é compartilhado e cada um tem uma tarefa definida.
É maio, e a seca castiga São Gabriel há muitos meses. Felipe Biernaski, outro integrante da Comuna, cruza a cerca de arame farpado e busca de baldes, no açude da fazenda vizinha ao assentamento, a água pra matar a sede das hortaliças que estão plantando: “Estamos sempre travando na questão da água, porque não existe como ter uma horta comercial sem irrigação que a suporte. Mesmo que a gente conseguisse fazer um poço por conta, com autorização do órgão ambiental responsável, sem luz não tem como bombear a água”.
A água que existe para uso agrícola serve só para produzir arroz. Os poucos que têm os lotes na área de várzea, um banhado alagadiço naturalmente, estão produzindo arroz ecológico, em parceria com a Cootap (Cooperativa de Assentados da Região de Porto Alegre) que hoje organiza a maior produção brasileira de arroz orgânico. A Cootap entra com prestadores de serviço e maquinário para plantar e colher. Os assentados fazem a manutenção. O acordo é metade dos rendimentos para cada parte. Acontece que se atrasou o plantio e a colheita, por problemas com as máquinas alugadas, e agora alguns vão ficar sem renda ou ainda devendo para a Cooperativa.
É a situação dos integrantes da comuna Pachamama, que juntos plantaram 14 hectares de arroz. “Dois grupos, um por azar foi o nosso, têm arroz caindo de seco no pé. E o que a gente não conseguiu colher, por ter atrasado tanto a colheita, o arroz torrou com o sol e serve só para quirera(farelo usada para ração). Vamos pegar um preço de mercado muito inferior. Perdemos o fruto do nosso trabalho por falta de estrutura e organização. Ano passado teve o mesmo problema. A maioria dos grupos do assentamento derrapou no arroz de novo. O ponto de colheita era um mês atrás. Vai ficar para os passarinhos”, lamenta Felipe, com os cachos secos da planta nas mãos.
Cedenir de Oliveira, da direção estadual do MST, acredita que a falta de experência dos assentados contribuiu para as perdas na lavoura, mas faz coloca o cultivo como um grande mercado para a produção agrícola do Madre Terra. “As famílias que cuidaram das lavouras conseguiram ter renda, uns de até seis mil reais, e outros ficaram devendo para a Cootap. Foram produzidos, em todos os assentamentos de São Gabriel, quase 20 mil sacos de arroz orgâncio nesta safra”.
Perto das lavouras de arroz, outro assentado, Isaías Darlan, recolhe mudas de cebola do canteiro da comuna Pachamama. Foram produzidas em mutirão no mês passado. Dos seis integrantes da comuna, quatro estão no assentamento, e se dedicam à própria horta. Chegaram há oito meses, para ocupar os lotes vagos dos que desistiram. “O grupo de produção aqui é coletivo. É a forma de você unir os esforços e conseguir sobreviver. Este é o real motivo, já que individualmente aqui não se consegue produzir, pois você só conta com a mão de obra. Se for trabalhar fora, o teu lote fica abandonado, não tem ninguém pra cuidar”.
O cooperativismo, diz Isaías, é uma forma de resistência. Contrariando economistas que defendem que hoje é caro fazer a reforma agrária, ele diz que há outros motivos para o impasse: “A questão é falta de decisão governamental, capacidade politica de enfrentar a pressão que os conglomerados econômicos fazem junto ao governo para que a reforma agrária não se efetive. A reforma agrária é produtiva para o país. O giro econômico que a reforma agrária faz, na perspectiva de implemento capitalista, é muito lucrativo, mas é lucrativo para o povo”.

“O sonho é um fiozinho de linha”

