Para
satisfazer a sede de lucros da poderosa indústria de guerra dos EUA e
de outros países, as potências imperialistas querem mais uma guerra no
mundo, não importa se contra a Síria ou contra o Irã, ou mesmo contra s
dois países. Para tanto, a gigantesca máquina de propaganda do
capitalismo espalha mentiras e esconde que a CIA fez acordo com a
Al-Qaeda para organizar atentados na Síria.
A Síria não é um país socialista e, por
isso mesmo, não é democrático. A principal lei da economia do país é o
lucro e quem manda e governa é a classe dos ricos. As eleições são
manipuladas, há perseguição aos que lutam por uma revolução e pelo
verdadeiro socialismo e são numerosos os casos de corrupção no país. Os
que têm dinheiro, as famílias ricas, conseguem resolver seus problemas,
os que não têm, a imensa maioria da população, sofrem para conseguir
até mesmo um emprego. Apesar de ter socialismo em seu nome e em seu
programa, o Partido Baath (Partido do Renascimento Árabe Socialista) não
defende nem pratica o socialismo cientifico de Marx e Lênin, embora
quando de sua Constituição em 1963 foi um partido progressista,
nacionalizou o petróleo, as terras e adotou medidas contra a espoliação
estrangeira do país. Porém, desde a década de 80, se transformou num
instrumento a serviço dos privilégios de algumas centenas de famílias e
de grupos privados. Em decorrência, várias multinacionais têm cada vez
mais negócios na Síria. A multinacional italiana do setor de armamentos –
Finmeccanica – há dois anos está entre os principais fornecedores do
governo sírio. Finmeccanica é o oitavo fornecedor do Pentágono e também
produz em parceria com a norte-americana Lockheed Martin
Por ser um país dependente, a Síria
sofre duramente as consequências da atual crise econômica capitalista.
Este fato foi agravado porque desde os anos 90, o governo adota um
conjunto de reformas neoliberais para permitir o avanço do capital
estrangeiro, elimina programas de assistência social e reduz os
investimentos públicos em 50%. As terras nas grandes cidades foram
privatizadas e entregues a grandes empresas, que elevaram os preços dos
imóveis, obrigando milhares de famílias a irem morar na periferia das
cidades e formar favelas. Hoje, o país tem um elevado número de
desempregados jovens, as desigualdades sociais aumentaram absurdamente e
a pobreza é crescente. Tal situação levou em março de 2011, em meio aos
levantes populares da Tunísia e do Egito, a juventude a ocupar as ruas
exigindo mudanças sociais e políticas no país.
Foi nesse terreno que os países
imperialistas começaram a operar, enviando à Síria mercenários que
estavam no Iraque, para organizarem atentados e recrutarem insatisfeitos
com o regime em vista de se formar um exército. Até a organização
terrorista Al-Qaeda foi articulada pela CIA e é membro ativo do chamado
Exercito Livre da Síria. Também, a serviço dessa estratégia
imperialista, o reacionário governo turco de Tayyip Erdogan ao
bombardear a Síria cumpre o papel de provocador visando acelerar a nova
guerra imperialista.
Entretanto, não é nem para acabar com o
capitalismo na Síria nem com a corrupção e muito menos defender os
direitos humanos que os EUA, a França, a Inglaterra e a Alemanha querem
bombardear a Síria e derrubar o governo de Bachar Al Assad. Aliás, basta
observar o que se tornaram a Líbia, o Afeganistão e o Iraque após as
intervenções militares dos países imperialistas para concluirmos como
ficará a Síria se ocorrer um ataque da OTAN (Organização do Tratado
Atlântico Norte).
Com efeito, nenhum desses países
tornou-se mais democrático ou menos violento após as guerras de que
foram vítimas. Pelo contrário, hoje na Líbia, em vários edifícios
públicos tremula a bandeira da organização terrorista Al-Qaeda, a mesma
que é acusada de realizar o atentado às torres gêmeas nos EUA, o qual
matou mais de 3 mil cidadãos norte-americanos, e no dia 11 de setembro
último realizou um atentado que matou o embaixador dos EUA na Líbia,
Christopher Stevens. No Afeganistão, entre 1º de janeiro e 30 de junho
de 2012, 1.145 pessoas morreram e 1.945 ficaram feridas devido a
atentados. Mulheres e crianças representam 30% das vítimas.
Depois, se existisse por parte das
potências imperialistas algum respeito aos direitos humanos, os EUA não
teriam financiado e ajudado o golpe militar em Honduras, tentado
derrubar o governo de Hugo Chávez e não continuariam apoiando e mantendo
as sanguinárias ditaduras do Iêmen, do Bahrein e da Arábia Saudita.
Também, a defesa que a Rússia e a China
fazem do governo sírio nada tem a ver com o respeito à autodeterminação
dos povos. Lembremos que ambos os países foram favoráveis às criminosas
guerras contra o Iraque e o Afeganistão e já aprovaram diversas sanções
econômicas contra a Síria e o Irã, privando milhões de árabes de
alimentos e de remédios.