Fabiana Machado, uma liderança na comunidade Madre Terra, acredita que para muitos que ficaram “o sonho também está se desvanecendo devagarinho, é um fiozinho de linha que está segurando”. Quem saiu, ela diz ter certeza que também não ficaram numa situação boa. “A maioria voltou pras favelas. Não voltaram para um lugar melhor do que aqui.”
Mas entende os desistentes: “Foram embora por não terem renda. Se precisar ir num médico, uma corrida de urgência daqui até a cidade, feita pelos vizinhos que têm carro, não sai por menos de 100 a 150 reais. Tirar da onde? Aí, vai na consulta e volta pra casa sem remédio? O dinheiro pra comprar o remédio já não tinha e ainda vai ficar devendo pro vizinho”.
Para o superintendente do Incra do Rio Grande do Sul, Roberto Ramos, a quantidade de famílias que renunciam à terra depois de as conquistarem é um problema atual: “A tendência hoje é que a rotatividade seja maior. Elas desistem do processo de reforma agrária por outras oportunidades, não porque as dificuldades de infraestrutura sejam maiores.”
Fabiana discorda, por tudo que não foi feito. “O Incra nos bota aqui ao avesso. Ao invés de terem todo o planejamento da infraestrutura, de como vai ser o assentamento e o que precisa, eles primeiro jogam as famílias aqui, pra depois começar a trabalhar. Levou um ano pra vir os contratos (certificados de uso da terra) para assinar. Daí, nesse tempo, o que as famílias fazem aqui?”.
Nesse tempo de espera, muitas se valem do Bolsa Família, cujo valor é baixo – tem famílias que recebem 32 reais, enquanto só a passagem até a cidade custa 36 reais. “Pra mim é um meio de te aquietarem. Eu uso (o Bolsa Família) porque o governo dá, mas não quero viver disso. A minha ideia é poder ter a minha renda. O pessoal aqui que pega é assim também, não vê a hora de conseguir se viabilizar e poder se manter”. E termina a conversa: “Desse jeito, não tem como tu dizer que tá feliz dentro da reforma agrária.”

Leia a continuação da reportagem:
 

* Jornalistas independentes e fundadores da Cooperativa Catarse – Coletivo de Comunicação.  Esta reportagem foi realizada através do Concurso de Microbolsas de Reportagem da Pública.  Outras reportagens financiadas pelo concurso – com o apoio da Fundação Ford – serão publicadas durante este mês.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Reeleição de Chávez sustentará modelo político sul-americano

Eduardo Guimarães



A espetacularização da política brasileira está impedindo a sociedade de perceber a evolução de um contexto político no qual está inserida e que deve afetar profundamente a sua vida, podendo vir a ditar-lhe o rumo no futuro próximo. Com mensalão, CPI do Cachoeira e eleições, estamos deixando passar batido um dos fatos políticos mais importantes da atualidade.
Praticamente todas as sondagens do processo eleitoral venezuelano dão conta de que o presidente Hugo Chávez deve ser reeleito com certa facilidade. Sua vantagem é reconhecida até mesmo pelo “oposicionista” Datanálisis, o Datafolha venezuelano, onde tem 16% de dianteira sobre o segundo colocado, o conservador Henrique Capriles.
Detalhe: em institutos tidos como menos parciais em favor da oposição, a vantagem de Chávez sobre o principal adversário se aproxima dos 30%.
O cenário político venezuelano revela uma realidade que se espalha pela América do Sul mais do que por qualquer outra parte do mundo: projetos político-administrativos de centro-esquerda – ou, como preferem alguns, social-democratas – parecem cada vez mais longe do “esgotamento de modelo” que a mídia conservadora das Américas já ensaia decretar.
Ainda que no Brasil o modelo político que impera na América do Sul encontre maior dificuldade para funcionar devido a peculiaridades político-institucionais do país e a uma maior dificuldade em politizar o povo como fizeram os governos Hugo Chávez, Cristina Kirchner, Rafael Correa, Evo Morales e José Mujica, aqui também vige o modelo de inclusão social desenvolvimentista análogo ao modelo “revolucionário” venezuelano.
Chávez prega a própria reeleição com o objetivo alegado de tornar o seu modelo político-econômico-institucional “irreversível”. O que seja, obrigar a todos os atores políticos do país a adotarem o caminho da inclusão social em projetos regionais, inclusive nos governos de províncias controlados pela oposição ao governo central.
O modelo chavista é o que deu origem a outros projetos sul-americanos que vão se mostrando cada vez mais sólidos. E o que fez esse modelo se espalhar foram seus impressionantes resultados sociais obtidos ao longo da mais de uma década de duração da revolução bolivariana.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o Índice de Gini – que medem, respectivamente, a qualidade de vida e a concentração de renda de um país em relação aos outros – da Venezuela lideram o ranking de melhora nas três Américas e inspiraram processos análogos na Argentina, na Bolívia, no Equador, no Uruguai e no próprio Brasil.
A única diferença em nosso país é que, por aqui, ainda não se está obtendo avanços institucionais como a implantação de legislação concreta para regular a comunicação, legislação que, nos países vizinhos, é inspirada nas legislações dos países mais desenvolvidos, tais como Estados Unidos, França, Inglaterra e outros.
O quadro político-eleitoral venezuelano, enfim, contrasta com com o opinionismo político das mídias brasileira e internacional, que decretara não só o “esgotamento” do modelo venezuelano, mas a morte de Chávez antes das eleições por conta de problemas de saúde que disse “terminais”, mas que o vigor com que ele conduz a própria campanha desmente.
O modelo político e institucional original de Chávez se espalhou por todos os países supracitados da América do Sul, menos no Brasil. Isso significa que impérios midiáticos que durante o século XX pintaram e bordaram na região, em seus países mais importantes estão com os dias contados.
Ao menos na Argentina, na Bolívia, no Equador e na Venezuela, os impérios de comunicação vão perder o poder de falarem sozinhos àquelas sociedades e não permanecerão do tamanho paquidérmico a que chegaram, pois as leis de redistribuição de propriedade de meios de comunicação inspirada nas leis de países desenvolvidos farão a comunicação, nesses países, chegar ao século XXI.
O modelo de republiqueta midiática conservadora ainda deve permanecer por um bom tempo no Brasil por falta de condições políticas internas furtadas pelo poderio muito maior que as elites adquiriram por aqui, com a institucionalização da comunicação como poder direcionador de políticas públicas e da opinião da sociedade, o que impede, inclusive, dissonâncias.
Todavia, o caráter promissor do modelo oriundo da Revolução Bolivariana da Venezuela que, em maior ou menor grau, espalhou-se pelo continente, reside em uma relação de troca entre esse modelo e as massas empobrecidas da região. Tanto no Brasil quanto em seus vizinhos progressistas estabeleceu-se a troca de bem-estar social por votos.
Em países com tanta desigualdade social e pobreza como nos países latino-americanos, a possibilidade de manter o poder pela via democrática é imensa. Eis, porém, que se levanta o velho fantasma do golpismo que marcou a região no século XX, ou seja, na ruptura institucional aplicada pelas elites sem votos com uso de forças armadas submissas.
Em países com avançada politização social como na Venezuela, o recurso às forças armadas praticamente desapareceu sobretudo porque estas, na base, são compostas pelo povo, por soldados que viveram na pobreza e que, também na era Chávez, viram suas vidas melhorarem como a dos compatriotas civis.
O fenômeno venezuelano de conversão das Forças Armadas aos cânones democráticos e legalistas se repete da Argentina até o Equador, com exceção do Brasil, onde a consciência social (muito) menor ainda faz com que não se possa contar com o espírito legalista e democrático das tropas, que ainda, em tese, poderiam se prestar ao golpismo.
Todavia, mesmo no Brasil há dúvidas da viabilidade de um golpe militar. Não são poucos os relatos que este blog já recebeu de militares que não querem aparecer nem anonimamente, mas que garantem que delírios golpistas de chefes militares de pijama não seriam seguidos pela base das Forças Armadas.
Em um momento em que a mídia brasileira pinta e borda, manipulando desde o Judiciário até o Legislativo, passando pelo Executivo (em alguma medida), vale refletir sobre a situação política sul-americana. O Brasil pode ser grande o suficiente para contrariar o resto da América do Sul, mas sua centro-esquerda tem instrumentos para impedir.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Ataques verbais acirram tensão entre Irã e Israel

Secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, critica palavras da liderança em Teerã. Presidente do Irã chamou Israel de "tumor canceroso". Tensão aumenta após mídia israelense dizer que Israel pode atacar Irã ainda este ano.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, criticou duramente os recentes ataques verbais da liderança iraniana contra Israel. Nesta sexta-feira (17/08), Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã, chamou Israel de "tumor canceroso", que logo desaparecerá. Dois dias antes, o líder espiritual do Irã, aiatolá Ali Khamenei, havia definido Israel como uma "excrescência artificial sionista".
"Ban condena essas declarações ofensivas e incendiárias", diz um comunicado divulgado por seu gabinete nesta sexta-feira. O texto pede também que todas as lideranças da região colaborem para diminuir as tensões entre as nações e evitar um agravamento da situação.
Neste sábado (18/08), um comandante iraniano de alta patente saudou um possível ataque aéreo israelense contra instalações nucleares do país. O general Amir Ali Hadschisadeh, afirmou que isso daria a seu país um motivo de retaliação contra Israel, "para se livrar para sempre" daquele Estado, informou a agência de notícias oficial Irna.
Segundo Hadschisadeh, comandante da Força Aérea da Guarda Revolucionária, no caso de um ataque de Israel, o Irã reagirá de forma "rápida, determinada e destrutiva".
Protesto contra Israel
United Nations (UN) Secretary-General Ban Ki-moon speaks at a joint news conference with Britain's Foreign Secretary William Hague, not pictured, at the Foreign Secretary's official residence in London Friday July 27, 2012. Ban said he was "deeply" concerned about reports of the possible use of chemical weapons by Syria, and demanded the government state it would not use them "under any circumstances". (Foto:Ki Price/AP/dapd) Ban Ki-moon considerou declarações iranianas "incendiárias"
Nesta sexta-feira, milhares de iranianos gritaram palavras de ordem como "morte à América, morte a Israel", em protestos organizados pelo governo iraniano. O presidente Mahmoud Ahmadinejad disse, em um discurso para os manifestantes, que não havia lugar para um Estado judaico no futuro do Oriente Médio.
Os ataques verbais ocorreram depois de a mídia israelense divulgar notícias de que Israel poderia lançar ataques contra instalações nucleares iranianas antes das eleições presidenciais norte-americanas, em novembro. O Ocidente suspeita que o Irã esteja trabalhando secretamente na produção de armas nucleares, o que Teerã nega.
Ataque ao Irã
O chefe do partido israelense Kadima, Shaul Mofaz, também se envolveu no debate, afirmando que um possível ataque contra o Irã não teria chance de sucesso sem o apoio dos EUA. Um esforço isolado das forças israelenses contribuiria, na opinião dele, somente para atrasar as ambições nucleares do Irã e resultaria em "desastre". O partido Kadima saiu em julho passado da coalizão de governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Segundo o ex-chefe da inteligência militar israelense Amos Jadlin, Barack Obama deve reforçar num discurso no Parlamento israelense sua rejeição a um Irã munido de armas atômicas.
"O presidente dos EUA deve visitar Israel e assegurar a seus líderes e, ainda mais importante, ao seu povo que é do interesse dos EUA impedir que o Irã tenha armas nucleares e que ele usará meios militares para isso, se necessário", escreveu Jadlin na edição deste sábado do jornalWashington Post.
Na opinião do israelense, somente assim Obama conseguirá tirar das autoridades israelenses o temor de que sejam abandonadas pelos EUA após renunciarem a uma ação militar contra o Irã. 
Os sociais-democratas alemães são a favor de que Berlim interceda junto à liderança de Israel com relação às ameaças de um ataque ao Irã. A chanceler federal Angela Merkel deve deixar claro, assim como os Estados Unidos, que um ataque teria consequências fatais e incontroláveis para toda a região, ressaltou o assessor para política externa do partido SPD, Rolf Mützenich.

MD/dpa/dapd/afp/rtr via DW-PORTUGUES
Revisão: Luisa Frey

domingo, 19 de agosto de 2012

uma ótima explicação sobre política de cotas no Brasil


O despertar do Islã, a luta dos povos e a causa palestina

do PORTAL VERMELHO


O candidato a vereador do PCdoB em São Paulo, Kháled Fayez Mahassen, participou no Dia de Jerusalém, cerimônia que encerra o tradicional período de Ramadan. Fez um discurso nas presenças do Cônsul Geral do Líbano em São Paulo, Sr. Kablan Franjieh, e do Cheikh Hassan Burji Imã, da Mesquita do Brás, entre outras lideranças, presidentes e representantes de entidades civis e políticas.


artista palestino Ismael Shammout
Povo palestino Povo palestino

Segue o discursos completo, que exalta a luta dos povos pela soberania, em particular a do povo palestino.

“Camaradas e companheiros, Caríssimos irmãos,

Al Kuds, capital da palestina.
 
Al Kuds, que vem sendo agredida, há muitos anos pela ocupação israelense,
Al Kuds, a terra sagrada pelos profetas para a humanidade.
Al kuds é a questão, é o coração da questão palestina.
Neste sagrado dia, do abençoado Ramadan, e após a vitória da revolução iraniana, foi decretado pelo Imã Al Khomeini, o dia de Jerusalém.

Este dia é o dia de renovar o nosso compromisso de luta pela principal causa árabe, a causa palestina.

Esta causa, que o imperialismo estadunidense e seus aliados vêm trabalhando para dissolver no meio das muitas questões no Oriente Médio.