A velha mentira repetida
Sem ter o que dizer para justificar uma
nova guerra imperialista, os Estados Unidos e demais potências
imperialistas repetem o mesmo argumento (ou melhor dizendo, a mesma
mentira) usada contra o Iraque: (“Saddam tem armas químicas de
destruição massiva”) ou contra a Líbia (Kadafi massacra população
civil).
Portanto, o principal motivo levantado
pelos EUA e seus aliados para pressionarem a ONU a aprovar a agressão à
Síria e usar sua máquina de guerra mortífera composta de satélites
militares, bombas nucleares, submarinos, aviões não tripulados, mísseis
intercontinentais e milhões de homens armados espalhados em mais de
1.000 bases militares estacionadas em cerca de 50 países, é que a Síria
possui “poderosas armas químicas e pode usá-las contra a população”.
Vejamos o que declarou o secretário de
Defesa dos EUA, Leon Panetta, no dia 28 de setembro ao ser perguntado
pela imprensa de seu país sobre os depósitos de armas químicas na Síria:
“Informações da inteligência americana
dão conta de que o arsenal está em locais seguros, mas parte tinha se
movido. Não está claro quando as armas foram transferidas, nem se a
movimentação aconteceu recentemente.” A notícia prossegue dizendo que os
EUA acreditam que a Síria tem dezenas de depósitos de armas químicas e
biológicas espalhados pelo país.
No final de agosto, o presidente Barack
Obama declarou: “Vamos ser muito claros com o regime Assad, mas também
com todos os outros combatentes, que a linha vermelha será quando
começarmos a ver um monte de armas químicas sendo movidas e usadas. Isso
mudará nosso cálculo”.
Ora, nunca uma missão internacional
esteve na Síria para investigar se o país possui ou não armas químicas. E
agora, não só o país tem, como está transferindo essas armas de um
lugar para outro.
Mas como acreditar num governo que já
mentiu tantas vezes? Lembremos algumas: disse que não jogaria bombas
atômicas no Japão e jogou; disse que não usaria armas biológicas contra o
Vietnã e usou, disse que Saddam possuía armas de destruição em massa e
era mentira. Diz que o Irã está produzindo arma nuclear e, até hoje,
apesar de várias inspeções, a AIEA não foi capaz de encontrar nem uma só
arma nuclear no país, embora os EUA possuam, de acordo com o Pentágono,
5.113 armas nucleares e Israel algumas centenas.
Aliás, mentira e desinformação é o que
mais tem surgido em relação à Síria. No último dia 28, as agências de
noticias norte-americanas e francesas deram a seguinte notícia:
“Ontem, foi o segundo dia consecutivo de
ataques com bombas na capital (Damasco). Duas organizações de ativistas
anti-Assad anunciaram que vários corpos foram encontrados num subúrbio
situado ao sul da capital. Aparentemente, as mortes foram provocadas por
forças leais à ditadura.”
O Observatório Sírio para os Direitos
Humanos disse que 40 corpos, inclusive de mulheres e crianças, foram
achados no subúrbio de Thiyabiyeh. O líder da organização, Rami
Abdul-Rahman, afirmou não ter detalhes sobre as mortes.
Outro grupo de oposição a Assad, os
Comitês de Coordenação Local, estimou em 107 o total de corpos
encontrados e disse que muitos dos cadáveres mostravam sinais de
execução -algumas das vítimas teriam sido degoladas. Os números indicam
um dos piores massacres de civis desde o início do levante.” (O Globo,
28/09/2012)
Atenção: o Observatório Sírio de
Direitos Humanos declarou que não tinha detalhes sobre as 40 mortes. O
outro disse que eram 107 mortes. Será que eles não aprenderam a contar
ou não tiveram tempo de combinar os números? E quem são realmente os
assassinos?
Crimes contra o povo sírio, assassinatos
e execuções não é algo raro praticado pelas chamadas forças rebeldes da
Síria. Vejamos o que declarou o insuspeito embaixador brasileiro Paulo
Sérgio Pinheiro:
“Existem motivos razoáveis para
acreditar que as forças antigovernamentais daquele país perpetram
assassinatos, execuções extrajudiciais e tortura” – disse Paulo
Pinheiro, chefe de um painel internacional independente que investiga a
situação na Síria.
Paulo Pinheiro também denunciou o uso de
crianças com menos de 18 anos de idade por grupos armados de oposição.
“Estas forças não identificam seus membros com uniformes reais ou
insígnias para diferenciá-los da população civil “, acrescentou. Crimes
realizados por esses elementos, como sequestros, tortura e maus-tratos
de soldados do governo capturados, também foram repudiados pela Alta
Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay.