Caríssimos companheiros,

O que está acontecendo hoje no Oriente Médio tem por objetivo desviar a atenção da causa palestina. A mídia internacional vem bombardeando os ouvidos do mundo por informações sobre muitos acontecimentos no mundo árabe, sem sequer tocar sobre a agressão praticada pelos israelenses na Faixa de Gaza e em toda a Palestina contra o povo valente da palestina e suas crianças e mulheres, desviar a atenção da construção do muro da vergonha que tem por objetivo encurralar o povo palestino, impedindo-o de circular, separando famílias e proibindo-o, legitimo dono dessa terra, de visitar os seus lugares sagrados como a Igreja da Natividade e a Mesquita Al Aqsa.

Participei em Teerã do 1º encontro do despertar do Islã, e não era apenas o despertar do Islã, mas sim o despertar da humanidade. E adivinhem qual era a principal questão discutida pelos organizadores e todos os oradores? Foi a questão Palestina. A principal questão humanitária.

Foi discutido como o imperialismo estadunidense atua na região, e qual é o mecanismo para impedir, suas vitorias.

Companheiros,

Como podem governos árabes permitir essas ações e essas agressões? Como podem ser parte dessa pouca vergonha?

Os Estados Unidos da América e seus aliados destruíram o Iraque, destruíram a Líbia, governam, hoje, indiretamente o Iêmen, plantaram em todos os países árabes do golfo suas bases militares, isso sem falar do modo como sufocaram o levante do povo contra a monarquia em Bahrein.

E hoje estão concentrando as suas forças para acabar com o único país que ainda diz não a Israel e seus planos na região, sim, concentram suas forças para acabar com a Síria, o coração da nação árabe.

O plano do imperialismo estadunidense é redesenhar o Oriente Médio, e quem vai impedir?
Esqueceram eles a histórica derrota do imperialismo no Líbano em 2006, derrota essa aplicada pela luta do bravo povo libanês. Esqueceram eles que não cessamos a nossa luta até libertar a Palestina da ocupação israelense, e remover dos países árabes todas as bases militares dos ingleses, americanos e seus aliados.

Essas gangues que vêm há muitas décadas saqueando a riqueza dessa nação e devolvendo-a em bombas e agressões ao nosso povo.

Fiquemos atentos sobre suas ações, não somente na pátria árabe, mas sim, em todo o Oriente Médio, na América Latina e Central e em todos os cantos. A luta do povo não pode parar até a definitiva derrota do imperialismo e seus aliados.

O dia de Jerusalém é o dia de renovar o nosso compromisso com a luta, o nosso compromisso com a honra, o nosso compromisso com o heroico povo iraniano e seu líder que fez declarações na última sexta-feira (17), dia  do abençoado Ramadan, o dia de Jerusalém.

E para isso, temos o dever de nos unirmos, na pátria árabe e na imigração, caros irmãos, temos que ser uma força influente, viver os problemas da nação brasileira, contribuir com este povo que abriu o seu coração para nossos imigrantes, e deles fez cidadãos com direitos iguais aos nativos.

Nosso dever é informar este querido povo brasileiro sobre o que está acontecendo nos nossos países, pois o imperialismo estadunidense não poupará a América Latina das suas intenções e agressões, e para isso colocou nos mares latinos a Quarta Frota para vigiar esses países.

Neste dia temos que renovar o nosso compromisso com a verdade, com a luta dos povos por uma sociedade mais justa e mais humana.

Viva a luta dos povos,

Viva Jerusalém."

Assange livre significa internet independente também livre

No blog PALAVRAS DIVERSAS

O cerco a Assange atinge a liberdade de expressão mundial, é um risco iminente a internet livre e independente, representa o retrocesso do "monopólio da verdade". Lula pôs o dedo na ferida sobre  descaso da mídia corporativa e dos líderes mundiais
Por que a caça a Julian Assange, à blogosfera e a defesa corporativa, por meio da indiferença editorial, dos desvios éticos e morais da velha imprensa?
Assange e a blogosfera, a internet livre e independente em geral, permitem ao leitor/espectador perceber, com nitidez e em tempo quase real, os movimentos golpistas que a grande mídia, nacional e internacional, costumavam empreender em silêncio, em associação a governos conservadores, para fazer valer interesses políticos e econômicos de pequenos grupos em detrimento da grande maioria.

O advento do Wikileaks e o fortalecimento da internet independente é hoje um obstáculo para o modo operante da velha imprensa permanecer bem sucedida nestes aspectos, perturba governos blindados pela imprensa.