Concluindo, Pinheiro criticou o governo
por levar a cabo ataques indiscriminados, como ataques aéreos e
bombardeios de artilharia a áreas residenciais. Ele também se posicionou
contra a aplicação de sanções contra a Síria, por constituírem uma
negação dos direitos fundamentais ao povo desse país, onde, segundo a
ONU, existem 2,5 milhões de pessoas que necessitam de ajuda humanitária.
O especialista reiterou a necessidade de uma solução política na Síria e
ressaltou que “não há possibilidade de uma solução militar.” (Correio
do Brasil, 22/09/2012).
Esta é a verdade.
Por que o império quer a guerra
Porém, os grandes meios de comunicação
da burguesia com o objetivo de convencer os povos da necessidade de mais
uma guerra imperialista divulgam mentiras e mais mentiras certos do que
afirmou o ministro da Propaganda de Hitler, o nazista Joseph Goebbles:
“Uma Mentira contada mil vezes, torna-se uma verdade”.
Na realidade, o que está por trás da
atual guerra que se desenvolve na Síria e que já matou mais de 25.000
sírios é o interesse das potências imperialistas em controlar uma nação
que produz petróleo e gás natural – por dia, a Síria produz 380 mil
barris de petróleo e tem reservas de 2,5 bilhões de barris e 240 bilhões
de m3 de gás natural –; está situada na região estratégica
do Oriente Médio e faz fronteira com Iraque, Irã, Turquia, Líbano e
Israel. Ademais, a Síria, até por força das circunstâncias, pois tem
parte de seu território nas colinas de Golã ocupado por Israel desde
1967, é um país que tem apoiado a luta pelo Estado da Palestina e tem
em seu território quase 500 mil refugiados palestinos.
Dessa forma, a substituição do atual
governo sírio por um governo submisso à dominação dos EUA, da França e
da Inglaterra na região, além de garantir aos monopólios desses países o
controle sobre petróleo e gás, também enfraquece o Irã, a luta do povo
palestino e facilita o controle político do Oriente Médio. Em resumo, se
trata de mais uma guerra para assegurar os interesses de multinacionais
como a Exxon, BP, Chevron, Barrick Gold, Shell, Total, Monsanto, HSBC,
Deutsche Bank, Goldman Sachs, entre outros e de criar demanda para a
indústria militar dos países imperialistas: a Boeing (EUA), a Northrop
(EUA), a General Dynamics (EUA), a Raytheon (EUA), a BAE Systems, a EADS
(europeia), a Finmeccanica (italiana), a L-3 Communications (EUA) e a
United Technologies (EUA).
De fato, há várias comprovações da
existência de paramilitares a serviço da CIA na Síria e o governo
denunciou na ONU a existência de 60.000 mercenários pagos pelas
potências imperialistas atuando no país.
O chamado Exército Livre da Síria recebe
há muito dinheiro e armas da Inglaterra, da França e dos EUA. Segundo a
BBC, agência de notícias inglesa, o governo britânico entregou mais de 7
milhões de dólares em “abastecimento médico e equipamentos de
comunicação’ aos grupos armados sírios. A França, que teve a Síria como
colônia até 1949, defendeu, por intermédio do ministro das Relações
Exteriores Laurent Fabius que “as zonas liberadas sírias que estão sob
controle dos rebeldes recebam ajuda financeira, administrativa e
sanitária.” O chanceler francês prometeu ajuda de 5 milhões de euros (R$
12,8 milhões) aos opositores.
A Secretária de Estado dos EUA, Hillary
Clinton, anunciou no último dia 29 mais US$ 30 milhões de assistência em
alimentos, água e serviços médicos e mais 15 milhões em “equipamentos
de comunicação” à oposição política não-armada”.
Ora, apesar da ONU adotar sanções contra
a Síria – o governo sírio é reconhecido pela organização e por centenas
de países – uma intervenção como essa que ocorre no país fere todas as
leis internacionais e mostra que há muito o imperialismo jogou na lata
do lixo o princípio da convivência pacífica entre os países e o respeito
à autodeterminação das nações.
São essas, portanto, as razões que
asseguram que mais uma guerra imperialista está a caminho. Tal situação
coloca perante todos os homens e mulheres livres que não querem nem
aceitam uma ditadura mundial do capital e a escravidão da humanidade por
um punhado de países imperialistas governados por meia dúzia de bancos e
de monopólios, a questão de o que fazer para deter esses genocídios e
impedir que novas guerras sejam desencadeadas por potências
capitalistas. Tais potências, mergulhadas numa profunda e grave crise
econômica, veem como sua salvação aumentar a exploração dos
trabalhadores, abocanhar as riquezas dos povos e dominar o mundo. Com a
palavra Che Guevara: “O imperialismo capitalista foi derrotado em muitas
batalhas parciais. Porém é uma força considerável no mundo e não se
pode aspirar à sua derrota definitiva sem o esforço e o sacrifício de
todos”¹.
Luiz Falcão é membro do comitê central do PCR
Notas
¹ Che Guevara. Discurso em Seminário Econômico de Solidariedade Afroasiática. 1965)