Hoje é possível, graças a estes agentes, que não são controlados corporativamente, alertar os golpes em ação e levá-los ao grande público, apertando governos e mídia, desmascarando editorias disfarçadas de democráticas, mas contaminadas de autoritarismo e manipulação.

Os exemplos não param de crescer de como a imprensa age para desinformar e tornar a realidade dos fatos confusas para o leitor/audiência. O cabo de guerra travado entre Carta Capital e internet progressista de um lado, contra Veja e velha imprensa de outro, nos mostram o quanto estes representantes de si mesmos e de favores mesquinhos se sentem incomodados com a pressão pela versão dos fatos que chega ao brasileiro no dia a dia, pela mãos da blogosfera.

Se por um lado denunciam-se esquemas mirabolantes que envolvem jornalistas de grandes veículos de comunicação, ministro do Supremo e políticos proeminentes da oposição, por outro lado percebe-se o silêncio estarrecedor, a tal defesa corporativa pela indiferença, da grande imprensa.

Este é um movimento desmascarado, bem articulado, que faz com que, estes que se autoproclamam defensores da democracia e da liberdade de expressão, se revelem os golpistas que costumam ser, escondidos atrás de pretensas coberturas jornalísticas imparciais.

O Datafolha em sua última pesquisa captou que o povo, em sua maioria, percebe manipulação e parcialidade escancarada, por exemplo, na cobertura da imprensa no julgamento do mensalão.
A internet independente usa da liberdade a que todos tem direito para se expressar e isto não cai bem para aqueles que intentam em manter o "monopólio da verdade" para uso difuso.

Liberdade de Assange é a liberdade de expressão
Assange e a internet independente se associaram, por afinidade ideológica, de imediato e a divulgação em massa por meio de blogues e redes sociais dos documentos comprometedores dos agentes conservadores espalhados pelo mundo, inclusive aqui no Brasil, causam arrepios na imprensa corporativa e nos seus aliados conservadores. 
Um episódio clássico mostrou a busca de interesses comuns do governo americano e da grande imprensa brasileira sobre as eleições 2010.
William Waack e Fernando Rodrigues foram flagrados por documentos publicados pelo Wikileaks em que passavam informações sobre as eleições, de maneira distorcida e parcial, para favorecer Serra e prejudicar a real percepção da imagem de Dilma Roussef, para a embaixada norte americana.
Disso depois, nada foi falado nos grandes veículos de comunicação do país, silêncio absoluto.
Ambos, Waack e Rodrigues permanecem ocupando seus espaços e com destaque, talvez, pelo trabalho desenvolvido tenham sido agraciados de prestígio e respeito por seus patrões...

Assange tem demonstrado que tanto a diplomacia dos países mais ricos, liderados pelos Estados Unidos, age para desestabilizar democracias nos países que resolvem não seguir a cartilha de Washington e saem a busca de quislings para atingir tais objetivos.  O que de fato, desconstruiria a imagem nada compatível que a imprensa mundial criou e dissemina pelo planeta inteiro sobre os autoprocalamados defensores da liberdade e da democracia.

Assange atinge em cheio esta ilustração forjada do país mais poderoso do mundo.
A internet livre desmascara a divulgação desta estampa que a grande imprensa mundial tenta fazer crer ao habitantes do planeta como algo genuíno e verdadeiro.
Defender a liberdade de Assange, é defender a sobrevivência da liberdade de expressão na rede mundial, como estamos conhecendo nos dias atuais, sem a interferência corporativa ou de governos autoritários ou conservadores.
A solidariedade para com o criador do Wikileaks, é a solidariedade para si mesmos, daqueles que atuam na internet independente, livre e progressista.
Mas, é acima de tudo, um ato de dignidade humana e desaprovação inconteste contra o que representam aqueles que cercam Assange e daqueles que tentam censurar a internet, para monopolizarem a "verdade", impedindo que as versões se multipliquem e a audiência possa chegar a sua verdade, de acordo com suas crenças, subsidiados por informações livres e sem rótulos fabricados.
O momento é de ataque conservador cerrado, sem dúvida alguma, é a verdade a vítima de toda esta hostilidade reacionária.
Lula, em pronunciamento, colocou o dedo na ferida da grande imprensa e dos líderes mundiais:
 “É engraçado, não tem nada contra [o cerceamento à] liberdade de expressão...eu não vi um voto de protesto”, colocando-se como o primeiro estadista mundial a protestar contra a prisão de Julian Assange.